53Seguindo apenas um mo<strong>de</strong>lo cristalizado, segundo o qual a única forma <strong>de</strong> se“ler” uma obra literária é através do livro, a escola está ignorando a vivência cotidianados alunos, imersos <strong>em</strong> um mundo no qual a imag<strong>em</strong> e a oralida<strong>de</strong> têm um pesoexpressivo.Ou talvez, seguindo o pensamento da elite cultural que ten<strong>de</strong> a ver a TV comolhos pejorativos, está <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> aproveitar bons programas veiculados pela mídiatelevisiva, programas esses que po<strong>de</strong>m ser vistos analisados e avaliadosconjuntamente e que, <strong>de</strong> forma dialógica, professor e alunos possam discutir sobre oponto <strong>de</strong> vista do autor frente a <strong>de</strong>terminadas situações e conflitos, fazendo <strong>de</strong>sta formauma proveitosa “leitura” da obra literária.Aproveitando a vivência e experiência que os educandos já têm comotelespectadores, uma vez que não se po<strong>de</strong> ignorar a influência que a televisão exercena vida cotidiana <strong>de</strong>les, e os da EJA <strong>em</strong> particular, por ser muitas vezes a TV o únicomeio <strong>de</strong> entretenimento <strong>de</strong> que dispõe.3.6 LEITURA E LETRAMENTOBuscar um aprofundamento <strong>de</strong> como se processa a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura, tãopresente no cotidiano das salas <strong>de</strong> aula, é muito importante uma vez que oconhecimento nas escolas públicas, chega aos educandos primordialmente via leitura<strong>de</strong> material impresso.Mas, se a escola basicamente utiliza o texto impresso para veicularconhecimento, como po<strong>de</strong> o aluno não adquirir <strong>de</strong>senvoltura nessa prática? A evidência<strong>de</strong>ssa contradição não é nova e muito se t<strong>em</strong> pesquisado a esse respeito. Soares(2004) observa que, a partir da década <strong>de</strong> 1980, socieda<strong>de</strong>s distanciadas econômica,geográfica e culturalmente necessitaram rever as práticas <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> escrita.Foi assim que se <strong>de</strong>u a invenção do letramento no Brasil, illetrisme na França,literacia, <strong>em</strong> Portugal e literacy nos Estados Unidos, um fenômeno diferente do<strong>de</strong>nominado reading instruction, beginning literacy. A autora dá conta <strong>de</strong> que <strong>de</strong>ssasdiscussões a respeito <strong>de</strong> educação e linguag<strong>em</strong> evi<strong>de</strong>nciaram-se inúmeros livros e
54artigos que <strong>de</strong>ram início a reflexões e, posteriormente, que se operacionalizaram váriosprogramas cujo enfoque era a avaliação <strong>de</strong> competência <strong>de</strong> leitura e escrita dapopulação.É significativo que date aproximadamente da mesma época a proposta daUNESCO (final dos anos 70) para ampliação do conceito <strong>de</strong> alfabetização, observandoqueMais que uma finalida<strong>de</strong> <strong>em</strong> si mesma, a alfabetização <strong>de</strong>ve serconsi<strong>de</strong>rada como uma maneira <strong>de</strong> preparar o hom<strong>em</strong> para um papelsocial, cívico e econômico que vai além da alfabetização que consistasimplesmente <strong>em</strong> ensinar a ler e a escrever. O próprio processo <strong>de</strong>aprendizag<strong>em</strong> da lecto-escrita <strong>de</strong>ve converter-se <strong>em</strong> uma oportunida<strong>de</strong>para adquirir informações que possam ser utilizadas imediatamentepara melhorar os níveis <strong>de</strong> vida; a leitura e a escrita não conduzirãoapenas a um saber geral el<strong>em</strong>entar, mas a uma maior participação navida civil e a melhor compreensão do mundo à nossa volta, abrindo ocaminho, finalmente ao conhecimento humano básico. (UNESCO, 1976Apud COLOMER; CAMPS, 2002, p. 16)O documento sugere, portanto, uma re<strong>de</strong>finição do termo alfabetização que vaialém do medir apenas a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber ler e escrever, “como um capital fixo queum indivíduo adquire alguns anos <strong>de</strong> sua vida e que administra no resto <strong>de</strong>la”(COLOMER; CAMPS, 2002, p. 17).Não obstante a coincidência com relação ao momento histórico, conformeSoares (2004), a maneira como os países ricos e os <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento lidaram com oconceito <strong>de</strong> letramento (illetrisme, literacy), e o conceito <strong>de</strong> alfabetização(alphabétisation, reading instruction beginning literacy) foram diferentes basicamentequanto ao grau <strong>de</strong> ênfase posto nas relações entre as práticas sociais <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong>escrita e a aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong>sse sist<strong>em</strong>a.No Brasil, “as preocupações sobre a ciência da leitura vão assim ao sabor <strong>de</strong>solavancos e supetões”, afirma Silva (1981, p. 9), referindo-se às propostaspedagógicas e dogmas importados utilizados pelo po<strong>de</strong>r público, que pecam <strong>em</strong> nãofundamentar o ensino da leitura <strong>em</strong> uma prática mais conseqüente e transformadora.O autor observa que historicamente, no ensino <strong>de</strong> leitura e escrita há umaênfase na <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> mensagens (falar, escrever) esquecendo-se da recepção (ouvir,
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