20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008184Edwilson e Resplendor apren<strong>de</strong>ram a mo<strong>de</strong>lagem utilizando a técnica <strong>de</strong> rolos e os<strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimentos da técnica restringiram-<strong>se</strong> a um aperfeiçoamento dos procedimentos <strong>de</strong> soldae acabamento, motivados por questões plásticas (formais). Novas técnicas não são incluídas norol daqueles procedimentos sistematizados, e o trabalho com placas ou mol<strong>de</strong>s não é utilizadopor estes artesãos. Por um lado a não-utilização <strong>de</strong>ste procedimento explicita o <strong>de</strong>sinteres<strong>se</strong> ematualizar as técnicas, mas, por outro, e acredito que aqui resi<strong>de</strong> uma questão vital para amo<strong>de</strong>lagem folclórica: o mol<strong>de</strong> padroniza a objetualida<strong>de</strong> artesanal e sua gestualida<strong>de</strong>,transformando-a em mais um objeto-como-mercadoria, <strong>de</strong>spindo <strong>de</strong>ste sistema <strong>de</strong> objetos asimpressões e tensões pre<strong>se</strong>ntes na manipulação da matéria do barro.Aqui não estou <strong>se</strong>ndo romântico, mas, sim, inferindo <strong>sobre</strong> a expressivida<strong>de</strong> da matériamo<strong>de</strong>lada manualmente e daquela fundida mecanicamente, ou <strong>se</strong>ja, refletindo <strong>sobre</strong> o efeito quea utilização <strong>de</strong> algumas técnicas na autoria e historicida<strong>de</strong> do artesanato, e <strong>de</strong> sua potênciapolítica para questionar a centralida<strong>de</strong> das formas <strong>de</strong> produção capitalista.Justaponho a matriz já apre<strong>se</strong>ntada à outra <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvida a partir da sistematização dagestualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Olinda e Petrolino, MPPA – O&P – 11/2007. Estes artesãos, por sua vez,realizam 18 (<strong>de</strong>zoito) <strong>processo</strong>s, lançam mão <strong>de</strong> 13 (treze) instrumentos e divi<strong>de</strong>m <strong>se</strong>u <strong>processo</strong><strong>de</strong> produção em 06 (<strong>se</strong>is) fa<strong>se</strong>s, on<strong>de</strong> a responsabilida<strong>de</strong> pelas fa<strong>se</strong>s 1, 2 e 3 são <strong>de</strong> DonaOlinda; as 3, 4 e 5, <strong>de</strong> Seu Petrolino e a 6, responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambos. Esta sistematização dogesto técnico <strong>de</strong>stes narradores evi<strong>de</strong>ncia uma divisão <strong>se</strong>xual do trabalho. Divisão que tem nasua formulação, não somente jogos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r entre gestualida<strong>de</strong>s e performances masculinas oufemininas, ou, ainda, <strong>de</strong>marcações <strong>de</strong> lugares/localizações <strong>de</strong> gênero 237 , mas, sim, oestabelecimento <strong>de</strong> uma hierarquia <strong>de</strong>ssa gestualida<strong>de</strong>, ou <strong>se</strong>ja, uma hierarquia do status dotrabalho, a ver: a mo<strong>de</strong>lagem é lugar feminino; a pintura, masculino. Tal hierarquia, construída apartir <strong>de</strong> referentes sociais, retirados do campo da arte hegemônica (e sua história recente) eque nela encontra suas ba<strong>se</strong>s e justificativas, a saber: as artes menores (o artesanato) e as artesmaiores ou belas artes (a pintura).A “generificação” dos gestos técnicos, no âmbito <strong>de</strong>ste casal <strong>de</strong> artesãos, <strong>se</strong>gue o<strong>se</strong>squemas <strong>de</strong> divisão/classificação dos fazeres que não tenha mais por ba<strong>se</strong> a força física, mas,sim, a reprodução (ou <strong>de</strong>veria chamar <strong>de</strong> reacomodação) <strong>de</strong> esquemas binários <strong>de</strong> conceber aspráticas socias (i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s) masculinas e femininas.237 Retomo às indicações <strong>sobre</strong> a noção <strong>de</strong> gênero formuladas por LUBAR, Steven. In: HOROWITZ, Roger; MOHU,Arwen (orgs) (1998) op. cit.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!