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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008149lugares/espaços e ofícios/fazeres, o ícone utilizado como argumento nos discursos i<strong>de</strong>ntitáriosimpressos nos anos 1960 por intelectuais <strong>de</strong>stas terras, a saber: o povo litorâneo.Aqueles intelectuais (ainda hoje atuantes em diferentes espaços “culturais” e ecos naprodução <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> conhecimento <strong>sobre</strong> a cultura popular em Santa Catarina), apoiadosnuma versão da história sócio-econômica da Ilha, cuja prática da pesca, lavoura e artesanatoformavam um conjunto <strong>de</strong> características “<strong>de</strong>finidoras” <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> social construída comobjetivos i<strong>de</strong>ológicos, moldaram e (re)<strong>se</strong>mantizaram positivamente o acervo <strong>de</strong> imagens verbai<strong>se</strong> visuais ligadas a estes homens e mulheres litorâneos, uma vez estigmatizados <strong>de</strong> “povoindolente e incapaz”, forjando no <strong>se</strong>u lugar o sujeito-épico Ilhéu: o (a) mané 197 . Um exemplo jáclássico <strong>de</strong>sta estratégia e que também dá suas ba<strong>se</strong>s <strong>de</strong> sustentação, são as coleções <strong>de</strong><strong>de</strong><strong>se</strong>nhos <strong>de</strong> Franklin Cascaes <strong>sobre</strong> os tipos característicos da Ilha e <strong>se</strong>u acervo <strong>de</strong>imaginações fantásticas.Outro exemplo, mais recente, <strong>se</strong>ria a intensa e extensa produção plástica,especialmente em artes visuais e suas apropriações pelo circuito turístico, <strong>sobre</strong> temas ligados aum “folclore” ilhéu (são cartões-postais, imãs para gela<strong>de</strong>ira, reproduções mecânicas na forma<strong>de</strong> pôsteres com cenas do cortejo do divino, bois-<strong>de</strong>-mamão, cenários da cida<strong>de</strong>, entre outros).Outro, o “resgate” (incentivado por práticas institucionais 198 ) das objetualida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> festas,197 Para esta afirmação sustento-me na entrevista <strong>de</strong> apoio que realizei em 08 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2006, no Mu<strong>se</strong>u doRibeirão da Ilha, com o economista e sociólogo Nereu do Vale Pereira, professor apo<strong>se</strong>ntado da Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina UFSC. Nesta entrevista, o prof. Pereira comentou que foi no 1º Congresso <strong>de</strong> HistóriaCatarinen<strong>se</strong> <strong>de</strong> 1948 em comemoração do Bicentenário da Colonização Açoriana, quando <strong>se</strong> avaliou a situação epositivou a colonização açoriana na Ilha <strong>de</strong> Santa Catarina. Como reverberações <strong>de</strong>ste congresso e do <strong>processo</strong> <strong>de</strong>positivação, alguns intelectuais animaram, nas décadas <strong>de</strong> 1950 e 1960, a idéia <strong>de</strong> eleger o (a) mané como o signoque historicamente protagonizaria esta reescritura da história da Ilha <strong>de</strong> Santa Catarina, na forma <strong>de</strong> uma re-criação<strong>de</strong> uma tradição e, por con<strong>se</strong>guinte, da história e <strong>de</strong> <strong>se</strong>us heróis. Esta ob<strong>se</strong>rvação é confirmada por LACERDA, queafirma que o 1º Congresso <strong>de</strong> História Catarinen<strong>se</strong>, contou com a participação <strong>de</strong> historiadores <strong>de</strong> reconhecimentonacional e que nesta oportunida<strong>de</strong> iniciou-<strong>se</strong> o <strong>processo</strong> <strong>de</strong> “reabilitação da imagem e do papel histórico <strong>de</strong>s<strong>se</strong>homem litorâneo, estabelecendo as razões históricas <strong>de</strong> <strong>se</strong>u fraco <strong>de</strong><strong>se</strong>nvolvimento econômico e,fundamentalmente, afirmando sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> pelo enaltecimento <strong>de</strong> suas tradições culturais” (p. 32). LACERDAcomenta que os anos que <strong>se</strong>guiram o Congresso <strong>de</strong> 1948, foram anos <strong>de</strong> efervescente produção “folclórica” <strong>sobre</strong> opassado açoriano em Santa Catarina. Remeto a LACERDA, Eugênio Pascele. (2003) Bom para brincar, bom paracomer: a polêmica da farra do boi no Brasil. Florianópolis: Ed. da UFSC.198 Prefiro tratar estas intervenções antes como práticas institucionais do que na forma <strong>de</strong> políticas públicas(culturais). Acredito que a reflexão, discussão e proposição <strong>de</strong> políticas públicas/culturais, especialmenterelacionada à cultura popular, que incorpore a perspectiva <strong>de</strong> uma economia política e simbólica doartesanato/cultura popular, necessita ainda <strong>se</strong>r realizada. Este não é o espaço ou fórum para esta empresa, todavia,não posso furtar-me ao compromisso <strong>de</strong> chamar a atenção aos colegas com quem empreendo diálogo ecompartilho o interes<strong>se</strong> <strong>sobre</strong> a temática da cultura popular (na complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significações que este termocomporta) da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revisão da trajetória <strong>de</strong>ste conceito em nossas terras brasileiras e <strong>de</strong> <strong>se</strong>us diferentesusos, revisão das abordagens teóricas, metodológicas e empíricas, utilizadas para sua compreensão einterpretação, revisão das políticas culturais <strong>sobre</strong> patrimônio, cultura e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional, entre outras empresas

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