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Sem título-4 - Visão Judaica

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VISÃO JUDAICA • outubro de 2007 • Chesvan / Kislev • 5768Inquisição à mesa9*Breno Lerner éeditor e gourmand,especializado emculinária judaica.Escreve pararevistas, sites ejornais. Dáregularmentecursos eworkshops. Temtrês livrospublicados, doisdeles sobreculinária judaica.Breno Lerner *Em poucos momentos da históriada humanidade, a comida teve tantodestaque como no final da Idade Média.Por um lado, o mundo era vasculhadoa procura de especiarias e temperos,por outro, logo após as grandesdescobertas, a malfadada Inquisiçãoutilizava os hábitos culináriosdo cidadão como forma de denúnciade suas convicções religiosas.Joana Fernade, de Mathoim – Bahiafoi denunciada , em 1560, por suamucama, por “fritar cebolas em óleo edepois jogá-las numa panela com carnepara todos comerem. Foi retornada aPortugal...” (Denunciações 25 pg. 261)Nesta época, uma cozinha quaseúnica, uniu as velhas receitas dospaíses do Oriente, com as novas técnicase temperos desenvolvidos e descobertospelas, então, duas grandespotências da terra.O arroz, laranjas, alcachofras,amêndoas, açafrão, alcarávia, alcaparrasentre outros, passaram a fazer partedos cardápios ibéricos.Novos pratos como o bolinho decarne (albóndigas ou yullica), o cozido(dáfina), conservas em açúcar (almíbar)ou em álcool, são frutos destaunião de técnicas e temperos.Dentre estes, de especial interesseaos brasileiros, está o cozido.Tradicional comida do Shabat, porser preparado de véspera, este pratosefaradi acabou influenciando e sendotransformado em pratos tradicionaisde cozinha italiana (bollito), espanhola(olla podrida, puchero, fabada)e portuguesa (cozido misto).Segundo Câmara Cascudo, em sua‘História da Alimentação no Brasil’, anossa feijoada é descendente direta docozido português, ao contrário do queafirmam alguns historiadores, que definemsua origem no aproveitamentodas partes menos nobres do porco pelosescravos, misturando-os com feijão.Uma tese da Escola de El Molino,o centro de pesquisa culinária de Granada,inclusive afirma que a dáfinacomeçou a ser preparada com porcopelos marranos, que faziam questãode mostrar sua aderência aos hábitosde sua nova religião.Nesta sociedade em ebulição, osjudeus de uma hora para outra, tiveramde adaptar e modificar seus hábitos,principalmente culinários, parafugir dos delatores e inquisidores.Uma das filhas de Manoel Fernandes,no Pernambuco, delatou suamadrasta, Clara, por ”comer frangofrio em fatias coberto por óleo aossábados...” (Primeiras Visitações,pg. 260/61)Recomendações quanto ao que comemas pessoas, se lavam e tiram aGravura britânica, publicada em Londres em 1756. O rei português, D. José I, frente a umaLisboa em ruínas, pergunta a um padre anglicano quais as causas do terramoto; osacerdote protestante mostra-lhe um “auto-da-fé”, dizendo que “queimar pessoas provocaa ira divina”. (Jan Kozak Collection, Universidade de Berkeley, Califórnia)(Fonte: Ruada Judiaria)gordura da carne e o nervo ciático,se evitam o porco, o coelho, mariscos,se comem ovos cozidos em velórios,se evitam principalmente alingüiça, eram feitas, ao povo, aosdelatores e inspetores.Uma das invenções dos entãocriptojudeus resultou na tradicionalalheira portuguesa. Para fingir quecomiam lingüiça, criaram um recheioque levava miolo de pão, alho eschmaltz (gordura de galinha), queera então preparado e comido comolingüiça. A alheira incorporou-se definitivamenteao cardápio lusitano,sendo considerada hoje, um dos pratostípicos de Portugal.O Pêssach tornou-se um pesadelopara os judeus e criptojudeus.Seguir todas as recomendaçõessobre a limpeza da casa e proibiçãode fermentados era praticamenteVJ INDICAHomem comumPhilip Roth – Companhia das LetrasLIVROautorevelar-se.Um curioso, embora triste, hábito,era coletar o chametz em casa,colocá-lo em um bolso com um furoe, disfarçadamente, deixá-lo escorrerpelas ruas.Datam desta época inúmeras receitasde como preparar o matzáem casa, o que normalmente erafeito à noite, nos porões.Um estudo feito pela historiadoraLinda Davidson revela que em47% das delações feitas para a Inquisiçãoportuguesa estava envolvidoum hábito culinário.Uma escrava denunciou Maria deLuna de Almazan (México) em 1505porque “ela me mandou assar seisou sete pães sem fermento e depoisserviu-os a alguns convidados...”(Carrondo/Conde, pág. 92)Andrés Bernardez, o assim chamadocapelão do Inquisidor Geral,recomendava em um de seus escritos:“Existe uma forma judaica decozinhar e comer, a que todos devemosestar atentos. Eles preparamseus pratos, principalmente a carne,com muito alho e cebola, fritando-osao invés de assá-los ouutilizar a banha de porco”.Uma outra conseqüência deInquisição foi que, os judeus, emsua permanente fuga, acabaramespalhando os produtos descobertose trazidos do Novo Mundo portoda a Europa e parte da África.Assim, o tomate, a pimentachili, a batata, o milho, o feijão ea abóbora espalharam-se mundoafora levados, mais uma vez, pelosjudeus. Como conseqüência,alguns pratos clássicos acabaramsurgindo nos guetos e judiarias:bolos de chocolate, cremes de baunilha,molhos de tomate e abóboraforam alguns deles que, emborasem definitiva comprovaçãohistórica, tornaram-se conhecidosa partir desta época.Mais uma vez, o povo judeucumpriu sua sina de, a partir deuma desgraça, espalhar aos quatrocantos cultura (gastronômicaque seja...) e novos hábitos.Parece-me que desde o cativeirodo Egito, este povo nãotem feito outra coisa que nãoseja carregar suas convicções,crenças e cultura de um cantopara outro do mundo.No último meio século, conseguimosum lugar para depositartoda esta carga e criar (ou recriar)uma grande nação. Agora,só falta um pouco de paz...Numa narrativa direta, íntima e ao mesmo tempo universal, Philip Roth explora o tema daperda, do arrependimento e do estoicismo. O autor de Complô contra a América, querelatava o encontro angustiante de uma família com a história, agora volta sua atençãopara a luta de um homem contra a mortalidade, conflito que dura sua vida inteira.Acompanhamos o destino do homem comum de Roth a partir de seu primeiro confronto coma morte, nas praias idílicas dos verões da infância, passando pelos conflitos familiares e pelasrealizações profissionais da idade adulta, até a velhice, quando ele fica dilacerado ao constatara deterioração de seus contemporâneos e dele próprio, atormentado por uma série de males físicos.Artista comercial de sucesso, trabalhando numa agência publicitária em Nova York, ele tem dois filhos do primeiro casamento,que o desprezam, e uma filha do segundo casamento, que o adora. É amado pelo irmão, um homem bom cuja saúde perfeitatermina por despertar sua inveja rancorosa, e é também o ex-marido solitário de três mulheres muito diferentes, tendo elepróprio destroçado os três casamentos. No final, é um homem que se transformou naquilo que não quer ser.

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