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A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

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comportamentos melancólicos sem serem vítimas da doença, ficavam horas a contemplar osofrimento e a sustentar dúvidas existenciais para as quais nunca encontrariam respostas,confessavam medo <strong>de</strong> qualquer coisa que fosse difícil ou assustadora. Assim, este estadomental, do qual tantos sofreram penosamente ao longo dos séculos, agora emergia como uma<strong>melancolia</strong> branca, algo mais brilhante do que sombrio.Ainda a propósito do século XVII, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar uma daspublicações <strong>de</strong> maior importância no que se refere ao tema da <strong>melancolia</strong>. Com um feitoadmirável para a época – cinco edições publicadas em vida –, Robert Burton publicou em1621 A anatomia da <strong>melancolia</strong> (SCLIAR, 2003, p.8). Trata-se <strong>de</strong> uma interminávelcompilação que tenta apresentar e reconciliar todo o conhecimento sobre a <strong>melancolia</strong>produzido até aquela época. Assim, Solomon (2002, p.279) revela que, neste livro, po<strong>de</strong>mosencontrar as “filosofias <strong>de</strong> Aristóteles e Ficino, os personagens <strong>de</strong> Shakespeare, os insightsmédicos <strong>de</strong> Hipócrates e Galeno, os impulsos religiosos da Igreja medieval e renascentista eas experiências pessoais <strong>de</strong> doença e introspecção”. Muitas das idéias <strong>de</strong> Burton antece<strong>de</strong>m<strong>de</strong> alguma forma as mo<strong>de</strong>rnas compreensões em torno da <strong>melancolia</strong> e da <strong>de</strong>pressão. Vamosapresentar algumas <strong>de</strong>las rapidamente. Para Burton, a <strong>melancolia</strong> se diferenciava <strong>de</strong> afetos docotidiano, como a condição <strong>de</strong> se encontrar apenas apático, triste, maldisposto, letárgico,solitário, emocionado ou <strong>de</strong>scontente. Estas características estariam <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> qualquerhomem vivo, e não po<strong>de</strong>riam ser tomadas como doença. Encontramos aqui, mais uma vez,uma idéia que se aproxima daquela do “Problema” <strong>de</strong> Aristóteles, sem dúvida uma noçãoclara que temos atualmente da <strong>de</strong>pressão. Burton <strong>de</strong>staca ainda a interessante idéia <strong>de</strong> quecada homem tem um nível diferente <strong>de</strong> tolerância ao trauma, e que a interação entre os níveis<strong>de</strong> trauma e tolerância é que <strong>de</strong>termina a <strong>melancolia</strong>. Esta <strong>concepção</strong> está próxima daquelaque temos em psicanálise <strong>de</strong> que a maneira como cada sujeito irá lidar com as adversida<strong>de</strong>s davida <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus recursos psíquicos e do significado subjetivo dado aos acontecimentos.Assim, o mesmo acontecimento que para alguns po<strong>de</strong> ser terrível ou carregado <strong>de</strong> emoçõesnegativas, para outro po<strong>de</strong> simplesmente não ter relevância em sua vida afetiva. Situaçõescomo abuso mal concebido, injúria, dor, <strong>de</strong>sgraça, perda, aborrecimento, boato, po<strong>de</strong>m,segundo Burton, <strong>de</strong>ixar um homem tomado pela <strong>melancolia</strong>. Ora, o que seriam estascondições, senão frustrações que acompanham a vida <strong>de</strong> todo homem, e para as quais omelancólico não tem tolerância? Como Freud apontou séculos mais tar<strong>de</strong>, no âmago da<strong>melancolia</strong> po<strong>de</strong>mos encontrar uma situação <strong>de</strong> perda ou <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração que po<strong>de</strong> serinterpretada pelo sujeito como uma intensa frustração, uma ferida narcísica. Finalmente,33

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