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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008112Todavia, ao recriar a narrativa, a condição <strong>de</strong> subalternida<strong>de</strong> da narradora, econ<strong>se</strong>qüentemente as inter-relações que a pressionavam são explicitadas. Ao <strong>se</strong>r questionada<strong>sobre</strong> as especificida<strong>de</strong>s do curso, Dona Olinda comenta: Não, este curso foi particular. Foi umartista plástico que ofereceu este curso, né! Então eu fui e fiz este curso! Neste trecho, foramexpostos pela narradora as inter-relações compartilhadas no momento da ação. Ao afirmar que ocurso teria sido particular, expõe que teve um custo monetário pago, e ao narrar foi um artistaplástico que ofereceu este curso (...), a artesã materializa a distância que existia entre ela e oartista – que não é nominado em nenhum momento do fragmento, <strong>se</strong>ndo assim submergido noanonimato. Esta especificida<strong>de</strong> do anonimato do artista ajuda a enten<strong>de</strong>r que Dona Olinda nãopermitiu no <strong>processo</strong> <strong>de</strong> construir-<strong>se</strong> enquanto personagem, a interferência <strong>de</strong> outros atores quepo<strong>de</strong>riam colocá-la em um lugar <strong>de</strong> subalternida<strong>de</strong>.Para reestruturar sua imagem, obscurecendo qualquer traço <strong>de</strong> subalternida<strong>de</strong>, anarradora utilizou <strong>de</strong> uma estratégia <strong>de</strong> agência, dinamizando, assim, sua performance, até elevirou meu amigo, porque eu fiz as pecinhas e eu já comecei a criar em cima, porque (...), já queeu tinha facilida<strong>de</strong> (...) este foi o meu primeiro. O recurso da superação foi útil para dominar o<strong>de</strong>safio <strong>de</strong> reconstruir sua imagem. Quando a artesã comenta (...) eu já comecei a criar em cima(...) da poética do artista, ela utilizou um recurso similar ao que aquelas mulheres salmantinas <strong>de</strong>Espanha lançaram mão para reduzir as coisas artísticas às cotidianas. Dito <strong>de</strong> outra forma, suaagência subordinou arte e artista ao <strong>se</strong>u conjunto <strong>de</strong> experiências, à sua versão dos fatos.Outra estratégia foi a <strong>de</strong> vinculação. Nos últimos turnos do fragmento citado, osnarradores constroem um “espaço” on<strong>de</strong> a artesã vincula-<strong>se</strong> ao artista não como uma “aprendiz”,mas como amigo (a) – até ele virou meu amigo (...), com o mesmo status, ambos vinculados porlaços <strong>de</strong> fraternida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>, <strong>de</strong> amor. Todavia, isso é utilizado como mais uma forma<strong>de</strong> dominar a cena e os códigos não compartilhados ou como uma estratégia para subordiná-losà sua experiência e assim contar uma história que possibilite ver a narradora a partir <strong>de</strong> <strong>se</strong>u <strong>se</strong>lfherói.Os <strong>se</strong>ntidos <strong>de</strong> inversão e <strong>de</strong> localização, que expõem os verbos virar e ficar, utilizadospela narradora para <strong>de</strong>talhar a amiza<strong>de</strong> com o artista - Daí ele ficou meu amigo, né! - mostram aeficácia da subordinação realizada pelos narradores.A amiza<strong>de</strong> entre artesãos e artista é encerrada, assim, na relação <strong>de</strong> consumo(prestação e contra prestação material e simbólica) que este estabelece com aqueles. Paratornar tudo mais dramático, o tempo é <strong>de</strong>slocado para o pre<strong>se</strong>nte e a ação é expressa com vigor:agora eu faço e ele já compra <strong>de</strong> mim direto. Este esforço narrativo para <strong>de</strong>slocar os conflitos, e

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