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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008159Enten<strong>de</strong>-<strong>se</strong> por “patrimônio cultural imaterial” as práticas, repre<strong>se</strong>ntações, expressões,conhecimentos e técnicas – junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes sãoassociados – que as comunida<strong>de</strong>s, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos reconhecemcomo parte integrante <strong>de</strong> <strong>se</strong>u patrimônio cultural. Este patrimônio cultural imaterial, que <strong>se</strong>transmite <strong>de</strong> geração em geração, é constantemente recriado pelas comunida<strong>de</strong>s e grupos emfunção <strong>de</strong> <strong>se</strong>u ambiente, <strong>de</strong> sua interação com a natureza e <strong>de</strong> sua história, gerando um<strong>se</strong>ntimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e continuida<strong>de</strong>, contribuindo assim para promover o respeito àdiversida<strong>de</strong> cultural e à criativida<strong>de</strong> humana. Para fins da pre<strong>se</strong>nte Convenção, <strong>se</strong>rá levado emconta apenas o patrimônio cultural imaterial que <strong>se</strong>ja compatível com os instrumentosinternacionais <strong>de</strong> direitos humanos existentes e com os imperativos <strong>de</strong> respeito mútuo entrecomunida<strong>de</strong>s, grupos e indivíduos, e do <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento sustentável 212 .Enten<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sta forma cultura popular e patrimônio cultural imaterial, faz-me pensar napotência monológica que estes dois enunciados acima citados contêm. Por monológico, a partir<strong>de</strong> BAKHTIN, entendo o autoritarismo, a impossibilida<strong>de</strong> da discussão das verda<strong>de</strong>sveiculadas/contidas nos enunciados e, por con<strong>se</strong>guinte, na realida<strong>de</strong> social (que tem sua vidanas interações sociais). Entendo, ainda, o apagamento das vozes (dos universos individuais), nadiluição dos diferentes <strong>se</strong>lf, na sujeição das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e <strong>se</strong>us movimentos rumo à tirania dasclassificações transcen<strong>de</strong>ntais “coisificadoras” <strong>de</strong> homens e mulheres que possuem corpos,gestualida<strong>de</strong>, <strong>de</strong><strong>se</strong>jos, e que estão em contínuo movimento. Ao <strong>de</strong>finir cultura popular comocitado acima, os especialistas, autores das Cartas Patrimoniais, mais uma vez lançam aoanonimato fantasmagórico artesãos (ãs), dissolvem a historicida<strong>de</strong> conquistada a partir <strong>de</strong> suapre<strong>se</strong>nça física e <strong>de</strong> suas formas <strong>de</strong> viver e estar no mundo em relação com outros homens emulheres igualmente físicos, apagam sua gestualida<strong>de</strong> plástica e assim marginalizam a estéticaque encontra no prosaico sua força motriz.Deveras, acredito que as <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> cultura popular e patrimônio cultural imaterial,como formuladas acima, sufocam e subordinam a inventivida<strong>de</strong> da dinâmica social/cultural <strong>de</strong>(re)criar-<strong>se</strong>. Impe<strong>de</strong>m que os movimentos internos e externos <strong>se</strong> configurem como atualizaçõesdos repertórios simbólicos que nos povoam, mesmo que estes <strong>se</strong>jam subordinados à uma lógicamercantil, ou como resistências a estas mesmas lógicas. As <strong>de</strong>finições – e só pela escolha dotermo, da palavra - atualizam canhestramente uma noção <strong>de</strong> cultura popular, em que <strong>se</strong>encontra subjacente uma tradição tirânica, a negação <strong>de</strong> subjetivações e objetualizações212 Esta <strong>de</strong>finição encontra-<strong>se</strong> na Convenção para a salvaguarda do patrimônio cultural imaterial, realizada em Pari<strong>se</strong>m 17 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2003. I<strong>de</strong>m, p. 373.

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