ecebe uma classificação – um tipo <strong>de</strong> neurose <strong>de</strong> angústia, que é caracterizada pordiminuição da autoconfiança, expectativa pessimista e uma inclinação para idéias antitéticasaflitivas. E o trauma psíquico é associado à <strong>de</strong>pressão como causa precipitadora. Assim, a<strong>de</strong>pressão periódica seria classificada como um tipo <strong>de</strong> neurose <strong>de</strong> angústia. Esta passagem éimportante porque preten<strong>de</strong> marcar uma diferença entre <strong>de</strong>pressão e <strong>melancolia</strong>.A seguir, no “Rascunho E”, intitulado “Como se origina a angústia”, temos:Assim a neurose <strong>de</strong> angústia é uma neurose <strong>de</strong> represamento, como a histeria; daí asua semelhança. E visto que absolutamente nenhuma angústia está contida no que éacumulado, a situação se <strong>de</strong>fine dizendo-se que a angústia surge por transformaçãoa partir da tensão sexual acumulada.Aqui se po<strong>de</strong> intercalar algum conhecimento que nesse meio tempo se obteveacerca do mecanismo da <strong>melancolia</strong>. Com freqüência muito especial verifica-seque os melancólicos são anestéticos. Não têm necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> relação sexual (e nãotêm a sensação correlata). Mas têm um gran<strong>de</strong> anseio pelo amor em sua formapsíquica — uma tensão erótica psíquica, po<strong>de</strong>r-se-ia dizer. Nos casos em que estase acumula e permanece insatisfeita, <strong>de</strong>senvolve-se a <strong>melancolia</strong>. Aqui, pois,po<strong>de</strong>ríamos ter a contrapartida da neurose <strong>de</strong> angústia. On<strong>de</strong> se acumula tensãosexual física — neurose <strong>de</strong> angústia. On<strong>de</strong> se acumula tensão sexual psíquica —<strong>melancolia</strong> (FREUD, 1894, p.237; grifos nossos).A neurose <strong>de</strong> angústia neste fragmento é diferenciada da <strong>melancolia</strong>, que recebe suaespecificida<strong>de</strong> – já sabíamos que nela se i<strong>de</strong>ntificava a anestesia, mas agora se acrescenta oanseio pelo amor em sua forma psíquica, que, insatisfeito (acumulado), provoca a <strong>melancolia</strong>.A <strong>melancolia</strong> é, pois, fruto <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo que se acumula e gera uma tensão psíquica, exigindoser satisfeita. Provavelmente esta tensão seria causada pela impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> insatisfação.De alguma maneira esta insatisfação nos remete à “insatisfação <strong>de</strong> um i<strong>de</strong>al irrealizável” quecoloca o sujeito numa posição <strong>de</strong> fracasso diante <strong>de</strong> si próprio. Ele se percebe, assim, frente auma frustração – é o registro da perda sendo esboçado neste momento. Vemos então uma”metapsicologia primitiva” se esboçando. No entanto, estas noções po<strong>de</strong>rão ser formuladasapenas após o narcisismo, em 1914. Cabe <strong>de</strong>stacar também que nesta passagem há uma nota<strong>de</strong> rodapé do editor inglês afirmando que “Freqüentemente, Freud usa o termo ‘<strong>melancolia</strong>’on<strong>de</strong> a mo<strong>de</strong>rna psiquiatria falaria em <strong>de</strong>pressão”. Esta nota do editor se repetirá em muitostrabalhos <strong>de</strong> Freud em que aparece o termo “<strong>melancolia</strong>”. Aqui não encontramos o termo“<strong>de</strong>pressão”, mas, como lembramos a propósito dos “rascunhos A e B”, a <strong>de</strong>pressão periódicaé <strong>de</strong>finida como um tipo <strong>de</strong> neurose <strong>de</strong> angústia; neste “rascunho E” encontramos a<strong>melancolia</strong> como um contrapartida da neurose <strong>de</strong> angústia. Po<strong>de</strong>-se ler, então, “<strong>de</strong>pressão”on<strong>de</strong> temos “neurose <strong>de</strong> angústia” já que aquela é um subtipo <strong>de</strong>sta. Novamente marca-se umaoposição entre <strong>melancolia</strong> e <strong>de</strong>pressão.56
anos:Nossa próxima parada é no “rascunho F”, na discussão do caso Herr von F., 44 <strong>de</strong>Um caso benigno, mas muito característico, <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão periódica, <strong>melancolia</strong>.Sintomas: apatia, inibição, pressão intracraniana, dispepsia, insônia — o quadro estácompleto.Há uma inequívoca semelhança com a neurastenia, e a etiologia é a mesma. Tenhoalguns casos bastante parecidos: são masturbadores (Herr A.) e têm também um traçohereditário. Os von F. são reconhecidamente psicopatas. Assim, trata-se <strong>de</strong> um caso<strong>de</strong> <strong>melancolia</strong> neurastênica; <strong>de</strong>ve haver aí um ponto <strong>de</strong> contato com a teoria daneurastenia.É bem possível que o ponto <strong>de</strong> partida <strong>de</strong> uma <strong>melancolia</strong> <strong>de</strong> menor importância,como a que vimos, possa ser sempre o ato do coito: um exagero do ditado da filosofia“omne animal post coitum triste”. Os intervalos <strong>de</strong> tempo provariam se este é ou nãoo caso. O homem sente melhoras a cada série <strong>de</strong> tratamentos, a cada ausência <strong>de</strong> casa— isto é, em cada período em que se vê livre do coito. Naturalmente, como afirma,ele é fiel à esposa. O uso do condom é uma prova <strong>de</strong> pouca potência; sendo algoparecido com a masturbação, é uma causa contínua <strong>de</strong> sua <strong>melancolia</strong> (FREUD 1894,p.245; grifos nossos).Surpreen<strong>de</strong>ntemente, a <strong>melancolia</strong> aparece igualada à <strong>de</strong>pressão periódica,diferentemente do que encontramos nos “rascunhos A e B”. A preocupação <strong>de</strong> Freud comuma exata distinção dos quadros em que se <strong>de</strong>dica a estudar é muito clara: notamos como suasconclusões vão se modificando <strong>de</strong> acordo com suas observações clínicas. Neste rascunho nãose trata simplesmente <strong>de</strong> um quadro <strong>de</strong> <strong>melancolia</strong>, mas, por sua semelhança com aneurastenia, <strong>de</strong> uma <strong>melancolia</strong> neurastênica. A masturbação, fato já associado à ocorrênciada neurastenia, é associada também à <strong>melancolia</strong>.O rascunho seguinte é sem dúvida o mais importante escrito sobre a <strong>melancolia</strong> <strong>de</strong>staépoca. Aliás, é o segundo mais importante escrito <strong>de</strong> Freud sobre o tema, já que o primeiro éLuto e Melancolia (1917 [1915]). Trata-se do “manuscrito G”, <strong>de</strong> 1895, no qual Freudpreten<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a <strong>melancolia</strong>, e que contém ainda <strong>de</strong> forma embrionária, sem dúvidaalguma, pontos que serão trabalhados em Luto e <strong>melancolia</strong>. Neste “rascunho G”, Freudafirma que o afeto que correspon<strong>de</strong> à <strong>melancolia</strong> é o luto, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> recuperar o que foiperdido. Ele diz ainda que a <strong>melancolia</strong> se configura como uma perda na vida pulsional, e sepergunta se po<strong>de</strong>ria afirmar que ela consiste em um luto por perda da libido, sendo seu efeitoa inibição psíquica com empobrecimento pulsional e dor. Freud fala ainda da presença, na<strong>melancolia</strong>, <strong>de</strong> um buraco na esfera psíquica sugando a energia pulsional e, <strong>de</strong>sta forma,sustentando o estado <strong>de</strong> inibição afetiva do sujeito. Os efeitos da <strong>melancolia</strong> são: inibiçãopsíquica, empobrecimento pulsional e o respectivo sofrimento. Em 1985, embora não seja umtexto publicado na época, Freud estabelece claramente a <strong>melancolia</strong> no registro da perda.Estabelece ainda uma distinção entre três formas <strong>de</strong> <strong>melancolia</strong>: a cíclica ou genuína aguda, aneurastênica e a <strong>de</strong> angústia – uma forma mista <strong>de</strong> neurose <strong>de</strong> angustia e <strong>melancolia</strong>. Esta57
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