Geni Alberini Roters - Programa de Pós-Graduação em Educação ...

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27Nesta perspectiva, Bakhtin, ao pensar o ensino da língua materna, não adissocia de interações reais do ato da fala, pois para ele a verdadeira essência dosentido do discurso não está nas palavras que não são boas ou más, nem na suaessência, nem nos interlocutores, mas na interação social que é estabelecida no ato dafala.Dessa forma, trabalhar a leitura na perspectiva bakhtiniana significa levar emconta a construção dialógica de sentidos entre interlocutores (leitores e escritores) e aotexto em si e não só valorizar descrições dos níveis lingüísticos, tão comuns aoprocesso de ensino-aprendizagem da pedagogia tradicional. Ao construir sentidos,leitores e escritores interagem com o texto fazendo as suas inferências pessoaistrazidas de experiências com outros textos. Para Bakhtin, ao ler, o sujeito ativa suacompreensão, ou seja, entra em fase preparatória(...) para uma resposta (seja qual for a forma de sua realização). Olocutor postula esta compreensão responsiva ativa: o que ele esperanão é uma compreensão passiva, que, por assim dizer, apenasduplicaria seu pensamento no espírito do outro, o que espera é umaresposta (...) (BAKHTIN, 1997, p. 291).Para tanto, é necessário eleger-se o diálogo como o mais importanteinstrumento metodológico, valorizando os saberes que os alunos levam para a sala deaula, os quais retratam a cultura que produzem e vivenciam. Nesse sentido Faracoargumenta:O caráter dialógico é o fator unificador de todas as atividadeslinguageiras, havendo também uma rica dialogia entre os gêneroscotidianos do discurso e os gêneros elaborados (os gêneros primários eos gêneros secundários), na terminologia que aparece no texto ‘Osgêneros do discurso’. (FARACO, 2007, p.104)Ao privilegiar-se o dialogismo e a alteridade no ensino da leitura literária,portanto, estar-se-á possibilitando atividades lingüísticas com as quais o alunosocialmente desfavorecido possa apropriar-se da língua que a classe dominanteconsidera “legítima”. Sem menosprezar a bagagem cultural dele, estar-se-á realmenteinstrumentalizando-o para uma ampla participação política na luta contra as

28desigualdades sociais e econômicas. Estar-se-á, conforme Freire (2006, p. 19), dando aoportunidade ao sujeito de sair do mutismo, superar a cultura do silêncio ou “tomar apalavra”.Na seqüência passa-se à analise da recolha das informações obtidas com osalunos, por meio dos questionários e entrevistas, procurando-se aprofundar as relaçõesque eles estabelecem com as práticas de leitura literária.Construiu-se o próximo subcapítulo tendo em mente uma “leitura positiva”,conforme entende Charlot (2000, p. 30), prestando-se atenção muito mais no que osalunos “fazem, conseguem, têm e são” do que em evidenciar falhas e carências porparte deles.3.2 LEITURA E LEITURA LITERÁRIA: O OLHAR DO ALUNOConforme Oliveira (1999, p.15), quando o tema é educação de pessoas jovens,adultas e idosas, não se está tratando do estudante universitário ou do profissionalqualificado que freqüenta cursos de especialização, ou de pessoas interessadas emmelhorar o seu conhecimento cultural, mas sim de indivíduos emigrantes do meio ruralque, uma vez nas grandes cidades, buscam a escola para terminar seus estudos quasesempre deixados para trás por motivos de trabalho.Essas representações determinam as práticas sociais nas quais estãopresentes as crenças, os costumes e os valores, estigmatizando o aluno que precisarecorrer a essa modalidade de ensino em relação aos outros e a eles próprios, poisconforme alerta Bakhtin (1992 p. 278):Tudo o que me diz respeito, a começar por meu nome, e que penetraem minha consciência, vem-me do mundo exterior, da boca dos outros(da mãe), etc. e me é dado com a entonação, com o tom emotivo dosvalores deles. Tomo consciência de mim, originalmente, através dosoutros: deles recebo a palavra, a forma e o tom que servirão àformação original da representação que terei de mim mesmo.

28<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e econômicas. Estar-se-á, conforme Freire (2006, p. 19), dando aoportunida<strong>de</strong> ao sujeito <strong>de</strong> sair do mutismo, superar a cultura do silêncio ou “tomar apalavra”.Na seqüência passa-se à analise da recolha das informações obtidas com osalunos, por meio dos questionários e entrevistas, procurando-se aprofundar as relaçõesque eles estabelec<strong>em</strong> com as práticas <strong>de</strong> leitura literária.Construiu-se o próximo subcapítulo tendo <strong>em</strong> mente uma “leitura positiva”,conforme enten<strong>de</strong> Charlot (2000, p. 30), prestando-se atenção muito mais no que osalunos “faz<strong>em</strong>, consegu<strong>em</strong>, têm e são” do que <strong>em</strong> evi<strong>de</strong>nciar falhas e carências porparte <strong>de</strong>les.3.2 LEITURA E LEITURA LITERÁRIA: O OLHAR DO ALUNOConforme Oliveira (1999, p.15), quando o t<strong>em</strong>a é educação <strong>de</strong> pessoas jovens,adultas e idosas, não se está tratando do estudante universitário ou do profissionalqualificado que freqüenta cursos <strong>de</strong> especialização, ou <strong>de</strong> pessoas interessadas <strong>em</strong>melhorar o seu conhecimento cultural, mas sim <strong>de</strong> indivíduos <strong>em</strong>igrantes do meio ruralque, uma vez nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, buscam a escola para terminar seus estudos quases<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>ixados para trás por motivos <strong>de</strong> trabalho.Essas representações <strong>de</strong>terminam as práticas sociais nas quais estãopresentes as crenças, os costumes e os valores, estigmatizando o aluno que precisarecorrer a essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino <strong>em</strong> relação aos outros e a eles próprios, poisconforme alerta Bakhtin (1992 p. 278):Tudo o que me diz respeito, a começar por meu nome, e que penetra<strong>em</strong> minha consciência, v<strong>em</strong>-me do mundo exterior, da boca dos outros(da mãe), etc. e me é dado com a entonação, com o tom <strong>em</strong>otivo dosvalores <strong>de</strong>les. Tomo consciência <strong>de</strong> mim, originalmente, através dosoutros: <strong>de</strong>les recebo a palavra, a forma e o tom que servirão àformação original da representação que terei <strong>de</strong> mim mesmo.

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