4 <strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 29 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012AberturaMARIA ANABELA SILVA1Voluntariadoergue gran<strong>de</strong>s obrasEsforço colectivo Numa época marcada peloindividualismo e pela escassez <strong>de</strong> recursos, o esforço dascomunida<strong>de</strong>s locais é, muitas vezes, a solução paraconcretizar obras há muito sonhadas pelas populaçõesMaria Anabela Silvaanabela.silba@jornal<strong>de</strong>leiria.pt❚ O homem sonha, a população ajudae a obra nasce. Assim se po<strong>de</strong>ria resumira história da construção das novasigrejas <strong>de</strong> Pousos e da Quinta doAlçada, do quartel da secção Sul dosBombeiros Voluntários <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> ou dolar, centro <strong>de</strong> dia e ATL erguido pelaAssociação Humanitária Amigos <strong>de</strong>Colmeias. Numa época marcada peloindividualismo, estes são algunsexemplos <strong>de</strong> projectos que nasceramdo esforço colectivo das comunida<strong>de</strong>slocais, que, quase sem apoiospúblicos, conseguem erguer obras<strong>de</strong> milhões há muito ambicionadaspelas populações.Além do esforço financeiro, a concretização<strong>de</strong>sses projectos envolvetambém muitas horas <strong>de</strong> trabalhovoluntário, quer na mobilização da comunida<strong>de</strong>quer na organização <strong>de</strong>eventos <strong>de</strong> angariação <strong>de</strong> fundos ouaté mesmo na execução física dasobras. Um esforço que acaba por nãoser contabilizado nos custos da obras,o mesmo acontecendo com os muitosdonativos em materiais oferecidospor particulares e empresas.Pousos constrói nova igrejaSonhada e prometida “há quase 50anos”, a nova igreja dos Pousos seráinaugurada em Fevereiro do próximoano. Além do templo, com capacida<strong>de</strong>para acolher cerca <strong>de</strong> 500 pessoassentadas, o complexo erguido pela populaçãoao longo dos últimos anos integraum salão paroquial com palco ecamarins, <strong>de</strong>z salas <strong>de</strong> catequese,uma residência para o pároco, casamortuária e um anfiteatro ao ar livre.No total, o projecto envolve um investimentona or<strong>de</strong>m dos 2,3 milhões<strong>de</strong> euros.“Já pagámos 1,8 milhões”, contaJoaquim Pedro <strong>de</strong> Sousa, membro doConselho Económico da paróquia, aquem os olhos brilham <strong>de</strong> emoçãoquando fala da obra, que vai entraragora na recta final. “O sonho está àtornar-se realida<strong>de</strong>, porque acreditámos.Às vezes, conseguimos superarnos”,diz o dirigente, frisando que a
<strong>Jornal</strong> <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong> 29 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 2012 5JACINTO SILVA DURO2RICARDO GRAÇA3Monte RedondoVoluntáriosrecuperamantiga estaçãoA antiga estação <strong>de</strong> comboios <strong>de</strong>Monte Redondo, <strong>de</strong>sactivada hámais <strong>de</strong> 30 anos, está a ganharuma nova imagem. Arecuperação tem sido levada acabo por um grupo <strong>de</strong>voluntários, sócios e amigos daAssociação Ecológica OsDefensores, com o apoio <strong>de</strong>empresas da freguesia, quece<strong>de</strong>m os materiais. “Em vez <strong>de</strong>irmos para o café, vamos para asobras. É o nosso convívio <strong>de</strong> final<strong>de</strong> dia”, contou recentemente aoJORNAL DE LEIRIA Paulo Gaspar,presi<strong>de</strong>nte da associação, queexplica que o projecto nasceu danecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar umespaço para instalar a se<strong>de</strong> dacolectivida<strong>de</strong> e da constatação doestado <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação da estação.População ergue quartelInaugurado há um ano, o quartel dasecção Sul dos Bombeiros Voluntários<strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>, localizado nos Cardosos,custou perto <strong>de</strong> 600 mil euros, contandoapenas com 145 mil euros <strong>de</strong>apoios oficiais (120 mil cedidos pelacâmara e 25 mil pela Autorida<strong>de</strong> Nacional<strong>de</strong> Protecção Civil). Tudo o resobraé o resultado <strong>de</strong> “muito trabalhoe <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> generosida<strong>de</strong>” da comunida<strong>de</strong>.Uma das formas <strong>de</strong> financiamentodo projecto é a Liga Pedras Vivas, queconta com quase 500 membros, queassumem a entrega <strong>de</strong> um donativomensal em “função das suas possibilida<strong>de</strong>s”.Segundo Joaquim Pedro <strong>de</strong>Sousa, esta liga serve <strong>de</strong> suporte aoempréstimo <strong>de</strong> 250 mil euros contraídojunto da banca. A restante verbatem sido conseguida através <strong>de</strong>múltiplas iniciativas, como almoçosconvívio,venda <strong>de</strong> rifas, peditóriosporta-a-porta ou a realização <strong>de</strong> pequenosmercados ao domingo noadro da igreja, num trabalho voluntárioque exige “milhares <strong>de</strong> horas emuita <strong>de</strong>dicação”.Davi<strong>de</strong> Gonçalves, pároco da freguesia,sublinha a preocupação <strong>de</strong> envolvera população no projecto, paraque “sinta a obra como sua” e a encarecomo um “espaço comunitário”, commúltiplas valências, que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oculto à cultura. “É uma obra necessáriae a pensar no futuro”, assegura5DRMARIA ANEBELA SILVA41 - Nova igrejada Quintada Alçada2 - Nova igreja<strong>de</strong> Pousos3 - Lar <strong>de</strong>Colmeias4 - Quartel <strong>de</strong>bombeirosnos Cardosos5 - Antigaestação <strong>de</strong>comboios <strong>de</strong>MonteRedondoJoaquim Pedro <strong>de</strong> Sousa , que diz ser“um prazer participar num projectoque é uma mais-valia para a freguesia”.Este membro do Conselho Económicofrisa que a antiga igreja, compouco mais <strong>de</strong> 100 lugares sentados,foi construída há mais <strong>de</strong> 300 anos,quando os Pousos era “uma al<strong>de</strong>ia”.Nos últimos anos, a freguesia “cresceumuito” e a tendência é para quecontinue a <strong>de</strong>senvolver-se. “Queremos<strong>de</strong>ixar uma obra que orgulhe esirva as gerações vindouras”, acrescentao dirigente, frisando que o complexonão serve apenas a vertente religiosa,mas também as áreas social ecultural.to, é o resultado do esforço da população,juntas e empresas das quatrofreguesias envolvidas no projecto:Arrabal, Caranguejeira, Chaínça eSanta Catarina da Serra.“Aquela obra tem inúmeras horas<strong>de</strong> trabalho gracioso <strong>de</strong> muitas pessoas.Chegámos a ter no local 30 pedreirose vários pintores e houvemuito material cedido por empresas”,conta Virgílio Gordo, presi<strong>de</strong>nte da Associaçãodos Amigos da Secção <strong>de</strong>Bombeiros do Sul do Concelho <strong>de</strong> <strong>Leiria</strong>.O dirigente conta que o projectonasceu da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar asinstalações do quartel da secção <strong>de</strong>Santa Catarina da Serra, que funcionavanum espaço “bastante precário”.O projecto acabaria por ser alargadoàs freguesias vizinhas, tendo as juntas<strong>de</strong> então assumido a aquisição <strong>de</strong>um terreno.Para o financiamento da obra aindaforam tentadas candidaturas afundos comunitários, mas sem sucesso.Esse revés não fez, no entanto,morrer o sonho. E, mesmo sem a garantia<strong>de</strong> qualquer apoio oficial, aobra arrancou em meados <strong>de</strong> 2009,sendo concluída em Junho <strong>de</strong> 2011.“Fizemos peditórios porta-a-porta,almoços e outros eventos <strong>de</strong> angariação<strong>de</strong> fundos. Conseguimos cerca<strong>de</strong> 2700 sócios, que pagam umaquota anual <strong>de</strong> 15 euros, e contámoscom o apoio <strong>de</strong> muitas empresas”, explicaVirgílio Gordo, que não tem dúvidasem afirmar que, sem o apoio dapopulação, a obra não seria concretizada.E já com o quartel concluído a associaçãocontinua a 'socorrer-se' daajuda da comunida<strong>de</strong> para asseguraro funcionamento da corporação, porqueos apoios oficiais são “insuficientes”.Nesse sentido, continuam aser realizados almoços-convívio eoutros eventos <strong>de</strong> angariação <strong>de</strong> fundos.“Sem o apoio da população é difícilfazer face a todas as <strong>de</strong>spesas”.Espaço multi-funcional nascena Quinta do AlçadaA primeira pedra da nova igreja daQuinta do Alçada foi colocada em2005. Aos poucos, a obra tem crescidoe só ainda não está concluída porque,em Agosto do ano passado, umincêndio <strong>de</strong>struiu por completo oauditório, construído na cave do templo,quando este já se encontravapraticamente concluído. Um ru<strong>de</strong>golpe na perseverança da comissão daigreja, que tem mobilizado a comunida<strong>de</strong>em torno <strong>de</strong> uma obra que nofinal <strong>de</strong>verá rondar os dois milhões <strong>de</strong>euros.“Sem aquele acto <strong>de</strong> terrorismo,que afectou também outros espaçosalém do auditório, nunca chegaríamosa esse valor”, nota Rafael Silva, doConselho Económico da igreja, quesublinha que a obra tem sido feita“com o dinheiro e o esforço” da população.Aquele dirigente explicaque, além das iniciativas promovidaspela comissão, como almoços, noites<strong>de</strong> fados ou peddy papers, há outraspessoas que se organizam e tambémpromovem eventos <strong>de</strong> angariação <strong>de</strong>fundos. Foi ainda dinamizado o programaEscada, através do qual a pessoaassume a entrega <strong>de</strong> um donativomensal, que “po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> umeuro”.A par da igreja com capacida<strong>de</strong>para 450 pessoas sentadas, o projectocontempla a criação <strong>de</strong> um auditóriocom cerca <strong>de</strong> 380 lugares, oito salas<strong>de</strong> catequese, uma casa mortuáriae três salas polivalentes, que po<strong>de</strong>mser usadas para formação. Apesar dadimensão do empreendimento, RafaelSilva diz que não se trata <strong>de</strong> umprojecto megalómano, mas sim <strong>de</strong>“uma obra necessária e a pensar no futuro”e na perspectiva <strong>de</strong> crescimentoda comunida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> está inserida.Esse é também o entendimento dopadre Augusto Gonçalves, que frisaque a Igreja <strong>de</strong> Nossa Senhora <strong>de</strong> Fátimatem uma área <strong>de</strong> abrangênciaque envolve o Bairro das Almoínhas,a Quinta do Alçada e a Sismaria, on<strong>de</strong>moram “mais <strong>de</strong> seis mil pessoas”.O sacerdote frisa que, além da componentereligiosa, o espaço tem tambémvalências na área lúdica, culturale formativa. “Não se trata apenas<strong>de</strong> uma igreja, mas <strong>de</strong> um espaço multi-funcional,que será útil à população”,observa.Amigos das Colmeiasedificam larA Associação Humanitária Amigos<strong>de</strong> Colmeias nasceu, em 2001, paralegalizar uma ambulância oferecidapor um emigrante, mas a falta <strong>de</strong> respostaspara a terceira ida<strong>de</strong> numafreguesia “envelhecida” viria a mudaro rumo da instituição. Em 2006,foi formalizada uma candidatura aoPARES (Programa <strong>de</strong> Alargamentoda Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Equipamentos Sociais)para a construção <strong>de</strong> um lar e <strong>de</strong> umcentro <strong>de</strong> dia para idosos e <strong>de</strong> umATL num terreno cedido pela junta.No entanto, a obra acabaria poravançar sem o dinheiro do Estado,que só chegaria muito mais tar<strong>de</strong> epara cobrir apenas 40% do total doinvestimento.Manuel Ferreira, presi<strong>de</strong>nte daassociação, conta que ainda antes <strong>de</strong>avançarem com a angariação <strong>de</strong>fundos junto da população, foi contraídoum empréstimo com o avalpessoal <strong>de</strong> cinco sócios. “Queríamoster já obra visível para que aspessoas acreditassem no projecto”,explica o dirigente, que enaltece aforma como a população a<strong>de</strong>riu àcausa. “A a<strong>de</strong>são foi muito boa.Também porque se percebeu que estávamosa trabalhar para o interesseda comunida<strong>de</strong>”, nota.A obra custou cerca <strong>de</strong> 1.3 milhões<strong>de</strong> euros, dos quais cerca <strong>de</strong> 500 milresultaram <strong>de</strong> um apoio do PARES.A associação contraiu um empréstimono mesmo valor e restante dinheirofoi angariado junto da comunida<strong>de</strong>.Com o lar a funcionar há cerca <strong>de</strong>um ano, a associação está já a trabalharna sua ampliação, com a criação<strong>de</strong> mais 11 camas. “É um bomcontributo para a comunida<strong>de</strong> pois,além <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>rmos a uma necessida<strong>de</strong>,estamos a criar postos <strong>de</strong>trabalho”, afirma Manuel Ferreira,sublinhando que, neste momento, aassociação já será um dos principaisempregadores da freguesia, contandocom 32 funcionários.