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A concepção freudiana de melancolia - Faculdades FIO

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isto é, a i<strong>de</strong>ntificação do ego com o objeto abandonado. A sombra do objeto cai sobre ego,tornando-o um representante, ou semelhante, do objeto abandonado no interior do aparelhopsíquico. Esta sombra sobre o ego permite a uma parte diferenciada <strong>de</strong>ste ego julgá-lo eacusá-lo sem pieda<strong>de</strong> – e <strong>de</strong>paramo-nos, neste momento, com algo que po<strong>de</strong>ria ser equiparadoao posterior conceito <strong>de</strong> superego. A relação do ego com esta instância crítica diferenciada, ainstância moral, substitui a relação do ego com o objeto. Freud finaliza o parágrafo afirmandoo essencial: ao abandonar o objeto, acontece uma perda, mas uma perda <strong>de</strong> aspectos do ego.Per<strong>de</strong>m-se, assim, aspectos que, mais adiante, serão relacionados ao conceito <strong>de</strong> narcisismo e<strong>de</strong> amor-próprio ou sentimento <strong>de</strong> si.Finalmente, um aspecto importante a se <strong>de</strong>stacar entre estas noções é a inauguraçãometapsicológica do registro da perda – um espaço problematizador da experiênciamelancólica. Com estes pressupostos, através da comparação com o luto, Freud insere a<strong>melancolia</strong> no registro da perda traumática, e abre um vasto campo para se compreen<strong>de</strong>r oselementos psíquicos que estão relacionados às experiências <strong>de</strong> perda.O mecanismo da i<strong>de</strong>ntificação narcísica, que consiste em retirar a libido do objeto erecolhê-la no ego, dá origem às auto-acusações nas quais o indivíduo se submerge –característica marcante do melancólico. O conceito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação narcísica é consi<strong>de</strong>radofundamental por alguns autores estudiosos da <strong>melancolia</strong> 12 . Começa-se assim a <strong>de</strong>senhar oselementos melancólicos do psiquismo.Entretanto, vale perguntar: por qual motivo o sujeito recorre a este mecanismo <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntificação com o objeto, ao invés <strong>de</strong> apenas enlutar-se? Isto é, por que a <strong>melancolia</strong> e não oluto?A resposta a esta questão encontra-se no tipo <strong>de</strong> ligação que o sujeito estabeleceu como objeto. Para que o mecanismo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação entre em ação é necessário que seja possívela existência <strong>de</strong> uma contradição na relação com o objeto. É preciso que tenha havido umaforte fixação da libido no objeto e que, ao mesmo tempo, este vínculo seja frágil, isto é, quetenha pouca resistência e a<strong>de</strong>rência do investimento pulsional no objeto. Em função <strong>de</strong>staforte fixação, o objeto não po<strong>de</strong> ser renunciado, mas, ao mesmo tempo, a frágil ligaçãopermite uma <strong>de</strong>stacabilida<strong>de</strong> da libido sempre que um obstáculo se impuser à relação – sejamperdas, ofensas, <strong>de</strong>cepções ou frustrações. É esta <strong>de</strong>stacabilida<strong>de</strong> que permite o abandono doobjeto que, conforme Freud <strong>de</strong>monstrou, é tão característico da <strong>melancolia</strong>. Este abandono érealizado através do mecanismo da i<strong>de</strong>ntificação. Trata-se <strong>de</strong> um mecanismo regressivo que12 Ver VIOLANTE, 1994.103

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