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A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

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<strong>de</strong>ste quadro é que o pedido do paciente é feito no sentido <strong>de</strong> erradicar seu sofrimento, porquesegundo consta o pensamento da socieda<strong>de</strong> em geral, não <strong>de</strong>vemos, ou não po<strong>de</strong>mos sofrer. Opaciente costuma sentir que tem algo <strong>de</strong> errado com ele por sentir medo, sofrer, ou encontrarsefrágil. No entanto, sabemos que situações como a perda <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> longos anos, ou<strong>de</strong> um ente querido, inserem uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sofrimento na vida psíquica <strong>de</strong>qualquer sujeito vivo, e exigem consequentemente, um gran<strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> tolerância eelaboração.Não costumamos dizer que este tipo <strong>de</strong> paciente está <strong>de</strong>primido, mas que estápassando por um tipo <strong>de</strong> sofrimento contingencial, inerente a situação <strong>de</strong> estar vivo e <strong>de</strong>relacionar-se com outras pessoas. Seria um período <strong>de</strong> luto necessário, ou <strong>de</strong> recomposiçãonarcísica. Não há nada <strong>de</strong> errado com ele, exceto o fato <strong>de</strong>le achar que tem alguma doençaque precisa ser curada. Em “O mal estar na civilização” (1930[1929]), Freud já dizia o quanto<strong>de</strong> sofrimento acompanha a nossa vida em socieda<strong>de</strong>. O problema é que a socieda<strong>de</strong> passou aencarar o sofrimento como uma doença; e quão comum é um paciente, como este a que nosreferimos, dizer que está tomando algum tipo <strong>de</strong> anti<strong>de</strong>pressivo ou ansiolítico para ajudá-lo asuperar ou a agüentar uma fase <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>. Assim, um simples luto, ou um períodonecessário <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> uma frustração, foi transformado em nossa socieda<strong>de</strong> em um<strong>de</strong>svio ou doença a ser curada, e porque não, transformada em <strong>de</strong>pressão. Conforme afirmaFédida (2002, p.182) – em tom irônico – a <strong>de</strong>pressão vai na contracorrente dos i<strong>de</strong>ais daatualida<strong>de</strong>, e com isso, precisa ser eliminada, ali mesmo on<strong>de</strong> aparece e incapacita, isto é, nossintomas.Nesse contexto, a <strong>de</strong>pressão teria se tornado uma espécie <strong>de</strong> paradigma negativo danova pragmática do “si-mesmo” e, <strong>de</strong>sse modo, a contrapartida psicopatológica <strong>de</strong>uma i<strong>de</strong>alização da performance, necessária para se manter adaptado e criativo nasmutações e mudanças aceleradas que vivemos. E suma, se estamos <strong>de</strong>primidos, nãoé preciso buscar num passado da infância a causa (experiências <strong>de</strong> perda, abandono,separação). E mesmo que fosse assim, o conhecimento <strong>de</strong>sses fatores predispondo à<strong>de</strong>pressão não seria <strong>de</strong> modo algum diretamente eficaz no sentido <strong>de</strong> chegar à cura.A adaptação performante pressupõe que o estado <strong>de</strong>primido seja tratado ali on<strong>de</strong> éincapacitante, ou seja, ao nível <strong>de</strong> seus sintomas comportamentais.Vale dizer, que a perda muitas vezes necessita ser elaborada em um espaço <strong>de</strong>recolhimento, em que o sujeito possa conectar-se com o corte que a provocara. Só a partir <strong>de</strong>uma elaboração é que se torna possível simbolizar, e assim, transformar sofrimento emcriativida<strong>de</strong>, esperança e liberda<strong>de</strong>.É por isto que nossa <strong>concepção</strong> <strong>de</strong> um estado <strong>de</strong> mente melancólico, vem na contramãoda maneira atual <strong>de</strong> se enten<strong>de</strong>r os estados <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão/<strong>melancolia</strong>. Pois partindo da177

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