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A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

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seca, e resultava no colérico. Finalmente, a bílis negra representava o outono, e como a terra,era fria e seca, tornando-a hostil à vida e po<strong>de</strong>ndo ocasionar a <strong>melancolia</strong>, uma doençaresultante do acúmulo <strong>de</strong> bílis negra no baço. A teoria da bílis negra como causadora da<strong>melancolia</strong> irá, como veremos adiante, transpor os séculos nos escritos <strong>de</strong> diversospensadores, ainda que com variações. Convém <strong>de</strong>stacar que, segundo muitos autores, na<strong>concepção</strong> <strong>de</strong> Hipócrates, a <strong>melancolia</strong> é apresentada como uma doença orgânica, um estadoanormal do cérebro, sendo seus estados emocionais meros sintomas (GINZBURG, 2001;SCLIAR, 2003; PERES, 1996; PESSOTTI, 1994). Pessotti (1994, P.48) resume este ponto <strong>de</strong>vista sobre a obra hipocrática: “A loucura, como doença que é, resulta <strong>de</strong> crise no sistema doshumores. É uma doença orgânica. Com tal idéia, Hipócrates inaugura a teoria organicista daloucura, que florescerá prodigamente na medicina dos séculos XVIII e XIX”.Pigeaud (1998, p.55-6) não sustenta com tanta convicção esta leitura da <strong>concepção</strong>hipocrática da <strong>melancolia</strong>. Segundo o autor, sem dúvida alguma, com Hipócrates vemos onascimento da <strong>melancolia</strong> como doença. Todavia, a conhecida passagem hipocrática na qual a<strong>melancolia</strong> é ligada à bile negra – “Se tristeza e medo duram muito, um tal estado émelancólico” e “Se o medo e a distimia duram muito tempo, um tal estado está ligado à bilenegra” – não <strong>de</strong>ixa claro se os sentimentos melancólicos provocam a bile negra, ou se estaprovoca os sentimentos melancólicos (HIPÓCRATES apud PIGEAUD, 1998, p. 29). Ficamossem saber qual <strong>de</strong>les é o fator <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ante. Pigeaud afirma que este impasse permitiráleituras que recairão sobre o extremo da noção <strong>de</strong> que, para Hipócrates, a <strong>melancolia</strong> seriaoriginada pela bile negra. Segundo a leitura <strong>de</strong>ste autor, o que se observa em Hipócrates é queeste se interessou pela maneira com que o doente se sente a si próprio. Constatamos estaafirmação <strong>de</strong> Pigeaud quando vemos uma série <strong>de</strong> autores mo<strong>de</strong>rnos afirmarem, sem sombra<strong>de</strong> dúvida, que a <strong>concepção</strong> hipocrática acerca da <strong>melancolia</strong> coloca na bile negra a única eexclusiva causa precipitadora da <strong>melancolia</strong> (GINZBURG, 2001; SCLIAR, 2003; PERES,1996; PESSOTTI, 1994).De qualquer forma, <strong>de</strong>pois do antigo médico grego, todos os seus seguidores, comoveremos, formalizaram a teoria <strong>de</strong> que a origem da <strong>melancolia</strong> estaria no excesso <strong>de</strong> bilenegra. Este fato po<strong>de</strong>ria ter influenciado a compreensão dos estudiosos sobre a posição <strong>de</strong>Hipócrates e o problema da <strong>melancolia</strong>, levando-os a entendê-la como <strong>de</strong>terminista eorganicista.Ainda na Grécia Antiga, poucos séculos antes <strong>de</strong> Cristo, a <strong>melancolia</strong> é a protagonistaem um tratado <strong>de</strong> Aristóteles (384-322 a.C.), o “Problema XXX, 1”, no qual o interesse recaina resposta a uma pergunta básica:23

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