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A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

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conflito ambivalente, já existente, aparece e entra em ação, complicando a relação com oobjeto.O conflito causado pela ambivalência traz as marcas da qualida<strong>de</strong> do vínculo com oobjeto. Como o vinculo é narcísico, a ambivalência – que é uma característica própria dasrelações afetivas – não po<strong>de</strong> ser vivida na relação com o objeto. Na ligação narcísica, arelação <strong>de</strong>ve ser vivida como purificadas <strong>de</strong> elementos frustrantes e ruins, e isto quer dizerque a relação é i<strong>de</strong>alizada. Amor e ódio são vividos como incompatíveis, causando umconflito <strong>de</strong> difícil resolução para o sujeito. A imagem <strong>de</strong> uma encruzilhada na qual qualquercaminho levasse à <strong>de</strong>struição seria a<strong>de</strong>quada para <strong>de</strong>screver o conflito do melancólico.Nesta lógica, que é própria do vínculo narcísico, não há espaço para sentimentos <strong>de</strong>ódio porque o objeto é essencial para a manutenção do narcisismo do sujeito, que precisamanter a satisfação obtida na relação acima <strong>de</strong> qualquer coisa. Entretanto, ele esbarra naimpossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter uma relação sem frustração, sem limites e <strong>de</strong>senganos; em suma, arealização i<strong>de</strong>alizada como perfeita não é possível na realida<strong>de</strong>. Em algum momento estasatisfação será interrompida, simplesmente porque não é possível que o objeto possa atendê-lacompletamente. Esta é uma ilusão do melancólico, que procura alcançá-la a todo custo.Freud <strong>de</strong>monstra que o momento da perda é aquele que põe em evi<strong>de</strong>ncia, ou aumenta,uma ambivalência já existente na relação. O ódio já existe, mas é feito um esforço no sentido<strong>de</strong> negar sua existência. A ambivalência existe como característica intrínseca a qualquerinvestimento afetivo, embora possa variar a intensida<strong>de</strong> do conflito causado por ela. Quantomaior o ódio e menor a tolerância a ele na relação, maior será o conflito. No caso domelancólico, quando a fruição da satisfação obtida na relação narcísica é interrompida, o ódiovem à tona visando expressar sua revolta contra algo que para ele é impensável. O ódio surge<strong>de</strong>spertando sentimentos <strong>de</strong> vingança, justamente porque a fruição narcísica é interrompida.Neste momento a <strong>de</strong>pendência narcísica do objeto se evi<strong>de</strong>ncia, e o sentimento domelancólico é que, sem ele, sua sobrevivência seria impossível. No entanto, o ódio não po<strong>de</strong>ser dirigido ao objeto. O massacre do objeto significaria um massacre das provisõesnarcísicas. É este o momento em que o melancólico chega a uma encruzilhada. Seu <strong>de</strong>sejo éabandonar o objeto, mas isto se mostra impossível:Uma vez tendo <strong>de</strong> abdicar do objeto, mas não po<strong>de</strong>ndo renunciar ao amor peloobjeto, esse amor refugia-se na i<strong>de</strong>ntificação narcísica, <strong>de</strong> modo que agora atuacomo ódio sobre este objeto substituto, insultando-o, rebaixando-o, fazendo-osofrer e obtendo <strong>de</strong>sse sofrimento alguma satisfação sádica. A indubitavelmenteprazerosa autoflagelação do melancólico expressa, como fenômeno análogo naneurose obsessiva, a satisfação <strong>de</strong> tendências sádicas e <strong>de</strong> ódio (FREUD,1917[1915], p.110).109

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