13.07.2015 Views

Origem fetal das doenças do adulto

Origem fetal das doenças do adulto

Origem fetal das doenças do adulto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Acta Obstet Ginecol Port 2009;3(3):158-168da origem <strong>fetal</strong> <strong>das</strong> <strong><strong>do</strong>enças</strong> <strong>do</strong> <strong>adulto</strong>, que remontaa 1996, e segun<strong>do</strong> a qual, a nutrição deficiente durantea gestação e infância precoce originariam umaadaptação metabólica e/ou estrutural permanente queaumenta o risco de desenvolvimento de <strong>do</strong>ença coronáriae outras <strong><strong>do</strong>enças</strong> associa<strong>das</strong> como a HTA, adiabetes e o acidente vascular cerebral (AVC) na vidaadulta - programação <strong>fetal</strong> 3 .Esta teoria assenta no conceito de plasticidade <strong>do</strong>desenvolvimento, ou seja, a capacidade de um genótipopoder originar diferentes esta<strong>do</strong>s morfológicos oufisiológicos em resposta a exposições diferentes duranteo desenvolvimento 4 . Essa adaptação é possívelapenas durante um perío<strong>do</strong> crítico <strong>do</strong> desenvolvimento,que para a maioria <strong>do</strong>s órgãos e sistemas, se confinaà vida intra-uterina. Barker utiliza como exemplo parademonstrar a plasticidade <strong>do</strong> ser humano, as glândulassu<strong>do</strong>ríparas. Os recém-nasci<strong>do</strong>s têm um númerosemelhante de glândulas su<strong>do</strong>ríparas, to<strong>das</strong> não funcionantes.Nos primeiros três anos de vida, o númerode glândulas que se torna funcionante é proporcionalà temperatura a que a criança é exposta. Quanto maisalta a temperatura, mais glândulas são programa<strong>das</strong>para funcionar. Aos três anos o processo está completoe o número de glândulas torna-se fixo. Assim, a criançaque foi submetida a temperaturas mais altas está melhorpreparada para fazer arrefecimento corporal e portantopara sobreviver em ambientes quentes.Pode acontecer que uma adaptação vantajosa emdetermina<strong>do</strong> momento da vida intra-uterina possatornar-se uma desvantagem para o mesmo indivíduo,quan<strong>do</strong> exposto a um ambiente diferente ao longo davida. Esta é a base da teoria sobre a influência da vidaintra-uterina nas <strong><strong>do</strong>enças</strong> <strong>do</strong> <strong>adulto</strong>.Peso ao nascimento e <strong><strong>do</strong>enças</strong> <strong>do</strong><strong>adulto</strong>Estabelecida a relação geográfica entre taxas de mortalidadeneonatal e de <strong>do</strong>ença coronária cerca de cincodéca<strong>das</strong> mais tarde, impunha-se investigar quais osfactores implica<strong>do</strong>s nessa associação.No início <strong>do</strong> século XX, o baixo peso ao nascimentoera a causa mais frequente de mortalidadeneonatal, pelo que foi a variável mais estudada emassociação com as manifestações de <strong>do</strong>ença cardiovascularna vida adulta.Para explorar essa hipótese foram efectua<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>scoorte retrospectivos em populações na segundametade da vida, cujos da<strong>do</strong>s antropométricos aonascimento e/ou a intervalos durante a infância tivessemsi<strong>do</strong> regista<strong>do</strong>s. Duas publicações <strong>do</strong> grupo deBarker 5,6 , como base na população masculina de Sheffielde Hertfordshire no primeiro quarto <strong>do</strong> séc. XX,demonstraram uma associação inversa entre risco de<strong>do</strong>ença coronária no <strong>adulto</strong> e peso, perímetro cefálicoe índice ponderal ao nascimento nessa mesmapopulação. Essa associação verificou-se nos recémnasci<strong>do</strong>scom restrição de crescimento mas não nosprematuros 6 .Houve numerosas críticas a estes trabalhos, essencialmentepor se considerar que a taxa de mortalidadeneonatal e as medi<strong>das</strong> antropométricas <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong>poderiam reflectir apenas as condiçõessocioeconómicas de determinada área geográfica, queao manterem-se ao longo da vida, acarretariam riscoaumenta<strong>do</strong> de <strong>do</strong>ença cardiovascular.No entanto, os trabalhos <strong>do</strong> grupo de Barker foramreproduzi<strong>do</strong>s por epidemiologistas em várias partes <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>, designadamente na Finlândia 7 , Suécia 8 , EUA- coorte <strong>do</strong> Nurses Health Study (NHS) 9 e India 10 ecorrobora<strong>do</strong>s por uma revisão sistemática em 1996 11 .A associação verifica-se mesmo quan<strong>do</strong> ajustadapara diversos factores sociodemográficos e comportamentaiscomo a idade materna, o esta<strong>do</strong> marital materno,estatuto socioeconómico ao nascimento, classesocial, hábitos etílicos e educação aos 50 anos, bemcomo quan<strong>do</strong> ajustada para factores de risco cardiovascularescomo a dieta e o exercício físico 8,9,12 . Foitambém reproduzida para o sexo feminino 9,13 .É importante salientar que a relação peso ao nascimentoe risco de <strong>do</strong>ença <strong>do</strong> <strong>adulto</strong> é um contínuoao longo da variável peso, ou seja, não se confinaapenas aos recém-nasci<strong>do</strong>s pequenos ou aos que têmreconhecidamente uma restrição de crescimento. Istosugere, tal como descrito na teoria de Barker, que omecanismo na base destas associações é um processofisiológico que regula o desenvolvimento intra-uterinoe não um processo patológico existente apenas nagravidez anómala.159


Seco S, Matias ATêm si<strong>do</strong> investiga<strong>das</strong> associações entre peso aonascimento e factores de risco de <strong>do</strong>ença coronária,designadamente a HTA, a diabetes tipo2 (DM2) e adislipidemia.1 Tensão arterial (TA)A manifestação cardiovascular no <strong>adulto</strong> mais estudadaem associação com o peso ao nascimento é a TA.Em 1996, numa revisão sistemática que incluiu maisde 66.000 indivíduos, concluiu-se haver evidênciasuficiente da existência de uma relação inversa entrepeso ao nascimento e tensão arterial na infância evida adulta, com resulta<strong>do</strong>s inconsistentes no perío<strong>do</strong>neonatal e a<strong>do</strong>lescência 11 .Em 2000, uma actualização da revisão anterior,que incluiu 444.000 indivíduos de ambos os sexos,evidenciou uma diminuição da TA com o aumento <strong>do</strong>peso ao nascimento, sen<strong>do</strong> a magnitude da associaçãode cerca de 2mmHg/Kg 14 . O impacto <strong>do</strong> peso ao nascimentona TA parece ser pequeno. Contu<strong>do</strong>, os efeitosfisiológicos e patológicos parecem ser diferentes.No NHS, a associação com a TA é ténue, sen<strong>do</strong> maissignificativa com a HTA, medida patológica commaior significa<strong>do</strong> clínico 15 . De igual mo<strong>do</strong>, num estu<strong>do</strong>com hipertensos trata<strong>do</strong>s, a TA era significativamentemais elevada nos indivíduos com menos pesoà nascença (6,4-9,4 mmHg por cada Kg de peso), nãohaven<strong>do</strong> associação entre TA e peso ao nascimentonos indivíduos normotensos <strong>do</strong> mesmo coorte 16 .Várias outras medi<strong>das</strong> antropométricas ao nascimentotêm si<strong>do</strong> relaciona<strong>das</strong> com os valores da TAmas apenas o perímetro cefálico demonstrou essa relaçãode forma consistente (0,5mmHg/cm) 14 .O efeito <strong>do</strong> peso ao nascimento na TA é modela<strong>do</strong>pelo padrão de crescimento na infância. O efeito éamplifica<strong>do</strong> nas crianças pequenas e magras ao nascimento,que mantém uma taxas de crescimento lentonos primeiros anos, mas que aceleram o crescimentomais tarde, de forma a atingirem medi<strong>das</strong> antropométricasna média ou superiores à média para a idade –crescimento compensatório (“catch up growth”) 14Em 2007, Eriksson, com base no coorte de Helsinquiaem que peso e altura foram regista<strong>do</strong>s sistematicamenteaté aos 11 anos, verificou a existência de <strong>do</strong>istipos de crescimento a preceder o desenvolvimento deHTA na vida adulta 17 . Um deles, associa<strong>do</strong> a HTA maisgrave, em indivíduos que tendem a ser obesos, que erampequenos ao nascimento e durante os primeiros anos eque tiveram depois um rápi<strong>do</strong> crescimento na infância,atingin<strong>do</strong> aos 11 anos medi<strong>das</strong> corporais normais paraa idade. O crescimento compensatório rápi<strong>do</strong> foi o quemais se associou ao desenvolvimento de HTA. O outropadrão de crescimento, associa<strong>do</strong> a HTA menos grave,consiste num crescimento linear lento desde o perío<strong>do</strong>pré-natal, infância precoce, manten<strong>do</strong>-se pequenos emagros aos 11 anos de idade. Estu<strong>do</strong>s anteriores destecoorte demonstraram que o primeiro padrão de crescimentose associa também a <strong>do</strong>ença coronária 18 e osegun<strong>do</strong>, a AVC 19 .Estas duas vias parecem estar também associa<strong>das</strong>a perfis bioquímicos diferentes na vida adulta.A primeira associa-se a resistência à insulina eaumento <strong>do</strong>s triglicerídeos; a segunda associa-se aalterações <strong>do</strong> funcionamento hepático com perfil dislipidémico(aumento <strong>do</strong> colesterol total, LDL e apolipoproteinaB) 17 , pelo que provavelmente levam àHTA por mecanismos biológicos diferentes.O mecanismo subjacente ao baixo peso ao nascimentocom taxas de crescimento lento na infância eHTA é desconheci<strong>do</strong>. A associação com o crescimentocompensatório tem si<strong>do</strong> relacionada com a redução<strong>do</strong> número de nefrónios em pessoas com baixopeso ao nascimento 20 , sen<strong>do</strong> que este já está defini<strong>do</strong>à nascença. Estes indivíduos, quan<strong>do</strong> submeti<strong>do</strong>s durantea infância, a aceleração rápida <strong>do</strong> crescimentocom aumento da massa corporal, têm aumento <strong>do</strong>volume de excreção renal, hiperfiltração glomerulare aumento da pressão no glomérulo, resultan<strong>do</strong> emhipertensão glomerular com esclerose e destruição denefrónios; isto por sua vez leva a HTA, perpetuan<strong>do</strong>o ciclo de aumento da pressão glomerular e morte demais nefrónios7. Em estu<strong>do</strong>s animais, a indução derestrição de crescimento <strong>fetal</strong> por manipulação nutricional,reduz o número de nefrónios e aumenta a TAna descendência 21 .2 Diabetes mellitus tipo 2A associação entre baixo peso ao nascimento e alteraçãono metabolismo da glicose foi pela primeira vezproposta por Hales e Barker em 1991 22 .160


Acta Obstet Ginecol Port 2009;3(3):158-168Em 2003, Newsome 23 , numa revisão <strong>do</strong>s trabalhosaté então publica<strong>do</strong>s, concluiu haver evidência de queo peso ao nascimento está inversamente relaciona<strong>do</strong>com o aumento da resistência à insulina e da insulinemiaem jejum, e com a DM2. A associação com adiminuição da secreção da insulina é menos consistente.Em populações com elevada prevalência de diabetesna gravidez, a curva que relaciona o peso aonascimento e a prevalência de DM2 na idade adultatem a forma de U, com taxas mais eleva<strong>das</strong> tambémnos indivíduos com peso ao nascimento> 4500g 24 .Não só o peso mas também o comprimento e oíndice ponderal (peso/comprimento) baixos se associamà intolerância à glicose e à DM2 25 . A idade gestacionalnão se relaciona com a DM2 nem com o pesoao nascimento pelo que as medi<strong>das</strong> antropométricasreferi<strong>das</strong> sugerem uma restrição <strong>do</strong> crescimento <strong>fetal</strong>(RCF) e não o reflexo da idade gestacional 22,26 .O excesso de peso no <strong>adulto</strong> é um factor de riscoconheci<strong>do</strong> para a DM2 e potencia a associação pesoao nascimento e intolerância à glicose e DM2 22 . Aobesidade estabelecida na infância é mais importanteno desenvolvimento da <strong>do</strong>ença e <strong>do</strong> síndrome metabólico(síndroma X: DM2, HTA e hiperlipidemia) <strong>do</strong>que a estabelecida na vida adulta 27 . Assim, procurou--se determinar se havia um padrão de crescimento característicoassocia<strong>do</strong> ao desenvolvimento de DM2.Num estu<strong>do</strong> coorte finlandês 25 , verificou-se que oefeito <strong>do</strong> ganho ponderal na infância no desenvolvimentoda DM2, é tanto maior quanto menor o peso aonascimento. Tal como na HTA, a desarmonia entre ocrescimento <strong>fetal</strong> e as taxas de crescimento pós-natal,parece ser o melhor factor preditivo de desenvolvimentode DM2.O peso durante a infância correlaciona-se positivamentecom o peso e IMC <strong>das</strong> mães, não estan<strong>do</strong>relaciona<strong>do</strong> com o peso ao nascimento 25 . Isto sugereque o crescimento compensatório <strong>das</strong> crianças quevão desenvolver DM2 resulta de uma ingestão calóricadesregrada na infância. Este facto reforça a importânciaduma alimentação equilibrada, prevenin<strong>do</strong>o excesso de peso na infância.Actualmente, é aceite o contributo da genética naetiologia da DM2. Face aos estu<strong>do</strong>s epidemiológicosque apontam para a relação baixo peso ao nascimentoe DM2/ intolerância à glicose, propôs-se a hipótese dehaver um determina<strong>do</strong> genótipo que favorecesse tantoo futuro desenvolvimento da DM2 como o baixo pesoao nascimento, desvalorizan<strong>do</strong> o papel <strong>do</strong> ambienteuterino. De mo<strong>do</strong> a clarificar a importância <strong>do</strong> contributogenético foram estuda<strong>das</strong> diferenças nos gémeosmonozigóticos. Vaag e Poulsen demonstraram que aassociação entre peso ao nascimento e risco de desenvolverDM2 é, pelo menos parcialmente, mediadapor mecanismos não genéticos, visto que os gémeosmonozigóticos diabéticos têm um peso ao nascimentosignificativamente menor que os seus co-gémeos nãodiabéticos 28 . Estes resulta<strong>do</strong>s foram reproduzi<strong>do</strong>s emestu<strong>do</strong>s de gémeos em Itália 29 e Suécia 30 .O baixo peso ao nascimento pode ter várias etiologias.O termo “maternal constraint” refere-se a umgrupo de processos mal defini<strong>do</strong>s, através <strong>do</strong>s quaisfactores maternos e uteroplacentares limitam o crescimento<strong>fetal</strong>, presumivelmente por diminuição dadisponibilidade de nutrientes e/ou alterações metabólicase hormonais. Pode ocorrer por alterações <strong>do</strong>aporte de substâncias ao feto, como no caso <strong>das</strong> mãespequenas e magras, ou por aumento <strong>das</strong> exigênciasfetais, como no caso <strong>do</strong>s gémeos. Este fenómeno estápresente em to<strong>das</strong> as gravidezes sen<strong>do</strong> mais evidenteem situações como a idade materna jovem, grávi<strong>das</strong>pequenas e gravidez múltipla 31 . É um processo fisiológicoimportante na regulação <strong>do</strong> crescimento <strong>fetal</strong>,limitan<strong>do</strong>-o de forma a proteger a mãe e/ou o feto epromover uma gravidez de termo 32,33 . Contu<strong>do</strong>, nãoparece isento de consequências a longo prazo. Estu<strong>do</strong>sprospectivos, <strong>do</strong> grupo de Yajnik, na India, emcolaboração com o grupo de Barker, introduziram oconceito de bebé magro gor<strong>do</strong> (“thin fat baby syndrome)em bebés com RCF de causa materna - “maternalconstraint” 34,35 . Os autores compararam medi<strong>das</strong> antropométricasde recém-nasci<strong>do</strong>s de mães britânicase de mães indianas (cuja média de peso a meio dagestação era de 44kg, com 1,52m de altura média e18Kg/m 2 de IMC médio). Nestas crianças, o tamanhomaterno é um factor regula<strong>do</strong>r <strong>do</strong>minante <strong>do</strong> crescimento<strong>fetal</strong>. Os recém-nasci<strong>do</strong>s indianos compara<strong>do</strong>scom os britânicos são mais pequenos em to<strong>das</strong> as medi<strong>das</strong>excepto na prega cutânea subescapular, marca-161


Seco S, Matias A<strong>do</strong>r de adiposidade central. Têm também níveis maiseleva<strong>do</strong>s de insulina no cordão umbilical <strong>do</strong> que osbritânicos, relacionan<strong>do</strong>-se positivamente com a espessurada prega subescapular 34 . Na infância, os bebésmagros gor<strong>do</strong>s têm taxas mais eleva<strong>das</strong> de resistênciaà insulina, que se associam inversamente com o pesoao nascimento. A magnitude da associação é tantomaior quanto maior a taxa de crescimento pós-natal,enfatizan<strong>do</strong> a importância <strong>do</strong> crescimento desarmónicono desenvolvimento de patologia futura 35,36 .A teoria da origem <strong>fetal</strong> da DM2 proposta por Halese Barker, conhecida por hipótese <strong>do</strong> fenótipo poupa<strong>do</strong>r(“thrifty phenotype hypothesis”), sugere que aresistência à insulina e a DM2 resultam de uma adaptação<strong>fetal</strong> poupa<strong>do</strong>ra de insulina, em resposta à hipoglicemia37 . Perante a hipoglicemia, o feto reduz a secreçãode insulina e aumenta a resistência periféricaà mesma, redistribuin<strong>do</strong> a glicose disponível para océrebro e coração em detrimento <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s periféricos,como o músculo esquelético 38 . Modelos animaissugerem que a RCF pode associar-se a diminuição davascularização <strong>do</strong>s ilhéus pancreáticos 39 . No perío<strong>do</strong>pós-natal, quan<strong>do</strong> existe abundância de nutrientesdisponíveis, a diminuição de células endócrinas pancreáticase a resistência periférica à insulina podemcausar intolerância à glicose e DM2. Isto explicariaporque são maioritariamente os recém-nasci<strong>do</strong>s magrosque na infância apresentam excesso de peso, queestão mais predispostos a desenvolver DM2.Numa extensão deste conceito, Gluckman e Hanson40 propõem a hipótese da Resposta Adaptativa Preditiva(RAP): em resposta a um determina<strong>do</strong> ambientenutricional intra-uterino, o feto altera a actividade celularpara estar adapta<strong>do</strong> ao ambiente futuro, que prevêseja semelhante. Quan<strong>do</strong> a RAP é apropriada, o fenótipoé normal; quan<strong>do</strong> existe diferença entre o previsto eo ambiente efectivo, exprime-se o fenótipo de <strong>do</strong>ença.Isto pode ocorrer quan<strong>do</strong> um feto exposto a subnutriçãoin útero, nasce numa sociedade com abundânciaalimentar. A diferença básica em relação às outras hipótesesda programação é o facto de a adaptação nãoser necessariamente vantajosa in útero.A privação de nutrientes em perío<strong>do</strong>s críticos <strong>do</strong>desenvolvimento condiciona respostas metabólicasadaptativas no feto. Em condições de nutrição contrastanteno futuro, estas podem ser desadequa<strong>das</strong>,contribuin<strong>do</strong> para o desenvolvimento de DM2.3 Doença coronáriaOs estu<strong>do</strong>s epidemiológicos clássicos que relacionamo peso ao nascimento com eventos cardiovascularessão estu<strong>do</strong>s coorte de populações adultas. O coortebritânico de Hertfordshire foi o primeiro no campo da<strong>do</strong>ença coronária, evidencian<strong>do</strong> a relação baixo pesoao nascimento e morte por <strong>do</strong>ença coronária 5 . Esta associaçãosó foi estatisticamente significativa no sexomasculino, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> reproduzida posteriormenteem estu<strong>do</strong>s de populações masculinas de Sheffield 6 eUppsala 41 . Nestas três populações, a associação tem aforma de J inverti<strong>do</strong>, ou seja, a taxa de <strong>do</strong>ença coronáriadiminui com o aumento de peso ao nascimentomas há um ligeiro aumento no grupo mais pesa<strong>do</strong> ànascença. Provavelmente, nessa categoria estariamrecém-nasci<strong>do</strong>s macrossómicos, filhos de mães diabéticas,com risco aumenta<strong>do</strong> de desenvolver diabetes,contribuin<strong>do</strong> para os eventos coronários.A influência de factores socioeconómicos ao nascimentoe na vida adulta foi avaliada em populaçõessegui<strong>das</strong> prospectivamente, como as de Uppsala e <strong>do</strong>NHS, verifican<strong>do</strong>-se que o impacto na força da associaçãopeso ao nascimento e <strong>do</strong>ença coronária não ésignificativo 9,41,42 . Ajustan<strong>do</strong> separadamente para asvariáveis peso para a idade gestacional e peso ao nascimento,foi possível concluir que é a taxa de crescimento<strong>fetal</strong> que está na base da associação entre o pesoao nascimento e a mortalidade por <strong>do</strong>ença cardíacaisquémica 42 Para além disso, se incluirmos na análisefactores de risco conheci<strong>do</strong>s como a HTA e a dislipidemia,não há alteração na força da associação 9,41,42 .Apenas o índice de massa corporal (IMC), pareceinteragir com o peso ao nascimento, aumentan<strong>do</strong>o risco de <strong>do</strong>ença coronária. A maioria <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>smostra que nos homens, o risco de <strong>do</strong>ença coronáriaé maior nos que tinham menor peso ao nascimento emaior IMC na vida adulta 12,43,44 . No sexo feminino,os resulta<strong>do</strong>s são menos concordantes mas essa mesmaassociação foi demonstrada por Rich-Edwards nocoorte <strong>do</strong> NHS 45 . Nesta população feminina, por cadaaumento de 1 kg de peso ao nascimento, o risco de<strong>do</strong>ença coronária diminui 23% (25% se excluirmos162


Acta Obstet Ginecol Port 2009;3(3):158-168os macrossómicos); estratifican<strong>do</strong> por IMC, verifica--se que nos recém-nasci<strong>do</strong>s de mais baixo peso, orisco não aumenta se se mantiverem magros na vidaadulta. Contu<strong>do</strong>, para cada categoria de IMC, o riscoé tanto maior quanto mais leves foram os indivíduosao nascimento.4 Acidente Vascular CerebralEstu<strong>do</strong>s americanos e europeus têm demonstra<strong>do</strong> aassociação baixo peso ao nascimento e aumento <strong>do</strong>risco de AVC na vida adulta. Esta mantém-se quan<strong>do</strong>ajustada para a idade gestacional, sugerin<strong>do</strong> uma vezmais que a associação resulta da redução da taxa decrescimento <strong>fetal</strong> 9,19 . Apenas um estu<strong>do</strong> propôs umaumento adicional <strong>do</strong> risco em associação com partopré-termo 46 . Esta discordância pode dever-se a estesindivíduos estarem sub-representa<strong>do</strong>s nos estu<strong>do</strong>s actuais,visto que a prematuridade se associava a taxasde mortalidade mais eleva<strong>das</strong> há 50-60 anos atrás.Num estu<strong>do</strong> coorte finlandês 19 , constatou-se aexistência <strong>das</strong> associações baixo peso ao nascimentoe IMC baixo aos 2 anos de idade com aumento<strong>do</strong> risco de AVC, quer trombótico quer hemorrágico.Entre os 2 e os 11 anos de idade, os indivíduos commaior risco de sofrerem um AVC são os que permanecemmagros. As associações mantêm-se independentemente<strong>das</strong> condições de vida durante a infância equan<strong>do</strong> ajusta<strong>das</strong> para factores socioeconómicos. Estesacha<strong>do</strong>s foram concordantes com os observa<strong>do</strong>sem Hertfordshire 47 , em que o baixo peso ao ano deidade se relacionava com o risco de AVC. Também osresulta<strong>do</strong>s na população feminina americana (NHS)tinham si<strong>do</strong> concordantes na medida em que o baixopeso ao nascimento se associou ao AVC e o IMCeleva<strong>do</strong> na vida adulta aumentou o risco de <strong>do</strong>ençacoronária mas não de AVC 45 .Metabolismo <strong>do</strong> colesterol e coagulaçãoEstu<strong>do</strong>s em indivíduos <strong>adulto</strong>s mostraram que os quesofreram RCF tendem a ter concentrações séricasmais eleva<strong>das</strong> de colesterol total, LDL, apolipoproteínaB e fibrinogénio na vida adulta 48,49 . Estas alteraçõesforam encontra<strong>das</strong> em associação inversa com operímetro ab<strong>do</strong>minal (PA) e a relação comprimento/perímetro cefálico ao nascimento. Na população deSheffield, as variações de colesterol sérico de acor<strong>do</strong>com o PA foram amplas, equivalen<strong>do</strong> estatisticamentea uma diferença de 30% na mortalidade por <strong>do</strong>ençacoronária 48 . Hipoteticamente, a redistribuição <strong>do</strong> fluxosanguíneo <strong>fetal</strong> levaria a uma alteração <strong>do</strong> desenvolvimentoe fisiologia <strong>do</strong> fíga<strong>do</strong>, com alteração permanenteda regulação <strong>do</strong> metabolismo <strong>do</strong> colesterol efactores da coagulação.Mecanismos possívelmente implica<strong>do</strong>sDos mecanismos propostos para explicar a origemintra-uterina <strong>das</strong> <strong><strong>do</strong>enças</strong> <strong>do</strong> <strong>adulto</strong>, o mais consensualé o da programação <strong>fetal</strong>, segun<strong>do</strong> o qual um estímuloou agressão num perío<strong>do</strong> crítico da vida intrauterina,produz alterações no desenvolvimento comconsequências permanentes a longo prazo.Destes estímulos, os mais estuda<strong>do</strong>s são as alteraçõesda nutrição <strong>fetal</strong> e a exposição a níveis aumenta<strong>do</strong>sde glicocorticóides, consideran<strong>do</strong>-se tambémimplica<strong>do</strong>s fenómenos genéticos e epigenéticos.Nutrição <strong>fetal</strong> alteradaO genoma determina o potencial de crescimento inutero mas o factor determinante desse crescimentoparece ser o meio nutricional e hormonal em que ofeto se desenvolve, em particular o aporte de oxigénioe nutrientes 50 .Há evidências da importância <strong>do</strong> ambiente intrauterinono crescimento <strong>fetal</strong> em estu<strong>do</strong>s de reproduçãoentre animais de tamanhos diferentes 33 , estu<strong>do</strong>sem humanos com meios-irmãos da parte de mãe oude pai 51 e de transferência de embriões com da<strong>do</strong>rasde ovócitos 52 . O peso à nascença de meios-irmãoscom a mesma mãe é semelhante, com um coeficientede relação de 0.58, enquanto que o de meios irmãos<strong>do</strong> mesmo pai é díspar, com um coeficiente de relaçãode 0,1 51 . No caso da transferência de embriões, é amãe receptora e não a da<strong>do</strong>ra de ovócitos que maisinfluencia o crescimento de um feto, sen<strong>do</strong> que umembrião transferi<strong>do</strong> para um útero maior atinge umcrescimento maior 52 .A nutrição materna tem si<strong>do</strong> também alvo de estu<strong>do</strong>,como factor influencia<strong>do</strong>r da nutrição <strong>fetal</strong>. Amanipulação nutricional materna em estu<strong>do</strong>s animais163


Seco S, Matias Aaltera permanentemente aspectos da fisiologia da descendênciade forma consistente com a susceptibilidadeà <strong>do</strong>ença encontrada nos estu<strong>do</strong>s em humanos. Porexemplo, a diminuição da proporção de proteínas nadieta de ratas grávi<strong>das</strong>, resulta na diminuição <strong>do</strong> pesoao nascimento na descendência e em HTA 53 e intolerânciaà glicose 54 na vida adulta.Na gravidez humana, tanto o peso ao nascimentocomo o peso da placenta parecem ser influencia<strong>do</strong>spelo balanço de macronutrientes na dieta. A energiaderivada <strong>das</strong> proteínas associa-se positivamente comambas as variáveis e a energia obtida <strong>do</strong>s hidratosde carbono parece relacionar-se negativamente como índice ponderal <strong>do</strong> recém-nasci<strong>do</strong> 55 . Contu<strong>do</strong>, aingestão excessiva de proteínas animais associada àrestrição de hidratos de carbono associa-se a aumentoda TA na descendência, talvez devi<strong>do</strong> ao stress metabólicopela abundância de aminoáci<strong>do</strong>s essenciais,sem os meios necessários para os utilizar 56 .Os micronutrientes também parecem ter um papelimportante na programação da fisiopatologia pós-natal.Em estu<strong>do</strong>s numa população Indiana subnutrida, a ingestãode vegetais verdes e fruta na gravidez associousepositivamente com o peso ao nascimento e com atolerância à glicose na descendência 57 . O aumento daingestão materna de cálcio tem si<strong>do</strong> associa<strong>do</strong> com TAmais baixa na infância, embora a maioria <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>sexistentes apresente problemas meto<strong>do</strong>lógicos e amostraspequenas 58 .Uma outra linha de evidência provém de um modelo“pseu<strong>do</strong>-experimental” em humanos, inadvertidamenteproporciona<strong>do</strong> pela História, durante o “Inverno deFome Holandês” (1944-45), nos últimos seis meses da IIGuerra Mundial. Estu<strong>do</strong>s em mulheres Holandesas expostasà escassez de alimentos durante o 2º e 3º trimestresde gravidez, mostraram não só que os recém-nasci<strong>do</strong>seram pequenos, mas também que apresentavamrisco aumenta<strong>do</strong> de intolerância à glicose e obesidadena idade adulta 59,60 . Os indivíduos expostos no início dagravidez apresentam um perfil lipídico aterogénico 61 ,aumento <strong>do</strong> fibrinogénio, diminuição da concentraçãosérica <strong>do</strong> factor VII 62 , IMC mais eleva<strong>do</strong> 63 e maior riscode <strong><strong>do</strong>enças</strong> cardiovasculares 64 <strong>do</strong> que os não expostos.Os recém-nasci<strong>do</strong>s expostos no primeiro trimestrenão apresentavam diferenças nas medi<strong>das</strong> antropométricasao nascimento; os expostos no 2º trimestre erammais pequenos e mais leves que os não expostos; os expostosno 3º trimestre eram mais pequenos, mais levese mais magros 59 . Estes da<strong>do</strong>s mostram que alteraçõesna nutrição materna podem também contribuir para a<strong>do</strong>ença no <strong>adulto</strong> sem afectar o crescimento <strong>do</strong> recémnasci<strong>do</strong>e que a magreza ao nascimento resulta de influênciasno 3º trimestre de gravidez. Contu<strong>do</strong>, fora <strong>do</strong>contexto de fome, a diminuição da taxa de crescimento<strong>fetal</strong> no final da gravidez é mais frequentemente umaconsequência de insuficiência placentar.Um outro aspecto que poderá vir a ter importânciaé o da sobrenutrição <strong>fetal</strong>. Os filhos de mães diabéticassão expostos a excesso de glicose e áci<strong>do</strong>s gor<strong>do</strong>s inutero, apresentan<strong>do</strong> um risco aumenta<strong>do</strong> de intolerânciaà glicose e DM2 na vida adulta 65 .Uma meta-análise de estu<strong>do</strong>s que avaliam a influênciade suplementos dietéticos na gravidez mostrouque a influência no peso ao nascimento é pequena (emmédia, uma diferença de +32g), mesmo em mulheressubnutri<strong>das</strong> e que apenas a suplementação equilibradade proteínas/energia parece promover a taxa decrescimento <strong>fetal</strong> 66 . Também nas mulheres <strong>do</strong> coorteHolandês submeti<strong>das</strong> a um perío<strong>do</strong> de fome durantea gravidez, a redução <strong>do</strong> peso ao nascimento foi pequena.Contu<strong>do</strong>, foram encontra<strong>do</strong>s efeitos deletériosno perfil lipídico, coagulação, IMC e risco de <strong><strong>do</strong>enças</strong>cardiovasculares mesmo nos indivíduos em que o pesoao nascimento não foi afecta<strong>do</strong>.É importante sublinhar a dificuldade da avaliaçãodestes estu<strong>do</strong>s pelo facto de nutrição <strong>fetal</strong> ser diferenteda nutrição materna. Existem vários mecanismos entrea dieta materna e a metabolização <strong>fetal</strong> <strong>do</strong>s nutrientes,que inclui o próprio metabolismo materno, o fluxo sanguíneouteroplacentar, a placenta nas suas funções detransporte e de metabolismo e o fluxo sanguíneo placento<strong>fetal</strong>,que podem estar altera<strong>do</strong>s condicionan<strong>do</strong> ocrescimento <strong>fetal</strong>.GlicocorticóidesOutro mecanismo provavelmente implica<strong>do</strong> na origemda programação <strong>fetal</strong> <strong>das</strong> <strong><strong>do</strong>enças</strong> cardiovascularese metabólicas <strong>do</strong> <strong>adulto</strong> é a exposição aumentadaaos glicocorticóides. Esta pode ocorrer devi<strong>do</strong> aníveis maternos endógenos eleva<strong>do</strong>s, como em situa-164


Acta Obstet Ginecol Port 2009;3(3):158-168ções de stress, por ministração exógena ou alteraçãoda barreira placentária que protege o feto de concentraçõeseleva<strong>das</strong> destas substâncias.Estu<strong>do</strong>s em animais corroboram esta hipótese. Níveiseleva<strong>do</strong>s de cortisol, quer de origem materna 67 ,quer de origem <strong>fetal</strong> 68 estão associa<strong>do</strong>s a TA elevadano feto de ovelha. Os ratos descendentes de mães aquem foi ministrada dexametasona durante a gravideztêm também diminuição <strong>do</strong> peso ao nascimento,aumento da TA e intolerância à glicose 69,70 . Obtêmsealterações semelhantes com a ministração repetidade betametasona a ovelhas grávi<strong>das</strong> 71 . Nos ratos, porinibição da desidrogenase 11βhidroxiesteróide tipo2(11βHSD-2), uma enzima que inactiva o cortisol naplacenta, há redução <strong>do</strong> crescimento <strong>fetal</strong> e predisposiçãoa hiperglicemia na descendência 72 .A exposição intra-uterina aos glicocorticóidesconduz a redução no número de receptores hipotalâmicospara estas substâncias, resultan<strong>do</strong> em alteração<strong>do</strong> normal mecanismo de feedback negativo, comup-regulation a longo prazo <strong>do</strong> eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal(HHSR) após o nascimento 73 . Estemecanismo pode contribuir para o aumento da TA eda intolerância à glicose na descendência.Existe evidência de que na gravidez humana possamocorrer mecanismos semelhantes. Bebés pequenostendem a ter níveis de cortisol mais eleva<strong>do</strong>s na vidaadulta 74 . Recém-nasci<strong>do</strong>s com RCF têm menor actividadeda 11βHSD-2 placentar e <strong>fetal</strong> 75 . A ministraçãorepetida de dexametasona e betametasona para induçãoda maturidade pulmonar <strong>fetal</strong> tem si<strong>do</strong> associada adiminuição <strong>do</strong> peso ao nascimento 76-78 . Em indivíduosexpostos a apenas um ciclo de betametasona in utero,não se encontraram diferenças nas medi<strong>das</strong> antropométricas,valores de TA ou <strong>do</strong>s níveis de cortisol séricoaos 30 anos 79 . Verificou-se contu<strong>do</strong>, um modera<strong>do</strong>efeito de resistência à insulina, que nesta idade, nãotem relevância clínica <strong>do</strong> ponto de vista de risco cardiovascular,não constituin<strong>do</strong> motivo para evitar a terapêuticacom glicocorticóides em mulheres em risco departo pré-termo. Esta é a primeira evidência humanadirecta de um efeito de programação <strong>fetal</strong>, resultanteda exposição pré-natal aos glicocorticóides.Em algumas circunstâncias, as alterações nutricionaise a exposição aos glicocorticóides, parecemactuar através de um mecanismo fisiopatológico semelhantecomo influências programa<strong>do</strong>ras fetais.A restrição nutricional em ratas grávi<strong>das</strong> aumenta aprodução de glicocorticóides maternos 80 , diminui aactividade da 11βHSD-2 placentar 81 e altera o funcionamento<strong>do</strong> eixo HHSR neonatal 82 . A adrenalectomiaem ratas grávi<strong>das</strong> suprime a elevação <strong>do</strong>s corticoidesmaternos, resultan<strong>do</strong> na supressão <strong>do</strong>s efeitos já referi<strong>do</strong>sda restrição proteica na descendência 83 .Mecanismos genéticos e epigenéticosA associação entre crescimento <strong>fetal</strong> e <strong><strong>do</strong>enças</strong> <strong>do</strong><strong>adulto</strong> implica, em última análise, alterações na expressãode genes. Esta é regulada por mecanismosepigenéticos que os activam ou desactivam através damodelação da transcrição <strong>do</strong> DNA. A metilação <strong>do</strong>DNA origina inactivação <strong>do</strong>s genes e a acetilação dehistonas promove a transcrição 84 .Hipoteticamente a subnutrição no perío<strong>do</strong> embrionário,<strong>fetal</strong> ou mesmo pós-natal imediato, pode modificarirreversivelmente a metilação <strong>do</strong> DNA, levan<strong>do</strong> àalteração da expressão de genes. Ovelhas alimenta<strong>das</strong>com uma dieta pobre em grupos metilo no perío<strong>do</strong> periconcepção,têm fetos com alterações da metilação <strong>do</strong>DNA <strong>do</strong> fíga<strong>do</strong> <strong>fetal</strong> no senti<strong>do</strong> da hipo ou mesmo desmetilaçãode determina<strong>do</strong>s loci; a descendência apresentaresistência à insulina e elevação da TA, principalmentenos machos 85 . Estes acha<strong>do</strong>s são consistentescom estu<strong>do</strong>s em ratas alimenta<strong>do</strong>s com uma dieta hipoproteicadurante a gravidez, nas quais a descendênciaapresenta hipometilação e portanto, hiperexpressãode certos genes. As alterações na expressão de genese na metilação <strong>do</strong> DNA são reverti<strong>das</strong> se a dieta hipoproteicafor suplementada com áci<strong>do</strong> fólico, um da<strong>do</strong>rde grupos metilo 86 . Existem portanto, da<strong>do</strong>s que evidenciamque a modificação <strong>do</strong> ambiente intra-uterino,influencia a expressão de genes fetais via metilação deDNA ou outros mecanismos epigenéticos, resultan<strong>do</strong>no aumento de susceptibilidade à <strong>do</strong>ença no <strong>adulto</strong>.ConclusãoO ambiente intra-uterino adverso conduz a programação<strong>fetal</strong> alteran<strong>do</strong> permanentemente a função de órgãosou teci<strong>do</strong>s, com ou sem alteração <strong>do</strong> crescimen-165


Seco S, Matias Ato. A programação fetaI, independentemente <strong>do</strong>s seusmecanismos etiológicos, se desajustada ao ambientepós-natal, pode constituir um factor de risco para <strong>do</strong>ençafutura, nomeadamente <strong><strong>do</strong>enças</strong> cardiovasculares.O risco individual de <strong>do</strong>ença será determina<strong>do</strong>pela interacção de vários factores, que incluem genesde susceptibilidade à <strong>do</strong>ença, ambiente intra-uterinoadverso, estilo de vida de risco no <strong>adulto</strong> (dieta, sedentarismo,tabaco, etc) e envelhecimento.Reconhecida actualmente a importância destetema, está a decorrer em Portugal um estu<strong>do</strong> pioneirodenomina<strong>do</strong> “Geração XXI - Nascer e crescer noinício <strong>do</strong> Milénio”, que pretende acompanhar o crescimentode 10 mil recém-nasci<strong>do</strong>s até à idade adulta erespectivos pais, 1500 monitoriza<strong>do</strong>s desde o primeirotrimestre de gravidez. Conta com a participação de5 hospitais na área <strong>do</strong> Grande Porto – São João, SantoAntónio, Pedro Hispano, Maternidade de Júlio Dinise Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia. Entre osvários objectivos, está a identificação de factores genéticose ambientais que podem afectar o desenvolvimento<strong>do</strong> bebé, tentan<strong>do</strong> perceber que variáveis poderãoinfluenciar factores de risco cardiovascular 87 .Referências1. Rose G. Sick individuals and sick populations. Int J Epidemiol1985;14(1):32-38.2. Barker DJ, Osmond C. Infant mortality, childhood nutrition,and ischaemic heart disease in England and Wales. Lancet1986;1(8489):1077-1081.3. Barker DJ. Fetal origins of coronary heart disease. BMJ1995;311(6998):171-174.4. Barker DJ. The origins of the developmental origins theory. J InternMed 2007;261(5):412-417.5. Barker DJ, Winter PD, Osmond C, Margetts B, Simmonds SJ.Weight in infancy and death from ischaemic heart disease. Lancet1989;2(8663):577-580.6. Barker DJ, Osmond C, Simmonds SJ, Wield GA. The relation of smallhead circumference and thinness at birth to death from cardiovasculardisease in adult life. BMJ 1993;306(6875):422-426.7. Eriksson J, Forsen T, Tuomilehto J, Osmond C, Barker D. Fetaland childhood growth and hypertension in adult life. Hypertension2000;36(5):790-794.8. Koupilova I, Leon DA, Vagero D. Can confounding by sociodemographicand behavioural factors explain the association between size at birth andblood pressure at age 50 in Sweden? J Epidemiol Community Health1997;51(1):14-18.9. Rich-Edwards JW, Stampfer MJ, Manson JE, Rosner B, HankinsonSE, Colditz GA, Willett WC, Hennekens CH. Birth weight and risk ofcardiovascular disease in a cohort of women followed up since 1976.BMJ 1997;315(7105):396-400.10. Stein CE, Fall CH, Kumaran K, Osmond C, Cox V, Barker DJ.Fetal growth and coronary heart disease in south India. Lancet1996;348(9037):1269-1273.11. Law CM, Shiell AW. Is blood pressure inversely related to birth weight?The strength of evidence from a systematic review of the literature. JHypertens 1996;14(8):935-941.12. Frankel S, Elwood P, Sweetnam P, Yarnell J, Smith GD. Birthweight,body-mass index in middle age, and incident coronary heart disease.Lancet 1996;348(9040):1478-1480.13. Osmond C, Barker DJ, Winter PD, Fall CH, Simmonds SJ. Earlygrowth and death from cardiovascular disease in women. BMJ1993;307(6918):1519-1524.14. Huxley RR, Shiell AW, Law CM. The role of size at birth and postnatalcatch-up growth in determining systolic blood pressure: a systematicreview of the literature. J Hypertens 2000;18(7):815-831.15. Curhan GC, Willett WC, Rimm EB, Spiegelman D, Ascherio AL,Stampfer MJ. Birth weight and adult hypertension, diabetes mellitus,and obesity in US men. Circulation 1996;94(12):3246-3250.16. Yliharsila H, Eriksson JG, Forsen T, Kajantie E, Osmond C, BarkerDJ. Self-perpetuating effects of birth size on blood pressure levels inelderly people. Hypertension 2003;41(3):446-450.17. Eriksson JG, Forsen TJ, Kajantie E, Osmond C, Barker DJ. Childhoodgrowth and hypertension in later life. Hypertension 2007;49(6):1415-1421.18. Barker DJ, Osmond C, Forsen TJ, Kajantie E, Eriksson JG. Trajectoriesof growth among children who have coronary events as adults. N EnglJ Med 2005;353(17):1802-1809.19. Osmond C, Kajantie E, Forsen TJ, Eriksson JG, Barker DJ. Infantgrowth and stroke in adult life: the Helsinki birth cohort study. Stroke2007;38(2):264-270.20. Barker DJ, Bagby SP, Hanson MA. Mechanisms of disease: in uteroprogramming in the pathogenesis of hypertension. Nat Clin PractNephrol 2006;2(12):700-707.21. Woods LL, Ingelfinger JR, Nyengaard JR, Rasch R. Maternal proteinrestriction suppresses the newborn renin-angiotensin system andprograms adult hypertension in rats. Pediatr Res 2001;49(4):460-467.22. Hales CN, Barker DJ, Clark PM, Cox LJ, Fall C, Osmond C, WinterPD. Fetal and infant growth and impaired glucose tolerance at age 64.BMJ 1991;303(6809):1019-1022.23. Newsome CA, Shiell AW, Fall CH, Phillips DI, Shier R, Law CM.Is birth weight related to later glucose and insulin metabolism?--Asystematic review. Diabet Med 2003;20(5):339-348.24. McCance DR, Pettitt DJ, Hanson RL, Jacobsson LT, Knowler WC,Bennett PH. Birth weight and non-insulin dependent diabetes: thriftygenotype, thrifty phenotype, or surviving small baby genotype? BMJ1994;308(6934):942-945.25. Forsen T, Eriksson J, Tuomilehto J, Reunanen A, Osmond C, BarkerD. The <strong>fetal</strong> and childhood growth of persons who develop type 2diabetes. Ann Intern Med 2000;133(3):176-182.26. Rich-Edwards JW, Colditz GA, Stampfer MJ, Willett WC, GillmanMW, Hennekens CH, Speizer FE, Manson JE. Birthweight and therisk for type 2 diabetes mellitus in adult women. Ann Intern Med1999;130(4 Pt 1):278-284.27. Vanhala M, Vanhala P, Kumpusalo E, Halonen P, Takala J. Relationbetween obesity from childhood to adulthood and the metabolicsyndrome: population based study. BMJ 1998;317(7154):319.28. Poulsen P, Vaag A. Glucose and insulin metabolism in twins: influenceof zygosity and birth weight. Twin Res 2001;4(5):350-355.29. Bo S, Cavallo-Perin P, Scaglione L, Ciccone G, Pagano G. Lowbirthweight and metabolic abnormalities in twins with increasedsusceptibility to Type 2 diabetes mellitus. Diabet Med 2000;17(5):365-370.30. Ilia<strong>do</strong>u A, Cnattingius S, Lichtenstein P. Low birthweight andType 2 diabetes: a study on 11 162 Swedish twins. Int J Epidemiol166


Acta Obstet Ginecol Port 2009;3(3):158-1682004;33(5):948-953; discussion 953-944.31. Gluckman PD, Hanson MA. Maternal constraint of <strong>fetal</strong> growth and itsconsequences. Semin Fetal Neonatal Med 2004;9(5):419-425.32. Ounsted M, Scott A, Ounsted C. Transmission through the female lineof a mechanism constraining human <strong>fetal</strong> growth. Int J Epidemiol2008;37(2):245-250.33. Walton A HJ. Maternal effects on growth and conformation in Shirehorse-Shetland pony crosses. Proceedings of the Royal Society1938;125B:311-334.34. Yajnik CS, Fall CH, Coyaji KJ, Hirve SS, Rao S, Barker DJ, JoglekarC, Kellingray S. Neonatal anthropometry: the thin-fat Indian baby.The Pune Maternal Nutrition Study. Int J Obes Relat Metab Disord2003;27(2):173-180.35. Bavdekar A, Yajnik CS, Fall CH, Bapat S, Pandit AN, Deshpande V,Bhave S, Kellingray SD, Joglekar C. Insulin resistance syndromein 8-year-old Indian children: small at birth, big at 8 years, or both?Diabetes 1999;48(12):2422-2429.36. Yajnik C. Interactions of perturbations in intrauterine growth andgrowth during childhood on the risk of adult-onset disease. Proc NutrSoc 2000;59(2):257-265.37. Hales CN, Barker DJ. Type 2 (non-insulin-dependent) diabetes mellitus:the thrifty phenotype hypothesis. Diabetologia 1992;35(7):595-601.38. Phillips DI. Isulin rensistance as a programmed response to <strong>fetal</strong>undernutrition. Diabetologia 1996;39(9):1119-1122.39. Snoeck A, Remacle C, Reusens B, Hoet JJ. Effect of a low protein dietduring pregnancy on the <strong>fetal</strong> rat en<strong>do</strong>crine pancreas. Biol Neonate1990;57(2):107-118.40. Gluckman PD, Hanson MA. The developmental origins of the metabolicsyndrome. Trends En<strong>do</strong>crinol Metab 2004;15(4):183-187.41. Koupilová I LDA. Size at birth and mortality from ischaemic heartdisease and stroke in Swedish men aged 50-70 years. J. Epidemiol.Comm. Health 1996;50:592.42. Leon DA, Lithell HO, Vagero D, Koupilova I, Mohsen R, Berglund L,Lithell UB, McKeigue PM. Reduced <strong>fetal</strong> growth rate and increased riskof death from ischaemic heart disease: cohort study of 15 000 Swedishmen and women born 1915-29. BMJ 1998;317(7153):241-245.43. Eriksson JG, Forsen T, Tuomilehto J, Winter PD, Osmond C, Barker DJ.Catch-up growth in childhood and death from coronary heart disease:longitudinal study. BMJ 1999;318(7181):427-431.44. Eriksson JG, Forsen T, Tuomilehto J, Osmond C, Barker DJ. Earlygrowth and coronary heart disease in later life: longitudinal study.BMJ 2001;322(7292):949-953.45. Rich-Edwards JW, Kleinman K, Michels KB, Stampfer MJ, MansonJE, Rexrode KM, Hibert EN, Willett WC. Longitudinal study of birthweight and adult body mass index in predicting risk of coronary heartdisease and stroke in women. BMJ 2005;330(7500):1115.46. Koupil I, Leon DA, Lithell HO. Length of gestation is associated withmortality from cerebrovascular disease. J Epidemiol CommunityHealth 2005;59(6):473-474.47. Martyn CN, Barker DJ, Osmond C. Mothers’ pelvic size, <strong>fetal</strong> growth,and death from stroke and coronary heart disease in men in the UK.Lancet 1996;348(9037):1264-1268.48. Barker DJ, Martyn CN, Osmond C, Hales CN, Fall CH. Growthin útero and serum cholesterol concentrations in adult life. BMJ1993;307(6918):1524-1527.49. Martyn CN, Meade TW, Stirling Y, Barker DJ. Plasma concentrations offibrinogen and factor VII in adult life and their relation to intra-uterinegrowth. Br J Haematol 1995;89(1):142-146.50. Ounsted M OC. Maternal regulation of intrauterine growth. Nature1966;212:687-689.51. Morton NE. The inheritance of human birth weight. Ann Hum Genet1955;20(2):125-134.52. Brooks AA, Johnson MR, Steer PJ, Pawson ME, Abdalla HI. Birthweight: nature or nurture? Early Hum Dev 1995;42(1):29-35.53. Langley-Evans SC, Welham SJ, Jackson AA. Fetal exposure to amaternal low protein diet impairs nephrogenesis and promoteshypertension in the rat. Life Sci 1999;64(11):965-974.54. Langley SC, Browne RF, Jackson AA. Altered glucose tolerance inrats exposed to maternal low protein diets in utero. Comp BiochemPhysiol Physiol 1994;109(2):223-229.55. Moore VM, Davies MJ, Willson KJ, Worsley A, Robinson JS. Dietarycomposition of pregnant women is related to size of the baby at birth.J Nutr 2004;134(7):1820-1826.56. Shiell AW, Campbell-Brown M, Haselden S, Robinson S, Godfrey KM,Barker DJ. High-meat, lowcarbohydrate diet in pregnancy: relation toadult blood pressure in the offspring. Hypertension 2001;38(6):1282-1288.57. Rao S, Yajnik CS, Kanade A, Fall CH, Margetts BM, Jackson AA, ShierR, Joshi S, Rege S, Lubree H, Desai B. Intake of micronutrient-richfoods in rural Indian mothers is associated with the size of their babiesat birth: Pune Maternal Nutrition Study. J Nutr 2001;131(4):1217-1224.58. Bergel E, Barros AJ. Effect of maternal calcium intake during pregnancyon children’s blood pressure: a systematic review of the literature.BMC Pediatr 2007;7:15.59. Roseboom TJ, van der Meulen JH, Ravelli AC, Osmond C, Barker DJ,Bleker OP. Effects of prenatal exposure to the Dutch famine on adultdisease in later life: an overview. Mol Cell En<strong>do</strong>crinol 2001;185(1-2):93-98.60. Ravelli AC, van der Meulen JH, Michels RP, Osmond C, BarkerDJ, Hales CN, Bleker OP. Glucose tolerance in adults after prenatalexposure to famine. Lancet 1998;351(9097):173-177.61. Roseboom TJ, van der Meulen JH, Osmond C, Barker DJ, Ravelli AC,Bleker OP. Plasma lipid profiles in adults after prenatal exposure to theDutch famine. Am J Clin Nutr 2000;72(5):1101-1106.62. Roseboom TJ, van der Meulen JH, Ravelli AC, Osmond C, Barker DJ,Bleker OP. Plasma fibrinogen and factor VII concentrations in adultsafter prenatal exposure to famine. Br J Haematol 2000;111(1):112-117.63. Ravelli AC, van Der Meulen JH, Osmond C, Barker DJ, Bleker OP.Obesity at the age of 50 y in men and women exposed to famineprenatally. Am J Clin Nutr 1999;70(5):811-816.64. Roseboom TJ, van der Meulen JH, Osmond C, Barker DJ, Ravelli AC,Schroeder-Tanka JM, van Montfrans GA, Michels RP, Bleker OP.Coronary heart disease after prenatal exposure to the Dutch famine,1944-45. Heart 2000;84(6):595-598.65. Sobngwi E, Bou<strong>do</strong>u P, Mauvais-Jarvis F, Leblanc H, Velho G, VexiauP, Porcher R, Hadjadj S, Pratley R, Tataranni PA, Calvo F, Gautier JF.Effect of a diabetic environment in utero on predisposition to type 2diabetes. Lancet 2003;361(9372):1861-1865.66. Kramer MS, Kakuma R. Energy and protein intake in pregnancy.Cochrane Database Syst Rev 2003(4):CD000032.67. Jensen EC, Gallaher BW, Breier BH, Harding JE. The effect of achronic maternal cortisol infusion on the late-gestation <strong>fetal</strong> sheep. JEn<strong>do</strong>crinol 2002;174(1):27-36.68. Tangalakis K, Lumbers ER, Moritz KM, Towstoless MK, Wintour EM.Effect of cortisol on blood pressure and vascular reactivity in the ovinefetus. Exp Physiol 1992;77(5):709-717.69. Levitt NS, Lindsay RS, Holmes MC, Seckl JR. Dexamethasone in thelast week of pregnancy attenuates hippocampal glucocorticoid receptorgene expression and elevates blood pressure in the adult offspring inthe rat. Neuroen<strong>do</strong>crinology 1996;64(6):412-418.70. Nyirenda MJ, Lindsay RS, Kenyon CJ, Burchell A, Seckl JR.Glucocorticoid exposure in late gestation permanently programsrat hepatic phosphoenolpyruvate carboxykinase and glucocorticoidreceptor expression and causes glucose intolerance in adult offspring.J Clin Invest 1998;101(10):2174-2181.71. Moss TJ, Sloboda DM, Gurrin LC, Harding R, Challis JR, Newnham167


Seco S, Matias AJP. Programming effects in sheep of prenatal growth restriction andglucocorticoid exposure. Am J Physiol Regul Integr Comp Physiol2001;281(3):R960-970.72. Lindsay RS, Lindsay RM, Waddell BJ, Seckl JR. Prenatal glucocorticoidexposure leads to offspring hyperglycaemia in the rat: studies withthe 11 beta-hydroxysteroid dehydrogenase inhibitor carbenoxolone.Diabetologia 1996;39(11):1299-1305.73. Seckl JR. Prenatal glucocorticoids and long-term programming. Eur JEn<strong>do</strong>crinol 2004;151 Suppl 3:U49-62.74. Phillips DI. Insulin resistance as a programmed response to <strong>fetal</strong>undernutrition. Diabetologia 1996;39(9):1119-1122.75. Dy J, Guan H, Sampath-Kumar R, Richardson BS, Yang K. Placental11beta-hydroxysteroid dehydrogenase type 2 is reduced in pregnanciescomplicated with idiopathic intrauterine growth Restriction: evidencethat this is associated with an attenuated ratio of cortisone to cortisolin the umbilical artery. Placenta 2008;29(2):193-200.76. Crowther CA, Harding JE. Repeat <strong>do</strong>ses of prenatal corticosteroidsfor women at risk of preterm birth for preventing neonatal respiratorydisease. Cochrane Database Syst Rev 2007(3):CD003935.77. French NP, Hagan R, Evans SF, Godfrey M, Newnham JP. Repeatedantenatal corticosteroids: size at birth and subsequent development.Am J Obstet Gynecol 1999;180(1 Pt 1):114-121.78. Thorp JA, Jones PG, Knox E, Clark RH. Does antenatal corticosteroidtherapy affect birth weight and head circumference? Obstet Gynecol2002;99(1):101-108.79. Dalziel SR, Walker NK, Parag V, Mantell C, Rea HH, Rodgers A,Harding JE. Cardiovascular risk factors after antenatal exposure tobetamethasone: 30-year follow-up of a ran<strong>do</strong>mised controlled trial.Lancet 2005;365(9474):1856-1862.80. Lesage J, Hahn D, Leonhardt M, Blondeau B, Breant B, Dupouy JP.Maternal undernutrition during late gestation-induced intrauterinegrowth restriction in the rat is associated with impaired placentalGLUT3 expression, but <strong>do</strong>es not correlate with en<strong>do</strong>genouscorticosterone levels. J En<strong>do</strong>crinol 2002;174(1):37-43.81. Langley-Evans SC, Phillips GJ, Benediktsson R, Gardner DS, EdwardsCR, Jackson AA, Seckl JR. Protein intake in pregnancy, placentalglucocorticoid metabolism and the programming of hypertension inthe rat. Placenta 1996;17(2-3):169-172.82. Lesage J, Blondeau B, Grino M, Breant B, Dupouy JP. Maternalundernutrition during late gestation induces <strong>fetal</strong> overexposure toglucocorticoids and intrauterine growth retardation, and disturbs thehypothalamo-pituitary adrenal axis in the newborn rat. En<strong>do</strong>crinology2001;142(5):1692-1702.83. Gardner DS, Jackson AA, Langley-Evans SC. Maintenance of maternaldiet-induced hypertension in the rat is dependent on glucocorticoids.Hypertension 1997;30(6):1525-1530.84. Bird A. DNA methylation patterns and epigenetic memory. Genes Dev2002;16(1):6-21.85. Sinclair KD, Allegrucci C, Singh R, Gardner DS, Sebastian S,Bispham J, Thurston A, Huntley JF, Rees WD, Maloney CA, LeaRG, Craigon J, McEvoy TG, Young LE. DNA methylation, insulinresistance, and blood pressure in offspring determined by maternalpericonceptional B vitamin and methionine status. Proc Natl Acad SciU S A 2007;104(49):19351-19356.86. Lillycrop KA, Phillips ES, Jackson AA, Hanson MA, Burdge GC.Dietary protein restriction of pregnant rats induces and folic acidsupplementation prevents epigenetic modification of hepatic geneexpression in the offspring. J Nutr 2005;135(6):1382-1386.87. Isabel Pacheco AS, João Correia, Raúl Santos. Geração XXI. U. PortoPreto no Branco 2005:2.168

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!