totalmente i<strong>de</strong>alizada – como no caso em que se constituiria um tipo <strong>de</strong> ligação narcísica, emque o narcisismo do sujeito está sempre em risco. Ter bases narcísicas suficientes significadizer que não necessitamos nos vincular narcisicamente aos objetos <strong>de</strong> maneira absoluta.Aqui temos uma questão que po<strong>de</strong> ser entendida a partir da noção <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, poissempre há uma quantia <strong>de</strong> narcisismo presente nos vínculos objetais. O predomínio <strong>de</strong>ste tipo<strong>de</strong> ligação é que se torna preocupante e, <strong>de</strong> certa forma, uma pré-condição para oestabelecimento da <strong>melancolia</strong>.Outra característica da vinculação narcísica é a <strong>de</strong> que o sujeito se torna exigente comseu objeto <strong>de</strong> satisfação, no sentido <strong>de</strong> que ele satisfaça suas exigências narcísicas, ao mesmotempo em que se <strong>de</strong>senvolve uma extrema <strong>de</strong>pendência do objeto para manter o valor <strong>de</strong> simesmo. O problema <strong>de</strong> se ligar aos objetos com esta intenção – <strong>de</strong> se engran<strong>de</strong>cer, <strong>de</strong> buscarasseguramento narcísico, <strong>de</strong> recuperar seu narcisismo – é que gera uma ambigüida<strong>de</strong>: aomesmo tempo em que satisfaz parcialmente o narcisismo do sujeito, este condiciona seu valorà relação com o objeto, isto é: o ego passa a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do objeto para assegurar seu valor,passa a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do objeto para sobreviver, para manter sua auto-estima, seu amor próprio.Neste ponto, retomamos o que afirmamos sobre a característica do vínculo narcísico:totalitário e frágil. À menor <strong>de</strong>cepção causada pelo objeto, o ego põe em funcionamento umestado <strong>de</strong> mente melancólico, caracterizado pela i<strong>de</strong>ntificação narcísica e pela ambivalência.A percepção por parte do sujeito <strong>de</strong> que não po<strong>de</strong> sobreviver sem o objeto gera ódio eraiva. E tais sentimentos são completados pela percepção, ainda por parte do sujeito, <strong>de</strong> que oobjeto po<strong>de</strong> sobreviver sem ele, que é autônomo e, em certa dose, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Adificulda<strong>de</strong> é perceber-se separado do objeto. Por este motivo, neste tipo <strong>de</strong> vínculo vemos aexistência do controle onipotente do objeto: o sujeito passa a controlar o objeto e fazer <strong>de</strong>tudo para que este sinta também que não po<strong>de</strong> sobreviver sem ele. Assim se assegura a<strong>de</strong>pendência também por parte do objeto. Faz-se com que o objeto também <strong>de</strong>senvolva uma<strong>de</strong>pendência extrema da relação, isto é, com que o objeto sinta também que não po<strong>de</strong>sobreviver fora <strong>de</strong>sta relação. Uma das características marcantes do vínculo narcísico é o<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> fusão com o objeto. O sujeito busca indiscriminar-se do objeto, já que seunarcisismo encontra-se <strong>de</strong>positado neste.Os sentimentos <strong>de</strong> ambivalência também atuam nesta lógica, já que se ama o objetopor ser este essencial a sua sobrevivência. Mas, por outro lado, também se o<strong>de</strong>ia o objeto, poisa sobrevivência narcísica do sujeito está totalmente condicionada a ele, que, muitas vezes, ésentido por parte do sujeito como autônomo e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.134
Vale assinalar também que o objeto narcísico, representado em muitos casos por umapessoa, po<strong>de</strong> ser também um trabalho, uma tarefa a cumprir, qualquer coisa que estejavinculada à provação <strong>de</strong> valor do ego, como um i<strong>de</strong>al, por exemplo. Algo que satisfaça osi<strong>de</strong>ais narcísicos do sujeito. Isto significa dizer que o objeto é i<strong>de</strong>alizado? Que há um i<strong>de</strong>al nosujeito exigindo ser satisfeito? Eis algumas questões que serão retomadas adiante.3.1.6 I<strong>de</strong>ntificação e <strong>melancolia</strong> em Psicologia <strong>de</strong> grupo e análise do egoSegundo Freud, a analogia com o luto indicaria que o melancólico teria perdido umobjeto. Mas o que se verifica é que ele per<strong>de</strong>u seu amor próprio, sua auto-estima. Freudresolve este impasse propondo que, se observarmos cuidadosamente as auto-recriminaçõesdas quais o paciente se serve para diminuir seu valor, constataremos que tais críticas sãooriginalmente contra um objeto, um objeto perdido, e que se voltaram contra o próprio ego dosujeito.Esta perda, em ação no próprio ego do sujeito, acontece pelo fato <strong>de</strong> o objeto perdidoser incorporado no ego mediante i<strong>de</strong>ntificação. A idéia <strong>de</strong> Freud (1917 [1915]) é que o egopassa a ser <strong>de</strong>svalorizado e con<strong>de</strong>nado como o (um) objeto perdido, pelo fato <strong>de</strong> o sujeito sei<strong>de</strong>ntificar com ele. A i<strong>de</strong>ntificação consiste no recolhimento da libido, antes investida noobjeto, para o ego. Neste processo, <strong>de</strong> retorno da libido ao ego, o ódio, que era voltado para oobjeto, passa a ser dirigido para o ego.Porém, ao trazer a libido <strong>de</strong> volta ao ego, ela traz consigo o objeto, instalando assimum conflito ambivalente <strong>de</strong>ntro do aparelho psíquico. Nesta parte abordaremos ascontribuições do artigo Psicologia <strong>de</strong> grupo e análise do ego, que tem como principalcontribuição uma abordagem <strong>de</strong>talhada do processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação. São também retomadosos temas da i<strong>de</strong>alização e do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> ego, que prenuncia o surgimento posterior do conceito<strong>de</strong> superego.Em 1921, Freud escreve sobre a psicologia <strong>de</strong> grupo. Nos capítulos VII e XI <strong>de</strong>stetrabalho encontramos referências à <strong>melancolia</strong> e à mania. O capítulo VIII também é <strong>de</strong>fundamental importância por oferecer uma importante <strong>de</strong>scrição da i<strong>de</strong>alização.Examinaremos <strong>de</strong>talhadamente as contribuições <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les <strong>de</strong>vido à sua importânciatanto para a formulação da <strong>concepção</strong> <strong>freudiana</strong> da <strong>melancolia</strong>, quanto para o entendimentodo funcionamento psíquico em geral.135
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