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A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

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(1933, p.66). Moisés e o monoteísmo (1939 [1934-39]) também recebe a visita do termo“<strong>de</strong>pressão”, que figura como humor <strong>de</strong>pressivo dos ju<strong>de</strong>us. Aqui novamente notamos quenossas indicações sobre o uso do termo “<strong>de</strong>pressão” fazem sentido: Freud costumava usar otermo para distinguir um tipo <strong>de</strong> humor específico, àquele penoso estado que conhecemoscomo “<strong>de</strong>pressão”. Para corroborarmos esta idéia, vejamos ainda um último texto. Umdistúrbio na acrópole, escrito em 1936, traz uma ilustração sobre a <strong>de</strong>pressão. Freud haviafeito uma viagem com seu irmão para Trieste e, frente aos obstáculos que se punham dianteda possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> irem até Atenas, ambos ficaram em um “estado <strong>de</strong> espírito muito<strong>de</strong>primido” ou, dito <strong>de</strong> outra maneira algumas linhas adiante: em um estado tão sombrio noqual só se previam obstáculos e dificulda<strong>de</strong>s. Apesar disso, Freud e o irmão acabam indo paraAtenas e conhecem a Acrópole. Entretanto, anos mais tar<strong>de</strong>, seu interesse em <strong>de</strong>svendar omistério daquele estado <strong>de</strong>pressivo que os acometera em Trieste resultou-se vivo na redação<strong>de</strong>ste texto. Sua explicação é muito simples: ante à impossibilida<strong>de</strong> da realização dosacontecimentos, eles se <strong>de</strong>primiram, pois a realização <strong>de</strong>stes parecia impossível – “bom<strong>de</strong>mais para ser verda<strong>de</strong>”. É comum um adoecer pela não realização ou frustração <strong>de</strong> umaexpectativa, <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo ou <strong>de</strong> uma necessida<strong>de</strong> vital. Em poucas palavras, a <strong>de</strong>pressão emTrieste era uma <strong>de</strong>fesa diante da realida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprazerosa <strong>de</strong> suas expectativas não seconcretizarem. Este pequeno texto traz para nós a <strong>de</strong>pressão como um estado que po<strong>de</strong> semanifestar por alguns instantes, como nas poucas horas em Trieste que antece<strong>de</strong>ram oembarque <strong>de</strong> Freud e seu irmão para Atenas, e que se expressa através <strong>de</strong> um ânimo penoso –o estado sombrio e pessimista, que é tão comum nos melancólicos.Ao final <strong>de</strong>ste longo caminho em busca do esclarecimento das obscurida<strong>de</strong>s e dasdúvidas que cercam os termos “<strong>de</strong>pressão” e “<strong>melancolia</strong>”, não po<strong>de</strong>mos afirmar queencontramos uma resposta <strong>de</strong>cisiva. Em busca <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finição, encontramos realmente oseu oposto, que permanece agora <strong>de</strong> maneira mais clara e <strong>de</strong>finida: não há em Freud uma<strong>de</strong>finição expressa ou absoluta sobre os problemas que cercam os temas da <strong>de</strong>pressão e da<strong>melancolia</strong>. Levantamos algumas questões norteadoras: Freud entendia <strong>de</strong>pressão e<strong>melancolia</strong> como estados similares, isto é, não fazia diferenciação entre eles? Usava os termoscomo sinônimos? Propôs uma teoria sobre a <strong>de</strong>pressão? Definiu a <strong>melancolia</strong> como umapatologia específica? Entendia esta como uma psicose? Nossa investigação encontroualgumas saídas para respon<strong>de</strong>r a estas questões.Se ele realmente <strong>de</strong>senvolveu uma teoria da <strong>de</strong>pressão, não po<strong>de</strong>mos afirmar comcerteza, mas que construiu uma teoria sobre a <strong>melancolia</strong>, diferenciando-a das psicoses e<strong>de</strong>finindo-a como uma <strong>de</strong>terminada patologia, com características específicas e distintivas,73

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