20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008177mesmo <strong>de</strong> Dona Olinda, Dona Maricota inclui, no rol das técnicas, momentos como a sova damassa e a mo<strong>de</strong>lagem propriamente dita. Acredito que estes momentos caracterizam o que<strong>de</strong>nominei anteriormente como a<strong>de</strong>nsamento da gestualida<strong>de</strong>. É necessário comentar que DonaMaricota realiza todas as fa<strong>se</strong>s do <strong>processo</strong> <strong>de</strong> produção, diferente dos (das) jovens artesãos(ãs), que, <strong>de</strong> alguma forma, instituem uma divisão do trabalho.Ao contar <strong>sobre</strong> a sova e a mo<strong>de</strong>lagem, a narrativa <strong>de</strong> Dona Maricota não é veículo dosdiscursos da geometria, ou da troca <strong>de</strong> receitas, (...) e começo a fazer os corpinhos, tudo,braços, tudo <strong>se</strong>parado, aí <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong> tardinha ou no outro dia, eu já tô com tudo (...) aí só fazer amontagem das peças, porque as peças já estão tudo feita, <strong>se</strong>paradinhas e é só fazer amontagem (...), mas, explica <strong>se</strong>u ofício. A narradora refuncionaliza, em <strong>se</strong>u enunciado, vozesancestrais <strong>de</strong> antigos oleiros e, assim, cria um discurso em que o foco narrativo 232 é ela mesma.Dona Maricota é a narradora-protagonista da sua história; <strong>se</strong>us enunciados, <strong>de</strong> tão <strong>de</strong>nsos, tãoautorais, revelam que a mo<strong>de</strong>lagem acontece tal como ela conta e a partir do passar do tempovivido. Na fala <strong>de</strong> Dona Maricota não estão figuradas as formas <strong>de</strong> fazer padronizadas porinstituições gestoras <strong>de</strong> políticas culturais. Aliás, sua narrativa constrói-<strong>se</strong> <strong>sobre</strong> outras ba<strong>se</strong>s. Oque é possível encontrar subjacente a este fragmento é o discurso da tradição <strong>se</strong> re-construindo,<strong>se</strong> re-elaborando. Não acredito que Dona Maricota utilize a narrativa <strong>de</strong> <strong>se</strong>u fazer qualdispositivo para subordinar <strong>se</strong>u gesto plástico ao objeto cultural; mas para inferir <strong>sobre</strong> isso, estefragmento não é suficiente.A importância que Dona Maricota re<strong>se</strong>rva a momentos como a sova e os tempos dotrabalho (...) <strong>de</strong> manhã eu venho (...), (...) aí <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong> tardinha ou no outro dia (...), são reflexosdas memórias dos espaços ancestrais das olarias: on<strong>de</strong> técnicas como as <strong>de</strong> sovar eram, eainda são, imprescindíveis para o trabalho com o barro. E <strong>de</strong> sua infância: on<strong>de</strong> os tempos erammarcados pelas circularida<strong>de</strong> das ativida<strong>de</strong>s da manhã na escola, à tar<strong>de</strong> no trabalho com obarro.232 Ao referir-me ao foco narrativo, estou me ba<strong>se</strong>ando nas teorias do foco narrativo, ou <strong>se</strong>ja, do NARRADOR, emliteratura ou crítica literária. Sobre a noção <strong>de</strong> narrador-protagonista (“I” as protagonist) utilizo a <strong>se</strong>guintecaracterização: “(...) aí também <strong>de</strong>saparece a onisciência. O NARRADOR, personagem central, não tem acesso aoestado mental das <strong>de</strong>mais personagens. Narra <strong>de</strong> um centro fixo, limitado qua<strong>se</strong> que exclusivamente às suaspercepções, pensamentos e <strong>se</strong>ntimentos”. LEITE, Lígia Chiappini Moraes. (2006) op. cit.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!