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A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

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também a reação à perda <strong>de</strong> um objeto, neste momento é distinguido o tipo <strong>de</strong> perda que estápresente na <strong>melancolia</strong>; ao que tudo indica, nela ocorreu uma perda no ego, ou <strong>de</strong> aspectos doego. Como vimos, esta perda é na verda<strong>de</strong> a perda <strong>de</strong> um objeto que, a partir da i<strong>de</strong>ntificaçãonarcísica, foi transformada em uma perda do ego.Neste momento cabe fazermos algumas consi<strong>de</strong>rações que vão além do que estáexplícito no texto freudiano. Deparamo-nos aqui com a primeira contribuição fundamental <strong>de</strong>Luto e <strong>melancolia</strong>: se examinarmos mais profundamente as colocações <strong>de</strong> Freud nestesentido, e as relacionarmos com o texto sobre o narcisismo, <strong>de</strong> 1914, perceberemos que narealida<strong>de</strong> a perda melancólica consiste em uma perda ligada às bases narcísicas do psiquismo.Neste caso <strong>de</strong>staca-se uma perda muito específica: a perda <strong>de</strong> uma relação narcísica, ou seja,aquela que <strong>de</strong> alguma forma traria satisfação para o narcisismo do sujeito. Na passagemcitada, Freud afirma que houve uma transformação que se inicia em uma perda <strong>de</strong> um objetoafetivo e termina com a perda <strong>de</strong> aspectos do ego. Não seria muito díspar afirmar que talperda já existia, mas estava sendo compensada na relação com o objeto. Freud (1917 [1915],p.109) insiste que na <strong>melancolia</strong> acontece “uma regressão que parte <strong>de</strong> certo tipo <strong>de</strong> escolhaobjetal e volta para o narcisismo original”. O sujeito estabelece uma ligação com o objetosegundo o tipo <strong>de</strong> escolha narcísica e, frente a algum obstáculo, regri<strong>de</strong> ao narcisismo – faseem que o bebê é completamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do objeto por não ter o mínimo <strong>de</strong> recursos parasobreviver sozinho. Ele é <strong>de</strong>sprotegido, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e limitado. Sua sobrevivência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>maneira absoluta <strong>de</strong> um objeto externo, seja ele a mãe ou a cuidadora. A percepção emrelação ao mundo externo praticamente não existe, o que o faz tomar o mundo como umaparte <strong>de</strong> si mesmo. Se coisas boas acontecem, como uma gratificação em função daexperiência <strong>de</strong> ser alimentado, o bebê toma o seio como parte sua e como criação <strong>de</strong> suamente. Se ocorre algo ruim, a mesma lógica é aplicada, fazendo com que o bebê se sintaresponsável pela ocorrência negativa. Esta imagem <strong>de</strong> um bebê em sua fase narcísica po<strong>de</strong> ser<strong>de</strong>nominada <strong>de</strong> onipotente, uma fase em que ele é o centro do mundo, como se tudo queexistisse e fosse percebido fosse criação <strong>de</strong> sua mente.Caso se faça uma superposição entre esta imagem do bebê narcísico e a domelancólico, veremos que elas se parecem em muitos aspectos. Como o bebê, o melancólicosente-se frágil e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, sem condições e recursos para enfrentar as mínimas dificulda<strong>de</strong>s.Tudo o que acontece com ele e a sua volta, principalmente infortúnios, é por sua falta <strong>de</strong>valor, incapacida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong>ficiência. Ao esbarrar em uma dificulda<strong>de</strong>, não a reconheceenquanto dificulda<strong>de</strong>, mas como fracasso – seu fracasso é mera prova <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>ficiência.Qualquer um é tomado como possuidor <strong>de</strong> maior dignida<strong>de</strong> e valor do que ele mesmo.105

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