20.07.2015 Views

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008160revolucionárias dos repertórios culturais coletivos, da potência transformadora das performance<strong>se</strong> fórmulas tradicionais.Travestido, pois, <strong>de</strong> enunciado libertador, o que encontro nos conceitos apre<strong>se</strong>ntadosacima é a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dizer! Similar ao problematizado por BEZERRA, ao tratar do textomonológico. As <strong>de</strong>finições das “Cartas...” já dis<strong>se</strong>ram tudo. Do lugar – <strong>se</strong>ja este qual for – <strong>de</strong> suaautorida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ram a última palavra, <strong>de</strong>finiram a performance, os gestos, as narrativas e“qualquer que <strong>se</strong>ja a forma que elas assumam, em sua construção predomina uma invariante: aspersonagens são objetos do autor, que não as vê como sujeitos, como consciências capazes <strong>de</strong>falar e respon<strong>de</strong>r por si mesmas, mas como coisas, como matéria muda que <strong>se</strong> esgota e <strong>se</strong>imobiliza no acabamento <strong>de</strong>finitivo que ele lhe dá” 213 .As estratégias institucionais para “divulgar” ou (re)criar as tradições do barro,mo<strong>de</strong>rnamente, a partir <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> cultura popular subordinada e refuncionalizada, constituiuma entre várias ações <strong>de</strong> negociação utilizadas por mu<strong>se</strong>us <strong>de</strong> cultura popular, centros <strong>de</strong>arte/artesanato ou galerias <strong>de</strong> arte ingênua, na constituição <strong>de</strong> um circuito <strong>de</strong> “arte popular” 214 .213 BEZERRA, Paulo. In: BRAIT, Beth. (2007) op. cit. p. 192.214 Em meio a um circuito intelectual no México, existe a curiosa, e talvez pouco relevante, discussão <strong>sobre</strong> adiferença entre artesanato e arte popular, acredito que pouco relevante, mas profundamente instigante para <strong>se</strong>rcitada aqui. Para algumas intelectuais (centradas nos Estudos Culturais e Feministas) como BARTRA, a artepopular é uma categoria em que caberia toda aquella criación plástica, visual, <strong>de</strong> los grupos más pobres <strong>de</strong>l mundo(p. 10) e entre estes grupos as mulheres <strong>se</strong>riam a personificação <strong>de</strong>stes mais pobres, assim e a modo <strong>de</strong> <strong>de</strong>duçãológica, a arte popular é uma arte <strong>de</strong> mulheres! Esta forma <strong>de</strong> encarar a arte popular tem como ba<strong>se</strong> os <strong>processo</strong>s <strong>de</strong>produção, técnicas, ferramentas e como o ápice <strong>de</strong>sta caracterização, a qualida<strong>de</strong> artística resumida da <strong>se</strong>guinteforma pela autora, a saber: El arte popular <strong>se</strong> distingue <strong>de</strong> las artesanías simplemente por la calidad artistica <strong>de</strong>lprimero en comparación con las creaciones extremadamente repetitivas y em <strong>se</strong>rie <strong>de</strong> las artesanías” (p. 10). Emoutro momento a autora afirma: “En buena medida la cuestión <strong>de</strong> la autenticida<strong>de</strong> <strong>se</strong> pue<strong>de</strong> abordar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el punto<strong>de</strong> vista artístico. El autêntico arte popular es aquel que es arte y no solamente artesanía. (p.11). Acredito que taldistinção impe<strong>de</strong> que a cultura popular e sua objetualida<strong>de</strong> (artesanato ou arte popular) <strong>se</strong>ja potencializadaenquanto estratégia e gesto político, econômico e histórico, enfraquecendo sua característica <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>sveladoradas subordinações e das estratégias hierarquizadoras entre saberes (gestos plásticos/estéticos). Duvido, ainda, quepor <strong>se</strong>r repetitivo, o artesanato <strong>se</strong>ja menos gesto estético que um outro objeto realizado pelas mãos <strong>de</strong> um artesão(ã). Duvido ainda mais, que a simples “qualida<strong>de</strong> estética” <strong>se</strong>ja uma categoria <strong>de</strong> análi<strong>se</strong> possível – visto que<strong>de</strong>veríamos estar (re)pensando que estética ou que noção <strong>de</strong> estética estaríamos utilizando para olhar sistemas <strong>de</strong>objetos que tem outras referências plásticas (não canônicas), outras referências simbólicas, outras referênciashistóricas e culturais; e acredito que utilizar a circularida<strong>de</strong> econômica por mercados culturais diversos, <strong>se</strong>ja doartesanato ou da arte popular, possa <strong>se</strong>r qualificador da qualida<strong>de</strong> estética do sistema <strong>de</strong> objetos artesanais. Issopor compartilhar com outras autoras, entre elas PRICE, que as manifestações plásticas “primitivas” em centroscivilizados são <strong>se</strong>mpre espectros do que foi a realida<strong>de</strong> social dos produtores lidos a partir <strong>de</strong> referentes dasocieda<strong>de</strong> envolvente. Talvez BARTRA, em sua legítima tentativa <strong>de</strong> interpretar a produção plástica <strong>de</strong> mulheres naAmérica Latina e Caribe, não tenha atentado que maior <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> é aquela que valora arbitrariamente ascosmovisões <strong>de</strong> homens e mulheres a partir <strong>de</strong> variáveis, como a qualida<strong>de</strong> estética, ou que promove a construção<strong>de</strong> dicotomias <strong>de</strong> gênero enclausuradas e enclausuradoras dos atores envolvidos neste cenário da cultura popular.BARTRA, Eli. (comp.) (2004) Creatividad Invisible. Mujeres y arte popular em América Latina y el Caribe. MéxicoD.F.: Universidad Nacional Autónoma <strong>de</strong> México; Igualmente remeto a PRICE, Sally (2000) op. cit.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!