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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008111O. Daí ele ficou meu amigo, né! Agora eu faço e ele já compra <strong>de</strong> mim direto. Porque daí ele fazexposição também, daí já leva, ven<strong>de</strong>, quando ele dá <strong>de</strong> pre<strong>se</strong>nte, porque tem algumaspessoas que ele gosta <strong>de</strong> oferecer pre<strong>se</strong>nte (...)P. Aí nesta trajetória ela con<strong>se</strong>guiu fazer exposição com ele também (...)O. É, já tive exposição também <strong>de</strong> outros tipos <strong>de</strong> presépios, criei outros tipos <strong>de</strong> presépios,também (...) ai, que pena que não <strong>de</strong>ixei pronto um <strong>de</strong> casquinha aqui (...) é que eu faço um<strong>de</strong> casquinha (...)Este fragmento traz duas questões relativas às motivações experimentadas pelanarradora naquele momento narrado e que explicitam certas experiências suspensas ouobscurecidas na história, aqui reconstruídas para, então, <strong>se</strong>rem compreendidas. Por um lado, D.Olinda enfatiza que um artista plástico ofereceu o curso, como um marcador <strong>de</strong> distinção, que acolocaria em outro lugar simbólico e prático em relação aos <strong>de</strong>mais artesãos, que tambéminiciaram suas práticas laborais através <strong>de</strong> cursos formais <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem. Por outro, marca os<strong>processo</strong>s para acessar a um status social que a distingue dos <strong>de</strong>mais, através da ênfa<strong>se</strong> noextraordinário da arte em face do ordinário do artesanato. Este <strong>processo</strong> possibilita a ela acessaroutros repertórios (domínios) <strong>se</strong>mânticos, assim como outros espaços simbólicos. A questãotalvez fos<strong>se</strong> perguntar a respeito da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta participação, ou simplemente a respeito <strong>de</strong>sua eficácia.Dona Olinda narra neste fragmento o encontro com o artista plástico a partir <strong>de</strong> umconvite para um curso. No entanto, a fórmula utilizada pela artesã (...) daí <strong>de</strong>pois eu fuiconvidada para fazer um curso <strong>de</strong> Lapinha, <strong>de</strong> presépio açoriano, expõe o início <strong>de</strong> um <strong>processo</strong>que vai culminar com a (re)localização i<strong>de</strong>ntitária <strong>de</strong>stes artesãos. O marcador textual (...) fuiconvidada para fazer (...) converte-<strong>se</strong> em um i<strong>de</strong>ntificador da experiência vivida utilizado parasombrear a realida<strong>de</strong> e, (re)formulado posteriormente como uma estratégia <strong>de</strong> (re)apre<strong>se</strong>ntaçãoda experiência. É provável que Dona Olinda tenha obscurecido o fato <strong>de</strong> ter pago pelo cursocomo uma forma <strong>de</strong> estabelecer uma narrativa menos conflituosa. Narrar explicitamente <strong>sobre</strong> opagamento exporia sua condição <strong>de</strong> outsi<strong>de</strong>r <strong>de</strong> um circuito simbólico <strong>de</strong> consumo cultural. Serconvidado (a) significa ter relação <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> com quem convida; significa, ainda, fazerparte <strong>de</strong> um grupo ou pelo menos ter acesso a ele, e foi este o <strong>se</strong>ntido que a narradorapreten<strong>de</strong>u enfatizar na construção <strong>de</strong>sta versão da história. Esta proximida<strong>de</strong> metafóricapossibilitou a ela dominar a cena narrada, <strong>de</strong>slocando o conflito e viabilizando sua vinculaçãocom a figura i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> artista hegemônico.

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