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A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

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objeto i<strong>de</strong>alizado somente como bom. Neste caso vemos não uma perda real, <strong>de</strong> uma morte,por exemplo, mas <strong>de</strong> uma relação i<strong>de</strong>alizada.A <strong>melancolia</strong> seria comum, portanto, em situações <strong>de</strong> perdas, <strong>de</strong>sapontamento,<strong>de</strong>silusão, fracassos, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ração e <strong>de</strong>sprezo. A estas situações, po<strong>de</strong>mos acrescentarfortes i<strong>de</strong>alizações no vínculo com o objeto. Nas palavras <strong>de</strong> Freud (1914, p. 113), ai<strong>de</strong>alização “é um processo que ocorre com o objeto e por meio do qual o objeto éengran<strong>de</strong>cido e exaltado, sem sofrer alterações em sua natureza”.Não sejamos puristas a ponto <strong>de</strong> julgar a i<strong>de</strong>alização como um processo negativo, quesempre acabará em <strong>melancolia</strong>. Na verda<strong>de</strong>, uma quantia <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alização é necessária e atésaudável. O problema é sua predominância – uma i<strong>de</strong>alização extremada, absoluta etotalitária. Aqui também há uma questão <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>: quanto maior a i<strong>de</strong>alização maior adistância do objeto real, ou da realida<strong>de</strong> da relação com o objeto. Lembremos que existemmuitas situações nas quais a i<strong>de</strong>alização é um traço importante e necessário.Outro aspecto da i<strong>de</strong>alização é o da qualida<strong>de</strong>. Quando o objeto tem <strong>de</strong> ser todo bom,ou quando aquela saída para tal problema é a única, ou quando aquele é o único emprego e aúnica opção e nenhum outro serve etc., vemos i<strong>de</strong>alizações do tipo totalitárias, que valorizamapenas um aspecto parcial como a totalida<strong>de</strong>, com exclusivida<strong>de</strong>. Isto acarreta que, frente asituações que obriguem a pessoa a <strong>de</strong>si<strong>de</strong>alizar – sempre presentes na vida, já que asi<strong>de</strong>alizações não po<strong>de</strong>m permanecer intocadas para todo o sempre – o sujeito se verácondicionado aos aspectos i<strong>de</strong>alizados.Analisemos alguns exemplos: a pessoa i<strong>de</strong>aliza a vaga <strong>de</strong> trabalho para a qual está secandidatando como a única possível em sua vida, como aquela que viria salvá-la <strong>de</strong> todos osproblemas etc, como uma chance única e imperdível; “se não <strong>de</strong>r certo, não sei o que será <strong>de</strong>minha vida”, diz ela. E ela não consegue a hipotética vaga. Quando se <strong>de</strong>parar com a situação<strong>de</strong> não conseguir o emprego, sentirá que per<strong>de</strong>u a única chance <strong>de</strong> sua vida, que nenhumaoutra possibilida<strong>de</strong> existe, e provavelmente se fragilizará. Ou então o homem que i<strong>de</strong>aliza aparceira como o único sentido <strong>de</strong> sua existência, a única mulher que po<strong>de</strong> entendê-lo esatisfazê-lo, passa a não fazer mais nada a não ser pensar e <strong>de</strong>dicar-se a ela. Trabalha por ela,vive por ela, <strong>de</strong>ixa os amigos <strong>de</strong> lado. Ao ser <strong>de</strong>ixado por esta parceira, ele se verá semnenhum sentido para sua vida, que provavelmente terá <strong>de</strong> reconstruir a duras penas. Ou aindaa dona <strong>de</strong> casa que <strong>de</strong>dicou a sua vida àquele marido que é o melhor do mundo. Ao ser<strong>de</strong>ixada por ele, verá sua vida ameaçada e sem sentido.A i<strong>de</strong>alização é uma questão <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> e qualida<strong>de</strong>. Quantida<strong>de</strong>, porque quantomaior a i<strong>de</strong>alização, menor será a qualida<strong>de</strong> do vínculo estabelecido com o objeto e, portanto,147

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