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A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

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dos pais, mudamos <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>, separamo-nos <strong>de</strong> velhos amigos, per<strong>de</strong>mos os amores daadolescência, <strong>de</strong>scobrimos novas coisas, temos <strong>de</strong> abandonar nossas crenças e convicções;enfim, separação e perda são completamente inerentes à vida. Portanto, o luto se impõe comoum processo necessário no qual nos <strong>de</strong>frontamos com a transitorieda<strong>de</strong> da existência através<strong>de</strong> vivencias <strong>de</strong> perdas. O luto é, por assim dizer, o espaço paradigmático <strong>de</strong> elaboraçãopsíquica da perda. A frustração também po<strong>de</strong> ser pensada <strong>de</strong>ntro do registro das perdas eseparações. Ao nos <strong>de</strong>pararmos com um limite e nos frustrarmos, também se faz necessárioum luto pelo que se <strong>de</strong>ixou <strong>de</strong> conseguir ou realizar. Um luto pelo impedimento daquilo queera almejado, e para cuja satisfação a frustração pôs um limite.Perda, separação e frustração são tão certas na vida quanto a certeza <strong>de</strong> que um dia elachegará ao seu fim. Sobre este tema Freud escreveu um breve artigo intitulado “Sobre aTransitorieda<strong>de</strong>”, no qual narra um passeio em um belo campo com dois amigos. Estes,durante a caminhada, <strong>de</strong>svalorizam o valor da natureza e da vida por constatar suaefemerida<strong>de</strong>. O argumento <strong>de</strong>les era o seguinte: se um dia toda esta beleza está fadada a<strong>de</strong>teriorar-se, então qual seria seu valor? Por que admirá-la? Surge para Freud um enigma a<strong>de</strong>cifrar que será solucionado pela seguinte explicação: a constatação da transitorieda<strong>de</strong> dascoisas leva muitas pessoas a se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem inconscientemente da vivência do luto que estáimplícita na finitu<strong>de</strong> das relações. A percepção <strong>de</strong> que um dia aquela beleza se reduzirá ao póremete as pessoas à vivencia do luto inevitável. A lógica seria: “se um dia as flores morrerãoe os campos irão secar, toda esta beleza terá fim; quando isto acontecer enlutaremos pelaperda <strong>de</strong>stes belos campos”. Segundo Freud, a mente tem uma tendência a recuar frente aoque é penoso. Assim, a psique <strong>de</strong>svaloriza estes objetos – neste caso, os campos e sua beleza– como uma tentativa <strong>de</strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r contra a dor que seria infringida pela vivência <strong>de</strong> umfuturo <strong>de</strong> perda e do <strong>de</strong>corrente luto. De fato, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> investir nos objetos, mesmoquando constatamos a finitu<strong>de</strong> que se impõe a tudo que é vivo, é uma das maiores, maissofisticadas e difíceis conquistas do psiquismo. E preservar tal capacida<strong>de</strong> é um <strong>de</strong>safio quepermeia toda a existência <strong>de</strong> uma pessoa – sua falta estaria intimamente relacionada à<strong>melancolia</strong>.Mas avancemos em direção da explicação do processo no qual elaboramos estasvivências: o luto. Convém frisar que, no artigo Luto e <strong>melancolia</strong>, Freud se refere ao lutocomo reação à perda por morte <strong>de</strong> um ente querido. É sobre este fato específico que ele estápensando neste momento. A noção apresentada aqui, <strong>de</strong> que o luto é um processo que po<strong>de</strong>ser aplicado à compreensão dos mais diversos tipos <strong>de</strong> vivências <strong>de</strong> perdas e frustrações, éuma compreensão posterior.97

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