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Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes

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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008109maneira, então, vem e procura (...) daí começei a fazer exposição com o Fulano, né! Que é umartista plástico (...) 171 .A autoria reconhecida, e até certo ponto legitimada em um circuito simbólico - expressono trecho daí comecei a fazer exposição (...) -, modifica a percepção do trabalho artesanal e, porcon<strong>se</strong>guinte, sua forma <strong>de</strong> produção e <strong>se</strong>us objetos. Para Seu Petrolino e D. Olinda, amo<strong>de</strong>lagem (o trabalho), o ateliê (o espaço <strong>de</strong> re-produção do trabalho) e o sistema <strong>de</strong> objetosartesanais, adquirem <strong>se</strong>ntidos icônicos <strong>de</strong> realização pessoal, ou <strong>se</strong>ja, eles refuncionalizam suaforma <strong>de</strong> produção artesanal e <strong>se</strong>u sistema <strong>de</strong> objetos em um gesto artístico similar aohegemônico - como a dança, música, performance, escultura, <strong>de</strong>ntre outros. Estaintensionalida<strong>de</strong> é mediada pelo <strong>de</strong>sinteres<strong>se</strong> kantiano mobilizador <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> prazer<strong>de</strong>nomidado fruição (ou experiência) estética 172 . O trabalho, assim, não é só manutençãoeconômica da vida ou (re)produção da tradição, mas forma <strong>de</strong> dar conta esteticamente domundo.Ao dar esta significação à sua atuação, eles classificam <strong>se</strong>us atos e gestos comofigurativos e artísticos, ou <strong>se</strong>ja, como perspectivas a respeito da tradição que estão mediadaspelas formas pelas quais estes dois narradores materializam suas imaginações e não como umacontinuida<strong>de</strong>. Por fim, instituem <strong>se</strong>u fazer/ofício como uma interpretação pessoal e autoral domundo que os cerca. Esta reivindicação <strong>de</strong> autoria choca-<strong>se</strong> com o anonimato pretendido aosobjetos das culturas populares, chocando-<strong>se</strong> igualmente com as formas <strong>de</strong> interpretar estesobjetos na forma <strong>de</strong> “<strong>de</strong>pósitos” <strong>de</strong> uma es<strong>se</strong>ncialida<strong>de</strong> (romântica) do homem comum e dosgrupos populares.Este <strong>processo</strong> <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> simples a uma composta – <strong>de</strong> artesão (ã)ao (à) artesão (ã)-artista - é marcado pelo contato dos (as) artesãos (ãs) com outros agentes docampo artístico 173 . No caso, artistas plásticos, estes fornecem os códigos “novos” para a171 I<strong>de</strong>m. Turno 113. O nome do artista citado foi substituído pelo termo Fulano para pre<strong>se</strong>rvar sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>; esterecurso <strong>se</strong>rá utilizado para todos os nomes citados, em que não <strong>se</strong> obteve a autorização para sua utilização notexto.172 Como uma primeira aproximação da noção <strong>de</strong> fruição estética, apre<strong>se</strong>nto a <strong>de</strong> ORTIZ ANGULO, para quem esta<strong>se</strong> constitui como um conjunto <strong>de</strong> reações psico-fisiológicas geradas em um contato, ou interação <strong>se</strong>nsorial comobjetos que não necessariamente estão vinculados à reprodução física da vida individual ou coletiva. ORTIZANGULO, Ana (1990) op. cit. Esta noção <strong>de</strong> fruição estética, ou mesmo <strong>de</strong> estética, é questionada, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> asperspectivas que enten<strong>de</strong>m a estética não somente relacionada ao belo e à arte, ou como trata ORTIZ ANGULOaos objetos não necessariamente vinculados à reprodução social. Este legado do conceito kantiano <strong>de</strong> estética (em<strong>se</strong>u Crítica da Razão) como <strong>de</strong>leite <strong>de</strong>sinteressado no belo, é posto em xeque pelos estudos como a Estética doFeio <strong>de</strong> Karl Ro<strong>se</strong>nkrantz (1853), A Anatomia do Asco <strong>de</strong> Willian Ian Miller (1979), ou ainda <strong>sobre</strong> o <strong>de</strong>sgosto comocategoria filosófica ou <strong>sobre</strong> a estética do kitsh, citados por MANDOKI, Katya (2006) op. cit.

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