Geni Alberini Roters - Programa de Pós-Graduação em Educação ...

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91Com relação a essa professora, é necessário dizer, foi a que menos utilizoufragmentos de texto, optando pelos contos, inclusive fazendo leitura deles juntamentecom os alunos e procurando ajudá-los no entendimento durante as leituras.Não foi constatado durante as aulas de observações o uso da TV, quer comintuito de fazer leituras diferenciadas de programas com conteúdo literário, quer porqualquer outro motivo. Porém, a professora Eugênia utilizou por duas vezes o aparelhode CD: na primeira trouxe uma música para ressaltar as diferenças do falar do sertanejoe a língua formal, e na segunda vez, trouxe a música Exagerado de Cazuza, paraevidenciar características do Romantismo.4.6 TECENDO OS FIOS: REFLEXÕES SOBRE OS SUJEITOS DA PESQUISAPartindo-se do observado e levando-se em consideração a coleta deinformações por meio dos questionários e das entrevistas, foi possível inferir que osprofessores provêm em sua maioria do interior do Estado e pertencem a um ambientepouco letrado, uma vez que oito dos respondentes do questionário declararam que ospais cursaram até a quarta série primária.Outra informação recolhida pelos instrumentos da pesquisa é a de que oitoentrevistados iniciaram sua carreira profissional muito cedo, atuando em outrasatividades enquanto cursavam o nível superior, isto é, também eles foram estudantestrabalhadores. Embora, conforme Bourdieu (1998, p. 44), esses fatores somados sãoapenas indicadores que permitem situar o nível cultural de cada família, sem nadainformar sobre o conteúdo da herança cultural e podem sinalizar que os educadorescarecem de um referencial de leitura que os capacite a ser um professor de literaturapesquisador e entusiasta da disciplina que ministra.Além disso, podem apontar para o fato do educador que sofre uma carência deestratégia leitora diversificada e consistente acabar por optar por um modelo tradicionale desgastado para ensinar a leitura literária que segundo Bueno (2002) “exige apenas acapacidade de memorizar um certo número de nomes e outras tantas características

92desta ou daquela época da literatura...” cuja função é simplesmente “dar um vernizcultural ao aluno”.Um aspecto que reforça este ponto de vista diz respeito às declarações dasprofessoras às entrevistas. Uma vez questionadas sobre o ensino de literatura noEnsino Médio, consideraram o trabalho com a leitura literária entediante devido ànecessidade de memorização de datas e nomes, sendo que duas delas afirmaram nãoterem sido incentivadas a ler nesta fase.Outra circunstância a ser levada em consideração relacionada às práticas deleitura literária desses professores pode estar nas reflexões de Kramer (1983), quandoesta evidencia que o modo como o professor ensina está histórica e socialmentecontextualizado, e ele, enquanto aluno, vivenciou um tipo de escola que privilegiou opensamento positivista (o bom ensino era aquele neutro, centrado no objetivismo e naciência), e em suas práticas tende a reproduzir a forma com como aprendeu e amaneira com que vivenciou o ensino em sua trajetória estudantil.A autora observa ainda que a conseqüência disso é a dificuldade do professorem modificar a sua prática, mesmo tendo consciência da necessidade da mudança e dautilização de novos paradigmas para o ensino de leitura.Pode-se inferir ainda que estes professores depois de formados enfrentamdura jornada de trabalho, o que muitas vezes o impossibilita de ampliar o seu horizonteleitor através de leituras e interpretações próprias e acabam utilizando métodos etécnicas que aprenderam na academia na época de sua formação.Some-se ainda o fato de que o alto preço do material impresso foi apontadocomo entrave para que realizem mais leituras tanto técnicas como lúdicas.Por outro lado, as capacitações oferecidas pelo Estado que deveriam ser asaída para uma aproximação das teorias fundantes das Diretrizes Estaduais deEducação parecem indicar que ainda não estão dando conta de orientar o professor nasua prática efetiva, já que a expressiva maioria dos respondentes afirmou que elas nãooferecem embasamento necessário para mudanças no seu fazer pedagógico.Passar-se-á no próximo capítulo às constatações que puderam ser retiradasdos instrumentos de coleta informações.

92<strong>de</strong>sta ou daquela época da literatura...” cuja função é simplesmente “dar um vernizcultural ao aluno”.Um aspecto que reforça este ponto <strong>de</strong> vista diz respeito às <strong>de</strong>clarações dasprofessoras às entrevistas. Uma vez questionadas sobre o ensino <strong>de</strong> literatura noEnsino Médio, consi<strong>de</strong>raram o trabalho com a leitura literária entediante <strong>de</strong>vido ànecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> m<strong>em</strong>orização <strong>de</strong> datas e nomes, sendo que duas <strong>de</strong>las afirmaram nãoter<strong>em</strong> sido incentivadas a ler nesta fase.Outra circunstância a ser levada <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração relacionada às práticas <strong>de</strong>leitura literária <strong>de</strong>sses professores po<strong>de</strong> estar nas reflexões <strong>de</strong> Kramer (1983), quandoesta evi<strong>de</strong>ncia que o modo como o professor ensina está histórica e socialmentecontextualizado, e ele, enquanto aluno, vivenciou um tipo <strong>de</strong> escola que privilegiou opensamento positivista (o bom ensino era aquele neutro, centrado no objetivismo e naciência), e <strong>em</strong> suas práticas ten<strong>de</strong> a reproduzir a forma com como apren<strong>de</strong>u e amaneira com que vivenciou o ensino <strong>em</strong> sua trajetória estudantil.A autora observa ainda que a conseqüência disso é a dificulda<strong>de</strong> do professor<strong>em</strong> modificar a sua prática, mesmo tendo consciência da necessida<strong>de</strong> da mudança e dautilização <strong>de</strong> novos paradigmas para o ensino <strong>de</strong> leitura.Po<strong>de</strong>-se inferir ainda que estes professores <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> formados enfrentamdura jornada <strong>de</strong> trabalho, o que muitas vezes o impossibilita <strong>de</strong> ampliar o seu horizonteleitor através <strong>de</strong> leituras e interpretações próprias e acabam utilizando métodos etécnicas que apren<strong>de</strong>ram na aca<strong>de</strong>mia na época <strong>de</strong> sua formação.Some-se ainda o fato <strong>de</strong> que o alto preço do material impresso foi apontadocomo entrave para que realiz<strong>em</strong> mais leituras tanto técnicas como lúdicas.Por outro lado, as capacitações oferecidas pelo Estado que <strong>de</strong>veriam ser asaída para uma aproximação das teorias fundantes das Diretrizes Estaduais <strong>de</strong><strong>Educação</strong> parec<strong>em</strong> indicar que ainda não estão dando conta <strong>de</strong> orientar o professor nasua prática efetiva, já que a expressiva maioria dos respon<strong>de</strong>ntes afirmou que elas nãooferec<strong>em</strong> <strong>em</strong>basamento necessário para mudanças no seu fazer pedagógico.Passar-se-á no próximo capítulo às constatações que pu<strong>de</strong>ram ser retiradasdos instrumentos <strong>de</strong> coleta informações.

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