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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008147Ao contar uma anedota <strong>sobre</strong> a vida privada <strong>de</strong> Dona Agustinha, a narradora aciona umdispositivo que nos permite compreen<strong>de</strong>r os ecos do gesto daquela artesã na especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sua ação plástica. A piada, i.é., a narrativa cômica subverte/transforma a <strong>de</strong>formação do corpoem objeto e funciona como chave <strong>de</strong> acesso a alguns <strong>processo</strong>s <strong>de</strong> objetualização (gestotécnico/plástico) 196 . Através da interpretação <strong>de</strong>ste dispositivo, a leitura das peças mo<strong>de</strong>ladastransborda os <strong>se</strong>ntidos meramente plásticos ou <strong>se</strong>mióticos, instituindo textos estéticos a respeito<strong>de</strong> uma prosáica, on<strong>de</strong> performances são continuamente (re)atuadas, contudo, com um novoenunciado. Dona Maricota, <strong>de</strong>veras, nos permite conhecer sua biografia e as influências <strong>de</strong>outras gentes, <strong>de</strong> outros gestos em sua gestualida<strong>de</strong>, dito <strong>de</strong> outra forma, <strong>de</strong> outros enunciados(vozes) em sua narrativa (voz) (...) Então as pessoas <strong>se</strong> admiram que ninguém comentava isso,mas eu comento (...).Na (re)construção da narrativa, Dona Maricota <strong>de</strong>limita os espaços do aprendizado dobarro (...) A Ponta <strong>de</strong> Baixo era o lugar que tinha as olarias, tudo que era olaria, qua<strong>se</strong> tudo eraalí, tinha a nossa, né, a do meu pai, tinha a do Seu Zé Menegildo, es<strong>se</strong> Seu Zé Firino ((maridoda D. Agustinha)) (...). Igualmente, expõe os tempos da infância, como o tempo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r aplantar, a estudar, a trabalhar e apren<strong>de</strong>r com o barro. Isso justifica <strong>se</strong>r este - a infância - omomento em que criar não era possível, quando e on<strong>de</strong> não havia tempo.Ao reconstruir este fragmento narrado por esta artesã, percebo que o tempo <strong>de</strong> criar sóé materializado posteriormente na constituição do espaço do ateliê, já comentado em outromomento. Mais uma vez, não significa a inexistência do tempo <strong>de</strong> criar anterior e interior àquelesoutros momentos, mas, sim, sua (re)localização em outro lugar na sucessão do narrar, ou <strong>se</strong>ja,na construção <strong>de</strong> uma possível coerência da história (ficção) criada e da instituição <strong>de</strong> um herói.A forma <strong>de</strong> <strong>se</strong>r tradicionalmente mo<strong>de</strong>rno tem sua continuida<strong>de</strong> esvanecida em função<strong>de</strong> diferentes estratégias que as famílias <strong>de</strong> artesãos (ãs) escolheram e continuam a escolherpara sua mo<strong>de</strong>rnização, a saber: in<strong>se</strong>rção dos filhos na educação formal e a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> outras196 As possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> repre<strong>se</strong>ntação do outro constituem uma chave para interpretar as estratégias <strong>de</strong> subversãodas interações simbólicas <strong>de</strong> gênero entre homens e mulheres (ou as políticas <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong> forma mais ampla);esta possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reter e configurar o outro a partir da mo<strong>de</strong>lagem (ou da narrativa objetualizada), converte-<strong>se</strong>em um po<strong>de</strong>r <strong>sobre</strong> o corpo, a corporieda<strong>de</strong> e as formas <strong>de</strong> narrar <strong>sobre</strong> este outro. As metáforas <strong>de</strong> animais queatuam como humanos, são uma fonte <strong>de</strong> análi<strong>se</strong> riquíssima para enten<strong>de</strong>r aquelas narrativas, as relações <strong>de</strong>conflito, e <strong>sobre</strong> as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformação dos roteiros a respeito <strong>de</strong>stas relações (inscritas na forma <strong>de</strong>mitos, contos, lendas e histórias fantásticas, piadas e outros). A modo <strong>de</strong> uma primeira aproximação, conferir o<strong>se</strong>nsaios: CORRÊA, Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira. Olhando Imagens, consumindo estilos: os significados culturais atribuídosàs fotografias em catálogos. In: Anais do I Simpósio <strong>de</strong> Gênero e Mídia. Curitiba: PPGTE UTFPR, 2005 (CD ROM);CORRÊA, Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira. Ninguém fala <strong>de</strong>la (s), mas eu falo! Reconstrução <strong>de</strong> alguns episódios ocorridos navida <strong>de</strong> uma mulher artesã <strong>de</strong> Florianópolis SC. In: Anais do 2º Simpósio <strong>de</strong> Tecnologia e Socieda<strong>de</strong>. Curitiba, Pr,Brasil: PPGTE. 2007. (CD-ROM).

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