as características do objeto. Em resumo, no primeiro caso, a pessoa se i<strong>de</strong>ntifica com a pessoaque não é amada, mas admirada em algum aspecto. No segundo, a i<strong>de</strong>ntificação ocorre com apessoa que é amada, através da regressão do investimento libidinal para a i<strong>de</strong>ntificação.Nestes casos, a i<strong>de</strong>ntificação é parcial e limitada, tomando apenas um traço isolado do objeto.A terceira forma <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação é aquela em que a pessoa não tem nenhuma relação<strong>de</strong> objeto com a pessoa imitada. Esta forma baseia-se na percepção, por parte da pessoa que sei<strong>de</strong>ntifica, <strong>de</strong> uma “importante qualida<strong>de</strong> emocional comum” em outra pessoa, que passaentão a ser compartilhada. É importante frisar que esta outra pessoa não é alvo <strong>de</strong> objetosexual para a pessoa que se i<strong>de</strong>ntifica, mas apenas fonte <strong>de</strong> algo em comum que se reconhece.Este é o caso, por exemplo, <strong>de</strong> conseguirmos sentir tristeza por um <strong>de</strong>sconhecido com o qualtenhamos algo em comum e que tenha perdido um ente querido; sabemos o quão dolorido éesta situação e nos i<strong>de</strong>ntificamos com seu sentimento <strong>de</strong> dor, sem, no entanto, ter qualquertipo <strong>de</strong> ligação afetiva. E ele resume suas contribuições em três pontos:[...] primeiro, a i<strong>de</strong>ntificação constitui a forma original <strong>de</strong> laço emocional com umobjeto; segundo, <strong>de</strong> maneira regressiva, ela se torna sucedâneo para uma vinculação<strong>de</strong> objeto libidinal, por assim dizer, por meio da introjeção do objeto no ego; e,terceiro, po<strong>de</strong> surgir com qualquer nova percepção <strong>de</strong> uma qualida<strong>de</strong> comumpartilhada com alguma outra pessoa que não é objeto <strong>de</strong> instinto sexual (FREUD,1921, p.117).Tendo em vista os estudos sobre a <strong>melancolia</strong>, o segundo caso é o que mais nosinteressa, pois é nele que há uma regressão da ligação libidinal com a objetal para ai<strong>de</strong>ntificação como o mesmo. É também este segundo tipo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação que explica agênese do homossexualismo. O menino fixado em sua mãe, mais tar<strong>de</strong>, em sua adolescência,ira renunciar ao amor por esta, mas se i<strong>de</strong>ntificará com ela. Procurará, assim, jovens que lhepermitam amar e dar carinho como um dia recebeu <strong>de</strong> sua mãe. Ainda na passagem anteriorchama atenção o termo “introjeção”, por ser pouco usado por Freud. A introjeção do objeto noego, após sua renúncia, perda ou abandono, foi evi<strong>de</strong>nciada na análise da <strong>melancolia</strong>, sendomais adiante, em O ego e o id (1923), <strong>de</strong>finido como um processo geral da formação doaparelho psíquico.Finalmente, resta-nos indagar por qual motivo nos i<strong>de</strong>ntificamos com o objeto ou i<strong>de</strong>alao per<strong>de</strong>mos ou renunciarmos a ele. Qual seria a explicação para a introjeção do objeto no egocomo algo natural diante das perdas? A reposta para esta questão não é encontrada nestetexto; encontramos somente a seguinte constatação <strong>de</strong> Freud (1921, p.118): “A i<strong>de</strong>ntificaçãocom um objeto que é renunciado ou perdido, como um sucedâneo para esse objeto –introjeção <strong>de</strong>le no ego – não constitui verda<strong>de</strong>iramente mais novida<strong>de</strong> para nós”.138
Mais adiante, ainda neste capítulo VII, ele utiliza a <strong>melancolia</strong> como outro exemplo <strong>de</strong>introjeção. Como em Luto e Melancolia (1915), sustenta a tese <strong>de</strong> que a causa excitadora da<strong>melancolia</strong> é a perda real ou emocional <strong>de</strong> um objeto amado. Reafirma, também, que as autorecriminaçõesvoltadas para o ego são, na verda<strong>de</strong>, aplicadas ao objeto perdido e representamuma vingança do ego sobre ele. Para Freud, na <strong>melancolia</strong> temos uma amostra <strong>de</strong> umasituação em que “a introjeção do objeto é inequivocamente clara” (FREUD, 1921, p.119). Eaqui reencontramos aquelas questões <strong>de</strong>senvolvidas em Luto e <strong>melancolia</strong>. No entanto, aquiFreud <strong>de</strong>staca com maior ênfase um aspecto não explorado no artigo <strong>de</strong> 1915.Ele ressalta principalmente o fato <strong>de</strong>, na <strong>melancolia</strong>, encontrarmos um ego divididoem duas partes, on<strong>de</strong> uma “vocifera” contra a outra: “Essa segunda parte é aquela que foialterada pela introjeção e contém o objeto perdido” (FREUD, 1921, p.119). Sua idéia émostrar como uma parte separada do próprio ego po<strong>de</strong> subjugar cruelmente a outra. Esta parteé aquela instância crítica que entra em conflito com o ego, <strong>de</strong>nominada, no texto sobre onarcisismo, <strong>de</strong> “i<strong>de</strong>al do ego”. Eis aí a novida<strong>de</strong>: a instância crítica, que aparece no artigoLuto e Melancolia como conflitante do ego, é neste momento i<strong>de</strong>ntificada. A seguir,reproduziremos, por sua importância e originalida<strong>de</strong>, uma parte <strong>de</strong>ste texto em que Freud<strong>de</strong>fine o i<strong>de</strong>al do ego, sua localização, origem e funcionalida<strong>de</strong>. O que veremos aqui, naverda<strong>de</strong>, é um esboço do conceito <strong>de</strong> superego, que será <strong>de</strong>senvolvido com mais <strong>de</strong>talhe em Oego e o id (1923):Ela abrange a consciência, uma instância crítica <strong>de</strong>ntro do ego, que até em situaçõesnormais assume, embora nunca tão implacável e injustificadamente, uma atitu<strong>de</strong>crítica para com a última. [...] fomos levados à hipótese <strong>de</strong> que no ego se<strong>de</strong>senvolve uma instância assim, capaz <strong>de</strong> isolar-se do resto daquele ego e entrar emconflito com ele. [...] a título <strong>de</strong> funções atribuímos-lhe a auto-observação, aconsciência moral, a censura dos sonhos e a principal influência na repressão. [...]ele é her<strong>de</strong>iro do narcisismo original em que o ego infantil <strong>de</strong>sfrutava <strong>de</strong> autosuficiência;gradualmente reúne, das influências do meio ambiente, as exigênciasque este impõe ao ego, das quais este não po<strong>de</strong> estar à altura; <strong>de</strong> maneira que umhomem, quando não po<strong>de</strong> estar satisfeito com seu próprio ego, tem, no entanto,possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar satisfação no i<strong>de</strong>al do ego que se diferenciou do ego(FREUD, 1921, p.119).Neste momento, ele <strong>de</strong>fine que, na <strong>melancolia</strong>, ao se i<strong>de</strong>ntificar com o objeto eintrojetá-lo, a pessoa estabelece um conflito entre seu ego e o i<strong>de</strong>al do ego. Para Freud, cadavez mais, torna-se necessário postular a existência <strong>de</strong> uma instancia egóica responsável porexercer normalmente a função <strong>de</strong> crítica, consciência moral, auto-observação e o teste <strong>de</strong>realida<strong>de</strong>. Na <strong>melancolia</strong> esta função estaria acentuada e, por isto, causa um “exagero” <strong>de</strong>auto-acusações e auto-punições. A fórmula <strong>de</strong> Freud é simples, mas nem por isso menosinteressante. Metaforicamente po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r o ego como uma casa: um objeto que passa139
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