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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008145ela <strong>se</strong> ba<strong>se</strong>ava no marido <strong>de</strong>la, por isso que ela fez os sapinhos assim, com os pés (…)((risos))E. ((risos))M. Então as pessoas <strong>se</strong> admiram que ninguém comentava isso, mas eu comento, eu nasci naPonta <strong>de</strong> Baixo. A Ponta <strong>de</strong> Baixo era o lugar que tinha as olarias, tudo que era olaria, qua<strong>se</strong>tudo era ali, tinha a nossa, né, a do meu pai, tinha a do Seu Zé Menegildo, es<strong>se</strong> Seu Zé Firino((marido da D. Agustinha)), tinha olaria, mas ele não fazia, né! como é que ele ia ficaracocorado ((na roda)), ele só vendia. E, ele levava <strong>de</strong> canoa, porque não tinha condução porterra, e levava pelo mar <strong>de</strong> canoa para ven<strong>de</strong>r no Mercado Público <strong>de</strong> Florianópolis.O figurativo faz perto <strong>de</strong> uns quarenta anos que eu faço já! (...), o tempo contado aqui,ajuda na (re)construção coerente da trajetória. Ele dá a dimensão do que antece<strong>de</strong> e contém nanarrativa, e o que igualmente prece<strong>de</strong>, contém e suce<strong>de</strong> ao meu envolvimento com a históriacontada pela narradora. Ele – o tempo - acumula as histórias que nos povoam, aquilo que nos éancestral (e o barro nos é ancestral!). O barro é a matéria que nos conecta intimamente com acriação do mundo – qual um mito fundacional ou uma matéria-memória que objetifica aexistência humana em cenário e personagens. Esta mitologia-metáfora conecta artesão (ã) equem ouve suas histórias com um Deus que, nas práticas religiosas indo-européias emediterrâneas, também foi/é oleiro paciente e mo<strong>de</strong>lador das gentes, dos bichos, dos cenários.O trecho citado é a fórmula que indica o dissolvimento do tempo em um passado-pre<strong>se</strong>nte,indica no mesmo gesto o longo acumular <strong>de</strong> experiências, <strong>de</strong> recorrência <strong>de</strong> formas, <strong>de</strong>pregnância <strong>de</strong> mitologias (imagens e imaginações), e, assim, dissolve também o futuro. DonaMaricota transborda suas experiências laborais e <strong>de</strong> vida nestes qua<strong>se</strong> quarenta anos <strong>de</strong> fazer,não qualquer fazer. De certa forma, a narradora diz: “eu também faço vidas, também inscrevobiografias <strong>de</strong> coisas que habitam o mundo”.Dona Maricota formula neste fragmeno o <strong>se</strong>guinte enunciado (...) Porque daí ((na época<strong>de</strong> infância)) a gente não tinha tempo para o figurativo. Assim, para ter tempo <strong>de</strong> criar; porquetodo mundo trabalhava lá! (...) Aí quando tinha que colher café, ia colher café.(...), para falar<strong>sobre</strong> os espaços <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r o fazer. Espaços que ultrapassavam a casa, espalhando-<strong>se</strong> pelaplantação, pelos chãos muito além dos alpendres, e além também das relações familiares (...)tinha uma porção <strong>de</strong> empregados também, porque tinha muita lida, assim como diziamantigamente, né! (...). Ela anuncia as formas <strong>de</strong> <strong>se</strong>r criança e como as práticas laborais faziamparte constituinte <strong>de</strong>ste estar no mundo, ou <strong>se</strong>ja, expõe a infância constituída a partir <strong>de</strong> umapedagogia moral, ética e estética, mediada pelo trabalho. O não ter tempo não significa aqui

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