internaliza as críticas morais através da i<strong>de</strong>ntificação edípica, também é esboçada a partir daobservação da <strong>melancolia</strong>. Se nesta condição encontramos um sujeito que se autocritica, se<strong>de</strong>spreza, se ataca e se auto-<strong>de</strong>nigre, Freud enten<strong>de</strong> que uma parte do eu se separou e entrouem conflito com a outra, que é subjugada.Vemos assim que as idéias <strong>de</strong> superego, da i<strong>de</strong>ntificação e sua importância naconstituição do ego, a maneira <strong>de</strong> o aparelho psíquico lidar com a ambivalência, a relação donarcisismo com a saú<strong>de</strong> do self e da auto-estima, a reação do ser humano às perdas e seuscaminhos para elaborá-las, enfim, as diversas idéias psicanalíticas que nos permitiramcompreen<strong>de</strong>r a mente, surgem do estudo do luto e da <strong>melancolia</strong>, ou recebem sua contribuiçãoque, <strong>de</strong> maneira geral, trata dos aspectos <strong>de</strong>pressivos da mente normal.Neste sentido, Laplanche (1987, p.288) afirma queEsse texto situa-se no contexto <strong>de</strong> importantes modificações da teoria <strong>freudiana</strong>.Nesse momento importante <strong>de</strong> 1915, Freud dá, ao mesmo tempo, a última <strong>de</strong>mãoem sua metapsicologia e começa a traçar as vias <strong>de</strong> uma segunda teoria queintitulará a “segunda tópica”.Não só Laplanche (1987), mas também Rosenberg (2003, p.149), afirmam que oensaio sobre a <strong>melancolia</strong> assume um importante papel nos posteriores <strong>de</strong>senvolvimentosfreudianos:Desse ponto <strong>de</strong> vista po<strong>de</strong>mos dizer que os problemas colocados pelo trabalho <strong>de</strong><strong>melancolia</strong> em Luto e <strong>melancolia</strong> abrem a via e implicam as transformaçõesradicais que são produzidas na teoria <strong>freudiana</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 1920.Estes autores nos alertam para o fato <strong>de</strong> que o livro faz parte <strong>de</strong> uma época muitoparticular do <strong>de</strong>senvolvimento freudiano. Por volta <strong>de</strong> 1915, <strong>de</strong>vido ao tempo ocioso em suaclínica, em função da primeira guerra mundial, Freud se empenhou na elaboração <strong>de</strong> umconjunto <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong>nominando-os “Artigos sobre metapsicologia”. Sua idéia inicial eraescrever um conjunto <strong>de</strong> doze artigos que comporiam um livro que visava, por meio daapresentação <strong>de</strong> suas teorias psicológicas, “proporcionar um fundamento teórico estável àpsicanálise” (STRACHEY, introdução aos Artigos Metapsicológicos na ESB, p.111). Emcada um <strong>de</strong>stes artigos Freud pretendia tratar, <strong>de</strong> forma sistemática e aprofundada, dosprincipais conceitos psicanalíticos edificados até então. Contudo, sem sabermos o motivodisso, ele só publicou cinco do conjunto <strong>de</strong> doze artigos escritos. Além <strong>de</strong> Luto e <strong>melancolia</strong>(1917[1915]), também foram publicados Pulsões e Destinos da Pulsão (1915), O Recalque(1915), O Inconsciente (1915) e Suplemento Metapsicológico à Teoria dos Sonhos (1917[1915]). Tardiamente, em meados dos anos 80, foi encontrado e publicado um manuscrito <strong>de</strong>Freud i<strong>de</strong>ntificado como mais um artigo metapsicológico. Com Neurose <strong>de</strong> Transferência:90
uma Síntese-rascunho do décimo segundo ensaio metapsicológico <strong>de</strong> 1915, teríamos um total<strong>de</strong> seis <strong>de</strong>stes artigos conhecidos. Quanto aos seis restantes, é possível que tenham sido<strong>de</strong>struídos por Freud. Eis um dos maiores enigmas que paira sobre a psicanálise <strong>freudiana</strong>.Após os artigos metapsicológicos <strong>de</strong> 1915, segue-se uma virada na teoria psicanalítica,com <strong>de</strong>staque especialmente para dois pontos. Com Além do Princípio do Prazer (1920), amudança começa abordando a teoria das pulsões, que passam a ser i<strong>de</strong>ntificadas por “pulsão<strong>de</strong> vida e pulsão <strong>de</strong> morte”. Em O Ego e o Id (1923), consolida-se outra gran<strong>de</strong> mudança como surgimento da “segunda tópica do aparelho psíquico”, <strong>de</strong>finida pelas instâncias quereceberam o nome <strong>de</strong> “id”, “ego” e “superego”. Neste contexto, como bem pontuaramLaplanche e Rosenberg, o artigo Luto e <strong>melancolia</strong> estaria fortemente relacionado a esta“revolução” que se segue aos artigos metapsicológicos. O texto sobre a <strong>melancolia</strong> teria,assim, apresentado problemáticas que <strong>de</strong>saguariam no gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da teoriapsicanalítica dos anos vinte.Estando <strong>de</strong> acordo com estas colocações, Og<strong>de</strong>n (2004) faz outras consi<strong>de</strong>rações quevão mais além <strong>de</strong>stes autores. Sobre Luto e <strong>melancolia</strong>, o autor afirma: “Muito do somcorrente no pensamento psicanalítico atual – e, <strong>de</strong>sconfio, também no pensamentopsicanalítico vindouro – po<strong>de</strong> ser ouvido em Luto e <strong>melancolia</strong>, <strong>de</strong> Freud, se soubermos ouvilo”(OGDEN, 2004, p.97). Tal afirmação consta em recente trabalho do autor, publicado noInternational Journal; trata-se <strong>de</strong> um importante e original artigo que versa sobre ascontribuições <strong>de</strong> Luto e <strong>melancolia</strong> (1917[1915]) para o <strong>de</strong>senvolvimento da psicanálise e dateoria das relações objetais. Neste, o psicanalista mostra que não apenas a teoria <strong>freudiana</strong>,mas também a teoria <strong>de</strong> outros importantes psicanalistas, foram consi<strong>de</strong>ravelmenteinfluenciadas pelas idéias presentes no artigo <strong>de</strong> Freud:Estas sentenças representam uma <strong>de</strong>monstração sucinta e po<strong>de</strong>rosa <strong>de</strong> como Freud,nesse texto, começa a escrever/pensar teórica e clinicamente em termos <strong>de</strong> relaçãoentre aspectos cindidos, pareados e inconscientes do Eu (isto é, sobre relaçõesobjetais internas e inconscientes). Freud reúne pela primeira vez, em uma narrativacorrente, o seu revisado, e agora novo, mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mente, apresentando-o em umnível mais alto em termos teóricos (OGDEN, 2004, p.90).Além <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar <strong>de</strong> maneira muito pertinente como este “novo mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mente”se <strong>de</strong>senha nas páginas do texto freudiano, Og<strong>de</strong>n lembra também que os conhecidos<strong>de</strong>senvolvimentos da teoria <strong>de</strong> Klein – a relação <strong>de</strong> objetos internos, os mecanismos <strong>de</strong> cisão,as <strong>de</strong>fesas maníacas etc. – po<strong>de</strong>m ser encontrados nas entrelinhas do artigo freudiano sobre a<strong>melancolia</strong>, mesmo que ainda <strong>de</strong> forma embrionária ou apenas sugerida. Assim, Og<strong>de</strong>nenfatiza que Luto e <strong>melancolia</strong>, além <strong>de</strong> tratar da <strong>melancolia</strong> como um quadro91
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mais prejudicial ele será. A fórm
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