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Há valores que herdamose carregamos conosco,eles estão presentes nosnossos gostos, hábitos, maneirase costumes. Convivendo com asoutras pessoas, estabelecemosrelações através das quais às vezesachamos que mandamos,outras vezes que somos mandados, detemosou não o poder; um poder que nemsempre é aparente, mas que, mesmo simbólico,sabemos quando ele existe (ou>. inexiste). Toda esta bagagem cultural e= estas disputas pelo poder importam ao muitos, mas acreditamos que elas impor-03 tam muito mais quando fazem parte da;= nossa história. Um dado importante,■D quando analisamos uma trajetória indivi-£: dual e/ou coletiva, é considerar nesteprocesso a diferença de gênero; aliás, ressaltaro gênero é deixar falar a diferença. Adiferença entre homens e mulheres, mas,principalmente, a diferença entre a masculinidadee a feminilidade, pois esta carregaconsigo valores sócio-afetivos que sãoapreendidos, interiorizados e não podemdeixar de ser questionados.Em uma sociedade que tem historicamenteuma imagem depreciativa da homossexualidade- uma imagem coletiva que se,por um lado, é mais que a soma das partes,por outro, nem todas as partes comungaminteiramente com ela - não existiriam outrasimagens? O movimento homossexual que,no Brasil, teve seu ápice entre 1979 e 1981,contribuiu de forma fundamental para aconstrução de um outro modelo da homossexualidadea partir da construção da identidadehomossexual, como demonstra o trabalhode Edward MacRae. Portanto, aofalarmos das relações e das práticas homossexuais,precisamos saber quem fala. Aquiseguiremos as falas subterrâneas, aquelasque encontram dificuldades para se afirmarsocialmente nas relações de força existentes,que se mantêm em silêncio e afloram nosmomentos de crise.Quando o movimento homossexual inverteo estigma de "desviante" para o de um"modelo alternativo" ao predominante, atravésda manipulação de sua identidade, esqueceque sob um outro referencial não bastaapenas mudar de lugar, é preciso repensarestes lugares; o caso das mulheres homossexuaisé um exemplo. No Brasil, com o surgimentode novos personagens políticos e de"memórias subterrâneas" - para usar a expressãode Pollak - que só esperavam o momentopropício para subir e fazer-se ouvir,parece que a discussão so<strong>br</strong>e o lesbianismocontinuou subterrânea.No interior do grupo homossexual: a eternadiferença. As mulheres têm questões específicasque não conseguem pôr em discussão,além de ser comum, como afirmaMacRae, entre os "homossexuais em geral aexpressão de sentimentos negativos a respeitodo sexo oposto". Algumas partiram paragrupos específicos de mulheres homos-Entre os iguais,os diferentessexuais; é o caso de uns poucos gruposexistentes em São Paulo e no Rio Grandedo Sul, alguns considerados herdeiros dalinha mais radical no feminismo. No movimentofeminista foram discriminadaspor serem lésbicas e suas questões remetidasao "bloco homogêneo" - homossexualidade,que deveria ser discutido nomovimento homossexual. Apesar disso,as lésbicas militantes contribuíram paraque se refletisse mais so<strong>br</strong>e a sexualidadefeminina e so<strong>br</strong>e o lesbianismo. No entanto,quando o movimento homossexual precisamanipular a identidade do então discriminado"bloco homogêneo", eis que osgrupos lésbicos se tomam radicais (não uso otermo como uma censura, pelo contrário, radicalé com certeza resistente e firme numaposição definida, que pode ser bastante útilem uma dada conjuntura). Muitas vezes nãoaceitam uma aliança, por quê? No que dizrespeito às questões consideradas específicaspelas mulheres homossexuais, são verdadeirasas suas especificidades, mas, ao mesmotempo, podem correr o risco de levar ao extremosua discussão e perder de vista a importânciada problemática mais ampla. Nestesentido, a questão da AIDS é um exemplosignificativo, dado que o referendo da medicina,que aliás foi (ou é?) importante para aprópria definição da homossexualidade, acabasendo utilizado para que as mulheres homossexuaisse considerem isentas da epidemiada AIDS.Argumenta-se que haja, por um lado, atendência dos homens considerarem comogerais as suas necessidades específicas, poroutro, o fato da educação diferenciada entrehomens e mulheres. Se a homossexualidadepode ser construída como um "modelo alternativo"à sociedade mais ampla, mesmo havendono interior do movimento uma novacorrelação de forças, a produção de umaimagem coletiva, a tentativa de tornar o tal"bloco homogêneo" (homogêneo?)... Não sepoderia tentar uma coalizão calcada na diferença?Voltando à questão inicial quandoafirmei que o gênero significa a emersão dadiferença, gostaria de pensar um pouco estadiferença interna que é, so<strong>br</strong>etudo,externa. Nas CiênciasSociais, o gênero tem aparecidocomo a possibilidade de serecontara história. A históriaque foi, até pouco tempo, contadasob uma ótica masculina náofoi feita somente pelos homens.Assim, contamos agora a história das mulherese, conseqüentemente, a história dasrelações entre os sexos. A história de quem,em diferentes esferas, resistiu, <strong>br</strong>igou parafalar e se fez ouvir.Antes de falarmos da orientação sexualdevemos considerar se falamos de homensou de mulheres, pois a inserção dos indivíduossexuados na sociedade é diferenciada etem sempre presentes relações de poder. Aamericana E. Blackwood, afirma que é umerro considerar a priori a homossexualidadefeminina como menos existente ou menosinstucionalizada do que a masculina. Esta éuma maneira de perceber apenas um ladodas coisas. O "modelo alternativo" - homossexualidade,quando visto como um "blocohomogêneo", seja pelos de fora ou pelos dedentro, reduz as nuanças internas ao movimentoe a realidade diferenciada de homense mulheres homossexuais. A inserção social eo contexto cultural fazem com que as atribuiçõesmasculinas e femininas sejam vivenciadasde maneiras diferentes por homens emulheres e mais, nem sempre se desempenhao papel que lhes é destinado. Possivelmente,esta diferença faz com que as mulheressejam discriminadas mais uma vez. Este éum dado concreto, mas, apesar da eterna diferençaentre homens e mulheres, há a necessidadede nos sensibilizarmos para questõesque dizem respeito à humanidade como umtodo. A discussão da AIDS, neste sentido,cada vez mais tem-se tomado crucial. Estariam,então, as mulheres homossexuais isentasdeste todo?Não se pode mais negar a condição de sujeitodas mulheres (hetero ou homossexuais),negar qüe elas são donas dos seus atos e vontades.Diz-se que as relações entre os homenssão mais promíscuas do que entre as mulherese que, por sua vez, quando uma mulherestá casada some do movimento, some dosbares, enfim, some do circuito. Não será porquea concepção destas mulheres é a concepçãodas mulheres a respeito do amor, da sexualidade,das relações, do mundo...? E, sesegmentos do movimento homossexual acabaramse voltando para o enfrentamento daAIDS - trata-se da so<strong>br</strong>evivência biológica da"espécie"(?) -, as mulheres homossexuaisnão poderiam se voltar para a AIDS comouma questão tematizada junto aos direitoshumanos?E bastante difícil olhar com os olhos dosoutros porque só temos os nossos, mas, talvez,o caminho seja considerar que os outrosnos olham com os olhos deles, os únicos quepossuem.Cristina Luci C. da SilvaMestranda em Sociologia-IFCS/UFRJ


■.^^O desaparecimentoda homossexualidadeifjlgjBMgy. v,- f —x:o(J)'''^^^^'^ ^^


Pode-se pensar que nunca a <strong>org</strong>iachegou a extremos tão radicais quantosob o império da liberação sexual (emais acentuadamente homossexual) danossa época. O livro de Foucault pode anteciparessa inflexão - que agora parece severificar não apenas no plano das doutrinas,mas nas práticas corporais - porqueele mostra como a sexualidade vai chegandoa um grau insuportável de saturação,com a extensão do dispositivo de sexualidadeaos mais íntimos poros docorpo social.O dispositivo social desenvolvido emtorno da irrupção da AIDS leva paradoxalmentea sua máxima potência a promoçãoplanificada da sexualidade - sendoela tratada como um saber por umpoder - e marca de passagem o ponto desua inflexão e decadência. É curiosoconstatar como estamos até tal extremoimbuídos dos modernos valores da RevoluçãoSexual que nosso primeiro impulsoé denunciar colericamente seu refluxo.Não vemos a historicidade dessarevolução, não conseguimos relativizara homossexualidade tal como ela é dada(ou era dada até agora), ensinada etransmitida por médicos, psicólogos,pais, meios de comunicação, amantes eamantes dos amantes - sendo essa ilusãode a-historicidade intemporal incentivadapor boa parte do movimento homossexual,que defende a teoria de umaessência imutável do ser homossexual.Nossa homossexualidade é um Sexpol,ou pelo menos se apresenta e se conduz,apesar da homofobia de Reich, comouma de suas resultantes. Um elementopolítico, um elemento sexual. Parece ElFiord de Osvaldo Lamb<strong>org</strong>hini (mas umLamb<strong>org</strong>hini sem êxtase). Na verdade,sem êxtase?Sabemos graças a Bataille que a sexualidade(o "erotismo dos corpos") éuma das formas de atingir o êxtase. Bataillediferencia três formas de dissolvera mônada individualizante e recuperarcerta indistinção originária da fusão: a<strong>org</strong>ia, o amor (o "erotismo dos corações"),o sagrado. Na <strong>org</strong>ia chegava-se àdissolução dos corpos, mas estes se restauravamrapidamente e instauravam ocúmulo do egoísmo, o vazio que produzemna sua ginástica perversa sendoocupado pelo personalismo obsceno dopuro corpo (corpo sem expressão, ou,melhor, corpo que é sua própria expressão,ou pelo menos tenta...). No sentimentalismodo amor, no entanto, a saídade si é mais duradoura, o outro permanecetecendo uma capinha que resiste apassagem do tempo no transporte da sublimaçãoerótica. Mas é só na dissoluçãodo corpo no cósmico (ou seja, no sagrado)que se dá o êxtase total, a saída de sidefinitiva.Estamos demasiadamente presos àidéia de sexualidade para poder enten-deristo.Asexualidadevaleporsua potênciaintensiva, por sua capacidade de produzirestremecimentos e vi<strong>br</strong>ações (seria,nessa escala, o êxtase uma espécie degrauzero?) que se sentem no plano das intensidades.Mas isso não quer dizer queseja a única forma, menos ainda a formao<strong>br</strong>igatória, como quer nos fazer acreditarReich e a caterva de ninfomaníacosque o seguem, ainda questionando-lhealguma coisa, mas imbuídos do espíritoda marcha ascendente do gozo sexual.Soa já antiquado. Mas pensemos quantotem-se lutado por chegar, por conseguir,por atingir esse paraíso da prometida sexualidade.Com a AIDS vai acontecendo,so<strong>br</strong>etudo no campo homossexual(penso mais no caso <strong>br</strong>asileiro, muitoavançado, isto é, onde chegou-se a umgrau considerável de desterritorializaçãonos costumes, em outros países menosousados esse processo de refluxo talveznão possa ser percebido com amesma clareza; é que este desaparecimentoda homossexualidade está sendodiscreto como uma anunciação de periferia,a muitos locais a notícia demora achegar, ainda não se inteiraram...), outravolta de parafuso do próprio dispositivode sexualidade, não no sentido da castidade,mas no sentido de recomendar,através do progressismo médico, a práticade uma sexualidade limpa, sem riscos,desinfetada e transparente. Comisto não desejo postular um desquíciosexual. Deus nos salve, após tudo o quetemos passado com a premissa de nos libertar,mas advertir (constatar, conferir)como vai ocorrendo um processo de medicalizaçãoda vida social. Isto não devequerer dizer (confesso que não é fácil)estar contra os médicos, já que a medicinadesempenha, no combate contra aameaça mórbida, um papel central.O pânico da AIDS radicaliza um refluxoda revolução sexual que já vinhaseinsinuando, em tendências como aminoritariamente insinuada nos EstadosUnidos, que postulavam o retorno à castidadel.Naverdade a saturação já vinhade antes. A saturação parece inerente aotriunfo do movimento homossexual noOcidente, ao triunfo da homossexualidade,que vem de um processo bastantemovimentado e conhecido que não épreciso repetir aqui. Lem<strong>br</strong>emos que ahomossexualidade é uma criatura médica,e tudo o que tem-se escrito so<strong>br</strong>e apassagem do sodomita ao perverso, dolibertino ao homossexual . Basta verque a moderna homossexualidade éuma figura relativamente recente que,pode-se dizer, e enunciá-lo é um anúncio,viveu num período de cem anos suaglória e seu fim.Que acontece com a homossexualidade,se ela não voltar às catacumbas dondeera tão necessário resgatá-la, paraque <strong>br</strong>ilhasse na provocação de sua li-bertinagem de lábios refulgentementevermelhos? Ela simplesmente vai-se diluindona vida social, sem chamar mais aatenção de ninguém, ou de quase ninguém.Fica como uma intriga a mais,como uma trama relacionai entre as possíveis,que não desperta já animadversão,mas também não admiração. Um sentimentonada especial, como algo que podeacontecer a qualquer um. Ao torná-lacompletamente visível, a ofensiva de normalização(embora estejamos tentandomudar a terminologia, mais ainda depoisde que Deleuze lançou a noção de sociedadesde controle como substituintedas sociedades de disciplina das quaisfala Foucault, não é fácil chamar de umamaneira muito diferente a tão profundare<strong>org</strong>anização, ou tentativa de re<strong>org</strong>anizaçãodas práticas sexuais, indicada sensivelmentepela introdução do látex naintimidade das paixões) conseguiu retirarda homossexualidade todo mistério,banalizá-la completamente. Não dá vontade,certamente, de festejar, afinal foidivertido, mas tampouco de lamentar. Éque a homossexualidade não foi por sinaluma coisa tão maravilhosa quantoseus interessados apologistas proclamaram.Não há, em verdade, uma homossexualidade,mas, como diriam Deleuzee Guattari, mil sexos, ou pelo menos, atéfaz bem pouco tempo, duas grandes figurasda homossexualidade masculinano Ocidente. Uma, a das bichas loucasgeneteanas, sempre flertando com o masoquismoe a paixão de abolição; outra, ados gays à moda americana de erguidosbigodinhos hirsutos, desmoronando-sena sua condição de paradigma individualistano tédio mais abjeto (uma substituiçãodo matrimônio normal que conseguea façanha de ser mais aborrecidodo que ele). Arriscar-me-ia a postularque a reação de grande parte dos homossexuaisperante às campanhas de prevençãoestá sendo deixar de ter relaçõessexuais em geral, mais do que procedera uma mudança radical das antigas práticaspor outras novas "seguras", ouseja, com camisinha.A homossexualidade esvazia-se dedentro para fora, como uma luva. Não éque tenha sido derrotada pela repressãoque com tanta violência abateu-se so<strong>br</strong>eela (so<strong>br</strong>etudo entre as décadas de 30 e50, e, no caso de Cuba, ainda hoje é perseguida:uma forma torturante de queconserve atualidade e alguma frescura).Não: o movimento homossexual triunfouamplamente, e está muito bem queisso tenha assim acontecido, no reconhecimento(não isento de humores intempestivosou tortuosos) do direito à diferençasexual, grande bandeira da <strong>br</strong>igalibidinal do nosso tempo. Há que reconhecê-loe passar a outra coisa. Já o movimentodas bichas (não só político, mastambém de ocupação de territórios: um


verdadeiro Movimento ao Centro) começoua se esvaziar quando as bichasloucas foram virando menos loucas e,hirtos os buços, a se integrarem: o dilatadoenredo que fundia aos amantes doidêntico com as mais heteróclitas, delirantese perigosas marginalidades, começoua rachar à medida que os veadosganharam terreno na vida social. O episódioda AIDS é o golpe de graça, porquemuda completamente as linhas dealiança, as divisórias de águas, as fronteiras.Há sim discriminação e exclusãocom relação aos doentes de AIDS, maseles - lem<strong>br</strong>e-se - não são somente bichas.Esse estigma parece ter mais a vercom o escândalo da morte e sua proximidadenuma sociedade altamente medicalizada.Sua promoção aterroriza e servepara acabar de limpar de vez osantigos poros tumefactos e purulentosque a perversão sexual ocupava, nosquais ria com o riso das duas Divine (amaricona de Nossa Senhora das Flores, aimensa travesti americana). Aliás, com achegada da visitante inesperada (assimse chama a última peça de Copi), os antigosvínculos de socialidade, já desmanchadospela que<strong>br</strong>a dos laços marginaisde que falávamos, terminam de afundare de desabar. Ocorre que com a AIDSmudam as coordenadas de solidariedade,que deixam de ser internas ao guetodos entendidos, como sucedia durante aperseguição, para passar por cima ao setorhomossexual e transbordá-lo por todasas partes. Assim, percebe-se que sãode um modo geral as mulheres (as mulheresmaduras) as que se solidarizamcom os "aidéticos", enquanto seus colegasde salão fogem apavorados.Toda essa promoção pública da homossexualidadeque agora, por ser tãoabundante e pesada, se afunda, não foiem vão. Ela contribui a dispersar as concentraçõesparanóicas em torno da identidadesexual, trazendo a reiterativa discussãoso<strong>br</strong>e a identidade às salas de verTV, até que todo mundo percebesse asua estupidez essencial; fazendo isso,acabou favorecendo certo modelo de androginiaque não passa necessariamentepela prática sexual. Em outros termos:as bichas foram as primeiras a usar <strong>br</strong>inquinho;agora pode-se usar <strong>br</strong>inquinhosem deixar de ser macho. Embora sermacho já não signifique muito. Em últimainstância, o desaparecimento dahomossexualidade não detém o devirmulher que o feminismo (mais um fóssilem extinção) inaugurara; pelo contrário,o consolida e o assenta, mais do queradicalizá-lo, e lima suas arestas pontiagudas.Entretanto, a saturação (por supuraçâo)desta engarrafada via de fuga intensivaque significou, apesar de tudo, ahomossexualidade, com sua sucessão devítimas e seus joguinhos de desafiar amorte (pensemos na peça de Copi, vítimade AIDS, Les Escaliers du Sacre Coeur.uma coorte de travestis, bofes, malandrose policiais <strong>br</strong>inca de desafiar a mortenas escadarias da catedral, que funcionacomo fundo longínquo; desafioque a chegada da morte em massa tornoudesnecessário, entre maca<strong>br</strong>o e ridículo),favorece que sejam procuradasoutras formas de reverberação intensiva,entre as quais deve-se considerar aatual promoção expansiva da mística edos místicos, como maneira de viver umêxtase ascendente, num momento emque o êxtase da sexualidade torna-se,com a AIDS, totalmente descendente.Com o desaparecimento da homossexualidademasculina (a feminina, é importanteesclarecer, continua em certomodo seu crescimento e sua extensão,mas num sentido que parece mais decorporação de mulheres que de desquíciodionisíaco), a sexualidade em geralvai-se tornando cada vez menos interessante.Um século de foda terminou porfartar-nos. Não é casual que a droga(ainda que sejam seus piores usos) ocupecrescentemente o centro das atençõesmundiais. Apesar de tudo, a droga (oupelo menos certas drogas, os chamadosalucinógenos) aproxima ao êxtase e conclama,em que pese aos malucos históricos,algum tipo de ritualização que a explosãodos corpos em libertinagemdesavergonhada nunca se propôs (emborajá uma heroína de Sade proclamava:"até a perversão exige certa ordem").Abandonamos o corpo pessoal. Trata-seagora de sair de si."Este artigo também foi publicado noJornal "Nós por exemplo", do NOSS(Núcleo de Orientação em Saúde Social)do RJ.Nestor PerlongherPoeta e antropólogo. Professorda UNICAMP1 Ver o artigo de Sllvère Lotringer, "DefunktSex", in Polisexuality, Semiotex(e), Vol. IV, n 5 1,Columbia University, New York, 1981.2 Além da História da Sexualidade Vol. 1 deFoucault, pode-se ver o livro de Alberto CardlnChamanes, Guerreros y Travestis, Barcelona,Tusquets, 1984, bem como o de Guy Hocquenghem,Race d'Ep'., Paris, Li<strong>br</strong>es Hailier,1979. Para um panorama geral, ver, de PeterFry e Edward MacRae, O que é homossexualidade,S. Paulo, Brasiliense, 1983.3 Deleuze, Gilles: Pourparlers, Paris, Minuit,1990.Nesta apresentação, examinarei algunsdos elementos específicos dasexualidade dos meninos de ruano Brasil urbano contemporâneo, afetadapelo contexto sócio-econômico.mais amplo.Enfatizarei o fato de que a sexualidadedesse grupo não pode ser descrita de formamonolítica e sim como uma grande variedadede práticas, valores e representações que,por um lado, funcionam como um sistemaauto-sustentado com sua diversidade internae, por outro lado, justapõem-se às da sociedade<strong>br</strong>asileira como um todo.Desse modo, devemos fazer uma referênciaespecial à prostituição de crianças, pois éuma realidade dramática com números significativosque afeta muitas delas desde osoito anos de idade. Seu envolvimento com aprostituição começa nas ruas, nos bordéis,clubes ou casas de massagem, s vezes, os paisfazem com que as próprias filhas se envolvamcom a prostituição para sua própria so<strong>br</strong>evivência,bem como a do resto da família;nas áreas de garimpo, é comum os pais venderemsuas jovens filhas por algumas gramasde ouro para o uso sexual dos garimpeiros.Como isso tudo gera uma problemáticaespecífica de adolescentes de rua?Antes de prosseguirmos, devemos observarque o conceito de adolescência que geralmenteconsideramos não é universal, masbastante moldado com base na experiênciada classe média e da classe trabalhadora dospaíses desenvolvidos. Nos países em desenvolvimento,e de acordo com as leis da misériaeconômica, as crianças raramente têm aoportunidade de viver uma infância saudável,sendo forçadas a assumir diretamente ospapéis e responsabilidades de adultos, inclusivea do trabalho.Além disso, nas condições de vida po<strong>br</strong>es,alguns dos problemas que afetam essegrupo etário podem ser vividos de uma formamais dramática. O incesto e a violênciasexual contra crianças são um exemplo dessesdramas. Só no Brasil, 9,1 milhões decrianças são vítimas da violência sexual. Asjovens violentadas por homens mais velhos,muitas vezes amigos e parentes, são lançadasao papel duplo de crianças confusas/violentadase mulheres prematuramente dentes dasua sexualidade. A falta de recursos para lidarcom essa situação ajuda a esquecer oabuso e a implementar sua condição de marginalidade,já vivida devido ao dano emocionale físico.Desde a mais tenra idade, os meninos quevivem na rua usam o sexo como a linguagemprimária para comunicar-se com seus companheiros,bem como com o mundo adultoindiferente. Essas crianças e adolescentes sãopressionados socialmente a usar seus corposcomo uma forma de criar ligações sociais, envolvendo-sepor vezes, com a prostituiçãocomo a última alternativa de so<strong>br</strong>evivência.Além do mais, as crianças tendem aagrupar-se para dormir, a fim de promoveruma sensação de segurança, pois suas vi-


A sexualidade dosmeninos de ruadas estão constantemente ameaçadas. A políciae o crime <strong>org</strong>anizado são co-responsáveispelo assassinato de muitos meninos de rua.A iniciação precoce à vida sexual é, portanto,um fato. No contexto da sociedade<strong>br</strong>asileira, a vida sexual prematura tambémimplica uma série de problemas, como morteprematura devida a abortos: de 3 milhões deabortos ilegais, 700 mil foram feitos por adolescentes(BENFAM 86).A iniciação à vida sexual, nesse contexto,não é uma questão isolada. Muitas formas deinteração sexual prevalecem entre os gruposde meninos de rua. A intimidade e o erotismosurgem em algumas nuanças diferentes, quenão se mantêm estáticas, mas mudam com otempo e com as situações específicas. Portanto,não é apenas difícil, mas também incorreto,descrever em categorias rígidas a sexualidadedas crianças e adolescentes de rua.Os corpos se tocam, os sentimentos maisíntimos são compartilhados, a vida diáriaacontece de uma forma certamente diferenteda prevista pelas estruturas domésticas tradicionais.Entre as crianças e adolescentes,são criados alguns elos que repetem ou subvertema ordem familiar, muitas vezes mantendoseus valores mais conservadores. Elaspodem se relacionar como "mães", "filhos","colegas", "líderes" e alguns outros tipos eestereótipos influenciados pelos personagenssociais que podem variar da "üa" bondosaao conhecido e temido traficante dedrogas, ou mesmo a polícia, todos parte dorepertório usado pelas crianças para autoidenüficação.Algumas crianças e adolescentesengajam-se em relações estruturais permanentese algumas as evitam.O sexo se dá entre essa diversidade de relacionamentose numa série de formas. Mesmosendo a intimidade física compartilhadaatravés da proximidade, toques, a<strong>br</strong>aços ebeijos, a representação da interação sexual dáprioridade ao sexo genital e às emoções (tantode amor quanto de raiva) que devem sermostradas através de mensagens físicas clarase imediatas. Isso é parte de umaatmosfera mais ampla de gratificação imediata,na qual ninguém sabe o que vai acontecerem seguida e na qual as crianças desejamque as coisas sejam feitas de imediato. Acomida deve estar lá quando sentirem fome,o sexo deve acontecer quando sentirem desejo,a agressão é uma resposta imediata a suafrustração, os a<strong>br</strong>aços e beijos devem ser dadospara provar afeto e o comportamentoauto-destrutivo é a atitude mais comumquando os sentimentos são confusos ou contraditórios.O sexo se dá nas ruas, em espaços públicos,onde os cantos escuros ou malocas oferecemo mínimo de privacidade. Algumas dessasinterações tornam-se relações maisestáveis e alguns casais têm filhos, que vivemcom eles ao ar livre. Contudo, mesmo queessa forma de conjugalidade prevalesçacomo um ideal, muitos outros üpos de interaçãosexual coexistem.O sexo com vários parceiros é uma formacorrente, principalmente para os homens.Nessa mesma linha, o poder dentro do grupobaseia-se freqüentemente no conceito demasculinidade, este em si baseado em grandeparte no nível de atividade sexual do indivíduo.Dessa forma, o menino de rua podeelevar sua posição social e poder no grupomantendo vários parceiros, sejam eles meninosou meninas.O sexo entre crianças do mesmo sexotambém é comum, não sendo necessariamentevisto como homossexualidade. O conceitode homossexualidade, nas interaçõesdas crianças de rua, tem suas percepções especiais:por um lado, há toda uma linguagemde preconceitos relativos a identidades homossexuais;por outro, há vários comportamentosaceitos dentro do mesmo sexo quecorrespondem a práticas homossexuais. Essadistinção vem de uma configuração maisampla da cultura e ideologia <strong>br</strong>asileiras contemporâneas,da qual os meninos de ruamuitas vezes adotam os aspectos ideológicosmais conservadores (mesmo os que questionamsuas práticas e sua própria existência).No caso das meninas, que muitas vezesencaram a verdadeira ameaça de violência físicaou estupro na família ou pelos seus amigosnas ruas, estabelecer uma relação comoutras meninas pode não ser necessariamenteuma definição de orientação sexual. Essarelação oferece acima de tudo a proteção eafeto necessários, sem ameaçar seu bem-estar.A homossexualidade, segundo vista pelasadolescentes que vivem nas ruas, é emgrande parte conceitualizada de acordo como tipo de código de interação com amigas definidopelo grupo, em vez das atividades ouopções sexuais envolvidas. Por exemplo,duas meninas podem ter abertamente umcompromisso íntimo sem serem consideradaspelo grupo como sapatóes; contudo, se aquestão da possessividade surgir através deum comportamento identificado como ciúmepor parte de uma das meninas, essa meninaserá rotulada de sapa tão.Assim como no caso das meninas, as atividadessexuais entre meninos que vivemnas ruas são difusas. Mais uma vez, os códigosdefinidos pelo grupo determinam aidentificação ou não desse indivíduo comohomossexual. Contudo, os meninos se identificam.Por exemplo, o troca-troca (sexo entrehomens com alternância dos papéis desempenhadospelos parceiros) é tanto umaforma de liberação sexual quanto de manutençãoda identidade masculina (pois elesalegam que a masculinidade implica constanteperformance sexual) num ambiente noqual as meninas são minoria (cerca de 10%).Além do mais, assim como as meninas usamseu corpo como instrumento de so<strong>br</strong>evivência,alguns meninos também comercializamseus serviços sexuais para homens mais velhos.Nessa situação, o simples fato de um rapazestar envolvido numa relação sexualcom outro rapaz, só pelo dinheiro, é vistocomo uma atividade de so<strong>br</strong>evivência, nãouma opção sexual.Contudo, a atividade sexual é manifestadapelas meninas e meninos que vivem nasruas como algo de que "precisam" para"sentir-se bem". Mesmo quando descrevemuma experiência sexual como dolorosa, elesnormalmente a aceitam como uma forma de"receber algo", pois ser desejado fisicamen-


te eqüivale a ser amado emocionalmente.No caso da violência, contudo, o sentimentode humilhação muitas vezes levaessas crianças e adolescentes a comportamentosauto-destrutivos: uso de drogas eauto-mutilações com lâminas e cacos devidro.Embora os meninos de rua não possamser considerados um grupo homogêneo,têm uma origem sócio-cultural comum.Vêm em grande parte dos setores mais vulneráveisda sociedade: lares mais po<strong>br</strong>es ecom apenas o pai ou a mãe, pais desempregados,migrantes recentes, minorias étnicas(em lugares como o Rio e Salvador, a <strong>maioria</strong>das crianças de rua são negras, revelandoo apartheid social que prevalece secretamentena sociedade <strong>br</strong>asileira; no sul do Brasil, ascrianças de rua são louras e de olhos azuis,pois são descendentes da população de imigranteseuropeus).A identidade desse grupo é construídacom a justaposição de muitos personagensdiferentes e valores contraditórios, tomadosde empréstimo da ideologia dominante ouda sua própria experiência de vida.A identidade e interações sexuais dentrodo universo da rua são afetadas diretamentepelas regras do ambiente social, que geramhabilidades de so<strong>br</strong>evivência específicas.Dentro desse processo de busca de identidade,constrói-se uma sexualidade da so<strong>br</strong>evivência.A ausência de qualquer tipo de apoio familiarou social, aliada ao preconceito e à desinformação,leva os adolescentes marginalizadosa um alto grau de ignorância comrelação às funções de seus próprios corpos.Esse problema afeta principalmente as jovens,que já estão numa posição mais vulnerávelpara viver em um espaço tradicionalmentedominado por meninos.Nesse ambiente, os meninos de rua precisamter o direito e as condições adequadasde exercer seus direitos de cidadãos. Se nãohouver mudanças significativas no ambientesócio-econômico, a sexualidade dos meninosde rua continuará social e economicamenteexplorada.Por último, uma observação so<strong>br</strong>e autocríticaque deveria fazer parte do em<strong>br</strong>ião dequalquer reflexão social: a qualidade de nossaabordagem, bem como as nossas própriasvisões so<strong>br</strong>e as emoções e comportamentosdos jovens que vivem em situações de grandesriscos sociais, compreendem nossos própriospreconceitos culturais e de classe. Paratermos uma visão mais realista e profundada sexualidade dos meninos de rua, devemosprimeiramente estar cientes da necessidadeprimordial de promover um apoio concretoque possa realmente capacitá-los aserem os autores de suas próprias histórias.Ana FagueirasCoordenadora do Centro Brasileirode Defesa dos Direitos das Criançase Adolescentes do R]O legado do movimentohomossexualFaz aproximadamente 14 anos quecomeçaram a se reunir em SãoPaulo os integrantes do Grupo<strong>Somos</strong>, o primeiro grupo homossexual<strong>org</strong>anizado <strong>br</strong>asileiro. Seguiam os ideaisde militância que se alastravam pelomundo na década de 70, procurando um"terceiro caminho" para a atividade política.Abandonando a dependência dospartidos tradicionais, tanto de direitaquanto de esquerda, surgiam então novosmovimentos sociais com propósitosimediatistas para a resolução de problemasespecíficos.Imbuídos da idéia de que o privadotambém é político, procuravam não só efetuarmudanças na <strong>org</strong>anização da socie-dade, mas também nos relacionamentospessoais entre os indivíduos. Novas formasde convivência e participação eramgestadas no interior de tais movimentos,na tentativa de estabelecer práticas igualitáriasnormalmente implícitas na noção de"comunidade".Nesses movimentos, a construção de umespaço igualitário de comunidade não se dápela posse de atributos comuns, mas, aocontrário, pela definição de uma mesma carência.Sendo a comunidade definida poruma experiência comum de discriminaçãoou opressão, só podem ser reconhecidoscomo mem<strong>br</strong>os plenos aqueles que compartilhamdesta condição, vivendo pessoalmenteo problema.8


Desta forma, o <strong>Somos</strong>/SP exigia que todosseus integrantes exibissem uma mesmaidentidade de discriminação e a igualdadepromovida dentro do grupo era erigidacomo valor fundamental para todos os aspectosda vida de seus integrantes. Buscavaseapagar ou neutralizar qualquer diferençamais importante que surgisse entre eles, fosseem termos econômicos, etários ou até dehabilidade <strong>org</strong>anizacional.Afirmava-se também que relacionamentoshomossexuais, ao envolverem pordefinição indivíduos do mesmo gênero(confundindo-se aí sexo fisiológico e papelde gênero), evitariam a desigualdade depoder inerente aos relacionamentos heterossexuais,tornando os homossexuaisespecialmente aptos a relações democráticas.O exemplo do <strong>Somos</strong>, difundido principalmentepelo nanico Lampião, logo sealastrou pelo Brasil, chegando a existir 20grupos de militância homossexual no paíspor volta de 1980. Embora cada um exibisseparticularidades próprias, quase todosoptavam por experimentar formas de <strong>org</strong>anizaçãoque evitassem ao máximo aconstituição de "novas estruturas de poder",procurando promover relações ultraigualitáriasentre seus militantes, mesmoàs custas de uma baixa eficiência.O resultado disso logo era sentido, poisos grupos mostravam grande dificuldadeem extrapolar seu campo de atuação paraalém das reuniões internas, invariavelmentecentradas em torno de desavençaspessoais entre os militantes, muitas vezesresultantes da gradual constituição de umaliderança informal difícil de controlar, umavez que sua própria existência era negada.A esses efeitos desagregadores vieramsomar-se outras dificuldades enfrentadaspelos grupos homossexuais. Era muito difícil,por exemplo, sustentar uma campanhaprolongada contra um alvo tão difusoquanto o preconceito anti-homossexual.No Brasil, ao contrário de outros países,havia poucas leis que proibissem esse tipode relação, faltando assim um objetivo claroque servisse para aglutinar uma açãomilitante. As relações ambíguas estabelecidascom um Estado de natureza multifacetadae com as <strong>org</strong>anizações político-partidáriasserviam para aumentar ainda maisa confusão na localização de adversários aserem combatidos.As desavenças intra e intergrupais tornaram-secada vez mais marcadas e o movimentohomossexual logo deixou de serum refúgio onde indivíduos pudessem explorare desenvolver livremente sua homossexualidade,para se tomar um campode batalha. Concomitante ao crescimentodesse movimento, desenvolviam-se tambémuma série de atividades comerciaisvoltadas a esse mercado, e logo, os novosbares, discotecas e saunas gays passaram aapresentar espaços de socialidade homossexualmuito mais atraentes que as <strong>org</strong>ani-zações políticas. Assim, em pouco tempo,a <strong>maioria</strong> dos grupos de militância homossexualentrou em colapso, so<strong>br</strong>andoapenas uns poucos que, coincidentementeou não, eram freqüentemente acusados deserem mais "autoritários" ou "personalistas"por não terem aderido plenamenteaos ideais ultra-democratizantes.Hoje so<strong>br</strong>evivem apenas alguns poucosgrupos, como o Atobá no Rio de Janeiro e oGrupo Gay da Bahia, em Salvador. Masapesar da <strong>br</strong>eve duração da <strong>maioria</strong> dosgrupos e dos desentendimentos entre eles,o movimento homossexual deixou um legadoimportante.Criou-se a idéia de que os homossexuais,além de não deverem ser discriminados enquantocidadãos, teriam até direitos específicos.Obteve-se assim o reconhecimento oficial,por parte do Estado, do Grupo Gay daBahia e do Grupo Triângulo Rosa, comoagremiações declaradamente homossexuais.Também se conseguiu o reconhecimentoda homossexualidade como expressãosexual legítima e a revogação de suaclassificação como "desvio e transtorno sexual"no código de doenças do Inamps. Diversosmunicípios incluíram em suas constituiçõescláusulas proibindo a discriminaçãodevida à orientação sexual e até o código deética dos jornalistas agora veda a perseguiçãoou discriminação por esse motivo. Infelizmente,muitas dessas conquistas são meramenteformais e são regularmentedesacatadas. Servem porém para confirmarcertos princípios e talvez num futuro aindaimprevisível venham a exercer um controlemais afetivo so<strong>br</strong>e a convivência social.Mas é inegável a eficácia dos grupos homossexuaisem vários sentidos. Talvez aprincipal tenha sido a construição de redesde sociabilidade unindo (e também promovendo)um novo tipo de homossexual quenão é dominado por sentimentos de culpa enão se considera doente ou anormal. Mesmodepois de cessadas as atividades declaradamentemilitantes, essas redes têm so<strong>br</strong>evividoe, freqentemente, tem sido cruciais na vidade muitos de seus participantes, influindo naescolha de moradia, de emprego, de atividadesde lazer e de opção política.O advento da AIDS tem em alguns casosvoltado a mobilizar essas redes de sociabilidade.A inauguração do primeiro programaoficial de combate à AIDS no Estado de SãoPaulo foi resultado, por exemplo, da movimentaçãode antigos militantes do <strong>Somos</strong>que sensibilizaram o recém-empossado GovernoMontoro para a importância do tema.Nos casos de indivíduos portadores doHIV, a adoção de uma identidade homossexuale a integração neste tipo de rede tem sidoimportantes para uma melhor gestão das crisesde saúde resultantes.Do ponto de vista político e social, a atuaçãodos militantes homossexuais serviu, também,para tomar a homossexualidade mais"respeitável" ou legítima e, hoje, muitas autoridadespolíticas, médicas ou acadêmicas, po-dem fazer declarações de apoio ao estilode vida homossexual sem maiores constrangimentos.Isso adquire uma importânciacrucial com o surgimento da AIDS,quando apesar da persistência generalizadade preconceitos anti-homossexuais entremédicos e outros profissionais da saúde,os programas oficiais têm sido o<strong>br</strong>igadosa reconhecer a legitimidade social do comportamentohomossexual e a necessidade dese respeitar os direitos de cidadania dos seuspraticantes.Edward MacRae é Antropólogo, autor dolivro A construção da igualdade, editoraUnicamp.Proteção arriscadaO ex-ministro ciclista e super-faturado, escudadopelo também ex-diretor da Coordenaçãode DST/AIDS do Ministério da Saúde, delinqüentementecriaram um falso problema em dezem<strong>br</strong>oúltimo: o Brasil não será cobaia das autoridadese dos programas da OMS noexperimento de vacinas (preventivas e terapêuticas)contra o HIV/AIDS. Foi assim alimentadauma discussão ociosa so<strong>br</strong>e a soberania nacional-.esquecendo-se dos barões da indústria químico-farmacêuticainternacional que vêem a AIDScomo um dos seus negócios mais rentáveis —, eforam desqualificados os profissionais de saúde<strong>br</strong>asileiros envolvidos neste projeto supranacional,que visa, entre outras coisas, desmercantilizaras epidemias de AIDS.A seleção do Brasil, como país candidatopara pesquisas de vacinas anti-HlV/AIDS, nãorepresenta uma imposição pela OMS, pelo contrário.O Brasil, conjuntamente com Uganda,Ruanda e Tailândia foram selecionados a partirde vários critérios que são necessários para o desenvolvimentode um ensaio clínico eficaz dasvacinas - ver Boletim e Cadernos pela VIDDA,edição espeáal, a<strong>br</strong>il de 7992.No país, de ministros imexíveis e incomparáveis,a sociedade é acordada por mais um escândalo:os preservativos em uso não passam nostestes de qualidade mais criteriosos. Além de seremos grandes ausentes das campanhas oficiais,os preservativos produzidos e vendidos por aquinão estão condizentes com as normas internacionais,principalmente quanto aos critérios de porosidade(presença de furos), volume de rompimentoe resistência à tração e deteriorização, queinvalidam do ponto de vista da segurança o usodo preservativo na prevenção ao HIV/AIDS.A denúncia e comprovação técnica de que cincodas sete marcas de preservativos comercializadosno país não garantem efetiva proteção à AIDS,não provoca nenhuma reação da Coordenação deDST/AIDS do Ministério da Saúde. Esta adota aestratégia do silêncio, esquecendo-se de que o silênciono caso da AIDS eqüivale a mortes.Quantos <strong>br</strong>asileiros mais precisam morrerpara que a Coordenação de DST/AIDS se sensibilizepara o desastre nacional que são as epidemiasde AIDS? Quantos <strong>br</strong>asileiros mais terãomorrido quando estas palavras aparecem impressas?Chega de perdas, não? Não são mais toleráveisos que não apoiam esta questão nem secomprometem com ela - A LUTA PELAVIDDA.


Conferência Internacional de AIDS, emFlorença, 1991, indicam que 70 a 80 porcento do total de infecções pelo HIV se dápor via sexual, e 60 a 70 por cento, porsexo vaginal; em números absolutos, entre250 e 500 milhões de heterossexuais estãohoje expostos a um risco alto ou moderadode aquisição da infecçáo, contra cerca dedez milhões de homossexuais masculinos,e até 5 milhões de usuários de drogas endovenosas'1 *.A existência da transmissão heterossexualbi-direcional é comprovada já há algunsanos (3 ' 4, . Até o que habitualmente sefala, quanto à necessidade de micro-lesõesda mucosa para permitir a infecçáo, não correspondenecessariamente à verdade. Tratasemais de uma dificuldade em conceituar omuito pequeno, e em querer que as coisas, anível microscópico, se dêem da forma comoas vemos, em grande aumento. Eqüivale, naverdade, em crer-se apenas no que se vê, ouse constata (o que dificulta a passagem donível clínico, individual, para o epidemiológico,coletivo). Portanto, se não se viu atransmissão heterossexual, ela não existe -uma inversão do postulado popperiano dafalsificação: segundo Popper, não é possívelafirmar que algo é verdadeiro, mas apenasprovar que um determinado conceito oufato é falso.Embora tenha-se associado epidemiologicamentea existência de ulcerações genitaiscom a transmissão do HIV, ela não écondição sine qua non, e nem o fato de ser arelação anal potencialmente mais traumáticaexplica necessariamente a correlação entrehomossexualismo e AIDS. A ocorrênciade infecçáo pelo HIV através de procedimentosde inseminação artificial - não traumáticos,até mesmo assépticos - já revelouisto (de novo) já há algum tempo.Na verdade, as mucosas do corpo - vaginal,retal, genital, oral ou outras - dispõemde um sistema imunitário local da maior importância:determinadas células especializadascaptam os agentes infecciosos, ou substâncias(antígenos) por eles produzidas nasuperfície das mucosas intactas, transportam-nospara o interior das mesmas, e osapresentam às células imunes (linfócitos),que existem em grande quantidade próximasa elas. Há então a produção local de anticorpos,secretados para a superfície da mucosa,com o eventual desenvolvimento deimunidade contra aquele mico<strong>org</strong>anismoespecífico.Este é um fenômeno bem conhecido poraqueles que se dedicam ao estudo das infecções,uma vez que, em geral, o melhor meiode se imunizar alguém é introduzir a vacinano <strong>org</strong>anismo pela via natural de infecçáo,como se faz com a vacina Sabin contra a poliomielite,empregada pela boca. Este fato émuito importante, pois existe a possibilidadede que uma eventual vacina contra o HIVsó venha a ser plenamente eficaz se administradadesta forma: por via vaginal, porexemplo.Sabe-se, hoje em dia, que aquelas célulasa que fizemos referência, chamadas de célulasde Langerhans, células dendríticas e célulasM, existentes na derme e nas mucosas,são capazes de serem infectadas pelo HIV,que nelas se multiplica em grande quantidade,e sem destruí-las. Estas células não só introduzemo vírus no <strong>org</strong>anismo, como propiciama sua multiplicação, e o transportamaté os linfócitos, permitindo portanto a infecçáodos linfócitos CD4 e, deste modo, do<strong>org</strong>anismo como um todo (2) .Por outro lado, confundir a absorção demoléculas de medicamentos com a de umacélula (grande) como um espermatozóide émá-fé científica - ou enorme desconhecimentodas bases da medicina. A absorção desubstâncias se dá em função de característicaspróprias das mesmas, pela existência demecanismos de transporte através da mucosa,e ainda pelo veículo em que a substânciaé administrada, entre outros fatores, e nãonecessariamente pelo tipo histológico do revestimentoepitelial da pele ou da mucosa.A explicação a que nos referimos acima,de que o reto "absorveria" melhor as substâncias,e portanto seria uma porta de entradamais fácil para o HIV, representa umatentativa, ainda que involuntária, de restringiro risco da AIDS a um determinado grupo:homens e mulheres que praticam sexoanal.Vagina e reto têm algumas condiçõesanatômicas e fisiológicas próprias que por sisós explicam uma maior predisposição parainfecçáo do que o pênis: com o seu pregueadomucoso interno, apresentam uma superfícieexposta aos agentes infecciosos muitomaior que a do pênis; sendo cavidades,mantêm claramente uma maior quantidadede sêmen em seu interior do que o pênis emsua superfície, e, em seu interior, os micro<strong>org</strong>anismosencontram condições muito maisfavoráveis para a preservação de sua infectividadepor um período de tempo maior.A reação àquelas informações pseudocientíficaso<strong>br</strong>igou ao surgimento de desmentidosparciais, em que se transformava adescoberta em algo mais simples: havia-severificado, apenas, que a transmissão na direçãomulher-homem era menos eficientedo que no sentido inverso. Ora, seria de espantarse assim não fosse.Não existem estudos experimentais, analisandoa eficiência da transmissão do HIV, enem seria éüco fazê-los. No entanto, pesquisasanteriores, referentes a outras doençasde transmissão sexual (como a sífilis e a gonorréia)revelam, de modo consistente, queé mais fácil infectar a mulher que o homem,e não se esperaria que para o HIV a situaçãofosse diferente. Este conhecimento é tambémantigo.Por outro lado, a probabilidade de transmissãodo HIV em uma única relação sexualé baixa, da ordem de 0,1 a 1%, o que nãopode ser motivo para atitudes temerárias oucomplacentes em relação ao sexo desprotegido,mas que explica facilmente porqueuma série pequena de observações podedar um resultado negativo, em termo daocorrência de transmissão.O que o distinto público nãoviu (porque não lhe foimostrado)Esta nuvem de fumaça de gelo seco, coloridapela arrogância acadêmica, pelo sensacionalismoe pela extraordinária fragilidadeda mídia <strong>br</strong>asileira ao tratar de assuntoscientíficos (reflexo, certamente, da fragilidademesma da ciência <strong>br</strong>asileira, aliás fartamenteexposta no episódio) impediu, comodito acima, que se discutisse seriamente oque há de subjacente ao fato lamentável dainfecçáo do jogador: a transmissão heterossexualdo HIV vem aumentando em todo omundo, inclusive nos Estados Unidos, e oreconhecimento disto no Brasil não atrapalhao nosso jogging semanal na direção doPrimeiro Mundo.Também no Primeiro Mundo, e não sóno Brasil e em outros países, a epidemia sedesloca na direção das camadas socialmentemais desfavorecidas da população: no sentidodas minorias raciais, das mulheres, dascrianças, dos mais po<strong>br</strong>es, da população dasruas e de todos aqueles que têm dificuldadeem exercer os seus direitos de modo pleno."Magic" Johnson é negro. Do total de192.406 casos de AIDS registrados nos EstadosUnidos de 1981 até setem<strong>br</strong>o do anopassado(5), 54.701 ocorreram em pessoas deraça negra: cerca de 28% do total, muito acimada participação da raça na composiçãoétnica da população americana (em torno de12%). Do mesmo modo, os latinos (ou hispânicos:6% da população), com 16% do totalde casos, estão representados em excessonas estatísticas do Centro de Controle deDoenças (CDC), repartição do governo americanoencarregada das estatísticas oficiaisso<strong>br</strong>e doenças de importância sanitária. Estasminorias, sabidamente desfavorecidasnaquele país, estão, portanto, submetidas aum risco aumentado, em relação à população<strong>br</strong>anca, majoritária.As mulheres destas minorias raciais tambémsão mais afetadas: nos casos registradosde AIDS, a relação homem/mulher nosEstados Unidos é em torno de 9/1 (semelhanteà do Brasil, portanto). Na população<strong>br</strong>anca, esta relação sobe para 19/1 - e, entreos negros, despenca para 4/1, assumindonos latinos uma posição intermediária.Quanto às crianças (que representam 1,7%do total de casos, comparável portanto aos1,88% da estatística mais recente do Ministérioda Saúde do Brasil), as negras somam53% do total - e as hispânicas, 25%.A transmissão heterossexual, que até oinício de 1988 era responsável por 4% doscasos, representa hoje cerca de 6% do total(um aumento de 50%) - e, como estes dadossão cumulativos, é forçosamente maior doque isto, hoje em dia. Entre os <strong>br</strong>ancos, o11


percentual é de dois por cento; entre os latinose os negros, 7 e 12 por cento. Estasduas categorias étnicas, somadas, compreendem82% do total de casos de transmissãoheterossexual entre homens, naquelepaís.O final do espetáculoEste nosso exercício de numerologia(modismo tão ao gosto de nossa elite dirigente),terá revelado o que se vislum<strong>br</strong>a,mas que se elidiu da discussão: "Magic"Johnson não é apenas uma grande figura esportivaque contraiu o HIV, mas um símbolode uma tendência mundial de disseminaçãoda pandemia, e dos rumos que ela temtomado, dentro da população geral.Todos gostaríamos que a AIDS fosse algopassageiro, e todos esperamos a sua cura oua sua prevenção, logo. No entanto, enquantoisto não sucede, é preciso que tenhamos presentea magnitude deste problema, e evitemosque ele seja minimizado, em qualquercircunstância.A questão da transmissão heterossexual,como foi posta no episódio, vem a ser exatamenteisto - uma tentativa de reduzir o alcanceda epidemia dentro da sociedade. Namedida em que a doençça não atinge heterossexuais,estará restrita portanto aos gruposde risco clássicos, e aqueles que não sejulgam expostos estarão deso<strong>br</strong>igados demedidas preventivas. Uma posição confortável,embora um pouco parecida com a doavestruz (que não é bicho que se tire de cartola).Em outras palavras, a reação de negaçãoclássica. E, no caso específico, com aspectosparticularmente favoráveis àexibição de cenas de machismo explícito.As conseqüências do episódio forammuitas, e seus efeitos, infelizmente, se farãosentir por muito tempo. Em primeiro lugar,houve um grande enfraquecimento daspoucas campanhas educativas que se fazemno País. Baseadas, como devem estar, nasnoções de que deve-se reduzir o número deparceiros e praticar o sexo seguro, e de que atransmissão heterossexual aumenta, a negaçãopública desta torna sem base as recomendaçõesanteriores. Isto atinge principalmente,é claro, os heterossexuais, grupomenos mobilizado para o problema, até omomento, e portanto vítima mais fácil destafalsa controvérsia.Em segundo lugar, sofrem as mulheres (e,por extensão, as crianças). Grupo de posiçãodependente, principalmente em nossa sociedade,não tem a mulher controle absoluto so<strong>br</strong>eo número de parceiras(os) que o seu parceiroteve, ou tem. A solicitação por sua partede sexo com proteção de preservativos, nestecontexto, gera quase sempre conflito e, muitasvezes, a<strong>br</strong>e a possibilidade da violênciaou abandono, em geral com conseqüênciaspara os filhos, se existentes.Numa situação de resistência à adoção depreservativos por parte dos homens, tentarinduzi-los a seu emprego, quando não sejulgam ("cientificamente") sob risco éuma tarefa muito difícil para a mulher, jáque isto será percebido como prova dedesconfiança no comportamento sexual(leia-se, na masculinidade) do parceiro.Por último, concretamente: nas noites edias subsequentes ao anúncio da impossibilidade"técnico-científica" da transmissãomulher-homem, vários, muitos <strong>br</strong>asileiros e<strong>br</strong>asileiras se infectaram. Muitas criançasnascerão com o vírus, ou serão por ele postasem orfandade. Esta situação, que certamentese perpetua, é talvez o mais trágicoresultado da irresponsabilidade - ética,científica, médica e social - de todos os queincorreram naquelas declarações esdrúxulase levianas so<strong>br</strong>e o assunto.Uma constatação surgiu, que poderá serpositiva, caso bem explorada: não houvediscussão científica ou acadêmica da questão.A imprensa médica nacional é lenta,desprestigiada, de pouca penetração, e dominadapelos interesses comerciais dos laboratóriosfarmacêuticos, a que serve, praticamentesem exceções. O descaso so<strong>br</strong>e aquestão da informação na saúde pode servisto se relem<strong>br</strong>amos que, antes de interessar-sepelas aplicações médicas de bicicletase guarda-chuvas, uma das primeiras medidasda administração do Sr. Alceni Guerrano Ministério da Saúde foi colocar em disponibilidadeos profissionais de biblioteconomialotados nos hospitais da rede federal -jáde si carentes de bibliotecas.Isto é também expressão da flagrante fragilidadecientífica de que sofremos, que já semencionou acima, muito bem demonstradapor recente trabalho publicado na revistaAIDS: consultando uma base computadorizadade dados bibliográficos, e analisandoum total de mais de vinte e quatro mil artigosso<strong>br</strong>e HIV/AIDS, publicados entre 1983e 1989, os autores revelam que menos de0,1% o foram em português (contra 2,5% emespanhol), numa clara medida da pouca credibilidadeda nossa ciência(6).Nenhum jornal solicitou a qualquercientista pátrio um artigo qualquer so<strong>br</strong>e oassunto (Um modelo <strong>br</strong>asileiro para a transmissãodo HIV, talvez) para publicação emsuas páginas de opinião, ou em seus cadernosde cunho mais cultural ou intelec-Revivaltual. Poucas, tímidas, foram as cartas demédicos dirigidas aos órgãos de comunicação;estas mesmas, em geral, tibiamenteapologéticas, ou ativamente arrogantes.O conhecimento do estado de portadorde uma pessoa, so<strong>br</strong>e sempre ser um dramapessoal, é algo a ser comunicado apoucos, pelos sabidos riscos sociais e emocionaisque implica para o indivíduo.Por isso, quando uma figura de relevopúblico admite abertamente esse seu estado,admira-se-lhe a coragem, e se aproveitaa comoção pública causada para, por todosos meios e modos possíveis, aumentaro alerta da sociedade so<strong>br</strong>e o problema.No Brasil, no caso de "Magic" Johnson,estas oportunidades foram desperdiçadas,e desapareceram por completo - comonum passe de mágica.1. Chin, J. - Present and Future Dimensions ofthe HIV/AIDS Pandemia. Em G.B. Rossi, E.Beth-Giraldo, L. Chieco-Blanchi, F. Dianzani,G. Giraldo e P. Veroni (editores): Science ChallengingAIDS. Proceedings Gased on the VU InternationalConference on AIDS, Florence, June16-21, 1991. pp. 33-50. Karger, Basiléia, 1992.2. Haseltlne, W.A. - Molecular Biology of lheAIDS Virus: Ten Years of Discovery - fíope forthe Future. Em G.B. Rossi, E. Beth-Giraldo, L.Chieco-Bianchi, F. Dianzani, G. Giraldo e P.Veroni (editores): Science Challenging AIDS.Proceedings Gased on the Vil International Conferenceon AIDS, Florence, June 16-21, 1991. pp.71-106. Karger, Basiléia, 1992.3. Holmberg, S.D., Hornsburgh, CR., Ward,J.W. Jaffe, H.W. Biologic Factors in lhe SexualTransmission of Human Immunodeficiency Virus.Journal of Infectious Diseases 1989; 160:116-125.4. Peterman, T.A., Stoneburner, Allen, J.R. et.ai. - Risit of Human Immunodeficiency VirusTransmission from Heterossexual Adults withTransfusion-Associated Infectious. Journal of theAmerican Medicai Associatlon 1988; 259:55-58.5. Statistics from the Cenlers for Disease Control.AIDS 1991; 5:1545-1547.6. Elfond, J., Bor, R., Summers, P. - Researchinto HIV and AIDS between 1987 and 1990: TheEpidemic Curve. AIDS 1991; 5:1515-1519.Celso Ferreira Ramos FilhoProfessor Adjunto da Faculdade deMedicina da UFRJ e Coordenador Geral doPrograma SIDA/AIDS da UFRJQuarta-feira de cinzas. Ressaca da apoteose nacional. Enquanto no Rio há a consagraçãooficial do enredo Paulicéia Desvairada, em Brasãia o bloco do arrastão na Esplanadados Ministérios continua saindo às ruas: é anunciada a exoneração do diretor daCoordenação de DST/AIDS, esperada desde dezem<strong>br</strong>o, pelo menos. A solidão do ex-diretorera notória e não gratuita. A surpresa, se podemos nos surpreender no país deCanapi, é o retorno de Lair de Macedo Guerra à direção da Coordenação de DST/AIDS,deixando o seu auto-exílio voluntário de quase dois anos em Washington, D.C.De imediato, ficamos na espectativa da reestruturação da Coordenaçção deDST/AIDS para que possamos conjuntamente, num futuro que esperamos seja <strong>br</strong>eve,estabelecer um programa emergencial para o enfrentamenlo global das epidemias deAIDS no Brasil.12

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