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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008130músicos brejeiros e muitas outras personagens que povoam a imaginação <strong>de</strong>sta artesã.Acompanhar Dona Maricota trabalhar é condição para enten<strong>de</strong>r este lugar, estes objetos, estamulher. De forma material este não é nada mais que uma edificação retangular <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>sbrancas, teto baixo, portas e janelas estreitas, revestido <strong>de</strong> cerâmica e com forro <strong>de</strong> PVC. Nalateral, uma prolongação da cobertura <strong>de</strong> telhas <strong>de</strong> amianto, é o <strong>de</strong>pósito on<strong>de</strong> Dona Maricotamantém um estoque <strong>de</strong> peças queimadas e on<strong>de</strong> está a mesa on<strong>de</strong> sova o barro. À frente, emuma área <strong>de</strong> piso <strong>de</strong> cimento cru, está o pequeno forno à lenha, construído recentemente. Estaárea também coberta pelo prolongamento da cobertura do ateliê é cercada por jardins <strong>de</strong> flores everduras que Dona Maricota utiliza para cozinhar, curar e <strong>de</strong>corar sua casa.A pare<strong>de</strong> do fundo é <strong>de</strong>dicada ao armazenamento <strong>de</strong> peças em estantes <strong>de</strong> metal; àpare<strong>de</strong> lateral direita, duas mesas em ma<strong>de</strong>ira são <strong>de</strong>dicadas às peças <strong>se</strong>cas ou por pintar.Acima <strong>de</strong>stas, uma forte prateleira, igualmente <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, pregada à pare<strong>de</strong>, converte-<strong>se</strong> emlugar on<strong>de</strong> peças antigas, pre<strong>se</strong>ntes ancestrais e um <strong>de</strong>sproporcional presépio natalinoencontram morada e o pó do esquecimento. Ao centro, uma gran<strong>de</strong> bancada, utilizada para amontagem e pintura das peças, é o lugar <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> Dona Maricota, on<strong>de</strong> algumas caixasvazias, para acondicionar as peças para transporte, vidros <strong>de</strong> tinta, pincéis, trapos e vasilhasplásticas, compõem os acessórios existentes, preenchem os espaços, configuram uma<strong>de</strong>coração. A musiquinha, que soa baixinho embala as horas <strong>de</strong> trabalho e acompanha a solidãoda jornada, vem <strong>de</strong> um rádio <strong>de</strong> pilhas preto, companheiro animado pela imaginação da artesã,lembrança <strong>de</strong> outro que ajuda a resistir aos dias <strong>de</strong> longo passar dos tempos.O ateliê é a sinte<strong>se</strong> material (caso isso <strong>se</strong>ja possível) <strong>de</strong> Dona Maricota. Reflete suaforma <strong>de</strong> organizar <strong>se</strong>u trabalho, suas percepções <strong>sobre</strong> as peças que mo<strong>de</strong>la e <strong>sobre</strong> a vidaque experimenta. Ele converte-<strong>se</strong>, assim, em enunciado potencial <strong>sobre</strong> <strong>se</strong>r artesãmo<strong>de</strong>rnamente. Todavia, <strong>de</strong> um tipo distinto, visto que Dona Maricota é uma daquelasidiossincráticas pessoas que <strong>se</strong> formaram na tradição, ou <strong>se</strong>ja, na ação compartida <strong>de</strong>transmissão <strong>de</strong> significados e signos abstratos, os quais são materializados uma e outra vez emobjetos concretos. Isso, enquanto estes objetos tenham <strong>se</strong>ntido para <strong>se</strong>us produtores econsumidores, <strong>se</strong>ndo apropriado ou mesmo expropriado <strong>de</strong> acordo com as atualizaçõe<strong>se</strong>mpreendidas por cada geração, mas, e <strong>sobre</strong>tudo, mantendo alguma relação com os objetoscriados anteriormente e, por con<strong>se</strong>qüência, com aquelas gerações. Este fato, que <strong>de</strong>termina aforma como subjacente aos novos objetos, encontram-<strong>se</strong> as condições materiais e espirituais

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