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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008127sozinha pra fazer tudo (...) que fos<strong>se</strong> relativo à casa. Des<strong>se</strong> modo, os tempos <strong>de</strong> produção (<strong>de</strong>trabalho) são aqueles que sobram quando o cuidado com a casa, ou com a mãe, já não énecessário, ou <strong>se</strong>ja, quando sua performance <strong>de</strong> dona <strong>de</strong> casa e filha amantíssima, foramcumpridos com eficácia. Esta <strong>sobre</strong>posição <strong>de</strong> performances marca as relações que a artesãmantinha tanto com os espaços, a casa/ateliê, quanto com as peças produzidas, que eramsomente queimadas. Interessante expor que não existe uma hifenização entre as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>sdona-<strong>de</strong>-casa e artesã. Estas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>se</strong> <strong>sobre</strong>põem conflituosamente, <strong>de</strong> forma silenciosa,mas nem por isso menos tensa.Esta tensão só <strong>se</strong> resolve posteriormente à construção do ateliê, momento em que o<strong>se</strong>spaços são <strong>de</strong>marcados e com eles as performances são (re)estabelecidas e, <strong>de</strong>pois, com amorte da mãe <strong>de</strong> Dona Maricota. Este lugar, qua<strong>se</strong> ritual do ateliê, é on<strong>de</strong> Dona Maricotaencontra-<strong>se</strong>, reorganiza-<strong>se</strong>, constrói rituais que permitem a ela reconstruir suas vivências, reescreversua história, orientar suas ações biográficas. Este cronotopo materializado no ateliê éon<strong>de</strong> <strong>se</strong> conta o tempo do trabalho e on<strong>de</strong> <strong>se</strong> retorna para que o trabalho <strong>se</strong>ja reconstruído enarrado. Antes disso, o trabalho era realizado na área <strong>de</strong> <strong>se</strong>rviço da casa <strong>de</strong> Dona Maricota,on<strong>de</strong> está o tanque <strong>de</strong> lavar roupas e, próximo à cozinha, a horta e o jardim <strong>de</strong> plantasmedicinais. Esta espacialida<strong>de</strong> marca todas as ativida<strong>de</strong>s realizadas nestes espaços comopráticas <strong>de</strong> produção do útil – ou da utilida<strong>de</strong>, como o cozinhar, o lavar e o curar, por fim, <strong>de</strong>cuidado com o outro. Esta não especialização dos espaços fazia com que a produção <strong>de</strong> objetosartesanais fos<strong>se</strong> significada como parte das ativida<strong>de</strong>s diárias, ou <strong>se</strong>ja, como trabalho domésticoe não como um trabalho/profissão.No momento em que aumenta a produção existe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda para cumprircom os prazos das encomendas, e, para isso, Dona Maricota contou com apoio <strong>de</strong> sua família,começou muita encomenda, aí a minha cunhada vinha ajudar porque tinha que cuidar da mãetambém, né! Todavia, esta “ajuda” não <strong>se</strong> constituía somente como apoio à produção das peças,mas, principalmente, com relação às questões domésticas que necessitavam <strong>se</strong>r <strong>de</strong>ixadas <strong>de</strong>lado em função <strong>de</strong> uma maior <strong>de</strong>dicação <strong>de</strong> tempo e esforço à produção. A afirmação porquetinha que cuidar da mãe também, né! é uma fórmula padronizada, utilizada pela entrevistadapara justificar-<strong>se</strong> e para i<strong>se</strong>ntar-<strong>se</strong> <strong>de</strong> culpa por estar <strong>de</strong>dicando mais tempo ao trabalho que aocuidado com sua mãe. Esta fórmula, construída <strong>de</strong> diferentes formas, repetida várias vezes emdistintos momentos da entrevista, “ilumina” a tensão que vivia a artesã e expõe <strong>se</strong>u conflito

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