Narrativas sobre o processo de modernizar-se - capes
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Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008100O trabalho artesanal co-existe com o trabalho “formal”, onde a segurança de ingressosmensais é garantida (pelo menos por um dos membros da família). Estes (as) artesãos (ãs)possuem trajetória laboral diversificada anterior, e às vezes paralela ao exercício do artesanato(pintores-funcionários públicos; professores-artesãos; donas de casa-artesãs, costureirasartesãs,entre outros). As condições de produção (rotinas, tempos de produção, volumes emodelos) são definidas pelos (as) artesão (ãs); contudo, os ciclos de trabalho são flexíveis evariam de acordo com os horários de trabalho formal ou com o volume de produção a seralcançado (ou em função de uma grande encomenda, o que ocasiona a intensificação do tempode trabalho, ou para manter os estoques variáveis de acordo ao calendário do circuito decirculação e consumo). A divisão do trabalho é, muitas vezes, elementar, sendo realizada porsexo (as mulheres modelam e às vezes pintam as peças e os homens geralmente pintam,queimam e em alguns casos negociam e vendem a produção), sem ser uma regra rígida.As etapas do trabalho são racionalizadas em função de uma seqüência produtivaespecializada, que tem por objetivo a eficiência da produção e o melhor rendimento do volumeproduzido. Ou seja, sem muitas perdas de material e esforço, especialmente nas fases demodelagem (onde a questão materializa-se no tempo utilizado para a realização do diseño) equeima (onde os riscos de perda por explosão de peça no interior do forno pode comprometerparte ou toda a queima). A inovação ou a criação de novos modelos (diseño) é encarada, pormuitos produtores, como uma condição constituidora deste tipo de prática artesanal e como umexercício de criatividade e diferenciação pessoal/autoral (uma estratégia de aproximação aocampo da arte e suas rotinas legitimadoras). Somente os modelos já consagrados, através desua eficácia no circuito de circulação ao serem consumidos, são mantidos inalterados ou compequenas modificações plásticas ou produtivas, que não interferem na sua configuração geral(tamanho, cor, textura, acabamentos, narrativa ou quantidade de personagens).Os produtos têm por destino a venda no circuito de circulação e consumo (para ummercado popular, turístico ou cultural). A distinção não é definida pelo tipo de objeto produzido(cotidiano ou ritual), mas, sim, por sua qualidade plástica ou “artística”, ou por sua capacidade depotencializar experiências alternativas aos objetos industriais. Outra forma de distinguir osprodutos se dá em função dos espaços onde estão expostos (centro de artesanato estatal,galeria de arte, loja especializada, feiras, entre outros). A venda também pode ser feitadiretamente ao consumidor. Neste caso, o (a) artesão (ã) utiliza os tempos em que não estátrabalhando intensamente em uma encomenda ou não está em seu trabalho formal. Este
Ronaldo de Oliveira CorrêaTese de Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008101momento é quando e onde se efetiva a performance do (a) artesão (ã)-artista, e, é possibilitadoao consumidor a inter-atuação com o “ciclo de trabalho ordinário”. Os recursos obtidos com avenda da produção, nos diferentes espaços, não são utilizados exclusivamente para o início deum novo ciclo produtivo, mas, também, como um ingresso substantivo no orçamento familiar.Dessa forma, cabe explicitar a organização de uma unidade social de produçãoartesanal, ou seja, expor como se constitui e se mantém um ateliê ou oficina, a partir dasnarrativas de artesãos (ãs). Subjacente a estas narrativas e espaços de produção, tenho aconceituação de formas sociais de produção artesanais, elaborada neste item. Junto a isso,pretendo refletir e interpretar como os (as) narradores (as) vivenciam sua inserção em ummercado de consumo cultural, e suas interações com as instituições que constituem este circuito.Em resumo, pretendo explicitar a estrutura material da economia simbólica do artesanato, apartir das teorias e percepções dos seus participantes.
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Ronaldo <strong>de</strong> Oliveira CorrêaTe<strong>se</strong> <strong>de</strong> Doutorado PPGICH UFSC | outono 2008100O trabalho artesanal co-existe com o trabalho “formal”, on<strong>de</strong> a <strong>se</strong>gurança <strong>de</strong> ingressosmensais é garantida (pelo menos por um dos membros da família). Estes (as) artesãos (ãs)possuem trajetória laboral diversificada anterior, e às vezes paralela ao exercício do artesanato(pintores-funcionários públicos; professores-artesãos; donas <strong>de</strong> casa-artesãs, costureirasartesãs,entre outros). As condições <strong>de</strong> produção (rotinas, tempos <strong>de</strong> produção, volumes emo<strong>de</strong>los) são <strong>de</strong>finidas pelos (as) artesão (ãs); contudo, os ciclos <strong>de</strong> trabalho são flexíveis evariam <strong>de</strong> acordo com os horários <strong>de</strong> trabalho formal ou com o volume <strong>de</strong> produção a <strong>se</strong>ralcançado (ou em função <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> encomenda, o que ocasiona a intensificação do tempo<strong>de</strong> trabalho, ou para manter os estoques variáveis <strong>de</strong> acordo ao calendário do circuito <strong>de</strong>circulação e consumo). A divisão do trabalho é, muitas vezes, elementar, <strong>se</strong>ndo realizada por<strong>se</strong>xo (as mulheres mo<strong>de</strong>lam e às vezes pintam as peças e os homens geralmente pintam,queimam e em alguns casos negociam e ven<strong>de</strong>m a produção), <strong>se</strong>m <strong>se</strong>r uma regra rígida.As etapas do trabalho são racionalizadas em função <strong>de</strong> uma <strong>se</strong>qüência produtivaespecializada, que tem por objetivo a eficiência da produção e o melhor rendimento do volumeproduzido. Ou <strong>se</strong>ja, <strong>se</strong>m muitas perdas <strong>de</strong> material e esforço, especialmente nas fa<strong>se</strong>s <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>lagem (on<strong>de</strong> a questão materializa-<strong>se</strong> no tempo utilizado para a realização do di<strong>se</strong>ño) equeima (on<strong>de</strong> os riscos <strong>de</strong> perda por explosão <strong>de</strong> peça no interior do forno po<strong>de</strong> comprometerparte ou toda a queima). A inovação ou a criação <strong>de</strong> novos mo<strong>de</strong>los (di<strong>se</strong>ño) é encarada, pormuitos produtores, como uma condição constituidora <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> prática artesanal e como umexercício <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> e diferenciação pessoal/autoral (uma estratégia <strong>de</strong> aproximação aocampo da arte e suas rotinas legitimadoras). Somente os mo<strong>de</strong>los já consagrados, através <strong>de</strong>sua eficácia no circuito <strong>de</strong> circulação ao <strong>se</strong>rem consumidos, são mantidos inalterados ou compequenas modificações plásticas ou produtivas, que não interferem na sua configuração geral(tamanho, cor, textura, acabamentos, narrativa ou quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> personagens).Os produtos têm por <strong>de</strong>stino a venda no circuito <strong>de</strong> circulação e consumo (para ummercado popular, turístico ou cultural). A distinção não é <strong>de</strong>finida pelo tipo <strong>de</strong> objeto produzido(cotidiano ou ritual), mas, sim, por sua qualida<strong>de</strong> plástica ou “artística”, ou por sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>potencializar experiências alternativas aos objetos industriais. Outra forma <strong>de</strong> distinguir osprodutos <strong>se</strong> dá em função dos espaços on<strong>de</strong> estão expostos (centro <strong>de</strong> artesanato estatal,galeria <strong>de</strong> arte, loja especializada, feiras, entre outros). A venda também po<strong>de</strong> <strong>se</strong>r feitadiretamente ao consumidor. Neste caso, o (a) artesão (ã) utiliza os tempos em que não estátrabalhando intensamente em uma encomenda ou não está em <strong>se</strong>u trabalho formal. Este