os termos “vínculo narcísico” e “amor narcisista”. Todos eles se referem a um tipo<strong>de</strong> vínculo com o objeto ou i<strong>de</strong>al que se baseia em lógicas narcísicas: ama-seaquele que reflete a si-mesmo, aquele que permite a realização <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ais narcisistase aquele que um dia foi parte <strong>de</strong> si-mesmo.d) Categoria diagnóstica ou psicopatológica: narcisismo como perversão sexual,psicoses, ou as atuais categorias <strong>de</strong> patologias/distúrbios/personalida<strong>de</strong>s narcísicas.Costuma-se falar em um ponto <strong>de</strong> fixação no narcisismo (psicose) ou em falhas naconstituição <strong>de</strong>ste (distúrbios narcísicos). A expressão “personalida<strong>de</strong> narcísica”também é muito encontrado.e) Desejos ou i<strong>de</strong>ais narcísicos: neste caso, o termo é utilizado para fazer referência a<strong>de</strong>sejos egoístas, <strong>de</strong>sejos onipotentes <strong>de</strong> fusão com o objeto sem barreiras, semdiferenças e sem <strong>de</strong>sencontros, a busca da ausência <strong>de</strong> sofrimento e <strong>de</strong> perfeiçãototal, <strong>de</strong>sejos que almejam a completu<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> altos sonhosimpossíveis, megalomania, <strong>de</strong>sejos <strong>de</strong> amor e admiração incondicional. Tais<strong>de</strong>sejos são experimentados pelo bebê em sua fase narcisista e são chamados <strong>de</strong>“<strong>de</strong>sejos narcísicos”. Nisto se baseia o uso corriqueiro no senso comum para sereferir àquela pessoa que é “metida”, ou daquela que quer tudo para si, é egoísta,daquele que tudo sabe, enfim, <strong>de</strong> um sujeito ou <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s chamadas <strong>de</strong>“narcisistas”. Este é um funcionamento que tem como referência i<strong>de</strong>ais absolutos,que operam nos extremos. Aqui temos também a presença do ego i<strong>de</strong>al ou i<strong>de</strong>al <strong>de</strong>ego, que são as instâncias responsáveis pelo narcisismo renunciado da infância,nas quais estão “contidos” os i<strong>de</strong>ais narcisistas;f) Narcisismo como sinônimo <strong>de</strong> auto-estima, amor próprio ou auto-conceito. Aquipensamos em um “bom” narcisismo, mais em termos funcionais, com aincumbência <strong>de</strong> manter as imagens positivas do ego; em termos finais, ele aquicorrespon<strong>de</strong>ria ao conjunto <strong>de</strong> recursos egóicos para manter a organizaçãopsíquica. Freud (1914) faz referência à manutenção da auto-estima como umproduto <strong>de</strong> três condições: resquício do narcisismo primário perdido na infância, assatisfações obtidas nas relações com os objetos e, por último, a aproximação doego com seu ego i<strong>de</strong>al.g) Por fim, gostaríamos <strong>de</strong> propor uma <strong>de</strong>finição ampla e geral para nos referirmos atodas estas acepções anteriores. Em conjunto, todos estes usos do termo servempara se referir a processos psíquicos ou relacionais em que o elemento <strong>de</strong> <strong>de</strong>staqueé narcísico. Propomos então chamá-los <strong>de</strong> elementos narcísicos.130
E tais usos serão mais bem <strong>de</strong>finidos ao longo do texto.3.1.4 Narcisismo como base da auto-estimaO narcisismo é consi<strong>de</strong>rado a base do sentimento <strong>de</strong> amor próprio e da auto-estima,sendo necessária uma dose <strong>de</strong> investimento libidinal no próprio ego. E esta base dossentimentos <strong>de</strong> amor-próprio são os remanescentes do narcisismo perdido da infância. Sobreesta acepção do narcisismo relacionada à auto-estima, Bleichmar (1983, p.37) comenta: “esteé entendido como valorização que o sujeito faz <strong>de</strong> si mesmo, como a significação que o egocomo representação <strong>de</strong> si toma para o sujeito, quer dizer, como é que este se situa numaescala <strong>de</strong> preferências, <strong>de</strong> valores”.Em Green (1988, p.39) encontramos uma acepção complementar: [...] “é precisoenfiar na cabeça que o amor próprio do adulto está enraizado no amor que a criança seapropria em seu proveito, <strong>de</strong>sviado dos objetos”. Ainda, segundo Rosenfeld (1988, p.140), onarcisismo age como um protetor essencial do self. Tais afirmações mostram que o amorpróprio e o sentimento <strong>de</strong> auto-estima que <strong>de</strong>sfrutamos na ida<strong>de</strong> adulta são herança donarcisismo infantil. Certa quantia <strong>de</strong> amor próprio e auto-admiração são indispensáveis paramanter a saú<strong>de</strong> psíquica, para manter nossa auto-estima. O narcisismo, portanto, é umelemento não só necessário para o psiquismo, mas também saudável. Neste sentido, aorganização narcísica da mente, que começa a ser constituída na infância, é a base <strong>de</strong>sustentação do auto-conceito.É para esta direção que Freud (1914, p.115) aponta em seu trabalho sobre onarcisismo, qual seja, que o auto-conceito (grau <strong>de</strong> estima que o sujeito tem por si) tem uma<strong>de</strong>pendência muito estreita da libido narcísica: “Tudo o que possuímos ou conseguimos, cadaremanescente do sentimento primitivo <strong>de</strong> onipotência que tenha sido corroborado pela nossaexperiência, ajuda a incrementar o autoconceito”. O que dita para o sujeito o que po<strong>de</strong>engran<strong>de</strong>cê-lo ou proporcionar satisfação consigo mesmo, em outras palavras, assegurá-lonarcisicamente, é o chamado “ego i<strong>de</strong>al”, o her<strong>de</strong>iro dos i<strong>de</strong>ais narcísicos da infância. Freud(1914, p.113) explica, sobre esta instância psíquica especial, que, atuando a partir do egoi<strong>de</strong>al, incumbir-se-ia da tarefa <strong>de</strong> zelar pela satisfação narcísica, e que, neste propósito,observaria o ego <strong>de</strong> maneira contínua, sempre medindo-o por esse i<strong>de</strong>al.Finalmente, Freud (1914, p.117) mostra que a auto-estima <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> basicamente <strong>de</strong>três elementos, todos eles ligados ao narcisismo. Um é o resíduo do narcisismo infantil –po<strong>de</strong>mos pensar em algo que ficou no ego daquela época do narcisismo, algo que restou <strong>de</strong> si131
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