admirado, uma confiança básica em si mesmo, vivida na relação com os pais, ou objetoscuidadores. O segundo fator é a onipotência narcísica confirmada pela experiência, quando oego consegue satisfazer o seu ego i<strong>de</strong>al. E o terceiro e último fator é a satisfação da libidoobjetal, a satisfação obtida na relação com os objetos – quando o sujeito é correspondido epo<strong>de</strong> satisfazer sua libido: “ser novamente o seu próprio i<strong>de</strong>al, também no que diz respeito àsaspirações sexuais, tal como ocorreu na infância, esta é a felicida<strong>de</strong> que as pessoas queremalcançar” (FREUD, 1914, p.117). Neste sentido vemos que, embora se espere que oindivíduo tenha algum amor próprio que seja resquício do narcisismo infantil, somente estenão é o suficiente. Ele terá que satisfazer seus i<strong>de</strong>ais para manter seu narcisismo saudável,para manter sua auto-estima, como também terá <strong>de</strong> conseguir satisfazer sua libido através dasrelações objetais.A partir <strong>de</strong>stes três fatores po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que, quanto menor for o “resíduo donarcisismo infantil”, isto é, a segurança básica em si mesmo fruto do narcisismo da infância(investimento narcísico do objeto primário), maior será a necessida<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>pendência dasrealizações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais e da satisfação com os objetos para manter o amor próprio.Vemos então, <strong>de</strong>sta forma, em que medida o narcisismo se relaciona com o amorpróprio, com a auto-estima, sentimentos tão abalados na <strong>melancolia</strong>. A dimensão narcísica da<strong>melancolia</strong> é posta em questão, mas não apenas em seu sintoma – queda <strong>de</strong> auto-estima – mastambém em sua origem – no que suscitou o tipo <strong>de</strong> vínculo com o objeto: vincula-se ao objetopara assegurar-se narcisicamente. Retomaremos esta questão ao abordarmos os vínculosnarcísicos.3.1.5 Escolha narcísica e <strong>melancolia</strong>O vínculo narcísico com um objeto como pré-condição da <strong>melancolia</strong> é ponto <strong>de</strong><strong>de</strong>staque para Freud. Neste vínculo, frente a uma situação <strong>de</strong> ameaça, a libido po<strong>de</strong>ria regredirao ego, através do mecanismo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação. É um vinculo paradoxal, que guarda aomesmo tempo uma forte fixação no objeto e uma fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vinculação. Trata-se <strong>de</strong> umafrágil ligação libidinal na qual, frente a qualquer situação <strong>de</strong> <strong>de</strong>cepção, ameaça, omissão,abandono ou falta por parte do objeto, a libido po<strong>de</strong> abandonar o objeto e retrair-se para oego.Mas em que consiste este vínculo do tipo narcísico? Segundo Bleichmar, (1983),po<strong>de</strong>mos distinguir basicamente – no artigo <strong>de</strong> Freud sobre o narcisismo – dois tipos <strong>de</strong>vínculos narcísicos: aquele em que o sujeito se vincula ao objeto porque este o engran<strong>de</strong>ce, e132
aquele em que o objeto é semelhante ao ego do sujeito. Neste último, Freud (1914) aponta queo sujeito se liga ao objeto que, ou é semelhante ao que o sujeito é, ou foi, ou ainda, ao que osujeito <strong>de</strong>seja ser. Um último caso também é possível: aquele que se liga a quem um dia fezparte <strong>de</strong> si-mesmo, como a relação da mãe com seu bebê, por exemplo.No outro tipo <strong>de</strong> escolha, aquela em que o sujeito se liga a algo que o engran<strong>de</strong>ça,Freud (1914) oferece o exemplo da mulher que se apaixona pelo homem que a elogia e aadmira, que lhe permita se sentir linda e perfeita. Bleichmar (1983, p.33) comenta sobre estasduas possíveis <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> eleição narcísica <strong>de</strong> objeto contida no artigo sobre o narcisismo<strong>de</strong> Freud:Vemos então que em Freud a eleição narcísica <strong>de</strong> objeto abarca tanto a eleição quese realizou à imagem e semelhança do ego como a que se realizou para elevar aauto-estima, a vivência <strong>de</strong> perfeição, <strong>de</strong> plenitu<strong>de</strong>, <strong>de</strong> onipotência.Frente ao que foi consi<strong>de</strong>rado, enten<strong>de</strong>mos que a vinculação narcísica ocorre semprecom o objetivo <strong>de</strong> incremento, <strong>de</strong> manutenção do amor próprio. A pessoa, na tentativa <strong>de</strong>sentir-se segura quanto ao seu auto-conceito, liga-se aos objetos segundo esta lógica davinculação narcísica; po<strong>de</strong>mos arriscar a dizer que ela se relaciona com o mundo e consigomesma sempre em função do incremento <strong>de</strong> si mesmo. Mesmo a pessoa que toma para sicomo objeto alguém em função do que gostaria <strong>de</strong> ser está visando a este incremento. Amanutenção da organização narcísica é o objetivo principal <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> vínculo.Seria este o significado da escolha narcísica? Acreditamos que sim, na medida em quea ligação narcísica visa sempre a uma manutenção do amor próprio, no sentido <strong>de</strong> que oobjeto seja a via <strong>de</strong> realização, <strong>de</strong> recuperação, <strong>de</strong> encontro com o i<strong>de</strong>al, <strong>de</strong>ste sentimento <strong>de</strong>amar-se, <strong>de</strong> valorizar a si mesmo. É uma opção louvável, já que o indivíduo <strong>de</strong>sta maneira<strong>de</strong>seja manter ou recuperar a sua auto-estima. Esta lógica, porém, como bem sabemos, émuito arriscada, já que, se a vinculação com o objeto é do tipo narcisista ─ aumentando avalorização <strong>de</strong> si-mesmo – a sua perda produzirá a diminuição do valor <strong>de</strong> si. Se na<strong>melancolia</strong> o objeto perdido é <strong>de</strong> natureza narcisista, quer dizer, aumenta a valorização dosujeito, sua perda produzirá uma diminuição <strong>de</strong>sta (BLEICHMAR, 1983, p.37).Contudo, <strong>de</strong>vemos ressaltar que a vinculação narcísica predominante é característica<strong>de</strong> situações normais <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento em extrema <strong>de</strong>pendência, como o bebê quenecessita <strong>de</strong> sua mãe para <strong>de</strong>senvolver suas capacida<strong>de</strong>s e sua autonomia. Sabemos que onarcisismo do bebê é o narcisismo <strong>de</strong> seus pais, renunciado e projetado no infante. A ligaçãonarcísica nem sempre é problemática, em muitas situações ela po<strong>de</strong> ser necessária. Quandotemos bases narcísicas suficientes, não necessitamos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r dos objetos <strong>de</strong> forma absoluta e133
- Page 1 and 2:
MARCO ANTÔNIO ROTTA TEIXEIRAA CONC
- Page 3 and 4:
Dados Internacionais de Catalogaç
- Page 5 and 6:
AGRADECIMENTOSMeus sinceros agradec
- Page 7 and 8:
Ora, embora não haja dúvida de qu
- Page 9 and 10:
ABSTRACTTEIXEIRA, M. A. R. Freudian
- Page 11 and 12:
3.2. Ambivalência e melancolia....
- Page 13 and 14:
Ao analisar a trajetória de Iefimo
- Page 15 and 16:
Introdução ao estudo freudiano da
- Page 17 and 18:
apenas em 1917, Freud realiza um es
- Page 19:
Capítulo 1Da melancolia à depress
- Page 26 and 27:
uma visão baseada nos conflitos pe
- Page 28 and 29:
Cláudio Galeno de Pérgamo (129-20
- Page 30 and 31:
A melancolia era amplamente estudad
- Page 32 and 33:
No renascimento, gradualmente o rac
- Page 34 and 35:
Burton diz que a melancolia é uma
- Page 36 and 37:
conhecem mais profundamente o passa
- Page 38 and 39:
desacorrentamento dos alienados e i
- Page 40 and 41:
a ser completamente medicalizada e
- Page 42 and 43:
Nenhum tipo de regime de idéias ou
- Page 44 and 45:
psiquiatria, o que soa irônico, j
- Page 46 and 47:
1.3 Um olhar psicanalítico sobre a
- Page 48 and 49:
humanos. Tal estado, chamado vagame
- Page 50 and 51:
correlato de uma condição inerent
- Page 52 and 53:
não consiste em exorcizá-la, já
- Page 54 and 55:
construir uma teoria sobre estes es
- Page 56 and 57:
ecebe uma classificação - um tipo
- Page 58 and 59:
separação se justifica em sua pr
- Page 60 and 61:
melancolia e central no texto Luto
- Page 62 and 63:
confirmando. Abateu-se sobre o paci
- Page 64 and 65:
perda e ambivalência. O primeiro a
- Page 66 and 67:
intermediário, a uma sensação ex
- Page 68 and 69:
influenciados pelo médico; o que e
- Page 70 and 71:
elementos narcísicos e ambivalente
- Page 72 and 73:
Talvez encontraremos alguma pista p
- Page 74 and 75:
isto para nós é claro e evidente.
- Page 76 and 77:
Assim, este registro estaria direta
- Page 78 and 79:
Bleichmar (1983), em seu importante
- Page 80 and 81:
configuração simultânea do eu e
- Page 82 and 83: Capítulo 2Metapsicologia I - Luto
- Page 84 and 85: como psiquiátricos; entretanto, po
- Page 86 and 87: Com a descoberta e a elaboração d
- Page 88 and 89: noção qualitativa seria a que car
- Page 90 and 91: internaliza as críticas morais atr
- Page 92 and 93: psicopatológico, inaugura um model
- Page 94 and 95: melancolia. Mas, em última instân
- Page 96 and 97: de uma pessoa amada, ou à perda de
- Page 98 and 99: De acordo com Freud (1917[1915]), q
- Page 100 and 101: [...] cada vez que surgem as lembra
- Page 102 and 103: Este objeto, que por algum motivo f
- Page 104 and 105: permite ao sujeito abandonar a liga
- Page 106 and 107: Sempre se sente uma pessoa limitada
- Page 108 and 109: ele acrescenta a importância dos s
- Page 110 and 111: É impossível abandonar a relaçã
- Page 112 and 113: incentivo narcísico de continuar a
- Page 114 and 115: Capitulo 3Metapsicologia II - Os el
- Page 116 and 117: fenômeno central da relação anal
- Page 118 and 119: 3.1.1 Rumo ao conceito de narcisism
- Page 120 and 121: mãe; coloca-se em seu lugar, ident
- Page 122 and 123: amoroso de si próprio; seus instin
- Page 124 and 125: amor, é idealizado e engrandecido,
- Page 126 and 127: Um registro capital se introduz nes
- Page 128 and 129: externo e dos objetos. Para Freud,
- Page 130 and 131: os termos “vínculo narcísico”
- Page 134 and 135: totalmente idealizada - como no cas
- Page 136 and 137: No capítulo VII, denominado “Ide
- Page 138 and 139: as características do objeto. Em r
- Page 140 and 141: a ser odiado é trazido para dentro
- Page 142 and 143: esvaziado e incapaz. A marca desta
- Page 144 and 145: ideal do ego deixa de existir, pode
- Page 146 and 147: de satisfazer ou sustentar as ideal
- Page 148 and 149: mais prejudicial ele será. A fórm
- Page 150 and 151: livro Freud afirma a existência de
- Page 152 and 153: voltará a este tema no capítulo s
- Page 154 and 155: As chamadas pulsões de morte, ao c
- Page 156 and 157: Se nos remetermos ao estudo sobre o
- Page 158 and 159: expressão do sadismo advindo da pu
- Page 160 and 161: Capítulo 4A concepção freudiana
- Page 162 and 163: ainda, em conjunção a qualquer es
- Page 164 and 165: prostração diante deste. O desamp
- Page 166 and 167: simbólico. Klein, e depois Winnico
- Page 168 and 169: situações afetaram a estrutura do
- Page 170 and 171: No segundo caso, aquele de situaç
- Page 172 and 173: Mais do que procurar responder dire
- Page 174 and 175: Vetter (1969) considera o fenômeno
- Page 176 and 177: através da, agora possível, quím
- Page 178 and 179: premissa de que estes estados são
- Page 180 and 181: narcisismo do momento inicial da vi
- Page 182 and 183:
FARINHA, S. A depressão na atualid
- Page 184 and 185:
_____ (1939[1934-1938]). Moisés e
- Page 186:
PERES, U. T. Melancolia. São Paulo