influenciados pelo médico; o que este lhes diz, <strong>de</strong>ixa-os frios, não os impressiona;conseqüentemente, o mecanismo <strong>de</strong> cura que efetuamos com outras pessoas — arevivescência do conflito patogênico e a superação da resistência <strong>de</strong>vido à regressão— neles não po<strong>de</strong> ser executado. Permanecem como são. (FREUD, 1916 – 1917,p.447-48; grifo nosso).Esta classe <strong>de</strong> distúrbios narcísicos se impôs a Freud por uma dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> or<strong>de</strong>mtécnica na análise <strong>de</strong>stes pacientes: ao contrário das chamadas “neuroses <strong>de</strong> transferência” –histeria, neurose obsessiva –, tais pacientes não estabeleciam transferência na análise,permanecendo assim inacessíveis à técnica psicanalítica.O texto “Uma breve <strong>de</strong>scrição da psicanálise” (FREUD, 1924 [1923], p.228; grifonosso) traz a mesma afirmação: “As primeiras (histeria e neurose obsessiva) constituem osobjetos propriamente ditos do tratamento psicanalítico, ao passo que as outras, as neurosesnarcísicas, embora possam <strong>de</strong>veras ser examinadas com o auxílio da análise, oferecemdificulda<strong>de</strong>s fundamentais à influência terapêutica”.Vale analisarmos alguns fragmentos <strong>de</strong>ste período, que compreen<strong>de</strong> a passagem daprimeira para a segunda tópica, começando pela “Conferência XXVI” – “A teoria da libido eo narcisismo” – das Conferências introdutórias sobre psicanálise. Freud (1916 – 1917, p.424;grifo nosso) assim escreve: “Os distúrbios narcísicos e as psicoses relacionadas a eles sópo<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>cifrados por observadores formados no estudo analítico das neuroses <strong>de</strong>transferência”. Os distúrbios ou neuroses narcísicas, neste momento <strong>de</strong> 1915-1916, abarcamuma série <strong>de</strong> estados como a psicose, a paranóia e a <strong>melancolia</strong>. Na citação seguinte, algomais se acrescenta:[...] Como na paranóia, também na <strong>melancolia</strong> (da qual, aliás, têm-se <strong>de</strong>scritomuitas formas clínicas diferentes) encontramos um ponto no qual se tornoupossível obter alguma compreensão interna (insight) da estrutura interna da doença.[...] Na <strong>melancolia</strong>, bem como em outros distúrbios narcísicos, emerge, comacento especial, um traço particular na vida emocional do paciente — aquilo que,<strong>de</strong> acordo com Bleuler, nos acostumamos a <strong>de</strong>screver como “ambivalência”. Comisso queremos significar que estão sendo dirigidos à mesma pessoa sentimentoscontrários — amorosos e hostis (FREUD, 1915-1916, p.427-428; grifos nossos).O primeiro ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nesta passagem é a repetição da observação feita emLuto e <strong>melancolia</strong> sobre a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>sta patologia em várias formas clínicas diferentes,apontando assim indiretamente para a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fini-la em apenas uma. O segundoponto é o <strong>de</strong>staque dado à ambivalência, conceito-chave para a compreensão da <strong>melancolia</strong>.Neste trecho ainda, a <strong>melancolia</strong> é claramente consi<strong>de</strong>rada um distúrbio narcísico.No texto “Introdução à psicanálise e às neuroses <strong>de</strong> guerra”, <strong>de</strong> 1919, Freud se refere auma classe <strong>de</strong> distúrbios agrupados sob o nome <strong>de</strong> “neuroses narcísicas”: a <strong>de</strong>mência precoce,a paranóia e a <strong>melancolia</strong>. Um pouco mais adiante encontramos estes distúrbios referidos68
como “psicoses”. Tal fato se repete em um breve escrito sobre o suicídio <strong>de</strong> Victor Tausk, em1919, on<strong>de</strong> encontramos a <strong>melancolia</strong> <strong>de</strong>finida como um tipo <strong>de</strong> psicose:Suas ativida<strong>de</strong>s clínicas, a que <strong>de</strong>vemos valiosas pesquisas das várias psicoses (porexemplo, a <strong>melancolia</strong> e a esquizofrenia), justificavam as melhores esperanças edavam-lhe perspectivas <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>signação para a docência universitária[Dozentur], pela qual se havia empenhado (FREUD, 1919, p.295; grifo nosso).Em “Dois verbetes <strong>de</strong> enciclopédia”, a <strong>melancolia</strong> aparece <strong>de</strong>ntro da classe dosdistúrbios narcísicos, ao lado da <strong>de</strong>mência precoce e da paranóia:Com a ajuda <strong>de</strong>ssa <strong>concepção</strong> tornou-se possível empenhar-se na análise do ego eefetuar uma distinção clínica das psiconeuroses em neuroses <strong>de</strong> transferência edistúrbios narcísicos. Nas primeiras (histeria e neurose obsessiva), o sujeito tem àsua disposição uma quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> libido que se esforça por ser transferida paraobjetos externos, fazendo-se uso disso para levar a cabo o tratamento analítico; poroutro lado, os distúrbios narcísicos (<strong>de</strong>mência precoce, paranóia, <strong>melancolia</strong>)caracterizam-se por uma retirada da libido dos objetos e, assim, raramente sãoacessíveis à terapia analítica. Sua inacessibilida<strong>de</strong> terapêutica, contudo, nãoimpediu à análise <strong>de</strong> efetuar os mais fecundos começos do estudo mais profundo<strong>de</strong>ssas moléstias, que se contam entre as psicoses (FREUD, 1923[1922], p.265;grifos nossos).Ao terminar o parágrafo, Freud oferece uma <strong>de</strong>finição: as psicoses seria uma classe,<strong>de</strong>ntro da qual se agrupariam a paranóia, a esquizofrenia (<strong>de</strong>mência precoce) e a <strong>melancolia</strong>, etodos estes distúrbios são equivalentes à classe das chamadas “neuroses narcísicas”. Neste ano<strong>de</strong> 1922, ainda as psicoses são postas como equivalentes às neuroses narcísicas, e a<strong>melancolia</strong> configura-se <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta gran<strong>de</strong> classe.Entretanto, em 1924, com Neurose e psicose, tal questão será <strong>de</strong>finida <strong>de</strong> maneiradiferente: neste texto encontramos uma importante <strong>de</strong>finição que, <strong>de</strong> forma clara e precisa,vem ao encontro <strong>de</strong> nossa questão: à <strong>melancolia</strong> é reservada a exclusivida<strong>de</strong> da <strong>de</strong>finição“neurose narcísica”. E esta compreensão já fora esboçada em O ego e o id (1923). Nessetrabalho, a <strong>melancolia</strong> é <strong>de</strong>finitivamente diferenciada e <strong>de</strong>stacada do grupo das psicoses e dasneuroses <strong>de</strong> transferência, recebendo seu lugar específico. As psicoses, segundo o autor, seconstituiriam em um conflito entre o ego e o mundo externo; já as neuroses <strong>de</strong> transferência,um conflito entre o ego e o id. A <strong>melancolia</strong> consiste em um conflito entre o ego e superego.Notamos claramente que Freud elege uma classificação própria para a <strong>melancolia</strong>: ele aenquadra como uma neurose, mais especificamente como uma neurose narcísica,distinguindo assim a patologia melancólica dos grupos das psicoses. Já <strong>de</strong>stacamos <strong>de</strong>antemão que Freud, no que se refere aos estados melancólicos, <strong>de</strong>u ênfase às dimensõesnarcísicas e ambivalentes. A <strong>de</strong>finição da <strong>melancolia</strong> como uma neurose narcísica po<strong>de</strong> serentendida como se segue: um problema neurótico, no qual a questão essencial centra-se nos69
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Capítulo 4A concepção freudiana
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