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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008138construiu sua experiência entrelaçada à ancestralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>se</strong>u pai oleiro, estabelecendo comisso sua singularida<strong>de</strong> (ou o novo) na mo<strong>de</strong>lagem folclórica, a partir do comum (do velho) dotradicional.Ao utilizar os marcadores: (...) <strong>se</strong>mpre a gente já mexia com cerâmica (...) e (...) <strong>de</strong>s<strong>de</strong>quando ele era solteiro, ele já tinha cerâmica (...), a narradora afirma que mesmo antes <strong>de</strong>la, eatravés <strong>de</strong>la, o saber ancestral <strong>sobre</strong> o barro tem continuida<strong>de</strong> e permanece vivo. Ação <strong>de</strong>verasnecessária, visto que Dona Maricota foi uma mulher no mundo masculino da olaria, on<strong>de</strong> asucessão caracteriza-<strong>se</strong>, ainda hoje, por <strong>se</strong>r <strong>de</strong> pai para filho, como marcado em fragmento a <strong>se</strong>ranalisado posteriormente. Dito <strong>de</strong> outra forma, Dona Maricota ao (re)construir sua biografia emuma narrativa coerente e or<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> suas experiências, forja um começo histórico e cheio <strong>de</strong>intenção (<strong>de</strong><strong>se</strong>jo), cuja função é a constiuição <strong>de</strong> <strong>se</strong>u <strong>se</strong>lf digno da honra <strong>de</strong> receber a “tradiçãoda família”, ou <strong>se</strong>ja, o conhecimento <strong>sobre</strong> barro. Esta estratégia narrativa também tem porfunção ligar Dona Maricota à distinção con<strong>se</strong>guida pelo pai como oleiro e proprietário <strong>de</strong> olaria:(...) Aí trabalhavam em alta produção, naquela época eles faziam peça utilitária (...), mesmo queesta tradição não <strong>se</strong>ja legada diretamente a ela ou suas irmãs mais velhas, visto que (...) Tinhaos oleiros, né! Tinha os meus irmãos mais velhos, que trabalhavam (...), mas peloobscurecimento das linhas <strong>de</strong> herança laboral, pois (...) <strong>se</strong>mpre a gente já mexia com cerâmica(...).De acordo com Said, começar significa ação <strong>de</strong> regresso, <strong>de</strong> retroce<strong>de</strong>r, instituir, pois,ritmos cíclicos ou elípticos e não continuida<strong>de</strong> linear em progressivo movimento rumo a um fimali à frente. Esta circularida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r notada no trecho on<strong>de</strong> Dona Maricota indica alocalização da olaria, este lugar on<strong>de</strong> (...) era a nossa casa on<strong>de</strong> a gente <strong>se</strong> criou (...), narradoexaustivamente através <strong>de</strong> movimentos <strong>de</strong> idas e vindas, <strong>de</strong> fluxos e contra-fluxos, <strong>de</strong>espacialida<strong>de</strong>s acima e abaixo, <strong>de</strong> relações íntimas entre parentalida<strong>de</strong> e comércio, todosmarcados pela pre<strong>se</strong>nça <strong>de</strong> uma estrada geral, convertida neste momento no cronotopo dahistória 187 .187 Para configurar o cronotopo da estrada geral na narrativa <strong>de</strong> Dona Maricota, tomei por ba<strong>se</strong> a configuração docronotopo do carro nos filmes do iraniano Abas Kiarostami, proposto por Marília Amorim. Nesta análi<strong>se</strong> <strong>de</strong> algunsfilmes daquele diretor (Através das Oliveiras, 1994; O gosto da Cereja, 1996, O vento nos levará, 1999 e Dez,2001), a autora configura o carro como uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> configuração do cronotopo do mundo contemporâneo,e, por con<strong>se</strong>guinte, da visão <strong>de</strong> homem pre<strong>se</strong>nte neste mundo. Amorim afirma que o carro na filmatografia <strong>de</strong>Kiarostami, é o ponto <strong>de</strong> on<strong>de</strong> <strong>se</strong> dão as transformações <strong>de</strong> <strong>se</strong>ntido, e por sua vez o topus privilegiado para aprodução <strong>de</strong> <strong>se</strong>ntido. Neste movimento, a autora preten<strong>de</strong> aproximar-<strong>se</strong> da proposição <strong>de</strong> Bakhtin <strong>sobre</strong> acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revelação da indissolubilida<strong>de</strong> entre o espaço e o tempo contido no cronotopo. AMORIM, Marília. In.BRAIT, Beth (org.) op. cit.

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