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A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

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melancólica”, como já vimos, aparece mais expressivamente em Psicologia das massas, eparece ser um correlato da <strong>melancolia</strong> estudada em Luto e <strong>melancolia</strong>. Nas páginas seguintesencontramos o seguinte trecho:A posição seria simplesmente a <strong>de</strong> um homem que, no tormento e perplexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>uma <strong>de</strong>pressão melancólica, assina um compromisso com o Demônio, a quematribui o maior po<strong>de</strong>r terapêutico. Que a <strong>de</strong>pressão fosse ocasionada pela morte dopai seria então irrelevante; a ocasião po<strong>de</strong>ria tão bem ter sido outra qualquer.[...]Não é algo fora do comum para um homem adquirir uma <strong>de</strong>pressão melancólica euma inibição em seu trabalho, em resultado da morte do seu pai. Quando istoacontece, concluímos que o homem fora ligado ao pai por um amor especialmenteintenso e recordamos com quanta freqüência uma <strong>melancolia</strong> grave surge comoforma neurótica <strong>de</strong> luto. Nesse ponto, estamos indubitavelmente certos. Mas não seconcluirmos, a<strong>de</strong>mais, que essa relação foi simplesmente <strong>de</strong> amor. Ao contrário,seu luto pela perda do pai tem mais probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se transformar em<strong>melancolia</strong>, quanto mais sua atitu<strong>de</strong> para com ele portar a marca da ambivalência(FREUD, 1923[1922], p.99, 103; grifos nossos).E aqui temos outra questão: a <strong>melancolia</strong> se apresenta como forma neurótica do luto,isto é, concomitante ao período penoso e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinvestimento libidinal que se segue à perda <strong>de</strong>um ente querido, como bem assinalado em Luto e <strong>melancolia</strong>. O luto se torna patológicoquando a ele se acrescenta a ambivalência e, melancólico, quando temos como mais umingrediente a ligação narcísica. No caso <strong>de</strong>ste pintor, o amor por seu pai era permeado poruma acentuada ambivalência – ponto comum na teoria <strong>freudiana</strong> do complexo <strong>de</strong> Édipo.Entretanto, o aspecto narcísico surge neste último fragmento:Será lembrado que o pintor assinou um compromisso com o Demônio porque, apósa morte do pai e sentindo-se <strong>de</strong>primido e incapaz <strong>de</strong> trabalhar, ficou preocupadosobre como ganhar a vida. Esses fatores da <strong>de</strong>pressão, da inibição em seu trabalhoe do luto pelo pai estão <strong>de</strong> algum modo vinculados uns com os outros, seja <strong>de</strong>maneira simples ou complicada (FREUD, 1923[1922], p.117, grifos nossos).A preocupação em “como ganhar a vida” po<strong>de</strong> ser entendida como expressãosimbólica da ligação narcísica com o pai, ou seja, uma preocupação com a sobrevivência emanutenção do bem-estar do ego. A ligação com o pai, já que este era responsável por suamanutenção, com certeza <strong>de</strong>veria ter algum ponto narcísico, pois, sem este, a <strong>melancolia</strong> nãose torna possível. Outra questão <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque é relativa ao uso dos termos para se referir aoestado <strong>de</strong>pressivo do pintor. Uma leitura possível é que Freud o diagnostica como portador <strong>de</strong>uma “<strong>de</strong>pressão melancólica”, e em momentos mais livres do texto, nos quais não estápreocupado com a <strong>de</strong>finição estrita <strong>de</strong> um quadro clínico, ele usa ou o termo “<strong>de</strong>pressão” ou otermo “<strong>melancolia</strong>”. Será esta uma pequena distinção? A <strong>de</strong>pressão melancólica estaria aquidiferenciada da <strong>de</strong>pressão, e ambas incluídas no que Freud chamou <strong>de</strong> “estados <strong>de</strong>pressivos”?No final do primeiro fragmento, ele diz que o pintor quer se livrar <strong>de</strong> um estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão.71

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