perda e ambivalência. O primeiro aspecto consiste no fato <strong>de</strong> que a perda na <strong>melancolia</strong> po<strong>de</strong>ser <strong>de</strong> outras naturezas além <strong>de</strong> morte, como frustração e <strong>de</strong>cepção em relação ao objeto ouaos i<strong>de</strong>ais. O outro aspecto é a presença do mecanismo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, o que <strong>de</strong>nota adimensão narcísica presente no vínculo com o objeto. Há ainda outro momento em que otermo “<strong>de</strong>pressão” po<strong>de</strong> ser encontrado em Luto e <strong>melancolia</strong>. Na página 259, em meio ao seuexame sobre a mania, Freud escreve:Todas essas situações se caracterizam pela animação, pelos sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>scarga <strong>de</strong>uma emoção jubilosa e por maior disposição para todas as espécies <strong>de</strong> ação — damesma maneira que na mania, e em completo contraste com a <strong>de</strong>pressão e ainibição da <strong>melancolia</strong> (FREUD, 1917[1915], p.259, grifo nosso).Nesta passagem o termo “<strong>de</strong>pressão” é usado com o mesmo sentido <strong>de</strong> 1905, como“afeto <strong>de</strong>pressivo”, que compreen<strong>de</strong> tristeza, preocupação e <strong>de</strong>sgosto. A <strong>de</strong>pressão entãoconfigura-se como um dos sintomas presentes na <strong>melancolia</strong>, ou, posto <strong>de</strong> outra forma, comoum afeto presente na <strong>melancolia</strong> que, juntamente com outros sintomas, compõe o quadroafetivo <strong>de</strong>sta.No mesmo período <strong>de</strong> Luto e <strong>melancolia</strong>, na “Conferência XXVIII”, das Conferênciasintrodutórias, encontramos o termo “<strong>de</strong>pressão” figurando no mesmo parágrafo que a“<strong>melancolia</strong>”:E quando uma paciente, que já havia passado por quatro ciclos <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão emania, veio a ser tratada por mim durante um intervalo subseqüente a um ataque <strong>de</strong><strong>melancolia</strong>, entrando, três semanas <strong>de</strong>pois, numa fase <strong>de</strong> mania, todos os membros<strong>de</strong> sua família — e também uma alta autorida<strong>de</strong> médica que foi solicitada paraconsulta — se convenceram <strong>de</strong> que o novo ataque só podia ser o resultado <strong>de</strong> minhatentativa <strong>de</strong> análise (FREUD, 1917 [1916-1917]), p.461-62, grifos nossos) .Neste caso, não é possível perceber claramente se os termos “<strong>de</strong>pressão” e“<strong>melancolia</strong>” estão sendo usados <strong>de</strong> maneira indiscriminada ou o seu contrário. Nossosachados até o momento apontam os escritos freudianos para um certo uso, entre alguns outros,do termo “<strong>de</strong>pressão” para se referir a um estado afetivo penoso, o que é diferente dos termosque foram eleitos como classe diagnóstica distinta, como foi o caso <strong>de</strong> “histeria”, “neuroseobsessiva”, “esquizofrenia” e mesmo “<strong>melancolia</strong>”. Se esta colocação estiver na direçãocorreta, no texto citado anteriormente po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r o uso dos termos “<strong>de</strong>pressão” e“mania” como se referindo a estados afetivos e não a uma classe diagnóstica.No mesmo ano <strong>de</strong> 1916, um tipo <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong>terminado é associado à <strong>melancolia</strong> –são os “arruinados pelo êxito”:Em outra ocasião, <strong>de</strong>frontei-me com o caso <strong>de</strong> um respeitável senhor, professoruniversitário, que nutria havia muitos anos o <strong>de</strong>sejo natural <strong>de</strong> ser o sucessor do64
mestre que o iniciara nos estudos. Quando esse professor mais antigo se aposentoue os colegas informaram ao preten<strong>de</strong>nte que ele fora escolhido para substituí-lo,começou a hesitar, <strong>de</strong>preciou seus méritos, <strong>de</strong>clarou-se indigno <strong>de</strong> preencher ocargo para o qual fora <strong>de</strong>signado, e caiu numa <strong>melancolia</strong> que o <strong>de</strong>ixou incapaz <strong>de</strong>toda e qualquer ativida<strong>de</strong> durante vários anos (FREUD, 1916, p.332, grifo nosso).Este trabalho, intitulado “Alguns tipos <strong>de</strong> caráter encontrados no trabalhopsicanalítico”, trata <strong>de</strong> algumas pessoas que encontramos normalmente na prática clínica.Aqui a “<strong>melancolia</strong>” é usada como uma terminologia específica, uma patologia <strong>de</strong>terminada.No caso do “homem dos lobos”, a <strong>de</strong>pressão marca sua presença no ano <strong>de</strong> 1918: o paciente éacometido por crises <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão que atingem seu ponto culminante às cinco horas da tar<strong>de</strong>.No entanto, o distúrbio que acomete o paciente é a neurose obsessiva –“uma condição que<strong>de</strong>ixou por trás um <strong>de</strong>feito, após a recuperação” ─ <strong>de</strong>ixando aqui a <strong>de</strong>pressão como afetofigurante, um sintoma, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um quadro predominante, como já encontramos em outrostrabalhos anteriores.Contrariando a situação anterior, em 1920 encontramos a <strong>de</strong>pressão concebida comoum “grave distúrbio mental”, no artigo “A psicogênese <strong>de</strong> um caso <strong>de</strong> homossexualismonuma mulher”. Neste, Freud fala <strong>de</strong> moças em estado <strong>de</strong> grave <strong>de</strong>pressão:Noutros casos também encontramos moças ou mulheres em estado <strong>de</strong> grave<strong>de</strong>pressão, que ao serem interrogadas sobre a possível causa <strong>de</strong> sua condição, nosdizem que, realmente, tiveram um ligeiro sentimento por <strong>de</strong>terminada pessoa, masque não fora nada profundo, logo superando o sentimento quando tiveram <strong>de</strong>abandoná-la. No entanto foi essa renúncia, aparentemente tão bem suportada, quese tornou a causa do grave distúrbio mental (FREUD, 1920, p.177-78, grifo nosso).A perda foi associada <strong>de</strong>finitivamente à <strong>melancolia</strong> e agora este registro se fazevi<strong>de</strong>nte para Freud em muitos casos clínicos. A impressão que temos ao ler a passagemacima é que ele utiliza o termo “<strong>de</strong>pressão” no sentido que confere à <strong>melancolia</strong>. Umapaciente com uma <strong>de</strong>pressão que antece<strong>de</strong>u o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> uma neurose obsessiva écitada no texto póstumo Psicanálise e telepatia (1941 [1921]).Em Psicologia <strong>de</strong> grupo e análise do ego (1921, p.119), primeiramente no capítulosete, a <strong>melancolia</strong> é assim <strong>de</strong>scrita: “afecção que inclui entre as mais notáveis <strong>de</strong> suas causasexcitadoras a perda real ou emocional <strong>de</strong> um objeto amado”. Já no capítulo onze, Freud serefere à <strong>melancolia</strong> distinguindo-a em dois tipos 8 . Entretanto, <strong>de</strong>sta vez, o termo “<strong>de</strong>pressão”também se faz presente:Sabe-se bem que existem pessoas cujo colorido geral do estado <strong>de</strong> ânimo oscilaperiodicamente <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>pressão excessiva, atravessando algum tipo <strong>de</strong> estado8 Como fizera o autor em Luto e <strong>melancolia</strong> (1917[1915]), ao diferenciar as <strong>melancolia</strong>s psicogênicas das do tiposomáticas.65
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