psicopatológico, inaugura um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mente inédito, formado por objetos internos que serelacionam e que po<strong>de</strong>m ser inconscientes.Destacando ainda outro autor que também consi<strong>de</strong>ra fundamental um estudo sobre a<strong>melancolia</strong>, encontramos a seguinte colocação:Consi<strong>de</strong>ro que dispensar atenção ao tema da <strong>melancolia</strong> é fundamental pelaimportância que esta tem <strong>de</strong>ntro da teoria psicanalítica e sua prática clínica. Isto nãosó refere-se a <strong>de</strong>svendar seus enigmas no âmago <strong>de</strong>sta psicopatologia e proporpossíveis enfoques técnicos para enfrentar o paciente que pa<strong>de</strong>ce <strong>de</strong>la. É por assimdizer, por um lado tratar <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r a <strong>melancolia</strong> como um quadro patológico; epor outro, compreendê-la como uma estrutura fundante na formação do psiquismo(MARUCCO, 1987, p.9, tradução livre).Marucco (1987, p.21) escreve um artigo no qual examina as contribuições da<strong>melancolia</strong> tanto a partir do texto freudiano, quanto <strong>de</strong> sua prática clínica. O autor não hesitaem arriscar uma conjetura: em toda estruturação do aparelho psíquico coexistirá uma estrutura<strong>de</strong> “caráter melancólico” cindida da conhecida estrutura edípica (MARUCCO, 1987, p.21).Esta estrutura melancólica, segundo o autor, correspon<strong>de</strong>ria ao momento inicial <strong>de</strong>estruturação do aparelho psíquico. E a suposição parece ser uma das mais radicais queencontramos, e se baseia <strong>de</strong>clarada e especificamente em Luto e <strong>melancolia</strong>.Melancolia e <strong>de</strong>pressão seriam mais que estados psicopatológicos. Será que <strong>de</strong>stamaneira po<strong>de</strong>ríamos supor, mesmo na mente em geral, isto é, em seu estado não patológico, apresença <strong>de</strong> elementos melancólicos e <strong>de</strong>pressivos? Segundo a teoria kleiniana, que aceita aexistência <strong>de</strong> uma posição <strong>de</strong>pressiva no psiquismo em geral, a resposta seria afirmativa.Assim, ao tomar para estudo o artigo Luto e <strong>melancolia</strong>, voltamo-nos para temas quesão fundamentais na constituição, estruturação e manutenção da mente <strong>de</strong> maneira geral. Épor este motivo que nos perguntamos: será este um estudo “psicopatológico”?Vale ainda citar, mesmo que apenas <strong>de</strong> passagem, alguns autores que <strong>de</strong> alguma formareconheceram a importância <strong>de</strong> do texto. Na época <strong>de</strong> Freud tivemos Abraham (1970[1924]),Klein (1935, 1940), Radó (1928), <strong>de</strong>ntre muitos outros. Mais recentemente, po<strong>de</strong>mos lembrar:Bleichmar (1983), Caruso (1986), Kristeva (1987), Violante (1994), Garcia-Roza (1995),Peres (1996), Roudinesco (1998), Mezan (1998), Fédida (1999), Berlinck (2000), Moreira(2002) e Hashimoto (2005) que, <strong>de</strong>ntre inúmeros outros autores, referem-se ao artigo Luto e<strong>melancolia</strong>, fato que ressalta sua originalida<strong>de</strong> e atualida<strong>de</strong>, tanto por ser o estudo inauguralno que se refere ao tema do luto e da <strong>melancolia</strong>, quanto pelo valor <strong>de</strong> suas contribuições parao <strong>de</strong>senvolvimento da teoria psicanalítica. No entanto, são raros os estudos que se <strong>de</strong>dicam aexaminar com profundida<strong>de</strong> as implicações dos <strong>de</strong>senvolvimentos do texto freudiano.Destacamos os trabalhos já citados <strong>de</strong> Og<strong>de</strong>n (2004), Laplanche (1987), Rosenberg (2003) e92
Marucco (1987), <strong>de</strong>ntre os poucos que realmente constituem estudos específicos sobre oensaio.Estamos plenamente <strong>de</strong> acordo com a já citada afirmação <strong>de</strong> Og<strong>de</strong>n (2004, p.97):“Muito do som corrente no pensamento psicanalítico atual – e, <strong>de</strong>sconfio, também nopensamento psicanalítico vindouro – po<strong>de</strong> ser ouvido em Luto e <strong>melancolia</strong>, <strong>de</strong> Freud, sesoubermos ouvi-lo”. Preten<strong>de</strong>mos, então, aguçar nossos ouvidos a estes sons. Embora ostrabalhos <strong>de</strong> Og<strong>de</strong>n e Marucco comportem quase quinze anos <strong>de</strong> diferença, ambos parecemcompartilhar a mesma opinião. A afirmação que se segue <strong>de</strong> Marucco é muito próxima da queacabamos <strong>de</strong> ler em Og<strong>de</strong>n:Ocupar-se e preocupar-se pelo e do tema da <strong>melancolia</strong> é imprescindível não sópara compreen<strong>de</strong>r a teoria psicanalítica e seu rico caudal <strong>de</strong> conceitos, mas tambémpara contribuir e <strong>de</strong>senvolver um tema capital para o futuro da psicanálise. Vejocada vez com mais clareza, que Luto e <strong>melancolia</strong> se situa como um texto freudiano<strong>de</strong>cisivo para o <strong>de</strong>senvolvimento da ciência psicanalítica. Suas implicaçõesteóricas, a amplitu<strong>de</strong> do registro clínico que propõe, seus <strong>de</strong>senvolvimentostécnicos que incita, são indicadores da abertura que o texto nos brinda(MARUCCO, 1987, p.11, tradução livre).Neste capitulo, preten<strong>de</strong>mos tomar o texto freudiano e examiná-lo em <strong>de</strong>talhes. E elefoi escolhido porque, do nosso ponto <strong>de</strong> vista, trata <strong>de</strong> processos psíquicos – ainda que <strong>de</strong>maneira incompleta – subjacentes aos estados <strong>de</strong>pressivos e/ou melancólicos <strong>de</strong> maneirageral. Não preten<strong>de</strong>mos afirmar que Freud tenha escrito uma teoria sobre a <strong>de</strong>pressão, o queseria controverso e abriria uma problemática complexa o suficiente para <strong>de</strong>mandar um outroestudo. Mas é cabível afirmar que Luto e <strong>melancolia</strong> revela processos que nos servem comopontos <strong>de</strong> referência dos quais po<strong>de</strong>mos partir para realizar uma compreensão dos estados<strong>de</strong>pressivo-melancólicos. Abraham (1970 [1911]) já havia <strong>de</strong>dicado um importante estudosobre a <strong>melancolia</strong> poucos anos antes – 1911 – com ênfase nos aspectos ambivalentes <strong>de</strong>stacondição. É evi<strong>de</strong>nte a influência <strong>de</strong>ste estudo no artigo freudiano <strong>de</strong> 1915; no entanto, o queé realmente notável, e que consiste na principal contribuição <strong>de</strong> Freud, é a revelação dadimensão narcísica presente nos estados melancólicos, a qual fundou os pilares sobre os quaisse ergueram gran<strong>de</strong> parte dos estudos sobre <strong>de</strong>pressão-<strong>melancolia</strong> na psicanálise. Freudinaugura caminhos para um estudo nesse sentido, e são estes caminhos que preten<strong>de</strong>mosseguir. Já po<strong>de</strong>mos nos adiantar que tais caminhos serão basicamente as questões da via doselementos relativos ao narcisismo e à ambivalência. Ambos foram postos em evidência porFreud nesse seu estudo sobre a <strong>melancolia</strong>.Em Luto e <strong>melancolia</strong> o método empregado por Freud se inverte: é através <strong>de</strong> umestado normal ou comum – o luto – que será possível <strong>de</strong>svendar um estado patológico – a93
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livro Freud afirma a existência de
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As chamadas pulsões de morte, ao c
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Se nos remetermos ao estudo sobre o
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Capítulo 4A concepção freudiana
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No segundo caso, aquele de situaç
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Vetter (1969) considera o fenômeno
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PERES, U. T. Melancolia. São Paulo