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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008116com <strong>de</strong>sníveis, escadas, nichos, pequenas janelas que dão para fora do ateliê e/ou para <strong>de</strong>ntroda casa e portas duplas que <strong>se</strong> abrem ou <strong>se</strong> fecham para a rua.Portas que, fechadas, pre<strong>se</strong>rvam a intimida<strong>de</strong> do ateliê, a espacialida<strong>de</strong> dos modos <strong>de</strong>fazer, das técnicas e estéticas artesanais e suas novas ancestralida<strong>de</strong>s, mas que, também, sãoum recurso concreto que transforma estímulo em ação, ou <strong>se</strong>ja, transforma o <strong>de</strong><strong>se</strong>jo em querer.Dito <strong>de</strong> outra forma, “na mesma proporção que as emoções superam a lógica da razão emqualquer dos discursos montados nas vitrinas, o <strong>se</strong>ntir o produto nelas exposto ultrapassa o <strong>se</strong>uqualificar informativo; atendido pelo ven<strong>de</strong>dor, o consumidor já toma <strong>se</strong>nsível e imaginariamentepos<strong>se</strong> da mercadoria, ao menos para avaliá-la” 175 . Configura-<strong>se</strong>, pois, um espaço <strong>de</strong> diálogo, <strong>de</strong>troca material e simbólica.Ao modo das portas analisadas por OLIVEIRA, na França, que, fechadas, materializam a<strong>se</strong>paração entre zonas – o público e o privado –, a pre<strong>se</strong>rvação do espaço familiar, e, abertas,conectam com o mundo, as portas do ateliê <strong>de</strong> Olinda e Petrolino ligam como por um nó a oficinacom as relações <strong>de</strong> consumo que, <strong>de</strong> fato, tomam lugar neste espaço. Esta ambígua proteção –as portas - parece re<strong>se</strong>rvar ao interior do ateliê a experiência com os objetos e com os artesãos.À primeira vista, parece até que neste espaço “sagrado” não há lugar ou mesmo espaço para a“mesquinhez” da mercadoria. Esta experiência (re)construída tem por disparador a ação <strong>de</strong> abriras portas – para fora, ao encontro com a rua ou para <strong>de</strong>ntro, na direção da casa – a um (a) outro(a), aquele (a) que vem <strong>de</strong> visita e que vai compartilhar um tratamento personalizado; mas, aomodo <strong>de</strong> uma fratura, este é também o espaço da loja, do comércio, daquela mesquinhamercadoria.Este é um local on<strong>de</strong> habitam simultaneamente a expectativa <strong>de</strong> <strong>se</strong>r artista e participar<strong>de</strong> um circuito <strong>de</strong> consumo simbólico, e o <strong>de</strong><strong>se</strong>jo <strong>de</strong> ganhar a vida e in<strong>se</strong>rir-<strong>se</strong> em um circuito <strong>de</strong>consumo cultural. Como manifestação disso, está lá pendurado, como um estandarte medieval,o pôster produzido por uma empresa <strong>de</strong> telecomunicações, que lançou uma série <strong>de</strong> cartõestelefônicos com fotos <strong>de</strong> peças mo<strong>de</strong>ladas por Dona Olinda. Está, também, um quadro <strong>de</strong> SeuPetrolino, <strong>de</strong> uma figura monstruosa – um peixe – que parece saltar do experimental marco <strong>de</strong>papelão em direção a uma pequena janela que dá acesso ao interior da casa, como querendofugir <strong>de</strong><strong>se</strong>speradamente dos gomos <strong>de</strong> papel que configuram sua superfície, que o <strong>de</strong>tém esimultaneamente o contém. Estão, também, as peças antigas mo<strong>de</strong>ladas em outros tempos, talqual um <strong>de</strong>scomposto diorama, memórias materiais <strong>de</strong> formas, cores, tamanhos e temas. Por175 OLIVEIRA, Ana Claudia. (1997). Op. cit. p. 101.

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