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EDIÇÃO 25 - Setembro/12 - RBCIAMB

A Revista Brasileira de Ciências Ambientais – RBCIAMB - publica artigos completos de trabalhos científicos originais ou trabalhos de revisão com relevância para a área de Ciências Ambientais. A RBCIAMB prioriza artigos com perspectiva interdisciplinar. O foco central da revista é a discussão de problemáticas que se inscrevam na relação sociedade e natureza em sentido amplo, envolvendo aspectos ambientais em processos de desenvolvimento, tecnologias e conservação. A submissão dos trabalhos é de fluxo contínuo.

A Revista Brasileira de Ciências Ambientais – RBCIAMB - publica artigos completos de trabalhos científicos originais ou trabalhos de revisão com relevância para a área de Ciências Ambientais. A RBCIAMB prioriza artigos com perspectiva interdisciplinar. O foco central da revista é a discussão de problemáticas que se inscrevam na relação sociedade e natureza em sentido amplo, envolvendo aspectos ambientais em processos de desenvolvimento, tecnologias e conservação. A submissão dos trabalhos é de fluxo contínuo.

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<strong>EDIÇÃO</strong> <strong>25</strong><strong>Setembro</strong>/<strong>12</strong>


RevistaBrasileiraCiências Ambientaiswww.ictr.org.br www.cepema.usp.br www.fsp.usp.br/siadesISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478<strong>Setembro</strong> de 20<strong>12</strong> Nº <strong>25</strong>ExpedienteEditores• Jorge Alberto Soares Tenório (USP)jtenorio@usp.br• Denise Crocce Romano Espinosa (USP)espinosa@usp.br• Valdir Fernandes (UP)vfernandes@up.edu.brSecretaria Editorial• Soraia FernandesComissão Editorial• Andrea Moura Bernardes (UFRGS)• Andrea Vidal Ferreira (CDTN)• Arlindo Philippi Jr. (USP)• Carlos Alberto Cioce Sampaio (UFPR)• Celina Lopes Duarte (IPEN)• Cláudio Augusto Oller do Nascimento (USP)• José Roberto de Oliveira (IFES)• Maria do Carmo Sobral (UFPE)• Sérgio Martins (UFSC)• Tadeu Fabrício Malheiros (USP)Submissão de artigos, dúvidas e sugestões:rbciamb@gmail.comInstruções para autoreshttp://www.rbciamb.com.br/instrucoes.asp


RevistaBrasileiraCiências Ambientaiswww.ictr.org.br www.cepema.usp.br www.fsp.usp.br/siadesISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico 2176-9478<strong>Setembro</strong> de 20<strong>12</strong> Nº <strong>25</strong>Índice01Aplicação do Indicador de Salubridade Ambiental(ISA) para áreas urbanasMorgana Levati ValvassoriNadja Zim Alexandre20Mensuração da Disposição a Pagar paraRecuperar o Córrego dos Índios: uma aplicação doMétodo de Valoração ContingenteDarlen Rodrigues dos SantosVasconcelos Reis WakimElizete Aparecida de MagalhãesSimão Pereira da SilvaSorele Carpanez Veiga48Adsorção de íons Cu (II), Mn (II), Zn (II) e Fe (III),utilizando rejeito de mineração de carvão comoadsorventeReginaldo GeremiasRogério LausValfredo Tadeu de FávereRozangela Curi Pedrosa60Estudo da composição de um lote de sucata depilhas e baterias e da composição química depilhas falsasRodrigo de Souza Dalti PereiraDenise Crocce Romano Espinosa37Análise temporal da cobertura do solo na zona deamortecimento de reserva biológicaFelipe Hashimoto FenglerAlexandre Marcos SilvaAfonso Peche FilhoMoisés StorinoAdmilson Irio RibeiroGerson Araujo de Medeiros69Uso do sensoriamento remoto na estimativa dosefeitos de ilhas de calorRafael Coll DelgadoRafael de Ávila RodriguesAndré Luiz Lopes de FariaClênia de Souza PessôaMayara Daher81Proposta de ferramenta de diagnósticosocioambiental empresarialAndré Almeida GonçalvesMaurício Dziedzic


Aplicação do Indicador de Salubridade Ambiental (ISA) paraáreas urbanasApplication of environmental health indicator (ISA) for urban areasRESUMOSaneamento Ambiental é o conjunto de ações que objetivam a melhoria dasalubridade ambiental que abrange os serviços de abastecimento de água,coleta e tratamento de esgotos sanitários, coleta e tratamento de resíduossólidos urbanos, controle de vetores transmissores de doenças e drenagemurbana. O saneamento é um grande problema para as cidades brasileiras,que historicamente cresceram sem planejamento e infraestruturaadequados. O objetivo principal deste trabalho é analisar o estado desalubridade ambiental das áreas urbanas do município de Criciúma, SC,através do ISA – Indicador de Salubridade Ambiental, que é composto porum sistema de indicadores que avaliam a qualidade dos serviços públicos naárea do saneamento. Para tanto, a área de estudo foi dividida em cincomicrobacias que compreendem 167 setores censitários. Foram utilizadosdados primários e secundários. Os resultados apontaram deficiências emrelação à drenagem urbana, com áreas de alagamento e inundação emtodas as microbacias, baixo índice de coleta e tratamento de esgotossanitários e ocorrência de dengue e leptospirose. O ISA busca representaratravés de números uma realidade complexa dos bairros do municípioestudado, servindo como instrumento para diagnóstico de problemasreferentes ao saneamento ambiental e para planejamento de futurosinvestimentos.PALAVRAS-CHAVE: Saneamento. Salubridade. Indicadores.Morgana Levati ValvassoriEngenheira Ambiental, Mestrandaem Ciências Ambientais (UNESC)Pesquisadora do Instituto dePesquisas Ambientais eTecnológicas da Universidade doExtremo Sul Catarinense -IPAT/UNESC, Criciúma, SC, Brasilmorganalevati@unesc.net.Nadja Zim AlexandreQuímica, Mestre em Geografia(UFSC), Professora dos cursos deEngª Ambiental, Engª de Materiais,Ciências Biológicas da Universidadedo Extremo Sul Catarinense -UNESC e Pesquisadora doIPAT/UNESC, Criciúma, SC, Brasilnza@unesc.netABSTRACTSanitation is the set of actions that aim to improve the environmental healthservices covering water supply, collection and treatment of sewagecollection and treatment of municipal solid waste, control of diseasetransmittingvectors and urban drainage. Sanitation is a big problem for theBrazilian cities, which historically have grown up without proper planningand infrastructure. The main objective of this study is to analyze the state ofenvironmental health in urban areas of the county Criciúma, SC, through ISA- Indicator of Environmental Health, which consists of a system of indicatorsthat assess the quality of public services in the area of sanitation. Therefore,the study area was divided into five watersheds comprising 167 censustracts. Primary and secondary data were used. The results showeddeficiencies in relation to urban drainage, with areas of flooding andinundation in all watersheds, low rate of collection and treatment of sewageand occurrence of dengue and leptospirosis. The ISA seeks to representnumbers through a complex reality of city districts studied, serving as a toolfor diagnosing problems related to environmental sanitation and planningfor future investments.KEYWORDS: Sanitation. Salubrity. Indicators.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – <strong>Setembro</strong> de 20<strong>12</strong> 1 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


INTRODUÇÃONas últimas décadas o Brasilapresentou um crescimentosignificativo da população urbana.Este processo de urbanizaçãoacelerado tornou inadequada ainfraestrutura das cidades, sendo osefeitos sentidos no abastecimentode água, transporte e tratamento deesgoto doméstico, drenagem urbanae controle de cheias (TUCCI, 1999).Em 2000, 81% dosbrasileiros viviam em áreas urbanas.Em 2010 este índice aumentou para84%. Diante desta realidade, é certoque se faz presente uma complexatransformação de ordem social eambiental (SOSTIZZO, 2000; IBGE,2010;).A evolução das cidadesocorre através das modificaçõesqualitativas e quantitativas nasatividades urbanas, transformando ainfraestrutura dos espaçosnecessários a estas atividades(ZMITROWICZ, 1997). Dentre osserviços urbanos, de acordo comGarcias (1992) o saneamento sedestaca por estar presente desde oinício da humanidade, em todas asrelações do homem com oambiente, se desenvolvendo deacordo com a evolução dascivilizações.O saneamento estápresente em todas as relações dohomem com o ambiente,desenvolvendo-se em consonânciacom a evolução tecnológica ecultural da sociedade. Moraes et al.(2001) entendem o saneamentoambiental como o conjunto de açõesque objetivem a melhoria dasalubridade ambiental abrangendoos serviços de abastecimento deágua com qualidade e quantidade; acoleta, tratamento e disposição finalde resíduos; a drenagem das águaspluviais; a promoção da disciplinasanitária do uso e ocupação do soloe o controle de vetorestransmissores de doenças, a fim depromover a saúde, o bem estar e acidadania da população.A salubridade ambientalpode ser entendida como aqualidade ambiental capaz deprevenir doenças que são veiculadaspelo meio ambiente e deaperfeiçoar as condições favoráveisà saúde da população urbana e rural(SÃO PAULO, 1999).O ISA – Indicador deSalubridade Ambiental foidesenvolvido pela Câmara Técnicade Planejamento do ConselhoEstadual de Saneamento do Estadode São Paulo – CONESAN, com oobjetivo principal de avaliar asituação de salubridade ambientaldas regiões do Estado, mensurandoas condições de saneamento etambém levantando as suas causas.É composto por indicadores esubindicadores obtidos a partir dedados e informações já disponíveis.Seu cálculo permite aferir quantouma área oferece boas condições devida, no âmbito do saneamentoambiental (SÃO PAULO, 1999;ALMEIDA, ABIKO, 2000; SILVA,2006).Aroeira (2009) relata que aformulação do ISA foi escolhida paracompor o Plano de Saneamento deBelo Horizonte, o qual foi construídoa partir do somatório ponderado deíndices setoriais do saneamentoambiental – abastecimento de água,esgotamento sanitário, limpezaurbana, drenagem urbana e controlede vetores. Outros autoresadaptaram a metodologia, conformeárea de interesse específica, comoexemplo: ISA/OE (aplicado em áreasde ocupação espontânea emSalvador/BA), ISA/JP (para bairroscosteiros de João Pessoa/PB), ISA/F(aplicado a favelas em áreas deproteção ambiental) e ISA/PAR(aplicado para análises deempreendimentos do PAR emAracaju/SE (DIAS et al., 2004;BATISTA, SILVA, 2006; SILVA, 2006;ALMEIDA, ABIKO, 2000; BUCKLEY,FILHO, 20<strong>12</strong>).IPAT/UNESC (2011; 20<strong>12</strong>)adaptaram o mesmo indicador paraáreas urbanas e rurais dosmunicípios de Forquilhinha,Siderópolis, Morro da Fumaça eLauro Müller, em Santa Catarina.A Lei Federal Nº 11.445 queestabelece a Política Pública deSaneamento Básico atribui aosmunicípios a elaboração dos Planosde Saneamento Básico. Cumprindoas determinações da Lei Federal, omunicípio de Criciúma instituiu a LeiComplementar Nº 052/2007 quedispõe sobre a Política Municipal deSaneamento Básico. No capítulo IVdo Artigo 20 desta Lei consta que oPlano Municipal de Saneamentodeve ter por escopo diagnósticoscom indicadores, apontando ascausas das deficiências detectadas.Dentre os objetivos de umPlano de Saneamento consta anecessidade de estabelecerinstrumentos de avaliação emonitoramento das ações emsaneamento (IPAT/UNESC, 20<strong>12</strong>).Desta forma, a aplicação doIndicador de Salubridade Ambiental(ISA) para as áreas urbanas domunicípio de Criciúma, objeto destetrabalho, foi realizada buscandoestabelecer indicadores daqualidade dos serviços prestadosnos setores de abastecimento deágua, coleta e tratamento deesgotos domésticos, manejo deresíduos sólidos urbanos e limpezaurbana, controle de vetores, manejode águas pluviais e drenagemurbana a partir de dados primários esecundários servindo comoferramenta de planejamento dosinvestimentos nos setores desaneamento.De acordo com Batista,Silva (2006) a construção atual desistemas de indicadores relativos àsalubridade ambiental têmpermitido novos conhecimentoscom o intuito de prover informaçõesobjetivando melhorar a qualidadede vida urbana.Os resultados desalubridade ambiental sãoapresentados por setores censitáriosque compreendem os bairros daárea urbana do município,agrupados por microbacias.METODOLOGIARevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 2 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 1 – Localização do município de Criciúma e delimitação das microbacias para o estudoO município de Criciúmaestá localizado no sul de SantaCatarina. Possui 236 km 2 de área euma população de 191.473habitantes. Existem cerca de 90bairros e localidades no município,porém apenas 57 destes foramcriados oficialmente pelo poderpúblico municipal.Para análise dos resultadoso município foi dividido em cincomicrobacias: 1) rio Criciúma; 2) rioLinha Anta (agrupando também rioRonco d’Água); 3) rio Sangão(agrupando também rio Maina eMedeiros); 4) rio Cedro; 5) baixo rioSangão e Quarta Linha (agrupandotambém rio Eldorado), nas quais os167 setores censitáriosestabelecidos conforme dados doIBGE de 2000 foram alocados deacordo com a localizaçãodeterminada em mapa através detécnicas de geoprocessamento. Adivisão das bacias bem como os seuslimites foram definidos porIPAT/UNESC (2010) considerando acompatibilização dos limites dasbacias hidrográficas dos riosAraranguá e Urussanga com oslimites políticos do município,agrupando algumas microbacias deacordo com característicasambientais e socioeconômicas.Os resultados desalubridade ambiental sãoapresentados por setores censitáriosque compreendem os bairros daárea urbana do município,agrupados por microbacias. Osdados sobre os setores censitáriosforam obtidos no IBGE e referem-seao Censo de 2000, abrangendoapenas as áreas consideradasurbanas do município. Este fato nãoprejudica o estudo considerandoque o ISA é recomendado paraaplicação em áreas urbanas.Esta pesquisa foi realizadano período de janeiro a julho de2009, adotando a metodologiaproposta pelo ISA/CONESAN eISA/JP (SILVA, 2006) sugerindoalgumas adaptações para omunicípio de estudo. A partir destametodologia proposta foi criado oISA/CR, o índice adaptado para omunicípio de Criciúma, que é obtidoatravés da seguinte fórmula:ISA/CR = 0,<strong>25</strong> Iab + 0,<strong>25</strong> Ies + 0,20 Irs+ 0,20 Idu + 0,1 Icv(Equação 1)Onde:Iab – Indicador de Abastecimento deÁgua, Ies – Indicador deEsgotamento Sanitário, Irs –Indicador de Resíduos Sólidos, Idu –Indicador de Drenagem Urbana, Icv– Indicador de Controle de Vetores.Seguindo as metodologiasconsultadas e em função dasdiscussões técnicas acerca daimportância de cada indicador,foram atribuídos pesos de <strong>25</strong>% parao indicador de abastecimento deágua, <strong>25</strong>% para o indicador deesgotos sanitários (consideradosmais importantes), 20% para oindicador de resíduos sólidos, 20%para o indicador de drenagem e 10%Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 3 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 1A - Indicadores de 2ª e 3ª ordem, formulação e objetivos que compõem o Iab e o Ies.Indicador de 3ªordem e FórmulaComposição daFórmulaPontuaçãoObjetivos/FinalidadeIca – Indicador decobertura deabastecimentoIca= (Dua/Dut) x100Dua= domicíliosatendidosDut= domicíliosurbanos totaisPontuação obtidadiretamente pelafórmula (%)Visa quantificar osdomicílios atendidospor sistemas deabastecimento de águacom controle sanitárioIab – IndicadordeAbastecimentode ÁguaFórmula:Iab=(Ica+Iqa+Isa)/3Iqa – Indicador deQualidade da águadistribuídaIqa= k x(NAA/NAR) x 100K= nº amostrasrealizadas/nº mínimode amostras exigidaspela Portarianº518/04 GM – MS.NAA= quant. deamostrasconsideradas comosendo de águapotável relativa acolimetria, cloro eturbidez (mensais)NAR= quant. deamostras realizadas(mensais)Iqa= 100% Pont.10095 < Iqa < 99%Pont. 8085 < Iqa < 94%Pont. 6070 < Iqa < 84%Pont. 4050 < Iqa < 69%Pont. 20Iqa < 49% Pont. 0Visa monitorar aqualidade da águafornecidaIsa – Indicador deSaturação doSistema ProdutorIsa – n=log{CP/[VP.(K2/K1)]}Log (1 + t)n= nº de anos parasaturação sistemaVP= volume deprodução paraatender 100% da pop.(L.s -1 ); CP=capacidade deprodução(L.s -1 ); t=taxa anual média decrescimento(próximos 5 anos);k1/k2= coeficientesde perdas (%)Sistema Integradon > = 5 anos Pont.1000 < n < 5 Pont.Interpolarn < = 0 Pont. 0Compara a oferta e ademanda paraprogramar novossistemas ou ações queminimizem as perdasIes – Indicadorde EsgotoSanitárioFórmula:Ies= (Ice+Ite)/2Ice – Indicador deCobertura em coletaem esgotoIce= (Due/Dut) x100Ite – Indicador deEsgotos TratadosIte= ice x (VT/VC)x 100Due= domicíliosurbanos atendidos porcoleta; Dut=domicílios urbanostotaisIce= índice deesgotos coletados(%); VC= volumecoletado (n°domicílios atendidos*4hab/dom.*vazãodiária 160 L/hab);VT= volume tratadode esgoto (=VC)Ice > 90% Pont.10075 < Ice < 89%InterpolarIce < 75% Pont. 0Ite > 81% Pont.10045 =


Irs – Indicadorde ResíduosSólidosFórmula:Irs= (Icr+Isr)/2Icv – Indicadorde Controle deVetoresTabela 1B - Indicadores de 2ª e 3ª ordem, formulação e objetivos que compõem o Irs, Icv e Idu.Icr >= 99% Pont.Icr – Indicador de Duc= domicílios com100Coleta de Resíduos coleta de resíduos;95 < Icr < 99%Icr= (Duc/Dut) x Dut= domicílios totaisInterpolar100urbanosIcr < 95% Pont. 0Isr – Indicador deSaturação dotratamento edisposição final dosresíduos sólidosIsr n= log{[CA xt/VL)+1Log (1 + t)Ivd – Indicador dedengueIdentificado pelo nºde casosIve – Indicador deEsquistossomoseIdentificado pelo nºde casosCA= capacidade restantedo aterro (toneladas); VL=Volume coletado deresíduos (média anualtonelada); t= taxa decrescimento médio anual(%)Setor sem infestação nosúltimos anos;Setor com casos de denguenos últimos 5 anosSetor s/ caso nos últimos 5anos;Setor com incidência anualinc >=1;Setor com incidência >=5n >= 5 Pont. 1005 > n> 0Interpolarn < 0Pont. 100Pont. 0Pont. 100Pont. 50Pont. <strong>25</strong>Pont. 0Quantificar osdomicíliosatendidos por coletade resíduosIndicar anecessidade denovas instalaçõesIdentificar anecessidade deprogramaspreventivosIdentificar anecessidade deprogramaspreventivos deredução eeliminação devetorestransmissores e/ouhospedeiros dadoençaFórmula:Icv=[((Ivd+Ive)/2) +Ivl]/2Ivl – Indicador deLeptospiroseIdentificado pelo nºde casosSetor sem enchentes e semcasos nos últimos 5 anos;Setor com enchentes e semcasos nos últimos 5 anos;Setor sem enchentes e comcasos nos últimos 5 anos;Setor com enchentes e comcasos nos últimos 5 anosPont. 100Pont. 50Pont. <strong>25</strong>Pont. 0Identificar anecessidade deprogramaspreventivos deredução eeliminação deresíduos e ratosIdu – Indicadorde DrenagemUrbanaFórmula:Idu= p1*Iai +p2*Irp+ p3*IavIai= Indicador dealagamento ouinundaçãoIai= p1 * critérioIrp= Indicador derua pavimentadaIrp= p2 * critérioIav= Indicador deárea verdeIav= p3 * critérioP1 = 0,60Critério:Comalagamento/inundação=0Semalagamento/inundação=1P2 = 0,20Critério:Com pavimentação=1Parcialmentepavimentado=0,5Sem pavimentação=0P3 = 0,20Critério:Com área verde= 1Sem área verde= 0Iai= 0,00Iai= 0,60Irp= 0,00Irp= 0,10Irp= 0,20Iav= 0,00Iav= 0,20Identificar as viascom ou semocorrência deinundação oualagamento.Indicar vias com,parcialmente ousem pavimentação.Indicar os locaiscom ou sem áreaverde.possuem formulações e objetivosRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 5 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


O Ite foi obtidomultiplicando o Ice pelo produto dadivisão do volume de esgoto tratadoe o volume de esgoto coletado. Oresultado desta operação émultiplicado por cem,transformando em porcentagem.Para cálculo do volume tratado foiconsiderada a média de 4 habitantespor domicílio e o volume de 160L/habitante de geração de efluentes,conforme Norma da ABNT –Associação Brasileira de NormasTécnicas NBR 7229/2003 - Padrãoalto. Salienta-se que para cálculo dovolume de esgoto coletado e tratadoconsidera-se em operação todas asEstações de Tratamento de EsgotoComunitárias do município.Indicador de Resíduos Sólidos – IrsO Icr é o resultado dadivisão do número de domicílioscom coleta de resíduos pelo númerototal de domicílios. Os dados sobre acobertura de atendimento foramobtidos no Mapa de Roteiros eFrequência de Coleta de ResíduosSólidos Urbanos, elaborado noDiagnóstico do Sistema de LimpezaUrbana e Manejo de ResíduosSólidos realizado por IPAT/UNESC(2010). Para calcular o Isr foiconsiderada a capacidade emtoneladas do aterro sanitáriocontratado pelo município, bemcomo a média anual do volumecoletado de resíduos sólidosurbanos e a taxa de crescimentoanual para o município, apontadaspor IPAT/UNESC (2010). Os dadosreferentes a este indicador seaplicam a todo o município.Cabe salientar que ametodologia do Irs não considerademais fatores como frequência decoleta nos bairros e coleta seletiva, eque além dos resíduos sólidosurbanos também são geradosresíduos de construção civil edemolição, de varrição e limpezapública, comerciais, industriais eresíduos dos serviços de saúde.Indicador de Controle de Vetores –IcvPara obtenção do Ivdpontua-se 100 quando o setorcensitário não apresentouinfestação nos últimos anos e 0 sehouveram casos nos últimos 5 anos.O Ive possui 4 classes de pontuação,variando de 0 a 100, conformemetodologia apresentada na Tabela1. Da mesma forma, o Ivl apresenta4 classes de pontuação, variandoconforme informações sobre onúmero de casos e ausência oupresença de histórico deinundações.Considerando que aunidade de estudo é o setorcensitário e o número de casosforam apresentados por bairro eexistem, em alguns casos, mais deum setor por bairro, foi escolhido,para inserção do dado deleptospirose, o setor que apresentouinundação conforme planilha doindicador de drenagem. Já a escolhado setor para inserção do dadoreferente à dengue quando existiamum bairro com mais de um setorcensitário foi aleatória, porémrepresentativa.Os dados utilizados foramdisponibilizados pela VigilânciaEpidemiológica – SecretariaMunicipal de Saúde e referem-seaos casos confirmados nos bairrosdo município no período de 2004 a2008 para leptospirose e de 2004 afevereiro de 2009 para dengue.Indicador de Drenagem Urbana –IduO Idr – Indicador deDrenagem de 2ª ordem é obtidoatravés da soma dos produtos dosindicadores de 3ª ordem: Iai -indicador de alagamento ouinundação; Irp – indicador de ruapavimentada e Ius – indicador deuso do solo.Os valores dos indicadoresforam obtidos pelo IPAT/UNESCatravés de técnicas degeoprocessamento, ou seja, pelasobreposição e análises sistemáticasde cada setor censitário com osseguintes mapas temáticos: Mapados Setores Censitários (IBGE, 2004)x Mapa de Áreas Inundáveis x Mapade Microdrenagem Implantada xMapa de Uso do Solo, elaboradospor (IPAT/UNESC, 2010). Através doscruzamentos destes dados espaciaise com informações obtidas doDiagnóstico do Sistema de Manejodas Águas Pluviais e DrenagemUrbana pode-se verificar a situaçãode cada setor censitário referente aoindicador de drenagem urbana.O Iai compõe 60% do Idr. Seo setor censitário apresentaalagamento ou inundação recebepontuação 0. Caso contrário recebepontuação 1. Os resultados indicama necessidade de intervenções,baseadas nos dados apresentadosno Diagnóstico do Sistema deManejo de Águas Pluviais eDrenagem Urbana.O Irp representa 20% dacomposição do Idr. Para pontuaçãoé verificada a existência depavimentação em todas as vias dosetor censitário (1 ponto), parte dasvias pavimentada e outra parte nãopavimentada (0,5 pontos) e vias sempavimentação (0 pontos). Salientaseque pavimentação é um termoaplicado neste estudo apenas para ouso de asfalto ou lajota. De acordocom o indicador, a existência depavimentação indica a ocorrência desistema de drenagem, mesmo quena prática, em alguns casos, isto nãoocorra.O peso de 20% também éatribuído ao Iav. Para determinaçãodeste indicador foi estabelecida umapontuação de acordo com aexistência ou inexistência de áreasverdes (vegetação arbustivoarbórea)no setor censitário (1 e 0ponto, respectivamente).A presença de vegetação éimportante, pois esta interceptaparte da precipitação acima dasuperfície do solo. O volume retido éperdido por evaporação, retornandoà atmosfera. Este processo interfereno balanço hídrico da baciahidrográfica, funcionando como umreservatório, retardando ereduzindo o pico das cheias. Aquantificação do impacto damodificação da cobertura vegetalRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 7 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 3 - Classificação de desempenho para o Indicador de Drenagem UrbanaIntervalo de ValoresIdu ≥ 0,98ClassificaçãoExcelente0,98 > Idu ≥ 0,85 Muito Boa0,85 > Idu ≥ 0,60 Boa0,60 > Idu ≥ 0,40 Regular0,40 > Idu ≥ 0,0 Ruim/Muito RuimFonte: Batista (2005 apud Silva, 2006).Figura 2 – Detalhe da localização da microbacia do rio Criciúma.sobre o escoamento é consideradauma questão importante pararegiões em desenvolvimento comocupação do espaço rural e urbano(TUCCI, 1997).A determinação foi baseadana visualização de ortofotos e comauxílio do aplicativo Google Earth eserve apenas como indicativo, semconfirmação científica acerca dosfenômenos de interceptação einfiltração do solo.A interpretação dosresultados do indicador dedrenagem urbana segue ametodologia apresentada por Silva(2006), conforme mostra a Tabela 3.APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOSRESULTADOSPara cada um dos 167 setorescensitários foram obtidaspontuações dos indicadores setoriaisque compõem o ISA. Desta forma,apresenta-se a média de pontuaçãoe a classificação do nível desalubridade em cada microbacia.Microbacia rio CriciúmaA microbacia rio Criciúmasitua-se na bacia hidrográfica do rioAraranguá e possui uma área decontribuição de aproximadamente18,45 Km² (Figura 2). O principalcurso d’água é o rio Criciúma com6.937,36 metros de comprimento e117 afluentes (IPAT/UNESC, 2010).Apresenta 18,45 km 2 , 22 bairros e 67setores censitários. Caracteriza-sepor ser a mais densamente povoadae consequentemente a maisproblemática principalmente emrelação à drenagem, decorrente daimpermeabilização do solo, que porsua vez acentua o escoamentosuperficial. O rio Criciúma atravessaa porção central da cidade comlongos trechos em que se encontracanalizado ou desviado de seu leitooriginal e contaminado por esgotosdomésticos e efluentes industriais.a) Iab – a média do indicador foi0,99 representando a condiçãosatisfatória da cobertura deabastecimento (98,2%) e qualidadeda água distribuída, atendendo àPortaria MS 518/2004, em vigênciana época do estudo.b) Ies – na microbacia não havia, naépoca de elaboração do estudo,coleta e tratamento público doesgoto sanitário, por isso o indicadorrecebeu pontuação zero, baixando amédia do ISA;Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 8 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


1,00,90,80,70,60,50,40,30,20,10,0AbastecimentoÁguaEsgotamentoSanitárioMicrobacia rio CriciúmaResíduosSólidosDrenagemUrbanaControle deVetorespior resultado melhor resultado médiaFigura 3 - Resultados dos indicadores de 2ª ordem para a microbacia rio Criciúma.Figura 4 – Detalhe da localização da microbacia do rio Cedro.c) Irs – a pontuação foi 1 indicandoque a coleta é abrangente e o aterrosanitário atende à demanda dospróximos 20 anos.d) Icv – a média de pontuação foi0,87. Foram registrados 2 casos dedengue no período de 2005 a 2009 e4 casos de leptospirose de 2005 a2009.e) Idu - a média final foi 0,55representando que a drenagem éregular. Este valor é o maior emcomparação com as demaismicrobacias, mesmo com setorescríticos com alagamentos. Nestamicrobacia se concentram osmaiores problemas em relação àdrenagem, devido à alta densidadepopulacional, falta de planejamentoe obras de micro e macrodrenagemsubdimensionadas.A Figura 3 apresenta o pior,melhor e a média dos resultados dosindicadores setoriais. A média dosresultados do ISA foi 0,645representando média salubridade.Microbacia rio CedroApresenta 31,51 km 2 , 9bairros e 9 setores censitários. Oprincipal curso d’água é o rio Cedro,com 9.066,389 metros decomprimento, no qual sãoidentificados 235 afluentes (Figura4).a) Iab – a média do indicador foi0,98 representando a condiçãosatisfatória da cobertura deabastecimento (96,8%) e qualidadeda água distribuída.b) Ies – a média foi 0,14, existindona microbacia uma Estação detratamento comunitária queoperava de forma precária e combaixa abrangência.c) Irs – a pontuação foi 1 indicandoque a coleta é abrangente e o aterrosanitário atende a demanda dospróximos 20 anos.d) Icv – Foi registrado 1 caso dedengue em 2006, nenhum caso deesquistossomose e leptospirose. Amédia de pontuação foi 0,72.Mesmo sem casos de duas doençasa pontuação foi baixa, pois há riscosde contaminação em áreas quesofrem alagamentos.e) Idu - a média final foi 0,22, menorRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 9 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


1,00,90,80,70,60,50,40,30,20,10,0AbastecimentoÁguaEsgotamentoSanitárioMicrobacia rio CedroResíduosSólidosDrenagemUrbanaControle deVetorespior resultado melhor resultado médiaFigura 5 - Resultados dos indicadores de 2ª ordem para a microbacia rio Cedro.Figura 6 – Detalhe da localização da microbacia do rio Linha Anta.1,00,90,80,70,60,50,40,30,20,10,0AbastecimentoÁguaEsgotamentoSanitárioMicrobacia rio Linha AntaResíduosSólidosDrenagemUrbanaControle deVetorespior resultado melhor resultado médiaFigura 7 - Resultados dos indicadores de 2ª ordem para a microbacia rio Linha Anta.microbacias, representando que aRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 10 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 8 – Detalhe da localização da microbacia do baixo rio Sangão e Quarta Linha.1,00,90,80,70,60,50,40,30,20,10,0AbastecimentoÁguaMicrobacia baixo rio Sangão e Quarta LinhaEsgotamentoSanitárioResíduosSólidosDrenagemUrbanaControle deVetorespior resultado melhor resultado médiaFigura 9 - Resultados dos indicadores de 2ª ordem para a microbacia baixo rio Sangão e Quarta Linha.valor comparado às demaismicrobacias, representando que adrenagem é Ruim/Muito Ruim. Esteresultado se deve à incidência deinundações em todos os setores damicrobacia e ausência de drenagemadequada. A Figura 5 apresenta opior, melhor e a média dosresultados dos indicadores setoriais.A média dos resultados do ISA foi0,614 representando médiasalubridade.Microbacia rio Linha AntaA microbacia rio Linha Antaapresenta 48,08 km 2 , 11 bairros e 24setores censitários, localiza-se nazona leste do município e pertence àBacia Hidrográfica do Rio Urussanga(Figura 6).a) Iab – a média do indicador foi0,97 representando a condiçãosatisfatória da qualidade da águadistribuída. O índice de cobertura deabastecimento foi de 90,6%,indicando necessidade de ampliaçãode oferta da rede de água tratada.b) Ies – a média foi 0,02, existindona microbacia duas Estações detratamento comunitárias queoperavam de forma precária e combaixa abrangência.c) Irs – a pontuação foi 1 indicandoque a coleta é abrangente e o aterrosanitário atende a demanda dospróximos 20 anos.d) Icv – Foi registrado 1 caso deleptospirose em 2007, nenhum casode esquistossomose e dengue. Amédia de pontuação foi 0,82.e) Idu - a média final foi 0,40representando que a drenagem éRuim/Muito Ruim. Alguns setorespossuem alto índice deimpermeabilização, apresentandopontos críticos, regiões comdrenagem subdimensionada, locaisonde ocorrem alagamentos e pontosde lançamento de esgoto.A Figura 7 apresenta o pior,melhor e a média dos resultados dosindicadores setoriais. A média dosresultados do ISA foi 0,609representando média salubridade.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 11 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 10 - Detalhe da localização da microbacia do rio Sangão.1,00,90,80,70,60,50,40,30,20,10,0AbastecimentoÁguaEsgotamentoSanitárioMicrobacia rio SangãoResíduosSólidosDrenagemUrbanaControle deVetorespior resultado melhor resultado médiaFigura 11 - Resultados dos indicadores de 2ª ordem para a microbacia rio Sangão.Microbacia baixo rio Sangão e 4ªLinhaA microbacia baixo rioSangão e Quarta Linha possui umaárea aproximada de 37,44 Km²,abrangendo 4 bairros e 5 setorescensitários (Figura 8). Grande partedesta microbacia é considerada árearural, com baixa densidadepopulacional. Apresenta-se comopotencial região para expansãourbana e industrial, fazendo ligaçãocom a BR-101. Recomenda-se oplanejamento adequado para estaocupação, uma vez que apresentaextensões de áreas de preservaçãopermanente.a) Iab – a média do indicador foi0,81, mais baixa em relação àsdemais microbacias. Apenas 44,3%dos domicílios apresentavam redede abastecimento, indicando a baixacobertura principalmente pelacaracterística rural dos bairros, ondemuitas famílias utilizam água depoços e nascentes. Entre asmicrobacias, esta é a que maisnecessita de investimentos paradistribuição de água tratada, visandoà universalização do serviço.b) Ies – apesar de haver umaestação de tratamento comunitária,a pontuação do indicador foi 0, poisa cobertura em coleta era pequenae a ETE não operava de forma ideal.c) Irs – a pontuação foi 1 indicandoque a coleta é abrangente e o aterrosanitário atende a demanda dospróximos 20 anos.d) Icv – não foram registrados casosdas doenças pesquisadas, porém amédia de pontuação foi 0,75, poishavendo riscos de inundação nossetores considera-se que há riscosde transmissão principalmente deleptospirose, indicando aRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> <strong>12</strong> ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura <strong>12</strong> – Pior, melhor e média dos resultados do ISA – Indicador de Salubridade Ambiental para as microbacias deCriciúma.necessidade de programas deeducação sanitária para prevenirestas e demais doenças relacionadasao saneamento inadequado – DRSAI.e) Idu – a média do indicador foi0,28 indicando que a drenagem éruim/muito ruim. Este resultado é osegundo menor, indicando asuscetibilidade à inundação ealagamento. O baixo valor decorreprincipalmente da característicapredominantemente rural da região,uma vez que de acordo com ametodologia, a falta depavimentação indica ausência dedrenagem.A Figura 9 apresenta o pior,melhor e a média dos resultados dosindicadores setoriais. A média dosresultados do ISA foi 0,569representando o valor mínimo paraclassificação como médiasalubridade. Os resultados do ISAsão os menores em relação àsdemais microbacias.Microbacia rio SangãoApresenta 66,82 km 2 , 33bairros/localidades e 62 setorescensitários. A microbacia rio Sangãopossui área aproximada de 66,82Km², abrangendo as microbacias dosrios Medeiros, Maina e Sangão(Figura 10).a) Iab – a média do indicador foi0,98 representando a condiçãosatisfatória da qualidade da águadistribuída. O índice de cobertura deabastecimento foi de 95,4%.b) Ies – mesmo com a presença dequatro estações de tratamento deesgoto, o valor médio encontradopara o Ies foi 0,02 indicando a baixacobertura da prestação dos serviços.c) Irs – a pontuação foi 1 indicandoque a coleta é abrangente e o aterrosanitário atende a demanda dospróximos 20 anos.d) Icv – foram registrados 3 casos dedengue entre 2005 e 2009 e 4 casosde leptospirose entre 2004 e 2008,sendo a média de pontuação 0,85.e) Idu – a média do indicador foi0,53 representando que a drenagemé regular. Esta microbacia também éconsiderada crítica por apresentarárea urbanizada nas margens decórregos e do rio Sangão. Háocorrência de enchentes comgrandes prejuízos à população.A média do ISA foi 0,679representando média salubridade.Salienta-se que um setor foiclassificado como salubre e um combaixa salubridade. Os principaisresultados dos indicadores setoriaisestão apresentados na Figura 11.Análise Integrada dos ResultadosAnalisando os maiores,menores e as médias de resultadosobtidos nas cinco microbacias,conforme mostra a Figura <strong>12</strong>,constata-se que os piores resultadosforam encontrados na microbaciabaixo rio Sangão e Quarta Linha,devido principalmente a menorcobertura de abastecimento deágua, ocorrência de alagamentos ebaixa cobertura em coleta etratamento de esgotos.Os maiores valores foramencontrados nos bairros SãoJosé/Estaçãozinha (0,85 –microbacia rio Sangão) e São João(0,77 – microbacia rio Cedro),classificando-os como salubre e osmenores valores encontrados nosbairros Verdinho (0,49 – microbaciabaixo rio Sangão e 4ª Linha) eImperatriz (0,50 – microbacia rioSangão) classificando-os com baixasalubridade.O Iab alcançou pontuaçãoentre 0,8 e 1 indicando a boacobertura e qualidade da águadistribuída, porém paraRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 13 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


1,00,90,80,70,60,50,40,30,20,10,0Média Indicador de Abastecimento de Águario Criciúma rio Cedro rio LinhaAntabaixo rioSangão eQuarta LinhaMicrobaciario Sangão1,00,90,80,70,60,50,40,30,20,10,0Média Indicador de Drenagem Urbanario Criciúma rio Cedro rio Linha Anta baixo rioSangão eQuarta LinhaMicrobacia rioSangãoFigura 13 – Média dos resultados dos indicadores de abastecimento de água e drenagem urbana para as microbacias domunicípio de Criciúma.1,00,90,80,70,60,50,40,30,20,10,0Média Indicador de Esgotos Sanitáriosrio Criciúma rio Cedro rio LinhaAntabaixo rioSangão eQuarta LinhaMicrobaciario Sangão1,00,90,80,70,60,50,40,30,20,10,0Média Indicador de Controle de Vetoresrio Criciúma rio Cedro rio LinhaAntabaixo rioSangão eQuarta LinhaMicrobaciario SangãoFigura 14 – Média dos resultados dos indicadores de esgoto sanitário e controle de vetores para as microbacias domunicípio de Criciúmauniversalização do serviço, conformepreconizado em lei, é necessárioplanejamento e investimentos emrede de distribuição e capacidade detratamento. A microbacia rioCriciúma também recebeu a maiorpontuação (0,99), apresentando amaior cobertura em abastecimento,que foi de 98,2%. A microbacia rioCedro também apresentou valor0,99, porém cobertura deabastecimento um pouco menor, de96,8%. A terceira melhor pontuaçãopara o Iab foi obtida na microbaciario Sangão (0,98) seguida damicrobacia Linha Anta (0,97). Amicrobacia baixo rio Sangão eQuarta Linha apresentou o menorresultado (0,81), com a menorcobertura de abastecimento, querepresenta 44,3% da população.Salienta-se que os dados referem-seao Censo do IBGE de 2000 e podemnão representar a realidade atual.De acordo com as informaçõesobtidas para este estudo, nãoocorrem problemas quanto àqualidade da água distribuída nomunicípio.Todas as microbacias apresentaramproblemas com drenagem urbana. Amédia final dos resultados para o Idupara a microbacia rio Criciúma é amaior em comparação com asdemais microbacias (0,55). Esteresultado deve-se principalmente aomaior índice de pavimentação,sendo que a metodologia consideraque quando existe pavimentaçãoexiste também sistema dedrenagem, não considerando fatorescomo o subdimensionamento damacro e microdrenagem. Mesmocom o melhor índice, estamicrobacia apresenta os maioresproblemas com alagamentos, poisestes ocorrem principalmente nobairro Centro, que é o maisdensamente povoado, atingindotambém grande parte do comérciodo município.O segundo maior resultado do Idufoi obtido na microbacia rio Sangão(0,53), seguido das microbacias rioLinha Anta (0,40), baixo rio Sangão eQuarta Linha (0,28) e rio Cedro(0,22). Em todas estas microbaciasexistem problemas de alagamentosou inundações, ausência de áreasverdes em vários bairros e vias sempavimentação em estado ruim deconservação.Com o crescimento daurbanização, a drenagem naturalvem sendo substituída porestruturas artificiais, e com oaumento da extensão das áreasimpermeabilizadas, principalmentepor asfalto, há uma alteração nosvolumes de águas que escoamsuperficialmente, gerando pontos dealagamentos e transbordamento dosistema natural e/ou construído,principalmentenasmacrodrenagens. Outro problemano município é a ocupaçãodesordenada de áreas naturais deRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 14 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


inundação e de preservação doscursos d’água com a retirada damata ciliar. As médias dos resultadosdos indicadores setoriais dasmicrobacias podem ser visualizadasna Figura 13.Os resultados do Iesapontaram problemas em todo omunicípio, com índices baixos decoleta e tratamento pelas Estaçõesde Tratamento de EsgotoComunitárias. Sendo assim, asmicrobacias que possuem ETE’sapresentaram resultados maiorespara o Ies, sendo 0,14 para o rioCedro; 0,02 para o rio Sangão e rioLinha Anta. Já as microbacias rioCriciúma e baixo rio Sangão e QuartaLinha obtiveram pontuação zero,apontando a inexistência dotratamento dos esgotos sanitários.Em 2010 entrou em operação a ETEque atende grande parte damicrobacia do rio Criciúma.Foi registrada a ocorrênciade dengue e leptospirose nosúltimos cinco anos no município.Dentre as cinco microbacias asúnicas que não apresentaram casosde dengue nos últimos cinco anosforam a do rio Linha Anta e do baixorio Sangão e Quarta Linha. Nasequência está a microbacia rioCriciúma, com pontuação 0,97, rioSangão com 0,95 e rio Cedro com0,88, todas com casos confirmados.Em nenhuma das microbacias foiregistrada a ocorrência deesquistossomose nos últimos cincoanos. Já o risco de leptospirosedevido à incidência de alagamentosou inundações em grande parte domunicípio é preocupante. A maiorpontuação para o indicador destadoença é apresentada na microbaciario Criciúma (0,75) mesmo comcasos confirmados nos últimos cincoanos. Em seguida está a microbaciario Sangão (0,72) e microbacia rioLinha Anta (0,64). As microbacias rioCedro e baixo rio Sangão e QuartaLinha receberam pontuação 50mesmo sem registro da doença, maspor apresentarem todos os setorescom histórico de enchentes e/ouinundação. As médias dos resultadosdos indicadores setoriais dasmicrobacias podem ser visualizadasna Figura 14.O Irs recebeu pontuação 1em todas as microbacias, sendo quea coleta pública abrange todo omunicípio e a disposição ocorre ematerro sanitário. De acordo com ametodologia proposta, a coberturaem coleta e a forma de disposiçãofinal dos resíduos sólidos urbanosestão adequadas. O gerenciamentodos demais tipos de resíduos sólidosgerados no município não foicontemplado neste estudo.CONSIDERAÇÕESOs indicadores propostosneste trabalho buscaramrepresentar em forma numéricauma realidade complexa dos bairrosdo município de Criciúma, servindocomo instrumento para diagnósticode problemas e planejamento parafuturos investimentos.Os resultados obtidos paraos indicadores de resíduos sólidos,controle de vetores e drenagemurbana refletem, de acordo com ametodologia e dados obtidos, acondição do município na época dapesquisa. Já os resultados sobre osindicadores de abastecimento deágua e esgotamento sanitário foramobtidos utilizando-se dados dapopulação apresentada no Censo doIBGE de 2000. Desta forma, osíndices que utilizam estes dados nãorefletem a condição atual dacobertura de abastecimento de águapotável.Os resultados da microbaciario Criciúma indicaram a inexistênciade coleta e tratamento de esgotossanitários, problemas de drenagemurbana como alagamentos einundações, reduzidos espaços deáreas verdes e riscos de transmissãopor vetores de doenças como adengue e a leptospirose. Amicrobacia recebeu classificação demédia salubridade.Porém, com o início daoperação da ETE para a microbaciario Criciúma em 2011, esta passariaa ser classificada como salubre emtodos os bairros. Com investimentosapenas neste setor os valoresvariariam entre 0,76 a 0,98. Estesresultados podem chegar ao valorideal, que é um, ocorrendoinvestimentos em drenagem urbanapara esta microbacia, como é o casoda construção de um Canal auxiliarao rio Criciúma em 20<strong>12</strong> e daelaboração do Plano de Manejo dasÁguas Pluviais da bacia do rioCriciúma. Este último plano é oprimeiro a ser desenvolvido naregião, transformando a realidadedas obras públicas em drenagem,que ocorriam sem planejamento eestudos adequados. Isto se refletehoje nos subdimensionamentos queprovocam inúmeros transtornos àpopulação principalmente das áreasurbanizadas. Sugere-se que sejarealizado este tipo de estudo paratodas as microbacias. Em 20<strong>12</strong> foiampliada de forma significativa acoleta seletiva nesta microbacia,melhorando a gestão dos resíduossólidos urbanos.A microbacia rio Cedro nãoapresenta problemas comabastecimento de água, sendo ovalor do indicador 0,99, muitopróximo ao ideal. A média doindicador de esgotos sanitários émuito baixa, mesmo com aexistência de uma Estação deTratamento de Esgotos no bairroRenascer, pois esta trata osefluentes de uma pequenaporcentagem da população destamicrobacia. Em todos os setorescensitários ocorrem alagamentos ouinundações. As vias parcialmentepavimentadas, gerando problemasde drenagem urbana. O baixo valordo Idu confirma esta problemática.Fato positivo é que dentre os novesetores censitários oito aindaapresentam áreas verdes. Nestamicrobacia há riscos de transmissãopor vetores de doenças como adengue e a leptospirose. Cominvestimentos em rede coletora etratamento de esgotos os valores doISA para esta microbacia ficariamentre 0,79 e 0,83, classificandotodos os bairros como salubre.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 15 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Problemas como baixacobertura em coleta e tratamentode esgotos sanitários e de drenagemurbana podem ser constatados namicrobacia rio Linha Anta, mesmohavendo duas ETE’s, uma no bairroCristo Redentor e outra noLoteamento Moradas do Sol. Acobertura em abastecimento deágua é a segunda mais baixa(90,6%). Considerandoinvestimentos em coleta etratamento de esgotos o ISApassaria para uma faixa de 0,76 a0,98, classificando toda a microbaciacomo salubre. Com investimentosem pavimentação e drenagemurbana estes valores ficariam maispróximos de um.A microbacia do baixo rioSangão e Quarta Linha é a quepossui menor densidadedemográfica em relação ao restantedo município, apresentando amenor média de pontuação do ISA.Os dados do Censo do IBGE de 2000apontam a menor cobertura emabastecimento público de água(44,3%) devido principalmente àcaracterística rural dos bairros.Nesta microbacia existeuma ETE no Loteamento Bolan,mesmo assim o indicador de esgotossanitários é zero, devido à baixacobertura em coleta e tratamento.Todos os bairros apresentam riscode alagamento e inundação. Porém,em todos os bairros existem áreasverdes. Investimentos em esgoto einfraestrutura com pavimentação esistema de drenagem adequadoselevariam os resultados do ISA paraa faixa de 0,90 a 0,94, classificandotoda a microbacia como salubre.Problemas nas áreas dedrenagem urbana como inundaçõese alagamentos e baixa cobertura emcoleta e tratamento de esgototambém estão presentes namicrobacia do rio Sangão. Cominvestimentos apenas emesgotamento sanitário a média deresultados do ISA para toda amicrobacia passaria do atual 0,67para 0,87, representando um bomnível de salubridade.A metodologia propostapermite a realização de revisõesperiódicas, podendo-se avaliar aevolução das condições desalubridade de acordo com as obrasrealizadas. As atualizações do ISApodem ocorrer concomitante àsrevisões do Plano MunicipalIntegrado de Saneamento Básico,que devem ocorrer num prazomáximo de quatro anos, conformeprevê a Lei Federal Nº 11.445/07,podendo-se atualizar o banco dedados tendo em vista os resultadosdo último Censo do IBGE de 2010,melhorias na gestão de resíduossólidos urbanos, como aimplantação de coleta seletiva einvestimentos em grande obras dedrenagem urbana.Os resultados do ISA paracada microbacia podem servisualizados através da Figura 15.Observa-se que os resultados doindicador de salubridade são muitopróximos nas cinco microbacias(média salubridade), apresentandocondição melhor de salubridade emapenas dois setores censitários, emum universo de 167.Ressalta-se a necessidadeda busca permanente pela eficiênciae eficácia na gestão pública,investimentos na capacitação dosfuncionários das administraçõesmunicipais, investimentos emtecnologias e a garantia deprocessos de planejamentodemocráticos, garantindo aparticipação de toda a sociedade.Conforme visão do Ministério dasCidades, as políticas públicas para osaneamento básico devem integrar aPolítica e o Sistema Nacional deDesenvolvimento Urbano, conformediretrizes definidas na 3ªConferência das Cidades. A garantiado direito a cidades sustentáveis,entendido como direito à moradia,saneamento, dentre outros, devetambém estar expressa nos PlanosDiretores municipais, conformeordenamento previsto no Estatutoda Cidade (BRASIL, 2008).O saneamento adequadocontribui diretamente para amelhoria da saúde da população,servindo também como indicador deinclusão social. A salubridadeambiental é fundamental, sendoentendida “como um direito detodos, é condição indispensável àsegurança sanitária e à melhoria daqualidade de vida” (BRASIL, 2008, p.<strong>12</strong>).Para Ely et al (2010) o quenos leva a considerar o impacto daqualidade dos serviços ofertadospara a qualidade de vida dapopulação são o monitoramento eas ações em políticas públicas,respeitando os princípios dasustentabilidade urbana e equidadesocial. Em Criciúma, conforme asautoras faz-se necessário maioratenção dos gestores municipaispara as políticas de infraestrutura eprestação de serviços, respeitando oprincípio da equidade, considerandoque 10% da população mais rica seapropria de cerca de 50% da rendatotal do município, caracterizandouma situação de desigualdade sociale pobreza econômica da maior parteda população.A partir do entendimentodos resultados do ISA torna-se maisfácil compreender a realidade de ummunicípio em relação aosaneamento e definir metas desalubridade através dos Planos deSaneamento, visando à promoçãoda melhoria da qualidade de vida,garantindo a universalização,regularidade e equidade naprestação dos serviços dos sistemasde abastecimento de água,esgotamento sanitário, gestão deresíduos sólidos urbanos e rurais e omanejo adequado dos sistemas deáguas pluviais.Entende-se que oaperfeiçoamento dos indicadoresapresentados neste trabalho,inserindo indicadores quecomplementem os aquiapresentados além de elaborarnovos indicadores comosocioeconômicos e de qualidade dosrecursos hídricos, resultará em umbanco de informações viável e útilpara diagnóstico dos problemassocioambientais do município e paraRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 16 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 15 - Resultados do ISA para as microbacias: A) rio Criciúma; B) rio Cedro; C) rio Linha Anta; D) baixo rioSangão e Quarta Linha; E) rio Sangão.iam os resultadosRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 17 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


planejamento dos investimentosprincipalmente por parte do poderpúblico, visando alcançar níveis desalubridade ambiental que reflitamna melhoria da qualidade de vida detoda a população.REFERÊNCIASALMEIDA, Marco Antonio P. de;ABIKO, Alex Kenya. Indicadores deSalubridade Ambiental em favelaslocalizadas em áreas de proteçãoaos mananciais: O caso da favelaJardim Floresta. Boletim Técnico daEscola Politécnica da USP. São Paulo:Departamento de Engenharia deConstrução Civil, 2000. 28 p.Disponível em:. Acesso em: 4 mar.2009.AROEIRA, Ricardo de Miranda. PlanoMunicipal de Saneamento Básico: aexperiência de Belo Horizonte. In:BRASIL, Ministério das Cidades. LeiNacional de Saneamento Básico:Instrumentos das políticas e dagestão dos serviços públicos desaneamento básico. Brasília: Editora,2009. p. 54-85.BATISTA, Marie Eugénie Malzac;SILVA, Tarciso Cabral da. O modeloISA/JP – Indicador de Perfomancepara diagnóstico do saneamentoambiental urbano. RevistaEngenharia Sanitária e Ambiental,Rio de Janeiro: ABES, v. 11, n. I, p.55-64, jan./mar. 2006.BRASIL. Lei n. 11.445, de 5 dejaneiro de 2007. Estabelecediretrizes nacionais para osaneamento básico; altera as Leisnos 6.766, de 19 de dezembro de1979, 8.036, de 11 de maio de 1990,8.666, de 21 de junho de 1993,8.987, de 13 de fevereiro de 1995;revoga a Lei nº 6.528, de 11 de maiode 1978; e dá outras providências.Brasília: DOU, 5 jan 2007. Disponívelem: Acessoem: 03 mar. 2009.BRASIL. Ministério das Cidades.PLANSAB – Pacto pelo saneamentobásico. Brasília: MCidades, 2008. 31p.BUCKLEY, Cristina F. de O.; FILHO,José D. Adaptação do Indicador deSalubridade Ambiental – ISA paraanálise de empreendimentos doPrograma de ArrendamentoResidencial – PAR em Aracaju/SE.Revista DAE, Sabesp, n. 189, maiago,20<strong>12</strong>. p. 16-<strong>25</strong>.CRICIÚMA. Lei Complementar n.052, de 02 de Maio de 2007. Dispõesobre a Política Municipal deSaneamento Básico, cria o FundoMunicipal de Saneamento Básico –FUNSAB e o Conselho Municipal deSaneamento Básico – CONSAB noMunicípio de Criciúma e dá outrasprovidências. Criciúma: CâmaraMunicipal, 02 mai 2007. Disponívelem:Acesso em: 20 jan 2009.DIAS, Marion Cunha; BORJA, PatriciaCampos; MORAES, Luiz R. Santos.Índice de Salubridade Ambiental emáreas de ocupação espontâneas: Umestudo em Salvador – Bahia. RevistaEngenharia Sanitária e Ambiental,Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 82-92,jan./mar. 2004.ELY, Amanda; RIBEIRO, Rosane K.;GONÇALVES, Teresinha M. EquidadeSocial e Sustentabilidade Urbana. In:GONÇALVES, T. M.; SANTOS, R. dos.(Org.). Cidade e Meio Ambiente:Estudos Interdisciplinares. Criciúma:UNESC, 2010. p. 33-55.IPAT/UNESC. Instituto de PesquisasAmbientais e Tecnológicas /Universidade do Extremo SulCatarinense. Plano MunicipalIntegrado de Saneamento Básico deCriciúma, SC. Criciúma: IPAT/UNESC,2010. 246 p.IPAT/UNESC. Instituto de PesquisasAmbientais e Tecnológicas /Universidade do Extremo SulCatarinense. Plano Municipal deSaneamento Básico deForquilhinha, SC. Criciúma:IPAT/UNESC, 2011. 228 p.IPAT/UNESC. Instituto de PesquisasAmbientais e Tecnológicas /Universidade do Extremo SulCatarinense. Plano Municipal deSaneamento Básico de Siderópolis,SC. Versão preliminar. Criciúma:IPAT/UNESC, 20<strong>12</strong>. 278 p.IPAT/UNESC. Instituto de PesquisasAmbientais e Tecnológicas /Universidade do Extremo SulCatarinense. Plano Municipal deSaneamento Básico de Morro daFumaça, SC. Versão preliminar.Criciúma: IPAT/UNESC, 20<strong>12</strong>. 207 p.IPAT/UNESC. Instituto de PesquisasAmbientais e Tecnológicas /Universidade do Extremo SulCatarinense. Plano Municipal deSaneamento Básico de LauroMüller, SC. Versão preliminar.Criciúma: IPAT/UNESC, 20<strong>12</strong>. 220 p.MORAES, Roberto Santos et al.Plano Municipal de SaneamentoAmbiental de Alagoinhas:Metodologia e Elaboração. SantoAndré, SP: SEMASA SaneamentoAmbiental, 2001. Disponível em: Acesso em: 27jan 2009.SÃO PAULO. Secretaria de RecursosHídricos, Saneamento e Obras. ISA –Indicador de SalubridadeAmbiental. Manual Básico. SãoPaulo, Brasil,1999. 37 p.SANTA CATARINA. Lei nº 13.517, de04 de outubro de 2005. Dispõesobre a Política Estadual deSaneamento e estabelece outrasprovidências. Florianópolis:ALESC/Div. Documentação, 2005.SILVA, Nayra Vicente Souza da. Ascondições de SalubridadeAmbiental das ComunidadesPeriurbanas da Bacia do BaixoGramame: Diagnóstico eProposição de Benefícios. 2006. <strong>12</strong>2f. Dissertação (Mestrado emRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 18 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Engenharia Urbana) – Curso de Pós-Graduação em Engenharia Urbana,Universidade Federal da Paraíba,Paraíba, 2006. Disponível:Acesso em: 16 jan. 2009.SOSTIZZO, Ivo. PlanejamentoUrbano e Geografia. RevistaTecnologia e Ambiente. Criciúma:UFSC, v. 6, n. 2, p. 75-90, jul./dez.2000.TUCCI, Carlos E. M. Controle deEnchentes. In: TUCCI, Carlos E. M.(Org.). Hidrologia: Ciência eAplicação. 2 ed. Porto Alegre: ABRH,1997. p. 621-658.ZMITROWICZ, Witold. Infraestruturaurbana. São Paulo: EPUSP,1997. 35 p.Recebido em: jun/2011Aprovado em: ago/20<strong>12</strong>Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 19 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Mensuração da Disposição a Pagar para Recuperar o Córrego dosÍndios: uma aplicação do Método de Valoração ContingenteMeasurement of the Willingness to Pay to recover the Indios Stream: a ContingentValuation Method applicationRESUMOO objetivo deste trabalho foi estimar a Disposição a Pagar da população deMalacacheta, Minas Gerais, para recuperar o Córrego dos Índios, riacho quecorta toda a cidade. O Método de Valoração Contingente foi escolhido porser capaz de mensurar o interesse de determinada população em recuperaruma área. Para tanto, foram aplicados 280 questionários, aleatoriamente, afim de identificar as preferências populacionais a partir de um cenáriohipotético. O estudo demonstrou que 15% dos entrevistados estãodispostos a pagar, em média, R$ 43,07 para a recuperação do Córrego dosÍndios, o que geraria uma receita de R$ 117.458,35 por mês,correspondendo a uma receita total anual de R$ 1.409.500,20. Do total deentrevistados, 85% manifestaram que não pagariam valor algum pelarecuperação do curso d’ água. Constatou-se que os entrevistados entendemque é de responsabilidade do poder público recuperar o Córrego, uma vezque os cidadãos já pagam uma elevada carga de tributos.PALAVRAS-CHAVE: Valoração Econômica Ambiental, Método de ValoraçãoContingente, Disposição a Pagar.ABSTRACTThe purpose of this work was estimating the Willingness to Pay of thepopulation of Malacacheta city, Minas Gerais, to recover the Índios Stream,which runs through the entire city. The Contingent Valuation Method hasbeen chosen for it helps to measure the interest of certain population inrecovering an area. To that end, it has been applied 280 questionnairesrandomly to identify the populational preferences from a hypotheticalscenario. The survey has demonstrated that 15% of the people are disposedto pay approximately R$43,07 for Índios Stream recovering, what would sumup an income of R$117.458,35 a month and R$ 1.409.500,20 a year. Out ofall people surveyed, 85% have said that would not pay anything for thestream recovering. It has been verified that the people interviewed think thatit is a government responsibility to recover the stream, since the citizensalready pay a high tax burden.KEYWORDS: Environmental Economic Valuation, Contingent ValuationMethod, Willingness toDarlen Rodrigues dos SantosBacharel em Ciências Contábeispela Universidade Federal dos Valesdo Jequitinhonha e Mucuri(UFVJM), Diamantina, MG, Brasildarlenhits@hotmail.com.Vasconcelos Reis WakimMestre em DesenvolvimentoRegional e Agronegócio. ProfessorAssistente II, Universidade Federaldos Vales do Jequitinhonha eMucuri (UFVJM), Diamantina, MG,Brasilvasconcelos.wakim@ufvjm.edu.brElizete Aparecida de MagalhãesMestre em Administração.Professora Assistente, UniversidadeFederal dos Vales do Jequitinhonhae Mucuri (UFVJM), Diamantina, MG,Brasilelizete.am@ufvjm.edu.brSimão Pereira da SilvaMestre em Administração.Professor Assistente, UniversidadeFederal dos Vales do Jequitinhonhae Mucuri (UFVJM), Diamantina, MG,Brasilprofessorsimao@ufvjm.edu.brSorele Carpanez VeigaMestre em Administração.Professor Assistente, UniversidadeFederal dos Vales do Jequitinhonhae Mucuri (UFVJM), Diamantina, MG,Brasilsorele.veiga@ufvjm.edu.br.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – <strong>Setembro</strong> de 20<strong>12</strong> 20 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


INTRODUÇÃOCom a crescente utilizaçãodos recursos naturais, renováveis enão renováveis, de formadesordenada, sem a preocupaçãocom as gerações futuras, asociedade encontra-se diante de umdesafio: o desenvolvimentoeconômico associado à preservaçãoambiental. Devido à exigência dematéria-prima para o processo deprodução nas empresas, a relaçãodo homem com o meio ambienteintensificou-se à medida que ocrescimento populacional exigiamais produção para atender àdemanda cada vez mais crescente.Atualmente, percebe-seque a má utilização dos recursosnaturais pode trazer sériasconsequências para a humanidade,ocasionando prejuízo destesrecursos para as gerações futuras e,dessa forma, causando sériosimpactos ao desenvolvimentoeconômico dos países.A preocupação com osrecursos naturais reside no fato deque todos os problemas ambientaisque cercam a sociedade acabam porformar um circulo vicioso, gerandooutros problemas e,consequentemente, agravando asituação do meio ambiente. Osimpactos ambientais que o homemcausa na busca do aceleramento doprocesso produtivo, o qual destinasea suprir as demandas dasociedade, podem ser entendidoscomo um desequilíbrio entrehomem e o meio ambiente, uma vezque o homem extrai toda matériaprimautilizada na produção, semum planejamento que concilie asnecessidades do meio ambiente e dasociedade. O meio ambienteenquanto fonte produtora derecursos tem um fim natural. Éfundamental que existam políticaspúblicas capazes de responder tantoà demanda de produção quanto à depreservação.Entre tantos outrosimpactos ambientais, a poluição daságuas também é um problema quegera riscos à saúde humana ecompromete a produtividade, umavez que a água é um bem quegarante o funcionamento doprocesso industrial e produtivo.Segundo CETESB (2009), asuperfície do planeta Terra écomposta por ¾ de água. Destetotal, 97% são de água salgada e 3%de água doce. Porém, do percentualde água doce, a maior parte está naforma de gelo, sendo que apenas0,01% é próprio para o consumohumano e encontra-se na forma delagos e rios.Diante deste contexto,surge a necessidade de inovação dosinstrumentos e práticas utilizadas naextração e aproveitamento dosrecursos naturais, visando a atenderàs necessidades de preservação domeio ambiente, fundamentadas nodesenvolvimento sustentável,mecanismos estes que orientam autilização dos recursos naturais.O Córrego dos Índios,objeto de estudo, corta a cidade deMalacacheta, Minas Gerais, tendosua nascente na Grota do Bugre.Atualmente, recebe quase todo oesgoto da cidade e o lixo geradopela população que reside às suasmargens. Assim é notória aimportância de projetos que visem àmelhoria da qualidade do rio, com afinalidade de almejar o bem-estarpopulacional.Nesse sentido, este estudoteve como objetivo identificar juntoà população de Malacacheta, MG, adisposição a pagar para arecuperação do Córrego dos Índios.REFERENCIAL TEÓRICOMeio AmbienteO homem sempredependeu da utilização dos recursosnaturais existentes no meioambiente, mas frequentemente vemse deparando com o usodesordenado dos recursos. Nopassado, a sociedade preocupava-seapenas em acelerar o crescimentoeconômico em busca de melhoria dobem-estar social.Pode-se observar,atualmente, que existe umapreocupação com a preservação dosrecursos não renováveis, uma vezque estes têm um fim natural. Defato, a escassez ou a extinção derecursos naturais abalaria ocrescimento econômico, causandouma desestruturação na economiamundial, que se consolidou nosprincípios do capitalismo. Por isso,economistas e ambientalistasbuscam soluções para interpretar eharmonizar a relação existente entreo homem e o meio ambiente.Segundo Ferreira (2007), omeio ambiente é uma área deconhecimento que abrange váriasoutras ciências, afins entre si, que seassociam para melhor explicá-lo. Elepode ser dividido em seis aspectos:ar, água, solo, subsolo, fauna, flora epaisagem.De acordo com a Lei nº6.938/1991, em seu art. 3º, inciso I,meio ambiente “é o conjunto decondições, leis, influências einterações de ordem física, químicae biológica que permite, abriga erege a vida em todas as suasformas”.Para Tinoco e Kraemer(2008), a proteção do meioambiente vem se tornandopreocupação de muitas empresas eda população em várias partes domundo. Tal fato dá-se emdecorrência do elevado nível dedegradação do patrimônioambiental da humanidade, o queleva as organizações e a população abuscarem uma convivênciaequilibrada entre o homem e o meioambiente.De acordo com Paiva(2009), devido ao crescimentopopulacional e, consequentemente,às exigências de consumo, asindústrias expandiram-se emnúmero, áreas de atuação evariedade de produtos. No entanto,a preocupação com o meioambiente não se fez presentedurante anos, ocasionando comoresultados problemas ambientais degrandes proporções.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 21 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Para Ribeiro (2006), apoluição, que cada dia cresce mais,tornou-se nos últimos tempos temapara várias discussões acerca dosmais variados aspectos, tendo emvista a crescente abrangência dosseus efeitos.Conforme Ribeiro (2006, p.110):O cerne deste tema passa aser a consecução daconvivência pacífica entre aboa qualidade do meioambiente e odesenvolvimentoeconômico, visto que setrata de variáveisdependentes entre si.Afinal, o aniquilamento domeio ambiente podeeliminar o elementohumano.Segundo Ferreira (2007),para melhor entender ossignificados do meio ambiente, éimprescindível ir além dos aspectosecológicos e econômicos. O autorafirma que devem ser observadostambém os aspectos sociais,culturais, educacionais, os quais serelacionam a essa questão polêmica.Nesse sentido, é notório que arealidade que cerca o meioambiente não é muito promissora e,por isso, deve-se ter cuidado naelaboração de práticas capazes desatisfazer a necessidade dahumanidade sem comprometer aprincipal fonte de recurso doprocesso produtivo.Desenvolvimento SustentávelO desenvolvimentosustentável requer a utilização deforma racional dos recursos danatureza, de maneira que asgerações futuras também possamusufruir dos bens naturais. Faucheuxe Noel (1997) comentam que oDesenvolvimento Sustentável (DS)consiste no desafio de conciliar asquestões econômicas com apreservação ambiental. Nestesentido, os Estados buscaramconstituir uma parceria global queteria como objetivo alcançar umaeconomia mais eficiente eigualitária. Dessa forma, o DS passoua ser um objetivo prioritário dasnações.De acordo com o Relatóriode Brundtland “a humanidade écapaz de tomar o desenvolvimentosustentável - de garantir que eleatenda às necessidades do presentesem comprometer a capacidade deas gerações futuras atenderem àssuas” (NOSSO FUTURO COMUM,1991, p. 9).Thomas e Callan (2010)relatam que desenvolver comsustentabilidade abrange ogerenciamento dos recursos danatureza de modo que a qualidade esua quantidade para o longo prazosejam asseguradas às próximasgerações.Solow (1991, traduçãonossa) apresenta uma definição daUNESCO para o DesenvolvimentoSustentável, segundo a qual cadageração deve deixar os recursos(água, ar e solo) puros e sempoluição. No entanto, ele comentaque essa é uma maneira errada depensar sobre o assunto. O autoracredita que o conceito sobresustentabilidade ali descrito é vago eque seria errado assumi-lo comopreciso e abrangente. Solow (1991)menciona também que esteconceito não é um guia exato para aformulação de políticas públicas, noentanto, não é de todo inútil.Ainda na visão de Solow(1991, tradução nossa), asustentabilidade é uma obrigação,bem como um compromisso moralda atual geração com o futuro. Porisso, deixar o mundo conforme nós oencontramos é inviável.Pode-se perceber que odesenvolvimento sustentável é umgrande desafio para a sociedade,pois deve encontrar um ponto deequilíbrio entre a preservaçãoambiental e o desenvolvimentoeconômico. Esse equilíbrio édenominado pela literaturaeconômica como “Ótimo de Pareto”.Segundo Stiglitz e Walsh (2003, p.171), a eficiência no sentido dePareto relaciona-se ao momento“quando ninguém pode melhorarsua situação sem piorar a deoutrem.” No que tange aodesenvolvimento econômico,Bresser-Pereira (1992, p. 7) oconceitua como o “aumento daprodução per capita através dareorganização dos fatores deprodução.”Thomas e Callan (2010, p.488) comentam que odesenvolvimento sustentável“pretende ser um objetivo global,cujos benefícios devem contemplartodos os segmentos da sociedade etodos os países.” De acordo comNunes (2008), o desenvolvimentosustentável designa uma formacapaz de responder às exigências dopresente, sem prejuízo das geraçõesvindouras. Neste sentido, o DS temcomo objetivo a melhoria dascondições de vida dos indivíduos,mas preservando, simultaneamente,o meio envolvido a curto, médio e,sobretudo, longo prazo. Apreservação pode ser conseguidapor meio de um tipo dedesenvolvimento economicamenteeficaz, socialmente equitativo eecologicamente sustentável.Conforme Ribeiro (2006, p.6), “em síntese, desenvolvimentosustentável corresponde à satisfaçãodas necessidades sociais, semprejuízo das futuras.” SegundoTagore (2009), o desenvolvimentosustentável consiste no crescimentosocial, científico e cultural dassociedades, sem exaurir os recursosnaturais do planeta e, para isso,toda forma de relação do homemcom a natureza deve ocorrer comum menor dano possível aoambiente. Os sistemas de produçãoe o consumo têm de existirpreservando a biodiversidade.Paiva (2009) afirma que odesenvolvimento sustentável temocupado as principais pautas dediscussões sobre os rumos doplaneta e, da mesma forma, ocrescimento econômico, como fonteprincipal de subsistência do homemna terra, também é preocupante emface da degradação que causa aomeio ambiente. Ribeiro (2006)Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 22 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


menciona que, após conhecer oslimites do sistema ecológico, asociedade, os governos e asorganizações começaram a sepreocupar com a capacidade domeio ambiente em reagir com aosaltos níveis de impureza que lhe sãoacrescidos diariamente.Quando se fala emdesenvolvimento sustentável,remete-se essa atribuição apenas àsautoridades governamentais ou àsorganizações. Pouco se fala naresponsabilidade dos cidadãos, umavez que o desenvolvimentosustentável depende do trabalho emequipe, pois busca soluções pacíficaspara integrar o crescimentoeconômico ao meio ambiente, a fimde satisfazer esta e as próximasgerações.Ainda sobre o Relatório deBrundtland, o documento preconizaque a implementação dodesenvolvimento sustentável não éum processo fácil e sem obstáculos,sendo que as decisões difíceisdeverão ser tomadas em diversasesferas, no entanto, tudo dependeráde empenho político (NOSSOFUTURO COMUM, 1991).Bens PúblicosPara Pindyck e Rubinfeld(2006), os bens públicos não sãodisputáveis e o custo marginal deprovê-los para um consumidoradicional é zero e as pessoas nãopodem ser excluídas de seuconsumo. Varian (2006, p. 720)explica que o bem público “tem queser fornecido na mesma quantidadepara todos os consumidoresenvolvidos.” Ainda o mesmo autormenciona que o bem público é umtipo de externalidade de consumo,ou seja, todos são obrigados aconsumir a mesma quantidade dobem.Stiglitz e Walsh (2003, p.195-196) afirmam que o bempúblico puro “é aquele em que ocusto marginal de oferecê-lo a umapessoa adicional é rigorosamentezero e é impossível excluir quemquer que seja de receber o bem.” Osmesmos autores mencionam que oEstado tem o poder de coerção e deobrigar os cidadãos a pagar pelo usodos bens públicos.Thomas e Callan (2010, p.66, grifo dos autores) explicam queo bem público puro “é aquele quepossui as seguintes características: énão-rival no consumo e seusbenefícios são não-excludentes (ounão exclusivos).” Ainda explicamque a não-rivalidade está associadaaos benefícios do consumo que nãopodem ser divisíveis, isto é,nenhuma pessoa pode ser impedidade usufruir de determinado bem aomesmo tempo. A não-exclusividadeé explicada pelos mesmos autorescomo a não possibilidade deexclusão das pessoas dos benefíciosgerados pelo bem público.Conforme Nunes (2008), osbens públicos são um tipo específicode bem que independentemente davontade de um indivíduo emparticular querer ou não usá-los, obenefício por eles proporcionados éusufruído por toda a população e deuma forma indivisível.Desse ponto de vista, podeseperceber que as águas são benspúblicos, conforme preveem aConstituição Federal em seus artigos20 e 26 e a Lei nº 9.433/1997, quedispõe, em seu art. 1º, inciso I, que“a água é bem de domínio público.”Portanto, o recurso naturalapresenta características de usocoletivo, não podendo haver aexclusão de nenhum indivíduo,mesmo que este não faça uso deforma racional do bem público emquestão.Um bem público pode serusado por várias pessoas ao mesmotempo, sem exclusão, como, porexemplo, a água pode ser usadaracionalmente por alguns indivíduos,enquanto há outros que não sepreocupam tanto com a forma deutilização deste bem. Assim, pode-seperceber uma diferença entre bempúblico e bem privado, em queneste último pode haver a exclusãode qualquer indivíduo.ExternalidadesAs externalidades aparecemquando acontece um ganho semque este seja precedido pelo devidopagamento ou quando ocorre umaperda sem a devida compensação.Para Motta (1997), asexternalidades podem serentendidas a partir do momento emque terceiros ganham sem pagar porbenefícios, ou perdem sem sercompensados por suportarem osmalefícios. Varian (2006, p. 671)menciona que a principalcaracterística da externalidade é“que há bens com os quais aspessoas se importam e que não sãovendidos nos mercados.”Para Thomas e Callan(2010) o preço é o melhormecanismo para sinalizar a situaçãodo mercado. No entanto, o preçopode, em algumas situações, deixarde captar os custos e os benefíciosde determinada transação. Estasfalhas de mercado surgem porqueuma pessoa é afetada pela produçãoou consumo de um bem. Talinfluência é denominadaexternalidade e caracteriza-se comopositiva quando gera benefícios paraterceiros e, como negativa, no casode proporcionar-lhe custos.De acordo com Nunes(2008), as externalidades sãoatividades que englobam aimposição dos custos ou debenefícios, os quais podem causarefeitos negativos ou positivos, semque as pessoas tenham aoportunidade de impedir, pagar outer o direito de ser recompensado.Stiglitz e Walsh (2003, p.351) explicam que as“externalidades podem ser positivasou negativas, dependendo de osindivíduos aproveitarem benefíciosadicionais pelos quais não pagaramou terem custos extras em que elespróprios não incorreram.”Segundo Motta (1997, p.222), há dois tipos deexternalidades, as positivas e asnegativas:Externalidades positivas,benefícios externos,Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 23 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


deveriam ter preçospositivosporrepresentarem benefíciosnão propriamente pagos.Por exemplo, uma empresadesenvolve um método deprodução ou administrativode baixo custo que éabsorvido gratuitamentepor outra empresa. Ouquando um fazendeiropreserva uma área florestalque favorece gratuitamentea proteção do solo deoutros fazendeiros.Externalidades negativas,custos externos, deveriamter preços negativos porsignificarem perda deutilidades. Um exemploseria a degradação ouexaustão de recursosambientais decorrentes dasatividades de produção deoutros bens que tambémdestroem a fauna e a flora.Faucheux e Noel (1997, p.216) afirmam que os efeitos dasexternalidades são “positivos ounegativos, ou seja, perfeitamentesimétricos: falar-se-á a partir daí deeconomia externa, se o efeito forpositivo e de deseconomia externase o efeito for negativo”.Desta forma, percebe-seque as externalidades existemquando as atividades de consumosão afetadas, não somente por seupróprio consumo, mas também peloconsumo de outros indivíduos queutilizam determinados bens públicossem o devido pagamento. Dessemodo, as atividades de consumosofrem uma perda sem uma devidarestituição.Thomas e Callan (2010, p.76) explicam que:Asexternalidadesambientais são aquelas queafetam o ar, a água, ou aterra, todos os quaispossuem características debens públicos. O que issoimplica é que, embora osbens públicos e asexternalidades nãoconstituam o mesmoconceito,estãointimamente relacionados.Para internalizar umaexternalidade, segundo Faucheux eNoel (1997), é importante preencheras lacunas existentes entre o custosocial e o custo privado, ou seja,obrigar o poluidor a pagar uma taxapela quantidade de poluiçãocausada.A internalização dasexternalidades, conforme Coase(1960, apud FAUCHEUX; NOEL,1997, p. 221):Não pode vir senão de umanegociação bilateral entreemissor e vítima, ou seja,de uma discussão de preçoentre os agenteseconômicos em causa,desde que, esclarece ocusto da organização dessanegociação não sejaproibitivo e nuncaultrapasse o ganho socialque dele pode-se esperar.Faucheux e Noel (1997)comentam que a preocupação deCoase é com o caráter unilateral dasolução fiscal proposta por Pigou,pois esta não resolveria o problema,ou seja, punir um elemento (A) porcausar de danos a outra pessoa (B)também causaria prejuízos a (B), eque o ponto central reside, naverdade, no questionamento sobrese deveria seria viável permitir que(A) prejudicasse (B) e/ou vice-versa.Kuhn (1992, traduçãonossa) afirma que algumas dasconclusões alcançadas pela maioriados economistas no que tange àsexternalidades, com base na análisede Pigou, foram resumidas porCoase, isto é, o produtor da poluição(fumaça, barulho, etc.) deve: (1)pagar uma indenização aosafetados; (2) ser taxado em suaprodução pelo governo ou; (3) tersua fábrica excluída dos bairrosresidenciais.Valoração Econômica AmbientalA valoração econômicaambiental fundamenta-se nautilização de métodos e técnicas quebuscam estimar valores monetáriospara os ativos ambientais, refletindoos fluxos de bens e serviçosoferecidos pela natureza.Ao tratar-se dos fatos quetêm relação direta ou indireta commeio ambiente, é difícil estimarvalores monetários para o uso dosativos ambientais. A valoraçãoambiental surge como fatorpropulsor para a busca do valor dosbens naturais, pela efetiva utilizaçãodesses bens. Neste sentido, Barbisanet al (2009, p. 3) explicam que:Existem, entretanto,algumas dificuldades parase obter a adequadavaloração ambiental, umavez que em se tratando derecursos naturais ouambientais em geral, osvalores não são capazes deatingir a eficiência demercado. Os preçospraticados são na grandemaioria sub-avaliados, nãoincorporando os custos deextração destes recursosrenováveis, ou seja, elesnão racionam os recursosentre os consumidores enão fornecem informaçõescorretas sobre a escassezrelativa dos mesmos [...].Para Motta (2006), o valoreconômico dos recursos ambientais,geralmente, não é notado nomercado por meio do sistema depreços. Destaca-se ainda que, assimcomo os outros bens e serviçosexistentes no mercado, seu valororigina-se de seus atributos,podendo ou não estar relacionado aum uso.A valoração econômica derecursos ambientais, na visão deAlves (2010, p. 35):Pode ser entendida comoum conjunto de técnicasque sirvam ao propósito deordenar opções excludentese que implica, basicamente,em determinar o valoreconômico de um recursoambiental, o que significaestimar o valor monetárioRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 24 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


do recurso ambiental emrelação aos outros bens eserviços disponíveis naeconomia.Motta (2006) faz adecomposição do valor econômicodos recursos ambientais em valor deuso e valor de não-uso, conformepode ser visualizado na fórmulaseguinte:em queVERA = valor econômico dosrecursos ambientais;VUD = valor de uso direto;VUI = valor de uso indireto;VO = valor de opção; eVE = valor de existência.Conforme o referido autor,o valor de uso direto é aqueleatribuído a um bem ou serviçoambiental em função da suautilização. O valor de uso indireto éaquele em que o bem, dentro desuas funções naturais, podecontribuir para que desastresecológicos não ocorram. O valor deopção é o valor atribuído pelaspessoas em preservar recursos quepodem estar ameaçados. E por fim ovalor de existência é aqueleatribuído, independentemente deseu uso.De acordo com Finco (2002,apud BRAGA; ABADALLAH;OLIVEIRA, 2005, p. 8):A valoração econômica domeio ambiente surgequando da crescentepreocupação mundial coma preservação/conservaçãodos recursos naturais. Essapreocupação derivasobretudo, do aumento dademanda pela qualidadedos bens e serviços geradospor esses recursos, aomesmo tempo em que háuma enorme perda de bemestarcom a variação naquantidade e na qualidadedesses serviços, por parteda geração presente e pelapresente preocupação coma geração futura.As atividades econômicasdesenvolvidas pelo homem, quandonão realizadas de forma sustentável,podem gerar inúmeros problemaspara o meio ambiente, além decausarem possíveis impactos naprodução e na produtividade dasdiversas regiões do país. Comoforma de medir esses impactosocasionados, diversas metodologiasde valoração ambiental podem serempregadas. Essas metodologiastêm como intuito associar valoresfinanceiros aos recursos naturaisdanificados. Nesse sentido, Füzyová,Lániková e Novorolský (2009,tradução nossa) argumentam queexistem, atualmente, inúmerasabordagens de avaliação econômica,utilizadas para determinar e avaliaros ativos e os passivos ambientais.Uma dessas abordagens é o Métodode Valoração Contingente que serádescrito a seguir.Método de Valoração ContingenteO Método de ValoraçãoContingente (MVC) é um dosmétodos adotados para estimar asquestões sobre as preferências daspessoas. Ele presta-se a apropriarum valor monetário aos ativosambientais em virtude do aumentoda qualidade ou da quantidade queo bem ou o serviço pode oferecerpara aumentar o bem-estar social apartir de um cenário hipotéticocriado pelo pesquisador.Segundo Wakim (2010), oMVC implica o levantamento daspreferências dos indivíduos, queserve de base para fundamentaçãono processo de valoração paraestimar o valor da disposição apagar dos indivíduos, a partir de umcenário hipotético.Para Ferreira (2007), o MVCé utilizado quando o preço demercado não pode ser expresso.Dessa forma, faz-se uso de pesquisapara determinar quanto um bemambiental pode valer, em face dasvárias hipóteses levantadas napesquisa.Silva e Lima (2003) afirmamque o MVC é utilizado para estimarvalores monetários extraídos dequestionários, os quais tendem arefletir a preferência dosentrevistados em virtude de umacréscimo ou decréscimo naqualidade dos ativos ambientais.De acordo com Motta(1997, p. 32), o Método deValoração Contingente estáalicerçado na teoria do bem-estar eno princípio de que o indivíduo éracional no processo de escolha,maximizando sua satisfação, dado opreço do recurso natural e suarestrição orçamentária. O objetivodo pesquisador com a aplicação dométodo é obter dos indivíduos oexcedente do consumidor.Faucheux e Noel (1997)ressaltam que, para um ganho embem-estar, a medida compensatóriado indivíduo indica quanto ele estádisposto a pagar para assegurar quedeterminada mudança intervenhana melhoria do bem-estar, uma vezque pense ser um valorcompensatório que viabilize todas asmelhorias desejáveis.Motta (1997) comenta queo Método de Valoração Contingentebusca simular cenários, comcaracterísticas bem próximas àsreais, de forma que os entrevistadospossam responder o quantoestariam dispostos a pagar se, defato, existisse determinado bempara ser recuperado, a fim degarantir melhorias do bem-estarpopulacional.O referido autor explica queo MVC pretende, de alguma forma,quantificar a mudança do ambienteem que os indivíduos estãoinseridos, visando à sua melhorqualidade, resultante de umaalteração no suprimento dedeterminado bem ou serviçoambiental, ou seja, aplica-se umapesquisa de opinião a determinadonúmero de pessoas em relação a umcenário hipotético. Com base naDisposição a Pagar (DAP) daspessoas, é possível estimar emvalores monetários um atributoambiental.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> <strong>25</strong> ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Na visão de Motta (1997, p.43):Dado que no MVC utilizamsefunções com variáveissocioeconômicas, então épossível captar asparticularidades regionaisao introduzirem-se estasvariáveis relativas a outraregião. Com isso, estima-sea DAP média da região combase na função transferida.Para Faucheux e Noel(1997), o princípio fundamental daanálise do MVC é que aspreferências dos entrevistadosdevem servir de base de valoraçãodos benefícios e que o problemareside em ressaltar as preferênciasdos indivíduos.De acordo com Motta(1997), “a grande vantagem doMVC, em relação a qualquer outrométodo de valoração, é que elepode ser aplicado em um espectrode bens ambientais mais amplo”.Para Mac-Knight (2008) oMVC é o único método que abrangeum conjunto mais amplo de bensambientais, pois estima diretamentea DAP, por meio das preferências doconsumidor, além de ser o único quecapta o valor de existência dorecurso ambiental.Faucheux e Noel (1997)comentam que:A aplicação do método deavaliação contingenteconsiste em perguntar àspessoas o que é que elasconsentem pagar parareceber um beneficio e ou/aquilo que consentempagar á laia decompensação por suportarum custo. Esta interrogaçãofaz-se por inquérito, com aajuda de questionário ouentão por interrogaçãoexperimentalemlaboratório.Faucheux e Noel (1997)ainda ressaltam que o entrevistado,ao tentar responder às perguntas,fará uma avaliação do que seria oaumento ou diminuição do preço deum bem se existisse um mercadopara sua transação.O Método de ValoraçãoContingente é aplicado para extrairuma medida monetária, evidenciadapor meio de questionários, quetende a refletir as preferênciasexpostas por consumidores,relativas ao acréscimo da melhoriado bem-estar social, da qualidade devida, trabalhada em um cenáriohipotético que pretende supor que oativo ambiental em melhorescondições pode alterar ascaracterísticas de existência de certobem ambiental.Para calcular da DAP médiaindividual, são utilizados os dadoscoletados por meio dequestionários, estimando a médiados valores citados. Para o cálculoda Disposição a Pagar Total daPopulação (DAPT), utiliza-se a DAPmédia individual multiplicada pelaestimativa da população do universoda amostra. Para tanto, faz-se usoda seguinte fórmula.em que:DAPM = disposição a pagar média;ni = número de entrevistadosdispostos a pagar;N = número total de pessoasentrevistadas;i = um dos intervalos separados; en = número de intervalos separados.O Método de ValoraçãoContingente requer um esforçoamplo, no que diz respeito aotratamento dos dados coletados pormeio de questionário. É essencialdefinir com precisão o bem naturalque irá fazer parte do cenáriohipotético e analisar qual é a suaimportância para a sociedadequanto aos aspectos econômicos eaos de melhoria no bem-estarpopulacional.Arrow et al (1993) e Motta(2006) identificaram importantestipos de vieses que podem afetar aconfiabilidade da pesquisa e que,portanto, devem ser minimizadoscom o aperfeiçoamento doformulário. Pode-se citar comoexemplo: racionalidade dosindivíduos; improbidade dasrespostas; dificuldade deentendimento dos entrevistadossobre o que lhes está sendoquestionado para valorar, máelaboração do instrumento decoleta de dados, etc.Além disso, os mesmosautores apresentam algumasdiretrizes que podem minimizar osvieses da entrevista, como, porexemplo: aplicar procedimentosestatísticos para calcular a amostra aser pesquisada; efetuar coleta dedados, utilizando entrevista portelefone, correspondência oupessoalmente; qualificar osentrevistadores de forma a nãointerferir no livre-arbítrio dosentrevistados; empregar a forma depagamento e não de compensação;descrever detalhadamente o bemvalorado; realizar pré-testes, etc.METODOLOGIAEste trabalho caracterizousepor três tipos de pesquisa:bibliográfica, descritiva e de campo.A pesquisa bibliográfica foi oprimeiro passo para iniciar o estudo.Este tipo de pesquisa consiste emselecionar estudos relacionados aotema em questão, informaçõesexistentes em livros e revistas.A pesquisa descritiva foiutilizada para identificar asprincipais características da regiãode Malacacheta e de sua população,como escolaridade, renda mensal,idade, etc. Para Gil (1991), apesquisa descritiva visa a descreveras características de determinadapopulação ou fenômeno ouestabelecer relação entre variáveis.Por fim, a pesquisa decampo norteou o trabalho no queRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 26 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 1- Sexo versus idade dos entrevistadosIdadeSexoMasculinoFemininoTotal20 a <strong>25</strong> anos 37 67 10426 a 35 anos 29 30 5936 a 45 anos 23 34 5746 a 55 anos 18 24 4<strong>25</strong>6 a 65 anos 3 6 9Mais de 65 anos 4 5 9Total 114 (40,7%) 166 (59,3%) 280diz respeito aos objetivos, pois, apartir dela, foram coletados osdados que serviram de base paraalcançar os objetivos inicialmentepropostos.Segundo Marconi e Lakatos(1996), a pesquisa de campo érealizada após o estudobibliográfico, a fim de que opesquisador tenha um bomconhecimento acerca do assunto,visto que é nesta etapa que sedefinem os objetivos da pesquisa, ashipóteses, o meio mais adequadopara a coleta de dados, o tamanhoda amostra e como os dados serãotabulados e analisados.A pesquisa foi realizada emMalacacheta, Minas Gerais,localizada no Vale do Mucuri.Segundo dados do IBGE (2009), omunicípio possui uma populaçãoestimada de 18.181 habitantes euma área de 730,90 km 2 . Seu relevopredominante é o montanhoso.Embora seja bastante acidentada, acidade não possui elevações muitoconsideráveis. O córrego temnascente na Grota do Bugre,atravessa a cidade e recebe quasetodo o esgoto urbano, juntamentecom o lixo que muitos moradores alidepositam.Para definir a amostra dapesquisa, foi utilizada a fórmula parapopulação finita, uma vez que onúmero de habitantes do municípiode Malacacheta não excede o limitede 100.000 habitantes. Assim, afórmula adotada foi:em que:n = tamanho da amostra;σ 2 = nível de confiança escolhidoexpresso em número de desviopadrão;p = percentagem de sucesso o qual ofenômeno se verifica;q = percentagem complementar oude fracasso (100-p);N = tamanho da população; ee 2 = erro máximo permitido.O erro estimado para aamostra foi de 6%, com dois desviospadrões, configurando um intervalode confiança de 95%, comprobabilidade de ocorrência (p) de0,5. Logo, (q) também é 0,5,totalizando 280 questionários.Os dados foram coletadospor meio de questionárioselaborados de forma que pudessemcaptar informações socioeconômicasdos entrevistados, bem como a DAPindividual referente ao Córrego dosÍndios. Os questionários foramaplicados a 280 pessoas, de formaaleatória, no período de 01 a 18 denovembro de 2010.Para identificar a DAP dapopulação, associada às variáveisque melhor pudessem explicá-la, foiutilizada a seguinte função:em que:DAP D = disposição a pagar pelarecuperação do Córrego dos Índios(variável dummy);Ii = idade dos indivíduos;Ri = nível de renda dos indivíduos; eei = erro aleatório ou perturbaçãoestocástica.Os dados coletados foramanalisados com um nível deconfiança de 95%, o que implica umdesvio padrão com uma margem deerro de 6%. Os dados foramtabulados utilizando o programaSPSS 15.0 for Windows.RESULTADOS E DISCUSSÕESEstatística DescritivaPara melhor compreensãodos resultados obtidos, tratar-se-á, aseguir, dos principais pontos dapesquisa em questão, na qual sebuscou estimar a DAP individual epopulacional, por meio dequestionários aplicados na cidade deMalacacheta, MG, a fim de estimar ovalor de uso do Córrego dos Índios.Conforme a Tabela 1, amaioria dos entrevistados são dosexo feminino, um percentual de59,3%, enquanto o sexo masculinotem um percentual de 40,7% dototal de respondentes. Cerca de40,36% das mulheres, assim como amaioria dos entrevistados (37,14%),estão na faixa etária de 20 a <strong>25</strong>anos.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 27 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 2 - Escolaridade dos entrevistadosEscolaridade Frequência PercentualPercentual AcumuladoAnalfabeto <strong>12</strong> 4,3 4,31º grau completo 15 5,4 9,61º grau incompleto 40 14,3 23,92º grau completo 101 36,1 60,02º grau incompleto 32 11,4 71,4Superior completo 36 <strong>12</strong>,9 84,3Superior incompleto 35 <strong>12</strong>,5 96,8Especialização 9 3,2 100,0Total 280 100,0Tabela 3 - Profissão dos entrevistadosProfissão Frequência PercentualPercentualAcumuladoProfissional liberal 44 15,7 15,7Empresário 11 3,9 19,6Comerciário 16 5,7 <strong>25</strong>,4Estudante 30 10,7 36,1Dona de casa 14 5,0 41,1Funcionário(a) público(a) 60 21,4 62,5Doméstico 16 5,7 68,2Pensionista 7 2,5 70,7Militar 15 5,4 76,1Desemprego 4 1,4 77,5Outras 63 22,5 100,0Total 280 100,0Tabela 4 - Renda pessoal dos entrevistadosRenda Pessoal Frequência PercentualPercentualAcumuladoAté R$ 560,00 158 56,4 56,4R$ 561,00 a R$ 1.000,00 55 19,6 76,1R$ 1.001,00 a R$ 2.000,00 37 13,2 89,3R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00 19 6,8 96,1Acima de R$ 3.000,00 11 3,9 100,00Total 280 100,0No ambiente da pesquisa,conforme a Tabela 2, pode-seperceber que, dos entrevistados,36,1% possuem o 2º grau completo,<strong>12</strong>,9% curso superior completo e<strong>12</strong>,5% ainda estão realizando ocurso superior. Conclui-se, portanto,que a maioria dos entrevistados(71,4%) completou o 2º grau e nãodeu continuidade aos estudos,porém há um agravante: 14,3%, nãoconcluíram o 1º grau. Um possívelmotivo para isto seria a necessidadede iniciar o trabalho muito cedo embusca de aumentar a renda familiar,impossibilitando a continuidade dosestudos.Segundo os dados daTabela 3, 22,5% dos entrevistadosenquadram-se em outras profissões,onde estão contabilizados osRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 28 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 5 - Renda familiar dos entrevistadosRenda Familiar Frequência PercentualPercentualAcumuladoAté R$ 560,00 24 8,6 8,6De R$ 561,00 a R$ 1.000,00 93 33,2 41,8De R$ 1.001,00 a R$ 2.000,00 94 33,6 75,4De R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00 39 13,9 89,3Acima de R$ 3.000,00 30 10,7 100,0Total 284 100,0Nº de pessoas nafamíliaTabela 6 - Renda familiar versus número de pessoas na família dos entrevistadosRenda FamiliarAté R$ 560,00 R$561,00 a R$1.000,00R$ 1.001,00 a R$2.000,00R$ 2.001,00 a R$3.000,00Acima de R$3.000,002 a 4 pessoas 20 59 48 26 22 1755 a 7 pessoas 4 33 40 <strong>12</strong> 8 978 a 10 pessoas 0 1 6 1 0 8Total 24 93 94 39 30 280TotalTabela 7 - Gastos mensais dos entrevistadosGastos Mensais Gasto Médio Mensal PercentualAlimentação R$ 331,95 41,00Moradia R$ 42,43 5,24Lazer R$ 57,05 7,05Transporte R$ 67,39 8,32Educação R$ 82,60 10,20Água R$ 43,54 5,38Luz R$ 67,27 8,32Telefone R$ 37,23 4,60Saúde R$ 80,09 9,89Total R$ 809,55 100aposentados e demais trabalhadoresdo comércio. Em seguida, nota-seque 21,4% dos entrevistados sãoservidores públicos. Taisinformações retratam bem o cenáriodo ambiente da pesquisa, onde acirculação do capital ocorre,principalmente, por meio dosservidores públicos e aposentados,os quais geralmente recebem pormês um salário mínimo. Entre osentrevistados, percebe-se tambémque o nível de desempregados foibaixo, representando apenas 1,4%.Dos entrevistados, 56,4%apresentaram uma renda pessoal deaté R$ 560,00, fato este que podeser comprovado também pelaTabela 3, que expõe a situaçãoprofissional da população. A Tabela3 mostra que a maioria dosentrevistados são servidorespúblicos ou enquadram-se emoutras profissões, que são em suamaioria aposentado ou funcionáriodo comércio, recebendo em médiaum salário mínimo, o quepossivelmente explica os resultadosobtidos na Tabela 4.A renda familiar dosentrevistados, de acordo com aTabela 5, está entre R$ 1.001,00 eR$ 2.000,00, com um percentual de33,6%. Logo em seguida está a rendaentre R$ 561,00 e R$ 1.000,00,correspondendo a 33,2%, sendo que75,4% da população de MalacachetaRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 29 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 1 - Conhecimento da existência da rede de tratamento de esgoto38%SimNão62%Figura 2 - Esgoto da residência despejado no córrego41%59%SimNãopossuem renda familiar de R$560,00 a R$ 2.000,00.De acordo com a Tabela 6,ao comparar-se a renda familiar coma quantidade de indivíduos queresidem com cada um dosentrevistados, pode-se concluir quea maioria deles convivem com pelomenos 2 pessoas em sua residência,sendo que a maior concentração derenda dessas famílias está entre R$561,00 e R$ 1.000,00, o querepresenta 63,44% do total deentrevistados.Conforme a Tabela 7, osdispêndios com alimentaçãoocupam o maior espaço noorçamento mensal dosentrevistados, que gastam, emmédia, R$ 331,95, ou seja, 41% dadespesa total que correspondem aR$ 809,55. Em contrapartida, osgastos com moradia sinalizam umaparcela pequena do total, com umpercentual de 5,24%, indicando quea maioria dos entrevistados possuicasa própria. Os gastos com água,luz e telefone, se somados,representam 18,30% do total dosgastos. Já os gastos com saúde,representam praticamente 10% dadespesa mensal, em média, cerca deR$ 80,09.Contudo, neste aspecto,acredita-se que, se existisse umapolítica pública ou um projeto derevitalização do rio, seria possível àpopulação reduzir os gastos comsaúde, uma vez que o rio poluídotraz uma série de doenças para asociedade.Ao ser questionada sobreos riscos que a poluição do Córregodos Índios pode proporcionar àsociedade, a maioria dosentrevistados os reconhece, isto é,98% dos respondentes. Assim,verifica-se que eles conhecem orisco e têm consciência de que épreciso preservar, mas argumentamque faltam políticas públicas eprojetos capazes de iniciar soluçõessustentáveis, que favoreçam apopulação, trazendo melhoria nobem-estar social.Foi possível identificar que97% dos entrevistados concordamque a existência de um projeto derecuperação do Córrego dos Índiospossibilitaria uma melhoria no bemestarda população. Por outro lado,apenas 3% disseram não concordarque um projeto de revitalização docórrego possa provocar melhora nobem-estar da populacional.Com relação ao ambienteda pesquisa, pode-se notar,conforme Figura 1, que há umadúvida, por parte dos moradores,quanto à existência de uma estaçãode tratamento de esgoto emMalacacheta. De fato, o municípioconta com a estação, porém ela nãofuncionaefetivamente.Possivelmente esta informaçãoexplique melhor o resultado obtido.Assim, apesar da existência daestação, 38% dos entrevistadosresponderam que desconhecem oRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 30 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 8 – Cruzamento de dados entre risco da poluição e destino do esgoto da residência dos entrevistadosRisco da Poluição do Córrego Esgoto da Residência TotalSimNãoSim 163 111 274Não 3 3 6Total 166 114 280Figura 3 – Percentual da população de Malacacheta com e sem DAP15%Com DAPSem DAP85%Tabela 9 - Cruzamento de dados entre a DAP e o sexo dos entrevistadosSexoDAP (R$)MasculinoFemininoTotal0,00 95 143 2381,00 1 0 11,99 1 0 <strong>12</strong>,00 1 1 <strong>25</strong>,00 2 4 610,00 2 3 515,00 1 0 <strong>12</strong>0,00 2 4 6<strong>25</strong>,00 1 2 330,00 2 4 636,00 0 1 150,00 3 4 7100,00 2 0 21000,00 1 0 1Total 114 166 280fato. Por outro lado, 62% afirmaramque têm conhecimento do serviço.Com base na Figura 2,pode-se perceber que a maioria dosentrevistados, 59%, têm sua rede deesgoto despejada no Córrego dosÍndios e o restante tem seu esgotodespejado em fossas.A maioria dosentrevistados, 98%, conhece o riscode poluição que o esgoto representapara o Córrego dos Índios, noentanto, 59,49% dos queresponderam “sim” para o risco dapoluição têm sua rede de esgotoRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 31 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 10 - Cruzamento de dados entre a DAP e a renda pessoal dos entrevistadosRenda PessoalDAP(R$)Até R$560,00De R$ 561,00 aR$ 1.000,00De R$ 1.001,00 aR$ 2.000,00De R$ 2.001,00 aR$ 3.000,00Acima de R$3.000,00Total0,00 140 43 34 13 8 2381,00 0 0 0 1 0 11,99 0 0 0 1 0 <strong>12</strong>,00 0 0 1 1 0 <strong>25</strong>,00 3 2 1 0 0 610,00 1 3 0 1 0 515,00 0 1 0 0 0 <strong>12</strong>0,00 3 0 1 0 2 6<strong>25</strong>,00 2 0 0 1 0 330,00 3 2 0 0 1 636,00 1 0 0 0 0 150,00 4 3 0 0 0 7100,00 1 0 0 1 0 21000,00 0 1 0 0 0 1Total 158 55 37 19 11 280ObrigaçãodaprefeituraTabela 11 - Motivos da indisposição a pagar dos entrevistadosMotivosNão tem Não tem Não Outrascondições interesse pela responderamfinanceiras preservação168 39 1 42 30 280Percentual 60 13,9 0,4 15 10,7 100Totaldespejada no Córrego, conformeTabela 8.Pode-se perceber pelaFigura 3 que 85% da população deMalacacheta não possuem nenhumadisposição a pagar para arecuperação do Córrego dos Índios eapenas 15% possui alguma DAP, quevariou de R$ 1,00 a R$ 1.000,00.Conforme a Tabela 9,fazendo uma análise da DAP versus avariável sexo, do total que não sedispõe a pagar nenhum valor (85%),a maioria é do sexo feminino,correspondendo a 60,08%.Pela Tabela 10, o maiorpercentual daqueles que nãopossuem disposição a pagarconcentra-se nos entrevistados queapresentaram a renda pessoal maisbaixa, ou seja, em que a renda é deaté R$ 560,00 (88,61%). Já dosentrevistados que possuem rendaacima de R$ 3.000,00 e que teriamcondições financeiras de colaborarcom algum valor para a recuperaçãodo Córrego dos Índios, apenas 1,1%contribuiria com alguma quantia, aqual varia de R$ 20,00 a R$ 30,00 e2,9% (08) destes entrevistados comcondições financeiras paracontribuir optaram por não fazernenhum pagamento. Isto pode serexplicado pela falta de umaeducação ambiental no que serefere à preservação e àrecuperação dos recursos naturais.A Tabela 11 demonstra quea maioria dos entrevistados napesquisa consideram que aresponsabilidade pela recuperação emanutenção do Córrego dos Índios éexclusiva da prefeitura; 13,9%afirmaram que não possuemcondições financeiras para talcontribuição; 0,4% não se preocupaem recuperar e preservar osrecursos naturais; 15% nãoresponderam qual foi o motivo dafalta de disposição a pagar; e 10,7%apresentaram outros motivos nãolistados na pesquisa.Ao analisar-se a relaçãoentre renda pessoal e o motivo paranão pagar nenhum valor (Tabela <strong>12</strong>),pode-se perceber que 36,8% dosque responderam que não pagariamnenhum valor possuem renda de atéR$ 560,00. Porém, o motivo de nãoquerer pagar está atrelado àRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 32 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Renda PessoalTabela <strong>12</strong> - Renda pessoal versus motivos da DAP dos entrevistadosObrigaçãoda prefeituraNão temcondiçõesfinanceirasMotivosNão teminteresse pelapreservaçãoNãorespondeuOutrasAté R$560,00 103 30 1 18 6De R$561,00 a R$ 1.000,00 32 6 0 11 6De R$ 1.001,00 a R$ 2.000,00 <strong>25</strong> 2 0 3 7De R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00 5 1 0 6 7Acima de R$ 3.000,00 5 0 0 2 4Total 170 39 1 40 30 280TotalTabela 13 - Motivos da disposição a pagar dos entrevistadosMotivos Frequência PercentualPercentualAcumuladoNão tem disposição e motivo a pagar 240 85,7 85,7Melhoria do bem-estar 15 5,4 91,1Melhoria da saúde da população 7 2,5 93,6Preservação do córrego dos Índios 7 2,5 96,1Preservação do meio ambiente 8 2,9 98,9Evitar dengue e pernilongo 1 0,4 99,3Bem estar das gerações futuras 2 0,7 100,0Total 280 100,0Tabela 14 - Resultado do modelo de regressão linearVariáveis Beta Padronizado T P-valorConstante (DAP) 0,192 3,781 0,000Idade -0,195 -3,293 0,001Renda mensal pessoal 0,136 2,303 0,022N = 280 R 2 ajustado = 0,042 α = 5% P-valor = 0,001percepção de que esta é umaobrigação da prefeitura. Partindodessa análise, tem-se que, apesar denão terem condições para acrescerum valor mensal ao seu orçamento,mesmo que seja um valor irrisório,60,7% dizem que a preservação domeio ambiente é responsabilidadeexclusiva do poder público.Conforme a Tabela 13, dototal de entrevistados, apenas 40pessoas (14,3%) tiveram algumadisposição a pagar, sendo que destetotal 5,4% justificaram que pagariamalgum valor em virtude da melhoriado bem-estar populacional. Amelhoria da saúde e a preservaçãodo córrego tiveram o mesmopercentual (2,5%). O bem-estar dasgerações futuras foi apenas 0,7%.Percebe-se, desse modo, que osentrevistados ainda não conhecem oconceito de desenvolvimentosustentável.Análise de Regressão Linear para aDisposição a PagarO método de MínimosQuadrados Ordinários (MQO) foiutilizado para estimar o modelo dedisposição a pagar. Inicialmente, éimportante destacar que foi aplicadosobre o modelo o teste de varianceinflation factor (VIF) com opropósito de confirmar a existênciaou não de multicolinearidade, ouseja, se havia valores superiores a 10(GUJARATI, 2006). Dentre osmodelos testados, o linear foi o queapresentou melhor ajuste e asvariáveis que possuíam algum graude correlação elevada foramexcluídas.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 33 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Assim, com o intuito deidentificar as variáveis que melhorexplicam as oscilações na DAP,gerou-se um modelo de regressãolinear, que apresentou um R 2ajustado de 0,042, ou seja,aproximadamente 4,2% da variaçãona DAP estão sendo explicadosconjuntamente pelas variáveisincluídas no modelo (idade e rendamensal pessoal). Os resultadosobtidos podem ser visualizados naTabela 14.Pode-se perceber que, a umnível de significância de 5%, avariável que mais explica adisposição a pagar da população deMalacacheta para a recuperação doCórrego dos Índios foi a idade dosentrevistados. O sinal negativoapresentado por esta variáveldemonstra que o aumento na idadedo indivíduo reduz a suaprobabilidade de pagamento. Assim,o resultado indica que os indivíduosmais jovens apresentam maiorpossibilidade de pagar pelarecuperação do Córrego estudado. Omotivo disso pode estar associadoao fato de os jovens serem maisconscientes em relação às questõesambientais.A variável renda pessoal,incluída no modelo, apresentou sinalde acordo com o esperado, sendodiretamente proporcional àdisposição a pagar dos entrevistadospela recuperação do córrego emquestão. Diante disso, um aumentoem uma unidade da renda individualelevará a disposição a pagar em R$0,136.Com base nos resultados, omodelo de disposição a pagar pelarecuperação do Córrego dos Índiosde Malacacheta pode ser expressopela equação seguinte:Com base na equaçãoanterior, estimou-se uma DAP médiaindividual de R$ 43,07. Após sercalculada a DAP média pela função,foi possível calcular a DAP médiapopulacional, que apresentou umvalor de R$ 117.458,35 mensal. Aoestimar-se o valor anual, obtêm-seum montante de R$ 1.409.500,20.Caso a população realmentecontribuísse, este valorrepresentaria uma receita quepoderia ser utilizada pelo poderpúblico na recuperação do Córregodos Índios.CONSIDERAÇÕES FINAISO objetivo deste estudo foiidentificar junto à população deMalacacheta, MG, a disposição apagar para a recuperação doCórrego dos Índios. Com base noobjetivo proposto e nos resultadosalcançados, pode-se perceber aexistência de uma externalidadenegativa, quando o esgoto damaioria da população é despejadono corrégo, portanto, isso geraprejuízo para a sociedade, semcompensação.O valor da DAP individualmédia identificada foi de R$ 43,07.Apesar de os entrevistadospossuírem uma renda pessoalmensal de até R$ 560,00, o principalmotivo alegado por aqueles que nãose dispuseram a pagar nenhum valorfoi o de que esse tipo de projeto derecuperação do córrego é deobrigação do poder público. Mesmoaqueles que tinham renda superior aR$ 560,00 responderam que aquelaera uma obrigação do poder públicoe até especificaram que já pagavamimpostos altos e taxas exageradas,como a taxa de tratamento deesgoto que é cobrada na cidade.Apesar de existir umaestação, que possivelmente tratariao esgoto da população, ela nãofunciona efetivamente na prática.Além disso, pode-se observar quegrande parte dos entrevistadosapresentou certa indignação, pois,os resultados obtidos mostram queos moradores conhecem os riscosque a poluição traz e concordamque a existência de um projetopoderia melhorar o bem-estarsocial. Esse fato identifica que apopulação tem consciência dasurgências da preservação do meioambiente, embora não secomprometa com elas.Com base na DAP individualmédia, foi possível identificar umaDAP populacional de R$1.409.500,20 por ano. Esse valorrepresenta a receita total que opoder público teria para recuperar oCórrego, caso os entrevistadoscontribuíssem efetivamente para oprojeto no período de um ano.Percebe-se a importânciada criação de políticas públicas quesejam capazes de levar à populaçãomais conhecimento sobre aimportância da recuperação e dapreservação dos recursos naturais.REFERÊNCIASALVES, Guilherme de Lima. Efeitosdas queimadas sobre o bem-estardas Famílias no Tocantins: umaaplicação do método de avaliaçãocontingente. 2010. 89 f. Dissertação(Mestrado em DesenvolvimentoRegional e Agronegócio) -Universidade Federal do Tocantins,Tocantins, 2010. Disponível em:.Acesso em: 15 nov. 2010.ARROW, Kenneth et al. Report ofthe NOAA panel on contingentvaluation. 1993. Disponível em:. Acesso em: 29 jun.20<strong>12</strong>.BARBISAN, Ailson Oldair et al.Aplicação do método da avaliaçãocontingente através da técnica dedisposição a pagar em área ocupadairregularmente no município dePasso Fundo, RS. Teoria e Prática naRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 34 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


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Análise temporal da cobertura do solo na zona deamortecimento de reserva biológicaTemporal analysis of soil cover in the buffer zone of biological reserveRESUMOA Reserva Biológica Municipal da Serra do Japi abriga um importanteremanescente florestal da Mata Atlântica, no interior do estado de SãoPaulo. Pela sua importância ecológica, foram criados instrumentos para agestão ambiental e territorial da Unidade de Conservação, com aregulamentação do uso e ocupação do solo na sua Zona de Amortecimento(ZA), em 2004. O objetivo do presente trabalho foi analisar a evolução dacobertura das terras na região da ZA da Reserva Biológica Municipal da Serrado Japi, em Jundiaí-SP, entre 1989 e 2010. Empregou-se nesse estudo aanálise de imagens do satélite LANDSAT-TM5, com o auxilio dos softwaresIDRISI e ILWIS. Os resultados mostraram que a ocupação urbana aumentou37,47% e as áreas agropastoris e de reflorestamento diminuíram 36,62% e72,22% respectivamente; enquanto as áreas de mata aumentaram 49,57%.Todavia, a importância relativa da área de mata na ZA variou de 46,60%, em1989, a 69,71%, em 2010, levando-se a conclusão de que essa região foifavorecida pelas mudanças na cobertura do solo, no período avaliado,apesar da forte pressão pela expansão urbana no seu entorno.PALAVRAS-CHAVE: Sensoriamento remoto; gestão ambiental; unidade deconservação.ABSTRACTThe Municipal Biological Reserve of Serra do Japi shelters an importantforest remnant of Atlantic Rainforest in the state of São Paulo. For itsecological importance, were created instruments for environmental andterritorial management of the Conservation Unit, with the regulation of theuse and occupation of the land in its Buffer Zone (BZ) in 2004. The objectiveof this study was to analyze the evolution of the land cover in the BZ regionof the Municipal Biological Reserve of Serra do Japi in Jundiaí-SP, between1989 and 2010. It was used in this study the image analysis of the satelliteLANDSAT-TM5, with the help of software ILWIS and IDRISI. The resultsshowed that urban occupation has increased 37.47% and the agro pastoraland reforestation areas have decreased 36.62% and 72.22% respectively,while forest areas have increased 49.57%. However, the relative importanceof the forest area in BZ ranged from 46.60% in 1989 to 69.71% in 2010,leading to the conclusion that this region was favored by changes in landcover in the period evaluated, despite strong pressure for urban expansion inits surroundings.Felipe Hashimoto FenglerEngenheiro Ambiental, Mestrandodo Programa de Pós Graduação emAgricultura Tropical e Subtropical –Instituto Agronômico de Campinas– IAC, Campinas, SP, Brasilfelipe_fengler@hotmail.comAlexandre Marcos SilvaEcólogo, Professor da UniversidadeEstadual Paulista – UNESP, Campusde Sorocaba, Sorocaba, SP, Brasilamsilva@sorocaba.unesp.brAfonso Peche FilhoEngenheiro Agrônomo, PesquisadorCientífico do Centro de Engenhariae Automação - IAC, Jundiaí, SP,Brasilpeche@iac.sp.gov.brMoisés StorinoEngenheiro Agrônomo, PesquisadorCientífico do Centro de Engenhariae Automação - IAC, Jundiaí, SP,Brasilstorino@iac.sp.gov.brAdmilson Irio RibeiroEngenheiro Agrícola, Professor daUniversidade Estadual Paulista –UNESP, Campus de Sorocaba,Sorocaba, SP, Brasiladmilson@sorocaba.unesp.br.Gerson Araujo de MedeirosEngenheiro Agrícola, Professor daUniversidade Estadual Paulista –UNESP, Campus de Sorocaba,Sorocaba, SP, Brasilgerson@sorocaba.unesp.brKEYWORDS: Remote sensing; environmental management; conservationunit.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – <strong>Setembro</strong> de 20<strong>12</strong> 37 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


INTRODUÇÃOA Serra do Japi é umremanescente florestal da MataAtlântica no interior do Estado deSão Paulo. A riqueza de suabiodiversidade está relacionada àsua localização em uma regiãoecotonal, ou seja, local de encontrode dois tipos de florestas da MataAtlântica sendo uma característicada Serra do Mar e a outra referenteà Mata Atlântica do interior paulista.Devido à heterogeneidadeda vegetação, à presença de umgrande número de riachos e àtopografia da região, tem-se comoconsequência uma grandequantidade de ecossistemasprovenientes dos microclimas. Adiversidade de microclimas e davegetação abriga e alimenta a fauna,criando um equilíbrio delicado entreas várias formas de vida aliexistentes (MORELLATO, 1992).Sua importância naconservação da fauna silvestreestadual não se reduz apenas àpreservação de populações locaisdas espécies presentes na área.Como um dos únicos remanescentesde floresta Atlântica do planaltopaulista, ela é fundamental para oestabelecimento de corredores defauna entre os blocos de matapreservados das serranias do litorale do complexoCantareira/Mantiqueira, e tambémna ligação com remanescentesmenores e mais isolados do interior,como a Floresta Nacional doIpanema (AMBIENTAL CONSULTING,2008).Considerando a crescentedemanda de recursos hídricos doestado de São Paulo, a Serra do Japise destaca como uma importanteprodutora de água pela presença deum grande número de nascentes emseu território.Em consonância com apaisagem, a referida Serra seapresenta de grande importânciapara a região. Sua feiçãogeomorfológica, a oeste do PlanaltoAtlântico, constitui um relevomontanhoso que se destaca na facesudoeste do município propiciandouma cênica de rara beleza àpopulação.Sua localização entre áreasurbanas densamente povoadas,atividades ligadas à exploração demadeira e de minérios, e a ocupaçãopor loteamentos obrigaram aadministração pública a criarinstrumentos para a preservação daSerra do Japi.A partir da década de 60 seiniciaram as políticas públicasvoltadas para a proteção doterritório. Na década de 70 aAdministração Pública de Jundiaísolicitou ao Conselho de Defesa doPatrimônio Histórico, Arqueológico,Artístico e Turístico (CONDEPHAAT)o desenvolvimento de estudosvisando o tombamento do território,que ocorreu em 8 de março de1983. Em 1984 parte das áreasurbana e rural dos municípios deJundiaí e Cabreúva foi decretadaÁrea de Proteção Ambiental.Em 1991 foi criada aReserva Biológica Municipal da Serrado Japi, pela Lei Municipal 3.672 de10/01/1991, a qual foiregulamentada em 1992, por meioda Lei Municipal 13.196 de30/<strong>12</strong>/1992. Em 2004 foi criado oSistema de Proteção das Áreas daSerra do Japi, pela Lei Municipal 417de 29/<strong>12</strong>/2004, que definiu o seuterritório de gestão, além deregulamentar o uso e ocupação daZona de Amortecimento da ReservaBiológica.Apesar da existência dosmecanismos de proteção, previstosna legislação, Mattos (2006) destacaque as pressões caracterizadas pelademanda de cunho urbano, pelaadministração pública e pelainiciativa privada avolumam fatoresindesejáveis para as áreasambientalmente protegidas. Asupressão da fauna silvestre, aocupação por loteamentosirregulares e clandestinos, aalteração da quantidade e qualidadedos corpos d’água, a insuficiência dogerenciamento dos resíduos sólidose a fragmentação das áreasambientalmente protegidas podemafetar de forma significativa a Serrado Japi.Neste contexto, é crucial oestudo da dinâmica espacial etemporal para a avaliação dasmudanças no uso e ocupação doterritório de áreas protegidas pelalegislação ambiental, além doentendimento da forma como osfatores históricos, jurídicos,políticos, administrativos e sociaisinfluenciam tais mudanças.A tecnologia de informaçãoconhecida como Sistema deInformação Geográfica (SIG)possibilita o aprofundamento nasmais diversas áreas doconhecimento, permitindo avisualização e modelagem espacial etemporal de diversas variáveis,sejam ambientais, econômicas ousociais. Atualmente essa tecnologiaé disponibilizada a um baixo custo ecom interfaces amigáveis, tornandoaacessível à grande parte dapopulação (CÂMARA e FELGUEIRAS,2002).Partindo da premissa básicade que é possível utilizar o SIG noentendimento da evolução espaçotemporaldo uso e ocupação do solona Serra do Japi, o presente trabalhoapresenta como objetivo analisar asalterações da cobertura do solo naregião da Zona de Amortecimentoda Reserva Biológica da Serra do Japino município de Jundiaí - SPutilizando Sistemas de InformaçãoGeográfica, no período de 1989 a2010.MATERIAIS E MÉTODOSCaracterização da área de estudoA área de estudo constitui aZona de Amortecimento da ReservaBiológica da Serra do Japi (ZA),situada no município de Jundiaí,estado de São Paulo, entre ascoordenadas 23°00’ e 23°38’S,46°75’ e 47°00’O (Figura 1).A região é delimitada pelaRodovia dos Bandeirantes, RodoviaDom Gabriel Paulino Bueno Couto epela Avenida Antônio Piccinato,sendo subdividida em Zona deRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 38 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 1. Localização de área de estudo dentro do limite municipal, estadual e nacional. Fonte: (IBGE, 2003 apudMATTOS, 2006).Figura 2. Divisão da Zona de Amortecimento da Reserva Biológica da Serra do Japi em 2010.Conservação Ambiental da TerraNova, Zona de ConservaçãoAmbiental da Ermida e Zona dePreservação, Restauração eRecuperação Ambiental (Figura 2).Sua hidrografia éconstituída pelos Rios Tietê,Jundiuvira, Guapeva e Jundiaífazendo parte da zona hidrográficado Médio Tietê Superior.A área possui altitudemédia de 762 m, máxima de 1.290,6m e mínima de 673,6 mapresentando clima fortementeestacional, com uma estação quentee chuvosa e outra seca e fria.O clima das partes baixas daSerra do Japi, pela classificação deKoppen, corresponde aomesotérmico úmido sem estiagem(Cfa), com temperatura média domês mais quente superior a 22 o C.Nas partes altas da serra o climacorresponde ao Cfb, comtemperatura média do mês maisquente inferior a 22 o C (RODRIGUES,1986).Levantamentos de informações eanálisesForam utilizados dadosdigitais do satélite LANDSAT-5,sensor TM, obtidos junto ao sítio doInstituto Nacional de PesquisasEspaciais (INPE, 2011), sendoRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 39 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


adquiridas duas cenas,correspondentes às datas14/08/1989 e 24/08/2010, na órbita219, ponto 76.Para mapear o território daZona de Amortecimento foramutilizadas informações contidas nodocumento “Plano de Manejo daReserva Biológica da Serra do Japi”,referente à Zona de Amortecimentoe Corredores Ecológicos(AMBIENTAL CONSULTING, 2008).Realizou-seogeorreferenciamento dos dados noprograma IDRISI ®pelo processo dereamostragem, empregando-secomo referência espacial o softwareGOOGLE EARTH ® .As áreas de interesse,correspondentes aos polígonos daZona de Amortecimento, Zonas deConservação Ambiental da Ermida eTerra Nova, Zona de Preservação,Restauração e RecuperaçãoAmbiental e Reserva Biológica,foram mapeadas e ajustadas pormeio do programa ILWIS ® , versão3.3.Reduziu-se a dimensão dascenas através do comando“OVERLAY” do software IDRISI ® ,delimitando a região compreendidaao norte pela Rod. Dom GabrielPaulino Bueno Couto, a leste a Rod.dos Bandeirantes e a oeste e sulpelo limite da zona deamortecimento. Realizou-se oprocesso de realce, em todas asbandas, nas duas datas, por meio doaumento linear de contraste,denominado “STRETCH”.Analisou-se a ocupação dosolo com o auxilio do programaGOOGLE EARTH ® , para a definiçãodas classes de cobertura. Nadefinição das classes e das legendasutilizaram-se as diretrizes propostasno “Manual Técnico de Uso daTerra” (IBGE, 2006).Foram definidas seteclasses para as cenas de 1989 e2010: classe “Áreas urbanas”,correspondendo às áreas ocupadaspor construções e residências; classe“Áreasagropastoris”,correspondendo às áreas ocupadaspor pastagens e culturas agrícolas;classe“Reflorestamento”,correspondendo às áreas ocupadaspor plantio ou formação de maciçoscom espécies florestais exóticas,como pinus e eucalipto; classe“Mata”, correspondendo a áreasocupadas por vegetação natural emestágio médio e maduro dedesenvolvimento; classe “Corposd’água”, correspondendo aoscórregos e lagos; classe “Solosexpostos”, correspondendo às áreasde mineração e áreas degradadas;classe “Sombra”, correspondendo àsáreas sombreadas em função dorelevo e da posição do Sol nomomento de captura da imagem.Para a definição das bandasda composição colorida utilizou-secomo referencia Moreira (2007).Nesse aspecto, foram escolhidas asbandas 3 (vermelho), 4(infravermelho-próximo) e 5 (infravermelho-médio)por apresentaremas informações espectraisnecessárias para a realização doestudo.Para a obtenção dacomposição colorida optou-se pelautilização da banda 3 na saída doazul, da banda 5 na saída do verde eda banda 4 na saída do vermelho,gerando um melhor contraste.Utilizando o programaIDRISI ®realizou-se o cálculo doÍndice de Vegetação por DiferençaNormalizada “NDVI” para minimizaras diferenças nas condições deiluminação da cena e ressaltar aassinatura espectral dos alvos,facilitando a separação do padrãoespectral das classes de coberturado solo. O índice é calculado atravésda razão espectral das bandas dovermelho e do infravermelhopróximo, da seguinte forma:Onde:Banda 3 – Resposta espectral dabanda do vermelho (µm);Banda 4 – Resposta espectral dabanda do infravermelho próximo(µm).- (1)Aplicou-se a análise decomponentes principais para asbandas 1, 2, 3, 4, 5 e 7 utilizando oprograma IDRISI ® , com o objetivo derealçar as feições comuns às bandas.Segundo Eastman (1998) aanálise de componentes principais(PCA) consiste na transformação deum conjunto de bandas de imagemem um novo conjunto de imagens,conhecidas como componentes, queestão descorrelacionadas umas comas outras e que são ordenadas emtermos da variância do conjunto debandas original.As primeiras duas ou trêscomponentes explicam virtualmentetoda a variabilidade original nosvalores de refletância e as últimascomponentes tendem a serdominadas por efeitos de ruído.Foi realizada a normalizaçãodos dados de NDVI e PrincipaisComponentes entre 0 e <strong>25</strong>5 pormeio do aumento linear decontraste, denominado “STRETCH”.Na escolha do classificadorutilizou-se como referência Iwai(2003), com a adoção da abordagemsupervisionada pelo método damáxima verossimilhança (MAXVER),baseada na teoria de probabilidadeBayesiana.Através da interpretaçãovisual da composição colorida foramselecionadas amostras referentes acada classe de cobertura do solo.Realizou-se a comparação daassinatura espectral de cada classede cobertura nas bandas 1, 2, 3, 4, 5e 7, no NDVI e nos principaiscomponentes 1 e 2 para a seleçãodas bandas utilizadas no processo declassificação das cenas. Foramempregadas as bandas 4, 5 e 7, osegundo componente principal e oNDVI.A inclusão do conhecimentoprévio no procedimento declassificação foi realizada conformeEastman (1998). Determinou-se afrequência relativa com a qual cadaclasse de cobertura do solo mudoucom relação a cada uma das outrasclasses, entre 1989 e 2010.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 40 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 3. Imagens de uso e ocupação. ( a ) ponto n° 10, ocupação urbana; ( b ) ponto n° 6, pastagem; ( c ) ponton° 17, vegetação natural; ( d ) ponto n° 18, pastagem.Tabela 1. Classes de qualidade do índice Kappa (LANDIS; KOCH, 1977)Faixa de valores de KappaQualidade< 0,0 Péssima0,0 - 0,2 Ruim0,2 - 0,4 Razoável0,4 - 0,6 Boa0,6 - 0,8 Muito Boa0,8 – 1,0 ExcelenteUtilizou-se como referênciao trabalho de Bueno (2008) para adeterminação das probabilidadesfuturas, através da cadeia deMarkov. O classificador foialimentado com os resultadosobtidos, gerando os mapas decobertura do solo de 1989 e 2010.A avaliação da precisão dosmapas obtidos no processo declassificação supervisionada foirealizada com o auxilio do programaGOOGLE EARTH ® e visitas ao campo.A concordância entre a realidadelocal e a carta temática foi avaliadapelo índice “Kappa” (MOREIRA,2007).Foram coletados 42 pontosaleatórios para a determinação dascoordenadas geográficas utilizandoum GPS da marca Eagle, modeloExplorer, sendo alguns apresentadosna Figura 3.O valor obtido através doíndice “Kappa” foi comparado einterpretado com a classificaçãoproposta por Landis e Koch (1977)(Tabela 1), permitindo confirmar ainterpretação das diferentes formasde cobertura do solo na regiãoestudada.RESULTADOS E DISCUSSÃODurante a etapa degeorreferenciamento obteve-se umerro médio quadrático de 11,7mpara a cena de 2010, e de 13,1mpara a cena de 1989. Estes valoressão considerados aceitáveis paraimagens obtidas através doLANDSAT-5, sensor TM (EASTMAN,2003).Nas Figuras 4 e 5 sãoapresentados os gráficos dasassinaturas espectrais das amostrasselecionadas para as classes decobertura. As classes de cobertura“Reflorestamento” e “Mata” foramsubdivididas nas subclasses:“Reflorestamento 1” e”Reflorestamento 2” ; “Mata 1” e“Mata2”; em função dos diferentespadrões espectrais observados nainterpretação da composiçãocolorida.Nota-se na Figura 4, naregião do visível (b1, b2 e b3), aexistência de quatro padrõesespectrais distintos, não sendopossível diferenciar “Corpos d’água”das “Áreas agropastoris” e as classesRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 41 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 4. Assinatura espectral das amostras selecionadas para a imagem de 1989, sendo que b1, b2, b3, b4, b5 e b7correspondem as bandas 1; 2, 3, 4 ,5 e 7 respectivamente; pc_1 corresponde ao principal compenente 1; e pc_2corresponde ao principal componente 2.Figura 5. Assinatura espectral das amostras selecionadas para a imagem de 2010, sendo que b1, b2, b3, b4, b5 e b7correspondem as bandas 1; 2, 3, 4 ,5 e 7 respectivamente; pc_1 corresponde ao principal compenente 1; e pc_2corresponde ao principal componente 2.correspondentes a “Mata”,“Reflorestamento” e “Sombra”. Adiferenciação entre as classes de“Mata” e “Reflorestamento” ocorrenas bandas 4, 5 e 7. Na banda 4 opadrão espectral das “Áreasagropastoris” e da “Mata” sãosimilares, porém se diferenciam nasbandas 5 e 7. O NDVI mostradiferenças na assinatura espectraldos “Corpos d’água” e “Sombra”.As amostras referentes às“Áreas urbanas”, “Áreasagropastoris” e “Solos expostos”apresentam assinaturas espectraisdistintas no Principal Componente 2.Todavia, a resolução espacial dascenas e a presença de áreas urbanaspouco consolidadas, como chácaras,pesqueiros e loteamentos;impossibilitou a seleção de amostrasreferentes às “Áreas urbanas” naregião da Zona de Amortecimento.Nesse caso, foram selecionadasamostras de áreas consolidadaslocalizadas na região de entorno daZona de Amortecimento.No processo declassificação essas áreas foramerroneamente classificadas como“Áreas agropastoris” sendonecessária a delimitação manual das“Áreas urbanas” através dainterpretação da imagem e ediçãovetorial no programa ILWIS ® .Na Figura 5 observam-secinco padrões espectrais distintos naregião do visível, não sendo possíveldiferenciar “Mata” de“Reflorestamento”. As bandas 4, 5 e7 apresentaram comportamentosimilar ao da Figura 4. Já o NDVImostra diferenças na assinaturaespectral da maioria das classes, nãodiferenciando as “Áreas urbanas” e“Solo exposto”.No principal componente 2observam-se diferenças naassinatura espectral das “Áreasurbanas”, “Áreas agropastoris” e“Solos expostos”, porém noprocesso de classificação as “Áreasurbanas” foram erroneamenteRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 42 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 6. Cobertura do solo da Zona de Amortecimento da Reserva Biológica da Serra do Japi em 1989.Figura 7. Cobertura do solo da Zona de Amortecimento da Reserva Biológica da Serra do Japi em 2010.classificadas, sendo necessária suaRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 43 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 2. Distribuição da cobertura do solo e percentual de ocorrência (%) nos anos de 1989 e 2010 na Zona deAmortecimento da Reserva Biológica da Serra do Japi.Classe de Cobertura do solo Área (ha) %1989 2010 1989 2010Áreas agropastoris 4240,34 2687,32 35,50 22,50Áreas urbanas 97,19 133,61 0,81 1,<strong>12</strong>Corpos d'água 17,44 <strong>25</strong>,89 0,15 0,22Mata 5567,41 8327,38 46,60 69,71Reflorestamento 1688,69 469,06 14,14 3,93Solo exposto 99,62 105,91 0,83 0,89Sombra 235,56 197,08 1,97 1,65Total11946,<strong>25</strong> 11946,<strong>25</strong> 100,00 100,00classificadas, sendo necessária suadelimitação manual.Para a validação do modelode cobertura do solo obteve-se ovalor do índice Kappa de 0,77, o qualrepresenta uma qualidade “muitoboa” segundo Landis e Koch (1997).As Figuras 6 e 7 apresentamo modelo da cobertura do solo naregião da Zona de Amortecimento,nos anos de 1989 e 2010respectivamente. A área das classesde cobertura e a porcentagem daZona de Amortecimento ocupadapor cada classe são apresentadas naTabela 2. Observa-se apredominância da classe “Mata” nosanos estudados. Em 1989 as áreasde “Mata” ocupavam 46,60% daárea total, já em 2010 passaram aocupar 69,71% da ZA. A classe com asegunda maior ocupaçãocorresponde às “Áreasagropastoris”, ocupando 35,50% daZona de Amortecimento em 1989 e22,50% em 2010.A Tabela 2 mostra adiminuição da importância relativado “Reflorestamento” na ZA, de14,14% em 1989 para 3,93% em2010. As pequenas variações nasclasses “Sombra” e “Corpos d’água”sugerem que a classificação foiadequada.Os solos expostosapresentaram um aumento de6,31% no período avaliado, porémesse valor é de pouca expressão emrelação ao território total da ZA,correspondendo á 0,06%. Já as áreasurbanas apresentaram um aumentode 37,47%, entre 1989 e 2010,todavia essa ocupação representauma pequena importância relativana área da ZA, correspondendo a0,81% em 1989 e 1,<strong>12</strong>% em 2010.Os dados apresentadossugerem uma tendência deregeneração da vegetação natural,entre 1989 e 2010, com asubstituição das “Áreasagropastoris” e do“Reflorestamento” pela vegetaçãonatural. Nesse período, a áreareferente ao reflorestamentosomada às atividades agropastorisfoi reduzida de 5929,03 ha para3156,38 ha, correspondendo a umadiminuição de 46,76%. Essa área foiparcialmente substituída pela“Mata”, a qual variou de 5567,41 haa 8327,38 ha, no período de 1989 e2010, correspondendo a umaumento de 49,57%.A Figura 8 mostra aevolução da área de mata entre1989 e 2010. Nessa Figura a classe“Mata Remanescente” representa asregiões onde a floresta natural semanteve entre 1989 e 2010; a classe“Mata Regenerante” representa asregiões onde ocorreu orestabelecimento da vegetaçãonatural e a classe “Áreasdesmatadas” representa as regiõesonde à vegetação natural foisubstituída por outras classes de usoe ocupação do solo.Nota-se que as áreas derestabelecimento da vegetaçãonatural e as áreas desmatadas seconcentram na porção sudeste daZona de Amortecimento. As áreas demata remanescente se concentrampróximas à região norte e leste daReserva Biológica e na região sul daZona de Amortecimento.Cerca de 277,19 ha da áreaocupada pela mata, em 1989, foiretirada. Contudo, a regeneração daárea de mata alcançou 3037,16 ha,no período de 1989 a 2010.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 44 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Apesar dessa regeneraçãoda vegetação natural, o processonão ocorreu com a mesmaintensidade em todas as regiões daZona de Amortecimento. Na regiãonorte a pressão urbana dos bairrosadjacentes, Jardim do Aeroporto eEloy Chaves, aliada a presença deatividades agropastoris consolidadaspodem explicar a menor incidênciade áreas regeneradas.A região de divisa entre aRod. dos Bandeirantes e a Zona deAmortecimento também apresentaum processo de regeneração demenor intensidade. Os impactos daoperação da Rodovia tais comoincêndios, concentração deenxurrada e poluição, podemexplicar a maior dificuldade nono processo de regeneração,principalmente na região próxima aReserva Biológica da Serra do Japi. Adiminuição das atividades desilvicultura e agropecuária pode terfavorecido o restabelecimento damata natural.As alterações na Zona deAmortecimento podem seratribuídas à intervenção política daprefeitura do município, por meio daLei complementar municipal n.º 417.As exigências legais podem tercontribuído para a diminuição daatividade antrópica na região econsequentemente para orestabelecimento da florestanatural.Existem diferentesrestrições entre as áreas queA Tabela 3 mostra a áreadas classes de cobertura na ZPRRA ea importância relativa de cadaclasse. Essa região constitui a partemais preservada da Zona deAmortecimento, com apredominância da classe “Matas” noperíodo analisado, atingindo4444,79 ha (63,44% da ZPRRA) em1989, e 6161,35 ha (87,94% daZPRRA) em 2010. As áreasagropastoris e de reflorestamentosconstituem as outras classes maisrepresentativas, observando-se umpadrão de decréscimo semelhanteentre as duas classes, nos anos de1989 a 2010.As alterações entre 1989 e2010 na Zona Proteção Restauraçãoe Recuperação Ambiental sãoFigura 8. Evolução das áreas de mata entre 1989 e 2010 na Zona de Amortecimentoda Reserva Biológica da Serra do Japi.restabelecimento da vegetaçãonatural.Mesmo com uma maiorconcentração de “Áreas urbanas” e“Áreas desmatadas” na porçãosudeste da Zona de Amortecimento,observa-se uma maior intensidadeconstituem a Zona deAmortecimento. Na Zona dePreservação, Restauração eRecuperação Ambiental (ZPRRA) oprocesso de ocupação e uso do soloé mais restrito, o que pode explicara maior regeneração observada.positivas para a Unidade deConservação (UC). Orestabelecimento da vegetaçãonatural e a diminuição dasocupações antrópicas, contribuírampara a formação de uma zonatampão ao redor da UC, prevenindo-Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 45 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 3. Distribuição da cobertura do solo e percentual de ocorrência (%) em relação a área total da Zona de Preservação,Restauração e Recuperação Ambiental (ZPPRA) da Serra do Japi nos anos de 1989 e 2010.Classe de Cobertura do solo Áreas (ha) %1989 2010 1989 2010Áreas agropastoris 1075,42 344,62 15,35 4,92Áreas urbanas 10,16 11,33 0,15 0,16Corpos d’água 1,89 3,14 0,03 0,04Mata 4444,79 6161,37 63,44 87,94Reflorestamento <strong>12</strong>36,80 286,90 17,65 4,09Solo exposto <strong>12</strong>,86 10,43 0,18 0,15Sombra 224,77 188,90 3,21 2,70Total 7006,69 7006,69 100,00 100,00Tabela 4. Distribuição da cobertura do solo e percentual de ocorrência (%) em relação a área total das Zonasde Conservação Ambiental (ZCAs) da Reserva Biológica da Serra do Japi nos anos de 1989 e 2010.Classe de Cobertura do solo Áreas (ha) %1989 2010 1989 2010Áreas agropastoris 3164,92 2342,70 64,07 47,43Áreas urbanas 87,03 <strong>12</strong>2,28 1,76 2,48Corpos d’água 15,55 22,75 0,31 0,46Mata 1<strong>12</strong>2,62 2166,01 22,73 43,85Reflorestamento 451,89 182,16 9,15 3,69Solo exposto 86,76 95,48 1,76 1,93Sombra 10,79 8,18 0,22 0,17Total 4939,56 4939,56 100,00 100,00a dos impactos causados pelaocupação humana.A Tabela 4 mostra a áreadas classes de cobertura nas Zonasde Conservação Ambiental (ZCA) e asua porcentagem de ocupação paracada classe. Observa-se apredominância das atividadesagropastoris, as quais atingiram umaárea de 3164,92 ha em 1989 e2342,70 ha em 2010. A segundaclasse com maior percentual deocupação é a “Mata”, que variou de1<strong>12</strong>2,62 ha, em 1989, para 2166,01ha, em 2010, o que representa umaelevação de 92,94%.A substituição das áreas“Agropastoris” e deRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 46 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


“Reflorestamento” pelas áreas de“Mata” ocorreu com maiorintensidade na região sul e de formamenos acentuada nas regiões nortee nordeste. A ocupação urbana ébem superior em relação aquelaobservada na Zona de Preservação,Restauração e RecuperaçãoAmbiental. Os dados revelam que asáreas urbanas expandiram de 87,03ha em 1989 para <strong>12</strong>2,28 ha em2010, o que equivale a uma variaçãode 40,50%.Apesar do restabelecimentoda vegetação natural nas Zonas deConservação Ambiental, o processoé menos intenso do que oobservado na ZPPRA, pois asexigências legais menos restritaspromovem uma maior pressão naregião, pela expectativa deocupação urbana e manutenção dasatividades agropastoris.A região norte da ZCA,denominada Zona de ConservaçãoAmbiental da Ermida, apresenta asáreas agropastoris que fazem divisacom a Reserva Biológica, nas regiõesnordeste e noroeste, locais em que aUnidade de Conservação ficasusceptível aos impactos negativosoriundos das atividades humanas.CONCLUSÕESOs métodos aplicados e osresultados obtidos possibilitaram oestudo da cobertura do solo, pormeio da análise comparativa dasimagens de satélite de 1989 e 2010.A classificação mostrou-seadequada para as finalidades destetrabalho, o que permitiu adeterminação da variação dacobertura do solo.Os resultados mostramdiferenças evolutivas após duasdécadas de ocupação, concluindo-seque a Unidade de Conservação foifavorecida pelo aumento das áreasde mata, na ordem de 50%.Demonstra-seaimportância da implementação depolíticas públicas na gestãoambiental municipal.Apesar dos aspectospositivos observados, as áreasnoroeste e nordeste da ReservaBiológica se apresentam ameaçadaspelas atividades antrópicasrelacionadas com a produçãoagropecuária.AGRADECIMENTOSOs autores agradecem aoCentro de Engenharia e Automaçãodo Instituto Agronômico – IAC pelaconcessão de bolsa de estágio aoprimeiro autor, o que possibilitou arealização desse trabalho.REFERÊNCIASAMBIENTAL CONSULTING. Plano deManejo: Reserva BiológicaMunicipal da Serra do Japi.Prefeitura de Jundiaí. 2008.Disponível em:. Acesso em:02 de Junho de 2011.BUENO, F. Cadeias de Markov:Práticas e Aplicações. Aranguá,Santa Catarina. 2008. Disponívelem:. Acesso em30 de <strong>Setembro</strong> de 2010.CÂMARA, G. FELGUEIRAS, C. A.Análise Espacial eGeoprocessamento: análise espacialde dados geográficos. São José doscampos: INPE, 2002. Disponível em:. Acessoem: 02 de Junho de 2011.EASTMAN, J. R. Idrisi Kilimanjaro –User’s manual. Clark University –USA, 2003.IBGE. Manual Técnico de Uso daTerra. 2° edição, Rio de Janeiro.2006. Disponível em. Acesso em: 02 deJunho de 2011.INPE. Catalogo de Imagens. Brasil.2011. Disponível em:.Acesso em: 21 de setembro de 2011.LANDIS, J.R. KOCH, G.G. Themeasurement of observeragreement for categorial data.Biometrics, v.33, p.159-174, 1977.MATTOS, E. C. A. Dinâmica espaçotempodo uso e ocupação das terrasna região de entorno à área urbanade Jundiaí/SP: implicações futurasna reserva biológica da serra do japi.2006. 176 f. Dissertação (Mestradoem Geografia) – Instituto deGeociências, Universidade Estadualde Campinas, São Paulo, 2006.IWAI, O. K. Mapeamento do suo dosolo urbano do município de SãoBernardo do Campo. Através deimagens de satélites. 2003. 116 f.Dissertação (Mestrado emEngenharia e Transportes) –Departamento de Engenharia detransportes. Escola Politécnica daUniversidade de São Paulo, SãoPaulo, 2003.MORELLATO, L.P.C. Introdução. In:Morellato, L.P.C. (org) Histórianatural da Serra do Japi: ecologia epreservação de uma área florestalno sudeste do Brasil. Editora daUnicamp, Campinas. 1992.MOREIRA, M. A. Fundamentos dosensoriamento remoto emetodologias de aplicação. 3ªedição - Viçosa: UFV, 307 p., 2007.RODRIGUES, R.R. Levantamentoflorístico e fitossociológico dasmatas da Serra do Japi, Jundiaí, SP.Dissertação (Mestrado em CiênciasBiológicas) – Instituto de Biologia,Universidade Estadual de Campinas,São Paulo, 1986.Recebido em: out/2011Aprovado em: nov/20<strong>12</strong>Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 47 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Adsorção de íons Cu (II), Mn (II), Zn (II) e Fe (III), utilizando rejeitode mineração de carvão como adsorventeAdsorption of Cu(II), Mn(II), Zn(II) And Fe(III) Ions Using Coal Mining Waste As AnAdsorbentRESUMOO presente trabalho teve como objetivo realizar estudos de adsorção deíons Cu (II), Mn (II), Zn (II) e Fe (III), utilizando rejeito de mineração de carvãocomo adsorvente. Rejeitos de mineração de carvão foram coletados emminas da região carbonífera do sul de Santa Catarina e caracterizadosatravés da análise elementar (CHNS) e análise termogravimétrica (TGA). Orejeito foi submetido à calcinação (800 o C, por 1 hora) para obtenção dosóxidos, cujos resultados indicaram a presença majoritária de SiO 2 , Al 2 O 3 eFe 2 O 3 . O rejeito calcinado foi utilizado em estudos de adsorção de íons Cu(II), Mn (II), Zn (II) e Fe (III) em solução aquosa. Os resultados permitiramindicar que a adsorção dos íons de metais foi dependente do pH da solução.O modelo de pseudo segunda-ordem foi o que melhor correlacionou osdados cinéticos experimentais para todos os íons de metais estudados. Aisoterma de Langmuir forneceu o melhor ajuste para os dados de adsorçãoexperimental dos íons, revelando a capacidade máxima de adsorção de1,963 mg g -1 para Mn (II), 0,907 mg g -1 para Zn (II), 0,434 mg g -1 para Fe (III) e0,240 mg g -1 para Cu (II). A partir dos dados de adsorção, obteve-se aeficiência de remoção de 64% a 89% para Mn (II), 42 % a 78% para Zn (II),<strong>12</strong>% a 33% para Fe (III) e 16% a 30% para Cu (II). A partir dos resultadosobtidos, concluiu-se que o rejeito de mineração de carvão poderia serutilizado como um possível adsorvente para remoção de metais emambientes aquáticos contaminados.PALAVRAS-CHAVE: rejeito de mineração de carvão; adsorção, íons demetais.ABSTRACTThis study aimed to investigate the adsorption of Cu(II), Mn(II), Zn(II) andFe(III) ions using coal mining waste as an adsorbent. Samples of coal miningwaste were collected from mines in the carboniferous region of the south ofSanta Catarina, Brazil and characterized through the elementary analysis(CHNS) and thermogravimetric analysis (TGA). The waste was calcinated(800 o C, during 1 hour) to obtain the metal oxides. The results showed thatthe presence of majority oxides as SiO 2 , Al 2 O 3 and Fe 2 O 3 . The calcinatedwaste was used in studies on the adsorption of Cu (II), Mn (II), Zn (II) and Fe(III) ions in aqueous solutions. The results showed that the adsorption ofmetal ions is dependent on the solution pH. The pseudo second-ordermodel gave the best fit for the kinetic data for all metal ions studied. TheLangmuir isotherm model provided the best fit for the experimentaladsorption data for these ions, revealing maximum adsorption capacities of1.963 mg g -1 for Mn (II), 0.907 mg g -1 for Zn (II), 0.434 mg g -1 for Fe (III) and0.240 mg g -1 for Cu (II). The removal efficiency was 64% to 89% for Mn (II),42% to 78% for Zn (II), <strong>12</strong>% to 33% to Fe (III) and 16 to 30% % for Cu (II). Inconclusion, the results indicate that this coal mining waste is a potentialadsorbent for the removal of metals in aquatic environments contaminated.KEYWORDS: coal mining waste; adsorption; metal ions.Reginaldo GeremiasProfessor do Curso de CiênciasRurais na Universidade Federal deSanta Catarina, CampusCuritibanos, SC, Brasilreginaldogeremias@gmail.comRogério LausDoutor em Química naUniversidade Federal de SantaCatarina, Florianópolis, SC, Brasilrogeriolaus@hotmail.comValfredo Tadeu de FávereProfessor do Departamento deQuímica na Universidade Federal deSanta Catarina, Florianópolis, SC,Brasilvtfavere@gmail.comRozangela Curi PedrosaProfessora do Departamento deBioquímica na Universidade Federalde Santa Catarina, Florianópolis, SC,Brasilrozangelapedrosa@gmail.comRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – <strong>Setembro</strong> de 20<strong>12</strong> 48 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


INTRODUÇÃOA atividade antrópica tempromovido impactos sobreecossistemas, principalmente emdecorrência da geração de resíduospotencialmente tóxicos, os quais sãocapazes de atingir diferentesmatrizesambientais,comprometendo a sua qualidade.Dentre os contaminantes,encontram-se os metais, os quaistêm recebido atenção especial, emvirtude da sua elevada toxicidadepara uma ampla variedade deorganismos, mesmo emconcentrações extremamente baixas(ENGIN et al., 2010; SHAKER,HUSSEIN, 2005). As fontes deemissão de efluentes contendometais são diversas, podendo-sedestacar as atividades de mineraçãode carvão, termoelétricas,galvanoplastia, fabricação debateria, curtume entre outras(AMARAL, BERNARDES, 2011;BABEL, KURNIAWAN, 2004; DAKIKYet al., 2002).O tratamento clássico deefluentes industriais contendo íonsmetálicos envolve processosquímicos e físicos de precipitação,troca iônica, filtração pormembranas, extração de solventes,osmose reversa, eletrodeposiçãoentre outros. Entretanto, a maioriadestes métodos demanda elevadosrecursos financeiros e se mostraineficaz na remoção de metaispotencialmentetóxicos,principalmente em concentraçõestraços. Desta forma, métodosalternativos estão sendoinvestigados, tais como eletrodiálise,ultracentrifugação e adsorção(JIANG et al., 2010; POPURI et al.,2009; JIMENEZ, BOSCO, CARVALHO,2004; GOMEZ-SALAZAR et al., 2003;PRASAD, SAXENA, AMRITPHALE,2002; SPINELLI, LARANJEIRA,FÁVERE, 2004).Atualmente, a adsorção éuma das opções mais eficazes eeconômicas, sendo amplamenteutilizada para remoção de cor, odor,poluentes orgânicos e, emparticular, íons metálicos tóxicos emsistema de tratamento de efluentesindustriais e na purificação de águas(OLUYEMI, OYEKUNLE, OLASOJI,2009; NGAH, ENDUD, MAYANAR,2002; SCHMUHL, KRIEG, KEIZER,2001). O emprego de processo deadsorção é decorrente,principalmente, da facilidade deoperação, baixa geração de resíduose reutilização do adsorvente(BENASSI et al., 2006; GURNANI,SING, VENKATARAMANI, 2003;PESAVENTO, BALDINI, 1999).O uso de rejeito demineração de carvão submetido àcalcinação tem sido descrito comomaterial alternativo para a adsorçãode íons metálicos como Cu (II), Mn(II), Zn (II) e Fe (III) presentes emefluentes gerados na mineração docarvão, tendo-se obtidos sucessonos resultados. Sugere-se que osóxidos de metais presentes norejeito calcinado (ex: SiO 2 , Al 2 O 3 eFe 2 O 3 ) seriam capazes de atuarcomo adsorventes por atração eletrostáticae forças dipolo-dipolo, emdecorrência da presença de cargassuperficiais (GEREMIAS et al., 2008).O emprego destes rejeitos comoadsorvente é de suma importânciasob o ponto de vista econômico eambiental, uma vez que não sãovalorizados e constituem em umadas principais fontes decontaminação oriundos da atividadecarbonífera.Entretanto, são necessáriosmaiores estudos dos fatores quepodem influenciar na capacidade deadsorção do rejeito. Para tanto,pode-se empregar modelos cinéticose de isotermas que permitem avaliarfatores como o efeito datemperatura, tempo de contato dealcance do equilíbrio, concentraçãodos íons, quantidade de adsorvente,quantidade adsorvida em função daconcentração, entre outros(FUNGARO, IZIDORO, 2008; LAUS,FÁVERE, 2011).Partindodestespressupostos é que presentetrabalho propôs realizar estudos deadsorção de íons Cu (II), Mn (II), Zn(II) e Fe (III), através de modeloscinéticos e de isoterma, tendorejeito de mineração de carvãocalcinado como material adsorvente.MATERIAIS E MÉTODOSSoluções de íons metálicosAs soluções padrões detrabalho dos íons Cu (II), Mn (II), Zn(II) e Fe (III) foram preparadas apartir de soluções estoques de 1000mg L -1(Titrisol Merck), utilizandoágua bidestilada. Todos os reagentesutilizados foram de grau analítico.Preparação do adsorventeAmostras de rejeitos demineração de carvão (1kg) foramcoletados em empresa mineradorasituada na região carbonífera do sulde Santa Catarina, Brasil. Os rejeitosforam peneirados, usando peneirasde 40 mesh, de forma a se obtergranulometria mais homogênea. Asamostras de rejeito foramsubmetidas à análise elementar deCarbono, Hidrogênio, Nitrogênio eEnxofre (CHNS), utilizando-seanalisador elementar CEInstruments- modelo CHNS EA 1100.Foi também efetuada a análisetermogravimétrica (TGA) do rejeito,utilizando-se um analisadortermogravimétrico SHIMADZU –modelo TGA-50, sendo determinadaa perda de massa e a temperatura aser empregada na sua calcinaçãopara a obtenção dos óxidos demetais. Posteriormente, fez-se acalcinação do rejeito por 1 h a 800 o Cem forno Mufla Jung modeloDigimec BTC 9090 para a eliminaçãoda matéria orgânica e de sulfetos eobtenção de óxidos de metais. Acaracterização dos óxidos de metaisobtidos foi realizada, utilizando-sedifratômetro Philips modelo X’ Pert,com radiação CuKal (l=1,54056 Å) egerador de raio-X operado em 40 kVe 30 mA.Estudos de adsorçãoRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 49 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Os ensaios de adsorção dosíons Cu (II), Mn (II), Zn (II) e Fe (III)utilizando rejeito calcinado comoadsorvente foram realizados embatelada, usando banhotermostástico a <strong>25</strong> o C, com agitaçãode <strong>25</strong>0 rpm em incubadora minishaker Marconi modelo MA 832. Aconcentração dos íons nos estudosde adsorção foi determinada porEspectrometria de AbsorçãoAtômica em Chama (FAAS),utilizando-se espectrômetroHITACHI – modelo Z8230 equipadocom corretor de fundo por efeitoZeeman, atomizador ar-acetileno eóxido nitroso-acetileno e lâmpadade cátodo oco dos metais.A quantidade de íonsadsorvida foi determinada,empregando-se a Equação 1, onde qé quantidade de íons adsorvido noequilíbrio (mg g -1 ), C 1 é aconcentração inicial de íons emsolução (mg L -1 ), C e é a concentraçãode íons em solução no equilíbrio (mgL -1 ), V é o volume da solução (L) e mé a massa do adsorvente (g) (JUSTI,2006).q(C0 −e) V= (1)CmEfeito do pH na adsorçãoO estudo para avaliar adependência do pH na adsorção dosíons de metais foi conduzido comtampões KCl/HCl (pH = 3), ácidoacético/acetato de sódio (pH= 4, 5 e6) e tris/hidroximetil/aminometano(pH = 8), os quais são comumenteempregados para manter constanteo pH da solução e evitar aprecipitação dos metais. Alíquotasde <strong>25</strong> mL de solução 10 mg L -1deMn (II), Cu(II) e Zn (II) foramtamponadas nos diferentes valoresde pH e colocadas em contato com200 mg do adsorvente por umperíodo de 24 horas. Ressalta-se quenão foi realizado o efeito do pH naadsorção do Fe (III) em função de serum cátion ácido e sofrer hidrólisecom formação da espécie Fe(OH) 3(sólido) em pH acima de 2,5.Cinética de adsorçãoA cinética de adsorção dosíons de metais foram realizadas emerlenmeyer fechado contendo 100mL de soluções de metais naconcentração fixa de 10 mg L -1 ,tamponadas em pH ótimo (Cu (II) =5,0 ; Mn (II) = 8,0; Zn (II) = 7,0; Fe(III) = 1,4), os quais foram obtidos apartir do efeito do pH, e colocadasem contato com 4,0g do adsorvente.Alíquotas de 100 µL dosobrenadante das amostras foramretiradas em diferentes intervalos detempo, diluídas em balãovolumétrico e as concentrações dosíons foram determinadas por FAAS.O mecanismo cinético que controlao processo de adsorção foi avaliado,empregando-se os modelos depseudo primeira-ordem (Equação 2)e pseudo segunda-ordem (Equação3), onde k 1 e k 2 são as constantes develocidade da adsorção de pseudoprimeira-ordem e pseudo segundaordem,respectivamente, q t é aquantidade adsorvida no tempo t eq e é a quantidade adsorvida noequilíbrio. A velocidade inicial deadsorção (h o ) foi determinadaatravés dos valores de q e e k 2 ,empregando a Equação 4. A validadedesses modelos foi interpretada pelalinearidade dos gráficos log(q e -q t ) vs.t e (t/q t ) vs. t, respectivamente (WU,LIN, CHEN, 2004).k1log(qe− qt) = log qe− t2.303tq1k q1+q(2)= t(3)2t 2 e eh = (4)20k2qeIsotermas de adsorçãoNos ensaios de equilíbrio deadsorção dos íons de metais foramutilizados erlenmeyers fechadoscontendo 50 mL de soluções demetais em concentrações variadas,tamponadas em pH ótimo ecolocadas em contato com 2g doadsorvente até atingir o equilíbriode adsorção. Após atingir oequilíbrio, alíquotas de 100 µL dasolução foram retiradas dosobrenadante e diluídas em balõesvolumétricos, sendo asconcentrações dos metaisdeterminadas por FAAS.Os modelos de isoterma deLangmuir (Equação 5) e deFreundlich (Equação 6) foramtestados para a interpretação dosdados de adsorção, onde q m é aquantidade máxima de íonsadsorvidos, C e é a concentração deíons em solução no equilíbrio, K ads (Lmg -1 ) é a constante de equilíbrio deadsorção, K F [(mg g -1 ) (L mg -1 ) 1/n ] é aconstante de Freundlich e b F(adimensional) é o fator que indica aheterogeneidade da superfície doadsorvente (JUSTI, 2006).qqKCm ads ee= (5)1+KadsCebq = K C F(6)eFeRESULTADO E DISCUSSÃOCaracterização do rejeitoOs resultados obtidos naanálise elementar (CHNS) do rejeitode mineração não calcinadoindicaram uma percentagem médiade C = 29,42 ± 0,08 %, H= 2,67 ± 0,16%, N = 0,73 ± 0,03 % e S= 1,96 ± 0,59%. Na análise termogravimétrica(TGA,) constatou-se que otermograma apresentou três picosprincipais de perda de massa: oprimeiro em 479,09 o C e o segundoem 573,14 o C, somando uma perdade 29,70%, e o terceiro em867,96 o C com uma perda de 2,29%,perfazendo um total de 32,60% deRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 50 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


0.20 0,200.15 0,15Cu(II)Mn(II)Zn(II)q (mg g -1 )0.10 0,100.05 0,050.00 0,003 4 5 6 7 8pHFigura 1. Efeito do pH na adsorção de íons de metais.[Cu 2+ ] = [Mn 2+ ] = [Zn 2+ ] =10 mgL -1 ; temperatura = <strong>25</strong>ºC; tempo decontato = 24 horas; velocidade de agitação = <strong>25</strong>0 rpm; massa de adsorvente = 200 mg.perda de massa. O termogramaindicou que a temperatura de 800 o Cseria suficiente para a eliminação dematéria orgânica e sulfetosobservados na análise elementar,com consequente obtenção dosóxidos majoritários. Os resultadosobtidos da caracterização do rejeito,após a sua calcinação, permitiramindicar a presença majoritária dosóxidos SiO 2 , Al 2 O 3 e Fe 2 O 3 .Estudos de adsorçãoOs mecanismos deadsorção de íons metálicos(adsorvatos) em uma superfíciesólida (adsorvente) podem ser deordem física ou química. Naadsorção física, a interação entreadsorvato e adsorvente ocorreatravés de forças de van der Wallsou interações dipolo-dipolo, comvalores de entalpia de adsorção (∆H)inferiores a 20 KJ mol -1 . Na adsorçãoquímica ou quimissorção, oadsorvato interage ao adsorventeatravés de ligações químicascovalentes e se acomodam em sítioscom o maior número decoordenação, sendo o ∆H muitomaior do que na adsorção física,assumindo valores superiores 20 KJmol -1 . De um modo geral, a adsorçãoquímica é um processo exotérmico eespontâneo (à temperaturaconstate), onde a energia livre (∆G)do sistema é negativa (MCKAY,1996).O mecanismo de adsorçãopode ser descrito, basicamente, portrês etapas consecutivas: naprimeira etapa ocorre atransferência de massa externa demoléculas do soluto em soluçãopara a superfície do adsorvente; nasegunda etapa há a difusão dosoluto para o interior do adsorventejunto aos seus sítios de adsorção; naterceira etapa ocorre a adsorçãopropriamente dita. As etapas detransferência de massa e de difusãodo soluto são as determinantes navelocidade de adsorção, enquantoque a última etapa não oferecenenhuma resistência ao processo.Enquanto a transferência de massaocorre em alguns minutos, a difusãodo soluto pode levar algumas horas,constituindo a principal etapa doprocesso de adsorção, devida àestrutura interna altamentedesenvolvida do adsorvente, comum complexo de poros e canaisrecobrindo inteiramente a partícula(MCKAY, 1996).Os parâmetros preliminaresque devem ser verificados para aavaliação de um adsorvente são acapacidade e a afinidade doadsorvente pelo adsorvato e otempo para o sistema alcançar oequilíbrio, os quais podem seravaliados através de estudo deequilíbrio de adsorção e estudoscinéticos.O processo de adsorção dosíons de metais em solução dependede vários fatores, incluindo-se aconcentração do adsorvato,quantidade de adsorvente, pH,tamanho de partícula, porosidade,área superficial, tempo de contato etemperatura. Em nossosexperimentos, foi utilizado rejeito demineração de carvão calcinadocomo adsorvente, sendo avaliada ainfluência de alguns destes fatoressobre o processo de adsorção, cujosRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 51 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


1.2 1,21.0 1,0Cu (II)Mn (II)Zn (II)Fe (III)0.8 0,8C t/C 00.6 0,60.4 0,40.2 0,20 20 40 60 80Tempo(h)Figura 2. Cinética de adsorção dos íons de metais. [Cu 2+ ] = [Mn 2+ ]= [Zn 2+ ]= [Fe 3+ ] =10 mg L -1 ; Cu (II) pH= 5,0; 72 h; Mn (II)pH = 8,0; 72 h; Zn (II) pH = 7,0; 24 h; Fe (III) pH= 1,4; 72 h. temperatura = <strong>25</strong>ºC; velocidade de agitação = <strong>25</strong>0 rpm; massade adsorvente = 4,0 g.resultados e discussão estãodescritos a seguir.Efeito do pHO efeito do pH na adsorçãodos íons de metais pelo adsorventeestá ilustrado na Figura 1. Pode-seobservar que a adsorção dos íonsaumentou com o pH da solução,vindo a atingir o máximo deadsorção em pH = 5,6 para Cu (II),pH = 7,8 para Zn (II) e pH = 8,3 paraMn (II). Ressalta-se que para oensaio com Cu (II) foram utilizadosvalores de pH


Tabela 1. Parâmetros cinéticos de adsorção de íons de metaisMetal Pseudo primeira-ordem Pseudo segunda-ordemq e exp. q e calc.(mg g -1 ) (mg g -1 )k 1q e exp. q e calc.k 2h o(min -1 )(mg g -1 ) (mg g -1 ) (g mg -1 min -1 ) (mg g -1 min -1 )Mn(II) 0,177 0,083 0,068 0,177 0,178 4,<strong>25</strong>5 0,13Cu(II) 0,038 0,056 0,040 0,057 0,056 4,133 0,01Fe(III) 0,135 0,045 0,026 0,135 0,134 4,572 0,08Zn(II) 0,147 0,074 0,489 0,147 0,150 17,968 0,40Tabela 2. Equações lineares e respectivos coeficientes de correlação (R) de adsorção de íons de metaisMetal Pseudo primeira-ordem Pseudo segunda-ordemEquação (R) R Equação RCu(II) Y= 1,4<strong>12</strong> + 0,017 X 0,972 Y= 74,381 + 17,534 X 0,994Mn(II) Y = 1,079 + 0,029 X 0,962 Y = 7,404 + 5,605 X 0,998Zn(II) Y = 1,<strong>12</strong>9 + 0,2<strong>12</strong> X 0,981 Y = 2,466 + 6,655 X 0,999Fe(III) Y = 1,339 + 0,011 X 0,755 Y = <strong>12</strong>,090 + 7,432 X 0,994Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 53 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


1600<strong>12</strong>00Cu (II)Mn (II)Zn (II)Fe (III)t/qt (h/mg g)80040000 20 40 60 80t (h)Figura 3. Linearização da cinética de pseudo segunda-ordem para a adsorção de Cu (II), Mn (II), Zn (II) e Fe (III).cinéticos avaliados (Tabela 2),constata-se que a equação depseudo segunda-ordem forneceu omelhor ajuste dos dadosexperimentais para os ensaios deadsorção dos diferentes íons demetais pelo adsorvente. Este perfilevidencia que a quimissorção seria aetapa determinante do mecanismode adsorção, conforme tambémapresentado na literatura (VITALI etal., 2008). Constata-se que osvalores de q e calculados pelomodelo da equação de pseudosegunda-ordem estão emconcordância com os valores de q eexperimentais para os diferentesíons de metais. Para o modelo depseudo primeira-ordem, entretanto,observa-se uma expressivadiscrepância entre os seus valoresobtendo-se um erro relativo de 53%para Mn (II), 93% para Cu (II) e 66%para Fe (III) e 49% para Zn (II). Podeseobservar que a constante develocidade (k 2 ) e a velocidade deadsorção inicial (h o ) para Zn (II) foimaior do que os valoresencontrados para Mn (II), Cu (II) e Fe(III).Laus e colaboradores (2010)também evidenciaram um melhorajuste dos dados experimentais nomodelo cinético de pseudo segundaordemem estudos de adsorção deCu (II), Cd (II) e Pb (II).Isoterma de adsorção de íons demetaisA adsorção éfreqüentemente descrita em termosde isoterma, na qual mostra arelação entre a concentração doadsorvato na fase aquosa e aquantidade adsorvida numatemperatura constante. A isoterma,então, reflete um equilíbrio.Normalmente, no processo deadsorção, os modelos de isotermamais empregados para interpretaros dados experimentais são os deLangmuir e de Freundlich, devido àfacilidade de transformar estasequações para a forma linear eassim estimar graficamente osparâmetros de adsorção. A isotermade Langmuir assume que asuperfície do adsorvente é uniformecom sítios de adsorçãoenergicamente idênticos. A isotermade Freundlich descreve o equilíbrioem superfícies heterogêneas e, poresta razão, não assume umacapacidade de adsorção emmonocamada. Ela sugere que aconcentração do adsorvato nasuperfície do adsorvente aumentana medida em que tambémaumenta a concentração doadsorvato na solução (MCKAY,1996).A Figura 4 apresenta asisotermas de equilíbrio de adsorçãoobtidas para Cu (II), Mn (II), Zn (II) eFe (III) pelo adsorvente. Observa-sea correlação entre a quantidade deíon adsorvida na superfície doadsorvente e a remanescente nafase aquosa em equilíbrio. Estarelação mostra que a quantidadeRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 54 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


5q e(mg g -1 )432Cu (II)Mn (II)Zn (II)100 10 20 30 40C e(mg g -1 )Figura 4. Isotermas de equilíbrio de adsorção dos íons Cu (II), Mn (II), Zn (II) e Fe (III). Cu (II): pH = 5,0; Mn (II): pH = 8,0; Zn(II): pH = 7,0; Fe (III): pH = 1,4; tempo de contato = 72h; temperatura = <strong>25</strong>ºC; velocidade de agitação = <strong>25</strong>0 rpm; massade adsorvente = 2g.adsorvida aumentou com aconcentração de equilíbrio dosdiferentes íons de metais nasolução, tendendo a uma saturaçãoda superfície do adsorvente, comexceção do cobre que teve umcomportamento linear.Para a interpretação dosdados de adsorção foram testadosos modelos de isotermas deLangmuir e Freundlich. Na Figura 5estão ilustradas as linearizações daisoterma de adsorção de Mn (II), Zn(II) e Fe (III) pelo adsorvente, obtidasatravés do melhor modelo. NaTabela 3 são apresentados osparâmetros determinados pelos doismodelos de isoterma. Ressalta-seque a isoterma de adsorção de Cu(II) apresentou um perfil isotérmicolinear, demonstrando que aquantidade de metal adsorvida nafase sólida aumentou com aconcentração deste na fase aquosa.Os resultados permitemsugerir que o modelo de isoterma deLangmuir apresentou melhor ajustedos dados experimentais deequilíbrio de adsorção dos íonsmetálicos pelo adsorvente, o quepode ser observado a partir dosvalores dos coeficientes decorrelação, evidenciando, portanto,uma adsorção homogênea, ou seja,em monocamada (COELHO et al,2007). Em estudo realizado porNascimento e colaboradores (2009)também foi observado que omodelo de isoterma de Langmuirapresentou melhor ajuste dos dadosexperimentais de adsorção de Zn,Cu, Mn e Pb, utilizando zeólitassintéticas como material adsorvente.Em nossos estudos se podeobservar que a capacidade máximade adsorção (q m ) obtida para Mn (II)foi superior aos valores encontradospara Zn (II) e Fe (III), indicando umaordem de capacidade: Mn (II) > Zn(II) > Fe (III) > Cu (II). A partir dosdados de adsorção, obteve-seeficiência de remoção de 64% a 89%para Mn (II), 42 % a 78% para Zn (II),<strong>12</strong>% a 33% para Fe (III) e 16% a 30%para Cu (II). Em trabalho descrito naliteratura foi utilizado rejeito demineração submetido à calcinaçãopara a remoção de íons metálicos Al(III), Fe (III) e Mn (II) presentes emdrenagem ácida de mina, sendoRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 55 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


1501<strong>25</strong>300100C e/q e(g L -1 )200100Fe (III)C e/q e(g L -1 )7550<strong>25</strong>Mn (II)Zn (II)00 20 40 60 80 100Ce (mg L -1 )00 15 30 45C e (mg L -1 )Figura 5. Linearização da isoterma de adsorção de Mn (II), Zn (II) e Fe (III) segundo o modelo de LangmuirTabela 3. Parâmetros de adsorção de Mn (II), Zn (II), Fe (III) e Cu (II), segundo os modelos de isoterma de Langmuir eFreundlich.Metal Langmuir FreundlichK adsq mRK Fb FR(L mg -1 )(mg g -1 )(mg g -1 )Mn (II) 0,116 1,963 0,993 0,266 0,547 0,966Zn (II) 0,154 0,907 0,986 0,162 0,472 0,952Fe (III)0,0310,4340,9910,0280,5660,975Cu (II)0,0370,2400,9380,0180,6270,988observada uma capacidade deremoção de 100% de Al (III), 100%de Fe (III) e de 89% de Mn (II)(GEREMIAS et al., 2008). Outrosestudos utilizando biopolímerosnaturais para adsorção de metaistêm sido relatados na literatura,sendo observada expressivaremoção (>99%) de íons Fe (III), Zn(II) e Cu (II) (GEREMIAS et al., 2003;FÁVERE et al., 2004; KARAPINAR,DONAT, 2009; VASCONCELO et al.,2010).A grande maioria dosprocessos que ocorre em superfíciessólidas formadas por óxidos deminerais deve-se ao fato de que asmesmas adquirem uma cargaelétrica superficial quando postasem contato com o meio aquoso. Acarga pode ser originada por reaçõesquímicas de superfície, uma vez quemuitas superfícies sólidas contêmgrupos funcionais ionizáveis (ex: OH,Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 56 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


COOH, -PO 3 H 2 ). A carga daspartículas depende do grau deionização e, consequentemente, dopH do meio. A carga superficialtambém pode ser decorrente dasimperfeições latentes na superfíciede sólidos e por “reposição amorfa”dentro das imperfeições. Estascargas também podem serestabelecidas por adsorção iônica,sendo possível atrair seletivamentecátions ou ânions, dependendo dopH e do ponto zero de carga (pzc) dosólido em questão (FRITZEN, 2002).Em nossos estudos, pode-seconstatar que o rejeito demineração de carvão calcinado foicapaz de adsorver íons de metais emsolução. Esta capacidade poderiaestar associada à presença de óxidosde metais SiO 2 , Fe 2 O 3 e Al 2 O 3observados na caracterização dorejeito calcinado e que atuariamcomo adsorvente de íons pormecanismos de adsorção química efísica através de interação porcomplexação, formação de pariônico, troca iônica, interaçãoeletrostática, forças de van derWalls entre outras, conformeproposto por Geremias ecolaboradores (2008).Estes resultados permitemindicar uma possível aplicação dorejeito como adsorvente alternativopara remoção destes contaminantesque estão comumente presentes emresíduos oriundos de atividadesantrópicas e que sãopotencialmente tóxicos para ossistemas biológicos. Os resultadosobtidos são relevantes, uma vez queos rejeito de mineração de carvãoutilizados em nossos estudos nãosão aproveitados economicamente esão potenciais contaminantesambientais. Desta forma, o seuemprego como possível materialadsorvente alternativo confere umautilização econômica ao mesmo,minimizando os seus impactos sobreo meio ambiente.Entretanto, ensaioscomplementares e modificações nomaterial adsorvente poderiam sersugeridos, com vistas aumentar acapacidade de adsorção de íons demetais que não foramsatisfatoriamente adsorvidos, taiscomo o Fe (III) e o Cu (II), conformeobservados em nossos estudos.CONCLUSÃOOs resultados do presenteestudo permitiram demonstrar queo processo de adsorção dos íons demetais pelo rejeito calcinado édependente do pH da solução e queo mecanismo cinético pode serdescrito pelo modelo de pseudosegunda-ordem. Nos estudos deequilíbrio de adsorção, constatou-seque a isoterma que melhor seajustou aos dados experimentais foio modelo de Langmuir. A isotermade adsorção do Cu (II) mostrou umarelação linear, onde a quantidade demetal adsorvido pela fase sólidaaumentou com a concentração nafase aquosa. A partir destesresultados, pode-se sugerir o uso dorejeito como um possível materialadsorvente alternativo pararemoção de metais em solução. Oemprego do rejeito comoadsorvente constitui-se em umaforma de sua valorização eprevenção dos seus impactosambientais.AGRADECIMENTOSÀ Universidade Federal deSanta Catarina, aos laboratóriosQUITECH e LABIOEX e ao ConselhoNacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq) peloapoio financeiro (Projeto:140204/2005-9).REFERÊNCIASAMARAL, F.A.D.; BERNARDES, A. M.Uso do processo de sulfatação pararecuperação de metais em lodosprovenientes da indústria galvânica.Revista Brasileira de CiênciasAmbientais. v. 20, p. <strong>12</strong>-21, 2011.BABEL, S.; KURNIAWAN, T.A. Cr(VI)removal from synthetic wastewaterusing coconut shell charcoal andcommercial activated carbonmodified with oxidizing agentsand/or chitosan. Chemosphere. v.54, p. 951-967, 2004.BENASSI, J.C.; LAUS, R.; GEREMIAS,R.; LIMA, P.L.; MENEZES, C.T.B.;LARANJEIRA, M.C.M.; WILHELM-FILHO, D.; FÁVERE, V.T.; PEDROSA,R.C. Evaluation of remediation ofcoal mining wastewater by chitosanmicrospheres using biomarkers.Archives of EnvironmentalContamination and Toxicology. v.51, p. 633-640, 2006.COELHO, T. C.; LAUS, R.; MANGRICH,A. S.; FÁVERE, V. T.; LARANJEIRA,M.C.M. Effect of heparin coating onepichlorohydrin cross-linkedchitosan microspheres on theadsorption of copper (II) íons.Reactive & Functional Polymers. v.67, p. 468–475, 2007.DAKIKY, M.; KHAMIS, M.;MANASSRA, A.; MER’EB, M.Selective adsorption ofchromium(VI) in industrialwastewater using low-costabundantly available adsorbents.Advances in EnvironmentalResearch. v. 6, p. 533-540, 2002.ENGIN, M.S.; UYANIK, A.; CAY, S.;ICBUDAK, H. Effect of the adsorptivecharacter of filter papers on theconcentrationsdetermined in studiesinvolving heavy metal ions.Adsorption Science & Technology.v. 28, p. 837-846, 2010.FÁVERE, V.T; LAUS, R.; LARANJEIRA,M.C.M; MARTINS, A.O.; PEDROSA,R.C. Use of chitosan microspheres asremedial material for acidity andiron (III) contents of coal miningwastewaters. EnvironmentalTechnology. v. <strong>25</strong>, p. 861-66, 2004.FRITZEN, M.B. Adsorção de Cr (VI)na interface água-mineraissedimentários. Efeito das condiçõesde reação e modelo de adsorção.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 57 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Dissertação de Mestrado emQuímica da Universidade Federal deSanta Catarina, 2002.FUNGARO, D.A.; IZIDORO, J. C.Modelagem cinética da remoção deCd 2+ por zeólitas de cinzas de carvão.Revista Brasileira de CiênciasAmbientais. v. 16, p. 9-13, 2008.GEREMIAS, R.; LAUS, R.; MACAN,J.M.; PEDROSA, R.C.; LARANJEIRA,M.C.M.; SILVANO, J.; FÁVERE, V.T.Use of coal mining waste for theremoval of acidity and metal ionsAl(III), Fe(III) and Mn(II) in acid minedrainage. EnvironmentalTechnology. v 29, p. 863-869, 2008.GEREMIAS, R.; PEDROSA, R.C.;BENASSI, J.C.; FÁVERE, V.T.;STOLBERG, J.; MENEZES, C.T.B.;LARANJEIRA, M.C. Remediation ofcoal mining wastewaters usingchitosan microspheres.Environmental Technology. v. 24, p.1509-15, 2003.GOMEZ-SALAZAR, S.; LEE, J.S.;HEYDWEILLER, J.C.; TAVLARIDES, L.L.Analysis of cadmium adsorption onnovel organo-ceramic adsorbentswith a thiol functionality. Industrialand Engineering ChemistryResearch. v. 42, p. 3403-34<strong>12</strong>, 2003.GURNANI, V.; SINGH, A.K.;VENKATARAMANI, B. Cellulosefunctionalized with 8-hydroxyquinoline: new method ofsynthesis and applications as a solidphase extractant in thedetermination of metal ions byflame atomic absorptionspectrometry. Analytica ChimicaActa. v. 485, p. 221-232, 2003.JIANG, M.Q.; JIN, X.Y.; LU, X.Q.;CHEN, Z.L. Adsorption of Pb(II),Cd(II), Ni(II) and Cu(II) onto naturalkaolinite clay. Desalination. v. <strong>25</strong>2,p. 33-39, 2010.JIMENEZ, R.S.; BOSCO, S.M.D.;CARVALHO, W.A. Heavy metalsremoval from wastewater by thenatural zeolite scolecite -temperature and pH influence insingle-metal solutions. QuimicaNova. v. 27, p. 734-738, 2004.JUSTI, K. C. Imobilização de agentescomplexantes no biopolímeroquitosana: equilíbrio de adsorçãode íons metálicos em soluçãoaquosa. Tese (Doutorado emQuímica) - Universidade Federal deSanta Catarina, Centro de CiênciasFísicas e Matemáticas, 2006, 151 p.KARAPINAR, N.; DONAT, R.Adsorption behaviour of Cu 2+ andCd 2+ onto natural bentonite.Desalination. v. 249, p. <strong>12</strong>3-<strong>12</strong>9,2009.LAUS, R.; COSTA, T.G.; SZPOGANICZ,B.; FAVERE, V. T. Adsorption anddesorption of Cu(II), Cd(II) and Pb(II)ions using chitosan crosslinked withepichlorohydrin-triphosphate as theadsorbent. Journal of HazardousMaterials. v. 183, p. 233–241, 2010.LAUS, R.; FÁVERE, V.T. Competitiveadsorption of Cu(II) and Cd(II) ionsby chitosan crosslinked withepichlorohydrin triphosphate.Bioresource Technology. v. 102, p.8769-8776, 2011.MCKAY, G. Use of Adsorbents forthe removal of pollutants fromwastewaters. CRC Press, Florida,USA, 1996.NASCIMENTO, M.; SOARES, P. S.M.;SOUZA, V. P. Adsorption of heavymetal cations using coal fly ashmodified by hydrothermal method.Fuel. v. 88, p. 1714–1719, 2009.NGAH, W.S.W.; ENDUD, C.S.;MAYANAR, R. Removal of copper(II)ions from aqueous solution ontochitosan and cross-linked chitosanbeads. Reactive & FunctionalPolymers. v. 50, p. 181-190, 2002.OLUYEMI, E.A.; OYEKUNLE, J.A.O.;OLASOJI, S.O. A comparative studyof the removal of heavy metal ionsfrom synthetic wastewaters usingdifferent adsorbents. AdsorptionScience & Technology. v. 27, p. 493-502, 2009.PESAVENTO, M.; BALDINI, E. Studyof sorption of copper(II) oncomplexing resin columns by solidphase extraction. Analytica ChimicaActa. v. 389, p. 59-68, 1999.POPURI, S.R.; VIJAYA, Y.; BODDU,V.M.; ABBURI, K. Adsorptiveremoval of copper and nickel ionsfrom water using chitosan coatedPVC beads. Bioresource Technology.v. 100, p. 194-199, 2009.PRASAD, M.; SAXENA, S.;AMRITPHALE, S.S. Adsorptionmodels for sorption of lead and zincon francolite mineral. Industrial andEngineering Chemistry Research. v.41, p. 105-111, 2002.SCHMUHL, R.; KRIEG, H.M.; KEIZER,K. Adsorption of Cu(II) and Cr(VI)ions by chitosan: kinetics andequilibrium studies. Water SA. v. 27,p. 1-7, 2001.SHAKER, M.A.; HUSSEIN, H.M.Heavy-metal adsorption by nonlivingbiomass. Chemistry andEcology. v. 21, p. 303-311, 2005.SPINELLI, V.A.; LARANJEIRA, M.C.M.;FÁVERE, V.T. Preparation andcharacterization of quaternarychitosan salt: adsorption equilibriumof chromium(VI) ion. React. Funct.Polym. v. 61, p. 347-352, 2004.VASCONCELOS, H.L.; CAMARGO,T.P.; GONÇALVES, N.S.; NEVES, A.;LARANJEIRA, M.C.M.; FÁVERE, VT.Chitosan crosslinked with a metalcomplexing agent: Synthesis,characterization and copper(II) ionsadsorption. Reactive & FunctionalPolymers. v. 68, p. 572-579, 2008.VITALI, L.; LARANJEIRA, M.C.M.;FÁVERE, V.T.; GONÇALVES, N. S.Microencapsulação do agentequelante sulfoxina em microesferasde quitosana preparadas por spraydrying como novo adsorvente paraíons metálicos. Química Nova. v.31, p. 1400-1404, 2008.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 58 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


VITALI, L.; LARANJEIRA, M.C.M.;GONÇALVES, N. S.; FÁVERE, V.T.Spray-dried chitosan microspherescontaining 8-hydroxyquinoline -5sulphonic acid as a new adsorbentfor Cd(II) and Zn(II) ions.International Journal of BiologicalMacromolecules. v. 42, p. 152–157,2008.WU, C.H.; LIN, C.F.; CHEN, W.R.Regeneration and reuse of watertreatment plant sludge: adsorbentfor cations. J. Environ. Sci. Health,Part A: Toxic/Hazard. Subst.Environ. Eng. v. 39, p. 717-728,2004.WU, F.C.; TSENG, R.L.; JUANG, R.S.Kinetic modeling of liquid-phaseadsorption of reactive dyes andmetal ions on chitosan. WaterResearch. v. 35, p. 613-618, 2001.Recebido em: set/2011Aprovado em: ago/20<strong>12</strong>Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 59 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Caracterização de pilhas e baterias de um coletor parareciclagemCharacterization of spent batteries collected in a recycle binRESUMOO crescimento do uso de equipamentos eletrônicos portáteis, bem comosua rápida obsolescência causado um aumento na disposição de baterias. Areciclagem permite além da redução da diminuição da quantidade destesmateriais enviados a aterros, mas também a recuperação destes materiais.As baterias usadas neste estudo foram procedentes de um sistema de coletada USP no segundo semestre de 2010 da Universidade de São Paulo. Oresíduo foi separado em baterias originais. As baterias foram moídas eanalisas quimicamente após lixiviação com agua régia. Observou-se que asbaterias falsas continham 10 vezes mais chumbo do que as normais, além deuma concentração de ferro 3 vezes inferior. Analogamente o cádmiotambém foi superior nas baterias falsas do que as originais.PALAVRAS-CHAVE: Reciclagem, pilhas, baterias, caracterizaçãoRodrigo de Souza Dalti PereiraGraduando do curso de EngenhariaMetalúrgica da Escola Politécnicada Universidade de São PauloSão Paulo, SP, BrasilDenise Crocce Romano EspinosaProfessoraAssociada.Departamento de EngenhariaMetalúrgica e de Materiais daEscola Politécnica da Universidadede São PauloSão Paulo, SP, Brasilespinosa@usp.brABSTRACTThe growing amount of portable electronic equipments producednowadays, as well as their quick obsolescence, increases the volume ofdisposed batteries. The recycling allows not only the reduction of theamount of waste sent to landfills, but also the recovery of batteriescompounds. The source materials for this work (depleted batteries) werecollected in the second semester of 2010 in the domains of University of SãoPaulo. The analyzed waste was split into original and fake batteries. Thebatteries were grinded and their chemical composition was determinedthrough leaching with aqua regia. It was concluded that the fake batteriesshowed a lead content ten times superior and an iron content three timeslower than the contents found in the original ones. The cadmiumconcentration of fake batteries were superior than the concentration foundin the original batteries that did not belong to the NiCd type.KEYWORDS: Recycling, batteries, characterizationRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – <strong>Setembro</strong> de 20<strong>12</strong> 60 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


INTRODUÇÃOCom o desenvolvimento datecnologia, produz-se um númerocada vez maior de equipamentoseletrônicos portáteis, comotelefones celulares, telefones semfio, notebooks, relógios, lanternas,ferramentas elétricas, câmerasfotográficas,filmadoras,equipamentos médicos ebrinquedos. Em 2010, no Brasil, aprodução de celulares foi de 61milhões de unidades e a denotebooks foi de 7,15 milhões deunidades, segundo a AssociaçãoBrasileira da Indústria Elétrica eEletrônica - ABINEE (2011). Osdispositivos eletrônicos portáteisrequerem pilhas e baterias, as quaisfornecem a energia necessária paraque possam executar suas funções.Consequentemente, há um aumentoda quantidade de pilhas e bateriasusadas que são descartadas quandoalcançam o final de sua vida útil.Além da crescenteprodução de dispositivos eletroeletrônicos,a obsolescência dosdispositivos aumenta o volume depilhas e baterias descartadas. Osprodutos considerados “antigos” sãodescartados, juntamente com aspilhas e baterias contidas em seuinterior.As pilhas e baterias contêmmetais e substâncias nocivas aomeio ambiente e ao ser humano,como chumbo, cádmio, mercúrio,hidróxido de potássio e cloreto deamônio. Entretanto, as pilhas ebaterias são descartadasnormalmente de maneira indevidajunto com o lixo doméstico comum(plásticos, papéis e matériaorgânica) e é destinada, dessemodo, a aterros sanitários evazadouros a céu aberto, podendocontaminar o solo, lençóis freáticose cursos de água próximos, ou aincineradores, por meio dos quaismetais são eliminados na atmosferae cinzas com metais podem serlixiviadas (BERNARDES et al, 2004).Além do descarte incorreto,a contaminação do ambientetambém pode ser agravada pelaexistência de pilhas e baterias falsas,as quais contêm rótulossemelhantes aos das pilhas originais,com a finalidade de passaremdespercebidas pelo consumidor e,desse modo, conseguirem servendidas.Por meio da reciclagem,não só reduz-se a quantidade dessasucata enviada a aterros e lixões,diminuindo a possibilidade decontaminação, como tambémdiminuem-se a utilização derecursos naturais, o desperdício dematéria-prima na produção denovos materiais e o consumo deenergia, já que além da reciclagempromover a recuperação de metais ecompostos presentes nas pilhas ebaterias, a produção secundária demateriais utiliza menos energia quea produção primária.LegislaçãoDiretiva Europeia 2006/66A Diretiva Europeia EC2006/66 é a atual legislaçãoeuropeia sobre pilhas e baterias. Elaengloba todos os tipos de pilhas ebaterias considerando seus diversostamanhos, massas, composições eusos (DIRETIVA EUROPEIA, 2006).A diretiva proíbe que sejamcolocadas no mercado pilhas ebaterias contendo teores acima de0,0005% de mercúrio, de 0,002% decádmio e de 0,004% de chumbo, edetermina as seguintes metas decoleta aos Estados-Membros: <strong>25</strong>%até setembro de 20<strong>12</strong> e 45% atésetembro de 2016 (DIRETIVAEUROPEIA, 2006).Há a obrigação de haverpontos de coleta onde osconsumidores podem descartar aspilhas e baterias usadas sem quehaja obrigação de pagar taxa oucomprar uma nova bateria. Osfabricantes desses produtos nãopodem se recusar a aceitar adevolução das pilhas e bateriasusadas, e os aparelhos que utilizemesses dispositivos devem conterinstruções que mostrem de quemodos as pilhas e baterias podemser removidas de forma segura(DIRETIVA EUROPEIA, 2006).Os processos de reciclagem nosEstados-Membros devem alcançaros seguintes objetivos (DIRETIVAEUROPEIA, 2006):• Reciclagem de 65% doconteúdo das baterias dechumbo ácido, visando amaior recuperaçãopossível de chumbo;• Reciclagem de 75% doconteúdo das baterias deníquel-cádmio, visando amaior recuperaçãopossível de cádmio;• Reciclagem de 50% doconteúdo das outraspilhas e bateriasdescartadas.Resolução CONAMA n° 401 de 2008A resolução CONAMA n°401 de 2008 estabelece os teoresmáximos de chumbo, cádmio emercúrio permitidos para pilhas ebaterias comercializadas no Brasil eos critérios e padrões para o seugerenciamento ambientalmenteadequado (CONAMA, 2008). Assim,como a Diretiva Europeia2006/66/EC, a resolução tem comoobjetivo minimizar os impactoscausados pela disposição incorretadesses produtos.A resolução institui aosfabricantes nacionais eimportadores de pilhas e baterias odever de apresentarem ao órgãoambiental competente um plano degerenciamento que envolva adestinação correta desses produtos.Os fabricantes e osestabelecimentosquecomercializam tais produtos devemreceber dos consumidores as pilhase baterias coletadas por meio dainstalação de pontos derecolhimento. A resolução proíbenão só a disposição das pilhas ebaterias em aterros não licenciadose em corpos d’água, como tambéma queima a céu aberto ouRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 61 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 1 – Composição da sucata coletada (em porcentagem em massa)incineração em instalações nãolicenciadas (CONAMA, 2008).Além disso, teores máximosdos metais perigosos sãoestabelecidos para as pilhas ebaterias secas e alcalinascomercializadas, fabricadas no Brasilou importadas (CONAMA, 2008).Esses teores são:• 0,0005% em massa demercúrio;• 0,002% em massa decádmio;• 0,1% em massa de chumbo.Pode-se observar que os teoresmáximos de mercúrio e cádmio sãoos mesmos estabelecidos na DiretivaEuropeia.Instrução Normativa N°8, de 3 desetembro de 20<strong>12</strong>A Instrução Normativa nº 8,de 3 de setembro de 20<strong>12</strong>, doInstituto Brasileiro do MeioAmbiente e dos Recursos NaturaisRenováveis, impõe que fabricantesnacionais e importadores de pilhas ebaterias devam emitir um laudofísico-químico contendo acomposição química das mesmas,quando os sistemas eletroquímicosforem de zinco-manganês, alcalinomanganêse chumbo-ácido. Alémdisso, sempre que o produtoapresentar alteração técnica, umnovo laudo deve ser gerado. O laudodeve apresentar os teores de metaisperigosos contidos nas pilhas ebaterias: devem ser fornecidos osteores de mercúrio, cádmio echumbo quando os sistemaseletroquímicos forem de zincomanganêse alcalino manganês; e osteores de mercúrio e cádmio,quando forem de chumbo-ácido(DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 20<strong>12</strong>).A Instrução Normativaestabelece também que osimportadores têm a obrigação legalde afixar nas pilhas e baterias, antesde sua comercialização, informaçõescomo riscos à saúde humana e aoambiente e necessidade dedevolvê-las ao revendedor ou à redede assistência técnica autorizada(DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 20<strong>12</strong>).MATERIAIS E MÉTODOSO lote de pilhas e bateriasdescartadas após o uso, objeto doestudo, foi fornecido pelo programaPoli USP Recicla, coordenado pelaCOCESP e pela Escola Politécnica daUSP (2010), e se trata do materialcoletado no segundo semestre de2010 na Escola Politécnica da USP.Os diferentes tipos depilhas e baterias foram separadosmanualmente e classificados. Ostipos encontrados foram: pilhas ebaterias alcalinas, secas, de NiCd,NiMH, de íons de lítio, Li-polímero,pilhas botão, oxi-alcalinas e bateriasseladas de chumbo ácido.Na análise da sucataencontraram-se também pilhasfalsas, placas de circuito impresso decelular, carcaças de celular, lixocomum (como papéis e coposplásticos) e pilhas e baterias cujosinvólucros não continhaminformação alguma sobre acomposição e que foramclassificadas, portanto, como nãoidentificadas. As pilhas falsaspossuem rótulos muito semelhantesaos das pilhas usuais a fim depassarem despercebidas peloconsumidor e são de marcasRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 62 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 1 – Composição do lote de sucata (em porcentagem em massa)desconhecidas; além disso, as pilhasfalsas eram, majoritariamente, dotipo alcalina e seca.Os diferentes tipos debaterias foram pesados paradeterminação da composição dolote coletado pela Poli USP Recicla. Apartir deste lote foi preparada umaamostra representativa dessacomposição de aproximadamente10 kg.Para cominuir as pilhas ebaterias, foi feita a moagem daspilhas originais e das pilhas falsas emum moinho de facas com grelha de 3mm. O montante moído foihomogeneizado e quarteado.CaracterizaçãoPara a caracterização dasamostras, uma alíquota de 10 g daspilhas originais e das pilhas falsas foisubmetida à lixiviação com águarégia durante 24 horas, àtemperatura ambiente, sob agitaçãoe adotando-se relação sólido-líquidoigual a 1 : 15. Em seguida, foi feita adiluição dos licores da lixiviação paraque eles fossem enviados paraanálise química, realizada porespectrofotômetro de emissãoóptica por indução de plasma (ICP –OES).RESULTADOS E DISCUSSÃOComposição do lote de pilhas ebateriasA composição do lote depilhas e baterias coletado na EscolaPolitécnica referente ao segundosemestre de 2010 é mostrada naTabela 1 e ilustrada na Figura 1. Amassa total pesada foi deaproximadamente 275 kg.As pilhas e bateriasalcalinas correspondem a 52% e aspilhas e baterias secas a 22 % do loteestudado. Esses dois tipos de pilhassão os mais comuns e respondemjuntos a quase três quartos (74%) dasucata analisada. Já as pilhas falsasrepresentam apenas 2 % do materialtotal coletado.Embora as baterias dechumbo-ácido representem 13% emmassa do lote estudado, aquantidade encontrada delas foiinferior à de outras pilhas e baterias.Essa porcentagem é explicada pelofato de uma bateria selada dechumbo ser muito mais pesada (suamassa varia entre 1,5 kg e 2 kg) queuma bateria, por exemplo, alcalina,cuja massa é de aproximadamente<strong>25</strong> g.Espinosa (2008) determinoua composição de um lote de pilhas ebaterias exauridas fornecidas pelaOrganização Não-Governamental(ONG) Antena-Verde, sediada nacidade de São Paulo. Esse lotecorresponde às pilhas e bateriascoletadas no período de um mês emum ponto de coleta localizado naZona Oeste da cidade de São Paulo.A fim de se realizar acomparação com o lote de Espinosa(2008), serão desconsideradas asbaterias de chumbo-ácido presentesna sucata coletada na EscolaPolitécnica, já que na amostraanalisada por Espinosa (2008) nãohavia esse tipo de bateria. A Tabela2 exibe, em sua primeira coluna devalores, denominada “POLI-USP”, acomposição da sucata coletada naEscola Politécnica da USP (Tabela 1),e na segunda coluna de valores,denominada “Espinosa”, aRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 63 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 2 – Composição da sucata coletada na Escola Politécnica e do lote estudado por EspinosaFigura 2 – Composição do montante de pilhas e baterias vendidas no mercado europeu em 2009(em porcentagem em massa) (EPBA, 2010)composição do lote estudado porEspinosa (2008).É possível observar que asporcentagens correspondentes àspilhas alcalinas, às baterias de NiCde às pilhas oxi-alcalinas, em ambosos estudos, são semelhantes. Asucata coletada na Escola Politécnicada USP, em comparação com o loteanalisado por Espinosa (2008),apresentou quantidades superioresde baterias de NiMH e baterias deíons de lítio e quantidades inferioresde pilhas secas.A Figura 2 mostra acomposição em massa das pilhasvendidas no mercado europeu.Pode-se observar que a quantidadede pilhas e baterias alcalinasvendidas corresponde a 74% dototal e a quantidade correspondentede pilhas secas (de Zn-C),corresponde a 20% (EPBA, 2010).Considerando que a maiorparte dessas pilhas e baterias virarásucata em poucos meses, será feitaa comparação da composição dasucata coletada no presente estudocom a composição das pilhas ebaterias vendidas na Europa. Comoa composição do lote europeu nãoapresenta baterias de chumboácido,que são mais pesadas, comoexplicado anteriormente, acomparação será feita com os dadosda Tabela 2. As porcentagenscorrespondentes às pilhas secasrelativas ao total delas vendido naEuropa e o total encontrado nasucata coletada nos domínios daEscola Politécnica se mostrarampróximas, sendo, respectivamente,Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 64 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 3 – Composição da amostra montadaFigura 3 – Composição da amostra representativa do lote de sucata (porcentagem em massa)20% e 22%. Enquanto no mercadoeuropeu a porcentagem vendida depilhas alcalinas responde poraproximadamente três quartos dototal vendido (EPBA, 2010), aquantidade encontrada dessaspilhas representa 60 % de toda asucata recolhida na EscolaPolitécnica e de todo o loteestudado por Espinosa (2008).Umaamostrarepresentativa (de cerca de 10 kg)da população de pilhas e baterias foimontada e sua composição émostrada na Tabela 3 e ilustrada naFigura 3. Procurou-se manter ascomposições da amostrarepresentativa e do lote estudadosemelhantes, fato que pode serverificado pela comparação entre aFigura 1 e a Figura 3.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 65 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 6 – Balanço de massa da moagem das pilhas originais em grelha de 3 mmTabela 5 – Balanço de massa da moagem das pilhas falsas em grelha de 3 mmTabela 4 – Composição das pilhas originais e das pilhas falsas determinada por análise química por ICP-OES (dadosem porcentagem em massa)Por representarem umaporcentagem desprezível no lote(0,04%,Tabela 2), as pilhasoxialcalinas não foramcontabilizadas na montagem daamostra.MoagemNa etapa de moagem,foram utilizados um moinho de facase uma grelha cujas aberturascirculares contêm 3 mm dediâmetro. A Tabela 2 e a Tabela 3mostram o balanço de massa daoperação unitária de moagem,respectivamente, para as pilhasoriginais e para as pilhas falsas. Acoluna denominada “grelha”corresponde à quantidade dematerial que sobrou na grelha aofim da operação.A perda correspondente àmoagem das pilhas falsas (19,8%) écerca de quatro vezes maior que aperda na moagem das pilhas ebaterias originais (4,9%). Isso podeser explicado pelo fato de que comoa massa de pilhas falsas (207 g) ébastante inferior à das pilhasoriginais (quase 7 kg), uma perda de41 g no processo corresponde a umamaior porcentagem de perda.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 66 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Ocorre perda no processo devido aofato de o exaustor sugar partículasleves e finas e de partículas caíremfora do recipiente que recebe omaterial moído.Comparação da composiçãoA Tabela 6 fornece acomposição química das pilhasdenominadas originais e das pilhasfalsas.É importante destacar quea concentração de chumbo, que éum metal tóxico, é dez vezes maiornas pilhas falsas (0,23 %) do que naspilhas e baterias originais (0,02 %).Esse resultado ajuda a confirmar queas pilhas falsas são feitas sob menorou nenhuma preocupação com oteor de metais perigosos utilizados.As concentrações dechumbo das pilhas originais e daspilhas falsas encontram-se acima daconcentração permitida pelaDiretiva Europeia 2006/66 (0,004%).Entretanto, o teor máximo dechumbo permitido pela ResoluçãoCONAMA nº 401 de 2008 (0,1%) éobedecido pelo teor das pilhasoriginais (0,02%), embora o mesmonão aconteça para as pilhas falsas(0,23%).A caracterização químicaquanto ao teor de mercúrio não foirealizada, pois não havia soluçãopadrão disponível para oespectrofotômetro de emissãoóptica por indução de plasma (ICP –OES) fazer a leitura deste elemento.A amostra moída apresenta1,7 % de baterias de NiCd (Tabela 3).As baterias de NiCd, segundo Huanget al (2010), apresenta 17,6 % decádmio, 20,4 % de níquel, 31,6 % deferro e 2,6 % de outros metais(porcentagens mássicas); porbalanço de massa para o elementocádmio, espera-se então que, nolote analisado, a concentração decádmio oriunda somente de bateriasde NiCd seja de 0,30 %. A diferençade 0,05 % observada entre o valorde 0,30 % e o encontrado na Tabela6 (0,35 %), deve-se a concentraçõesresiduais de cádmio encontradas empilhas de tipos diferentes que as deNiCd. É possível afirmar, portanto,que as pilhas falsas, as quais nãoenglobam baterias de NiCd e asquais são compostas principalmentepor pilhas alcalinas e secas,apresentam teor de cádmio (0,10%,Tabela 6) superior ao teor (0,05 %)encontrado nas pilhas e bateriasoriginais que não as de NiCd.As concentrações de níquel,cobre e cobalto foram menores naspilhas falsas do que nas originaispelo fato de que a quantidade depilhas e baterias falsas coletadas eracomposta predominantemente porpilhas alcalinas e secas, cujosconstituintes principais não são oníquel, o cobre e o cobalto.A concentração de ferro naspilhas falsas (5,8 %) é três vezesmenor que nas pilhas originais (19,5%). A diferença de concentraçõespode ser explicada por uma possívelsubstituição da carcaça de aço,componente de pilhas e bateriasoriginais, por carcaças de plástico,frequentemente encontradas naspilhas falsas. Isso é corroborado pelofato de que a porcentagem deinsolúveis, compostos por plástico,papel e grafite, é maior para aspilhas falsas (27 %) do que para aspilhas originais (8 %).CONCLUSÕESOs resultados obtidos permitemconcluir que:1. Pela composição da sucata depilhas e baterias analisada,observa-se que a coleta foidesrespeitada pelosconsumidores: foramencontrados copos plásticose papéis, que deveriam serdestinados ao lixo domésticocomum.2. No lote de sucata foramencontradas pilhas falsas,cujos rótulos procuram imitaras marcas mais conhecidas,de modo a passaremdespercebidasconsumidor.pelo3. As pilhas e baterias alcalinase secas corresponderam aaproximadamente 74 % dasucata coletada.4. A concentração de chumbo édez vezes maior nas pilhasfalsas do que nas pilhasoriginais.5. As pilhas falsas apresentamteor de cádmio superior aodas pilhas originais de tiposdiferentes da de NiCd.6. A concentração de ferro naspilhas falsas é três vezesmenor que nas pilhasoriginais, devido àsubstituição da carcaça deaço, componente das pilhas ebaterias originais, porcarcaças de plástico,frequentemente encontradasnas pilhas falsas.7. O teor máximo de chumbopermitido pela ResoluçãoCONAMA n° 401 de 2008 éobedecido pelo montante depilhas originais analisadas,embora seja desrespeitadopelas pilhas falsas. Asconcentrações de chumbo,tanto para as pilhas originais,quanto para as pilhas falsas,não atendem à concentraçãomáxima permitida pelaDiretiva Europeia 2006/66.REFERÊNCIASABINEE - Associação Brasileira daIndústria Elétrica e Eletrônica.. Acessoem: 8 Julho 2011.BERNARDES, A. M.; ESPINOSA, D. C.R.; TENÓRIO, J. A. S. Recycling ofbatteries: a review of currentprocesses and technologies. Journalof Power Sources, v. 130, p. 291-298, 2004.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 67 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Diretiva Europeia 2006/66/CE doParlamento Europeu e do Conselhode 6 de <strong>Setembro</strong> de 2006. JornalOficial da União Europeia. Disponivelem: . Acesso em: 15 Julho 2011.Recebido em: jan/20<strong>12</strong>Aprovado em: dez/20<strong>12</strong>DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO – Seção1. Instituto Brasileiro do MeioAmbiente e dos Recursos NaturaisRenováveis – Instrução NormativaNº 8, de 3 de setembro de 20<strong>12</strong>. nº172, p. 153. Disponível em. Acesso em:01 out 20<strong>12</strong>.ESPINOSA, D.C.R. Reciclagem depilhas e baterias. 2008. 144 p.Dissertação (Livre-Docência) - EscolaPolitécnica, Universidade de SãoPaulo, São Paulo, 2008. p. 53, 54, 72,73 e 75EPBA (European Portable BatteryAssociation) - EPBA 2010Sustainability Report. Disponivel em:.Acesso em: 11 Julho 2011.HUANG, K.; LI, J.; XU, Z.Characterization and recycling ofcadmium from waste nickelcadmiumbatteries. WasteManagement, v. 30, p. 2292-2298,2010.POLI USP Recicla. Disponivel em:.Acesso em: 10 Dezembro 2010.Resolução CONAMA n° 401 de 2008.Disponivel em:.Acesso em: 10 Janeiro 2011.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 68 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Uso do sensoriamento remoto na estimativa dos efeitos de ilhasde calorUse of Remote Sensing in Estimation of Urban Heat Island EffectsRESUMOOs objetivos principais do presente trabalho foram: 1) estimar atemperatura da superfície continental, 2) os índices de vegetação e albedoda superfície e posteriormente 3) comparar a evolução espaço-temporaldestas imagens com a climatologia local do Instituto Nacional deMeteorologia (INMET) em Rio Branco, AC. As técnicas de sensoriamentoremoto (SR), permitiram uma análise temporal de uso e ocupação do solo,especialmente com vistas a identificar e monitorar as alterações napaisagem. Com base no cálculo do viés médio (VM), o presente estudomostrou que, em áreas densamente verdes, onde a falta de estaçõesmeteorológicas ocorrem, o algoritmo que estimou a temperatura dasuperfície, pode ser utilizado para o preenchimento de falhas, já que osvalores foram ligeiramente subestimados, com valor deste indicador de -0,32ºC para o ano de 1994. Foi verificado também uma superestimativa dosresultados, com valor de viés médio de 0,31ºC para o ano de 1996. Osresultados mostraram um acréscimo de temperatura de faxia média de1,<strong>12</strong>ºC de 1990 a 2010. O albedo da superfície aumentou significativamenteem Rio Branco, principalmente onde ocorreram as maiores porcentagens daclasse “área urbana”. Verificou-se que os valores médios do NDVI, SAVI e IAFapresentaram maiores oscilações, principalmente nos anos de maioresaumento das áreas antropizadas (2005, 2009 e 2010). Os resultados obtidos,ainda que em caráter preliminar, indicam a eficiência do SR por meio daanálise da banda termal do satélite Landsat-5 como ferramenta de análisena identificação de ilhas de calor urbanas, mostrando-se eficaz quanto àespacialização dessas anomalias espacial e temporalmente.PALAVRAS-CHAVE: sensoriamento remoto, ilhas de calor, Rio BrancoABSTRACTThe main goals of this work were: estimating the continental surfacetemperature, vegetation index and later compare the spatio-temporalevolution of these images with local climatology of the National Institute ofMeteorology (INMET) in Rio Branco, AC. The techniques of remote sensing(RS), integrated into a geographic information system (GIS), allows atemporal analysis of land use and occupation, especially in order to identifyand monitor the changing landscape. Based on the calculation of averagebias (VM), this study showed that, in densely green, where the lack ofweather stations occur, the algorithm that estimated the surfacetemperature can be used to fill the gaps, since values were slightlyunderestimated, with a value of -3.50 for this indicator for the year 2008. Itwas also verified an overestimation of results, with the average bias value of7.01 for the year 1996. The results showed an increase in temperature of 6.6ºC from 1990 to 2010. The surface albedo increased significantly in RioBranco, especially where there were higher percentages of Class "urbanarea". There was sharp decline in all indices of vegetation due to increasedurban sprawl in Rio Branco. The results, though preliminary in nature,indicate the efficiency of the SR by the analysis of the thermal band ofLandsat-5 as an analysis tool in the identification of urban heat islands,proving to be effective as the spatialization of these anomalies in space andtime.KEYWORDS: Recycling, batteries, characterizationRafael Coll DelgadoProfessor da Universidade Federaldo AcreRio Branco, AC, Brasilrafaelcolldelgado32@gmail.comRafael de Ávila RodriguesDoutor em Meteorologia Agrícolapela Universidade Federal de ViçosaViçosa, MG, Brasilrafaelvo@hotmail.comAndré Luiz Lopes de FariaProfessor da Universidade Federalde ViçosaViçosa, MG, Brasilandre@ufv.brClênia de Souza PessôaMestranda em Botânica pelaUniversidade Federal de Viçosa,UFVViçosa, MG, Brasilacanthpessoa@gmail.comMayara DaherGraduanda em Geografia pelaUniversidade Federal de ViçosaViçosa, MG, Brasilmayara_daher@hotmail.comRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – <strong>Setembro</strong> de 20<strong>12</strong> 69 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


INTRODUÇÃOO município de Rio Branco,capital do Acre, possui cerca335.796 mil habitantes, oequivalente à 45,82% da populaçãototal do Estado (IBGE, 2011).Historicamente a existência dacidade está relacionada com aformação dos primeiros seringais doAlto Acre, o Volta da Empresa e oSeringal Empresa, ambos situados asmargens do Rio Acre, e pertencentesà Neutel Maia que chegou ao localem 1882. A economia de Rio Brancopassou a estar associada não apenascom a extração do látex dasseringueiras, mas também docomércio que centralizou-se naregião (Bezerra, 2006).No início, seudesenvolvimento econômico tevecomo base a atividade extrativista ecomercial impulsionando o processode uso e ocupação do solo urbano.Atualmente as atividades comerciaise extrativistas, estimuladas porpolíticas públicas, levaram a umforte processo de urbanização deRio Branco.A implantação de áreasresidenciais e comerciais, dentreoutras atividades, podemproporcionar alterações no climaurbano. Conhecer estes processos eseus impactos para a população eatividades produtivas sãoimportantes, pois, permitem nortearos processos de planejamento egestão. Para seu estudo a ciênciaocidental dispõe de uma considerávelquantidade de referências, das quaispodem ser destacadas ascontribuições de Oke (1978),Henderson-Sellers & Robinson(1989), Escourrou (1991), Monteiro &Mendonça (2003), dentre outras.Segundo Amorim (2000), oprocesso intenso de urbanizaçãoaltera o balanço de radiação e ohídrico da superfície devido àsubstituição dos materiais naturaispelos materiais urbanos e criacondições climáticas diferenciadasda encontrada ao seu redor,caracterizando o clima urbano.No processo deurbanização, a remoção dacobertura verde e sua substituiçãopor áreas construídas elevam oíndice de albedo e,consequentemente, a superfície dosolo passa a reter menos quantidadede energia, aumentando arefletância. Sabe-se que, quantomais elevado é o volume de energiaarmazenado, maior é o equilíbriotérmico. Nas cidades, verifica-se,portanto, uma desorganização domecanismo climático (Conti, 2003).Monteiro (1976) notou queembora tenha ocorrido uma grandeevolução nos métodos de análise ena epistemologia da ciência, atémeados do século XX, os estudossobre clima urbano apenasinvestigavam sob aspectosmeteorológicos dando poucodestaque a degradação ambientalproveniente de atividade antrópica.Nesse sentido, o uso de imagens desatélite no estudo do clima urbanoé, entretanto, um recurso aindamuito pouco utilizado quando seobservam os estudos de climatologiabrasileiros (Monteiro & Mendonça,2003). Os trabalhos de Lombardo(1985), Mendonça (1995),Mendonça & Dubreuil (2005),Colhishon (1998) e Ortiz et al. (2011)são alguns exemplos brasileiros queempregaram imagens de satélite naanálise do campo térmico dascidades.Delgado et al. (20<strong>12</strong>) aoestudarem a influência da mudançada paisagem, a partir de dados TMem Cruzeiro do Sul, AC, constataramo crescimento das áreasantropizadas entre os anos de 2005a 2010. Outro resultado importanteencontrado por estes pesquisadoresfoi o aumento da temperatura dasuperfície em áreas antropizadascom valores superiores a 40°C.Nesse sentido, a utilizaçãode novas tecnologias como porexemplo, imagens de satélite,podem subsidiar pesquisas quepermitem não somente umconhecimento do evento, mastambém possibilitar a geração dedados e informações dinâmicos doclima urbano, destacando que asalterações do ambiente sãodecorrentes das atividadeshumanas, sendo o resultado dacorrelação entre a sociedade e anatureza na cidade.Estudos acerca dofenômeno ilha de calor, utilizandoestimativas de temperatura dasuperfície continental, com base emdados de satélites, foramconduzidosoriginalmenteempregando-se dados do sensorAVHRR a bordo dos satélites polaresda série NOAA (Gallo et al., 1993;Roth et al., 1989; Streutker, 2002). Aresolução espacial de 1,1 km destesdados é adequada somente para omapeamento da temperaturaurbana em escala regional (Chen etal., 2002). Recentemente, foramutilizados dados térmicos dossatélites da série LANDSAT, tendo-sedestacado por muitos anos oLANDSAT-5, com resolução espacialde <strong>12</strong>0 m, para estudos de ilha decalor de escala local (Weng, 2003).Como a temperatura da superfíciecontinental é mais facilmenterelacionada com as condições daprópria superfície, uma dasprincipais aplicações dosensoriamento remoto térmico noestudo de climas urbanos consisteem examinar relações entre aestrutura espacial dos padrõestérmicos urbanos e as característicasda superfície urbana, o que podeajudar posteriormente noplanejamento do uso da terra (Chenet al., 2006).Dados pontuais possuem avantagem de alta resoluçãotemporal, mas por outro lado têmpobre resolução espacial. Nasúltimas décadas, o sensoriamentoremoto aplicado em estudos declima urbano vem destacando-se,pois além de possuir alta resoluçãoespacial e oferecer visões dediferentes escalas, permite autilização de dados espectraislocalizados na região doinfravermelho termal dentro dajanela atmosférica. Isto faz comoque os sensores que operem nestaregião possam ter seus dadosRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 70 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 1. Localização geográfica da área de estudo e recorte do município Rio Branco, AC com a composição RGB (4, 3 e2).Tabela 1. Dia da passagem do satélite Landsat-5 para o município de Rio Branco, ACÓrbita/PontoDia/Mês/Ano2/67 01/08/19902/67 11/07/19942/67 <strong>12</strong>/06/19952/67 14/06/19962/67 19/07/19972/67 06/07/19982/67 10/08/19992/67 <strong>25</strong>/06/20002/67 30/07/200<strong>12</strong>/67 04/07/20032/67 04/06/20042/67 10/08/20052/67 26/06/20062/67 29/06/20072/67 01/07/20082/67 06/09/20092/67 24/08/2010convertidos, após sofrerem correçãodos efeitos atmosféricos e dasuperfície (emissividade), emtemperatura da superfíciecontinental (Dash et al., 2002; Weng& Yang, 2004), a qual é umparâmetro de importânciafundamental para o estudo daclimatologia urbana (Voogt & Oke,2003).Desse modo o trabalho tevecomo objetivos principais: estimar atemperatura da superfíciecontinental, índices de vegetação ealbedo da superfície eposteriormente comparar aevolução espaço-temporal destasimagens com a climatologia local apartir dos dados gerados peloInstituto Nacional de Meteorologia(INMET) em Rio Branco, AC.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 71 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


MATERIAL E MÉTODOSA área de estudoselecionada para este trabalhocorresponde ao município de RioBranco, AC (Figura 1). O municípiode Rio Branco sofreu um grandeprocesso de crescimentopopulacional a partir da década de70, com crescente concentração depopulação urbana. Para analisar aevolução das temperaturas daEstação Meteorológica do INMET(Instituto Nacional de Meteorologia)com sede em Rio Branco, AC,utilizou-se uma série histórica diáriada temperatura média do ar, noperíodo que compreendeu 20 anos(1990-2010) e, imagens do sensorTM, a bordo do satélite Landsat-5,órbita 2, ponto 67, (Tabela 1).Para o processamento dosdados, foram utilizados os softwaresERDAS IMAGINE 10 e ArcGIS 9.3. Osoftware ArcGIS versão 9.3 foiutilizado para o trabalho de dadosvetoriais, banco de dados e mapas, osoftware ERDAS IMAGINE 10 foiutilizado para o processamento deimagem como: cálculo da calibraçãoradiométrica, refletância dasbandas, albedo no topo daatmosfera, albedo da superfície,índices de vegetação, emissividadede cada pixel no domínio espectralda banda termal, emissividade dabanda larga, temperatura dasuperfície e classificação nãosupervisionada.As imagens TM sãocompostas de sete bandasespectrais, sendo que seis bandassão refletivas e uma termal (banda6). A radiância espectral dos alvosobservados pelo sensor TM sãoarmazenadas em níveis de cinza, ounúmero digital, os quais variam de 0a <strong>25</strong>5 (resolução radiométrica de 8bits) e tendo resolução espacial de30 m nas bandas refletivas e <strong>12</strong>0 mna banda do termal.De acordo com oalgoritmo SEBAL (Surface EnergyBalance Algoritm) proposto porBastiaanssen et al. (1998) uma sériede sequências foi efetuada. Pormeio da equação 1, foi calculado aradiância espectral de cada banda(L λi ), dada por:L max − LL = L +min× <strong>25</strong>5λi min <strong>25</strong>5 α =(1)em que, ND é o número digital decada pixel. Já, os coeficientes L max eL min são as radiâncias espectraismáximas e mínimas (Wm -2 sr -1 µm -1 ).Tratando-se de dados TM, asimagens, cujas datas de aquisiçãoestão compreendidas de 1 de marçode 1984 a 4 de maio de 2003, foramutilizados os valores de L min e L maxpropostos por Chander & Markhan(2003).Posteriormente, calculousea refletância de cada banda (ρ λi ),com a equação 2:ρ =λiπLλiE cosθ λi z d r(2)em que, L λi é a radiância espectral decada banda, E λi é a radiância solarespectral de cada banda no topo daatmosfera (W m -2µm -1 ), θ z é oângulo zenital solar retirado dainformação do cabeçalho dasimagens do sensor TM e d r é adistância relativa terra-sol (emunidade astronômica - UA) (equação3).A distância relativa terrasolfoi calculada por meio daequação sugerida por Allen et al.(2007):⎛d r = 1+0,033cos⎜DJ×⎝2π365⎞⎟⎠(3)em que, DJ representa o dia do ano.Com a refletância de cadabanda foi possível obter o albedo notopo da atmosfera (α toa ) e, por suavez, o albedo considerando osefeitos atmosféricos ou albedo dasuperfície (α):α toa = 0,293ρ 1 + 0,274ρ 2 + 0,233ρ 3 +0,154ρ 4 + 0,033ρ 5 + 0,011ρ 6(4)αtoa− α pτsw(5)em que, α p é o albedo da radiaçãosolar refletida pela atmosfera, quevaria entre 0,0<strong>25</strong> e 0,04, foi utilizadoo valor de 0,03; τ sw é atransmissividade atmosférica quepara condições de céu claro, podeser obtida por:τ sw = 0,75 + 2.10 -5 Z a(6)em que, Z a é a altitude.O Índice de Vegetação daDiferença Normalizada (NormalizedDifference Vegetation Index - NDVI)foi obtido por meio da razão entre adiferença das refletividades doinfravermelho próximo (ρ IV ) e dovermelho (ρ V ) e a soma das mesmas(equação 7):ρIV− ρNDVI =VρIV+ ρV(7)Para o cálculo do Índice deVegetação Ajustado para os Efeitosdo Solo (Soil Adjusted VegetationIndex – SAVI), empregou-se aexpressão proposta por Huete(1988).(1+)(ρ2− ρ1)SAVI =( + ρ2+ ρ1)(8)O SAVI é um índice quebusca diminuir a influência daresposta espectral do solo, mediantea inclusão de um fator de ajuste (l)que é variável com o grau deRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 72 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


fechamento do dossel, permitindomelhoria na interpretação dasvariáveis da vegetação. Nesteestudo foi utilizado o valor de l iguala 0,1, em virtude de se verificar queesse valor proporciona um Índice deÁrea Foliar (IAF) mais compatívelcom valores em superfície.Na estimativa do IAF,definido pela razão da área foliar detoda a vegetação por unidade deárea utilizada por essa vegetação,adotou-se a equação empíricasugerida por Allen et al. (2002).⎛ 0,69 − SAVI ⎞ln⎜⎟⎝ 0,59IAF = −⎠0,91(9)Para obtenção datemperatura da superfície (T s , emkelvin), foi utilizada a equação dePlank invertida, válida para umcorpo negro:T sK= 2⎛⎜ εln NB⎜ L⎝ λ,6K1⎞+ 1⎟⎟⎠(10)em que, K 1 (607,76 W m -2 sr -1 µm -1 ) eK 2 (<strong>12</strong>60,56 W m -2 sr -1 µm -1 ) sãoconstantes de calibração da bandatermal do sensor TM e L λ,6 é aradiância espectral da banda termal.Como cada superfície não emiteradiação eletromagnética como sefosse um corpo negro, há anecessidade de introduzir aemissividade de cada pixel nodomínio espectral da banda termal(ε NB ). Assim, quando for calculada aradiação de onda longa emitida dasuperfície, deverá ser considerada aemissividade da banda larga (ε 0 ) (6 –14 µm). Segundo Allen et al. (2002),as emissividades ε NB e ε 0 podem serobtidas, para NDVI > 0 e IAF < 3,pelas expressões:ε NB = 0,97 + 0,00331 IAFε 0 = 0,95 + 0,01 IAF(11)(<strong>12</strong>)Sendo adotado o valor deε NB = ε 0 = 0,98, para pixels com IAF ≥3. E, conforme Allen et al. (2002)utilizou-se para corpos d' água (NDVI< 0 e α < 0,47) os valores de ε NB =0,99 e ε 0 = 0,985.Objetivando avaliar odesempenho estatístico do métodopara determinar a temperatura dasuperfície, foram realizadas análisescomparativas entre as metodologiaspropostas com base nos valoresefetivamente medidos (observados)na estação meteorológica em RioBranco, AC. Para o teste dosmodelos, foi adotado o coeficientede determinação e correlação (r 2 er). Adicionalmente, foi estimado oseguinte erro estatístico: viés médio(VM) proposto por Willmott &Matsuura (2005). As expressõesutilizadas para estimativa do índicede determinação e erro foram:2rn∑=i = 1n∑i = 1n∑VM =i = 1( P − O)i( O − O)i22( P − O )iNi(13)(14)em que, P i é o i ésimo valor estimadode temperatura da superfície (ºC), O ié o i ésimo valor observado detemperatura da superfície (ºC), O éo valor médio observado detemperatura da superfície (ºC), N é onúmero de dados analisados.Para este estudo utilizou-sea classificação não supervisionadaproposta por Freitas et al. (20<strong>12</strong>),visando mapear a área urbana deRio Branco-AC, utilizou-se oclassificador “ISODATA” doprograma ERDAS IMAGINE 2010.Este procedimento distribui classesespectrais de maneira uniforme noespaço para, em seguida, aglomerarclasse por classe, em um processointerativo (repetitivo). Para estetrabalho foram definidas o númerode uma classe e vinte e cincointerações. Procedeu-se a umaaferição visual entre as classesespectrais geradas e, no programaArcGIS 9.3 foram gerados os mapasda mancha urbana.RESULTADOS E DISCUSSÃOA mudança da paisagem e oaumento da mancha urbana em RioBranco, AC substituindo as áreasverdes, resultou no aumento datemperatura do ar, causadas pelamodificação no balanço de radiaçãoe, consequentemente as ilhas decalor, as temperaturas médias do artiveram um ligeiro aumento. Fatoque pode ser comprovado pelaFigura 2. A temperatura média anualobteve aumentos significativos, quepodem ser constatados nainclinação da reta de tendência, quedemonstra que a maioria dos anosapresentaram uma elevaçãotérmica.Em estudo recente em RioBranco (Acre) de tendência climáticano aumento da temperatura mínimado ar através do teste estatístico deMann-Kendall e regressão linearsimples, os pesquisadoresconstataram uma forte tendência deelevação na temperatura mínima doar de 44% para Rio Branco noperíodo de 1970 a 2010 (Delgado etal. 20<strong>12</strong>).Na Figura 3a-q sãoapresentadas as relações temporaise espaciais estimadas peloclassificador ISODATA a partir dosensor TM do Landsat 5. Foiconstatado que as áreasRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 73 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 2. Temperatura média diária dos anos de 1990 a 2010 para o município de Rio Branco, AC.antropizadas dentro da área deestudo apresentam elevaçãosignificativa para os anos de 2005,2009 e 2010 mais de 130 milhectares foram destinados a áreasantropizadas (Figura 4).Ao estudar a influência damudança da paisagem em Cruzeirodo Sul, AC, Delgado et al. (20<strong>12</strong>)constataram o crescimento médiode mais de 54 mil hectares das áreasantropizadas entre os anos de 2005a 2010. Outro resultado importanteencontrado por estes pesquisadoresfoi o aumento da temperatura dasuperfície em áreas antropizadascom valores máximos de 42ºC.As áreas urbanas e compouca vegetação (solo exposto), sedestacaram com as maiorestemperaturas. Isso em virtude doconcreto e areia possuirpropriedades de absorção térmica,que faz com que o calor que éirradiado fique concentrado,resultando em áreas de picotérmico. O resultado da substituiçãode superfícies naturais, comovegetação e solo nu, por materiais,como asfalto e concreto, reduzem acobertura vegetal e alteramradicalmente as propriedades deimpermeabilidade, radiativas,térmicas e aerodinâmicas da áreaurbana.De acordo com Costa et al.(2010) as propriedades radiativas etérmicas dos materiais urbanos, emparticular, albedo, emissividade ecapacidade, e condutividadetérmica, também apresentam forteinfluência no desenvolvimento dofenômeno ilha de calor, visto queelas determinam como a radiaçãode ondas curta e longa é refletida,absorvida, emitida e armazenada.Analisando o albedo dasuperfície (Figura 5) da área deestudo é perceptível constatar ummaior número de valores de albedomédio para os anos de 2005, 2009 e2010 superiores a 0,14 em áreasantropizadas.A tendência geral é de áreascom vegetação mais densaapresentar os menores valores dealbedo enquanto áreas com algumtipo de atividade antrópica, tal comoagricultura e influência urbana,apresentar os maiores valores dealbedo.Na Figura 6 verifica-se queos valores médios do NDVI, SAVI eIAF apresentaram maioresoscilações, principalmente nos anosde maiores aumento das áreasantropizadas (2005, 2009 e 2010).O NDVI identifica melhoruma vegetação mais densa, o queexplica o aumento das áreas demata (1994 a 1998). O ano de 2010foi caracterizado com o menoríndice NDVI de 0,45 (Figura 6).O ano de 2004 foicaracterizado com o maior IAF 0,79,conforme Figura 6. Esse resultadoindicou aumento na biomassa domunicípio, resultando emdiminuição das áreas classificadascomo antropizadas (Figura 4).O índice SAVI oscilou entre0,26 em 2010 à 0,40 para o ano de2004 (Figura 6). O SAVI é um índicemais aconselhável para caracterizarvegetação não densa pelo fato deter ajuste na refletividade do solo e,portanto, um índice confiável para omunicípio de Seropédica pelaquantidade de pastagens existentesna região.Na Figura 7a, verifica-se quea aplicação do algoritmo paradeterminar a temperatura dasuperfície através de imagens TM dosatélite Landsat 5, apresentoucoeficiente de correlação (r) de 0,70quando comparado com os dados daestação de Rio Branco-AC (FiguraRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 74 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


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Figura 6. Valores médios dos índices de vegetação (NDVI, SAVI e IAF) para Rio Branco-AC.(a)Figura 7a. Análise de regressão para relação entre temperatura INMET versus SEBAL.7a). Os valores do viés médiovariaram de um mínimo de -0,32ºC aum máximo de 0,31ºCrespectivamente para as cenasestudadas (Figura 7b).Os valores estimados emrelação aos medidos do INMETdiferenciaram ao longo de 17 anosde estudo na faxia média de 1,<strong>12</strong>ºCmostrando que a metodologia doSEBAL para estimar a T s é viável paraáreas onde não se possui estaçõesmeteorológicas.A partir das análisesrealizadas nas figuras anteriores,observa-se segundo Leitão et al.(2002), que as alterações no uso ecobertura do solo podem influenciarsignificativamente nas variaçõesclimáticas em escala regional eRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 77 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


(b)Figura 7b - Viés médio (b) para relação entre temperatura INMET versus SEBAL.global. O aumento do albedocausado pelas mudanças quanto aouso e cobertura do solo temcontribuído para as mudançasambientais globais. O albedo de umasuperfície coberta por vegetaçãovaria com o ângulo de inclinação doSol, tipo de vegetação, condições deumidade do ar e da superfície,umidade e tipo de solo, além daquantidade e tipo de nuvens.As áreas densamenteurbanizadas em Rio Branco-AC,combinadas com a falta devegetação, podem resultar embaixos valores de calor latente,umidade específica eevapotranspiração, mas, por outrolado, aumenta significativamente osfluxos de calor sensível quemodificam a camada limite urbana.CONCLUSÕESA evolução histórica dastemperaturas de Rio Branco, AC foianalisada a partir das imagens dosensor TM, a bordo do satéliteLandsat-5, nas quais observaram-seque o aquecimento concentrou acada ano que passa sobre noperímetro urbano, visto que, astransformações na paisagem naturaltêm ocorrido de maneira muito maisdevastadora, onde não hápreocupação com os agravantesambientais.Os resultados obtidos nesteestudo, ainda que em caráterpreliminar, indicam relevantealteração da paisagem ao longo dos17 anos analisados. Os valoresdemonstram avanço das áreasantropizadas (8.899,11 ha em 1995para 159.424,74 ha em 2010).A temperatura da superfícieestimada pelo algoritmo SEBAL paraos anos de 1990 a 2010,apresentaram valores máximos de29,37ºC e valores mínimos de16,57ºC. O presente estudo mostrouque os dados estimados datemperatura da superfícieapresentaram boa correlação de0,70 com os dados do INMET, já queas temperaturas foramsubestimadas e superestimadas comvalores mínimos e máximos de -0,32ºC e 0,31ºC em 1994 e 1996.AGRADECIMENTOSAo CNPq pelo auxíliofinanceiro processo 477207/2011-1,ao Instituto Nacional de PesquisasEspaciais (INPE) pelas imagens doLandsat 5 e a Universidade FederalRural do Rio de Janeiro peladisponibilidade do uso dolaboratório de Meteorologia.REFERÊNCIASALLEN, R.; TASUMI, M.; TREZZA, R.Satellite-based energy balance formapping evapotranspiration withinternalized calibration (METRIC) –Model. Journal of Irrigation andDrainage Engineering, 133: 380-394.2007.ALLEN, R. G., TASUMI, M.; TREZZA,R. SEBAL (Surface Energy BalanceAlgorithms for Land). AdvanceTraining and Users Manual – IdahoImplementation, version 1.0. 2002.AMORIM, M. C. de C. T.. O Climaurbano de Presidente Prudente/SP.Tese (doutorado) FFLCH-USP, 2000.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 78 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


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Proposta de ferramenta de diagnóstico socioambientalempresarialProposal of a tool for socio-environmental diagnostic of a companyRESUMOO presente artigo apresenta os principais resultados de pesquisa que tevecomo objetivo desenvolver uma Ferramenta de Diagnóstico SocioambientalEmpresarial (FDSE). A FDSE visa a auxiliar empresas na tomada de decisõespor meio da promoção de uma visão estratégica da gestão socioambiental.Para tanto, foi construído um roteiro extensivo de verificação envolvendo osaspectos econômico, ambiental e social, com base em indicadoressocioambientais, de sustentabilidade e de desempenho ambiental. Aferramenta foi aplicada em quatro empresas de ramos diversos doMunicípio de Guarapuava, PR, com o objetivo de avaliar sua utilidade,refiná-la e valida-la. O diagnóstico final, elaborado com base nos resultadosda aplicação da FDSE, inclui uma análise do desempenho socioambiental daempresa avaliada e a determinação de índices de desempenho e desustentabilidade, além de assinalar seus pontos fortes e fracos.André Almeida GonçalvesMestrado em Gestão Ambientalpela Universidade PositivoCuritiba, PR, BrasilMaurício DziedzicProfessor Titular Pós-Graduação emGestão Ambiental UniversidadePositivoCuritiba, PR, Brasildziedzic@up.edu.brPALAVRAS-CHAVE: sustentabilidade, gestão empresarial, diagnósticosocioambiental.ABSTRACTThe present work reports the main results of a project which aimed todevelop a socio-environmental business diagnostic tool (FDSE, portugueseacronym for “Ferramenta de Diagnóstico Sócioambiental Empresarial”). TheFDSE’s purpose is to assist companies on their decision making processthrough the promotion of a socio-environmental strategic management.Thus, an extensive verification list was compiled, including social,environmental and economic aspects based on indicators of socioenvironmental,sustainability and environmental performance. The tool wasapplied at four companies from different segments, in the city ofGuarapuava, Paraná, in order to assess its effectiveness, refine and validateit. The final diagnostic, based on the FDSE application results, includes asocio-environmental performance analysis of the company evaluated andthe determination of sustainability and performance indices, while alsoidentifying its weaknesses and strengths.KEYWORDS: sustainability, business managerial strategies, socioenvironmentaldiagnostic.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – <strong>Setembro</strong> de 20<strong>12</strong> 81 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


INTRODUÇÃOAs empresas têmpassado por fortes pressões legais emercadológicas nos últimos anospara se adaptarem a um modo deprodução sustentável que privilegiea responsabilidade socioambientalsem deixar de gerar lucro. Oprimeiro passo para se atingir essagestão socioambiental estratégica éaceitar que a lucratividade e aquestão ambiental podem conviverem certa harmonia (TACHIZAWA,2006). Justificam esta aceitação duassituações apresentadas porTachizawa (2006). A primeira é umapesquisa, realizada pelaConfederação Nacional dasIndústrias (CNI) em parceria com oIbope, revelando que 68% dosconsumidores brasileiros estariamdispostos a pagar mais por umproduto que não agredisse o meioambiente. A segunda situação é oexemplo da empresa 3M que deixoude despejar 270 mil toneladas depoluentes na atmosfera e 30 miltoneladas de efluentes nos riosdesde 1975, e com isso estáconseguindo economizar mais deUS$ 810 milhões em remediação ecombate à poluição nos 60 paísesem que atua.Vislumbram-se, além domote econômico e da preservaçãodo meio ambiente, outros motivospara a empresa encampar umagestão socioambiental estratégicatais como: a melhoria noatendimento à legislação, aprevenção de riscos, a melhoria daimagem da empresa, a abertura denovos mercados e a diminuição decustos operacionais (MOURA, 2004;VALLE, 2004;). No campoadministrativo, Henri e Journeault(2007) destacam também aimportância das práticas de gestãoambiental no auxilio à tomada dedecisões e na melhoria dodesempenho organizacional.As empresas chegaramao século XXI com um leque grandede motivos para adotarem práticassocioambientais.Todavia,defrontam-se também com umintrincado universo de modelos einstrumentos de gestãosocioambiental, como, por exemplo,as normas da família ISO 14.000referentes a Sistemas de GestãoAmbiental (SGA), AuditoriaAmbiental, Avaliação do Ciclo deVida (ACV), Avaliação deDesempenho, Rótulos Ambientais;as normas e a legislação sobreAvaliação de Impactos Ambientais(AIA) e Licenciamento Ambiental; ossistemas de Responsabilidade SocialCorporativa, como a normaAccountAbilityAA1000(ACCOUNTABILITY, 2003), o SA 8000do Social AccountabilityInternational (SAI) (SAI, 2008), oOSHAS 18000, NBR 16001; osmodelos de gestão como, porexemplo, a Atuação Responsável, aAdministração da QualidadeAmbiental Total, Produção maisLimpa (P+L), Ecoeficiência, cicloPDCA (planejar, executar, verificar eagir); os Índices de SustentabilidadeEmpresarial (ISE) dos mercadosfinanceiros; os indicadores da GlobalReporting Initiative (GRI), daOrganização para a Cooperação eDesenvolvimento Econômico(OECD), do Instituto Ethos deResponsabilidade Social Empresarial;dentre muitos outros. Ao se depararcom esse confuso universo deopções, a empresa encontradificuldades de ordem técnica efinanceira para adotar a melhorsolução em gestão socioambientalque atenda os seus anseios. Nessesentido, Moura (2004) deixa clara aimportância de um diagnóstico, ouseja, a verificação do realdesempenho da empresa antes dese iniciar a implantação de umsistema de gestão.Neste contexto, o artigoretrata o desenvolvimento de umaferramenta de diagnósticosocioambiental apta a coletar dadosrelevantes, apontar pontos fortes efracos de uma empresa e definircenários de ameaças eoportunidades ao desenvolvimentoda organização, auxiliando osgestores empresariais na tomada dedecisões. Para tanto, são descritos aseguir a estrutura e o método parautilização da Ferramenta deDiagnóstico SocioambientalEmpresarial (FDSE) desenvolvida,assim como os resultados obtidoscom as aplicações da ferramenta nasempresas estudadas: umaMarmoraria (onde ocorreram duasaplicações da ferramenta com umintervalo de seis meses); umaFábrica de Móveis; um Escritório deAdvocacia; e uma Indústria deCompensados.FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICAGestão AmbientalA Gestão Ambiental,quanto a sua evolução histórica, sedivide em três fases: as décadasanteriores ao ano de 1970, como afase da alienação ambiental(predomínio da industrializaçãoacelerada); os anos entre 1970 e1980, como a fase da GestãoAmbiental passiva (ações deremediação); e os anos seguintes àdécada de 1990, como a fase daGestão Ambiental proativa (açõespreventivas) (MOREIRA, 2001).Quanto à suaclassificação a Gestão Ambientalpode ser dividida da seguinte forma:Global, Nacional ou Pública, eEmpresarial (BARBIERI, 2007). AGestão Ambiental Global, segundo oautor, é uma resposta a problemasambientais globais como, porexemplo, o Aquecimento Global e aProteção da Biodiversidade. Essagestão se manifesta por meio detratados e convenções estabelecidospor órgãos internacionais, tais comoa ONU. Já a Gestão AmbientalNacional ou Pública é caracterizadapela ação do Poder Público,orientada por uma Política PúblicaAmbiental entendida como oconjunto de objetivos, diretrizes einstrumentos de ação voltados àproteção do meio ambiente de umdeterminado país. Por fim, Rovereet. al. (2001) conceituam GestãoAmbiental Empresarial como sendoRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 82 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


aquela parte da função de gerênciaglobal que trata, determina eimplementa a política ambientalconstituída para a própria empresa,enquanto para Valle (2004) GestãoAmbiental Empresarial consiste emum conjunto de medidas eprocedimentos definidos de formaadequada e que, se bem aplicados,permitem reduzir e controlar osimpactos ambientais produzidos poruma empresa.DiagnósticoSegundo o DicionárioAurélio, Diagnóstico significa tanto oconhecimento como a determinaçãode uma doença (ou situação) pormeio de seus sintomas, sinais e/ouexames diversos (FERREIRA; 2004).Na área de gestão,diagnóstico, segundo Nogueira(1987), é uma atividadecaracterística de observação eanálise, que tem como objetivodetectar situações-problema quepossam estar prejudicando odesempenho da empresa eimpedindo que ela atinja osresultados esperados.Já na ecologia, odiagnóstico ambiental aparece comouma das fases obrigatórias doEstudo de Impactos Ambientais (EIA)com relação aos critérios para aimplantação da Avaliação deImpactos Ambientais (AIA),estabelecidos no artigo 6°, inciso Ida Resolução 1/86, do ConselhoNacional do Meio Ambiente(CONAMA, 1986). Esse diagnóstico,segundo essa Resolução, trata-se deuma completa descrição e análisedos recursos ambientais e suasinterações dentro da área deinfluência do projeto, com relaçãoao meio físico, biológico esocioeconômico, de modo acaracterizar a situação ambiental daárea em estudo (CONAMA, 1986).O mesmo acontece com oSistema de Gestão Ambientalbaseado na ISO 14.000, no qual seobserva a aplicação do diagnósticoambiental como uma ferramenta dafase do planejamento do Sistema deGestão Ambiental (SGA), que tratada identificação dos aspectos eimpactos ambientais (BARBIERI,2007; MOURA, 2004; VALLE, 2004).Segundo Backer (1995), os planos deação da gestão ambiental devem terorigem em um diagnósticoambiental da empresa, pois issopossibilitará quantificar o esforçonecessário para a gestão serdesenvolvida, permitindo tambémidentificar as prioridades deprogramas para a empresa.Indicadores AmbientaisA palavra “indicador”deriva da palavra latina “indicare”,cujo significado é: descobrir,anunciar, estimar (MERICO, 1997).McQueen e Noak (1988) conceituamindicador como a medida queresume informações importantes deum determinado fenômeno. Bellen(2005) complementa esse conceitoafirmando que os indicadorespodem ser tanto quantitativos,como qualitativos. Quanto aoconceito de indicador ambiental, aOECD (1993) diz se tratar de umparâmetro, ou um valor derivado deparâmetros, que aponta, forneceinformação e descreve o estado deum fenômeno, área ou ambiente.Quanto à sua importância, a UnitedNations Economic Commission forEurope (UNECE, 2006), aponta queos indicadores ambientais sãoconsiderados fundamentais para aavaliação de impactos ambientais ea elaboração de relatóriosempresariais.Indicadores de DesempenhoAmbientalIndicadoresdedesempenho têm por objetivoexpressar quantitativamente oestado de um ambiente internoe/ou externo à organizaçãoresponsável pelo empreendimento,ou então revelar seu funcionamento(ANDRADE et. al, 2002).Segundo Gasparini(2003), Indicadores de DesempenhoAmbiental se referem ao uso derecursos naturais expressos emvalores monetários e em valoresabsolutos de quantidade ouconsumo, nos quais sãoconsideradas também as iniciativasde gerenciamento ambiental, osimpactos significativos relacionadosao setor da atividade e asrespectivas ações de minimização(GASPARINI, 2003 apud CAMPOS etal., 2007a).Henri e Journeault (2007)apontam quatro razões quejustificam a importância dosIndicadores de DesempenhoAmbiental: primeiro, em decorrênciado aumento das responsabilizaçõespor ações ambientais, fruto da cadavez mais rígida legislação ambiental,os Indicadores de DesempenhoAmbiental auxiliam na avaliação,controle e divulgação dos resultadosambientais; segundo, forneceminformações para a tomada dedecisões,assegurando,simultaneamente, o alcance dosobjetivos ambientais; terceiro,fornecem informações relativas aocusto de redução de riscos e sobre amedição dessa redução, evitandodesperdícios; quarto, são uminstrumento eficaz para melhorar aspráticas empresariais e odesempenho organizacional.Por fim, os Indicadores deDesempenho Ambiental ajudam aresumir a diversidade de dadosambientais relativos às operações deuma empresa, limitando o númerode indicadores existentes (RAO et al.2005). Esse mesmos autores indicamque essas informações não sóajudam na efetiva participaçãopública, mas também ajudam na boagovernança empresarial.Indicadores de SustentabilidadeIndicadoresdeSustentabilidade permitem avaliar oprogresso da gestão ambiental rumoao desenvolvimento sustentável.Segundo Bellen (2005) acomplexidade dos problemas dodesenvolvimento sustentável requera agregação de diferentesindicadores formando, assim, umRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 83 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


sistema. Nesse sentido, Quiroga(2005) aponta que os indicadoresambientais, os sociais e oseconômicos podem serconfrontados em uma base comumde informações.Existem no mercadoinúmeros modelos, sistemas eferramentas que se propõem aavaliar a sustentabilidade em nívelglobal, continental, nacional,regional, local ou organizacional.Dentre todo este universo,destacam-se quatro métodos:Ecological footprint method – EFM –(Método da Pegada Ecológica);Dashboard of Sustainability – DS – (Painel da Sustentabilidade);Barometer of Sustainability – BS –(Barômetro da Sustentabilidade)apontados por Ballen (2005) comoos de maior utilização; e Pressure,State, Response – PSR – (Pressão,Estado, Resposta) desenvolvido pelaOECD em 1993.a) Método da PegadaEcológica (MPE):O Método da PegadaEcológica foi desenvolvido porWackernagel e Rees (1996). Estaferramenta se fundamenta noconceito de capacidade de carga,transformando o consumo dematéria-prima e a assimilação dedejetos de um sistema econômicoou população humana em áreacorrespondente de terra produtivaou água. Bellen (2005) define oMétodo da Pegada Ecológica comouma ferramenta destinada amensurar o desenvolvimentosustentável por meio datransformação do consumo dematérias-primas e assimilação dedejetos de uma população ousistema econômico, em umadeterminada área correspondentede terra ou água produtiva.b) Painel da Sustentabilidade(PS):Esta ferramenta foidesenvolvida em 1999 peloConsultive Group on SustainabilityDevelopment Indicators (CGSDI)(CAMPOS et al., 2007b). O Painel daSustentabilidade é uma ferramentade previsão quantitativa equalitativa, que dá ênfase à análisequantitativa para convalidação dosdados que foram colhidos paraentão definir os indicadores dedesempenho (BELLEN, 2005). Tratasede uma ferramenta que reúneindicadores que medem os estadosdo ambiente, da economia, do bemestar humano e institucional de umanação (PARENTE, 2007; e CAMPOSet al., 2007b). Cada indicador écomposto por três subindicadorescom: a) uma agulha que indica ovalor atual de desempenho dosistema; b) um gráfico que aponta asmudanças ocorridas com o passar dotempo; e c) uma demonstração demedida das ações críticas ocorridas(PARENTE, 2007). Estes trêsindicadores são dispostos em umpainel de controle com cores quevariam do vermelho-escuro (crítico),amarelo (médio), até o verde-escuro(positivo) (CAMPOS et al., 2007b; eBALLEN, 2005). A Figura 1 apresentao formato do Painel daSustentabilidade.c) Barômetro daSustentabilidade (BS):Criado em conjunto pelaWorld Conservation Union (IUCN) epelo International DevelopmentResearch Centre (IDRC), o Barômetroda Sustentabilidade tem comoobjetivo medir e comunicar o bemestar assim como o progresso deuma sociedade para asustentabilidade (PRESCOTT-ALLEN,2001). Para tanto, esta ferramentautiliza indicadores biofísicos, deecossistema e de bem estar social. Épossível extrair conclusões sobre ascondições das localidades e osefeitos de interações pessoaecossistemaa partir da utilização doBS (CAMPOS et al., 2007b). Suaestrutura é de fácil compreensão,funcionando como uma balança emque interagem um sistema dehipóteses com referência ao bemestar do ecossistema e ao bem estarhumano (PARENTE, 2007). Érealizada uma média aritmética dosindicadores e esta média é avaliadaRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 84 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 2. Representação gráfica do Barômetro da Sustentabilidade (CAMPOS et al., 2007b).Tabela 1: Conceito e Abrangência dos Indicadores Pressão, Estado, Resposta (adaptado de OECD, 1993).INDICADORPRESSÃOESTADORESPOSTACONCEITO E ABRANGÊNCIADescreve os agentes que interferem no meio ambiente e as causas de suas ações. Aspressões podem ocorrer por conta de atividades antrópicas (atividades econômicas einovações tecnológicas) e por causa de atividades de funcionamento dos ciclosnaturais, entre outras.Reflete as condições do meio ambiente, ou seja, descreve a qualidade e quantidadedos recursos naturais.Representa as medidas adotadas pela sociedade que são traduzidas em políticaambiental, regulamentação, taxação, pagamento e reparo de danos ambientais.em uma balança de desempenhocom representação bidimensional(conforme Figura 2).A balança do Barômetroda Sustentabilidade é dividida em 5partes de 20 pontos cada e combase que varia de zero a 100(PRESCOTT-ALLEN, 2001). Cada setorcorresponde a uma cor, que, comoilustra a Figura 2, varia do violeta aobranco.d) Pressão, Estado, Resposta(PER):Finalmente, o pioneirodos modelos de Índice deSustentabilidade, o Pressão, Estado,Resposta foi desenvolvido pelaOrganização para a Cooperação eDesenvolvimento Econômico(OECD,1993), sendo um modelo quese destaca, em termos de aceitaçãoe utilização (CAMPOS et al., 2007b)em razão da sua simplicidade,facilidade na utilização e por suaaplicabilidade nos diferentes níveis,escalas e atividades humanas. Épossível distinguir três tipos deindicadores que formam o modelo:Indicadores de Pressão, Indicadoresde Estado e Indicadores de Resposta(OECD, 1993). A Tabela 1 mostra ostrês tipos de indicadores e suaabrangência conforme especifica aOECD (1993).Segundo Manteiga (2000apud RUFINO, 2002), o modeloPressão, Estado, Resposta estáfundamentado em uma rede decausalidades na qual se acredita queas ações humanas geram pressõesno meio ambiente, alterando aqualidade e a quantidade derecursos naturais disponíveis eprovocando uma resposta que buscareduzir ou extinguir a citada pressão.Índices de SustentabilidadeEmpresarialÍndices são números queagregam e representam umdeterminado conjunto deindicadores. Sua variação mede,portanto, a variação média dosindicadores do conjunto (MIRANDA,2007). A construção de índicesauxilia as empresas nas análisescomparativas, tanto da própriaempresa ao longo de um período,como entre empresas de um mesmoRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 85 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


setor (NASCIMENTO et al.,2008). Osprincipais índices desustentabilidade são:a) Global ReportingInitiative (GRI):Trata-se de uma iniciativaglobal induzida pela Coalition ofEnvironmentally ResponsibleEconomies (CERES) e pela UnitedNations Environment Programme(UNEP) a fim de indicar um guia paraa elaboração de relatórios queenvolvem os aspectos ambientais,sociais e econômicos (MIRANDA,2007). O objetivo, ou missão, da GRIé promover a transparência entre aempresa e as partes interessadas,com base em uma estruturaconfiável para elaboração derelatórios de sustentabilidade comcapacidade de abranger qualquertipo de empresa,independentemente do tamanho,setor ou localidade (GRI, 2007). Aocontrário das ferramentas de SGA, aGRI não apresenta metodologia degestão, mas sim uma sistematizaçãodo conceito de sustentabilidade,facilitando assim o diálogo com aspartes interessadas (NASCIMENTOet al., 2008). Segundo esses autores,o relatório proposto pela GRI levaem consideração 11 princípios:transparência,inclusão,auditabilidade, comparabilidade,relevância, contexto desustentabilidade, exatidão,neutralidade, comparabilidade,clareza e periodicidade. Ou seja, umrelatório de sustentabilidade parater credibilidade deve respeitar oscitados princípios. Os indicadoresGRI integram aspectos econômicos,ambientais e sociais. Esses macroindicadores se subdividem emcategorias, que por sua vez sesubdividem em aspectos.b) Indicadores Ethosde Responsabilidade SocialEmpresarial:O modelo de IndicadoresEthos foi concebido pelo InstitutoEthos de Responsabilidade SocialEmpresarial em 2000. Trata-se deum guia para elaboração do balançosocial, que utiliza o modelo IBASEpara agregação dos seus indicadores(NASCIMENTO et al., 2008). Oobjetivo dos Indicadores Ethos éoferecer às empresas umaferramenta que as auxilie noprocesso de aprofundamento de seucomprometimento com odesenvolvimento sustentável e coma responsabilidade social (ETHOS,2008). A proposta dos IndicadoresEthos é que o seu relatório contenhainformações sobre o perfil daempresa, o seu histórico, seusprincípios e valores, governançacorporativa, diálogo com as partesinteressadas e indicadores dedesempenho econômico, social eambiental – o chamado “Tripé daSustentabilidade” (NASCIMENTO etal., 2008).c) Índices deSustentabilidade Empresarial (ISE)da Bolsa de Valores de São Paulo(BOVESPA):Acompanhando aevolução dos mercados de capitaisestrangeiros, a Bolsa de Valores deSão Paulo (BOVESPA) uniu esforçoscom a Fundação Getúlio Vargas ecriou o ISE (BARBIERI, 2007). Oobjetivo principal desse índice éinstituir um ambiente deinvestimento que comungue com asdemandas do desenvolvimentosustentável (BOVESPA, 2005).Quanto às suas dimensões, o índiceda BOVESPA adota o conceito-basedo “Tripé da Sustentabilidade”avaliando elementos econômicos,sociais e ambientais, com aintrodução de critérios e indicadoresde governança corporativa(BOVESPA, 2005).METODOLOGIAA FDSE foi elaborada combase em pesquisa bibliográfica,seguida de aplicações de teste erefinamento.Construção da ferramentaInicialmente foi realizadaextensa pesquisa bibliográficabaseada principalmente nasseguintes fontes: normas da sérieNBR ISO 14.000; ResoluçõesCONAMA 01/86, 306/02 e 381/06;Indicadores Ethos 2008 (ETHOS,2008); Indicadores GRI 2006 (GRI,2007); Norma AA1000; Norma SA8000; Norma NBR 16.001;Indicadores de SustentabilidadeIBGE; Índice de SustentabilidadeEmpresarial BOVESPA (BOVESPA,2005) e Dow Jones; Agenda 21;Declaração do Rio de Janeiro Sobremeio ambiente e desenvolvimento;Princípios do Pacto Global,Indicadores OECD (OECD, 1993);indicadores UNECE 2006 (UNECE,2006), modelos de indicadores desustentabilidade (Barômetro daSustentabilidade, Painel daSustentabilidade, Método da PegadaEcológica e modelo Pressão, Estado,Resposta da OCDE), Análise de Riscoà Segurança Industrial e da Análisede Risco Ecológico proposta pelaEnvironmental Protection Agency(EPA – Agência de ProteçãoAmbiental dos Estados Unidos).Em seguida, passou-se àcriação das perguntas que formamos indicadores da ferramenta. Oroteiro de verificação foi dividido emquatro Aspectos (Geral, Econômico,Ambiental e Social), cada um delesformado por diversos Critérios que,por sua vez, são formados porIndicadores. Esses últimos sãocompreendidos por três tipos deperguntas: pergunta fechada(positiva e negativa), pergunta demúltipla escolha (positiva enegativa) e pergunta somatória(positiva e negativa). Além dasperguntas, o roteiro de verificaçãotambém é formado por um campode análise quantitativa que realiza ocálculo da pontuação atingida pelaempresa diagnosticada. O itemFerramenta de DiagnósticoSocioambiental Empresarial, aseguir, descreve a ferramentadesenvolvida e seu processo deconstrução.Aplicação da ferramentaA coleta de dados foirealizada com o auxílio de trêsprocedimentos metodológicos deRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 86 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 2: Classificação de empresas segundo o porte.TIPO LGMPE BNDESMicroempresaReceita bruta anual atéR$ 240.000,00--------Média empresaReceita bruta anual superior a R$240.000,00 e inferior a R$ 2,4--------milhõesMédia empresa --------Receita operacional bruta anual ouanualizada superior a R$ 2,4milhões (adaptado) e inferior a R$60 milhõesGrande empresa --------Receita operacional bruta anual ouanualizada superior a R$ 60milhõespesquisa: Entrevista, Análise dedocumentos e Visita in loco. Osdados coletados foram analisados,gerando quatro tipos dediagnósticos: Diagnóstico Individual,Diagnóstico Pontual, DiagnósticoParcial e Diagnóstico Completo. Osresultados desses diagnósticos, porsua vez, foram consolidados em trêsmétodos de análise: Análise dodesempenho, Análise do riscoempresarial e Índice desustentabilidade. Os resultadosdessas análises foram utilizadoscomo base para elaboração doRelatório final de cada empresadiagnosticada.Métodos de utilização da FDSE:coleta dos dadosPara a coleta de dados aFDSE classifica as empresasconforme dois critérios: porte esetor de atuação.a) Porte das Empresas: (a)Microempresa; (b) Empresade Pequeno Porte; (c) MédiaEmpresa; e (d) GrandeEmpresa. A Tabela 2apresenta a classificação dasempresas quanto ao seuporte levando emconsideração, para as Micro ePequenas empresas a LeiComplementar <strong>12</strong>3/2006intitulada Lei Geral de Microe Pequena Empresa (LGMPE)(BRASIL, 2006). Já para aclassificação como Média eGrande Empresa foiconsiderado o critérioadotado pelo Banco Nacionalde DesenvolvimentoEconômico e Social (BNDES)por intermédio da CartaCircular n.° 64/2002 (BNDES,2002).b) Classificação das Empresassegundo o setor de atuação:foi adotada a classificaçãoproposta por Tachizawa(2006): (a) IndústriaAltamente Concentrada; (b)Empresas da IndústriaSemiconcentrada; (c)Empresas de Bens deConsumo Não Duráveis; (d)Empresas de Bens deConsumo Duráveis; (e) Setorde Empresas Comerciais; (f)Empresas de ServiçosFinanceiros; (g) Empresas deServiços Especializados; (h)Instituições do SetorEducacional; (i) Setor deServiços Públicos; e (j)Organizações de OutrosRamos de Negócios.A coleta de dados foirealizada por intermédio de umroteiro de verificação que foipreenchido com o auxílio de trêsprocedimentos: Entrevista, Análisede Documentos e Visita in loco.Duas questões importantes foramlevadas em consideração nasentrevistas: a validade e aconfiabilidade das respostas. Quantoà confiabilidade, a mesma estáligada à consistência da medidautilizada para obtenção dosresultados (BÊRNI, 2002), por isso,criou-se um sistema quantitativo deanálise desenvolvido em planilhaeletrônica.Já quanto à validade,como nem sempre é possível tercerteza de que a informaçãofornecida pelos entrevistadoscorresponde à realidade(RICHARDSON, 1999), para que oresultado da entrevista seaproximasse ao máximo darealidade, foi esclarecido aosentrevistados que se tratava de umapesquisa acadêmica e que osresultados não seriam utilizadoscom caráter de punição (pelosórgãos públicos) ou retaliação (pelasorganizações do terceiro setor ou aprópria comunidade em geral), pelocontrário, quanto mais precisasfossem as respostas, melhor seriapara a empresa, pois a mesmapoderia utilizar em seu proveito oresultado da pesquisa para melhorarsua competitividade. Outro sistemautilizado para validar as respostas foio complemento da entrevista com aanálise de documentos e a visita inloco.A Tabela 3 mostra aporcentagem de utilização de cadaprocedimento de coleta de dados.Estes números foram obtidosatravés de um controle da fonte deinformação em cada um das cincoaplicações nas empresasdiagnosticadas:Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 87 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 3: Porcentagem de utilização dos procedimentos.PROCEDIMENTOPORCENTAGEM UTILIZAÇÃOEntrevista 74,60%Análise de documentos 14,40%Visita in loco 11,00%Figura 3: Estrutura do roteiro de verificação da FDSE.Cabe destacar que a coletade dados para a aplicação daferramenta se desenvolveu em duasfrentes: (i) análise e refinamento doroteiro de verificação e,consequentemente, da ferramentae; (ii) levantamento de dados paraelaboração dos relatórios finaissobre os diagnósticos das empresasanalisadas, apresentando odiagnóstico socioambiental,apontando os pontos fortes e fracos,a análise de risco da empresa, oíndice de sustentabilidade e osplanos de ação recomendados.A FERRAMENTO DEDIAGNÓSTICOSOCIOAMBIENTALEMPRESARIALEstrutura da FDSEA FDSE foi estruturada naforma de um roteiro de verificação oqual é dividido em quatro Aspectos:Geral, Econômico, Ambiental eSocial. Com exceção do AspectoGeral, que engloba as informaçõescadastrais da empresa, todos osdemais aspectos são compostos porindicadores organizados conforme aestrutura apresentada na Figura 3.As Perguntas são osmenores núcleos do roteiro deverificação e podem ser:a) Perguntas fechadasdicotômicas: são perguntasque apresentam comopossibilidade de respostaduas alternativas: Sim ouNão. Esta categoria depergunta possui pontuaçãozero ou 100 pontos daseguinte maneira: (a)resposta positiva recebe valor100 e (b) resposta negativarecebe valor zero. Estasperguntas podem serpositivas, quando o “sim”vale 100 pontos e o “não”vale zero ponto, ou negativas,quando o “não” vale 100pontos e o “sim” vale zeroponto, respectivamente.b) Pergunta de MúltiplaEscolha: as perguntas demúltipla escolha secaracterizam por possuíremtrês ou mais alternativas deresposta, e somente umadelas pode ser escolhida. Apontuação desta categoria depergunta varia de zero a 100pontos. Assim, por exemplo,se a pergunta possuir trêsrespostas possíveis, aprimeira opção valerá zero, asegunda 50 e a terceira 100pontos. Caso a Perguntaapresente quatro opções deresposta elas valerão zero,<strong>25</strong>, 50 e 100. Assimrespectivamente. Elas podemser perguntas positivas ounegativas.c) Pergunta Somatória: sãoperguntas sobre práticaspositivas ou negativas.Geralmenteelascomplementam as perguntasfechadas. As perguntassomatórias apresentamsempre mais de duasalternativas de respostas,podendo-se selecionar umaou mais alternativas. Quantomais opções forem marcadas,maior será a pontuação dapergunta, positiva ounegativamente.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 88 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


CRITÉRIOÁreas/Propriedadesda EmpresaAtividadeda EmpresaProdutosParceirosGestãoGestãoEconômicaGovernançaCorporativa eTransparênciaCompromissos daEmpresaTabela 4: Número de perguntas existentes na ferramentaASPECTO ECONÔMICOINDICADORES GERAIS/ESPECÍFICOSZoneamento Urbano e MunicipalTributação da ÁreaLicença AmbientalTributação da AtividadeGestão de Risco à Saúde e/ou à Segurança Humana e do AmbienteDesempenho da AtividadeQuestões Administrativas e LegaisGestão de Risco à Saúde e/ou à Segurança Humana e do AmbienteProcesso Administrativo e/ou JudicialDesempenho dos ProdutosContratação de fornecedoresManutenção do Contrato com o FornecedorComunicaçãoAuditorias AmbientaisEducação AmbientalDocumentaçãoComunicaçãoGestão EstratégicaGestão de Riscos e Oportunidades EconômicasGestão de Crises e Contingências EconômicasGestão do Desempenho EconômicoCompromissos ÉticosCompromissos FundamentaisCompromissos VoluntáriosASPECTO AMBIENTALNÚMEROPERGUNTASPolítica Ambiental 15Sistema de Gestão Ambiental17Planos e Programas Ambientais14Gestão AmbientalPlanos de Objetivos e Metas10Monitoramento e Medição18Materiais de Entrada –Recursos NaturaisÁguaEnergiaRecursos FlorestaisCombustíveis FósseisMateriais/Insumos/ProdutosEfluentes Líquidos49Emissões Atmosféricas44Materiais de SaídaResíduos Sólidos67Ruídos16Conformidade Legal 23ASPECTO SOCIALAmbiente InternoMicroambienteMacroambienteCondições de TrabalhoCondições SociaisCondições LegaisCondições de Transparência e GovernançaComunidade da Área de InfluênciaFornecedoresClientesTerceiro SetorConcorrênciaMarketingVariável SocioculturalVariável Político-legal762486542353111<strong>12</strong>1510<strong>12</strong>22269134<strong>25</strong>24<strong>25</strong>24374083813141116119171813Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 89 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Figura 4 - representação gráfica do Desvio-problemaTabela 5: Classificação do Desempenho (adaptado de LERIPIO, 2001)DESVIO-PROBLEMADESEMPENHOSuperior a 40%CRÍTICOEntre 30 e 40%PÉSSIMOEntre 20 e 30%RUIMEntre 10 e 20%RAZOÁVELInferior a 10%BOMIgual ou melhorEXCELENTEDentro da estrutura dosAspectos Econômico, Ambiental eSocial a FDSE permite que sejamrealizados quatro tipos deDiagnóstico: Individual, Pontual,Parcial e Completo.O Diagnóstico Individualpermite verificar o desempenho emum ou mais de um indicador. ODiagnóstico Pontual possibilitadeterminar o desempenho em umou mais de um Critério contido naferramenta. Já o Diagnóstico Parcialadmite que seja determinado odesempenho em um ou doisAspectos. Finalmente, a FDSEpossibilita que seja realizado umDiagnóstico Completo paradeterminar o desempenho em todosos três Aspectos.A Tabela 4 apresenta adivisão dos aspectos em indicadorese o número de perguntas associadasa cada um dos indicadores.O número total deperguntas da FDSE é de 884,divididas entre os AspectosEconômico, Ambiental e Social.Análise dos DadosA FDSE possibilita trêstipos de análises dos resultadosobtidos por meio dos quatrodiagnósticos citados anteriormente:Análise do Desempenho, Análise deRisco Empresarial e Índice deSustentabilidade.A Análise doDesempenho pode ser aplicada emqualquer um dos quatrodiagnósticos (Individual, Pontual,Parcial ou Completo). É baseada naproposta de diagnóstico empresarialsugerida por Nogueira (1987), a qualemprega a Teoria do Desvio-Problema (TDP). Segundo o autor, aTDP é aquela “que define umproblema como sendo o desviodetectado entre uma situaçãoconsiderada ideal ou desejada e asituação efetivamente encontrada”.Assim, parte-se dapremissa que uma empresa nãoapresenta o desempenho desejadoquando não alcança os objetivose/ou resultados esperados ou,quando, nas palavras de Nogueira(1987), há o “afastamento de rota”.A FDSE utiliza comoSituação Desejada (SD) o valor de70%, estabelecido por meio de umamédia dos resultados obtidos pelasempresas do Grupo de Referência edas Empresas participantes dorelatório da aplicação dosIndicadores Ethos de 2006. ASituação Encontrada (SE) écomparada aos 70% paradeterminar o Desvio-problema,como ilustra a Figura 4.A Tabela 5 apresenta aclassificação do desempenho daempresa em determinado Aspecto,Critério ou Indicador Geral, deacordo com o resultado do Desvioproblemaencontrado.Essa forma declassificação tem como base teóricao método GAIA – Gerenciamento deAspectos e Impactos Ambientais –proposto por Leripio (2001).Conforme a Tabela 5 o desempenhovaria do “crítico” até o “excelente”,indicando aqui por uma escala decinza mais escuro para cinza maisclaro, respectivamente. Optou-sepor esse método porque ele utilizauma classificação simples,autoexplicativa e impactante.A Análise de RiscoEmpresarial é a segunda opção deanálise que a FDSE permite. ÉRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 90 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


aseada nas metodologias deAnálise de Risco apresentadas porMiller (2007), Assumpção (2004),Valle (2004) e Kolluru (1996), quevisam diagnosticar, identificar emitigar ou extinguir os riscospotenciais das atividades humanas,em especial das empresariais. Aanálise de risco da FDSE tambémutiliza conceitos da Análise de Riscoà Segurança Industrial e da Análisede Risco Ecológico propostas pelaEnvironmental Protection Agency(EPA – Agência de ProteçãoAmbiental dos Estados Unidos)(USEPA. U.S., 1998). Os valoresexpressos na Análise de RiscoEmpresarial são obtidos através dosresultados do Diagnóstico Parcial daFDSE, que consistem no somatóriodos resultados das perguntas quecompõem os Aspectos Econômico,Ambiental e Social,respectivamente, multiplicados porvariáveis de peso, alfa, beta e gama:alfa se aplica aos aspectos(econômico, ambiental e social);beta se aplica ao critério deenquadramento da pergunta (legal,gestão e desempenho); e gamacorresponde à aplicabilidade dapergunta, definida pelo avaliador. Oaplicador da ferramenta podeatribuir pesos diversos às variáveis“α” e “β” o que possibilita detectaras sensibilidades da empresa eapontar a pior e a melhor situaçãosocioambiental da empresa emfunção das prioridades de análise doavaliador, tendo sempre como baseo resultado do diagnóstico comvariáveis “α” e “β” com pesos iguaisa um. A equação 1 é utilizada paraefetuar a Análise Completa, da qualse originam as demais equaçõespara efetuar as Análises Parcial,Pontual e Individual.Onde,αE, αA,αS= pesos dosaspectos Econômico,Ambiental e Social,respectivamente;βL, βG,βD= pesos doscritérios Legal, de Gestão edeDesempenho,respectivamente;γ( E,A,S )( L,G,D)= variável deaplicabilidade – determinase a Pergunta é aplicável ounão ao caso concreto. Seuvalor pode ser zero ou 1,caso a Pergunta não seaplique ao caso concretoterá valor zero, caso seaplique terá valor 1;E , A,S = AspectoEconômico, Ambiental eSocial, respectivamente;L , G,D = Aspecto Legal,de Gestão e deDesempenho,respectivamente;nE , L= número de critériosLegais no aspectoEconômico, por exemplo.A Análise de RiscoEmpresarial auxilia na determinaçãode planos de ação para a empresa,na identificação de aspectos eimpactos significativos que precisammelhorar para que o negóciodesenvolvido pela organização nãovenha a ruir e na identificação dosriscos e oportunidades.A última análise feita comos resultados da FDSE é a medida desustentabilidade da empresa. Essamedida concentra todos osindicadores (informações) do roteirode verificação e os transforma emum índice de sustentabilidade.Este método de análisepossui apoio teórico nos Índices deSustentabilidade da BOVESPA(BOVESPA, 2005) e da bolsa devalores Dow Jones, e se baseia nomodelo Barômetro daSustentabilidade.A metodologia paradeterminar o Índice deSustentabilidade (IS) consiste emdois passos:i. Realizar oDiagnóstico Completo, o qual écomposto pelos AspectosEconômico, Ambiental e Social.ii. Inserir o resultadoem um gráfico baseado no modeloBarômetro da Sustentabilidade eabstrair deste procedimento o graude sustentabilidade da empresa.A Figura 5 apresenta ográfico de sustentabilidade usadopara obter o IS.Esse gráfico representa oresultado do diagnóstico dos trêsAspectos da FDSE abstraídos doDiagnóstico Completo (AspectosEconômicos, Ambiental e Social). Atonalidade do triângulo formado nográfico representa o valor desseresultado que expressa o Índice deSustentabilidade da empresa (médiaentre os três aspectos). Assim, nesseexemplo a empresa estariaDC⎛α ⎜AβL⎝⎛α ⎜SβL⎝⎛= α ⎜EβL⎝nA,L∑i=1nS , L∑i=1( γ( γnE , L∑i=1A,LiS , Li( γASLiLiE,LiE) + β) + βLi) + βnA,G∑Gi=1nS , G∑Gi=1( γ( γnE , G∑Gi=1A,GiS , GiS( γAGiGiE,GiE) + β) + βGi) + βA,D∑Di=1nnS , D∑Di=1( γ( γnE , D∑Di=1A,DiS , DiS( γADiDiE,Di⎞) ⎟+⎠⎞) ⎟⎠EDi⎞) ⎟+⎠(1)Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 91 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


100806040200180 a 100: Sustentável60 a 80: Potencialmente Sustentável40 a 60: Intermediário20 a 40: Potencialmente Insustentável0 a 20: Insustentável32ÍNDICE DE SUSTENTABILIDADE1 - Aspecto Ambiental2 - Aspecto Econômico3 - Aspecto SocialFigura 5: Gráfico do Índice de Sustentabilidade. No exemplo da figura, o aspecto ambiental obteve pontuação40, o aspecto econômico pontuação 70 e o aspecto social pontuação <strong>12</strong>.Tabela 6: Diagnóstico Parcial da Aplicação da Ferramenta na Marmoraria – Aspectos.DIAGNÓSTICO PARCIAL (Dp) - ASPECTOSASPECTO RESULTADO CLASSIFICAÇÃOAspecto Econômico 40,49% RUIMAspecto Ambiental 37,29% PÉSSIMOclassificada com Índice deSustentabilidade “Intermediário(intervalo entre 40 e 60)”.APLICAÇÕES DA FDSEForam realizadas cincoaplicações da FDSE em quatroempresas de diferentes setores:uma Marmoraria, uma Fábrica deMóveis, um Escritório de Advocaciae uma Indústria de Compensados,sendo que na Marmoraria aferramenta foi aplicada duas vezesem um intervalo de seis meses.Marmoraria – primeira aplicaçãoTrata-se de uma PequenaEmpresa, localizada em uma áreaurbana comercial no interior doParaná, com imóvel próprio,contando com aproximadamente<strong>25</strong>00 m 2 de área total, e 900 m 2 deárea construída, com 20empregados e dois sócios. Possuicomo objeto social a industrializaçãoe comercialização de mármores,granitos e pedras decorativas emgeral e atividade principal obeneficiamento de mármore egranito, e sua posteriorcomercialização. É classificada comEmpresa de Bens de ConsumoDuráveis – Setor misto, conformeTachizawa (2006).A primeira aplicaçãoocorreu em julho de 2008(momento no qual o roteiro deverificaçãoencontrava-seincompleto, faltando o AspectoSocial) e levou cinco dias para serconcluída.A Tabela 6 apresenta oresultado da Análise doDesempenho da empresa.As deficiências maispatentes na empresa Marmorariadentro do Aspecto Econômico foramdiagnosticadas nos seguintesIndicadores Gerais: Parceiros,Gestão da Atividade, GestãoEstratégica, Compromissos Éticos,Compromissos Fundamentais eCompromissos Voluntários. No quediz respeito ao Aspecto Ambiental,as deficiências de desempenhoforam encontradas em diversosIndicadores Gerais, sendo eles:Sistema de Gestão Ambiental,Planos e Programas Ambientais,Planos de Objetivos e Metas,Efluentes Líquidos, EmissõesAtmosféricas e Resíduos Sólidos.A Figura 6 apresenta oresultado da Análise do RiscoEmpresarial da Marmoraria naprimeira aplicação da ferramenta.A Marmoraria apresentouuma situação de risco consideradacrítica segundo a metodologiaproposta pela FDSE, o que indicavafragilidade e grande susceptibilidadeaté a pequenas crises.Finalizando a análise daempresa, com base no resultado doDiagnóstico Completo (Dc), foiRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 92 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


100DESPREZÍVELMARGINALCRÍTICA7550<strong>25</strong>AspectoEconômicoAspectoAmbientalAspecto SocialCATASTRÓFICA0SITUAÇÃO DE RISCOSOCIOAMBIENTALFigura 6 - Análise de Risco Empresarial – Marmoraria (1ª. aplicação).Tabela 7: Diagnóstico Parcial da Aplicação da FDSE na Fábrica de Móveis.DIAGNÓSTICO PARCIAL (Dp) - ASPECTOSASPECTO RESULTADO CLASSIFICAÇÃOAspecto Econômico 40,92% RUIMAspecto Ambiental 36,92% PÉSSIMOAspecto Social 45,58% RUIM100DESPREZÍVELMARGINALCRÍTICA7550<strong>25</strong>AspectoEconômicoAspectoAmbientalAspecto SocialCATASTRÓFICA0SITUAÇÃO DE RISCOSOCIOAMBIENTALFigura 7 - Análise de Risco Empresarial – Fábrica de Móveis.encontrado um Índice deSustentabilidade considerado“Potencialmente Insustentável”(entre 20 e 40 pontos) com 39,78pontos.Fábrica de MóveisClassificada comoMicroempresa, localizada em umaárea urbana comercial no interior doParaná, com imóvel próprio,contando com aproximadamente1500 m 2 de área total, e 700 m 2 deárea construída, com seteempregados na linha de produção edois sócios administradores. Possuicomo objeto social a industrializaçãoe comercialização de móveisplanejados em geral e principalatividade o beneficiamento demadeira, compensado e MDF(Medium-Density Fiberboard) e suaposterior comercialização. Classificasecomo Empresa de Bens deConsumo Duráveis – Setor misto,conforme Tachizawa (2006).Essa aplicação da FDSEocorreu em dezembro de 2008 emuma única etapa, pois a ferramentaRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 93 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 8: Diagnóstico Parcial da Aplicação da Ferramenta no Escritório de Advocacia – Aspectos.DIAGNÓSTICO PARCIAL (Dp) - ASPECTOSASPECTO RESULTADO CLASSIFICAÇÃOAspecto Econômico 71,61% EXCELENTEAspecto Ambiental 50,20% RAZOÁVELAspecto Social 57,83% RAZOÁVEL100DESPREZÍVELMARGINALCRÍTICA7550<strong>25</strong>AspectoEconômicoAspectoAmbientalAspecto SocialCATASTRÓFICA0SITUAÇÃO DE RISCOSOCIOAMBIENTALFigura 8 - Gráfico da Análise de Risco Empresarial – Escritório de Advocacia.já se encontrava completa (AspectoEconômico, Ambiental e Social). Aaplicação levou dois dias e seusresultados são mostrados na Tabela7.As deficiências maispatentes na Fábrica de Móveisdentro do Aspecto Econômico foramdiagnosticadas nos seguintesIndicadores Gerais: Parceiros,Gestão Estratégica, GovernançaCorporativa e Transparência,Compromissos Éticos eCompromissos Fundamentais. Noque diz respeito ao AspectoAmbiental, as deficiências dedesempenho foram encontradas emdiversos Indicadores Gerais, sendoeles: Política Ambiental, Planos deObjetivos e Metas, Monitoramentoe Medição da Gestão Ambiental,Efluentes Líquidos, Resíduos Sólidose Ruídos. Por fim, quanto aoAspecto Social, as deficiências dedesempenho foram encontradas nosseguintes Indicadores Gerais:Condições Sociais, Condições deTransparência e Governança,Comunidade da Área de Influência,Fornecedores, Terceiro Setor eVariável Sociocultural.A Figura 7 apresenta oresultado da Análise do RiscoEmpresarial da Fábrica de Móveis.A Fábrica de Móveisapresentou uma situação de riscoigual à da Marmoraria (inclusive compontuação nos Aspectos muitoparecida), ou seja, consideradacrítica segundo a metodologiaproposta pela FDSE, o que indicoufragilidade e grande susceptibilidadeaté a pequenas crises.Concluindo, a empresaapresentou, com base no resultadodo Diagnóstico Completo (Dc), umÍndice de Sustentabilidade (IS)considerado “Intermediário” (entre40 e 60 pontos) com 41,40 pontos,muito mais próximo de um índice“Potencialmente Insustentável”, doque de um índice “PotencialmenteSustentável”.Escritório de AdvocaciaTrata-se de uma empresade Pequeno Porte, localizada emcidade do interior do Paraná, emuma área urbana comercial, comimóvel alugado, contando comaproximadamente 600 m 2de áreatotal construída e uma força detrabalho composta por 18empregados, 15 advogados, umcontador, um estagiário e quatrosócios. O objeto social dessaempresa é a prestação de serviçojurídico contencioso e consultoria,sendo classificada como Empresa deServiço Especializado, conformeTachizawa (2006).Essa aplicação da FDSEtambém ocorreu em dezembro de2008 em uma única etapa, tendodurado três dias. A Tabela 8 mostraos resultados.As deficiências maispatentes no Escritório de Advocacia,dentro do Aspecto Econômico,foram diagnosticadas no IndicadorGeral “Parceiros”. No que dizrespeito ao Aspecto Ambiental, asdeficiências de desempenho foramencontradas nos Critérios: PolíticaAmbiental, Planos de Objetivos eMetas, Energia e Resíduos Sólidos.Revista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 94 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 9 - Diagnóstico Parcial da Segunda Aplicação da Ferramenta na Marmoraria – Aspectos.DIAGNÓSTICO PARCIAL (Dp) - ASPECTOSASPECTO RESULTADO CLASSIFICAÇÃOAspecto Econômico 60,88% BOMAspecto Ambiental 51,61% RAZOÁVELAspecto Social 44,37% RUIMTabela 10: Resultados dos Diagnósticos 01 e 02 - Marmoraria.DIAGNÓSTICO PARCIAL (Dp) - ASPECTOSASPECTO RESULTADO APLICAÇÃO 01 RESULTADO APLICAÇÃO 02Aspecto Econômico 40,49% 60,88%Aspecto Ambiental 37,29% 51,61%Aspecto Social - 44,37%100DESPREZÍVELMARGINALCRÍTICA7550<strong>25</strong>AspectoEconômicoAspectoAmbientalAspecto SocialCATASTRÓFICA0SITUAÇÃO DE RISCOSOCIOAMBIENTALFigura 9: Análise de Risco Empresarial – Marmoraria (2ª. aplicação).No Aspecto Social asdeficiências de desempenho foramencontradas nos Critérios:Comunidade da Área de Influência,Fornecedores e Terceiro Setor. AFigura 8 apresenta o resultado daAnálise do Risco Empresarial doEscritório de Advocacia.O Escritório de advocaciaapresentou uma situação de riscomarginal, não apresentando grandevulnerabilidade a pequenas crisesinternas ou externas.Finalizando a análise daempresa, com base no resultado dodiagnóstico completo, foiencontrado um Índice deSustentabilidade considerado“Intermediário” (entre 40 e 60pontos) com 57,14%.Marmoraria segunda aplicaçãoTrata-se da mesmaempresa descrita anteriormente,todavia, essa aplicação da FDSEocorreu seis meses depois daprimeira aplicação, ou seja, emjaneiro de 2009 e levou os mesmoscinco dias para ser concluída. ATabela 9 apresenta o resultado daAnálise do Desempenho daempresa, e a Tabela 10 apresentauma comparação entre as duasaplicações da FDSE.No Aspecto Econômico amelhora foi de mais de vinte pontospercentuais, cerca de 50% deevolução em relação à situaçãoinicial, enquanto que no AspectoAmbiental a melhora foi de quatorzepontos percentuais, cerca de 40% deevolução em relação à situaçãooriginal, ou seja, um avançosignificativo com a adoção de açõessimples pela empresa, com base norelatório emitido após a primeiraaplicação da FDSE. A Figura 9apresenta o resultado da Análise doRisco Empresarial da Marmoraria nasegunda aplicação da ferramenta.Apesar da melhora daempresa, a situação de risco aindase mostrou problemática. É precisodedicar atenção especial aosAspectos Ambiental e Social, poisqualquer crise interna ou externapode agravar os riscos (risco àsegurança, à saúde humana e aomeio ambiente, risco econômico deinadimplência e falta de recursosRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 95 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


Tabela 11: Diagnóstico Parcial da Aplicação da Ferramenta na Indústria de Compensados – Aspectos.DIAGNÓSTICO PARCIAL (Dp) - ASPECTOSASPECTO RESULTADO CLASSIFICAÇÃOAspecto Econômico 81,01% EXCELENTEAspecto Ambiental 68,23% BOMAspecto Social 67,04% BOM100DESPREZÍVELMARGINALCRÍTICA7550<strong>25</strong>AspectoEconômicoAspectoAmbientalAspecto SocialCATASTRÓFICA0SITUAÇÃO DE RISCOSOCIOAMBIENTALFigura 10: Análise de Risco Empresarial – Indústria de Compensado.financeiros, riscos sociais doambiente interno e domicroambiente, entre outros).Finalizando a análise daempresa, com base no resultado doDiagnóstico Completo (Dc), foiencontrado um Índice deSustentabilidade “Intermediário”(entre 40 e 60 pontos) com 51,16pontos. Nítido foi o auxílio que aFDSE prestou para a gestãosocioambiental da organizaçãoestudada, pois orientou a evoluçãoda empresa de um cenário dePotencial Insustentabilidade paraum nível Intermediário deSustentabilidade.Indústria de CompensadosTrata-se de uma empresade Médio Porte com receita brutaanual superior a R$ 10,5 milhões(dez milhões e quinhentos mil reais)e inferior ou igual a R$ 60 milhões(sessenta milhões de reais),localizada em cidade do interior doParaná, em uma área urbanaindustrial, com imóvel alugado,operando em uma área deaproximadamente 50.000 m 2 econtando com uma força detrabalho de mais de 600 empregosdiretos. O objeto social dessaempresa é a industrialização,comercialização, exportação eimportação de madeiras brutas,beneficiadas e compensadas e suaprincipal atividade é exportação decompensados para a Europa,Estados Unidos e Caribe. Éclassificada como empresa daIndústria semiconcentrada, Empresaprodutora de bens de consumo nãoduráveis, conforme Tachizawa(2006).Essa aplicação da FDSEocorreu em fevereiro de 2009 elevou sete dias para ser concluída. ATabela 11 apresenta o resultado daAnálise do Desempenho daempresa.Essa última empresaestudada apresentou uma situaçãode risco média classificada comoMarginal, segundo a metodologiaproposta pela FDSE, o que indicasolidez, mas não deve induzirrelaxamento na gestãosocioambiental, até porque, entreoutros argumentos, ela está sujeitaàs variações do mercadointernacional.Finalizando a análise daempresa, com base no resultado doDiagnóstico Completo (Dc), foiencontrado um Índice deSustentabilidade “PotencialmenteSustentável” (entre 60 e 80 pontos)com 69,31 pontos.CONCLUSÃOOs propósitos da FDSEforam atingidos com a metodologiaproposta. A ferramenta se mostrouútil para identificar as possíveiscausas que prejudicam odesempenho das empresasajudando, assim, os gestores natomada de decisões.A aplicação do roteiro deverificação transcorreu de formarápida, apesar da extensão e daprofundidade de investigação daferramenta, tendo durado nomáximo sete dias, o que evitou amudança de rotina da empresa pormuitos dias. O que colaborou paraisso foi o fato de as perguntas teremsido respondidas, em sua grandeRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 96 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


maioria (74,60%), por meio deentrevista direta.Essas aplicaçõescolaboraram para refinar a FDSE,pois a maioria das perguntas foirefinada durante as aplicações,tendo-se concluído o processo comuma ferramenta mais robusta e maisclara que a inicialmente concebida.A FDSE se apresentou,durante as aplicações nas empresas:(i) de fácil utilização; (ii) abrangenteo suficiente para abordar osaspectos ambiental, social eeconômico; (iii) universal, na medidaem que não se restringe a umdeterminado setor ou ramo deatividade empresarial; (iv) clara aodemonstrar seus resultadosnuméricos em gráficos de fácilvisualização;(v)socioambientalmente responsável,pois incentiva o desenvolvimentosustentável e a adoção, pelaempresa, de ações socioambientaisresponsáveis; (vi) autoavaliativa,possibilitando a comparação entrediagnósticos realizados comperiodicidade.O potencial decontribuição da FDSE para oplanejamento estratégico edesenvolvimento de uma empresafoi demonstrado pela evolução nodesempenho da Marmoraria entreas duas aplicações realizadas.REFERÊNCIASACCOUNTABILITY. AssuranceStandard, 2003. Disponível em:.Acessado em: 19 jun. 2008.ANDRADE, R. O. B.; TACHIZAWA, T.;CARVALHO, A. B. Gestão Ambiental:enfoque estratégico aplicado aoDesenvolvimento Sustentável. 2.ed.São Paulo: Pearson Education doBrasil, 2002.ASSUMPÇÃO, L. F. J. Sistema deGestão Ambiental: manual práticopara implementação de SGA ecertificação ISO 14.001. Curitiba:Juruá, 2004.BACKER, P. Gestão Ambiental: aadministração verde. Rio de Janeiro:Qualitymark, 1995.BARBIERI, J. C. Gestão ambientalempresarial: conceitos, modelos einstrumentos. 2. ed. São Paulo:Saraiva, 2007.BELLEN, H. M. van. Indicadores deSustentabilidade: uma análisecomparativa. Rio de Janeiro: EditoraFGV, 2005.BÊRNI, D. de A. (org.). Técnicas depesquisa em economia:transformando curiosidade emconhecimento. São Paulo: Saraiva,2002.[BNDES] BANCO NACIONAL DODESENVOLVIMENTO ECONÖMICO ESOCIAL. Carta Circular nº. 64 de 14de outubro de 2002. Disponível em:. Acesso em: 10 jul. 2008.[BOVESPA] BOLSA DE VALORES DESÃO PAULO. Índice desustentabilidade empresarial 2005.Disponível em:. Acesso em:22 out. 2007.BRASIL. Lei Federal Complementarnº. <strong>12</strong>3 de 14 de dezembro de 2006.Institui o Estatuto Nacional daMicroempresa e da Empresa dePequeno Porte e dá outrasprovidências. Diário Oficial daRepública Federativa do Brasil.Brasília, 2006.CAMPOS, L. M. de S.; MELO, D. A.de; MEURER, S. A. A Importânciados indicadores de desempenhoambiental nos Sistemas de GestãoAmbiental (SGA). In: IX EncontroNacional de Gestão Empresarial eMeio Ambiente – ENGEMA. Curitiba,2007a.CAMPOS, E. de M.; SILVA, L. C. dosA.; GÓMEZ, C. R. P. Influência daSustentabilidade naCompetitividade Empresarial: ummodelo da relação através dautilização de indicadores. In: IXEncontro Nacional de GestãoEmpresarial e Meio Ambiente –ENGEMA. Curitiba, 2007b.[CONAMA] CONSELHO NACIONALDO MEIO AMBIENTE Resolução n° 1de 23 de janeiro 1986. Dispõe sobreprocedimentos relativos a Estudo deImpacto Ambiental. Brasília, 1986.[ETHOS] INSTITUTO ETHOS DERESPONSABILIDADE SOCAILEMPRESARIAL): Indicadores Ethosde Responsabilidade Social eEmpresarial 2008. Disponível em: Acessoem: 13 abr. 2008.FERREIRA, A. B. de H.; FERREIRA, M.B (Coord. e Edi.); ANJOS, M. dosesforços deve convergir.(Coor. eEdi.). Novo dicionário Aurélio dalíngua portuguesa. 3. ed. Revisada eatualizada. Curitiba: Positivo, 2004.GASPARINI, L. V. L. Análise das interrelaçõesde indicadores econômicos,ambientais e sociais para odesenvolvimento sustentável. 2003.221 f. Dissertação – Engenharia deProdução,Universidade Federal deSanta Catarina, Florianópolis, 2003.[GRI] GLOBAL REPORTINGINITIATIVE. Sustainability ReportingGuidelines (G3). Disponível em:.Acessado em: 4 de junho de 2008.HENRI, J.-F.; JOURNEALT, M.Environmental performanceindicators: An empirical study ofCanadian manufacturing firms.Journal of EnvironmentalManagement, doi:10.1016/j.jenvman.2007.01.09,2007.KOLLURU, R. V. Healt riskassessment: principles andRevista Brasileira de Ciências Ambientais – Número <strong>25</strong> – setembro de 20<strong>12</strong> 97 ISSN Impresso 1808-4524 / ISSN Eletrônico: 2176-9478


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