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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008126fizemos em um mês e meio! A minha mãe acordava <strong>de</strong> madrugada, ela ia me chamar,porque eu tava dormindo em cima da mesa ainda (...) assim ((simula a postura)), com ospedaços <strong>de</strong> barro na mão! Qua<strong>se</strong> amanhecendo o dia (...)E. O dia todo trabalhando (...)M. Em um mês e meio ficou tudo pronto (...) a moça num quis (...) ((acreditar)) ”tá qua<strong>se</strong> tudopronto?” eu dis<strong>se</strong>: “não, po<strong>de</strong> vim buscar porque já está pronto!!!” ((risos)) Aí foram trezentasba<strong>se</strong>zinhas, né, aí foram mil e duzentos bonecos, foram feitos (...)E. Do pau <strong>de</strong> fita (...)M. É, porque quatro bonecos cada um né. Seiscentos bonecos e <strong>se</strong>iscentas bonecas, a bonecaé mais prática <strong>de</strong> fazer porque num tem perna, né! Mas nós fizemos (...) daí (...) acho que foitrês cuzeiros cada um (...) três reais – não, não era real ainda, era cruzeiro – <strong>de</strong>u novecentosreais ((cruzeiros)) (...)E. Aí a <strong>se</strong>nhora construiu isso aqui atrás (...)M. Aí que eu construi isso aqui, porque eu num tinha (...)E. Ficou <strong>se</strong>u ateliê (...)M. O ateliê era aqui (...) mas daí o dinheiro <strong>de</strong>u só pra fazer ((move os braços, mostrando oespaço construído)), e num tinha reboco, nem (...) forro, nada, né! Aí <strong>de</strong>pois foi aumentando,aumentando ((as encomendas)), eu começei a ven<strong>de</strong>r pra Santur também, (...)O fragmento inicia com um comentário <strong>sobre</strong> as formas <strong>de</strong> comercialização dos objeto<strong>se</strong> como estas <strong>se</strong> misturavam com as práticas domésticas: no começo eu vendia só queimado, euera sozinha pra fazer tudo, eu tinha a minha mãe pra cuidar, então eu não pintava (...). Por umadas ironias que envolvem as relações <strong>de</strong> parentalida<strong>de</strong> e gênero 178 em um <strong>de</strong>terminado tempo eespaço no Brasil, e que permaneceu socialmente relevante neste caso, Dona Maricota foi a filhaque ficou para cuidar dos pais até suas mortes e, por con<strong>se</strong>qüência, ficou solteira.Neste trecho do fragmento tudo remete ao doméstico, como a temporalida<strong>de</strong>, marcadapela fórmula no começo (...) marcador da ancestralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um tempo-lugar que estáperpetuamente imóvel, imutável. Ou ainda a espacialida<strong>de</strong>, subentendida no texto eu era178 Apesar <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r que as questões relacionadas às teorias feministas e <strong>de</strong> gênero são importantes paraigualmente esclarecer pontos obscurecidos pelas estratégias <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnizar-<strong>se</strong>, especialmente (mas nãoexclusivamente) entre as artesãs, apenas <strong>de</strong>marco meus <strong>de</strong><strong>se</strong>jos <strong>de</strong> aproximar-me <strong>de</strong>stas questões. Acredito que ainvestigação mais atenta <strong>sobre</strong> esta especificida<strong>de</strong> das interações sociais recentes <strong>se</strong>ria vital para enten<strong>de</strong>r comoestas “generificações” constroem <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s e como estas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s são vividas no âmbito das culturaspopulares (subalternas). Dessa forma, me aproprio da noção <strong>de</strong> gênero como uma construção social e histórica,constituidora das idéias <strong>de</strong> feminino e masculino, ou melhor, <strong>de</strong> feminilida<strong>de</strong> e masculinida<strong>de</strong>. Estas idéiascompreendidas como reflexo e reiteração das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r existentes na socieda<strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal recente. Estapercepção a respeito da noção <strong>de</strong> gênero permite evi<strong>de</strong>nciar que, tanto o político e o econômico, quanto o culturalinscrevem significados a respeito da masculinida<strong>de</strong> e feminilida<strong>de</strong>, através do tempo e do espaço. Esta noção éutilizada por LUBAR, Steven (1998) Men/woman/production/consumption. In: HOROWITZ, Roger; MOHU, Arwen(orgs) (1998) His and Hers: gen<strong>de</strong>r, consumption, and technology. Virginia: University Press of Virginia.

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