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A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

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Sempre se sente uma pessoa limitada e <strong>de</strong>sprovida <strong>de</strong> recurso. Há ainda o sentimento <strong>de</strong> culpaonipotente que o persegue <strong>de</strong> maneira insistente, sempre o responsabilizando e o recriminandopor uma série <strong>de</strong> coisas que não são necessariamente ligadas a suas limitações. Po<strong>de</strong>ríamosainda continuar com mais uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrições; contudo, apenas estas já nos permitemaproximar analogamente o melancólico do bebê, na fase do narcisismo, extremamente<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, limitado e dotado <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> onipotência. No entanto, não custa lembrar umaalusão <strong>freudiana</strong> à regressão, processo comum entre as neuroses:Quando se analisam os psiconeuróticos, notam-se em todos eles as assim chamadasregressões temporais, ou seja, que há um montante <strong>de</strong> retrocesso no<strong>de</strong>senvolvimento peculiar a cada um <strong>de</strong>sses estados. Po<strong>de</strong>mos distinguir duas<strong>de</strong>ssas regressões, a do <strong>de</strong>senvolvimento do Eu e a do <strong>de</strong>senvolvimento da libido(FREUD, 1917, p.79).No caso da <strong>melancolia</strong> encontramos respectivamente uma acentuada regressão dalibido ao ego, <strong>de</strong>vido à retirada dos investimentos libidinais dos objetos externos quecausaram uma <strong>de</strong>cepção, e a <strong>de</strong>corrente regressão do ego ao estado do narcisismo primitivo –uma fase muito inicial do <strong>de</strong>senvolvimento humano, ainda na primeira infância.Se analisarmos por este lado, nossa comparação entre o melancólico e o bebê não seriatão imprópria. Se, por algum motivo, o bebê, ainda nesta fase em que o narcisismo épredominante, venha a se dar conta <strong>de</strong> sua condição frágil e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, angústiasinomináveis e aterrorizantes se apossariam <strong>de</strong> sua mente. É possível supor que o melancólicoé aquele sujeito que toma consciência <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>pendência narcísica do objeto e assim regri<strong>de</strong>ao narcisismo, aproveitando-se <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>stacabilida<strong>de</strong>. Se aceitarmos esta comparação entre omelancólico e o mo<strong>de</strong>lo do bebê narcísico e <strong>de</strong>samparado, compreen<strong>de</strong>remos com maiorclareza a afirmação <strong>de</strong> Freud <strong>de</strong> que o melancólico parte da escolha objetal narcísica e retornaao estado <strong>de</strong> narcisismo. Seria, assim, a regressão da relação narcísica até a vivência precoce<strong>de</strong> um narcisismo que sofreu possivelmente uma perturbação anterior.Isto nos leva imediatamente a pensar em uma ferida constitucional na época donarcisismo ou da <strong>de</strong>pendência absoluta <strong>de</strong> Winnicott. Falhas no <strong>de</strong>senvolvimento inicial dosujeito, em função <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> sustentação na época da <strong>de</strong>pendência absoluta, tornaria o sujeitoportador <strong>de</strong> uma insuficiência narcísica. Esta insuficiência impeliria o sujeito a ligar-se aosobjetos sempre segundo o tipo narcísico <strong>de</strong> escolha, para com isto tentar suprir aquela falhanarcísica originária. Frente às situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>cepções, ou falta <strong>de</strong> gratificações (perdas), emsuas relações narcísicas (com seus objetos narcísicos), o sujeito seria compelido a regredir atéestas vivências precoces – que <strong>de</strong>ixaram suas marcas como falta <strong>de</strong> constituição das basesnarcísicas do self. Neste viés, o melancólico assim o seria antes mesmo <strong>de</strong> “cair melancólico”.106

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