13.07.2015 Views

A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

psiquiatria, o que soa irônico, já que até perto dos anos setenta a psicanálise foi a principalfonte <strong>de</strong> saber e referência da psiquiatria, <strong>de</strong>tendo a hegemonia do campo psicopatológico:Po<strong>de</strong>-se dizer pois que a psicopatologia da pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> se caracteriza peloparadigma biológico, em que as neurociências funcionam como referências teóricasdaquelas. Com isso, as psicoterapias ficam em um plano secundário no campo daintervenção terapêutica, centrada substancialmente nos psicofármacos. Com isso, apsicanálise passa a ocupar um lugar secundário e periférico no discursopsicopatológico atual. Além disso, as intervenções assumem a incidência pontual,baseando-se em disfuncionamentos em que o registro das histórias dos sujeitos éalgo absolutamente secundário (BIRMAN, 2001, p. 186).Para Birman, outro <strong>de</strong>sdobramento direto disto foi que, ao centrar toda a suaterapêutica nos psicofármacos, estes se tornaram os mais po<strong>de</strong>rosos reguladores do sofrimentopsíquico na atualida<strong>de</strong>, levando o mundo oci<strong>de</strong>ntal a se relacionar com a dor <strong>de</strong> uma maneiramuito específica. A utilização indiscriminada das drogas eficazes contra a angústia e a<strong>de</strong>pressão indicam uma mudança significativa na maneira <strong>de</strong> os indivíduos se relacionaremcom estas paixões. O limiar suportável para o sofrimento psíquico do indivíduo baixouconsi<strong>de</strong>ravelmente, levando-o a consumir tais drogas eficazes diante <strong>de</strong> qualquermanifestação dolorosa do humor. O “evitamento” <strong>de</strong> qualquer sofrimento psíquico pelosujeito passou a ser comum, como que uma regra no mundo atual.Para Birman, apsicofarmacologia, e a sua legitimação pelo saber médico, contribuíram para oestabelecimento <strong>de</strong> uma cultura centrada no evitamento da dor e do sofrimento psíquicos.Assim evitam-se os sentimentos <strong>de</strong>pressivos e melancólicos a todo custo.Moreira (2002) afirma que na psiquiatria atual há uma tendência em empregar o termo“<strong>de</strong>pressão” como sinônimo e em substituição ao termo “<strong>melancolia</strong>”. Em seu estudo sobre a<strong>de</strong>pressão, Berlinck & Fedida (2000) mostram que as recentes publicações psiquiátricasten<strong>de</strong>m a dissolver a <strong>melancolia</strong> na <strong>de</strong>pressão e que aquilo que no passado era chamado <strong>de</strong>“<strong>melancolia</strong>”, hoje é <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> “<strong>de</strong>pressão”, que seria, então, <strong>de</strong> acordo com estesautores, apenas uma nova roupagem para o que nos séculos passados era chamado <strong>de</strong>“<strong>melancolia</strong>”.A esse respeito, é importante frisar que, no século XIX, “<strong>de</strong>pressão” e “<strong>melancolia</strong>”eram termos indistintos na psiquiatria alemã, embora houvesse a tendência <strong>de</strong> abandonar osegundo <strong>de</strong>les. No entanto, só em meados do século XX, com a elaboração da CID 6, é quefirmou-se “oficialmente” uma <strong>de</strong>finição. Nesta edição da CID, apenas três tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressãoeram reconhecidos: a reação maníaco-<strong>de</strong>pressiva, a <strong>melancolia</strong> involutiva e a <strong>de</strong>pressãoneurótica. Ao chegar à sua décima edição, a CID 10 constava mais <strong>de</strong> vinte e cinco tipos esubtipos <strong>de</strong>pressivos catalogados.44

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!