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Geni Alberini Roters - Programa de Pós-Graduação em Educação ...

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GENI ALBERINI ROTERSLEITURA LITERÁRIA: ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA DOPROFESSORDissertação apresentada como requisito parcialà obtenção do grau <strong>de</strong> Mestre <strong>em</strong> <strong>Educação</strong>,Curso <strong>de</strong> <strong>Pós</strong> – <strong>Graduação</strong> <strong>em</strong> <strong>Educação</strong>, Setor<strong>de</strong> <strong>Educação</strong>, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.Orientadora: Profª. Dra. Leilah Santiago Bufr<strong>em</strong>Co-orientadora: Profª Dra. Sônia Maria BredaCURITIBA2009


TERMO DE APROVAÇÂOGENI ALBERINI ROTERSLEITURA LITERÁRIA: ENTRE O DISCURSO E A PRÁTICA DO PROFESSORDissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do título <strong>de</strong> Mestre <strong>em</strong><strong>Educação</strong> pela seguinte banca examinadora:Orientadora:Co-orientadora:Profª Dra. Leilah Santiago Bufr<strong>em</strong>Setor <strong>de</strong> <strong>Educação</strong>, UFPRProfª Dra. Sônia Maria BredaSetor <strong>de</strong> Ciências Sociais Aplicadas, UFPRProfª Dra. Maria do Carmo Gue<strong>de</strong>sPontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São PauloProfº Dr. Gilberto <strong>de</strong> CastroSetor <strong>de</strong> <strong>Educação</strong>, UFPRCuritiba, 22 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2009.


DedicoÀ minha filha Elisa com amor,s<strong>em</strong>pre.


Agra<strong>de</strong>cimentosa Deus por estar comigo <strong>em</strong> todos os momentos <strong>de</strong> minha vida e,principalmente, por me dar forças quando as dificulda<strong>de</strong>s parec<strong>em</strong> intransponíveis.aos meus alunos que me motivaram a <strong>de</strong>senvolver a presente pesquisa.aos meus pais por <strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito cedo me ter<strong>em</strong> oportunizado o contato com aleitura literária.à Profª Dra. Leilah Santiago Bufr<strong>em</strong> não só pelo profissionalismo impecávelque s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>monstrou, mas pela amiza<strong>de</strong> que <strong>de</strong>dica a seus orientandostransformando esta fase tão espinhosa da pesquisa <strong>em</strong> uma rica fonte <strong>de</strong>conhecimentos.à Profª Dra. Sonia Maria Breda por me acompanhar <strong>em</strong> todas as fases <strong>de</strong>stetrabalho dando-me suporte pedagógico e técnico com muita paciência e atenção,essenciais para a realização do mesmo.à profª Dra. Tânia Braga Garcia que por meio <strong>de</strong> sua experiência profissionalconsegue tão brilhant<strong>em</strong>ente aconselhar-nos, acalmar-nos, e , ao mesmo t<strong>em</strong>po, darsuporte às nossas pesquisas.


à Profª Dra. Maria do Carmo Gue<strong>de</strong>s e ao Profº Drº Gilberto <strong>de</strong> Castro, quena banca <strong>de</strong> qualificação e <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>dicaram a esse incipiente trabalho uma leituraatenta e atenciosa que muito contribuiu para o aperfeiçoamento do mesmo.aos professores do curso <strong>de</strong> pós-graduação <strong>em</strong> <strong>Educação</strong> com os quais tive ahonra <strong>de</strong> conviver durante o mestrado, os quais no seu fazer cotidiano <strong>de</strong>monstramque a excelência da educação <strong>em</strong> escola pública é sim um sonho possível.à amiga Rosane, companheira <strong>de</strong> todas as horas, a qual tornou b<strong>em</strong> mais leve aminha caminhada.aos colegas das terças <strong>de</strong> manhã , Elisa, Marcos e Marcelo com os quais muitoaprendi.aos <strong>de</strong>mais colegas mestrandos com os quais compartilhei bons momentos queficarão marcados para s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> minha m<strong>em</strong>ória.à Marilei por acreditar que eu podia.ao Curt pela ajuda e apoio que prestou a esse trabalho.à minha irmã Denise pelas sugestões e discussões sobre a pesquisa.ao Diretor, ao Diretor auxiliar, às professoras e alunos da escola on<strong>de</strong> realizei apesquisa pela permissão <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r acompanhá-los <strong>em</strong> seu fazer pedagógico.


... é a respeito do outro que se inventam histórias, é pelooutro que se <strong>de</strong>rramam lágrimas, é ao outro que se erig<strong>em</strong>monumentos; apenas os outros povoam os c<strong>em</strong>itérios; am<strong>em</strong>ória só conhece, só preserva e reconstitui o outro; etudo isso é feito a fim <strong>de</strong> que minha própria m<strong>em</strong>ória dascoisas do mundo e da vida se torne, por sua vez, m<strong>em</strong>óriaestética.Mikhail Bakhtin


RESUMOEstudo sobre a leitura literária no âmbito da educação <strong>de</strong> jovens, adultos e idosos(EJA). Dissertação <strong>de</strong> mestrado que objetiva refletir sobre as práticas pedagógicas noensino <strong>de</strong> leitura literária na educação <strong>de</strong> jovens, adultos e idosos e os obstáculosimpeditivos <strong>de</strong> um ensino <strong>de</strong> leitura literária voltado à prática social. Verifica se osprofessores <strong>de</strong> Língua Portuguesa valorizam o texto literário ou têm preferência poroutro tipo <strong>de</strong> texto, se se consi<strong>de</strong>ram leitores ou apenas ledores <strong>de</strong> textos. Buscatambém investigar qual o objetivo que <strong>de</strong>sejam alcançar ao incentivar os estudantes aler, o que consi<strong>de</strong>ram mais importante nesta prática e se segu<strong>em</strong> o que estabelec<strong>em</strong> asDiretrizes Estaduais <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>em</strong> sua prática cotidiana. Elege Mikhail Bakhtin parainterlocução <strong>de</strong>vido ao enfoque social que imprime à linguag<strong>em</strong>. À luz da concepçãointeracionista <strong>de</strong> Bakhtin, realiza uma investigação qualitativa com ênfase naobservação crítica e reflexiva sobre o discurso e a prática dos professores <strong>de</strong> umaescola <strong>de</strong> EJA <strong>de</strong> Curitiba a partir <strong>de</strong> material recolhido mediante questionários,entrevistas e aulas <strong>de</strong> observação. Dentre outras constatações, a análise <strong>de</strong>svelapráticas pedagógicas que dificultam e até impe<strong>de</strong>m a formação do aluno leitor.Evi<strong>de</strong>ncia que a maioria dos professores trabalha leitura literária com intuito <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver o “gosto” pela leitura e não como prática social. Constata a preocupação<strong>em</strong> ensinar a história da literatura e não a literatura <strong>em</strong> si. D<strong>em</strong>onstra que o professorfala muito sobre literatura, mas, paradoxalmente, nas aulas <strong>de</strong> literatura não há espaçopara que o aluno leia. Observa que a leitura literária que o aluno faz fora da escola éignorada, e, principalmente, consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> menor valor se comparada à leitura <strong>de</strong>clássicos indicados e incentivados nas aulas. Atesta que, no plano do discurso, esseprofessor incentiva o aluno a ler, mas sua prática cotidiana conflita com o que apregoa.Palavras-Chave: EJA; práticas <strong>de</strong> leitura literária; Ensino Médio.


ABSTRACTStudy on the literary reading in education of young people, adults and el<strong>de</strong>rly(EJA). Masters dissertation that aims to reflect on the pedagogical practices in teachingreading in the literary aimed at the social practice. It verifies if the teachers ofPortuguese language value the literary text or have a preference for another kind of text,if we consi<strong>de</strong>r rea<strong>de</strong>rs of texts or not. Search also to investigate which the objective that<strong>de</strong>sires to reach when stimulating the stu<strong>de</strong>nts to read, what they consi<strong>de</strong>r moreimportant in this practical and if they follow what they stablich the State lines of directionof Education in their daily practice. Elect Mikhail Bakhtin for dialogue because of thesocial focus that gives the language. To the light of the interacionist conception ofBakhtin, conducts a qualitative research with <strong>em</strong>phasis on critical and reflectiveobservation about the discourse and practice of teachers from a school of EJA ofCuritiba from material collects by means of questionnaires, interviews and classes ofobservation. In the analysis, among other findings reveal pedagogical practices thathin<strong>de</strong>r and even prevent the formation of the stu<strong>de</strong>nt rea<strong>de</strong>r. Shows that most teachersreading literary works in or<strong>de</strong>r to <strong>de</strong>velop a "taste" for reading and not as socialpractice.Notes the concern in teaching the history of literature rather than literature itself.Shows that the teacher speaks a lot about literature, but, paradoxically, the lessons ofliterature there is no room for the stu<strong>de</strong>nt read. Notes that reading literature that thestu<strong>de</strong>nt does outsi<strong>de</strong> of school is ignored, and, especially, consi<strong>de</strong>red of lesser valuewhen compared to reading the classics and encouraged in the classes indicated.Certifies that, in terms of speech, the teacher encourages the stu<strong>de</strong>nt to read, but theirdaily practice that conflicts with the pretend.Key words: EJA; practice of literary reading; high school.


SUMÁRIO1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 092 TRAJETORIA METODOLÓGICA.......................................................................... 122.1 DELIMITAÇÃO DO CAMPO................................................................................ 152.2 SUJEITOS DA PESQUISA................................................................................. 192.3 ESTUDOS EXPLORATÓRIOS........................................................................... 202.4 DESENVOLVIMENTO DA COLETA DE DADOS................................................ 223 LEITURA: UM TEMA VÁRIOS DESDOBRAMENTOS ........................................ 243.1 O AUTOR........................................................................................................... 243.2 LEITURA E LEITURA LITERÁRIA: O OLHAR DO ALUNO ............................. 283.2.1 Os jovens.......................................................................................................... 303.2.2 Os adultos ........................................................................................................ 323.2.3 Os idosos ......................................................................................................... 343.3 LEITURA LITERÁRIA E A RECEPÇÂO PELO ALUNO DA EJA ....................... 363.4 LEITURA CANÔNICA X LITERATURA DE MASSA: DO SAGRADO AOPROFANO........................................................................................................... 463.5 LEITURA, MÍDIA E ESCOLA: PARCERIA INCOMPATÍVEL?......................... 503.6 LEITURA E LETRAMENTO............................................................................... 533.7 LEITURA LITERÁRIA E PRÁTICA ESCOLARES: ELEMENTOSHISTÓRICOS 563.8 BAKHTIN E AS DIRETRIZES CURRICULARES DO ESTADO DOPARANÁ.............................................................................................................. 614 AS PRÁTICAS DE LEITURA E LEITURA LITERÁRIA E SUAS RELAÇÕESCOM O COTIDIANO ESCOLAR.......................................................................... 634.1 A BIBLIOTECA E SUAS RELAÇÕES COM AS PRÁTICAS DE LEITURALITERÁRIA ........................................................................................................ 634.2 A IDENTIFICAÇÃO SOCIOECONOMICA E CULTURAL DOSPROFESSORES................................................................................................ 664.3 LEITURA LITERÁRIA: O OLHAR DO PROFESSOR......................................... 754.4 LEITURA LITERÁRIA: IMBRICAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DE VIDA E APRÁTICA DOS PROFESSORES........................................................................ 804.5 LEITURA LITERÁRIA E AS PRÁTICAS DOS PROFESSORES........................ 824.6 TECENDO OS FIOS: REFLEXÕES SOBRE OS SUJEITOS DA PESQUISA.... 915 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 93REFERÊNCIAS......................................................................................................... 98APÊNDICES.............................................................................................................. 105APÊNDICE I QUESTIONÁRIO PARA O PROFESSORES SOBRE LEITURA...... 106APÊNDICE II QUESTIONÁRIO PARA ALUNOS SOBRE LEITURA ...................... 108APÊNDICE III ROTEIRO PARA ENTREVISTAS COM PROFESSORES ............... 110APÊNDICE IV QUESTIONÁRIO SOBRE LEITURA – ALUNOS LEITORES............ 111APÊNDICE V ROTEIRO PARA ENTREVISTA COM ALUNOS LEITORES........... 112ANEXO I PROPOSTA PEDAGÓGICO – CURRICULAR PARA O ESTADO DOPARANÁ.................................................................................................................... 113


91 INTRODUÇÃOA preocupação com a leitura literária s<strong>em</strong>pre esteve presente na caminhadaprofissional <strong>de</strong>sta educadora, <strong>de</strong> quando lecionou para crianças <strong>de</strong> EnsinoFundamental à posterior experiência no Ensino Médio, na modalida<strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>de</strong>Jovens e Adultos (EJA).Na época <strong>em</strong> que atuava junto às crianças, acreditava que incentivá-las a lerera um meio excepcional para <strong>de</strong>senvolvimento da língua culta. Mais tar<strong>de</strong>, com otrabalho junto a jovens, adultos e idosos trabalhadores, percebeu que <strong>de</strong>senvolver aleitura literária era muito mais que isso, pois, para aqueles alunos, apren<strong>de</strong>r a lercriticamente significava ampliar a sua visão do mundo; significava, também, libertá-losdas amarras do <strong>de</strong>sconhecimento e da subserviência a que estavam submetidos nasdiversas instâncias <strong>de</strong> sua vida profissional e pessoal, livrá-los do iletrismo que oscon<strong>de</strong>nava ao estado <strong>de</strong> massa <strong>de</strong> manobra da política, da religião e da mídia.Na mesma medida <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>u conta da importância do papel do professorno trabalho com a leitura literária para esse aluno que v<strong>em</strong> <strong>de</strong> um ensino fragmentado,marcado por idas e vindas ao ambiente escolar, percebeu que as ativida<strong>de</strong>s com aleitura praticadas não alcançavam os objetivos esperados, ou, <strong>em</strong> outras palavras, osalunos, mesmo os mais motivados, não evi<strong>de</strong>nciavam melhora <strong>em</strong> suas estratégiasleitoras.Perguntou-se como era possível o professor trabalhar a leitura <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aulae não conseguir ampliar as estratégias leitoras do educando, e <strong>de</strong>cidiu investigar aspráticas utilizadas pelos docentes, supondo que a dificulda<strong>de</strong> do ensino-aprendizag<strong>em</strong>da leitura encontrava-se nas relações que se estabeleciam a partir <strong>de</strong>ste objeto <strong>de</strong>ensino, as quais podiam dificultar ou mesmo impedir o aluno <strong>de</strong> se tornar um leitor.Enten<strong>de</strong>ndo ser necessária, a priori, uma análise das concepções erepresentações singularizadas que os professores faziam da leitura literária, maisprecisamente da prática <strong>de</strong>sta, optou por investigar se os professores <strong>de</strong> LínguaPortuguesa valorizavam o texto literário ou tinham preferência por outro tipo <strong>de</strong> texto, seeles se consi<strong>de</strong>ravam leitores ou apenas ledores <strong>de</strong> textos. Buscou investigar, também,quais objetivos <strong>de</strong>sejavam alcançar ao incentivar os estudantes a ler, o que


10consi<strong>de</strong>ravam mais importante nesta prática e se seguiam <strong>em</strong> sua prática cotidiana oque estabelec<strong>em</strong> as Diretrizes Estaduais <strong>de</strong> <strong>Educação</strong>.Consi<strong>de</strong>rou que a busca por respostas <strong>de</strong> como a prática <strong>de</strong> leitura literária seprocessava era importante, pois, conforme Freire (2003, p. 22), “a reflexão crítica sobrea prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática s<strong>em</strong> a qual a teoria po<strong>de</strong> irvirando blábláblá e a prática, ativismo”.Para melhor <strong>de</strong>senvolver o presente trabalho, elegeu Mikhail Bakhtin comointerlocutor, <strong>de</strong>vido ao enfoque social que dá à linguag<strong>em</strong>, compreendida como umaprodução humana que se constrói no processo histórico das interações sociais.O trabalho está organizado <strong>em</strong> cinco capítulos. Seguindo a parte introdutória, osegundo capítulo tratou da trajetória metodológica e <strong>de</strong> situar o leitor neste universo tãocheio <strong>de</strong> contrastes como é um Centro <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> Básica <strong>de</strong> Jovens, Adultos eIdosos (CEEBJA).No terceiro, procurou-se elaborar um perfil do aluno da EJA e verificar asrepresentações dos alunos sobre a leitura literária, os tipos <strong>de</strong> leitura que faziam e arelação <strong>de</strong> suas leituras com a escola. Esta busca serviu como contraponto à práticadocente. Nesse capítulo, ampliou-se o assunto leitura literária como produção históricae social do ser humano e buscou-se averiguar como esse t<strong>em</strong>a t<strong>em</strong> se refletido naescola. Essa discussão promoveu o diálogo com autores que apontam as dificulda<strong>de</strong>sque a escola enfrenta no ensino da leitura, principalmente a literária, entre eles ÂngelaKleiman, Ezequiel Theodoro Silva, José Paulo Paes, Magda Soares, Marisa Lajolo eRegina Zilberman.O quarto capítulo foi reservado à investigação das práticas <strong>de</strong> leitura literária noambiente escolar, observando sobretudo o “não dito” e o “não documentado” <strong>de</strong> quefalam Rockwell e Ezpeleta (1989), pois é “através do que não é oficial que a escolatoma forma material, ganha vida”. Com apoio <strong>de</strong> instrumentos <strong>de</strong> observação,entrevistas, questionários e análise documentária, procurou-se chegar ao que diz<strong>em</strong> e oque efetivamente faz<strong>em</strong> os sujeitos da pesquisa nas práticas <strong>de</strong> leitura literária. Integraesse capítulo a forma como os professores administram suas práticas cotidianas noensino <strong>de</strong> leitura literária, analisada à luz das concepções teóricas a esse respeito.


11Finalmente, no quinto capítulo, as questões levantadas no início do trabalhopu<strong>de</strong>ram ser respondidas e explicitadas, buscando a investigadora encontrar pontos <strong>de</strong>convergência e <strong>de</strong> divergência entre a recolha <strong>de</strong> informações e as idéias e conceitosconstantes no capítulo dois, no que tange às práticas dos professores <strong>em</strong> promover eformar leitores literários.O capítulo a seguir está voltado à <strong>de</strong>scrição das opções metodológicas <strong>de</strong>stapesquisa, a<strong>de</strong>ntra o campo <strong>em</strong>pírico dos sujeitos envolvidos no estudo, dando aconhecer o contexto no qual estão inseridos os professores e as dificulda<strong>de</strong>s cotidianaspelas quais passam.


122 TRAJETÓRIA METODOLÓGICAVocê sabe melhor que ninguém, sábio Kublai, que jamais se <strong>de</strong>veconfundir uma cida<strong>de</strong> com o discurso que a <strong>de</strong>screve. Contudo, existeuma ligação entre eles. Se <strong>de</strong>screvo Olívia, cida<strong>de</strong> rica <strong>de</strong> mercadoriase lucros, o único modo <strong>de</strong> representar a sua prosperida<strong>de</strong> é falar dospalácios <strong>de</strong> filigranas [...]. Mas a partir <strong>de</strong>sse discurso, é fácilcompreen<strong>de</strong>r que Olívia é envolta por uma nuv<strong>em</strong> <strong>de</strong> fulig<strong>em</strong> e gorduraque gruda na pare<strong>de</strong> das casas...Ítalo CalvinoPara se po<strong>de</strong>r compreen<strong>de</strong>r a dialética e a dialogia existentes na sala <strong>de</strong> aula,optou-se pela pesquisa qualitativa, por se enten<strong>de</strong>r como Bakhtin (1992) ser o hom<strong>em</strong>produtor <strong>de</strong> textos (enunciados) o objeto das ciências humanas e <strong>de</strong> que os textos sóviv<strong>em</strong> <strong>em</strong> contato com outros textos (contexto).Por meio <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> pesquisa, argumentam Lüdke e André (1986) é possíveldar respostas a aspectos da realida<strong>de</strong> que não po<strong>de</strong>m ser quantificados, uma veztrabalhados <strong>em</strong> um universo <strong>de</strong> significados, motivos, aspirações, crenças, valores eatitu<strong>de</strong>s.Dentre as possibilida<strong>de</strong>s oportunizadas pela abordag<strong>em</strong> qualitativa, o estudo <strong>de</strong>caso apresentou-se como o mais indicado porque busca “revelar a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>dimensões presentes numa <strong>de</strong>terminada situação ou probl<strong>em</strong>a, focalizando-o como umtodo, pressupondo que a realida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser vista sob diferentes olhares”. (LÜDKE;ANDRÉ, 1986, p. 18).Faltava ainda <strong>de</strong>cidir quais instrumentos seriam adotados para obterinformações, para se captar<strong>em</strong> os ditos e principalmente, conforme Bakhtin (1992) os“não ditos” ensejando maior visibilida<strong>de</strong> possível do objeto <strong>de</strong> análise. Optou-se pelaobservação, a qual ocupa um espaço privilegiado nas novas abordagens <strong>de</strong> pesquisaeducacional, permitindo a verificação do fenômeno e possibilitando a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong>novas perspectivas <strong>de</strong> ocorrência do mesmo probl<strong>em</strong>a. Além disso, o investigador t<strong>em</strong> aoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o meio social do interior do universo investigado,acompanhando por um t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>terminado os mesmos probl<strong>em</strong>as dos seres humanos


13objetos da pesquisa, <strong>de</strong> forma a obter informações sobre as ações e opiniões dosobservados <strong>de</strong> uma forma privilegiada.Com o intuito <strong>de</strong> captar o mais possível da realida<strong>de</strong> dos sujeitos da pesquisa,as observações ocorreram <strong>em</strong> dois locais distintos, a saber: a se<strong>de</strong> do campo <strong>de</strong>pesquisa, um Centro <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> Básica para Jovens e Adultos (CEEBJA) e <strong>em</strong> umAmbiente Pedagógico Descentralizado (APED) ambos situados na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba.Questionários fechados foram utilizados para recolha <strong>de</strong> informações, tanto dosprofessores como dos educandos. Ressalta-se que sendo os alunos da <strong>Educação</strong> <strong>de</strong>Jovens, Adultos e Idosos uma classe bastante heterogênea, o critério para adistribuição <strong>de</strong>sse instrumento a c<strong>em</strong> educandos do Ensino Médio foi a busca <strong>de</strong>diferentes pontos <strong>de</strong> vista. Por essa razão foram aplicados a estudantes <strong>de</strong> faixasetárias variadas, nas diferentes modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino que a escola oferece.Com a distribuição <strong>de</strong>ste instrumento aos alunos buscou-se encontrar umcontraponto à fala dos professores, com relação à leitura literária, b<strong>em</strong> como asrepresentações <strong>de</strong> leitor feitas pelos alunos <strong>de</strong> si próprios. Procurou-se apreen<strong>de</strong>r oque estava nas entrelinhas, pois, conforme apontam Bakhtin/Voloshinov (1986) “aspalavras são tecidas a partir <strong>de</strong> uma multidão <strong>de</strong> fios i<strong>de</strong>ológicos e serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> trama atodas as relações sociais <strong>em</strong> todos os domínios”. Por essa razão por meio <strong>de</strong>lasprocurou-se <strong>de</strong>linear uma espécie <strong>de</strong> “perfil” do aluno que busca o ensino da EJA.A elaboração <strong>de</strong>ste questionário contou com sugestões <strong>de</strong> colegas doS<strong>em</strong>inário <strong>de</strong> Ensino e Pesquisa <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> projeto piloto e tomou como baseinstrumento utilizado por Bernardim (2006), no que tange a perguntas <strong>de</strong> naturezasócio-econômica.Consi<strong>de</strong>rando ainda a necessária or<strong>de</strong>nação conceitual das informações sobrea realida<strong>de</strong> concreta, o uso <strong>de</strong> entrevistas pareceu natural por ser um dos instrumentosbásicos para coleta <strong>de</strong> dados <strong>de</strong>ntro do enfoque da pesquisa qualitativa. Para tantoforam realizadas cinco entrevistas individuais com os professores <strong>de</strong> LínguaPortuguesa, cujos t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> serviço e vínculo mantidos com o Estado apresentamgran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong>. Esse cuidado foi importante, pois se acreditou que esta varieda<strong>de</strong>enriqueceria a discussão.


14Outrossim, foram realizadas entrevistas com alunos jovens e adultos e idosospara uma recolha <strong>de</strong> informações mais <strong>de</strong>talhadas das faixas etárias dos educandosque freqüentam essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino. Para a sua realização, entretanto, utilizouseuma abordag<strong>em</strong> sociológica conforme a enten<strong>de</strong> Bourdieu (1988), pois, segundo ele,esse é um momento privilegiado para a aquisição <strong>de</strong> informações, razão pela qualforam realizadas <strong>em</strong> ritmo compatível com a situação, s<strong>em</strong> que os entrevistados sesentiss<strong>em</strong> forçados a respon<strong>de</strong>r.Ainda se tomou o cuidado, seguindo observações feitas pelo autor, <strong>de</strong> propiciaraos pesquisados o sentimento <strong>de</strong> confiança para respon<strong>de</strong>r as perguntas, reformulandoseperguntas forçadas ou mal colocadas, que nesses casos eram excluídas oumodificadas, s<strong>em</strong> que per<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> o sentido original.Outro probl<strong>em</strong>a apontado por Bourdieu (1988) na interação pesquisadorpesquisado,levado <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração ao se formular<strong>em</strong> as entrevistas, diz respeito àsuperação do <strong>de</strong>sprezo <strong>de</strong> classe que ocorre quando o pesquisado sente-se <strong>em</strong>condições <strong>de</strong> inferiorida<strong>de</strong>, ou quando o pesquisador se sente <strong>em</strong> condições <strong>de</strong>superiorida<strong>de</strong>. Dessa forma, redobrou-se a atenção com relação a esse aspecto.Preten<strong>de</strong>u-se, ainda, formular a entrevista como uma situação “natural”, tal qualuma conversa informal, procurando a investigadora colocar-se no lugar do outro <strong>em</strong>pensamento, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado os pontos <strong>de</strong> vista previamente <strong>de</strong>finidos.Foi utilizada também a análise documental das Diretrizes Estaduais para a<strong>Educação</strong> Básica do Estado do Paraná, no concernente ao ensino <strong>de</strong> LínguaPortuguesa, como compl<strong>em</strong>ento das informações obtidas pelas outras técnicas <strong>de</strong>coleta, por se acreditar como Forquin (1993 p.167) que “a escola constitui um ‘mundosocial’, com características próprias, seus ritmos e seus ritos, sua linguag<strong>em</strong>, seuimaginário, seus modos próprios <strong>de</strong> regulação e transgressão, seu regime próprio <strong>de</strong>produção e <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> símbolos”. Por essa razão, tornou-se importante acompanharas relações estabelecidas entre as <strong>de</strong>terminações estatais e o fazer cotidiano dosprofessores <strong>de</strong> Língua Portuguesa.


152.1 DELIMITAÇÃO DO CAMPOO campo da pesquisa foi um Centro <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> Básica <strong>de</strong> Jovens, Adultos eIdosos (CEEBJA) da periferia <strong>de</strong> Curitiba. Importante ressaltar que essa escola foiescolhida por contar com aproximadamente três mil alunos e, portanto, ser válida comolocus <strong>de</strong> pesquisa. Levou-se <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração também, uma facilida<strong>de</strong> maior narecolha <strong>de</strong> informações visto a pesquisadora fazer parte do quadro <strong>de</strong> docentes dareferida instituição.Os CEEBJAs são frutos <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong> pensar a educação da EJA nosmol<strong>de</strong>s paranaenses <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final da década <strong>de</strong> 1980, quando houve uma<strong>de</strong>scentralização <strong>de</strong> recursos e do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cisório das iniciativas educacionais para osestado e municípios e a elaboração <strong>de</strong> Diretrizes Político-Pedagógicas da FundaçãoEDUCAR, as quais visavam assegurar o Ensino Fundamental gratuito e obrigatóriopara todos. (DCE/PR 2006).Des<strong>de</strong> então o governo busca ampliar o atendimento à população jov<strong>em</strong> eadulta, e <strong>de</strong> acordo com site oficial do governo 1 o Estado conta atualmente com 94Centros Estaduais <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> Básica <strong>de</strong> Jovens e Adultos (CEEBJA) que ofertamexclusivamente a modalida<strong>de</strong> EJA e 109 escolas e colégios da Re<strong>de</strong> Estadual queoferec<strong>em</strong> o Ensino Regular e a modalida<strong>de</strong> EJA <strong>em</strong> período noturno.Consi<strong>de</strong>ra-se que este número é bastante positivo, tendo <strong>em</strong> vista o InstitutoNacional <strong>de</strong> Ensino e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (INEP), informar que aEJA, principalmente no Ensino Médio, é uma forte alternativa para o prosseguimentodos estudos <strong>em</strong> nível superior daqueles educandos que tiveram sua trajetóriaeducacional interrompida ou que não pu<strong>de</strong>ram cursar seus estudos <strong>em</strong> ida<strong>de</strong> própria,conforme apontam resultados do censo escolar realizado <strong>em</strong> 2008.Assim como as <strong>de</strong>mais escolas <strong>de</strong>stinadas à EJA, o CEEBJA investigado éregido pelas Diretrizes Curriculares da <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> Jovens e Adultos no Estado doParaná – DCE/PR (2005). Conta ainda com o Regimento Escolar, que disciplina aorganização, a vida estudantil e as formas <strong>de</strong> representações da comunida<strong>de</strong> noconselho escolar e uma Proposta Político Pedagógica unificada para todos os1 Site Dia a Dia <strong>Educação</strong> – Notícia veiculada no dia 19 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2009.


16estabelecimentos que ofertam EJA no Paraná. Proposta esta que teve sua versão finalelaborada por representantes <strong>de</strong> professores, pedagogos e diretores <strong>de</strong> todo o Estado,por meio <strong>de</strong> fóruns e <strong>de</strong>bates.As Diretrizes cont<strong>em</strong>plaram três eixos articuladores: cultura, trabalho e t<strong>em</strong>po.Com relação à cultura, part<strong>em</strong> do conceito <strong>de</strong> Adorno (1996) e a consi<strong>de</strong>ram “oel<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> mediação entre o indivíduo e a socieda<strong>de</strong>”, ou seja, ”intermediário entre asocieda<strong>de</strong> e a formação do indivíduo”.Já com o eixo articulador “trabalho”, <strong>de</strong>stacam que a ênfase não está <strong>em</strong>preparar o trabalhador apenas para aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas do mercado <strong>de</strong> trabalho, maspara a cidadania plena. Enten<strong>de</strong>m que “o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> cada educando compreen<strong>de</strong> umt<strong>em</strong>po <strong>de</strong>finido pelo período <strong>de</strong> escolarização e um t<strong>em</strong>po singular <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>que no caso dos educandos da EJA é b<strong>em</strong> diversificado” (DCE, 2005, p. 38)As novas Diretrizes prevê<strong>em</strong> 1200 horas <strong>de</strong> estudo pelo aluno, tanto no ensinoFundamental como no Médio e cont<strong>em</strong>plam um currículo mais abrangente, enten<strong>de</strong>ndoque os alunos da EJA <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter uma formação intelectual mais sólida, além <strong>de</strong> buscarassegurar a permanência e o sucesso do educando no ambiente escolar.A escola localiza-se na região sul da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba, no bairro Boqueirão,apontado como um dos mais populosos da capital paranaense, tendo como ativida<strong>de</strong>seconômicas principais o comércio <strong>de</strong> produtos têxteis, <strong>de</strong> automóveis novos eprincipalmente usados.A se<strong>de</strong> da escola investigada oferta ao aluno duas formas <strong>de</strong> ensino: ensinoindividual (presencial), <strong>de</strong>stinado aos profissionais que não po<strong>de</strong>m freqüentardiariamente os bancos escolares, tais como enfermeiros, motoristas <strong>de</strong> caminhão,cuidadores <strong>de</strong> idosos, e outros que não possu<strong>em</strong> horários normais <strong>de</strong> trabalho. Comessa opção, o aluno po<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir o turno que <strong>de</strong>seja freqüentar e só são contadas assuas presenças. Há, ainda, o ensino coletivo no qual a presença do aluno é obrigatória,tendo um funcionamento similar ao do Ensino Regular.O aluno po<strong>de</strong> optar por uma ou outra forma, ou ainda pelas duas na suatrajetória estudantil, concluindo <strong>em</strong> menos t<strong>em</strong>po que o Ensino Regular, conformeprevisto nas Leis <strong>de</strong> Diretrizes e Bases Nacionais (LDBEN).


17O CEEBJA oferece ainda Ambientes Pedagógicos Descentralizados (APEDs),instalados <strong>em</strong> regime <strong>de</strong> comodato com escolas da Prefeitura Municipal com o intuito<strong>de</strong> facilitar a continuação dos estudos <strong>de</strong> alunos que resi<strong>de</strong>m <strong>em</strong> locais muito afastadose que não dispõe <strong>de</strong> recursos financeiros para <strong>de</strong>slocamento até a se<strong>de</strong> (prédioprincipal). A solicitação para abertura <strong>de</strong> turmas v<strong>em</strong> da direção, baseada na procura<strong>de</strong> vagas.Com relação ao aspecto pedagógico, a escola pesquisada conta com 130professores com licenciatura plena. Um dado importante é <strong>de</strong> que a gran<strong>de</strong> maioria dosprofessores concursados t<strong>em</strong> curso <strong>de</strong> especialização. Aqui é importante ressaltar quehouve muito interesse dos professores, a partir <strong>de</strong> 1997, <strong>em</strong> realizar este tipo <strong>de</strong> curso,após medidas do governo do Estado ofertando aumento <strong>de</strong> salário e enquadrando osprofessores com especialização <strong>em</strong> um nível mais elevado.Há <strong>de</strong>z funcionários <strong>de</strong> apoio técnico-administrativo, entre eles duas possu<strong>em</strong>curso superior e três estão cursando. Há sete funcionárias <strong>de</strong> apoio aos serviços gerais,das quais somente uma não cursou o Ensino Médio. A gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>ssasprofissionais terminou os estudos no próprio Centro, estudando <strong>em</strong> contraturno.Com relação ao quadro funcional <strong>de</strong>staca-se que o Diretor atual, com quarentahoras <strong>de</strong> trabalho s<strong>em</strong>anal, está <strong>em</strong> exercício <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2000, reeleito três vezes. Contacom a ajuda <strong>de</strong> um Diretor-auxiliar que o acompanha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a primeira eleição, o qualtrabalha vinte horas junto à direção e outras vinte como professor da disciplina <strong>de</strong>História.Há atualmente, na se<strong>de</strong>, quatro pedagogas: uma no período matutino, duas noperíodo vespertino e uma no período noturno, todas com especialização. Já as APEDscontam com duas pedagogas na Coor<strong>de</strong>nação Geral e oito que trabalham comocoor<strong>de</strong>nadoras itinerantes, isto é, serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> ponte entre a se<strong>de</strong> e as APEDs,supervisionando os trabalhos pedagógicos, prestando atendimento aos alunos ecuidando dos aspectos administrativos e pedagógicos junto às escolas municipais. Das<strong>de</strong>z pedagogas, somente uma não possui especialização, porém está cursando.Nas observações <strong>de</strong> campo acompanhou-se o raciocínio <strong>de</strong> Rockwell (1995, p.46), quando a autora afirma que a escola é permeável a outras instâncias sociais e,<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la, se reproduz<strong>em</strong> formas <strong>de</strong> organizar o trabalho pedagógico e <strong>de</strong> utilizar o


18po<strong>de</strong>r que existe na socieda<strong>de</strong> da qual se faz parte, e é <strong>em</strong> seu interior que seexpressam lutas sociais que se originam e se <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> no seu exterior.Em se tratando <strong>de</strong> uma escola com alunos <strong>de</strong> baixa renda, a análise doambiente escolar é importante, pois ao se <strong>de</strong>screver o contexto no qual estão inseridosos professores e as dificulda<strong>de</strong>s cotidianas pelas quais passam, estar-se-á indo <strong>em</strong>busca da compreensão da cultura da escola, esse ‘mundo social diferenciado’, segundoanálise <strong>de</strong> Forquin (1993,p.167).A se<strong>de</strong> da escola chama a atenção por estar <strong>em</strong> um edifício que <strong>em</strong> nada seass<strong>em</strong>elha a um estabelecimento escolar, l<strong>em</strong>brando muito mais um prédio comercial.Na fachada vê-se um probl<strong>em</strong>a que o bairro todo está enfrentando, as pichações. Notaseque há tentativas <strong>de</strong> minimizá-las, pintando-se novamente, no entanto, elas sãorecorrentes.Em seu interior, <strong>em</strong>bora muito limpo e organizado, o espaço escolar <strong>de</strong>stinadoa tantos alunos <strong>em</strong> alguns horários é insuficiente, ocasionando corredores apinhados <strong>em</strong>uito burburinho, atrapalhando o ambiente pedagógico.A parte inferior do prédio conta com a secretaria, uma sala <strong>de</strong> xerox, sala <strong>de</strong>direção e supervisão, coor<strong>de</strong>nação das APEDs, biblioteca e sala dos professores, além<strong>de</strong> quatro salas <strong>de</strong> aula, separadas entre si por divisórias <strong>de</strong> compensado. Nosquadros <strong>de</strong> avisos nota-se a preocupação com divulgação <strong>de</strong> vagas para <strong>em</strong>pregos edicas tanto para encontrar como para mantê-los, <strong>de</strong>nunciando ser uma escola <strong>de</strong> e paratrabalhadores.A gran<strong>de</strong> maioria das salas <strong>de</strong> aula fica na parte superior. Com exceção <strong>de</strong>quatro, as <strong>de</strong>mais salas não têm janelas, e, segundo os professores, no verão sãoinsuportáveis. Para minimizar o efeito da falta <strong>de</strong> ventilação, além <strong>de</strong> instalação <strong>de</strong>ventiladores, as divisórias <strong>de</strong> compensado foram cortadas <strong>em</strong> sua parte superior. Estaprovidência acabou trazendo outro probl<strong>em</strong>a: a voz dos professores muitas vezesmistura-se, dificultando o processo <strong>de</strong> ensino-aprendizag<strong>em</strong>. No entanto, as salas sãolimpas e b<strong>em</strong> organizadas, com carteiras e materiais pedagógicos b<strong>em</strong> conservados,tanto pelos professores como pelos alunos. O acesso à parte superior é feito através <strong>de</strong>escadas, trazendo dificulda<strong>de</strong>s aos estudantes portadores <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s especiais eàs pessoas idosas.


19Nos espaços reservados aos professores é comum encontrar<strong>em</strong>-se orações epensamentos associados à religião, fato observado <strong>em</strong> reuniões pedagógicas <strong>em</strong> queaparec<strong>em</strong> escritos no quadro ou são lidas geralmente pela pedagoga, no início ou nofinal do encontro, o que <strong>de</strong>monstra uma forte influência religiosa.Na APED on<strong>de</strong> também ocorreram as observações, funcionam durante a noitecinco salas <strong>de</strong> EJA <strong>de</strong> Ensino Fundamental e Médio. O espaço é amplo e arejado comuma excelente infra-estrutura, os alunos são da comunida<strong>de</strong> do entorno da escola. Oensino ofertado é o coletivo, muito similar ao Ensino Regular, porém com duasdiferenças: os alunos cursam uma disciplina <strong>de</strong> cada vez e a carga horária é menor.Os alunos obe<strong>de</strong>c<strong>em</strong> à regulamentação interna da escola, e são atendidospelas coor<strong>de</strong>nadoras itinerantes, as quais pelo menos uma vez por s<strong>em</strong>ana a visitam afim <strong>de</strong> resolver probl<strong>em</strong>as pedagógicos e administrativos.Os professores do CEEBJA que ministram aulas nas APEDs não po<strong>de</strong>m utilizarmateriais da escola municipal (TVs, rádios, retroprojetores ou mesmo pedras <strong>de</strong> giz),pois estes não faz<strong>em</strong> parte do acordo firmado entre Estado e Município. É certo que,<strong>em</strong> muitas escolas, os diretores sensibilizam-se e os ce<strong>de</strong>m por iniciativa própria.2.2 SUJEITOS DA PESQUISADeterminados quais os caminhos metodológicos seriam seguidos, foramentregues questionários (Apêndice I) para os vinte professores <strong>de</strong> Língua Portuguesado estabelecimento, tanto da se<strong>de</strong> como os que atuavam nas APEDs.Por meio da análise <strong>de</strong> doze questionários que retornaram, buscou-se levantarinformações sobre as práticas <strong>de</strong> leitura dos professores e i<strong>de</strong>ntificar aspectos da suatrajetória profissional anterior à docência, nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> dos pais e t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>serviço na EJA.Optou-se pela análise da recolha <strong>de</strong> informações dos questionários dosprofessores por meio <strong>de</strong> gráficos por se enten<strong>de</strong>r, como Miles e Hub<strong>em</strong>am (1984, p. 20,apud Lessard Hébert; Goyette; Boutin), que as investigações qualitativas não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> serconsi<strong>de</strong>radas monolíticas e po<strong>de</strong>m contar com análises quantitativas formando <strong>de</strong>ssamaneira um “continuum epist<strong>em</strong>ológico e não uma dicotomia”. Foi levado <strong>em</strong>


20consi<strong>de</strong>ração, neste sentido, a plena preservação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos respon<strong>de</strong>ntes dapesquisa, <strong>de</strong> modo a correspon<strong>de</strong>r aos aspectos éticos exigidos para sua concretização.Os questionários serviram como um levantamento inicial e como facilitadorespara a seleção das professoras com as quais se faria a observação, assim como paraelucidar aspectos relevantes para posterior análise das informações da pesquisa.Após a tabulação das respostas e da análise do conteúdo dos questionáriosdistribuídos para os docentes, optou-se por observar o trabalho <strong>de</strong> duas professoras <strong>de</strong>Ensino Médio: uma ministra aulas na se<strong>de</strong> da escola e a outra está à frente <strong>de</strong> umaturma nas Ações Pedagógicas Descentralizadas (APEDs).Por ser<strong>em</strong> estas duas modalida<strong>de</strong>s distintas <strong>de</strong>ntro do mesmoestabelecimento, englobá-las na observação com certeza trouxe mais riqueza <strong>de</strong>informações sobre o objeto do trabalho.A professora da se<strong>de</strong> foi escolhida consi<strong>de</strong>rando-se as suas respostas aoquestionário e pela sua trajetória profissional diferenciada, pois, além <strong>de</strong> formação <strong>em</strong><strong>Educação</strong> Artística, é formada <strong>em</strong> Língua Portuguesa, o que se consi<strong>de</strong>rou ser umatrajetória peculiar importante a ser investigada. A segunda professora foi escolhida<strong>de</strong>vido às respostas diferenciadas que <strong>de</strong>u ao questionário e por seu trabalho serapontado como excelente pelas coor<strong>de</strong>nadoras das APEDs.Já após a tabulação dos questionários distribuídos entre os estudantes,escolheram-se quatro <strong>de</strong>ntre eles com qu<strong>em</strong> foram feitas entrevistas <strong>de</strong>vido àsrespostas que <strong>de</strong>ram e por se encaixar<strong>em</strong> na faixa etária que se pretendia analisar.2.3 ESTUDOS EXPLORATÓRIOSForam realizados estudos exploratórios a fim <strong>de</strong> se verificar a valida<strong>de</strong> ou nãodas perguntas utilizadas nos questionários que seriam aplicados tanto aos estudantescomo aos professores na modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pré-teste. Observaram-se inicialmente algunsprobl<strong>em</strong>as, especialmente na formulação das questões.Corrigiram-se, então, as perguntas mal formuladas e eliminaram-se outrasjulgadas <strong>de</strong>snecessárias diante do objetivo do trabalho. Decidiu-se também, após aprimeira análise do material coletado, que seria interessante formular algumas


21entrevistas abertas com os estudantes, além das que tinham sido planejadas para osprofessores, dada a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações obtidas na primeira recolha.Apesar do risco que representava manter no questionário dos professores apergunta número 10 (As Diretrizes Curriculares Estaduais estão pautadas nascontribuições teóricas dos pensadores que integraram o Círculo <strong>de</strong> Bakhtin. De queforma essa teoria t<strong>em</strong> se refletido na sua prática profissional?), pois os professorespo<strong>de</strong>riam não respondê-la <strong>de</strong>vido a referência à teoria bakhtiniana ser eventualmente<strong>de</strong>sconhecida. Decidiu-se mantê-la tal qual foi formulada porque muito recent<strong>em</strong>ente osprofessores haviam tido um curso <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong> <strong>de</strong>zesseis horas sobre o círculo <strong>de</strong>Bakhtin, além <strong>de</strong> ter<strong>em</strong> participado <strong>de</strong> cursos s<strong>em</strong>estrais obrigatórios sobre esseassunto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a implantação das novas Diretrizes Curriculares <strong>em</strong> 2006. Achou-seinteressante pesquisar o quanto e o quê foi absorvido pelos professores e aproveitar aoportunida<strong>de</strong> para tentar avaliar se estes cursos obrigatórios mudam <strong>de</strong> fato o seu agir.Os questionários piloto que se <strong>de</strong>stinavam aos alunos foram entregues a vintee cinco estudantes: <strong>de</strong>z alunos do turno matutino e quinze do período noturno. Narecolha <strong>de</strong> informações dos questionários iniciais alguns pontos já pu<strong>de</strong>ram serlevantados, quais foram:a) havia dois grupos distintos formados nesta modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, o primeiro<strong>de</strong>les composto <strong>de</strong> aposentados e donas <strong>de</strong> casa que não tinham ativida<strong>de</strong>r<strong>em</strong>unerada e o outro, composto <strong>de</strong> trabalhadores assalariados, na suamaioria auxiliares <strong>de</strong> produção que <strong>de</strong>spediam doze horas por dia notrabalho, levando-se <strong>em</strong> conta o t<strong>em</strong>po no trajeto <strong>de</strong> ida e volta;b) dos 25 estudantes pesquisados, nove eram trabalhadores com carteiraassinada, três autônomos, cinco donas <strong>de</strong> casa, três aposentados, trêstrabalhavam na economia informal e dois <strong>em</strong> trabalho doméstico s<strong>em</strong>carteira;c) com relação à leitura <strong>de</strong> livros, vinte e dois <strong>de</strong>clararam não ler, três<strong>de</strong>clararam ler livros, que <strong>em</strong> conversa informal soube-se que se tratava daBíblia. A Internet apareceu como leitura para quatro <strong>de</strong>les. Como nove dos


22estudantes pesquisados afirmaram ler jornais, ao perguntar qual jornal liam,informaram que era um <strong>de</strong> distribuição gratuita “Jornal do Ônibus”;d) segundo as respostas, os pais <strong>de</strong> onze eram ou foram analfabetos, <strong>de</strong> seisestudaram até a quarta série, <strong>de</strong> seis tinham Fundamental completo e <strong>de</strong> doisconcluíram o Ensino Médio;e) com relação ao estudo dos filhos, observou-se uma regularida<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>-série.Um aposentado respon<strong>de</strong>u que t<strong>em</strong> duas filhas universitárias;f) <strong>em</strong> resposta à pergunta doze, seis alunos <strong>de</strong>clararam nunca ter ido àbiblioteca, onze foram para assistir filmes (são exibidos s<strong>em</strong>analmente pelabibliotecária), dois foram <strong>em</strong>prestar livros, seis para navegar na Internet (fazerpesquisas escolares).A aplicação do projeto piloto nesta fase inicial foi importante, pois além <strong>de</strong>nortear a escolha <strong>de</strong> pessoas a ser<strong>em</strong> entrevistadas, possibilitou uma revisão doquestionário que posteriormente foi utilizado.2.4 O DESENVOLVIMENTO DA COLETA DE DADOSUma vez escolhidos o local e os sujeitos da pesquisa e, acompanhando-se oraciocínio <strong>de</strong> Charlot (2000), o qual argumenta que o pesquisador, ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong>que dá a palavra àqueles que se encontram envolvidos nas situações e práticas que seestá estudando, <strong>de</strong>verá estar ciente <strong>de</strong> que ninguém é transparente para si mesmo e“dizer a sua prática” é s<strong>em</strong>pre colocá-la primeiramente <strong>em</strong> palavras para <strong>de</strong>pois“interpretá-la e teorizá-la”. E que, principalmente, para se obter resultados é precisointerrogar-se sobre o modo como os pesquisados (e até mesmo o próprio pesquisador)organizam e categorizam o mundo. “Descrever e escutar, mas também conceitualizar eteorizar. A construção do objeto <strong>de</strong> pesquisa proce<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste duplo movimento <strong>de</strong> imersãono objeto e distanciamento teórico”, avisa o autor, pois “s<strong>em</strong> o primeiro, a teoria não sabedo que está falando. S<strong>em</strong> o segundo, o pesquisador ignora qual a linguag<strong>em</strong> estáutilizando” (2000 p.15).


23Finalmente, partiu-se para a realização da pesquisa, dando forma ao material<strong>em</strong>pírico, iniciando-se o acompanhamento das práticas <strong>de</strong> leitura das duas professorasescolhidas. Procurou-se no primeiro encontro comunicar às professoras e aos alunos otrabalho <strong>de</strong>senvolvido, e informá-los que tomar-se-iam registros e notas <strong>de</strong> campo, b<strong>em</strong>como acompanhar-se-iam os eventos ocorridos nas aulas, uma vez por s<strong>em</strong>ana. Pediuseentão às professoras que no dia <strong>de</strong>stinado à observação foss<strong>em</strong> trabalhadas práticas<strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> literatura, pedido ao qual houve total concordância das docentes.É preciso elucidar neste ponto que as aulas da professora da se<strong>de</strong> eram noperíodo matutino e as das APEDs, no período noturno. A opção pela diferença <strong>de</strong> turnosfoi intencional, pois se pretendia observar turmas com sist<strong>em</strong>áticas totalmente diversas eacompanhar alunos com cotidiano profissional diferenciado.As aulas <strong>de</strong> observação iniciaram <strong>em</strong> abril e se esten<strong>de</strong>ram até meados <strong>de</strong>junho, ressaltando-se que as aulas da EJA têm um horário diferenciado: as da se<strong>de</strong> comduração <strong>de</strong> 1h e 30min, e as da APED 3h e 30min.Para <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r as aulas <strong>de</strong> observação procurou-se <strong>de</strong> início apenas tomarnotas, optando pela não participação no <strong>de</strong>senrolar das aulas. No entanto esteposicionamento modificou-se porque os alunos e muitas vezes a própria professorasolicitaram a intervenção da pesquisadora <strong>em</strong> uma ou outra questão que se apresentava.Torna-se ainda importante ressaltar que a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das professoraspesquisadas, b<strong>em</strong> como do corpo administrativo e pedagógico da escola, forampreservados.Paralelamente às aulas <strong>de</strong> observação, além das entrevistas com asprofessoras observadas, foram formuladas entrevistas individuais com três professoras<strong>de</strong> Língua Portuguesa que atuam no estabelecimento, buscando-se aprofundarquestões referentes à leitura, à leitura literária e às representações que “mantêm comesse saber” (CHARLOT, 2000, p. 62).


243 LEITURA: UM TEMA, VÁRIOS DESDOBRAMENTOSCada um <strong>de</strong> nós é um ser no mundo, com o mundo e com os outros.Viver ou encarnar esta constatação evi<strong>de</strong>nte, enquanto educador oueducadora, significa reconhecer nos outros não importa sealfabetizandos ou participantes <strong>de</strong> cursos universitários; se alunos <strong>de</strong>escolas do primeiro grau ou se m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> uma ass<strong>em</strong>bléia popular odireito <strong>de</strong> dizer a sua palavra. Direito <strong>de</strong>les <strong>de</strong> falar a que correspon<strong>de</strong>nosso <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> escutá-los.Paulo FreireProcurando ampliar o conceito <strong>de</strong> leitura, principalmente a literária, estecapítulo discorre primeiramente sobre Mikhail Bakhtin, autor fundante <strong>de</strong>ste trabalho,por se enten<strong>de</strong>r ser <strong>de</strong> suma importância uma aproximação tanto <strong>de</strong> sua trajetória,quanto dos seus pressupostos.3.1 O AUTORMikhail Bakhtin, <strong>em</strong> 1918, formou-se pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Petersburgo <strong>em</strong>História e Filologia. A partir dos 29 anos teve uma vida atribulada pela enfermida<strong>de</strong>(osteomielite), o que o impediu <strong>de</strong> trabalhar regularmente, foi vítima <strong>de</strong> perseguiçõespolíticas, sendo preso e exilado no Cazaquistão por seis anos. No início da década <strong>de</strong>1960 sua obra tornou-se conhecida, tanto pelos russos como pelos oci<strong>de</strong>ntais, graçasao esforço <strong>de</strong> jovens professores <strong>de</strong> literatura do Instituto Gorki <strong>de</strong> Literatura, <strong>em</strong>Moscou, que publicaram Probl<strong>em</strong>as da Poética <strong>de</strong> Dostoievski, <strong>em</strong> 1963, A CulturaPopular na Ida<strong>de</strong> Média e no Renascimento: o Contexto <strong>de</strong> François Rabelais <strong>em</strong> 1965,os estudos sobre o romance <strong>em</strong> 1975 e o material <strong>de</strong> arquivo <strong>em</strong> 1979. (SOUZA, 2002,p.39).A esse respeito comenta Faraco:Diante <strong>de</strong> tantos percalços, não é <strong>de</strong> estranhar, <strong>de</strong> um lado a tardiarepercussão <strong>de</strong> suas idéias (po<strong>de</strong>-se dizer que só no fim dos anos 70 éque Bakhtin começou a ser referência sist<strong>em</strong>ática nos <strong>de</strong>batesacadêmicos) e <strong>de</strong> outro, a forma caótica <strong>de</strong> apropriação <strong>de</strong> seupensamento (2007 p. 10).


25No esforço dos interlocutores <strong>em</strong> colocar a linguag<strong>em</strong> frente a um e a outro,que Bakhtin elaborou um dos princípios-chave <strong>de</strong> sua teoria, o dialogismo, pois,segundo ele, o locutor enuncia antecipando o que o outro vai dizer, isto é,experimentando ou projetando o lugar <strong>de</strong> seu ouvinte, que po<strong>de</strong> concordar ou discordardo que foi dito.Deslocando o significado da comunicação externamente ao locutor e aointerlocutor, o teórico russo coloca <strong>em</strong> cheque toda a forma <strong>de</strong> se pensar o ensino dalíngua materna, uma vez que, para ele, os lingüistas da época tais como Vossler eSaussere, não consi<strong>de</strong>ravam a presença do outro no diálogo, ou quando faziamreferência a um receptor, este era passivo, não tendo nenhuma, ou quase nenhuma,função na comunicação.Para Bakhtin a unida<strong>de</strong> real da comunicação discursiva é o enunciado, “um elo<strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ia muito complexa <strong>de</strong> outros enunciados” (BAKHTIN, 1992, p. 311). Todaenunciação completa é constituída <strong>de</strong> significação, <strong>de</strong> t<strong>em</strong>a ou sentido. Essesel<strong>em</strong>entos se integram formando um todo, e sua compreensão só é possível através dainteração. Cada esfera <strong>de</strong> utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis<strong>de</strong> enunciado, constituindo-se assim os gêneros do discurso. O autor afirma que “senão existiss<strong>em</strong> os gêneros do discurso e não os domináss<strong>em</strong>os, se tivéss<strong>em</strong>os <strong>de</strong> criálospela primeira vez no processo da fala, se tivéss<strong>em</strong>os <strong>de</strong> construir cada um dosnossos enunciados, a comunicação verbal seria quase impossível” (BAKHTIN, 1992, p.302).A oração, a qual a Gramática da Aca<strong>de</strong>mia 2 subdivi<strong>de</strong> <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s fônicas,sílabas e fon<strong>em</strong>as, dá à língua uma forma fragmentária, pois não transmite uma idéiaou um pensamento. Essa forma <strong>de</strong> pensar foi muito utilizada no ensino <strong>de</strong> línguamaterna pela pedagogia tradicional e alvo <strong>de</strong> reflexões do estudioso, que observou:a oração, assim como a palavra é uma unida<strong>de</strong> significante da língua; porisso, consi<strong>de</strong>rada isoladamente.[...] Não obstante, é impossível adotar arespeito <strong>de</strong>ssa oração isolada, uma atitu<strong>de</strong> responsiva-ativa a não ser quesaibamos que o locutor, mediante essa oração, disse tudo que queriadizer e que essa oração não é precedida e n<strong>em</strong> seguida <strong>de</strong> outras oraçõesprovenientes do mesmo locutor (BAKHTIN, 1992, p. 306).2 Referindo-se à Aca<strong>de</strong>mia Russa, na época recém inaugurada.


26Dessa forma, ao <strong>em</strong>basar o ensino da língua na perspectiva bakhtiniana, ossujeitos envolvidos no processo <strong>de</strong> ensino-aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ixarão <strong>de</strong> pautar sua prática<strong>em</strong> exercícios estruturais, técnicas <strong>de</strong> redação e treinamento para habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leituraque não preparam o aluno para as situações reais do ato da fala.Não obstante a fragmentação da obra <strong>de</strong> Mikhail Bakhtin e a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>tradução <strong>de</strong> suas idéias, o valor <strong>de</strong> seu trabalho é inegável e permanece instigando efazendo refletir sobre a linguag<strong>em</strong> e suas relações entre os sujeitos, pois “muito maisque um teórico das questões literárias ou da substância social da linguag<strong>em</strong> é umpensador, um filósofo, <strong>de</strong>ntre os maiores <strong>de</strong>ste século” (FARACO, 2007, p. 12), cujascontribuições no campo do estudo da linguag<strong>em</strong> causaram uma ruptura entre osubjetivismo e o objetivismo, relacionando o falante da língua a um contexto histórico esocial.O teórico enten<strong>de</strong> o ato da comunicação como um ato social, histórico esocialmente construído, por sujeitos inseridos <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminado momento histórico esocial, cuja compreensão ativa e responsiva só é possível quando “opõe ao outro umacontrapalavra”. (BAKHTIN, 1992, p.137).Segundo ele, “O diálogo, no sentido estrito do termo, não constitui, é claro,senão uma das formas, é verda<strong>de</strong> que das mais importantes da interação verbal”(BAKHTIN, 1992, p. 123). Entretanto, po<strong>de</strong>-se compreen<strong>de</strong>r a palavra “diálogo” <strong>em</strong> umsentido mais amplo, isto é, não apenas como a comunicação <strong>em</strong> voz alta, <strong>de</strong> pessoascolocadas face a face, mas como todo o ato <strong>de</strong> comunicação verbal, <strong>de</strong> qualquer tipoque seja, pois para ele:A vida é dialógica por sua natureza. Viver significa participar <strong>de</strong>um diálogo... O hom<strong>em</strong> participa neste diálogo todo e com todasua vida: com olhos, lábios, mãos, alma, espírito, com todo ocorpo, com seus atos 3 . (BAKHTIN, 1982, apud FARACO, 2007).3La vida es dialógica por su naturaleza. Vivir significa participar en un diálogo... El hombre participa en este diálogo todo y contoda su vida: con ojos, labios, manos, alma, espíritu, con todo el cuerpo, con sus actos


27Nesta perspectiva, Bakhtin, ao pensar o ensino da língua materna, não adissocia <strong>de</strong> interações reais do ato da fala, pois para ele a verda<strong>de</strong>ira essência dosentido do discurso não está nas palavras que não são boas ou más, n<strong>em</strong> na suaessência, n<strong>em</strong> nos interlocutores, mas na interação social que é estabelecida no ato dafala.Dessa forma, trabalhar a leitura na perspectiva bakhtiniana significa levar <strong>em</strong>conta a construção dialógica <strong>de</strong> sentidos entre interlocutores (leitores e escritores) e aotexto <strong>em</strong> si e não só valorizar <strong>de</strong>scrições dos níveis lingüísticos, tão comuns aoprocesso <strong>de</strong> ensino-aprendizag<strong>em</strong> da pedagogia tradicional. Ao construir sentidos,leitores e escritores interag<strong>em</strong> com o texto fazendo as suas inferências pessoaistrazidas <strong>de</strong> experiências com outros textos. Para Bakhtin, ao ler, o sujeito ativa suacompreensão, ou seja, entra <strong>em</strong> fase preparatória(...) para uma resposta (seja qual for a forma <strong>de</strong> sua realização). Olocutor postula esta compreensão responsiva ativa: o que ele esperanão é uma compreensão passiva, que, por assim dizer, apenasduplicaria seu pensamento no espírito do outro, o que espera é umaresposta (...) (BAKHTIN, 1997, p. 291).Para tanto, é necessário eleger-se o diálogo como o mais importanteinstrumento metodológico, valorizando os saberes que os alunos levam para a sala <strong>de</strong>aula, os quais retratam a cultura que produz<strong>em</strong> e vivenciam. Nesse sentido Faracoargumenta:O caráter dialógico é o fator unificador <strong>de</strong> todas as ativida<strong>de</strong>slinguageiras, havendo também uma rica dialogia entre os gêneroscotidianos do discurso e os gêneros elaborados (os gêneros primários eos gêneros secundários), na terminologia que aparece no texto ‘Osgêneros do discurso’. (FARACO, 2007, p.104)Ao privilegiar-se o dialogismo e a alterida<strong>de</strong> no ensino da leitura literária,portanto, estar-se-á possibilitando ativida<strong>de</strong>s lingüísticas com as quais o alunosocialmente <strong>de</strong>sfavorecido possa apropriar-se da língua que a classe dominanteconsi<strong>de</strong>ra “legítima”. S<strong>em</strong> menosprezar a bagag<strong>em</strong> cultural <strong>de</strong>le, estar-se-á realmenteinstrumentalizando-o para uma ampla participação política na luta contra as


28<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e econômicas. Estar-se-á, conforme Freire (2006, p. 19), dando aoportunida<strong>de</strong> ao sujeito <strong>de</strong> sair do mutismo, superar a cultura do silêncio ou “tomar apalavra”.Na seqüência passa-se à analise da recolha das informações obtidas com osalunos, por meio dos questionários e entrevistas, procurando-se aprofundar as relaçõesque eles estabelec<strong>em</strong> com as práticas <strong>de</strong> leitura literária.Construiu-se o próximo subcapítulo tendo <strong>em</strong> mente uma “leitura positiva”,conforme enten<strong>de</strong> Charlot (2000, p. 30), prestando-se atenção muito mais no que osalunos “faz<strong>em</strong>, consegu<strong>em</strong>, têm e são” do que <strong>em</strong> evi<strong>de</strong>nciar falhas e carências porparte <strong>de</strong>les.3.2 LEITURA E LEITURA LITERÁRIA: O OLHAR DO ALUNOConforme Oliveira (1999, p.15), quando o t<strong>em</strong>a é educação <strong>de</strong> pessoas jovens,adultas e idosas, não se está tratando do estudante universitário ou do profissionalqualificado que freqüenta cursos <strong>de</strong> especialização, ou <strong>de</strong> pessoas interessadas <strong>em</strong>melhorar o seu conhecimento cultural, mas sim <strong>de</strong> indivíduos <strong>em</strong>igrantes do meio ruralque, uma vez nas gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, buscam a escola para terminar seus estudos quases<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>ixados para trás por motivos <strong>de</strong> trabalho.Essas representações <strong>de</strong>terminam as práticas sociais nas quais estãopresentes as crenças, os costumes e os valores, estigmatizando o aluno que precisarecorrer a essa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino <strong>em</strong> relação aos outros e a eles próprios, poisconforme alerta Bakhtin (1992 p. 278):Tudo o que me diz respeito, a começar por meu nome, e que penetra<strong>em</strong> minha consciência, v<strong>em</strong>-me do mundo exterior, da boca dos outros(da mãe), etc. e me é dado com a entonação, com o tom <strong>em</strong>otivo dosvalores <strong>de</strong>les. Tomo consciência <strong>de</strong> mim, originalmente, através dosoutros: <strong>de</strong>les recebo a palavra, a forma e o tom que servirão àformação original da representação que terei <strong>de</strong> mim mesmo.


29Oliveira (1992 p.17), esclarece que há atualmente duas linhas <strong>de</strong> pesquisabuscando "i<strong>de</strong>ntificar um percurso universal para o <strong>de</strong>senvolvimento psicológico do serhumano <strong>de</strong>finindo quais são as formas mais ou menos sofisticadas <strong>de</strong> pensamento”. Naprimeira, as observações r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> a pensar a socieda<strong>de</strong> dividida entre um grupo“avançado” dono <strong>de</strong> um “raciocínio abstrato” e outro, “primitivo”, preso à realida<strong>de</strong>concreta. Incluídos no segundo grupo estariam aqueles <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> rural, s<strong>em</strong>escolarida<strong>de</strong> e com nível socioeconômico mais baixo.A segunda linha, afirma a autora, opõe-se à primeira afirmando que os sereshumanos funcionam psicologicamente <strong>em</strong> resposta às <strong>de</strong>mandas do contexto <strong>em</strong> queviv<strong>em</strong> e não se po<strong>de</strong> dividi-los <strong>em</strong> grupos “avançados” e “primitivos”, “pois todo o<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho humano é equivalente e <strong>de</strong> igual valor”.A <strong>de</strong>speito <strong>de</strong>ssa segunda concepção, a educação <strong>de</strong> jovens, adultos e idosossuscita um olhar preconceituoso e negativo por parte da socieda<strong>de</strong>, relacionando-o aum ensino aligeirado, apenas reparador e <strong>de</strong> segunda categoria, <strong>de</strong>stinado às camadasmais pobres da esfera social, cuja função é apenas minimizar a inferiorida<strong>de</strong> intelectual<strong>de</strong> trabalhadores os quais nunca se compararão aos indivíduos com superiorida<strong>de</strong>cognitiva advindos <strong>de</strong> ensino regular.Esse tipo <strong>de</strong> representação se esten<strong>de</strong> para os alunos da EJA e acaba<strong>de</strong>terminando as práticas sociais e pedagógicas, estigmatizando o aluno inserido nessamodalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino <strong>em</strong> relação aos outros e a eles próprios.Por enten<strong>de</strong>r como Charlot (2000) que “apren<strong>de</strong>r faz sentido por referência àhistória do sujeito, às suas expectativas, às suas referências, à sua concepção da vida,às suas relações com os outros, à imag<strong>em</strong> que t<strong>em</strong> <strong>de</strong> si e à que quer dar <strong>de</strong> si aosoutros”, acredita-se não ser possível acompanhar as práticas dos professores s<strong>em</strong>antes se <strong>de</strong>bruçar <strong>em</strong> conhecer melhor qu<strong>em</strong> são os alunos a qu<strong>em</strong> se <strong>de</strong>stinam essaspráticas.Para tanto os c<strong>em</strong> questionários distribuídos aos educandos buscam apenas<strong>de</strong>linear uma espécie <strong>de</strong> “perfil” do educando da modalida<strong>de</strong> EJA, a fim <strong>de</strong> se enten<strong>de</strong>rmelhor qu<strong>em</strong> são e as representações que possu<strong>em</strong> a respeito da leitura e maisespecificamente da leitura literária.


30Com a leitura das respostas dos questionários distribuídos aos educandos foipossível perceber que as diversas faixas etárias que compõ<strong>em</strong> a EJA apresentamcaracterísticas próprias, a partir <strong>de</strong> uma categorização <strong>em</strong> faixas <strong>de</strong> 18 a 20 anos, 21 a30 anos, 31 a 40 anos, 41 a 50 anos, 51 anos a 60 anos e <strong>de</strong> 61 anos <strong>em</strong> diante, asquais foram distribuídas conforme tabela:TABELA 01 - CATEGORIZAÇÃO E NÚMERO DOS ALUNOS RESPONDENTES DEQUESTIONÁRIOS EM UMA EJA DE CURITIBACategoriaNúmero <strong>de</strong> alunosrespon<strong>de</strong>ntes18 a 20 anos 2321 a 30 anos 2431 a 40 anos 2841 a 50 anos 1451 a 60 anos 0661 <strong>em</strong> diante 05Total <strong>de</strong> alunosentrevistados 100Fonte: Pesquisa da autora3.2.1 Os JovensBuscou-se categorizar as faixas etárias conforme os grupos culturaisconstituídos para estudos <strong>de</strong>mográficos, muito <strong>em</strong>bora se concor<strong>de</strong> com Bourdieu(1983) quando este afirma que a idéia <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong> e velhice é construídahistoricamente com o fim último <strong>de</strong> estabelecer divisões <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.A reflexão inicia a partir do indivíduo consi<strong>de</strong>rado jov<strong>em</strong> e quando se trata <strong>de</strong>jovens, há s<strong>em</strong>pre uma tendência para a homogeneização, no entanto é uma categoriaheterogênea, pois as formas <strong>de</strong> viver a condição juvenil não variam só <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong>para socieda<strong>de</strong>, mas também no interior <strong>de</strong> uma mesma formação social, ao longo dot<strong>em</strong>po, <strong>de</strong> grupo para grupo ou <strong>de</strong> classe para classe. O jov<strong>em</strong> do qual tratar-se-á aquié aquele cujo trabalho significa a garantia da sua sobrevivência e muitas vezes até a <strong>de</strong>sua família.


31Os alunos da faixa etária dos <strong>de</strong>zoito aos vinte anos, respon<strong>de</strong>ntes dosquestionários, tanto moças quanto rapazes, são <strong>em</strong> sua gran<strong>de</strong> maioria naturais <strong>de</strong>Curitiba e seus pais têm no mínimo a oitava série, seis <strong>de</strong>les têm o pai ou a mãe comEnsino Médio completo, e doze trabalham com carteira assinada e receb<strong>em</strong> até doissalários mínimos. Iniciaram suas ativida<strong>de</strong>s profissionais entre quatorze e <strong>de</strong>zesseisanos, as jovens geralmente trabalhando como auxiliar <strong>de</strong> serviços domésticos (babá,<strong>em</strong>pregada mensalista), e os rapazes iniciando a trabalhar como menores aprendizesna indústria ou officce-boys. Despen<strong>de</strong>m <strong>de</strong>z a doze horas por dia no trabalho,computando-se o intervalo para almoço e o t<strong>em</strong>po gasto com transporte.Para esse grupo, ser leitor está associado à freqüência com que se lê e aaquisição <strong>de</strong> um gosto ou <strong>de</strong> um hábito. Segundo eles lê-se para se estar b<strong>em</strong>informado. Um aluno observou que se lê para analisar fatos e não cair <strong>em</strong> “pressões <strong>de</strong>manchetes”. Todos concordam que há um esforço por parte dos professores paraincentivar a prática da leitura, no entanto mencionam a leitura <strong>de</strong> textos para resolução<strong>de</strong> exercícios e como ponto <strong>de</strong> partida para produção <strong>de</strong> textos ou realização <strong>de</strong>pesquisas escolares. Somente dois <strong>de</strong>les indicaram a internet como fonte <strong>de</strong> leitura,sendo que as revistas e os jornais aparec<strong>em</strong> como os mais lidos.A disciplina <strong>de</strong> Língua Portuguesa aparece para essa faixa etária <strong>de</strong> alunoscomo a que mais estimula o aluno a ler, seguida da disciplina <strong>de</strong> História. No entanto,po<strong>de</strong>-se perceber que o aluno quando respon<strong>de</strong>u tinha <strong>em</strong> mente os trabalhosescolares, pois a leitura é inerente a essas duas disciplinas.Dadas as características intrínsecas do aluno jov<strong>em</strong>, alguns professoresparec<strong>em</strong> convencidos <strong>de</strong> que esses alunos da EJA vieram para perturbar e<strong>de</strong>sestabilizar a or<strong>de</strong>m escolar. Essa preocupação é evi<strong>de</strong>nte na fala do diretor geral doestabelecimento reconhecendo ser a indisciplina e a ina<strong>de</strong>quação do jov<strong>em</strong> àspropostas <strong>de</strong> ensino diferenciadas e a fonte maior das preocupações da equipepedagógica, agravando-se pelo fato da entida<strong>de</strong> receber alunos cumpridores <strong>de</strong> penasalternativas que apresentam ou já apresentaram probl<strong>em</strong>as comportamentais.


323.2.2 Os AdultosPara Palácios (1995), a ida<strong>de</strong> adulta po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma fase <strong>de</strong>estabilida<strong>de</strong> e ausência <strong>de</strong> mudanças, mas para esses alunos trabalhadores implicaoptar pela volta aos bancos escolares quase s<strong>em</strong>pre pressionados pelas exigências domundo do trabalho, pois se <strong>de</strong>param com gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> manter seus<strong>em</strong>pregos <strong>de</strong>vido à exigência do mercado <strong>de</strong> trabalho.Oliveira (1999, p.17) observa que esse adulto difere sobr<strong>em</strong>aneira da criança edo jov<strong>em</strong> porque traz consigo uma história mais longa <strong>de</strong> experiências acumuladas que<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser levadas <strong>em</strong> conta no processo <strong>de</strong> ensino-aprendizag<strong>em</strong>. Comparados àscrianças e aos jovens, os adultos apresentam diferentes habilida<strong>de</strong>s e dificulda<strong>de</strong>s,porém, maior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão sobre seus próprios processos <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>.Este aspecto aparece como relevante para os professores, já que, quandoperguntados sobre o papel primordial do educador da EJA, reconheceram que otrabalho pedagógico <strong>de</strong>ve partir dos interesses e necessida<strong>de</strong>s dos alunos, ressaltarama necessida<strong>de</strong> da criação <strong>de</strong> um ambiente <strong>de</strong> interação entre professor e aluno eafirmaram tirar proveito da experiência acumulada <strong>de</strong>les.Com relação aos questionários distribuídos na categoria <strong>de</strong> 21 a trinta anos,<strong>de</strong>zesseis alunos são naturais <strong>de</strong> Curitiba, sendo os <strong>de</strong>mais oriundos do interior doestado. A maioria trabalha com carteira assinada dividida entre o trabalho no comércioe na prestação <strong>de</strong> serviços. Como os da categoria anterior, iniciaram a trabalhar muitocedo entre os quatorze e <strong>de</strong>zesseis anos.Dos que respon<strong>de</strong>ram, <strong>em</strong>pregam entre <strong>de</strong>z a doze horas diárias no trabalho ereceb<strong>em</strong> entre dois a três salários mínimos. Com relação à escolarização dos pais,<strong>de</strong>zessete estudantes <strong>de</strong>clararam que tanto o pai quanto a mãe cursaram até a quartasérie. Quatro informaram que os pais concluíram o Ensino Fundamental e os pais <strong>de</strong>apenas três alunos concluíram o Ensino Médio. Quando perguntados sobre aescolarida<strong>de</strong> dos filhos, observou-se que os mesmos estão mantendo uma regularida<strong>de</strong>ida<strong>de</strong>-série.Como na categoria anterior, associam o bom leitor àquele que lê comfreqüência, mas há uma preocupação <strong>em</strong> ler para se comunicar melhor e otimizar o


33<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho profissional. Somente uma aluna citou a leitura como fator <strong>de</strong> alienação:“sonhar, viajar, <strong>de</strong>ixar ser levada para outro lugar”.Para esta categoria <strong>de</strong> alunos o incentivo dos professores com relação à leituranão é consenso, muitos consi<strong>de</strong>ram que os professores apenas “pe<strong>de</strong>m” ou “mandam”que os alunos leiam. A maioria associa o incentivo à leitura com trabalhos escolares eresumos. Com relação a esta questão a aluna Joelma resume: “Todos falam: vocêsprecisam ler, ler, ler... E todos têm razão”.Vinte <strong>de</strong>les apontam a disciplina <strong>de</strong> Língua Portuguesa como a que maisincentiva a prática da leitura. A gran<strong>de</strong> maioria respon<strong>de</strong>u que não costuma freqüentara biblioteca da escola n<strong>em</strong> utilizar a internet. Os poucos que a <strong>em</strong>pregam, no entanto, ofaz<strong>em</strong> principalmente para ler notícias, jornais e se manter<strong>em</strong> atualizados.Entre os entrevistados nas categorias <strong>de</strong> trinta a quarenta e quarenta e um acinqüenta anos, observou-se bastante s<strong>em</strong>elhança, razão pela qual analisaram-se asduas categorias conjuntamente. A gran<strong>de</strong> maioria é do interior do Paraná, t<strong>em</strong> pais ouanalfabetos ou que no máximo freqüentaram a quarta série do Ensino Fundamental.Prefer<strong>em</strong> ler revistas e jornais a livros e trinta e nove afirmaram não costumar ir abiblioteca.Os alunos <strong>de</strong>ssa categoria associam a leitura à cultura, um meio <strong>de</strong> aperfeiçoara compreensão do mundo. A aluna Dercy assim conceitua o que é ser leitor: ”É aqueleque procura ler o conteúdo não para se distrair, mas para aumentar seusconhecimentos e melhorar a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão do mundo e das pessoasque o cercam”.Há unanimida<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação ao incentivo dado pelos professores à leitura, querfalando sobre livros, quer instando-os a ler. Embora ainda nesta categoria a questão daleitura esteja fort<strong>em</strong>ente associada às ativida<strong>de</strong>s escolares, uma aluna assim observa:“Claro que sim, pois esta é sua missão <strong>de</strong> educador”, fazendo referência ao conceito <strong>de</strong>que a docência é uma “missão”.


343.2.3 Os IdososApesar da Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar idoso o indivíduo commais <strong>de</strong> sessenta anos, nesta investigação, porém, englobar-se-á na categoria idosostambém os respon<strong>de</strong>ntes com ida<strong>de</strong> entre cinqüenta e um a sessenta anos, por setratar<strong>em</strong> <strong>de</strong> estudantes já há muito t<strong>em</strong>po afastados da escola e que contam com umatrajetória escolar diferenciada. Optou-se por elaborar a análise a partir dos resultados<strong>de</strong> entrevistas e conversas informais.Foi possível observar que os alunos <strong>de</strong>stas categorias, matriculados na EJA,<strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong> procurá-la apenas como um passat<strong>em</strong>po ou um lugar para conversar esocializar-se. Uma vez perguntados sobre as razões <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> novamente nos bancosescolares, foram unânimes <strong>em</strong> afirmar que <strong>de</strong>sejam concluir o Ensino Médio paraalcançar uma vaga na universida<strong>de</strong>, ou conseguir um <strong>em</strong>prego melhor r<strong>em</strong>unerado,influenciados talvez pela nova representação da velhice constituída por meio daexpressão terceira ida<strong>de</strong>, a qual recent<strong>em</strong>ente e com muita rapi<strong>de</strong>z popularizou-se novocabulário brasileiro. A expressão originou-se na França com a implantação, nos anos70, das Universités du Troisième Age 2 .Esta representação, largamente difundida pela mídia falada e escrita, masprincipalmente pela cultura <strong>de</strong> consumo, dá conta aos indivíduos com mais ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>que são ativos, capazes e que po<strong>de</strong>m, uma vez liberados da responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criaros filhos, <strong>de</strong>dicar<strong>em</strong>-se à realização <strong>de</strong> seus sonhos. Ex<strong>em</strong>plo disso é a resposta doaluno Moisés pai <strong>de</strong> três filhos universitários, que já se sustentam sozinhos e que,<strong>em</strong>bora com 73 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, preten<strong>de</strong> cursar faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Nutrição:2 Expressão criada a partir da criação da Universida<strong>de</strong> da Terceira Ida<strong>de</strong> ou Universida<strong>de</strong> Sênior para proporcionarativida<strong>de</strong>s culturais, educacionais e <strong>de</strong> convívio para indivíduos com cinqüenta anos ou mais. Surgiram na década<strong>de</strong>1970 na França, mais precisamente na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Toulouse.


35G: E por que foi que o senhor <strong>de</strong>cidiu estudar aqui?Moisés: Bom, eu trabalhei durante 38 anos, ven<strong>de</strong>ndo livros, eu liamuito... Só às vezes algumas palavras que eu não sabia o significado,eu tinha que ter um dicionário para po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cifrar o significado.G: O senhor vê alguma dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> voltar estudar nessa ida<strong>de</strong>?Moisés: Não... Eu s<strong>em</strong>pre quis... Mas nunca pu<strong>de</strong>. Agora que meusfilhos estão criados posso me <strong>de</strong>dicar aos estudos.O aluno Clari <strong>de</strong> 58 anos confirma:G: Você está se adaptando a voltar a estudar, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 30 anos?Como está sendo isso para você?Clari: Ah! Eu me sinto b<strong>em</strong>, tomei muita amiza<strong>de</strong>, tanto com os colegase com os professores, não tenho reclamação <strong>de</strong> ninguém... Eu achoque isso aqui é muito útil... Pretendo continuar e fazer segundo grau e<strong>de</strong>pois uma faculda<strong>de</strong>Essa <strong>de</strong>dicação, <strong>de</strong>terminação e constância aos estudos somados àassiduida<strong>de</strong> com que freqüentam as aulas reflet<strong>em</strong>-se na aprendizag<strong>em</strong>, comoresultantes da valorização da oportunida<strong>de</strong>. Geralmente relacionam-se b<strong>em</strong> com osmais jovens e procuram s<strong>em</strong>pre ajudá-los, conforme afirma o aluno Élson, <strong>de</strong> 21 anos,instrutor <strong>de</strong> informática:G: Como você se sente com relação às pessoas mais velhasconvivendo na sala <strong>de</strong> aula?Elson: Eles são muito bons, dão conselhos, incentivam e isso é muitobom, muito bom.Para melhor ilustrar a constância e persistência do aluno idoso que estuda nolocus investigado, cita-se o ex<strong>em</strong>plo do aluno Antonio Bernardino, <strong>de</strong> 83 anos, centro<strong>de</strong> uma matéria veiculada pelo jornal Gazeta do Povo 4 após ter passado no vestibular<strong>de</strong> Sociologia. No artigo o idoso promete <strong>de</strong>dicar-se aos estudos e vê a faculda<strong>de</strong> comoum <strong>de</strong>safio a superar, pois, segundo ele, “o conhecimento é fundamental e se chegueiaté aqui com saú<strong>de</strong>, tenho <strong>de</strong> aproveitar esse t<strong>em</strong>po para realizar os sonhos”.Matéria veiculada no dia 02/12/2008 sob o título “T<strong>em</strong>po para os sonhos”.


363.3 LEITURA LITERÁRIA E A RECEPÇÃO PELO ALUNO DA EJAAo propor-se uma análise da recepção da obra literária pelo aluno <strong>de</strong> EnsinoMédio da EJA, levou-se <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a teoria da Estética da Recepção formuladapor Hans Robert Jauss, o qual se <strong>de</strong>dicou, a partir dos anos 60, com bastantediss<strong>em</strong>inação, porém, nas décadas <strong>de</strong> 1970 e 1980, à reflexão sobre o papel do leitorna tría<strong>de</strong> autor-obra-leitor, pois para ele <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XIX a estética estava centradana apresentação da Arte e da História da Arte como história das obras e <strong>de</strong> seusautores.Jauss, inspirado no trabalho <strong>de</strong> Hans Jans Gadamer, seu ex-professor, pesquisao papel do intérprete ou leitor, reconhecendo que a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>le influi nacompreensão e no entendimento da recepção da obra <strong>de</strong> arte. Rompendo com osmétodos marxistas e formalistas que se <strong>de</strong>bruçavam ora no autor, ora na obra, propôsque o papel do leitor fosse consi<strong>de</strong>rado, pon<strong>de</strong>rando que nenhum autor escrevesomente por escrever, pois necessita <strong>de</strong> um público e é a ele a qu<strong>em</strong> primeiro é dirigidaa obra literária. Para ele:No triângulo formado pelo autor, a obra e o público, este último não é <strong>de</strong>forma alguma um el<strong>em</strong>ento passivo, que apenas reagiria <strong>em</strong> ca<strong>de</strong>ia,mas antes uma fonte <strong>de</strong> energia que contribui para fazer a própriahistória. A vida da obra na história não é pensável s<strong>em</strong> a participaçãoativa daqueles a qu<strong>em</strong> se dirige. (JAUSS, 1993, p.53).Dados os conceitos do teórico al<strong>em</strong>ão, consi<strong>de</strong>rou-se importante um recortedos livros mencionados pelos alunos pesquisados na pergunta <strong>de</strong> número treze dosquestionários que lhes foram entregues (apêndice 2I). Foi possível estabelecer, aprincípio, sete categorias compostas por livros <strong>de</strong> auto-ajuda, esotéricos, históricos,religiosos, romances <strong>de</strong> ficção, romances policiais e romances românticos compondoseo quadro a seguir.


37TABELA 2 -TÍTULOS DE LIVROS MENCIONADOS PELAS ALUNAS EM UMAEJA DE CURITIBATítulo da obraAutoajudaEsotérico Ficção Histórico Religioso RomanceRomanceSuspenseA Bíblia 5A Carícia do Vento 1A Divina Revelação do Inferno 1A Moreninha 1A Viuvinha 1Ainda Resta Uma Esperança 1Anjos e D<strong>em</strong>ônios 1Anos Ver<strong>de</strong>s 1As Valkyrias 1Bom Dia Espírito Santo 1Caçador <strong>de</strong> Pipas 2Casa <strong>de</strong> Pensão 1Casais InteligentesEnriquec<strong>em</strong> Juntos1Cinco Minutos 1Código da Vinci 2Dom Casmurro 1Enigma do Quadro 1Ensinando para TransformarVidas1Fernão Capelo Gaivota 1Fortaleza Digital 2Horas Nuas 1Marta no Mundo <strong>de</strong> Maria 1Metamorfose 1Mulher Controlada peloEspírito1Nada Dura para S<strong>em</strong>pre 1O Amor <strong>de</strong> Capitu 1O Assassinato do ContoPolicial1O Cortiço 1O Direito <strong>de</strong> Ser Jov<strong>em</strong> 1O Enigma do Quadro 1O Outro Lado da Meia Noite 1O Segredo 3O Silêncio da Chuva 1O Tronco do Ipê 1Olhai os Lírios do Campo 1Ponte para Terabitia 1Qu<strong>em</strong> Ama Educa 1Quincas Borba 1Se houver Amanhã 1Superando Desafios 1VerôniKa Deci<strong>de</strong> Morrer 1Violetas na Janela 1FONTE: Pesquisa da autora


38Com relação ao gênero <strong>de</strong> livros mencionados pelas alunas, a gran<strong>de</strong>preferência <strong>de</strong>las é pelos romances românticos, já os romances <strong>de</strong> suspense foraml<strong>em</strong>brados apenas por seis estudantes. A procura por livros com t<strong>em</strong>as religiosos (cincoalunas mencionaram ler a Bíblia) e <strong>de</strong> auto-ajuda foi observada como significante. Háentre as alunas leitoras mais procura pelos livros indicados pela escola do que entre osleitores do sexo masculino. Os gêneros históricos e ficção não foram mencionados porelas. Para melhor visualização da recolha <strong>de</strong>stas informações compôs-se o gráfico aseguir:GRÁFICO 01 – PREFERÊNCIA DE LEITURA LITERÁRIA PELO GÊNEROFEMININO EM UMA EJA DE CURITIBAAuto-ajudaEsotéricoFicçãoHistóricoReligiosoRomanceSuspense0 5 10 15 20 25FONTE: Pesquisa da autora


39TABELA 3 - TÍTULOS DE LIVROS MENCIONADOS PELOS ALUNOS DE UMAEJA DE CURITIBATítulo da obraAutoajudaEsotérico Ficção Histórico Religioso RomanceRomanceSuspense2001-Odisséia no Espaço 1A Bíblia 6A Coleção <strong>de</strong> Paulo Coelho 1Apocalipse 1As Valkyrias 2Caminhos <strong>de</strong> Pedra 1Capitães <strong>de</strong> Areia 1Código da Vinci 3Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Montecristo 1Corcunda <strong>de</strong> Notre Dame 1Estação Carandiru 1Fortaleza Digital 3Harry Potter 2Mágico <strong>de</strong> Oz 1Nas Margens do Rio Piedra3eu Sentei e ChoreiO Monge e o Executivo 3O Po<strong>de</strong>r da Fé 1O Segredo 5Pequenas Mulheres 1Qu<strong>em</strong> Mexeu no meu Queijo 1Ramsés 1Segunda Guerra Mundial 1Todos da Série Vagalume 1FONTE: Pesquisa da autoraNa análise das preferências do sexo masculino verificou-se que a literatura <strong>de</strong>auto-ajuda li<strong>de</strong>ra, seguida do gênero romance e da literatura esotérica. A leitura daBíblia foi l<strong>em</strong>brada por seis <strong>de</strong>les. Há pouca referência <strong>de</strong> literatura brasileira indicadapela escola, um aluno informou que leu todos da Série Vagalume, muito recomendadapelos professores <strong>de</strong> Língua Portuguesa no Ensino Fundamental. Com relação a esseaspecto há menção, ainda, aos livros Capitães <strong>de</strong> Areia <strong>de</strong> Jorge Amado e Caminho <strong>de</strong>Pedras <strong>de</strong> Rachel <strong>de</strong> Queirós. Os gêneros históricos e <strong>de</strong> ficção foram mencionadossomente por eles.


40Em geral, pô<strong>de</strong> ser observado que os alunos prefer<strong>em</strong> literatura estrangeira àbrasileira predominando a preferência pelos best sellers 5 . O gráfico a seguir facilita avisualização da preferência masculina.GRÁFICO 02 – PREFERÊNCIA DE LEITURA LITERÁRIA PELO GÊNEROMASCULINOAuto-ajudaEsotéricoFicçãoHistóricoReligiosoRomanceSuspense0 1 2 3 4 5 6 7 8 9FONTE: Pesquisa da autoraApós essa recolha <strong>de</strong> informações verificou-se ser necessário refinar aindamais a pesquisa e <strong>de</strong>senvolver questionamentos somente para estudantes leitores <strong>de</strong>livros literários, a partir <strong>de</strong> dois conceitos utilizados por Jauss (1993): O <strong>de</strong> “horizonte <strong>de</strong>expectativas”, segundo o qual uma obra po<strong>de</strong> ampliar ou não as expectativas daquele5Esta preferência acompanha uma tendência do público brasileiro que teve início, segundo Paes (2001), nasdécadas <strong>de</strong> 1930 e 1940, <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação do leitor nacional com as obras produzidas nos movimentosParnasiano e Mo<strong>de</strong>rnista.O autor argumenta que os t<strong>em</strong>as abordados principalmente pelo Mo<strong>de</strong>rnismo não conseguiram interessar opúblico e abriram brechas para que a literatura estrangeira <strong>de</strong> entretenimento dominasse a preferência do público <strong>de</strong>classe média e gradativamente do proletariado. Paralelamente a esse fato po<strong>de</strong>-se adicionar, segundo ele, osurgimento <strong>de</strong> bons autores estrangeiros entre eles Edgar Rice Burroughs e Agatha Christie.


41que lê, pois, enquanto leitor, já t<strong>em</strong> uma história <strong>de</strong> leituras construídas a partir <strong>de</strong> tudoque já leu e pela maneira com a qual se relacionou com o lido.O segundo conceito t<strong>em</strong> a ver com o que teórico al<strong>em</strong>ão consi<strong>de</strong>ra saber préviodo leitor, e <strong>de</strong> acordo com ele, a obra literária não é um objeto que existain<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do leitor, pois cada época atribui a ela um olhar particular:Uma obra não se apresenta nunca, n<strong>em</strong> mesmo no momento <strong>em</strong> queaparece, como uma absoluta novida<strong>de</strong>, num vácuo <strong>de</strong> informação,predispondo antes o seu público para uma forma b<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminada <strong>de</strong>recepção, através <strong>de</strong> informações, sinais mais ou menos manifestos,indícios familiares ou referências implícitas. (JAUSS, 1993, p.66)Com relação a este saber, Zilberman (2008) explica que, para a Estética daRecepção formulada por Jauss, as obras quando publicadas são inseridas <strong>em</strong> umasérie <strong>de</strong> normas estéticas e códigos sociais que a <strong>de</strong>terminam, fato este que“condiciona a recepção do texto <strong>em</strong> certa época ou <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um grupo social”permitindo assim que os leitores atu<strong>em</strong> <strong>de</strong> modo “coeso” refletindo ou refratando<strong>de</strong>terminadas obras.Em busca <strong>de</strong> uma maior aproximação <strong>de</strong>sses dois conceitos criados por Jaussàs obras lidas pelos educandos da escola investigada, proce<strong>de</strong>u-se, primeiramente auma análise mais <strong>de</strong>talhada dos questionários entregues aos alunos, fazendo-se umrecorte das respostas daqueles que se <strong>de</strong>clararam leitores e citaram obras que leramou estavam lendo.O segundo passo foi a elaboração <strong>de</strong> um questionário (apêndice 4) cujasperguntas tiveram como base uma pesquisa encomendada pelo Instituto Pró-livro 6(IPL), <strong>de</strong>senvolvida <strong>em</strong> âmbito nacional para traçar um perfil do leitor brasileiro,juntamente com um roteiro <strong>de</strong> entrevista (apêndice 5). Procurou-se verificar se haviauma aproximação da leitura que efetivamente faz<strong>em</strong> e a leitura que é pedida pelaescola.6 Pesquisa encomendada ao IBOPE com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> traçar um perfil do leitor brasileiro. Divulgada no S<strong>em</strong>inárioNacional <strong>em</strong> maio <strong>de</strong> 2008 <strong>em</strong> Brasília-DF.


42Para <strong>em</strong>preen<strong>de</strong>r essa nova fase da pesquisa foram escolhidos <strong>de</strong>z alunos(sete do sexo f<strong>em</strong>inino e três do sexo masculino) respon<strong>de</strong>ntes da primeira pesquisa,na qual se <strong>de</strong>clararam leitores, para aplicação dos questionários. Para as entrevistasforam chamados cinco estudantes (três alunas e dois rapazes) apontados como bonsleitores pelas respectivas professoras.Após a aplicação dos questionários, alguns pontos já pu<strong>de</strong>ram ser explicitados.É o que se tratará a seguir.Os educandos buscam um livro para ler tendo como principal critério <strong>de</strong>seleção o assunto da obra, porém não <strong>de</strong>scartaram a publicida<strong>de</strong> <strong>em</strong> torno <strong>de</strong>la comoum fator que também os influencia. Quando perguntados sobre o que os motiva a lerum livro, todos ressaltaram ser o prazer que sent<strong>em</strong> ao escolher e ler as obras comoponto essencial para que a leitura feita por eles se concretize.Ao apontar<strong>em</strong> o prazer como o principal objetivo nas leituras que faz<strong>em</strong>, osalunos, s<strong>em</strong> o saber, abordam a questão do prazer da fruição estética, sobre a qualreflete Jauss:Outrora, o prazer justificava, como um modo <strong>de</strong> domínio do mundo e <strong>de</strong>autoconhecimento e, a seguir, como conceito <strong>de</strong> filosofia da história e dapsicanálise, as relações com a arte. Hoje, para muitos a experiênciaestética só é vista como genuína quando se priva <strong>de</strong> todo o prazer e seeleva ao nível da reflexão estética. (2002, p.92).O teórico observa ainda que, historicamente, o prazer estético está constituído<strong>em</strong> três categorias fundamentais: Poiesis, Aisthesis e Katharsis, sendo a primeiraconcernente ao autor <strong>em</strong> função do leitor, já a segunda e a terceira atendo-se ao papeldo leitor.A Poiesis é entendida pelo autor no sentido aristotélico <strong>de</strong> “faculda<strong>de</strong> poética” ese relaciona ao prazer ante a obra que o sujeito realiza. Conforme Jauss este conceito<strong>de</strong> prazer modificou-se ao longo do t<strong>em</strong>po, pois para Santo Agostinho o prazer na arteera direcionado para Deus e no Renascimento foi reivindicado cada vez mais pelosartistas. Jauss observa ainda que a visão <strong>de</strong> Hegel sobre a arte era <strong>de</strong> que, por meio<strong>de</strong>la, o sujeito podia satisfazer a sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “sentir-se <strong>em</strong> casa no mundo”.


43A Aitheisis para ele se refere ao prazer estético da percepção ante o imitado.Já a Katharsis na qual o autor uniu a visão <strong>de</strong> Górgias e Aristóteles, foi <strong>de</strong>finida como“prazer dos afetos provocados pelo discurso ou pela poesia, capaz <strong>de</strong> conduzir oouvinte e o expectador tanto à transformação <strong>de</strong> suas convicções, quanto a liberação<strong>de</strong> sua psique”. Na Katharsis o expectador po<strong>de</strong> libertar-se dos interesses práticos davida cotidiana, transportando-o através “do prazer <strong>de</strong> si no outro”.Para o autor essas três categorias não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser vistas <strong>de</strong> forma alguma comohierárquicas, mas como partes que se compl<strong>em</strong>entam entre si. Acrescenta que acomunicação literária só conserva o caráter <strong>de</strong> uma experiência estética “enquanto aativida<strong>de</strong> da Poiesis, da Aithesis ou da Katharsis mantiver o caráter <strong>de</strong> prazer”.(JAUSS,1979, p. 82).Cabe aqui a reflexão <strong>de</strong> que o conceito <strong>de</strong> prazer estético é traduzido pelaescola como “gosto” pela leitura, o qual foi apontado pela maioria dos professoresentrevistados que o seu “<strong>de</strong>spertar” é o principal objetivo do ensino <strong>de</strong> literatura.Perguntou-se aos educandos <strong>de</strong> que forma obtêm os livros que costumam ler,seis alunos afirmaram <strong>em</strong>prestar das bibliotecas dos Faróis do Saber 7 , dois dabiblioteca da escola, um afirmou comprar os livros, pois obtém <strong>de</strong>sconto sendofuncionário <strong>de</strong> livraria, e o outro <strong>em</strong>presta dos colegas que já leram.Outro dado significativo diz respeito à estratégia leitora utilizada: todoscostumam ler o livro por inteiro e <strong>de</strong> uma só vez, não pulando páginas e n<strong>em</strong> capítulos.Sobre a influência <strong>de</strong> outras pessoas para ler<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas obras, oito apontaramos amigos e parentes como os que mais influenciam as suas escolhas. O professoraparece como influência para apenas dois <strong>de</strong>les.A última pergunta pediu para numerar<strong>em</strong> sua preferência <strong>de</strong> leitura <strong>em</strong> or<strong>de</strong>mcrescente, tendo a maioria indicado preferir ler os livros que todos comentam e estão namoda, seguidos pelos romances e livros <strong>de</strong> auto-ajuda. Os livros esotéricos aparec<strong>em</strong>como uma forte preferência. Oito alunos compl<strong>em</strong>entaram a resposta adicionando oit<strong>em</strong> livros evangélicos, que não constava na relação.7 Bibliotecas disponibilizadas pela Prefeitura Municipal nos bairros <strong>de</strong> Curitiba.


44Das entrevistas elaboradas retirar-se-ão somente as respostas maissignificativas dadas pelos alunos <strong>em</strong> torno da leitura literária:Na análise da pergunta um, sobre a leitura dos livros indicados pelosprofessores, verificou-se ser<strong>em</strong> as alunas mais receptivas que os alunos com relação aesse quesito e afirmam:Costumo ler os que a professora indica porque ela t<strong>em</strong> uma razão para nosindicar. (Silvana).Eu gosto <strong>de</strong> ler os livros que ela indica porque s<strong>em</strong>pre são bons, aumentammeu vocabulário. (Cristina).Costumo. Primeiro porque eu gosto <strong>de</strong> ler e segundo porque o livro que aprofessora me indicou foi muito bom. (Lucélia)Já os do sexo masculino assim se pronunciaram:N<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre, porque muitas vezes não me interessa o t<strong>em</strong>a e o assunto.Tenho dificulda<strong>de</strong> também porque eu não entendo o vocabulário. (Patrik).(Vítor)Não porque eu não quero, mas porque quando eu leio escolho o que eu gosto.Quando questionados sobre qual a leitura <strong>de</strong> que mais gostavam se as feitasin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente ou a pedido do professor, uma aluna mencionou preferir os livrosindicados pelo professor e dá a seguinte resposta:Leio o que a professora indica porque s<strong>em</strong>pre tenho a certeza <strong>de</strong> que é umlivro útil. (Silvana) (grifo nosso)Em contrapartida quatro respon<strong>de</strong>ram preferir as leituras feitas por contaprópria, dando como justificativa o seguinte:


45Eu gosto <strong>de</strong> escolher porque escolho livros bons. (Cristina) (grifo nosso)A in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, porque eu me i<strong>de</strong>ntifico com o assunto, procuro s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong>asatuais. (Vitor) (grifo nosso)In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, porque eu faço porque eu quero. Eu procuro um assuntoque eu gosto. (Lucélia).A leitura que eu faço é melhor porque t<strong>em</strong> mais a ver com suspense e as daescola não têm. (Patrik)Outro ponto importante que pô<strong>de</strong> ser observado nas entrevistas feitas comalunos leitores é <strong>de</strong> que, quando perguntados sobre quais estratégias ajudariam aincentivar a leitura feita pela escola, apontaram velhas fórmulas presentes no cotidianoescolar, tais como: obrigação <strong>de</strong> ler e <strong>de</strong>pois respon<strong>de</strong>r questionários e resenhas.Com a pergunta seis procurou-se investigar como os alunos percebiam aliteratura <strong>de</strong> entretenimento nas práticas dos professores, os cinco alunos não sel<strong>em</strong>braram <strong>de</strong> livros <strong>de</strong> entretenimento (best sellers) ter<strong>em</strong> sido trabalhados <strong>em</strong> sala <strong>de</strong>aula, dois alunos mencionaram que as suas professoras comentaram sobre a obra <strong>de</strong>Paulo Coelho, no entanto <strong>de</strong> uma forma pejorativa, <strong>de</strong>sencorajando-os a ler o tipo <strong>de</strong>literatura produzida por ele.seguinte:Quando perguntados se tinham idéia do porquê isto ocorria, mencionaram oEu acho que essa literatura é mais consumista não é indicada para o ensino.(Silvana).Aqui na escola eles trabalham com livros mais antigos. Eu acho que a gentet<strong>em</strong> que apren<strong>de</strong>r a história dos livros. (Vítor)Não, porque ela <strong>de</strong>ve falar sobre bons livros.(Lucélia) (grifo nosso)Acho que por causa do currículo, que não permite ver outros autores e é própriodo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> educação que não dá liberda<strong>de</strong> para o professor. (Patrick)


46Nesta questão a aluna Cristina respon<strong>de</strong>u não ter idéia do porquê istoacontecia.Com relação a essa pergunta percebeu-se que os alunos consi<strong>de</strong>ram natural ofato <strong>de</strong> não ser<strong>em</strong> trabalhados outros livros senão os cânones literários brasileiros.Tratar-se-á mais <strong>de</strong>talhadamente esse modo <strong>de</strong> pensar sobre a leitura literária nopróximo subcapítulo por se consi<strong>de</strong>rar importante essa reflexão.3.4 LITERATURA CANÔNICA X LITERATURA DE MASSA: DO SAGRADO AOPROFANOVisto esta pesquisa ter como t<strong>em</strong>a central a leitura literária, torna-seimprescindível uma reflexão sobre o que seria afinal literatura, e é esta discussão qu<strong>em</strong>erecerá um olhar mais apurado que se proporá a seguir.Em face <strong>de</strong> uma gran<strong>de</strong> polêmica do que seja literatura, Lajolo (2002, p.13)pon<strong>de</strong>ra que “esse <strong>de</strong>bate se altera ao longo do t<strong>em</strong>po e <strong>de</strong>sperta paixões” pois o queera consi<strong>de</strong>rado literatura no passado, hoje po<strong>de</strong> perfeitamente não ser. Em movimentocontrário, l<strong>em</strong>bra Paes (2001, p. 31), os romances hoje consi<strong>de</strong>rados cânones nasescolas, eram folhetins publicados <strong>em</strong> capítulos terminando num lance <strong>de</strong> suspensepara aguçar a curiosida<strong>de</strong> do leitor impelido-o a comprar o próximo número do jornal. Éo caso do romance A Moreninha <strong>de</strong> José Joaquim <strong>de</strong> Macedo, para só ficar comex<strong>em</strong>plo brasileiro, visto ser esta prática largamente diss<strong>em</strong>inada pelo mundo oci<strong>de</strong>ntale revelando autores hoje consagrados como Alexandre Dumas e Edgar Allan Poe.Para Jauss as obras literárias consi<strong>de</strong>radas “obras-primas” se opõ<strong>em</strong> àexpectativa do seu “primeiro público” causando admiração e perplexida<strong>de</strong> e formandoaos poucos um público leitor, quebrando assim o “horizonte <strong>de</strong> expectativa” do públicopara que foi criada e permanecendo através do t<strong>em</strong>po, possibilitando novos olhares etornando-se assim original.Esta originalida<strong>de</strong> passa ao largo das obras literárias da cultura <strong>de</strong> massa, poisestas visam satisfazer ao maior número <strong>de</strong> pessoas “consumidoras” <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong>


47literatura, s<strong>em</strong> muitos questionamentos e idéias que se afast<strong>em</strong> do “gosto médio”.Essas obras, segundo o teórico al<strong>em</strong>ão aten<strong>de</strong>m o “horizonte <strong>de</strong> expectativa” do leitor enão traz<strong>em</strong> nenhuma provocação, apenasrespon<strong>de</strong>ndo antes, perfeitamente , à expectativa suscitada pelasorientações do gosto reinante: satisfaz o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ver o beloreproduzido sob formas familiares, confirma os hábitos da sensibilida<strong>de</strong>,sanciona os <strong>de</strong>sejos do público. (JAUSS, 1993, p.72).Paes (2001, p. 26) ressalta a existência <strong>de</strong> outro critério nesse tipo <strong>de</strong> literaturaque chamou “esforço”, já que procura poupar ao leitor qualquer dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>entendimento que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m cognitiva ou <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong>, buscando s<strong>em</strong>pre ocaminho mais fácil, ou seja, uma leitura prazerosa. Já na leitura <strong>de</strong> proposta ou eruditahá uma gran<strong>de</strong> probl<strong>em</strong>atização <strong>de</strong> valores, <strong>de</strong>safiando o raciocínio do leitor eaguçando-lhe a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> crítica sobre o que está sendo proposto pelo autor.Não satisfeito com essa primeira análise, Paes (2001, p.27) observa ainda quena cultura <strong>de</strong> massa é possível distinguir entre os livros <strong>de</strong> entretenimento, categoriasdistintas, a saber, <strong>de</strong> ‘nível popular’ e <strong>de</strong> ‘ nível médio’. Na literatura popular o autorsitua romances como Sabrina e Julia e os livros <strong>de</strong> ação e <strong>de</strong> ficção vendidos <strong>em</strong>bancas <strong>de</strong> jornal, conhecidos como “livros <strong>de</strong> bolso”. Já os livros best sellers sãoincluídos na categoria nível médio que são conforme ele:obras <strong>de</strong> honestos e competentes artesãos que, longe <strong>de</strong> quererigualar-se aos criadores <strong>de</strong> Arte com A maiúsculo, não preten<strong>de</strong>m maisdo que suprir as necessida<strong>de</strong>s do ‘consumidor médio’ (PAES, 2001,p.27)No entanto, apesar <strong>de</strong> ser lida e apreciada pelos alunos, não é prática dosdocentes da escola investigada trabalhar com ela. A cultura da escola Forquin (1993)se evi<strong>de</strong>ncia quando os alunos não estranham o fato da leitura literária feita por eles serconsi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> menor valor pelos professores, pois <strong>em</strong> suas respostas afirmaram que aescola não po<strong>de</strong> conter <strong>em</strong> seu currículo uma literatura que não seja “boa” e “útil”.


48Fica clara a noção <strong>de</strong> boa literatura e <strong>de</strong> má literatura, mas o que (ou qu<strong>em</strong>) as<strong>de</strong>fine <strong>de</strong>ssa maneira? A esse respeito esclarece Lajolo (2001) há uma espécie <strong>de</strong>cartório que confere a “literalização” <strong>de</strong> certos textos <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento a outros. Essecartório, segundo ela, constitui-se <strong>de</strong> intelectuais, <strong>de</strong> professores, da crítica, dapropaganda das editoras <strong>de</strong> prestígio, dos cursos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores,organizadores <strong>de</strong> programas para vestibular e <strong>de</strong> outras instâncias mais.Porém, afirma, a mais importante instância que certifica a “valida<strong>de</strong>” ou não <strong>de</strong>uma obra é s<strong>em</strong> sombra <strong>de</strong> dúvidas a escola, pois lhe cabe com maior eficiência e hámais t<strong>em</strong>po que qualquer outra, ser “avalista e fiadora do que é literatura”. Nela asobras se sagram como “clássicas” ou uma literatura somente <strong>de</strong> consumo, por isso <strong>de</strong>menor valor, e, na compreensão dos próprios alunos, “uma má leitura” com cujaexistência a escola não po<strong>de</strong> “per<strong>de</strong>r t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> seu currículo”.A autora acrescenta ainda que a palavra clássico, indicando livrosrecomendados nasceu da palavra classis, significando classe da escola. Este conceitor<strong>em</strong>ete à época na qual os alunos liam obrigatoriamente autores latinos e gregos, isto é,leituras recomendadas às classes. (LAJOLO, 2001, p.20)Des<strong>de</strong> Platão, houve uma intensa procura por critérios que possam <strong>de</strong>finir a“literarida<strong>de</strong>” <strong>de</strong> um texto: o tipo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>, a intenção do autor, o t<strong>em</strong>a ou assuntoda obra, o efeito que produz (LAJOLO, 2001, p. 25), mas esses critérios são válidosdurante um certo t<strong>em</strong>po, bastando que haja mudanças no panorama literário para quesejam revistos e transformados. A respeito disso reflete:...um texto literário não é como uma aranha que é aranha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quenasce e para s<strong>em</strong>pre, que foi aranha no Egito antigo, entre os índios doArizona e continua a ser aranha nos cybercafés. Um texto po<strong>de</strong> vir a serou <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser literatura ao longo do t<strong>em</strong>po. Por isso é muito maisdivertido discutir literatura do que aranhas... (LAJOLO, 2001, p.13).Na atualida<strong>de</strong>, há autores que, <strong>em</strong>bora sejam ignorados e muitas vezesachincalhados pelos “Guardiões da Literatura”, são lidos <strong>em</strong> diversos países e seuslivros alcançam uma enorme tirag<strong>em</strong> <strong>de</strong> livros. No Brasil o melhor ex<strong>em</strong>plo é PauloCoelho, autor cuja obra um aluno entrevistado afirmou ter lido a coleção inteira e o


49muito citado pelos alunos <strong>em</strong> suas leituras, tanto os do sexo f<strong>em</strong>inino quanto domasculino.Levando-se <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração as idéias postas até aqui e o que foi levantadosobre o gosto <strong>de</strong> leitura dos educandos, constatou-se que os livros consi<strong>de</strong>rados bestsellers faz<strong>em</strong> muito mais parte da experiência leitora <strong>de</strong>les do que os livrosconsi<strong>de</strong>rados canônicos, <strong>em</strong>bora não seja uma prática fazer análises sobre este gênero<strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula.A única explicação possível para que isso ocorra seria a <strong>de</strong> que o professor t<strong>em</strong><strong>em</strong> mente que “cabe à escola fazer com que o aluno conheça b<strong>em</strong> ou mal um certonúmero <strong>de</strong> clássicos e que, a partir <strong>de</strong>sse conhecimento, ele possa encontrar livros comque se afine mais ou menos e que pass<strong>em</strong> a ser os clássicos <strong>de</strong>les” (CALVINO, 2004,p.13), no entanto, se não se está conseguindo formar leitores proficientes <strong>de</strong>stamaneira torna-se necessário um repensar <strong>de</strong>ssas práticas.Nesse sentido a escola, ignorando a leitura literária que faz<strong>em</strong> os alunos econsi<strong>de</strong>rando-a <strong>de</strong> menor valor, não está levando <strong>em</strong> conta nas práticas <strong>de</strong> leitura aalterida<strong>de</strong> que r<strong>em</strong>ete <strong>em</strong> primeiro lugar ao respeito e à tolerância como base para oentendimento do outro. Isto significa, entre outras coisas, humanizar o estudantereconhecendo que ele, mesmo com uma trajetória leitora não muito firme ao longo <strong>de</strong>sua vida, já se apropriou <strong>de</strong> uma gama <strong>de</strong> conhecimentos disponibilizados no mundosocial e letrado e que suas leituras po<strong>de</strong>m e <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser aproveitadas.Cabe também indagar, a esta altura, qual seria o objetivo do professor noensino <strong>de</strong> leitura literária da EJA: trabalhá-la apenas esperando que o aluno <strong>de</strong>senvolva“gosto” a uma literatura com a qual muitas vezes não se i<strong>de</strong>ntifica (haja vista o caso dainsistência na leitura da obra <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis) sendo que isto po<strong>de</strong> nunca vir aacontecer, e ainda, insistir <strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lo que utiliza o texto somente como umpretexto, tendo como objetivo maior m<strong>em</strong>orizar datas e nomes?Ou utilizar práticas que realmente ensej<strong>em</strong> a alunos jovens, adultos e idososler<strong>em</strong> e compreen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> os textos literários, como quer Bueno (2002) não sóenten<strong>de</strong>ndo suas formas <strong>de</strong> construção e apreciando a criativida<strong>de</strong> do autor, mastambém lhes oportunizando a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler, enten<strong>de</strong>r e discutir o texto literário,lendo-o ou <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lê-lo por opção e não por incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazê-lo?


50Ou seja, uma coisa é esperar que por meio <strong>de</strong> suas práticas literárias os alunos<strong>de</strong>ix<strong>em</strong> o Ensino Médio <strong>de</strong> EJA ávidos por literatura brasileira e que “am<strong>em</strong> Machado<strong>de</strong> Assis, assim como eu amo” conforme afirmou a professora Eugênia. Outra é setrabalhar a leitura literária como prática social, buscando-se melhorar as estratégiasleitoras do educando <strong>de</strong>ntro do possível, partindo do que faz parte do mundo social<strong>de</strong>le, para que não se sinta um “estrangeiro” (FORQUIN, 1993), <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula. Unsconsi<strong>de</strong>rando as leituras que faz<strong>em</strong> inferiores e ruins e, outros, o que é pior, sentindoseinferiorizados por não conseguir sequer enten<strong>de</strong>r os textos trabalhados na escola.Conforme o caminho escolhido pelo professor estar-se-á ou não, realmentefazendo diferença na vida estudantil, pessoal, social, e por que não, profissional doaluno. Neste sentido, alerta Freire (1983), ensinar a ler, antes <strong>de</strong> ser encarado como umato cognitivo <strong>de</strong>ve ser visto como ato político.3.5 LEITURA, MÍDIA E ESCOLA: PARCERIA INCOMPATÍVEL?O t<strong>em</strong>a leitura versus mídia é relevante e não po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> constar nestetrabalho, pois é senso comum que os alunos não lê<strong>em</strong> porque outras mídias (tv ecomputador, principalmente) ocupam o espaço que <strong>de</strong>veria ser <strong>de</strong>stinado à leitura, eque os estudantes lê<strong>em</strong> cada dia menos.No entanto, a leitura faz parte do cotidiano dos seres humanos: lê-se paraampliar conhecimentos, obter informações simples ou complexas, por diversão ou<strong>de</strong>scontração, ou seja, ao ler estamos alcançando alguma finalida<strong>de</strong>. O ato <strong>de</strong> ler é,antes <strong>de</strong> tudo, uma ativida<strong>de</strong> que se processa entre autor/texto/leitor, é através dainteração <strong>de</strong>sses el<strong>em</strong>entos que se atribui um significado ao que se lê. Embora oconteúdo do texto seja o mesmo, duas pessoas com objetivos diferenciados po<strong>de</strong>m<strong>de</strong>le extrair informações distintas, pois como observa Smith (1991, p.43) “o significadoreal s<strong>em</strong>pre está além das palavras”. Este pensamento vai ao encontro do que pensaBakhtin quando afirma que o significado não está nas palavras, mas na interação que éfeita entre os interlocutores.


51Embora não se pretenda o aprofundamento da relação entre leitura ecompreensão, acredita-se ser importante mencionar três mo<strong>de</strong>los b<strong>em</strong> distintosutilizados para explicar o ato da leitura: o primeiro <strong>de</strong>les <strong>de</strong>nominado mo<strong>de</strong>lo<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte (top down) no qual o leitor não <strong>de</strong>codifica letra por letra, mas usa umconhecimento prévio e seus recursos cognitivos para obter antecipações sobre oconteúdo do texto, fixando-se neste para verificá-las. O segundo mo<strong>de</strong>lo é <strong>de</strong>nominadoascen<strong>de</strong>nte (buttom up), pelo qual se acredita que o leitor no ato <strong>de</strong> ler processa osel<strong>em</strong>entos componentes do texto partindo das letras e continuando com as palavras eas frases, consi<strong>de</strong>rando que este conjunto leva à compreensão do texto (SOLÉ, 1998,p. 23)Por outro lado, há o terceiro mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>nominado interativo, <strong>de</strong>fendido porautores que procuram <strong>de</strong>monstrar que o processo <strong>de</strong> leitura não se centra n<strong>em</strong>exclusivamente no texto n<strong>em</strong> no leitor, mas na interação entre o método ascen<strong>de</strong>nte e o<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte.Para os que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m esta teoria, o olho não apreen<strong>de</strong> os signos um após ooutro, mas por “pacotes”, sendo que o movimento do olhar não é linear e uniforme, masfeito <strong>de</strong> saltos bruscos e <strong>de</strong>scontínuos, entre os quais as pausas mais ou menos longaspermit<strong>em</strong> a percepção, utilizando <strong>de</strong>ssa forma simultaneamente o conhecimento <strong>de</strong>mundo do leitor e o seu conhecimento do texto para construir sua interpretação.(JOUVE, 2002, p.18).A leitura com todos estes atributos per<strong>de</strong> <strong>de</strong> longe para a televisão como meio<strong>de</strong> entretenimento, pois conforme uma pesquisa recém divulgada nos Estados Unidos eveiculada pela Folha <strong>de</strong> São Paulo 8 o público com ida<strong>de</strong> entre 14 a 25 anos assiste àtelevisão 10,5 horas por s<strong>em</strong>ana, <strong>em</strong> média. Já os que estão na faixa etária entre 26 a42 anos <strong>de</strong>dicam 15,1 horas s<strong>em</strong>anais, este número subindo para 19,2 horas <strong>em</strong> setratando <strong>de</strong> indivíduos na faixa <strong>de</strong> 43 a 61 anos e chegando a 21,5 horas/s<strong>em</strong>ana paraaqueles que estão na faixa entre 62 a 75 anos.8 Publicada <strong>em</strong> 10/01/2009. Levantamento intitulado “O Estado da D<strong>em</strong>ocracia Midiática”, conduzido pela <strong>em</strong>presaamericana <strong>de</strong> consultoria Deloitte.


52Mesmo <strong>em</strong> se tratando <strong>de</strong> uma pesquisa norte-americana acredita-se que nopanorama nacional este quadro não seja tão diferente. Daí ser natural que se concluaque a TV faz mais parte da vida das pessoas do que a leitura. Paes refletindo sobre asrazões <strong>de</strong>ssa preferência no Brasil comenta:Se a televisão conseguiu <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po relativamente breve o que aindústria do livro não conseguiu até hoje, foi talvez <strong>de</strong>vido àcircunstância <strong>de</strong> ter chegado cedo a um país on<strong>de</strong> o livro chegou tar<strong>de</strong>.Só a partir dos anos 30 é que se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong> uma industria editorialrealmente brasileira; até então, gran<strong>de</strong> parte das nossas minguadasedições eram impressas fora, <strong>em</strong> Portugal e na França (2002, p. 36).Muito <strong>em</strong>bora sejam produzidas boas adaptações <strong>de</strong> livros pelo cin<strong>em</strong>a e pelatelevisão que po<strong>de</strong>m vir a auxiliar nas discussões sobre obras literárias, na escolainvestigada, porém, elas não costumam fazer parte do cotidiano da sala <strong>de</strong> aula, já quea maioria dos alunos entrevistados disse não se l<strong>em</strong>brar se os professores as utilizamou utilizaram <strong>em</strong> aula para motivar o ensino <strong>de</strong> Literatura e também não foi verificadoseu uso nas aulas <strong>de</strong> observação.Porém, quando perguntados se as minisséries ou novelas <strong>de</strong> TV inspiradas <strong>em</strong>obras literárias os ajudaram <strong>em</strong> questões escolares, dois assim se pronunciaram:Ajudou sim, quando eu fui fazer o ENEM 2008 e tinha questões sobre aAmazônia eu l<strong>em</strong>brei do que tinha assistido na minissérie da TV e me saí b<strong>em</strong>. (Patrik)Sim, tinha uma questão sobre o Gran<strong>de</strong> Sertão Veredas e eu acertei porquetinha visto na televisão. (Silvana).A esta altura há que se refletir nas proposições <strong>de</strong> Freire (2006) quando esteobserva que a leitura do mundo prece<strong>de</strong> a leitura da palavra e nas proposições <strong>de</strong>Bakhtin quando este argumenta quea época, o meio social, o micromundo o da família, dos amigos econhecidos, dos colegas, que vê o hom<strong>em</strong> crescer e viver, s<strong>em</strong>prepossui seus enunciados que serv<strong>em</strong> <strong>de</strong> norma, dão o tom; são obrascientíficas,literárias,i<strong>de</strong>ológicas, nas quais as pessoas se apóiam e àsquais se refer<strong>em</strong>, que são citadas, imitadas, serv<strong>em</strong> <strong>de</strong>inspiração.(1992, p.3l3).


53Seguindo apenas um mo<strong>de</strong>lo cristalizado, segundo o qual a única forma <strong>de</strong> se“ler” uma obra literária é através do livro, a escola está ignorando a vivência cotidianados alunos, imersos <strong>em</strong> um mundo no qual a imag<strong>em</strong> e a oralida<strong>de</strong> têm um pesoexpressivo.Ou talvez, seguindo o pensamento da elite cultural que ten<strong>de</strong> a ver a TV comolhos pejorativos, está <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> aproveitar bons programas veiculados pela mídiatelevisiva, programas esses que po<strong>de</strong>m ser vistos analisados e avaliadosconjuntamente e que, <strong>de</strong> forma dialógica, professor e alunos possam discutir sobre oponto <strong>de</strong> vista do autor frente a <strong>de</strong>terminadas situações e conflitos, fazendo <strong>de</strong>sta formauma proveitosa “leitura” da obra literária.Aproveitando a vivência e experiência que os educandos já têm comotelespectadores, uma vez que não se po<strong>de</strong> ignorar a influência que a televisão exercena vida cotidiana <strong>de</strong>les, e os da EJA <strong>em</strong> particular, por ser muitas vezes a TV o únicomeio <strong>de</strong> entretenimento <strong>de</strong> que dispõe.3.6 LEITURA E LETRAMENTOBuscar um aprofundamento <strong>de</strong> como se processa a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura, tãopresente no cotidiano das salas <strong>de</strong> aula, é muito importante uma vez que oconhecimento nas escolas públicas, chega aos educandos primordialmente via leitura<strong>de</strong> material impresso.Mas, se a escola basicamente utiliza o texto impresso para veicularconhecimento, como po<strong>de</strong> o aluno não adquirir <strong>de</strong>senvoltura nessa prática? A evidência<strong>de</strong>ssa contradição não é nova e muito se t<strong>em</strong> pesquisado a esse respeito. Soares(2004) observa que, a partir da década <strong>de</strong> 1980, socieda<strong>de</strong>s distanciadas econômica,geográfica e culturalmente necessitaram rever as práticas <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> escrita.Foi assim que se <strong>de</strong>u a invenção do letramento no Brasil, illetrisme na França,literacia, <strong>em</strong> Portugal e literacy nos Estados Unidos, um fenômeno diferente do<strong>de</strong>nominado reading instruction, beginning literacy. A autora dá conta <strong>de</strong> que <strong>de</strong>ssasdiscussões a respeito <strong>de</strong> educação e linguag<strong>em</strong> evi<strong>de</strong>nciaram-se inúmeros livros e


54artigos que <strong>de</strong>ram início a reflexões e, posteriormente, que se operacionalizaram váriosprogramas cujo enfoque era a avaliação <strong>de</strong> competência <strong>de</strong> leitura e escrita dapopulação.É significativo que date aproximadamente da mesma época a proposta daUNESCO (final dos anos 70) para ampliação do conceito <strong>de</strong> alfabetização, observandoqueMais que uma finalida<strong>de</strong> <strong>em</strong> si mesma, a alfabetização <strong>de</strong>ve serconsi<strong>de</strong>rada como uma maneira <strong>de</strong> preparar o hom<strong>em</strong> para um papelsocial, cívico e econômico que vai além da alfabetização que consistasimplesmente <strong>em</strong> ensinar a ler e a escrever. O próprio processo <strong>de</strong>aprendizag<strong>em</strong> da lecto-escrita <strong>de</strong>ve converter-se <strong>em</strong> uma oportunida<strong>de</strong>para adquirir informações que possam ser utilizadas imediatamentepara melhorar os níveis <strong>de</strong> vida; a leitura e a escrita não conduzirãoapenas a um saber geral el<strong>em</strong>entar, mas a uma maior participação navida civil e a melhor compreensão do mundo à nossa volta, abrindo ocaminho, finalmente ao conhecimento humano básico. (UNESCO, 1976Apud COLOMER; CAMPS, 2002, p. 16)O documento sugere, portanto, uma re<strong>de</strong>finição do termo alfabetização que vaialém do medir apenas a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber ler e escrever, “como um capital fixo queum indivíduo adquire alguns anos <strong>de</strong> sua vida e que administra no resto <strong>de</strong>la”(COLOMER; CAMPS, 2002, p. 17).Não obstante a coincidência com relação ao momento histórico, conformeSoares (2004), a maneira como os países ricos e os <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento lidaram com oconceito <strong>de</strong> letramento (illetrisme, literacy), e o conceito <strong>de</strong> alfabetização(alphabétisation, reading instruction beginning literacy) foram diferentes basicamentequanto ao grau <strong>de</strong> ênfase posto nas relações entre as práticas sociais <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong>escrita e a aprendizag<strong>em</strong> <strong>de</strong>sse sist<strong>em</strong>a.No Brasil, “as preocupações sobre a ciência da leitura vão assim ao sabor <strong>de</strong>solavancos e supetões”, afirma Silva (1981, p. 9), referindo-se às propostaspedagógicas e dogmas importados utilizados pelo po<strong>de</strong>r público, que pecam <strong>em</strong> nãofundamentar o ensino da leitura <strong>em</strong> uma prática mais conseqüente e transformadora.O autor observa que historicamente, no ensino <strong>de</strong> leitura e escrita há umaênfase na <strong>em</strong>issão <strong>de</strong> mensagens (falar, escrever) esquecendo-se da recepção (ouvir,


55ler) esse fenômeno resulta na concepção <strong>de</strong> que aluno-leitor é aquele que consegue<strong>de</strong>codificar os signos <strong>de</strong> forma mecânica e inconseqüente.Foucambert (1997) explica que a diferença entre analfabetismo e iletrismoconsiste <strong>em</strong> que no primeiro há <strong>de</strong>sconhecimento das técnicas <strong>de</strong> utilização da escrita;já no segundo há falta <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> com o mundo da escrita, uma “exclusão <strong>em</strong>relação ao todo ou a parte <strong>de</strong>sse modo <strong>de</strong> comunicação”. O autor <strong>de</strong>nuncia que para osgovernantes não é interessante formar leitores, mas “neo-ex-analfabetos” pois oinvestimento é muito menor além <strong>de</strong> que jamais terão, por meio da escrita, acesso àformação que acompanha o saber e reflete queO seu saber precário, <strong>de</strong>vido ao esforço dispensado para obtê-lo,apenas garante aos nossos olhos que eles serão administrados maisadministráveis e consumidores mais dóceis. Esses, pelo menos nãoterão ido longe <strong>de</strong>mais nos caminhos da marginalida<strong>de</strong>.(FOUCAMBERT,1997,p.25)Em conformida<strong>de</strong> com esse pensamento, Zilberman (2000) l<strong>em</strong>bra que a partirdo século XIX e mais intensamente no século XX, houve um enorme interesse dosespecialistas <strong>em</strong> criar teorias <strong>de</strong> alfabetização que se <strong>de</strong>senvolveram, segundo aautora, principalmente <strong>em</strong> países pobres nos quais era imperativa a busca porcrescimento econômico e tecnológico.Essas teorias, afirma ela, mesmo as mais progressistas, caso <strong>de</strong> Paulo Freireou <strong>de</strong> Emilia Ferreiro e Ana Teberoski, têm apenas interesse na alfabetização <strong>em</strong> si enão como um primeiro <strong>de</strong>grau rumo à passag<strong>em</strong> para a literatura, como tinha sidohistoricamente até então.O resultado disso, afirma ela, é <strong>de</strong> que as camadas populares são alfabetizadassimplesmente para enten<strong>de</strong>r textos escritos, pois <strong>de</strong>les se exige apenas que saibam lere n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre a literatura fará parte da sua vida. Já a leitura literária é <strong>de</strong>stinada aoensino das elites dos quais espera-se familiarida<strong>de</strong> no mundo das letras.


563.7 LEITURA LITERÁRIA E PRÁTICAS ESCOLARES: ELEMENTOS HISTÓRICOSÉ inegável o valor do texto literário na promoção e no <strong>de</strong>senvolvimento daintelectualida<strong>de</strong> do ser humano, na medida <strong>em</strong> que o horizonte <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> lê é ampliadoatravés dos olhos <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> escreve. Ao concordar-se ou discordar-se do texto lido,estar-se-á travando um diálogo interior possibilitando uma outra forma <strong>de</strong> observar arealida<strong>de</strong>.Ao refletir sobre o romance, Bakhtin (1998, p. 73) o caracteriza como “umfenômeno pluriestílistico, plurilíngüe e plurivocal, englobando diversas formas literáriasatravés do discurso do autor que po<strong>de</strong> se valer <strong>de</strong> escritos morais, filosóficos,científicos, além <strong>de</strong> estilizações <strong>de</strong> diversas formas <strong>de</strong> narrativas escritas consi<strong>de</strong>radass<strong>em</strong>iliterárias, tais como cartas e diários e tudo isso somado ao discurso dospersonagens” estilisticamente individualizados” confere-lhe uma originalida<strong>de</strong> estilística.Para o teórico russo o romance retrata a diversida<strong>de</strong> social da linguag<strong>em</strong>organizada <strong>de</strong> forma ímpar que permite <strong>de</strong>svelara estratificação interna <strong>de</strong> uma língua nacional única <strong>em</strong> dialetossociais, maneirismos <strong>de</strong> grupos, jargões profissionais, linguagens <strong>de</strong>gêneros, fala das gerações, das ida<strong>de</strong>s, das tendências, dasautorida<strong>de</strong>s, dos círculos e das modas passageiras, das linguagens <strong>de</strong>certos dias e mesmo <strong>de</strong> certas horas (cada dia t<strong>em</strong> sua palavra <strong>de</strong>or<strong>de</strong>m, seu vocabulário, seus acentos), enfim toda a estratificaçãointerna <strong>de</strong> cada língua <strong>em</strong> cada momento dado <strong>de</strong> sua existênciahistórica. (BAKHTIN, 1998, p.74).O estilo romanesco conta, conforme o autor, da intercalação <strong>de</strong> discursos donarrador e dos personagens (dialogizados <strong>em</strong> maior ou <strong>em</strong> menor grau). Com relação àlinguag<strong>em</strong> literária Bakhtin <strong>de</strong>staca que mesmo sendo sua essência freqüent<strong>em</strong>entehomogênea e i<strong>de</strong>ntificando-se com a linguag<strong>em</strong> falada e escrita <strong>de</strong> um grupo socialdominante, conserva a diversida<strong>de</strong> da estratificação social que, segundo ele, po<strong>de</strong> serb<strong>em</strong> expressiva <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminadas épocas históricas.O romance admite a adição <strong>de</strong> outros gêneros que po<strong>de</strong>m ser introduzidos nasua estrutura tais como “a confissão, o diário, o relato <strong>de</strong> viagens, a biografia, as cartas


57e outros gêneros” (BAKHTIN, 1998, p. 124), que entram como el<strong>em</strong>ento estrutural<strong>de</strong>terminando-lhe a forma e o transformando <strong>em</strong> “romance-epistolar, romance-diário,romance confissão, etc”. Conferindo-lhe o que o autor <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> plurilingüismoPlurilingüismo, aliás, que é <strong>de</strong>finido por ele como “o discurso <strong>de</strong> outr<strong>em</strong> nalinguag<strong>em</strong> <strong>de</strong> outr<strong>em</strong>, que serve para refratar a expressão das intenções do autor”.(BAKHTIN, 1998, p.127). O discurso exprime ao mesmo t<strong>em</strong>po duas intençõesdiferentes: a intenção daquele que escreve e da personag<strong>em</strong> que fala, criando-se<strong>de</strong>ssa forma vozes dialogicamente relacionadas, “como se conhecess<strong>em</strong> uma à outra...como se conversass<strong>em</strong> entre si”.Toda essa singularida<strong>de</strong> do texto literário com certeza foi percebida pelascivilizações antigas, pois historicamente utilizar a literatura com um enfoquepedagógico, não é invenção da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Já na Grécia literatura era sinônimo <strong>de</strong>poesia e antes mesmo <strong>de</strong> utilizar<strong>em</strong> a escrita para fins literários, os gregos já faziampoesia para ser cantada ou recitada. Até o século XVIII a literatura foi vista comoeducativa, porém, com o advento da Renascença, per<strong>de</strong>u seu caráter humanitário.Na escola mo<strong>de</strong>rna, porém, a sua aprendizag<strong>em</strong> tornou-se obrigatória.Primeiramente a literatura integrou-se ao currículo, dissolvendo-se entre a Gramática, aLógica e a Retórica. Depois disso serviu <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo para o estudo das línguas grega elatina e após a Revolução Francesa foi introduzida como literatura nacional, estudadasobre a perspectiva <strong>de</strong> História Literária. Nesta época a escola utilizava a literaturacomo veículo <strong>de</strong> difusão da língua, da cultura e da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nacional (ZLBERMAN,1990).Razzini (2000) dá conta <strong>de</strong> que o ensino da língua e da literatura nacional, noséculo XIX, era pautado pelo ensino das línguas clássicas, evi<strong>de</strong>nciando-se o Latim. Aliteratura nacional era dividida por gêneros e sua apresentação feita segundo critériosda Retórica e da Poética. Em 1895 evi<strong>de</strong>nciou-se a publicação da Antologia Nacionalque


58nasceu logo após a Proclamação da República, quando novos ventossopravam a favor da implantação <strong>de</strong> uma cultura nacional na escolabrasileira, reservando ao ensino <strong>de</strong> Português e <strong>de</strong> Literatura o papel<strong>de</strong> representar a pátria. (RAZZINI, 2000, p.11)Razzini (2000) acrescenta ainda que a Antologia Nacional <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> FaustoBarreto e Carlos <strong>de</strong> Laet (ambos professores <strong>de</strong> Português do Colégio Pedro II) foipublicada pela primeira vez <strong>em</strong> 1895 e atingiu 43 edições <strong>em</strong> 1969, tendo o seuconsumo se estendido rapidamente para outras escolas, marcando a leitura escolar <strong>de</strong>várias gerações.Soares (2007) reflete que o ensino <strong>de</strong> Língua Portuguesa nesta época era “arespeito” da língua, isto é, ensinava-se somente a gramática da língua a uma camadaprivilegiada da população que já tinha acesso à norma culta através da família.No início do século XX oficializou-se e legalizou-se um número muito gran<strong>de</strong><strong>de</strong> normas e reformas, entre elas a reforma ortográfica. (SOUZA; MARIANI, 1996).Em meados dos anos sessenta, porém, o panorama educacional começa atransformar-se <strong>de</strong>vido a condições sociais e políticas, pois se verifica um êxodo rural euma gran<strong>de</strong> expansão industrial, no contexto da ditadura militar.Nesta época houve um aumento <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda nas escolas e o alunado mudou.On<strong>de</strong> antes predominava a burguesia, havia agora alunos <strong>de</strong> classes populares, estefato evi<strong>de</strong>nciou o <strong>de</strong>spreparo dos professores <strong>em</strong> lidar com um outro tipo <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong>e cultura (SOARES, 2007). Concomitant<strong>em</strong>ente houve um <strong>de</strong>sinteresse da classeburguesa <strong>em</strong> lecionar. A busca por outras ativida<strong>de</strong>s indicava que a profissão <strong>de</strong>professor não tinha o mesmo prestígio social e já não era tão b<strong>em</strong> r<strong>em</strong>unerada.Outro fator a ser mencionado foi <strong>de</strong> que as escolas necessitavam <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong>número <strong>de</strong> profissionais para dar conta da <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> alunos, as vagas foramocupadas então por profissionais advindos <strong>de</strong> meios pouco letrados (Soares, 2007),menos exigidos <strong>em</strong> sua formação pedagógica. Para suprir esta carência, os livrosdidáticos foram produzidos <strong>em</strong> escala industrial passando a ser um guia para oprofessor, muitas vezes tirando-lhe a autonomia <strong>de</strong> trabalho e <strong>de</strong>sobrigando-o <strong>de</strong> refletirsobre suas práticas pedagógicas.


59Diante <strong>de</strong> tantas transformações, uma mudança na legislação fez-senecessária, foi assim que a lei 5.692/71 foi promulgada no início dos anos setenta,tentando aten<strong>de</strong>r a um novo tipo <strong>de</strong> aluno, procurando oferecer meios para inseri-lo nomercado <strong>de</strong> trabalho.A partir <strong>de</strong> então, buscando novas perspectivas rumo à mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, pautou-seo enfoque da disciplina Língua Portuguesa na Teoria da Comunicação, baseando-seprincipalmente nos estudos <strong>de</strong> Jakobson. A disciplina passa então a chamar-se <strong>de</strong>Comunicação e Expressão <strong>de</strong> 1ª a 4ª, Comunicação e Expressão <strong>em</strong> LínguaPortuguesa para 5ª a 8ª série e Língua Portuguesa e Literatura Brasileira no EnsinoMédio. (DCE/PR, p.16).Conforme Lajolo (2006, p.70), na esteira da pedagogia tecnicista e do adventodo ensino profissionalizante, a literatura virou um produto <strong>de</strong> consumo, especialmentecom a introdução dos resumos <strong>de</strong> romances para o vestibular e as provas <strong>de</strong> múltiplaescolha.Ainda segundo a autora, nesta época, houve uma espécie <strong>de</strong> simplificação <strong>de</strong>análise literária pela qual se fazia um escrutínio estrutural do texto e questionários parai<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> personagens principais, t<strong>em</strong>po e espaço das narrativas, mo<strong>de</strong>lo quepersiste até hoje, com pequenas alterações.Houve um movimento contrário ao ensino <strong>de</strong> gramática que passou a sersinônimo <strong>de</strong> anacronismo. Ao adotar a Teoria da Comunicação privilegiaram-se ostextos <strong>de</strong> cultura popular, ensinavam-se el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> comunicação e funções dalinguag<strong>em</strong> e as antologias foram substituídas por textos ilustrados, abandonando-se aformatação preta e branca. Inicialmente, como aponta Belmiro (2000) utilizando um tommarrom-avermelhado acompanhado do preto, e <strong>de</strong>pois gradativamente utilizando cores,essa tendência observa a autora foi irreversível.O uso do livro didático para o ensino da Língua Portuguesa e da Literatura,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquela época, é fruto <strong>de</strong> reflexão e polêmica entre os estudiosos, pois se parauns o livro didático é um “meio e não um fim <strong>em</strong> si mesmo” (SILVA, 2007), para outros éfonte <strong>de</strong> alienação, gerando a unificação do educando sob um único material, sendoque os mesmos possu<strong>em</strong> inúmeras variantes e mereceriam um tratamentodiferenciado, Há, ainda, a “falsificação“ que tira o real trabalho do professor <strong>de</strong> ensinar


60a Língua materna, pois o utiliza como “muleta pedagógica para a realização <strong>de</strong> suasatribuições”. (GERALDI, 2007)”.Por outro lado, no livro didático do Ensino Médio “o ensino <strong>de</strong> literatura serestringe a uma equívoca coleção <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> história literária <strong>em</strong> que o textopropriamente dito aparece como simples ex<strong>em</strong>plo.” (BUENO,2002, p. 3) O autor afirmaque o historicismo norteia todo ensino <strong>de</strong> literatura cabendo ao professor trabalhar osmovimentos literários seguindo a linha do t<strong>em</strong>po, recheando-os com datas, autores eobras.Além disso, Colomer e Camps (2002) apontam a ambigüida<strong>de</strong> na <strong>de</strong>finição dosobjetivos dados aos textos literários pela escola que, por um lado insiste para que osalunos adquiram “prazer” na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> outro a converte <strong>em</strong> ponto <strong>de</strong>partida para exercícios e trabalhos escolares. De fato, a leitura literária escolarizada t<strong>em</strong>sido marcada por exigências dos professores que quer<strong>em</strong> mensurá-la <strong>de</strong> todas asformas, seja através <strong>de</strong> fichas <strong>de</strong> leitura, seja através <strong>de</strong> resumos ou análises <strong>de</strong> obraslidas, servindo <strong>de</strong> pretexto para m<strong>em</strong>orização <strong>de</strong> regras gramaticais ou conteúdosfragmentados, reproduzindo apenas superficialmente a intenção do autor.Há um outro tipo <strong>de</strong> leitura muito utilizada nas práticas escolares, apontadacomo igualmente ineficaz: aquela com data marcada, antes <strong>de</strong> um exame <strong>de</strong> vestibularou <strong>em</strong> datas com<strong>em</strong>orativas. A crítica se esten<strong>de</strong> àquela leitura quantitativa, na qual oaluno <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>monstrar que leu uma quantida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> livros para que oprofessor, conforme seus critérios pessoais, possa consi<strong>de</strong>rá-lo leitor.Este procedimento só cumpre o papel do retorno <strong>de</strong> leitura dado ao professor eponto, pois dificilmente o aluno achará prazer <strong>em</strong> respon<strong>de</strong>r perguntas e maisperguntas sobre o que leu, ou ler somente para mostrar ao professor que leu. Esteconceito equivocado da escola leva o educando muitas vezes a sentir-se fracassadonessa ativida<strong>de</strong>, pois não consegue converter-se <strong>em</strong> um leitor entusiasta.


613.8 BAKHTIN E AS DIRETRIZES CURRICULARES DO ESTADO DO PARANÁA proposta do Currículo Básico do Paraná, elaborada no início da década <strong>de</strong>1990, já apresentava pressupostos <strong>de</strong> Bakhtin e do seu Círculo como enfrentamento aoensino tradicional, introduzindo na ocasião as concepções dialógicas e sociais dalinguag<strong>em</strong> as quais, pretendia-se, <strong>em</strong>basariam dali para adiante as práticaspedagógicas utilizadas pelos professores. Na ocasião foram ministrados inúmeroscursos <strong>de</strong> capacitação para divulgação do novo enfoque.No final dos anos 90, com a impl<strong>em</strong>entação dos Parâmetros CurricularesNacionais, as concepções <strong>de</strong> Bakhtin acerca da linguag<strong>em</strong> continuaram sendoalicerces importantes para trabalho pedagógico do professor, <strong>em</strong>bora com algumasressalvas ao caráter neo-liberalista dos PCNs e das “habilida<strong>de</strong>s e competências”esperadas dos alunos, as quais mais complicaram do que facilitaram o ensino dalíngua.As atuais Diretrizes Curriculares, <strong>em</strong> vigor <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2006, fundamentaram suaproposta nas concepções interacionistas e discursivas e(...) segu<strong>em</strong> por outro caminho porque consi<strong>de</strong>ram o processo dinâmicoe histórico dos agentes <strong>de</strong> interação verbal, tanto na constituição socialda linguag<strong>em</strong> quanto dos sujeitos que por meio <strong>de</strong>le interag<strong>em</strong>.Na linguag<strong>em</strong>, o hom<strong>em</strong> se reconhece humano, interage e trocaexperiências, compreen<strong>de</strong> a realida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que está inserido e percebe oseu papel como participante da socieda<strong>de</strong>. A partir <strong>de</strong>sse caráter socialda linguag<strong>em</strong>, Bakhtin e os teóricos do Círculo <strong>de</strong> Bakhtin formulam osconceitos <strong>de</strong> dialogismo e dos gêneros discursivos [...] (DCE/PR, 2006p. 20).Po<strong>de</strong>-se concluir, com esse breve histórico, que os preceitos <strong>de</strong> Bakhtin e doCírculo estão presentes nos fundamentos teóricos das DCEs do Paraná há mais <strong>de</strong>uma década.Kramer (2007) alerta, porém, que “cada proposta é um caminho, não é umlugar, e, portanto t<strong>em</strong> uma direção, um sentido, um para quê, t<strong>em</strong> objetivos” e que todaproposta só po<strong>de</strong> ter sucesso quando é “plantada com, junto” na prática cotidiana dossujeitos envolvidos com o processo <strong>de</strong> ensino-aprendizag<strong>em</strong>. E aí entra o princípio da


62alterida<strong>de</strong> tão caro a Bakhtin que é o <strong>de</strong> reconhecer o outro: a sua história, oconhecimento disponível, o estudo teórico que cada um possuiimbricado à sua experiência concreta um conhecimento coletivo, porquenascido <strong>de</strong> uma prática comum; um conhecimento que não é reduzido ameras informações mecânicas supostamente transmitidas <strong>em</strong> rápidas”reciclagens” e “capacitações” (KRAMER, 1993, p. 61).O que significa dizer que as mudanças não vêm por <strong>de</strong>cretos e leis e sim,conforme a autora, pela relação que é construída por professores e alunos, comoconhecimento produzido na prática social viva, que mobiliz<strong>em</strong> os sujeitos envolvidos, paraque estes sejam autores <strong>de</strong> sua prática.


634 AS PRÁTICAS DE LEITURA E LEITURA LITERÁRIA E SUAS RELAÇÕESCOM O COTIDIANO ESCOLARDa superfície muda das coisas <strong>de</strong>ve partirUm sinal, um chamado, um piscar:Uma coisa que se <strong>de</strong>staca das outrasCom a intenção <strong>de</strong> significar... O quê?Italo CalvinoSe os pesquisadores universitários quer<strong>em</strong> estudar os saberes profissionais <strong>de</strong><strong>de</strong>terminada área <strong>de</strong> ensino, observa Tardiff (2000, p.13), “<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ir aos lugares <strong>em</strong> queos profissionais do ensino trabalham, para ver o que pensam e falam, como ag<strong>em</strong> <strong>em</strong>sala <strong>de</strong> aula, como transformam programas escolares para torná-los efetivos”, quais asrelações que são estabelecidas e se estabelec<strong>em</strong> a partir <strong>de</strong>le. Para tanto, este capítulofoi <strong>de</strong>stinado à análise das informações colhidas por meio da utilização <strong>de</strong> instrumentosprivilegiados (questionários dos professores, observação <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula e entrevistas)instrumentos estes, que possibilitaram chegar mais perto das práticas <strong>de</strong> leitura literáriautilizadas pelos sujeitos da pesquisa.Primeiramente far-se-á um <strong>de</strong>svio necessário <strong>de</strong>vido à importância dabiblioteca da escola na formação <strong>de</strong> leitores. Para tanto, achou-se pertinente investigarcomo se apresenta este ambiente e principalmente, tentar captar as relaçõesestabelecidas entre os professores, alunos e esse espaço cultural.4.1 A BIBLIOTECA E SUAS RELAÇÔES COM AS PRÁTICAS DE LEITURALITERÁRIAEmbora atualmente se discuta até a permanência ou não <strong>de</strong> bibliotecas nasescolas, consi<strong>de</strong>ra-se ser inegável o valor <strong>de</strong> uma biblioteca escolar, pois, além <strong>de</strong>servir como apoio às ativida<strong>de</strong>s pedagógicas <strong>de</strong>senvolvidas pelos professores <strong>em</strong> sala<strong>de</strong> aula, serv<strong>em</strong> como ponte <strong>de</strong> aproximação do aluno com a leitura. Não se ignora, noentanto, a crítica às bibliotecas escolares das escolas públicas hoje muito aquém dasexpectativas, pois


64são muitas, mas invariavelmente distorcidas, as visões que se costumater <strong>de</strong> uma biblioteca. Ora é lugar sagrado, on<strong>de</strong> se guardam objetostambém sagrados, para <strong>de</strong>sfrute <strong>de</strong> alguns eleitos, ora, sob uma ópticamenos romântica, é apenas uma instituição burocratizada, que servepara consulta e pesquisa, assim como para armazenar bolor, cupins etraças. Para poucos, aqueles que a freqüentam assiduamente, elaconstitui o local do encontro com o prazer <strong>de</strong> ler, conhecer, informar-se.(FRAGOSO, 2002, p. 124)A biblioteca do CEEBJA Profª Maria Deon <strong>de</strong> Lira situa-se no piso inferior doprédio, <strong>em</strong> um espaço que não é o i<strong>de</strong>al, pois está ao lado da cozinha e do refeitório<strong>de</strong>stinado aos estudantes. Costuma-se servir um lanche pela manhã e jantar à noite, oque para muitos alunos é a única refeição que faz<strong>em</strong> no dia. Este fluxo <strong>de</strong> alunosatrapalha o silêncio necessário a uma biblioteca, dificultando a concentração dosalunos.Nela encontram-se três computadores com acesso à internet para pesquisas<strong>de</strong> trabalho, jornais e revistas atualizados, possui acervo literário que conta comcoleções enviadas pelo MEC e pelo governo do Estado. Chama a atenção a ColeçãoPalavra da Gente organizada e apresentada por Mariza Lajolo, produzidos pela EditoraMo<strong>de</strong>rna, fazendo parte do <strong>Programa</strong> Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) <strong>de</strong> 2003.Esta coleção possui seis volumes cada um cont<strong>em</strong>plando gêneros literáriosdiferenciados: no primeiro traz o gênero ensaio, no volume dois cont<strong>em</strong>pla crônicas econtos, no volume três traz o gênero tradição popular (literatura <strong>de</strong> cor<strong>de</strong>l), já o volumequatro está <strong>de</strong>stinado à poesia romântica brasileira, no volume cinco traz peças <strong>de</strong>Moliére, Eça <strong>de</strong> Queirós e <strong>de</strong> Fernando Bonassi. Finalmente no volume seis, apresentao relato da viag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Caminha, escrito por Eduardo Bueno.Além <strong>de</strong> r<strong>em</strong>eter as coleções, tanto o Estado quanto o MEC enviam geralmentetrinta ex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> cada volume, oportunizando ao professor o trabalho das obras <strong>em</strong>sala <strong>de</strong> aula. No entanto a aten<strong>de</strong>nte afirmou que há pouca ou nenhuma procura <strong>de</strong>stascoleções pelos professores da escola.Os alunos do Ensino Médio utilizam pouco a biblioteca para <strong>em</strong>prestar livrosliterários, os do Ensino Fundamental o faz<strong>em</strong> com bastante freqüência, mas <strong>em</strong> busca


65<strong>de</strong> material didático e <strong>de</strong> interesse geral. A funcionária relata que os professores nãocostumam utilizar a biblioteca para <strong>em</strong>préstimo <strong>de</strong> livros literários, porém eventualmentea procuram <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> livros pedagógicos.Os educandos que freqüentam a biblioteca quer para <strong>em</strong>prestar livros, querpara ler jornais e revistas ou mesmo navegar pela Internet, encontram dificulda<strong>de</strong>s, poisgeralmente as reuniões ou eventos que ocorr<strong>em</strong> na escola são realizados nesseespaço.Um fato que chama atenção é <strong>de</strong> que a funcionária responsável pela bibliotecafaz parte do apoio técnico-pedagógico e conta com duas professoras <strong>de</strong> LínguaPortuguesa que estão <strong>em</strong> disfunção (afastadas t<strong>em</strong>porariamente da sala <strong>de</strong> aula) que aauxiliam.Po<strong>de</strong>-se inferir que esta biblioteca, apesar <strong>de</strong> contar com um acervo <strong>de</strong>stinadoespecialmente para alunos da EJA, dar acesso ao aluno à utilização da Internet eoportunizar a ele manter-se atualizado através <strong>de</strong> jornais e revistas, está longe do i<strong>de</strong>al,visto que não há um ambiente propício à leitura. Além disso, a entrevista e asobservações feitas pela pesquisadora apontam para o fato dos professores não autilizar<strong>em</strong> com intuito <strong>de</strong> formar leitores.Um ponto importante evi<strong>de</strong>nciado é <strong>de</strong> que as pessoas que nela trabalham nãoforam capacitadas para atuar naquele espaço. É preciso que se diga que dificilmenteofertam-se capacitações para funcionários da biblioteca que apesar da boa vonta<strong>de</strong>,exerc<strong>em</strong> esta ativida<strong>de</strong> apenas no “achismo”.Isto é um ponto importante a ser consi<strong>de</strong>rado, pois, como reflete Quinhão(1998), o sucesso <strong>de</strong> uma biblioteca está intrinsecamente <strong>de</strong>terminado pelas pessoasque nela atuam, os quais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter <strong>em</strong> mente qual a função <strong>de</strong> uma biblioteca, o quefazer para formar leitores, como e com que instrumentos po<strong>de</strong> contar para realmenteimpl<strong>em</strong>entar seu uso pelos educandos e, agindo conjuntamente com o professor,utilizar o acervo disponível <strong>de</strong> forma que faça parte do dia-a-dia do aluno.A autora acrescenta que a figura do bibliotecário é essencial, pois faz a ponteentre sala <strong>de</strong> aula e biblioteca escolar. Se b<strong>em</strong> orientado, po<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>senvolverjuntamente com o professor ativida<strong>de</strong>s que mobiliz<strong>em</strong> o acervo literário e atraiam maiornúmero <strong>de</strong> leitores. Sugere que sejam <strong>de</strong>senvolvidas ativida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>spert<strong>em</strong>


66interesse, tais como: clubes <strong>de</strong> leitura, criação <strong>de</strong> histórias, dramatizações, varal <strong>de</strong>poesias, <strong>de</strong>bates e palestras, hora do conto, tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> autógrafos. Os alunos <strong>de</strong>v<strong>em</strong>participar dando idéias para novas ativida<strong>de</strong>s.Dando seqüência ao <strong>de</strong>senvolvimento do presente trabalho, passar-se àrecolha <strong>de</strong> informações que através <strong>de</strong> questionários fechados possibilitou a construçãográfica do perfil sócio-econômico e as características dos professores relacionados como contexto sócio-econômico e cultural no qual estão inseridos.4.2 A IDENTIFICAÇÂO SOCIO-ECONÔMICA E CULTURAL DOS PROFESSORESANALISADOSGRÁFICO 03 – DOCÊNCIA EM LÍNGUA PORTUGUESA E O SEXO PREDOMINANTE1SEXO FEMININOSEXO MASCULINO11FONTE: Pesquisa da autoraHá predominância <strong>de</strong> docentes do sexo f<strong>em</strong>inino <strong>em</strong> Língua Portuguesa naescola investigada, seria importante averiguar se a f<strong>em</strong>inização da docência nestadisciplina contribui ou não para as práticas que são adotadas nesta escola. Reconhecese,entretanto, que não há t<strong>em</strong>po hábil para <strong>de</strong>senvolver uma análise mais <strong>de</strong>talhadaneste quesito.


67GRÁFICO 04 – FAIXA ETÁRIA DOS SUJEITOS DA PESQUISAIDADE22IDADE 30 / 40IDADE 40 / 50IDADE 50 / 608FONTE: Pesquisa da autoraObserva-se que, com relação à ida<strong>de</strong>, a maioria encontra-se na faixa etáriaentre quarenta a cinqüenta anos. Há duas professoras que apenas aguardam aliberação <strong>de</strong> sua aposentadoria.GRÁFICO 05 – ESCOLARIZAÇÂO DOS PAIS DOS SUJEITOS DA PESQUISA11ATÉ 4ª. SÉRIECOMPLETA2ATÉ 8ª. SÉRIECOMPLETA8MÃE ENSINOMÉDIO,PAI ENSINOSUPERIORMÃE ATÉ 4ª. SÉRIE,PAI ANALFABETOFONTE: Pesquisa da autora


68GRÁFICO 06 – LOCAL DE NASCIMENTO1LOCAL DE2NASCIMENTO CTBALOCAL DENASCIMENTONORTE DO ESTADO9LOCAL DENASCIMENTOOUTRO ESTADOFONTE: Pesquisa da autoraÉ fácil perceber através dos gráficos cinco e seis que a maioria dosprofessores pesquisados advém <strong>de</strong> um ambiente pouco letrado pertencentes à zonarural. Reflexões sobre o impacto <strong>de</strong>sses dados no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho do professor <strong>em</strong> sala<strong>de</strong> aula são cruciais, pois, segundo Bourdieu, são igualmente importantes para oindivíduo a formação cultural dos antepassados da primeira e segunda gerações etambém o local <strong>de</strong> residência da família, se no centro ou na periferia, como variáveisimportantes e fort<strong>em</strong>ente relacionadas com o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho educacional dosestudantes, poisna realida<strong>de</strong>, cada família transmite a seus filhos, mais por viasindiretas que diretas, um certo capital cultural e um certo ethos, sist<strong>em</strong>a<strong>de</strong> valores implícitos e profundamente interiorizados, que contribui para<strong>de</strong>finir, entre outras coisas, as atitu<strong>de</strong>s <strong>em</strong> face do capital cultural e dainstituição escolar (BOURDIEU, 1998, p. 41).


69Isto é, segundo ele, cada criança ao nascer insere-se <strong>em</strong> um meio social<strong>de</strong>finido dotado <strong>de</strong> um certo capital cultural que é importante para alcançar ou nãosucesso no mundo acadêmico. Neste sentido, crianças com maior acesso aos bensculturais teriam mais propensão a um bom <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho escolar.Tardiff (2000) acrescenta que os saberes profissionais dos professores provêm<strong>de</strong> diversas fontes, pois ao dar aulas eles se serv<strong>em</strong> da cultura pessoal que adquiriram<strong>em</strong> sua história <strong>de</strong> vida e principalmente <strong>de</strong> sua cultura escolar anterior. O autorargumenta que essa experiência escolar se manifesta através da bagag<strong>em</strong> <strong>de</strong>conhecimentos, <strong>de</strong> representações e <strong>de</strong> certezas que os professores têm da práticadocente.GRÁFICOS 07 – TRABALHO ANTERIOR À DOCÊNCIA2NÃOTRABALHARAMEM OUTRA10TIVERAMOUTRASATIVIDADESFONTE: Pesquisa da autoraPercebe-se que a maioria dos respon<strong>de</strong>ntes enfrentou dupla jornada esomente dois dos professores que respon<strong>de</strong>ram aos questionários nunca trabalharam<strong>em</strong> outra profissão, enquanto <strong>de</strong>z tiveram outras ativida<strong>de</strong>s antes <strong>de</strong> se formar<strong>em</strong>professores.


70GRÁFICO 08 – IDADE COM QUE INICIARAM A TRABALHAR2IDADE INÍCIOTRABALHO 18 ANOS1IDADE INÍCIOTRABALHO 17 ANOS7IDADE INÍCIOTRABALHO 22 ANOSFONTE: Pesquisa da autoraCom essas informações evi<strong>de</strong>ncia-se que esses professores foram alunostrabalhadores e enfrentaram os mesmos <strong>de</strong>safios com os quais têm que lidar os seusalunos hoje: o cansaço, a falta <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e muitas vezes a falta <strong>de</strong> dinheiro para fazerface às exigências acadêmicas.Não se está querendo dizer aqui que a soma <strong>de</strong>stes fatos os estigmatiza ou osimpe<strong>de</strong> <strong>de</strong> se tornar<strong>em</strong> bons professores, mas são fatores com os quais esseseducadores, ao contrário daqueles com outro tipo <strong>de</strong> trajetória social e escolar b<strong>em</strong>mais estimulante intelectualmente, têm que enfrentar <strong>em</strong> sua carreira profissional, poistendo pouco t<strong>em</strong>po disponível para estudar e, muitas vezes, não po<strong>de</strong>ndo participar <strong>de</strong>cursos <strong>de</strong> especializações e pós-graduações <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>, o que possibilitaria oacesso a <strong>em</strong>pregos melhor r<strong>em</strong>unerados, acabam sendo obrigados a trabalhar durasjornadas, <strong>de</strong> até sessenta horas s<strong>em</strong>anais para po<strong>de</strong>r manter sua subsistência.Dedica-se a partir <strong>de</strong>ssa parte a análise e interpretação das respostas dadaspelos professores aos questionários e às entrevistas. Como são doze profissionaisrespon<strong>de</strong>ntes da pesquisa, optou-se pelos meses do ano para nomeá-los e preservarassim a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos pesquisados.Primeiramente são analisados os questionários e <strong>de</strong>pois as entrevistas, tendocomo pressuposto as reflexões <strong>de</strong> Bakhtin (1992) sobre o enunciado que para ele é


71“um elo <strong>em</strong> uma ca<strong>de</strong>ia muito complexa <strong>de</strong> outros enunciados”, e “<strong>em</strong> toda parte t<strong>em</strong>oso texto virtual ou o real e a compreensão que ele requer”.Nesta perspectiva a pesquisa nas ciências humanas então, segundo o autor,torna-se interrogação e troca, ou seja, diálogo. Ao fazer interrogações, <strong>de</strong> certa maneirao pesquisador interroga-se a si próprio e ao se interrogar organiza as observações quefez e as experiências pessoais que possui, procurando assim obter uma resposta.Os sujeitos da pesquisa, quando perguntados sobre as principais diferençasentre o ensino regular e o da EJA, apontaram a heterogeineda<strong>de</strong> dos alunos comrelação primeiramente à faixa etária e aos conhecimentos e vivência já adquiridas.Ressaltam que os alunos da EJA chegam à escola com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, sabendoo que quer<strong>em</strong>. São motivados e disciplinados. A soma <strong>de</strong>sses fatores resulta, segundoa maioria dos professores entrevistados <strong>em</strong> aulas mais proveitosas, nas quais oprofessor sente-se mais valorizado.São unânimes <strong>em</strong> afirmar preferir enfrentar as limitações dos alunos adultoscom uma história escolar aci<strong>de</strong>ntada e fragmentada a trabalhar com o ensino regular,sobre o qual afirmam Janeiro e Julho:No ensino regular somos expostos à falta <strong>de</strong> limites e <strong>de</strong> respeito. Os alunosparec<strong>em</strong> não saber porque estão na escola, não faz<strong>em</strong> as ativida<strong>de</strong>s, pois sãopreguiçosos.Os alunos do regular não são esforçados e s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong>monstram <strong>de</strong>sinteresseno apren<strong>de</strong>r. A turma no regular t<strong>em</strong> mais alunos, dificulta o trabalho.Com relação a este ponto <strong>de</strong> vista, <strong>em</strong> entrevista informal, o diretor doestabelecimento <strong>de</strong>monstra preocupação com a gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> professores queanualmente procuram o ensino <strong>de</strong> jovens e adultos, para segundo ele, escapar darealida<strong>de</strong> adversa do ensino regular s<strong>em</strong> ter noção dos <strong>de</strong>safios que enfrentarão comos alunos jovens, adultos e idosos, os quais exig<strong>em</strong> uma postura do professortotalmente diferente, gerando conflitos quando não observada e muitas vezesocasionando até a <strong>de</strong>sistência do aluno, que não gosta <strong>de</strong> ser tratado como criança equer ter o seu ponto <strong>de</strong> vista respeitado.


72Aliás, o conhecimento prévio do aluno e respeito ao seu saber anterior àescola foi apontado pela maioria dos docentes como papel primordial do professor daEJA, conforme se po<strong>de</strong> observar pela fala <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro:Para realizar a aprendizag<strong>em</strong> como educador do EJA é necessárioconhecer os alunos, saber as suas dificulda<strong>de</strong>s, partindo dos el<strong>em</strong>entosque compõ<strong>em</strong> a realida<strong>de</strong> autêntica do educando, pois é um serpensante e m<strong>em</strong>bro atuante da socieda<strong>de</strong>. A ação do educador <strong>de</strong>veencaminhar o adulto a criar por si mesmo sua consciência crítica,criando melhores condições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> maior expansão culturalNeste sentido houve alusão à teoria bakhtiniana para explicar a importância dosaber adquirido do educando, conforme se observa na fala <strong>de</strong> Julho: “Ter consciência<strong>de</strong> que está trabalhando com uma pessoa que traz valores, culturas e saberes diversos,portanto precisa <strong>de</strong>senvolver um trabalho levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração tudo isso”.Embora para Bakhtin a interação não se dê entre os falantes e o meioambiente, mas pelas relações com o “extralingüístico” e a socieda<strong>de</strong>, este conceito foil<strong>em</strong>brado por Fevereiro como justificativa <strong>de</strong> valorização do saber prévio do educando:Ensinar, isto é, proporcionar um ambiente <strong>de</strong> interação aproveitando osconhecimentos advindos dos alunos, partilhando o que sab<strong>em</strong> eapren<strong>de</strong>ndo o que ainda não sab<strong>em</strong>, pois segundo estudiosos doCírculo <strong>de</strong> Bakhtin o conhecimento acontece a partir das constantesinterações com o meio ambiente.Apenas uma professora, entre os doze que respon<strong>de</strong>ram ao questionário,apontou como papel primordial do professor <strong>de</strong> jovens, adultos e idosos a importânciapolítica e social da educação, como quer Freire (2006), quando afirma que não háneutralida<strong>de</strong> na educação e convoca os educadores e educadoras a assumir<strong>em</strong> umaopção, que é política e ser<strong>em</strong> coerentes com ela na prática. Essa professora <strong>de</strong>monstrater optado quando afirma:O educador <strong>de</strong>ve estar consciente <strong>de</strong> que sua ação educativa, além <strong>de</strong>pedagógica, também é política e social, <strong>de</strong>vendo partir dos interesses enecessida<strong>de</strong>s dos alunos, visando ao sucesso na aprendizag<strong>em</strong> e aoexercício da plena cidadania. (Agosto)


73Com relação à pergunta <strong>de</strong> número <strong>de</strong>z, quando indagados <strong>de</strong> que forma ateoria bakhtiniana que norteia as Diretrizes Curriculares Estaduais se reflete na prática<strong>de</strong>les, percebeu-se que seis professores apontaram aspectos relevantes da referidateoria, <strong>de</strong>monstrando intimida<strong>de</strong> com o autor e suas propostas.Por outro lado, três professoras não respon<strong>de</strong>ram e duas, por meio <strong>de</strong> suasrespostas, não <strong>de</strong>ixaram claro se conheciam ou não a proposta das Diretrizes e assimse posicionaram:Teoria e idéias são muito bonitas no papel, cada turma ou educando é único enão se po<strong>de</strong> dizer que se utiliza um único pensador e que ele dá conta <strong>de</strong> explicar tudo.(Set<strong>em</strong>bro)Acredito que <strong>em</strong> diferentes momentos, mas muito particularmente na leitura enos diálogos, que procuro valorizar <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula. (Janeiro)Em resposta à pergunta <strong>de</strong> número onze, quando indagados sobre quais ospressupostos <strong>de</strong> Bakhtin consi<strong>de</strong>ram mais significativos, houve coerência por parte dosprofessores, pois os seis que <strong>de</strong>monstraram conhecimento da proposta das DiretrizesCurriculares Estaduais e que respon<strong>de</strong>ram a pergunta <strong>de</strong>z, evi<strong>de</strong>nciaram pontosimportantes da teoria <strong>de</strong> Bakhtin como mais significativos, tais como: o discurso comoprática social, o caráter social da linguag<strong>em</strong>, gêneros discursivos, a língua comodiscurso (espaço <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentidos), dialogismo, e relações sociais comoformadoras <strong>de</strong> sentido. Três professores <strong>de</strong>ixaram a referida pergunta <strong>em</strong> branco eduas não esclareceram se consi<strong>de</strong>ram algum pressuposto significativo para sua prática.Perguntados sobre a eficácia dos cursos <strong>de</strong> capacitações oferecidos pelaSecretaria Estadual <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>em</strong> modificar e <strong>em</strong>basar as práticas <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula,onze professores afirmaram que os cursos oferecidos não têm sido suficientes paraelucidar dúvidas que enfrentam na prática.Transcrever-se-á algumas opiniões qu<strong>em</strong>elhor expressaram esse ponto <strong>de</strong> vista:Não são suficientes e as capacitações precisam ser mais práticas, menosteóricas e confusas e parar com tanto onanismo mental. (Janeiro)Não, a teoria é fácil, mas a prática é diferente. Muitos falam, porém poucosconhec<strong>em</strong> a verda<strong>de</strong>ira realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma a sala <strong>de</strong> aula. (Maio)


74Fazendo críticas mais contun<strong>de</strong>ntes um professor assim se manifestou:Não, <strong>de</strong> forma alguma, pois na maioria dos encontros dos quaisparticipei, os palestrantes não dominam a própria língua, e, como seensina senão pelo ex<strong>em</strong>plo? Os encontros são um <strong>de</strong>sastre e não sópor isso, mas por total ausência <strong>de</strong> planejamento! (Junho)Notou-se por meio das respostas a essa questão, que os professores <strong>em</strong> geralestão <strong>em</strong> busca <strong>de</strong> informações mais pragmáticas e capacitações somente teóricaspara eles têm pouco a ver com o cotidiano da sala <strong>de</strong> aula, o que se evi<strong>de</strong>ncia na fala<strong>de</strong> Maio: “Não, a teoria é fácil, mas a prática é diferente”.A esse respeito observa Tardif (2000 p.13) que os saberes profissionais dosprofessores são variados, heterogêneos, ecléticos e sincréticos e, segundo ele, osprofessores no seu cotidiano não eleg<strong>em</strong> uma teoria específica para orientar o seutrabalho e sim uma soma <strong>de</strong> várias, conforme a sua necessida<strong>de</strong>, por mais que muitasvezes pareçam contraditórias, pois estão pautadas na vivência escolar e social <strong>de</strong>les,b<strong>em</strong> como <strong>em</strong> suas crenças pessoais.O autor argumenta que as teorias serv<strong>em</strong> somente para ancorar a prática diáriado professor, integrando-se ao trabalho e aos objetivos que eles quer<strong>em</strong> atingir.Entretanto, n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre é fácil para eles a teorização da prática e a formalização <strong>de</strong>saberes, pois eles os vê<strong>em</strong> como pessoais e íntimosDaí à reflexão <strong>de</strong> que se os saberes dos professores estão centrados mais na“base da tentativa e erro, nas situações que se criam <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula e nas suasexperiências pessoais” (TARDIFF, 2000, p.13), os cursos <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong>v<strong>em</strong>observar esses aspectos para realmente ser<strong>em</strong> interessantes aos olhos do professor.Ainda levando-se <strong>em</strong> conta as respostas dos docentes com relação aoaproveitamento <strong>de</strong>les nas capacitações profissionais, concorda-se com Kramer (1983)quando esta <strong>de</strong>nuncia que estes cursos negam a oportunida<strong>de</strong> ao professor <strong>de</strong>,partindo <strong>de</strong> sua própria história <strong>de</strong> vida e dos conhecimentos adquiridos durante a suatrajetória docente, transformar-se <strong>em</strong> um pesquisador. Desse modo, ao invés <strong>de</strong> ajudáloa cruzar a ponte entre teoria e prática, reforçam a idéia do ensino partindo <strong>de</strong> um


75discurso monológico, que não oportuniza a troca <strong>de</strong> experiências, o <strong>de</strong>bate franco eenriquecedor.Ao <strong>de</strong>sejar um ensino que não negue o princípio <strong>de</strong> alterida<strong>de</strong> tão importantepara criação <strong>de</strong> sentidos, conforme o quer Bakhtin, <strong>de</strong>ve-se ensejar ao professorcapacitações <strong>em</strong> que ele próprio sinta os benefícios <strong>de</strong> um ensino dialógico e dialético,já que, como observa Cunha (1989), “a gran<strong>de</strong> inspiração dos docentes é a sua práticae ele ten<strong>de</strong> a repetir comportamentos que consi<strong>de</strong>rou positivos nos seus exprofessores”.4.3 LEITURA LITERÁRIA: O OLHAR DO PROFESSORAo analisar<strong>em</strong>-se os questionários e as entrevistas a seguir, levou-se <strong>em</strong> contaser “necessário observar que, por maior que seja a precisão com que é transmitido, odiscurso <strong>de</strong> outr<strong>em</strong> incluído no contexto s<strong>em</strong>pre está submetido a notáveistransformações <strong>de</strong> significado”. (BAKHTIN, 1998, p.141).Concorda-se com as proposições <strong>de</strong> Tardif (2000, p.15) quando este afirmaque os saberes dos professores são “apropriados, incorporados, subjetivados” a partir<strong>de</strong> sua história <strong>de</strong> vida e os seus pensamentos e ações traz<strong>em</strong> sinais dos contextos nosquais estão inseridos. Por essa razão analisar-se-á, através dos questionários e dasentrevistas a formação <strong>de</strong>sses professores leitores literários, b<strong>em</strong> como algunsaspectos sobre a formação <strong>de</strong>les como leitores seja na infância ou na adolescência eas relações com a escola/universida<strong>de</strong>, gêneros preferidos, contato com as bibliotecasou livrarias, quais as concepções que t<strong>em</strong> sobre o aluno leitor e sobre a leitura literária.Iniciar-se-á analisando as perguntas relacionadas à leitura constante nosquestionários respondidos pelos sujeitos da pesquisa. Com relação à pergunta treze:“Você incentiva seus alunos a ler? Por quê?”, todos foram unânimes <strong>em</strong> respon<strong>de</strong>r quesim. A expressiva maioria vê na leitura uma oportunida<strong>de</strong> para um crescimento pessoale uma oportunida<strong>de</strong> para conhecer o mundo que cerca o leitor. Apontam o valor daleitura como ponte para o conhecimento e a criticida<strong>de</strong>.


76Dois professores vê<strong>em</strong> na leitura apenas o aspecto formal e têm a concepção<strong>de</strong> que aluno-leitor é aquele que consegue <strong>de</strong>codificar os signos <strong>de</strong> forma mecânica,apenas enten<strong>de</strong>ndo o que está escrito:Sim, porque a palavra/expressão é o objeto do nosso estudo e a leitura é uminstrumento valioso. (Janeiro)Sim, porque só aluno enten<strong>de</strong>ndo o que lê ele po<strong>de</strong>rá ir b<strong>em</strong> nos estudos, <strong>em</strong>todas as disciplinas. (Julho)Na pergunta seguinte, quando questionados sobre <strong>em</strong> que momentoconsi<strong>de</strong>ravam os educandos bons leitores, houve coerência com o que respon<strong>de</strong>ram napergunta anterior, dois professores apenas ressaltaram o aspecto formal da leitura epriorizaram a fluência e a entonação com o fim último da prática leitora, enquanto os<strong>de</strong>mais fizeram referências ao aspecto <strong>de</strong> ampliação do universo do aluno e o cultivo <strong>de</strong>sua subjetivida<strong>de</strong>.Perguntados sobre o gênero (informativo, dissertativo, publicitário ou literário)que privilegiam <strong>em</strong> suas aulas, os professores dividiram-se entre gênero publicitário,narrativo e dissertativo argumentativo. Somente um professor fez menção ao textoliterário e afirmou:Trabalho um <strong>de</strong> cada vez, procuro trabalhar com todos. No Ensino Médiofocalizo o texto literário por reconhecer nele maior po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> abstração/percepção eintencionalida<strong>de</strong>s . (Nov<strong>em</strong>bro)Quanto ao que consi<strong>de</strong>ram essencial no trabalho com textos literários na sala<strong>de</strong> aula, há muita confusão do trabalho <strong>de</strong> texto literário com o ensino <strong>de</strong> Literatura <strong>de</strong>uma forma tradicional apenas relacionando obras, autores, datas e fatos históricos aperíodos literários. Como se observa através da fala do professor ao explicitar otrabalho que <strong>de</strong>senvolve:Como teve início (literatura), suas origens, lendo, sobretudo, arte. [...] Omomento colonial, a escravidão. Padre Vieira e a <strong>de</strong>fesa dos escravos nos Sermões. AInconfidência e o Arcadismo... Junho (grifo nosso)


77Aliás, essa forma <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> Literatura não é o que mencionam as DiretrizesCurriculares Estaduais. A análise documental das Diretrizes Curriculares mostrou queesta referencia um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> literatura que nega o formalismo e aburocratização, exorta o professor a buscar um aluno crítico e autônomo e acima <strong>de</strong>tudo capaz <strong>de</strong> tecer reflexões sobre o que foi lido. Consi<strong>de</strong>ra e privilegia o trabalho comensino <strong>de</strong> leitura literária e apresenta para o Ensino Médio um ensino <strong>de</strong> literatura quesugere uma perspectiva rizomática 9 a qual segundo o documento, leva a libertação dopensamento <strong>em</strong> relação à linha do t<strong>em</strong>po. Promov<strong>em</strong> um tipo <strong>de</strong> ensino <strong>em</strong> que hajaum entrecruzamento <strong>de</strong> textos inclusive midiáticos, enriquecendo as análises e levandoa reflexão:Assim, a aula partirá do(s) texto(s) selecionado(s) pelo professor quecolocará o aluno <strong>em</strong> face <strong>de</strong> textos literários integrais <strong>em</strong> vez <strong>de</strong>resumos ou sinopses. Aceitará textos sugeridos pelos alunos comoponto <strong>de</strong> lançamento para a leitura <strong>de</strong> outros textos, num contínuotexto-puxa-texto que leve à reflexão, ao aprimoramento do pensar e aum aperfeiçoamento no manejo que ele terá <strong>de</strong> suas habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>falante, leitor e escritor.(DCE, 2006, p.41)Despertar o gosto pela leitura foi apontado por oito professores como função doprofessor <strong>de</strong> Língua Portuguesa, três acham que os professores <strong>de</strong>v<strong>em</strong> <strong>de</strong>spertar ogosto, <strong>de</strong>senvolver o hábito e também ensinar a ler como prática social, cont<strong>em</strong>plandoassim todas as alternativas. Somente um professor indicou que a função do professor éensinar a ler como prática social.Com relação a essa concepção, Colomer e Camps (2002) afirmam quedificilmente por meio das práticas utilizadas pela escola é possível fazer com que o“gosto” do aluno seja “<strong>de</strong>spertado”, o que gera insatisfação por parte dos professoresque se sent<strong>em</strong> frustrados <strong>em</strong> seu intento.Por outro lado, o aluno se sente fracassado <strong>em</strong> não ter <strong>de</strong>senvolvido o tal“gosto” nesta ativida<strong>de</strong> tão essencial, o que muitas vezes o <strong>de</strong>sestimulará para leiturafuturas. A esse respeito Bueno (2002) comenta que dos professores das <strong>de</strong>mais9Baseada nas idéias <strong>de</strong> Deleuze e Guatari, constantes no livro “Mil Platôs”.


78disciplinas não se cobra que o aluno venha <strong>de</strong>senvolver “gosto” ou “prazer” na matériaque ensina, mas “o professor <strong>de</strong> literatura, ao contrário, t<strong>em</strong> que ser um camaradacapaz <strong>de</strong> instilar o amor à leitura”.Ao ser<strong>em</strong> indagados sobre o que consi<strong>de</strong>ram importante para o ensino <strong>de</strong>literatura, os entrevistados reforçam as idéias anteriores: a maioria associa o ensino <strong>de</strong>Literatura com o ensino da História do Brasil:Com relação ao ensino da Literatura Brasileira “as situações criadas” eos textos escolhidos para leitura, <strong>em</strong> articulação com outras matérias,<strong>de</strong>v<strong>em</strong> conduzir a uma compreensão e apreciação da nossa História,da nossa Literatura, da Civilização que vimos construindo e dos valoresmais típicos. Assim como a nossa História é parte da História Universal,a literatura Brasileira não po<strong>de</strong> ser estudada com abstração <strong>de</strong> suasraízes portuguesas e s<strong>em</strong> inserir-se no complexo cultural europeu <strong>de</strong>que se origina. (Março)A pergunta <strong>de</strong> número 19 procurava investigar quais estratégias oprofessor privilegia no trabalho com o texto <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula. Para tanto, buscou-sedistribuir as alternativas <strong>de</strong> forma que o professor as numerasse conforme as práticas<strong>de</strong>senvolvidas por ele. Verificou-se uma uniformida<strong>de</strong> no trabalho com a leitura, ou seja,primeiro o professor lê o texto <strong>em</strong> voz alta, <strong>de</strong>pois i<strong>de</strong>ntifica as palavras novas oujulgadas estranhas ao vocabulário dos alunos, explica o texto a seguir para melhorentendimento dos alunos.Após a leitura, pe<strong>de</strong> para ser<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvidos exercícios ou solicita redaçõescom o t<strong>em</strong>a central. Um professor achou importante acrescentar que introduz o texto aoseu contexto histórico, à época <strong>em</strong> que foi escrito, <strong>de</strong>staca o estilo e comenta sobre oautor. Outra solicita resumo sobre o texto lido.Tais observações r<strong>em</strong>et<strong>em</strong> ao sustentado por Silva (2005, p.11) quandoafirma que os professores utilizam um movimento sincronizado para o ensino <strong>de</strong> leitura,tal qual os pelotões da guarda real inglesa e por alguns outros exércitos. Essa analogiaserve para mostrar a obediência pelo professor <strong>de</strong> um ritual mecanizado, utilizado <strong>de</strong>ano para ano só para constar o trabalho com a leitura. Assim agindo, nega o


79<strong>de</strong>senvolvimento do senso crítico do aluno (objetivo primordial da leitura), e, o maisgrave: o levará a <strong>de</strong>testar qualquer tipo <strong>de</strong> leitura.posicionaram:Porém, duas professoras não numeraram os itens, ignorando-os e assim seO mais significativo é o professor instigar o aluno a ler com liberda<strong>de</strong>,criativida<strong>de</strong>, autonomia e autocrítica, levando-o a ter umposicionamento estético sobre o texto, autor, época e jamais ler um livroou ler um texto somente como pretexto para interpretação ou ativida<strong>de</strong>sgramaticais. (Abril)Apenas leitura literária não exige nada disso, leitura é apenas leitura,quando se faz um trabalho utilizando uma leitura prévia <strong>de</strong>ve-se<strong>de</strong>senvolver um trabalho <strong>de</strong> forma que não mate o prazer da leiturafeita. (grifos do autor). (Set<strong>em</strong>bro)Na pergunta <strong>de</strong> número vinte quando questionados se se consi<strong>de</strong>ravamleitores ou ledores, termos formulados a partir das proposições <strong>de</strong> Yunes (2002), a qualenten<strong>de</strong> que ser leitor é diverso <strong>de</strong> ser ledor 10 , tal qual o são os termos escritor eescrevente, pois o primeiro termo r<strong>em</strong>ete a uma ativida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> o indivíduo participaativamente, “esforçando-se a dar sentido ao que lê, engajando-se para construir osentido <strong>de</strong> um texto” (KLEIMAN, 2000, p.9). Já o segundo r<strong>em</strong>ete a uma ativida<strong>de</strong>mecânica na qual o indivíduo não consegue dar sentido ao lido apenas <strong>de</strong>codificandoas palavras.Michel Picard (1986), <strong>em</strong> La lecture como jeu (A leitura como jogo) <strong>de</strong>fine ledor como o indivíduo que tendo olivro nas mãos mantém contato como o mundo exterior. (Jouve, 2002, p.50).Infere-se, portanto, que se trata <strong>de</strong> umindivíduo que não consegue aprofundar a sua compreensão crítica do texto dando sentido ao que lê.


80Dos doze respon<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong>z consi<strong>de</strong>raram-se leitores, alguns associando o fato<strong>de</strong> ser leitor a freqüência que lê e outros porque interag<strong>em</strong> com a leitura que faz<strong>em</strong>.Uma afirmou que se o professor for somente ledor, estará na profissão errada.Outra<strong>de</strong>clarou não ter entendido a pergunta.4.4 LEITURA LITERÁRIA: IMBRICAÇÕES SOBRE A HISTÓRIA DE VIDA E APRÁTICA DOS PROFESSORESAs entrevistas comentadas a seguir foram realizadas com quatro docentes.Duas <strong>de</strong>las realizadas com as professoras cujas aulas foram observadas, tomando-se ocuidado <strong>de</strong> formulá-las após a pesquisa <strong>de</strong> campo. Esse cuidado <strong>de</strong>veu-se ao fato <strong>de</strong>ser<strong>em</strong> prestados esclarecimentos “a posteriori” sobre algumas práticas observadas <strong>em</strong>suas aulas. As outras duas professoras respon<strong>de</strong>ntes das entrevistas foramselecionadas através <strong>de</strong> suas respostas aos questionários distribuídos anteriormente.Mantendo-se a investigadora fiel ao princípio <strong>de</strong> preservação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dosrespon<strong>de</strong>ntes das entrevistas, doravante i<strong>de</strong>ntificar-se-ão as quatro professoras porpersonagens da obra Machadiana, a saber: Capitu, Helena, Lucíola e Virgília.Antes <strong>de</strong> passar-se à fala dos sujeitos da pesquisa é necessária uma reflexãoaos mol<strong>de</strong>s bakhtinianos (1992, p. 313) quando este observa ser a palavra expressiva,mas no momento <strong>em</strong> que é proferida, esta expressivida<strong>de</strong> não pertence à própriapalavra proferida, mas sim nasce do ponto <strong>de</strong> contato entre a palavra e a realida<strong>de</strong>efetiva e expressa o juízo <strong>de</strong> valor <strong>de</strong> um hom<strong>em</strong> individual inserido <strong>em</strong> sua época, noseu meio social, no micromundo da família e daqueles que o ro<strong>de</strong>iam, das leituras evivências que teve, dando forma à experiência verbal individual.Iniciaram-se as perguntas pelas práticas <strong>de</strong> leitura oral da família dasprofessoras entrevistadas por acreditar-se que a história do leitor literário t<strong>em</strong> raízes nainfância, quando há um processo <strong>de</strong> transmissão da literatura oral, através <strong>de</strong> textoscontados ou lidos para as crianças <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a mais tenra ida<strong>de</strong>. Com relação a estequestionamento todas as professoras afirmaram ter l<strong>em</strong>brança da família participarativamente <strong>em</strong> seu processo <strong>de</strong> letramento, quer contando histórias ou causos ou


81mesmo dando-lhes livros infantis para ler<strong>em</strong>. Um bom ex<strong>em</strong>plo disso é o relato <strong>de</strong>Helena:O meu pai trabalhava “por conta” e nos dias que chovia ele não podiatrabalhar, nós nos reuníamos <strong>em</strong> volta <strong>de</strong> um fogão <strong>de</strong> lenha e ele lia,lia muitas histórias, inclusive até Dom Casmurro, eu ouvi meu paicontando para nós quando eu estava na quarta série.A figura do professor <strong>de</strong> Língua Portuguesa do Ensino Fundamental foiimportante na trajetória leitora <strong>de</strong> três <strong>de</strong>las, com relação a esse ponto recorda-seCapitu:Na escola só fui incentivada a ler a partir da 5ª série a 8ª série. L<strong>em</strong>bromeum fato que me marcou muito, nesta época eu tive que serhospitalizada por um longo t<strong>em</strong>po e então minha professora <strong>de</strong>Português s<strong>em</strong>pre me visitava e levava livros para eu ler... Por causa<strong>de</strong>la é que eu gosto <strong>de</strong> ler, lia muito romances policiais.Esse fato é evi<strong>de</strong>nciado na fala <strong>de</strong> Helena:Foi a professora que me incentivou muito a ler porque ela dava um livropara qu<strong>em</strong> não faltasse o ano todo. Ah! Também quando a professorafaltava e ela faltava muito (risos), a substituta “largava” na nossa salauma mala cheia <strong>de</strong> livros e nós ficávamos lendo, olhando figurinhas...Fato inverso suce<strong>de</strong>u no Ensino Médio quando, ao mencionar<strong>em</strong> o contatocom a leitura literária, recordaram-se da leitura por obrigação. Ressaltaram que<strong>de</strong>testavam respon<strong>de</strong>r a questionários e fichas <strong>de</strong> leitura. Conforme relata Lucíola:A literatura era maçante no Ensino Médio. Por que sou avessa a ficar<strong>de</strong>corando data, <strong>de</strong>corando nome, eu gosto é <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r. Eu gosto <strong>de</strong> trabalhar com oestímulo do pensamento...Perguntadas sobre qual a relação que mantiveram com a leitura no ambienteacadêmico, novamente apontam o professor como incentivador da leitura literária, querpela forma como conduzia a disciplina <strong>de</strong> literatura:


82Já na faculda<strong>de</strong> fui muito incentivada a ler por um professor <strong>de</strong> literaturaque tinha já 82 anos e fazia a gente ler com vonta<strong>de</strong>. Eu trocava muitasidéias com ele e apesar <strong>de</strong>le ser muito sisudo me indicou muitos livros <strong>em</strong>e incentivou a ler. (Capitu)Quer pelo trabalho diferenciado <strong>de</strong>senvolvido:Na faculda<strong>de</strong> eu na época não gostava <strong>de</strong> ler, só gostei quando umprofessor chamado Edson fez uma análise conosco <strong>de</strong> Macunaíma e euadorei, <strong>de</strong>pois disso passei a amar. Esse professor fazia um trabalhodiferenciado, não era maçante que n<strong>em</strong> no Ensino Médio. (Lucíola)Questionadas sobre a última obra que leram ou estão lendo três citaram títulos<strong>de</strong> leitura literária. Apenas uma estava lendo um livro pedagógico.Com relação às causas da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler<strong>em</strong> mais, apontaram comoprincipais: o preço dos livros e a falta <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po. Somente uma utiliza a bibliotecaregularmente, mas para <strong>em</strong>prestar livros para seu uso pessoal, porém esclareceu queeventualmente leva para a sala <strong>de</strong> aula uma ou outra obra e lê trechos para os alunos,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> ser leitura estrangeira ou não.4.5 LEITURA LITERÁRIA E AS PRÁTICAS DOS PROFESSORESSendo a escola o lugar privilegiado <strong>de</strong> acesso à leitura e à escrita, cabeperguntar se o oferecido nas aulas <strong>de</strong> Língua Portuguesa por meio <strong>de</strong> textos contidosnos livros didáticos, <strong>de</strong> exercícios, ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura ou livros <strong>de</strong> literaturarecomendados, é suficiente para tornar o aluno um leitor que dialoga com o autor econsegue enten<strong>de</strong>r a intenção do texto, ou o ensinado é somente o suficiente paraformar alunos com aversão à leitura literária.Antes <strong>de</strong> tudo, acredita-se ser a sala <strong>de</strong> aula um espaço no qual <strong>de</strong>ve serfavorecido o diálogo <strong>de</strong> forma dialética, ensejando-se a reflexão, já que é nela que o


83aluno realiza a sua condição <strong>de</strong> ser social interagindo, principalmente por meio dapalavra, pois, como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Bakhtin (1996 p.118), ela “é uma espécie <strong>de</strong> ponte lançadaentre mim e os outros”.Desta forma transforma-se o ato <strong>de</strong> ler <strong>em</strong> práticas que possam realmentelevar o aluno à reflexão sobre outros pontos <strong>de</strong> vista diferentes do seu, e possibilit<strong>em</strong>,principalmente, a leitura como ponto <strong>de</strong> partida para a dialogia entre professor - aluno ealuno-aluno, numa ativida<strong>de</strong> que estimule o pensar, a troca e o <strong>de</strong>bate.Amparando-se nestes pressupostos com relação à leitura literária, partiu-seentão para verificar a prática dos professores, objeto da pesquisa. Por meio dasrespostas dadas aos questionários anteriormente entregues a eles, as duas professorascujas aulas seriam objeto <strong>de</strong> observação pu<strong>de</strong>ram ser escolhidas.Após a escolha, manteve-se um contato prévio com as docentes, explicitandoquais os pontos eram objeto <strong>de</strong> interesse do trabalho e ambas se dispuseram acolaborar com a pesquisa, ministrando aulas <strong>de</strong> literatura nos dias <strong>de</strong>stinados àobservação.Seguindo o procedimento adotado na análise das entrevistas para preservaçãoda i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> das docentes participantes, igualmente utilizaram-se nomes <strong>de</strong>personagens <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis para nomeá-las. Doravante a professora da turmada manhã <strong>de</strong>nominar-se-á Marcela e a da turma da noite, Eugênia.No primeiro encontro tomou-se o cuidado <strong>de</strong> explicitar também aos alunos otrabalho <strong>de</strong>senvolvido nas observações, principalmente para se dirimir qualquer dúvidaquanto à presença estranha à ativida<strong>de</strong> cotidiana. Tanto <strong>em</strong> uma sala como <strong>em</strong> outra, arecepção ao trabalho foi favorável, chegando mesmo a pesquisadora a rever a posiçãoinicial que era <strong>de</strong> somente observar, pois foi chamada algumas vezes a opinar ouesclarecer uma ou outra questão. Em nenhuma das visitas pareceu que as professorasse mostrass<strong>em</strong> incomodadas com a presença <strong>de</strong> uma observadora, ao contrário, toda apesquisa se <strong>de</strong>u aparent<strong>em</strong>ente s<strong>em</strong> interferência ao andamento usual.Ambas, ao apresentar<strong>em</strong> a investigadora, valorizaram o trabalho perante osalunos e comentaram da importância da leitura na vida <strong>de</strong>les. Aliás, pô<strong>de</strong>-se observarque as duas docentes esforçavam-se para manter o bom relacionamento com osestudantes, ensejando um ambiente agradável e tranqüilo.


84De um modo geral as aulas foram expositivas e centradas na figura doprofessor, <strong>em</strong>bora <strong>de</strong>ixass<strong>em</strong> algum t<strong>em</strong>po para os alunos <strong>de</strong>senvolver<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s<strong>em</strong> grupo ou individualmente. As duas professoras apresentaram domínio naorganização do contexto <strong>de</strong> aula explicitando no início <strong>de</strong> cada aula os objetivos queseriam estudados.A professora Marcela do período matutino o fazia s<strong>em</strong>pre oralmente, já aprofessora Eugênia do noturno escrevia no quadro todos os pontos a ser<strong>em</strong> abordadosna aula. Quando perguntada informalmente do porquê <strong>de</strong> explicitá-los por escrito,respon<strong>de</strong>u que os alunos costumavam atrasar-se no início das aulas <strong>de</strong>vido aotrabalho, então, <strong>de</strong>ssa forma, procurava manter ocupados os presentes, b<strong>em</strong> comoensejar àqueles que estavam atrasados copiar a matéria.A organização inicial, <strong>de</strong> acordo com Cunha (1989), foi valorizada pelos alunosquando esta pesquisou as características do bom professor e as práticas utilizadas porele <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula.Notou-se um esforço, tanto <strong>de</strong> uma quanto <strong>de</strong> outra, <strong>em</strong> manter uma aulaparticipativa. A interação entre as duas professoras e os alunos era bastante amistosa,observou-se <strong>em</strong>penho <strong>de</strong>las <strong>em</strong> aproximar<strong>em</strong>-se dos educandos, quer no modo gentil<strong>de</strong> falar, quer no interesse <strong>de</strong>monstrado por eles. Um primeiro ponto, o qual mereceu aatenção, foi o tipo <strong>de</strong> diálogo mantido pelas docentes quando da leitura <strong>de</strong> textos ou <strong>de</strong>uma explicação que <strong>de</strong>sejavam reforçar.Retiraram-se dois ex<strong>em</strong>plos para melhor elucidar este t<strong>em</strong>a. O primeiro ocorreuno período da manhã uma aula <strong>de</strong> Literatura Brasileira quando a professora Marcelaestava lendo o conto A Cartomante, <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis e perguntou para os alunos:M: Por que Rita foi à cartomante? Por quê?A1: Para ver o que estava acontecendo.M: Por quê?A2: Para saber do futuro.M: Para ver se ele ainda gostava <strong>de</strong>la!!(Notas do DC <strong>de</strong> 28/04/08)


85Apesar das respostas dos alunos não estar<strong>em</strong> incorretas, não foramretomadas pela docente <strong>em</strong> um verda<strong>de</strong>iro diálogo. A mesma sist<strong>em</strong>ática é repetida porela durante a leitura, e, conforme o avançar da história, há <strong>de</strong>sinteresse por parte dosalunos <strong>em</strong> respon<strong>de</strong>r às perguntas feitas pela professora. Já quase no final aprofessora indagaM: Perceberam?Silêncio...M: O que está acontecendo na história agora?Silêncio...Professora lê mais um pouco e:M: Viu! Ela também recebeu uma carta anônima!M: Vocês estão enten<strong>de</strong>ndo? Está enten<strong>de</strong>ndo SeuJoão?A: Sim... Inclusive...A professora prossegue a leitura.(Notas do DC <strong>de</strong> 28/04/08)Note-se que Marcela perguntou ao aluno sua opinião, mas não <strong>de</strong>monstrouuma atitu<strong>de</strong> “responsiva-ativa” para com sua resposta, como suger<strong>em</strong> as lições <strong>de</strong>Bakhtin (1992). Neste “diálogo” mantido por ela po<strong>de</strong>ria acrescentar-se o apontado porL<strong>em</strong>bo (1975, p. 71) quando tece reflexões sobre o agir do professor que t<strong>em</strong> uma lista<strong>de</strong> perguntas para fazer aos alunos e uma série <strong>de</strong> afirmações cuidadosamente<strong>em</strong>pregadas por ele dando a falsa idéia ao educando que para cada caso só há umaresposta aceitável, resposta essa coinci<strong>de</strong>nte com a qual o professor julga correta.Por ocasião da entrevista realizada posteriormente, indagou-se porque faziaperguntas e <strong>de</strong>pois ela mesma respondia, Marcela então evi<strong>de</strong>nciou sua preocupaçãocom o entendimento do aluno, pois crê acrescentar informações mais precisas sobre olido e t<strong>em</strong>e uma interpretação muito “rasa” do texto.Neste sentido, apesar <strong>de</strong> sua preocupação como o bom entendimento do texto,nega a reflexão do aluno e utiliza um tipo <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> leitura que, conforme Silva(2005, p. 4), “ten<strong>de</strong> a contribuir para a docilização” impedindo, segundo o autor, o


86questionamento, a discussão e a crítica das idéias veiculadas, impedindo que o alunoleitorse torne sujeito do trabalho que executa”. (SILVA, 2005, p. 4). On<strong>de</strong> abre aspas?A utilização <strong>de</strong> fragmentos <strong>de</strong> textos literários nas aulas observadas foifreqüente, tanto no período da manhã como no período noturno. Abaixo se faráreferência a apenas dois momentos <strong>em</strong> que foram utilizados, No primeiro verificou-sesua utilização na aula da Professora Marcela:M: Gente, hoje vamos fazer ativida<strong>de</strong>s! Vamos fazer duplas!A: Mas não chegaram todos ainda!M: Ah é, mas vamos começar assim mesmo...M: Eu vou dar duas questões para cada dupla. Vocês terão atéàs nove horas para fazer este trabalho.M: Vocês po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>ixar as apostilas abertas enquanto faz<strong>em</strong> otrabalho. Olha, eu trouxe alguns livros (livros didáticos <strong>de</strong> LínguaPortuguesa) cada um po<strong>de</strong> escolher um livro e vão abrir aon<strong>de</strong> estálocalizado o Romantismo. Aí vocês vão pegar um fragmento <strong>de</strong>romance ou <strong>de</strong> poesias. Po<strong>de</strong> ser a Moreninha... Qu<strong>em</strong> escreveu aMoreninha? Qu<strong>em</strong> escreveu a Moreninha?!A: Silêncio.M: Vocês vão pegar esse fragmento e encontrar características doRomantismo, vão ver se ele é romance urbano, se é regionalista.M: Como a gente procura, professora?M: A gente vai folheando, ora! Eu quero saber <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> é o fragmento,quais as características, qual a época.A: É só para copiar a característica?M: Não eu quero que analise o texto, quero que retir<strong>em</strong> citações, nãoesqueçam das aspas! E da referência também!(Notas do DC <strong>de</strong> 28/04/08)O segundo ex<strong>em</strong>plo v<strong>em</strong> da professora Eugênia, a qual <strong>em</strong> aula anterior<strong>de</strong>ixou fragmentos <strong>de</strong> texto para a realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e, na aula observada, fez osseguintes comentários:


87E: Então vamos corrigir o trabalho que <strong>de</strong>ixei para vocês com os textos,vamos ver se são literários ou não-literários.Vamos fazer um círculoentão.E: Isso, agora cada um vai ler o texto.Marcos: Ah! Eu não gosto <strong>de</strong> ler.E: Como não! São textos curtos. Fiqu<strong>em</strong> atentos á introdução, ao<strong>de</strong>senvolvimento e a conclusão, leia <strong>de</strong> forma b<strong>em</strong> pausada. Você vailer para os outros.(Notas do DC <strong>de</strong> 14/05/08)O aluno começa a ler com dificulda<strong>de</strong> e s<strong>em</strong> ênfase, os outros alunosdispersam a atenção. Eugênia, após ele ter terminado, diz:E: Vocês viram se está <strong>em</strong> prosa ou verso? Viram se está <strong>em</strong>linguag<strong>em</strong> literária ou não literária?(Notas do DC <strong>de</strong> 14/05/08)Alunos perturbam-se não consegu<strong>em</strong> achar a resposta, ao que ela afirma:E: Viu! Viu como t<strong>em</strong> textos que confun<strong>de</strong>m? É a questão daverossimilhança, exist<strong>em</strong> casos reais assim com pessoas reais?(Notas do DC <strong>de</strong> 14/05/08)No primeiro e no segundo caso observa-se a intenção <strong>de</strong> que os alunosbusqu<strong>em</strong> muitas informações <strong>em</strong> um mero fragmento, e, <strong>em</strong> ambos os casos, asdocentes tiveram que auxiliá-los para encontrar<strong>em</strong> as respostas, já que uma gran<strong>de</strong>parte dos educandos não conseguiu encontrar o que lhes foi pedido. Quandoperguntada do porquê da utilização <strong>de</strong> fragmentos <strong>de</strong> textos literários ao invés <strong>de</strong> livrosliterários nas ativida<strong>de</strong>s, a professora Marcela, afirmou não ter pensado nestapossibilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>monstrando estar o fragmento tão naturalizado nas aulas que passa ater o mesmo status do livro nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas.Torna-se importante ressaltar que a fragmentação e a <strong>de</strong>scontextualização dostextos utilizados pelas professoras po<strong>de</strong>m limitar a prática pedagógica da leitura


88literária, pois, conforme aponta Zilberman (1991), o trabalho somente com fragmentos<strong>de</strong> textos literários não contribui para a formação do leitor, po<strong>de</strong>ndo oferecer uma visão<strong>de</strong> mundo <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>nada e caótica, limitando o ensino da língua materna somente aocognitivo, negando a sua realida<strong>de</strong> como produção.Além disso, compromet<strong>em</strong> o entendimento e muitas vezes até a intenção doautor, <strong>de</strong>ixando lacunas no que concerne ao trabalho com o texto literário, transferindoassim para o professor a incumbência <strong>de</strong> ampliar os horizontes textuais para aformação do leitor literário, o que po<strong>de</strong> ocorrer ou não, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do engajamento eda bagag<strong>em</strong> teórica <strong>de</strong>sse professor com relação à leitura.Foi observado que alguns alunos aos quais pedia-se para ler <strong>em</strong> voz alta, sesentiam constrangidos e tentavam inventar <strong>de</strong>sculpas (não trouxeram os óculos, ou nãotomaram r<strong>em</strong>édios e a cabeça estava “ruim” naquele dia).Pensa-se ser essencial no caso <strong>de</strong> alunos com uma trajetória leitora não muitosólida e com auto-estima baixa, como ocorre na EJA, que a professora ao invés <strong>de</strong>escolher o aluno para a leitura, permita uma manifestação espontânea por parte <strong>de</strong>les,evitando colocar o aluno <strong>em</strong> situações constrangedoras e oportunizando momentosprazerosos tanto para o aluno leitor, como para os ouvintes.Em contrapartida a docente estimula aqueles com mais dificulda<strong>de</strong> na leituraajudando-os <strong>em</strong> sua trajetória leitora, para que a seu t<strong>em</strong>po, também possam participar<strong>de</strong> maneira efetiva na leitura oral.É importante ressaltar que a apresentação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpas por parte dosestudantes para não ler<strong>em</strong> o texto pedido pelas professoras, ocorreu com maiorintensida<strong>de</strong> na fase inicial das observações <strong>em</strong> aula, po<strong>de</strong>ndo com isso significar queos educandos ainda “sentiam” a presença da pesquisadora <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula.Observou-se também uma preocupação com as ativida<strong>de</strong>s após a leitura, comoforma <strong>de</strong> verificação do que foi lido, conforme observado na aula <strong>de</strong> Marcela:


89M: Gente! Ont<strong>em</strong> nós terminamos <strong>de</strong> ler 0 Enfermeiro e hojevamos fazer ativida<strong>de</strong>s. Vamos fazer duplas.M: Vamos agilizar senão não vai dar t<strong>em</strong>po! Ih! Sobrou o Antonio!M: Cada dupla fica responsável por duas questões.A: Precisa copiar só a resposta?M: Não, vocês têm que copiar as perguntas também.[ ... ]M: Pronto? Agora vamos começar as correções! Depois que todosler<strong>em</strong> as suas, na próxima aula vamos passar todas asrespostas no quadro para que todos tenham as respostasno ca<strong>de</strong>rno...(Notas do DC <strong>de</strong> 09/06/08, grifo nosso)Acredita-se que esse procedimento vai ao encontro do conceito <strong>de</strong> “educaçãobancária” apontado por Paulo Freire cujo objetivo é o do retorno <strong>de</strong> leitura dado aoprofessor, pois dificilmente o aluno achará prazer <strong>em</strong> respon<strong>de</strong>r perguntas e maisperguntas sobre o lido, ou fazer leituras somente para mostrar ao professor que leu.Esta prática leva o educando muitas vezes a sentir-se fracassado nessa ativida<strong>de</strong>, poisnão consegue converter-se <strong>em</strong> um leitor entusiasta.Chamou a atenção o fato das professoras ao invés <strong>de</strong> trazer<strong>em</strong> o livro para asala <strong>de</strong> aula, permitindo que os alunos leiam o texto, falam sobre ele, numa tentativa <strong>de</strong>incentivar a leitura dos livros:A professora Eugênia inicia a aula “contando” sobre o livro Senhora, <strong>de</strong> José <strong>de</strong>Alencar:Naquele t<strong>em</strong>po a mulher ia ser educada para o casamento, o paiguardava dinheiro pra o casamento. Quando tinha certa ida<strong>de</strong> ela iapara os gran<strong>de</strong>s bailes, tipo vitrine. Aurélia é pobre, Fernando a logrou.Depois <strong>de</strong> adquirir fortuna. No Romantismo há duas formas <strong>de</strong> ser felizou já no começo, ou o personag<strong>em</strong>, sofre, sofre, sofre...(Notas do DC <strong>de</strong> 21/05/08)Pensa-se que esta tentativa é bastante discutível, pois ao aluno não é dada aoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer a leitura e tirar as suas próprias conclusões, ou mesmo dialogarcom o autor e a obra, ficando somente para ele a visão do professor sobre o que o textoquis dizer.


90Constatou-se por meio das observações, que tanto Marcela quanto Eugêniapautaram suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> literatura <strong>em</strong> torno do Romantismo e do Realismo,tratando <strong>de</strong> autores e citando fatos e datas relacionados com os dois movimentos. Foiverificada <strong>em</strong> ambas a preocupação <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar obras canônicas, sendo <strong>em</strong> que <strong>em</strong>nenhum momento foi trabalhado outro tipo <strong>de</strong> literatura.Machado <strong>de</strong> Assis foi o autor mais citado pelas duas professoras. A professoraMarcela, na ocasião <strong>em</strong> que foram feitas as observações, estava elaborando umaativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura para ser apresentada pelos alunos para toda a escola sobre o autor,que <strong>em</strong> 2008 completou c<strong>em</strong> anos <strong>de</strong> falecimento.Apesar <strong>de</strong> historicamente o autor não encontrar muita receptivida<strong>de</strong> entre osalunos, as professoras buscam incentivar os educandos para a leitura <strong>de</strong> sua obra, orainvocando motivos pessoais:Vocês vão se apaixonar por Machado <strong>de</strong> Assis, porque eu amo e vocês tambémvão amar ! Eugênia (Notas do DC <strong>de</strong> 12/05/08)Marcela:Ora tentando minimizar a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ler o texto machadiano como na fala <strong>de</strong>M: Vocês já terminaram <strong>de</strong> ler Dom Casmurro? Não?! Olha vocês têmque terminar, a apresentação está aí!A: Ah! É muito complicado porque o autor vai e volta, vai e volta!M: Complicado?! Mas você também quando vai contar uma história nãofaz o mesmo? Fala sobre o presente e também do passado, não é?(Notas do DC <strong>de</strong> 16/06/08)Conforme constatado durante o período no qual foram <strong>em</strong>preendidas asobservações, foi Dom Casmurro, <strong>de</strong> Machado <strong>de</strong> Assis, o único livro distribuído paraleitura dos alunos. Ao entregá-los, a professora Marcela fez uma análise sobre a obracomentando sobre a edição, chamando a atenção para o <strong>de</strong>senho da capa quecontinha a figura <strong>de</strong> uma moça com olhos muito expressivos, os quais ela associou àexpressão “olhos <strong>de</strong> ressaca” utilizada pelo autor para caracterizar a personag<strong>em</strong>principal.


91Com relação a essa professora, é necessário dizer, foi a que menos utilizoufragmentos <strong>de</strong> texto, optando pelos contos, inclusive fazendo leitura <strong>de</strong>les juntamentecom os alunos e procurando ajudá-los no entendimento durante as leituras.Não foi constatado durante as aulas <strong>de</strong> observações o uso da TV, quer comintuito <strong>de</strong> fazer leituras diferenciadas <strong>de</strong> programas com conteúdo literário, quer porqualquer outro motivo. Porém, a professora Eugênia utilizou por duas vezes o aparelho<strong>de</strong> CD: na primeira trouxe uma música para ressaltar as diferenças do falar do sertanejoe a língua formal, e na segunda vez, trouxe a música Exagerado <strong>de</strong> Cazuza, paraevi<strong>de</strong>nciar características do Romantismo.4.6 TECENDO OS FIOS: REFLEXÕES SOBRE OS SUJEITOS DA PESQUISAPartindo-se do observado e levando-se <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração a coleta <strong>de</strong>informações por meio dos questionários e das entrevistas, foi possível inferir que osprofessores provêm <strong>em</strong> sua maioria do interior do Estado e pertenc<strong>em</strong> a um ambientepouco letrado, uma vez que oito dos respon<strong>de</strong>ntes do questionário <strong>de</strong>clararam que ospais cursaram até a quarta série primária.Outra informação recolhida pelos instrumentos da pesquisa é a <strong>de</strong> que oitoentrevistados iniciaram sua carreira profissional muito cedo, atuando <strong>em</strong> outrasativida<strong>de</strong>s enquanto cursavam o nível superior, isto é, também eles foram estudantestrabalhadores. Embora, conforme Bourdieu (1998, p. 44), esses fatores somados sãoapenas indicadores que permit<strong>em</strong> situar o nível cultural <strong>de</strong> cada família, s<strong>em</strong> nadainformar sobre o conteúdo da herança cultural e po<strong>de</strong>m sinalizar que os educadorescarec<strong>em</strong> <strong>de</strong> um referencial <strong>de</strong> leitura que os capacite a ser um professor <strong>de</strong> literaturapesquisador e entusiasta da disciplina que ministra.Além disso, po<strong>de</strong>m apontar para o fato do educador que sofre uma carência <strong>de</strong>estratégia leitora diversificada e consistente acabar por optar por um mo<strong>de</strong>lo tradicionale <strong>de</strong>sgastado para ensinar a leitura literária que segundo Bueno (2002) “exige apenas acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> m<strong>em</strong>orizar um certo número <strong>de</strong> nomes e outras tantas características


92<strong>de</strong>sta ou daquela época da literatura...” cuja função é simplesmente “dar um vernizcultural ao aluno”.Um aspecto que reforça este ponto <strong>de</strong> vista diz respeito às <strong>de</strong>clarações dasprofessoras às entrevistas. Uma vez questionadas sobre o ensino <strong>de</strong> literatura noEnsino Médio, consi<strong>de</strong>raram o trabalho com a leitura literária entediante <strong>de</strong>vido ànecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> m<strong>em</strong>orização <strong>de</strong> datas e nomes, sendo que duas <strong>de</strong>las afirmaram nãoter<strong>em</strong> sido incentivadas a ler nesta fase.Outra circunstância a ser levada <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração relacionada às práticas <strong>de</strong>leitura literária <strong>de</strong>sses professores po<strong>de</strong> estar nas reflexões <strong>de</strong> Kramer (1983), quandoesta evi<strong>de</strong>ncia que o modo como o professor ensina está histórica e socialmentecontextualizado, e ele, enquanto aluno, vivenciou um tipo <strong>de</strong> escola que privilegiou opensamento positivista (o bom ensino era aquele neutro, centrado no objetivismo e naciência), e <strong>em</strong> suas práticas ten<strong>de</strong> a reproduzir a forma com como apren<strong>de</strong>u e amaneira com que vivenciou o ensino <strong>em</strong> sua trajetória estudantil.A autora observa ainda que a conseqüência disso é a dificulda<strong>de</strong> do professor<strong>em</strong> modificar a sua prática, mesmo tendo consciência da necessida<strong>de</strong> da mudança e dautilização <strong>de</strong> novos paradigmas para o ensino <strong>de</strong> leitura.Po<strong>de</strong>-se inferir ainda que estes professores <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> formados enfrentamdura jornada <strong>de</strong> trabalho, o que muitas vezes o impossibilita <strong>de</strong> ampliar o seu horizonteleitor através <strong>de</strong> leituras e interpretações próprias e acabam utilizando métodos etécnicas que apren<strong>de</strong>ram na aca<strong>de</strong>mia na época <strong>de</strong> sua formação.Some-se ainda o fato <strong>de</strong> que o alto preço do material impresso foi apontadocomo entrave para que realiz<strong>em</strong> mais leituras tanto técnicas como lúdicas.Por outro lado, as capacitações oferecidas pelo Estado que <strong>de</strong>veriam ser asaída para uma aproximação das teorias fundantes das Diretrizes Estaduais <strong>de</strong><strong>Educação</strong> parec<strong>em</strong> indicar que ainda não estão dando conta <strong>de</strong> orientar o professor nasua prática efetiva, já que a expressiva maioria dos respon<strong>de</strong>ntes afirmou que elas nãooferec<strong>em</strong> <strong>em</strong>basamento necessário para mudanças no seu fazer pedagógico.Passar-se-á no próximo capítulo às constatações que pu<strong>de</strong>ram ser retiradasdos instrumentos <strong>de</strong> coleta informações.


935 CONSIDERAÇÕES FINAISUm galo sozinho não tece uma manhã:ele precisará s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> outros galos.De um que apanhe esse grito que ele lançoue o lance a outro; <strong>de</strong> um outro galoque apanhe o grito <strong>de</strong> um galo antese o lance a outro; e <strong>de</strong> outros galosque com muitos outros galos se cruz<strong>em</strong>os fios <strong>de</strong> sol <strong>de</strong> seus gritos <strong>de</strong> galo,para que a manhã, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma teia tênue,se vá tecendo, entre todos os galos.João Cabral <strong>de</strong> Melo NetoEste estudo procurou investigar <strong>de</strong> que forma a leitura literária está sendotrabalhada <strong>em</strong> uma escola <strong>de</strong> EJA <strong>em</strong> Curitiba, que práticas pedagógicas utilizam osprofessores e quais representações permeiam suas práticas cotidianas. Buscou-se umaprofundamento do t<strong>em</strong>a tendo como contraponto o olhar do aluno.Tomou-se a leitura literária enquanto prática social e Mikhail Bakhtin comoreferencial teórico. Nesse sentido, o estudo foi orientado pelos pressupostos bakhtianos<strong>de</strong> que a língua vai além <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a abstrato <strong>de</strong> formas e a linguag<strong>em</strong> seestabelece na interação entre falantes, colocando assim, <strong>em</strong> <strong>de</strong>staque o seu aspectohistórico e social.Durante o <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa, pô<strong>de</strong>-se verificar que as práticas <strong>de</strong>leitura literária na escola investigada pautam-se <strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lo tradicional com aulascentradas na figura do professor, que visam o ensino <strong>de</strong> teoria literária somada àhistória da literatura. Permeadas por datas e nomes <strong>de</strong> autores, essas práticas utilizamsedo texto literário, na maioria das vezes, somente para ex<strong>em</strong>plificar <strong>de</strong>terminadomovimento literário.Quanto ao incentivo à leitura, a gran<strong>de</strong> maioria dos educandos afirmou que osprofessores “mandam” ou “pe<strong>de</strong>m” que os alunos leiam alguma obra, po<strong>de</strong>ndo indicarque o que se faz <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula é falar “sobre” a leitura.Com relação a essa prática, pô<strong>de</strong>-se verificar junto aos estudantes que as alunasconsi<strong>de</strong>raram a leitura indicada “boa” e “útil” e são mais receptivas às solicitações <strong>de</strong>


94leitura feita pelos professores. Uma explicação possível po<strong>de</strong> estar no fato <strong>de</strong> elastrazer<strong>em</strong> consigo uma bagag<strong>em</strong> leitora mais firme que a dos estudantes do gêneromasculino, fato comprovado pela relação <strong>de</strong> obras citadas por elas, na qual aparec<strong>em</strong>nomes <strong>de</strong> nove clássicos brasileiros, enquanto apenas dois títulos <strong>de</strong> literaturabrasileira na listag<strong>em</strong> do gênero masculino. Além disso, eles argumentaram não sesentir<strong>em</strong> impelidos para esse tipo <strong>de</strong> literatura, consi<strong>de</strong>rando-a difícil e não atrativa.Embora constatada essa diferença, tanto eles quanto elas <strong>de</strong>clararam que, aoescolher um título para ler <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e fora do ambiente escolar, não sesent<strong>em</strong> atraídos pelas indicações feitas pelos professores. Prefer<strong>em</strong> as escolhaspróprias, as indicadas por parentes e amigos, ou mesmo obras <strong>em</strong> <strong>de</strong>staque na mídia,ponto que v<strong>em</strong> <strong>de</strong>monstrar a força do grupo social sobre o indivíduo.Po<strong>de</strong>-se acrescentar ainda com relação à preferência leitora, o gosto das alunase dos alunos leitores pelos best sellers estrangeiros e a receptivida<strong>de</strong> da produçãointelectual <strong>de</strong> Paulo Coelho. Os alunos entrevistados e os respon<strong>de</strong>ntes dosquestionários informaram não ser prática dos professores incluir <strong>em</strong> suas aulas aexibição <strong>de</strong> minisséries inspiradas <strong>em</strong> obras literárias.Outro ponto consi<strong>de</strong>rado importante na recolha <strong>de</strong> informações é a constatação<strong>de</strong> que oito dos doze professores entrevistados ensinam leitura para <strong>de</strong>spertar o“gosto”, enten<strong>de</strong>ndo ser esta função primordial para formar leitores.Com relação às leituras literárias feitas pelos professores, esses atribuíram adificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> ler mais ao custo do material impresso e ao <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> conciliar ajornada <strong>de</strong> trabalho s<strong>em</strong>anal e um t<strong>em</strong>po para leitura. A maioria <strong>de</strong>les consi<strong>de</strong>ra-seleitor porque lê um texto dialogando com o autor e, por meio da leitura, consegueampliar os seus horizontes. Também associam o fato <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> leitores à freqüênciacom que lê<strong>em</strong> e ao material variado a que recorr<strong>em</strong>. Esta recolha <strong>de</strong> informaçõesevi<strong>de</strong>ncia que a maioria dos profissionais que trabalha nesta escola t<strong>em</strong> uma visão <strong>de</strong>leitor que vai além do ato mecânico <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> envolvimento do leitor.Quando perguntados sobre o livro que estavam lendo, <strong>de</strong>z professores citaramtítulos <strong>de</strong> leitura literária, uma afirmou estar lendo um livro sobre prática <strong>de</strong> ensino e aoutra, um livro <strong>de</strong> auto-ajuda. Po<strong>de</strong>-se inferir, portanto, que a maioria dos professoresentrevistados, enquanto leitores, privilegiam a leitura literária. No entanto, conforme


95constatado por meio das entrevistas e dos questionários, esse não é um gêneropriorizado por eles nas suas práticas cotidianas.Observou-se que a maioria dos professores respon<strong>de</strong>ntes da pesquisa t<strong>em</strong>clareza do que é ser um leitor, privilegia a leitura literária <strong>em</strong> suas leituras pessoais econhece b<strong>em</strong> as teorias que <strong>em</strong>basam as Diretrizes Curriculares Estaduais. No entanto,as práticas <strong>de</strong> leitura literária <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula não <strong>de</strong>monstram uma forma dialógica edialética entre aluno e professor, além <strong>de</strong> apresentar<strong>em</strong> mo<strong>de</strong>los apontados comosuperados por estudiosos das práticas <strong>de</strong> leitura.Neste sentido, infere-se não bastar somente que os professores tenham boavonta<strong>de</strong>; eles a têm, e muita, sendo flagrante no seu cotidiano a presença do ânimo e a<strong>de</strong>dicação <strong>de</strong>monstrada aos seus alunos. No entanto, como afirma Freire (2002), s<strong>em</strong>uma teoria que as ilumine, essas práticas <strong>de</strong> nada val<strong>em</strong>; é preciso uma reavaliação dapráxis, é necessário adotar uma postura crítica, probl<strong>em</strong>atizante e libertadora, que nãofique somente teorizando sobre o valor da leitura, mas possibilite o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>um trabalho <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> efetivamente ser absorvido pelos alunos e praticado noseu dia-a-dia.Outro importante ponto <strong>de</strong> reflexão refere-se aos esforços das políticas públicas<strong>em</strong> aproximar os professores das Diretrizes Curriculares por meio <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong>capacitação obrigatórios, que apenas dão conta <strong>de</strong> divulgar as teorias fundantes <strong>em</strong> si,enquanto essa teoria está ainda muito longe do fazer cotidiano do professor.Uma constatação relevante é a <strong>de</strong> que, nas relações sobre leitura literáriaestabelecidas fora da sala <strong>de</strong> aula, há unanimida<strong>de</strong>, tanto da equipe pedagógica quantoda administrativa, na valorização da leitura como um importante meio <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong>conhecimentos e <strong>de</strong>senvolvimento da criticida<strong>de</strong> dos alunos.Entretanto, quando perguntados sobre as ativida<strong>de</strong>s que tinham oportunizadopara que a leitura literária fosse efetivamente valorizada pelos alunos, respon<strong>de</strong>ramesperar s<strong>em</strong>pre que esta iniciativa parta dos professores <strong>de</strong> Língua Portuguesa,invariavelmente as apoiando quando surg<strong>em</strong>.Não foi possível inferir pelo material das entrevistas que os professores se dê<strong>em</strong>conta <strong>de</strong>ssa responsabilida<strong>de</strong>, pois, quando perguntados sobre as ações efetivas <strong>de</strong>incentivo à leitura que <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>, a maioria respon<strong>de</strong>u que “aconselham” ou


96“mandam” os alunos ler<strong>em</strong>, admitindo não realizar ativida<strong>de</strong> diferenciada nesse sentido.Somente uma professora organiza recitais <strong>de</strong> poesias e contos sist<strong>em</strong>aticamente.Esta reflexão r<strong>em</strong>ete à importância dos Cursos <strong>de</strong> Letras oportunizar<strong>em</strong>, aosfuturos professores <strong>de</strong> Língua Materna, o ensino <strong>de</strong> teorias e estratégias sobre leitura(principalmente a literária), as quais, por meio do trabalho diferenciado do educador,ensej<strong>em</strong> ao aluno uma atitu<strong>de</strong> “responsiva-ativa” com o texto.Po<strong>de</strong>-se perceber a probl<strong>em</strong>ática conjuntural <strong>de</strong>sfavorável aos esforços para arealização das práticas <strong>de</strong> leitura com maior distinção na biblioteca, muito poucoutilizada pelos estudantes, pela falta <strong>de</strong> um ambiente propício. De acordo com afuncionária, não há ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> incentivo à leitura como iniciativa da biblioteca;espera-se que os professores a procur<strong>em</strong> para alguma ativida<strong>de</strong>, mas isso nunca ouraramente acontece.É importante salientar que atualmente há duas professoras <strong>de</strong> LínguaPortuguesa, <strong>em</strong> disfunção, atuando como auxiliares <strong>de</strong> biblioteca. Como nas <strong>de</strong>maisescolas da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ensino Estadual, não se t<strong>em</strong> um profissional com formaçãoespecífica para trabalhar <strong>em</strong> biblioteca, geralmente recorre-se a auxiliaresadministrativos ou professores <strong>em</strong> disfunção para que possa funcionar. Esse pessoalconta apenas com o senso comum e a boa vonta<strong>de</strong>, não lhe sendo <strong>de</strong>stinado qualquercurso ou capacitação na área.É interessante observar que somente uma professora afirmou <strong>em</strong>prestar livrospara sua leitura pessoal com bastante freqüência e, eventualmente, levar para a sala <strong>de</strong>aula algum título que lhe chama a atenção e ler fragmentos aos alunos como incentivoà leitura da obra. Os <strong>de</strong>mais professores entrevistados informaram não utilizar abiblioteca para levar seus alunos e n<strong>em</strong> para <strong>em</strong>prestar volumes para uso <strong>em</strong> sala <strong>de</strong>aula.O pensamento final ressalta que n<strong>em</strong> as mudanças no ensino <strong>de</strong> leitura literárian<strong>em</strong> as relações da escola com a leitura acontecerão por conta própria. É necessárioque esse t<strong>em</strong>a receba maior atenção, pois, tal qual os versos tão cheios <strong>de</strong> sabedoria<strong>de</strong> João Cabral <strong>de</strong> Melo Neto, um galo sozinho não tece uma manhã, ele precisarás<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> outros galos que apanh<strong>em</strong> o grito por ele lançado e lanc<strong>em</strong> a outro, até quea manhã nasça “plana, livre <strong>de</strong> armação”.


97Neste sentido, espera-se que o presente trabalho possa colaborar para umrepensar do fazer pedagógico do ensino <strong>de</strong> leitura literária, não só nosestabelecimentos que oferec<strong>em</strong> o ensino para jovens, adultos e idosos, mas <strong>em</strong> todosque, <strong>de</strong> uma forma ou <strong>de</strong> outra, estejam lutando pela formação <strong>de</strong> leitores. Consi<strong>de</strong>ramseválidos todos os esforços <strong>em</strong> prol <strong>de</strong> uma nova forma <strong>de</strong> se encarar a leitura literáriano ambiente escolar, que combata “a sacralização do texto literário” (SILVA, 2005),ainda tão presente na escola.


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105APÊNDICESApêndice IQuestionário sobre leitura – ProfessoresApêndice IIQuestionário sobre leitura – AlunosApêndice IIIRoteiro <strong>de</strong> entrevista s<strong>em</strong>i-estruturada - ProfessoresApêndice IVQuestionários para alunos leitoresApêndice VRoteiros <strong>de</strong> entrevista para alunos leitores


106Apêndice IMestrado <strong>em</strong> <strong>Educação</strong> – Linha Cultura Escola e EnsinoQuestionários para professores sobre leitura1. Sexo ( ) F ( ) M 2. Ida<strong>de</strong>: 3. Local De Nascimento:Há quanto t<strong>em</strong>po seformou?Possui pós-graduação? Háquanto t<strong>em</strong>po?Em que área?4.Indique o grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> dos pais (mesmo falecidos)Parentesco Ida<strong>de</strong> Analfabeto Até 4ªsérieAté 8ªsériePaiMãeAté 3ª série doEMSuperior5.Com que ida<strong>de</strong> começou a trabalhar?6.Que tipo <strong>de</strong> trabalho realizava antes <strong>de</strong> setornar professor (cargo/ativida<strong>de</strong>)?7.Há quanto t<strong>em</strong>po é professor do EJA? Trabalha na se<strong>de</strong> ou nas APEDs?8.Quais as principais diferenças entre o ensino regular e o ensino do EJA?9.O que consi<strong>de</strong>ra ser o papel primordial do educador da EJA?10. As diretrizes estão pautadas nas contribuições teóricas dos pensadores que integraram oCírculo <strong>de</strong> Bakhtin. De que forma essa teoria t<strong>em</strong> se refletido na sua prática profissional?11.Quais pressupostos da teoria <strong>de</strong> Mikhail Bakhtin consi<strong>de</strong>ra mais significativos? Por quê?12.Na sua opinião as capacitações oferecidas pela mantenedora são suficientes parafundamentar práticas no ensino <strong>de</strong> Língua Portuguesa <strong>de</strong> acordo com as Diretrizes CurricularesEstaduais? Comente:


10713.Você incentiva seus alunos a ler? Por quê?14. Em que momento você os consi<strong>de</strong>ra bons leitores?15. Que tipo <strong>de</strong> gênero (informativo, dissertativo, publicitário, literário) privilegia <strong>em</strong> suas aulas?Por quê?16. O que você consi<strong>de</strong>ra essencial no trabalho com textos literários na sala <strong>de</strong> aula?17. Para você a escola <strong>de</strong> Jovens, Adultos e Idosos, com relação à leitura <strong>de</strong>ve: (marquesomente uma das alternativas):( ) <strong>de</strong>spertar o gosto pela leitura.( ) <strong>de</strong>senvolver o hábito <strong>de</strong> ler.( ) ensinar a ler como prática social.18. Po<strong>de</strong> <strong>de</strong>talhar o que consi<strong>de</strong>ra importante para o ensino <strong>de</strong> literatura brasileira?_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________19. Numere <strong>de</strong> acordo com os passos que você utiliza na leitura literária:( ) Leitura ( <strong>em</strong> voz alta / ou individual)( ) I<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> palavras novas ou estranhas ao entendimento dos alunos.( ) Explicação para o melhor entendimento do texto.( ) Facção <strong>de</strong> exercícios para interpretação do texto pelos alunos , ou produção <strong>de</strong> redação.( ) Outros. Explique.____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________20. Pelo t<strong>em</strong>po para ler <strong>de</strong> que dispõe e pelas leituras literárias que faz, você se consi<strong>de</strong>ra umleitor ou um ledor? Explique.


108APÊNDICE IIMestrado <strong>em</strong> <strong>Educação</strong> – Linha Cultura Escola e EnsinoQuestionário sobre leitura – Aluno1. Sexo 2. Ida<strong>de</strong> 3. Local <strong>de</strong> Nascimento Cida<strong>de</strong> /Estado4.Com que ida<strong>de</strong> começou a trabalhar?5.Que tipo <strong>de</strong> trabalho realizava (cargo/ativida<strong>de</strong>)?6. Qual o ramo <strong>em</strong> que atua?( ) Indústria( ) Comércio( ) Serviços( ) Serviços domésticos( ) Outra: ________________7. Com relação ao trabalho você( ) Está <strong>em</strong>pregado com carteira assinada( ) Autônomo (por conta própria)( ) Está no trabalho informal (s<strong>em</strong> carteira assinada)( ) Está Des<strong>em</strong>pregado/ procurando trabalho8.Qual a sua faixa salarial( ) 01 salário mínimo( ) 02 a 3 salários mínimos( ) mais <strong>de</strong> 5 salários mínimos9.Levando <strong>em</strong> conta o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> transporte <strong>de</strong> ida evolta, quantas horas você <strong>de</strong>dica ao seu trabalho pordia?10.Indique o grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> dos seus familiares (mesmo falecidos)Parentesco Ida<strong>de</strong> Analfabeto Até 4ª série Até 8ª série Até 3ª série do EM SuperiorPaiMãeEsposa (o)Filho (a) 1Filho (a) 2Filho (a) 3Filho (a) 411. Você costuma ler( ) livros. De que tipo?_________________________________________________________________( ) revistas.Quais?_____________________________________________________________________( ) jornais.Qual?______________________________________________________________________( ) outros. Quais?_____________________________________________________________________( ) Não tenho t<strong>em</strong>po para leitura


10912.Você costuma ir à biblioteca da escola( ) <strong>em</strong>prestar livros ( ) ler livros( ) utilizar a internet( ) Nunca vou a biblioteca( ) assistir filmes( ) ler jornais e revistas13.Quantos livros você calcula já ter lido? L<strong>em</strong>bra-se <strong>de</strong> alguns títulos?14.O que é ser leitor para você?15.No que você consi<strong>de</strong>ra que a leitura po<strong>de</strong> melhorar sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida?16.Você acha que os professores incentivam a prática da leitura? De que forma?17.Em qual disciplina você sente mais estimulado a fazer leituras extraclasse (fora da escola)?Qual tipo <strong>de</strong> leitura?18. Quando você assiste a minisséries ou novelas que são inspiradas <strong>em</strong> romances você se senteestimulado a <strong>em</strong>prestar o livro e lê-las integralmente?( ) Sim( ) Não( ) Gosto <strong>de</strong> assistir só pela televisão.


110Apêndice IIIMestrado <strong>em</strong> <strong>Educação</strong> – Linha Cultura Escola e EnsinoRoteiro para entrevistas com professores1. Teve experiências <strong>de</strong> leitura anteriores a sua entrada na escola? Como ocorreram?2.Qual o primeiro livro que você leu? L<strong>em</strong>bra-se <strong>de</strong> que ida<strong>de</strong> tinha quando o leu?3.Na adolescência costumava ler? Que tipo <strong>de</strong> livros?4. Como foi a sua experiência com a leitura na ida<strong>de</strong> adulta, já na faculda<strong>de</strong>?5.Qual foi a influência acadêmica no seu gosto literário?6. Qual o último livro que você leu? Há aproximadamente quanto t<strong>em</strong>po?7. Como é o seu trabalho com a leitura literária?8. Qual a maior dificulda<strong>de</strong> <strong>em</strong> se trabalhar esse tipo <strong>de</strong> gênero?9. As Diretrizes Curriculares para o Estado do Paraná se <strong>em</strong>basam na teoria do Círculo<strong>de</strong> Bakhtin para o ensino <strong>de</strong> leitura. Você as utiliza ao preparar suas aulas para esset<strong>em</strong>a? Explique:10. Em sua opinião quais as diferenças <strong>em</strong> se trabalhar a leitura na perspectiva doCírculo <strong>de</strong> Bakhtin?


111APÊNDICE IVSexo : ( ) f<strong>em</strong>inino ( ) masculino1. O que mais o(a) motiva a ler um livro?( ) Prazer na leitura.( ) Exigência da escola( ) Outro motivo? Qual?2. O que mais o influencia na escolha <strong>de</strong> um livro?( ) O assunto.( ) A indicação do professor.( ) A publicida<strong>de</strong> <strong>em</strong> torno da obra.( ) A indicação <strong>de</strong> um amigo/parente( ) Nenhuma das alternativas( ) outra?3. Como você lê?( ) Apenas trechos ou capítulos( ) O livro inteiro <strong>de</strong> uma só vez( ) Pulando páginas( ) Mais <strong>de</strong> um livro ao mesmo t<strong>em</strong>poQuestionário sobre leitura – Alunos leitores4. Qu<strong>em</strong> mais o influencia a ler( ) Professor (a) ( ) parentes ( ) amigos ( ) outros motivos. Quais?___________________________________________________________5. Você t<strong>em</strong> acesso aos livros( ) <strong>em</strong>prestando <strong>de</strong> outras pessoas( ) comprando( ) indo à biblioteca da escola( ) outra forma. Qual? _______________________________6. Que tipo <strong>de</strong> gênero prefere: Numere segundo o grau <strong>de</strong> preferência.( ) romance( ) auto ajuda( ) policiais( ) suspense( ) esoterismo( ) gosto <strong>de</strong> livros que estão na moda e todos comentam.( ) outro. Qual? ___________________________


112APÊNDICE VRoteiro para entrevista com alunos leitores1. Você costuma ler os livros que o professor comenta <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula? Por quê?2. Qual é a melhor leitura para você <strong>em</strong> sua opinião: A que é pedida ou feita na/pela escola ou aquela que você faz in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente, por quê?3. O que você acha que seria estimulante o professor fazer para que houvess<strong>em</strong>ais interesse do aluno pela leitura?4. Você costuma ver as minisséries ou novelas que são produzidas a partir <strong>de</strong>livros? Depois você se sente motivado ou não ao ler o livro, por quê?5. As minisséries e novelas geradas a partir <strong>de</strong> livros são abordadas pelosprofessores quando explicam sobre literatura?6. E livros que estão na mídia, por ex<strong>em</strong>plo, são ou forammencionados/trabalhados pelo professor <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula?7. Na sua opinião qual é a razão disso ocorrer?8. Já aconteceu <strong>de</strong> alguma produção da TV tê-lo ajudado nas aulas <strong>de</strong> literatura?De que forma?10. Na sua opinião qual é a gran<strong>de</strong> diferença entre os livros indicados pela escola eaqueles que você lê por iniciativa própria in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente dos conselhos doprofessor..


113ANEXO 1PROPOSTA PEDAGÓGICO-CURRICULAREDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS-EJA PARA O ESTADO DO PARANÀ(PARTES REFERENCIADAS NO TEXTO)1. FILOSOFIA E PRINCÍPIOS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS2. CARACTERIZAÇÃO DO CURSOORGANIZAÇÃO COLETIVAORGANIZAÇÃO INDIVIDUAL3. FORMAS DE ATENDIMENTO4. ÁREA DE ATUAÇÃO


1141. FILOSOFIA E PRINCÍPIOS DIDÁTICO-PEDAGÓGICOSA educação <strong>de</strong> adultos exige uma inclusão que tome por base oreconhecimento do jov<strong>em</strong> adulto como sujeito. Coloca-nos o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> pautar oprocesso educativo pela compreensão e pelo respeito do diferente e da diversida<strong>de</strong>: tero direito a ser igual quando a diferença os inferioriza e o <strong>de</strong> ser diferente quando aigualda<strong>de</strong> nos <strong>de</strong>scaracteriza. Ao pensar no <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> construirmos princípios quereg<strong>em</strong> a educação <strong>de</strong> adultos, há <strong>de</strong> buscar-ser uma educação qualitativamentediferente que t<strong>em</strong> como perspectiva uma socieda<strong>de</strong> tolerante e igualitária, que areconhece ao longo da vida como direito inalienável <strong>de</strong> todos. (SANTOS, 2004).A <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> Jovens e Adultos – EJA, enquanto modalida<strong>de</strong> educacional queaten<strong>de</strong> a educandos trabalhadores, t<strong>em</strong> como finalida<strong>de</strong> e objetivos o compromissocom a formação humana e com acesso à cultura geral, <strong>de</strong> modo a que os educandosvenham a participar política e produtivamente das relações sociais, com comportamentoético e compromisso político, através do <strong>de</strong>senvolvimento da autonomia intelectual <strong>em</strong>oral.Tendo <strong>em</strong> vista este papel, a educação <strong>de</strong>ve voltar-se para uma formação naqual os educandos-trabalhadores possam: apren<strong>de</strong>r permanent<strong>em</strong>ente, refletircriticamente; agir com responsabilida<strong>de</strong> individual e coletiva, participar do trabalho e davida coletiva; comportar-se <strong>de</strong> forma solidária; acompanhar a dinamicida<strong>de</strong> dasmudanças sociais; enfrentar probl<strong>em</strong>as novos construindo soluções originais comagilida<strong>de</strong> e rapi<strong>de</strong>z, a partir da utilização metodologicamente a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong>conhecimentos científicos, tecnológicos e sócio-históricos 11 .Sendo assim, para a concretização <strong>de</strong> uma prática administrativa e pedagógicaverda<strong>de</strong>iramente voltada à formação humana, é necessário que o processo ensinoaprendizag<strong>em</strong>,na educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos seja coerente coma) o seu papel na socialização dos sujeitos, agregando el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> valores queos lev<strong>em</strong> à <strong>em</strong>ancipação e à afirmação <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> cultural;11 KUENZER.Acácia Zeneida. ENSINO MÉDIO: Construindo uma proposta para os que viv<strong>em</strong> dotrabalho. São Paulo: Cortez, 2000, p.40.


115b) o exercício <strong>de</strong> uma cidadania <strong>de</strong>mocrática, reflexo <strong>de</strong> um processo cognitivo,crítico e <strong>em</strong>ancipatório, com base <strong>em</strong> valores como respeito mútuo,solidarieda<strong>de</strong> e justiça;c) os três eixos articuladores do trabalho pedagógico com jovens, adultos eidosos – cultura, trabalho e t<strong>em</strong>po;Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais <strong>de</strong> EJA, as relações entrecultura, conhecimento e currículo, oportunizam uma proposta pedagógica pensada eestabelecida a partir <strong>de</strong> reflexões sobre a diversida<strong>de</strong> cultural, tornando-a mais próximada realida<strong>de</strong> e garantindo sua função socializadora – promotora do acesso aoconhecimento capaz <strong>de</strong> ampliar o universo cultural do educando – e, sua funçãoantropológica – que consi<strong>de</strong>ra e valoriza a produção humana ao longo da história.A compreensão <strong>de</strong> que o educando da EJA relaciona-se com o mundo dotrabalho e que através <strong>de</strong>ste busca melhorar a sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida e ter acesso aosbens produzidos pelo hom<strong>em</strong>, significa cont<strong>em</strong>plar, na organização curricular, asreflexões sobre a função do trabalho na vida humana.É inerente a organização pedagógico-curricular da EJA, a valorização dosdiferentes t<strong>em</strong>pos necessários à aprendizag<strong>em</strong> dos educandos da EJA, consi<strong>de</strong>randoos saberes adquiridos na informalida<strong>de</strong> das suas vivências e do mundo do trabalho,face á diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas características.E ainda, conforme as Diretrizes Curriculares Estaduais <strong>de</strong> <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> Jovense Adultos no Estado do Paraná:I. A EJA <strong>de</strong>ve constituir-se <strong>de</strong> uma estrutura flexível, pois há um t<strong>em</strong>podiferenciado <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> e não um t<strong>em</strong>po único para todos oseducandos, b<strong>em</strong> como os mesmos possu<strong>em</strong> diferentes possibilida<strong>de</strong>s econdições <strong>de</strong> reinserção nos processos educativos formais;II. O t<strong>em</strong>po que o educando jov<strong>em</strong>, adulto e idoso permanecerá no processoeducativo t<strong>em</strong> valor próprio e significativo, assim sendo à escola cabe superarum ensino <strong>de</strong> caráter enciclopédico, centrado mais na quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>informações do que na relação qualitativa com o conhecimento;


116III. Os conteúdos específicos <strong>de</strong> cada disciplina <strong>de</strong>verão estar articulados àrealida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando sua dimensão sócio-histórica, vinculada ao mundodo trabalho, à ciência, às novas tecnologias, <strong>de</strong>ntro outros;IV. A escola é um dos espaços <strong>em</strong> que os educandos <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pensar, ler, interpretar e reinventar o seu mundo, por meio daativida<strong>de</strong> reflexiva.A ação da escola será <strong>de</strong> mediação entre o educando e ossaberes, <strong>de</strong> forma a que o mesmo assimile estes conhecimentos comoinstrumentos <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong> sua realida<strong>de</strong> social;V. O currículo na EJA não <strong>de</strong>ve ser entendido, como na pedagogia tradicional,que fragmenta o processo <strong>de</strong> conhecimento e o hierarquiza nas matériasescolares, mas sim, como uma forma <strong>de</strong> organização abrangente, na qual osconteúdos culturais relevantes estão articulados a realida<strong>de</strong> na qual oeducando se encontra, viabilizando um processo integrador dos diferentessaberes, a partir da contribuição das diferentes áreas/disciplinas doconhecimento.Por isso, a presente proposta e o currículo <strong>de</strong>la constante incluirá o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> conteúdos e formas <strong>de</strong> tratamento metodológico que busqu<strong>em</strong>chegar às finalida<strong>de</strong>s da <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> Jovens e Adultos, a saber:- Traduzir a compreensão <strong>de</strong> que jovens e adultos não são atrasados <strong>em</strong>seu processo <strong>de</strong> formação, mas não sujeitos sócio-histórico-culturais, comconhecimentos e experiências acumuladas, com t<strong>em</strong>po próprio <strong>de</strong>formação e aprendizag<strong>em</strong>.- Contribuir para a ressignificação da concepção <strong>de</strong> mundo e dos próprioseducandos;- O processo educativo <strong>de</strong>ve trabalhar no sentido <strong>de</strong> ser síntese entre aobjetivida<strong>de</strong> das relações sociais e a subjetivida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo que asdiferentes linguagens <strong>de</strong>senvolvam o raciocínio lógico e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>utilizar conhecimentos científicos, tecnológicos e sócio-históricos;


117- Possibilitar trajetórias <strong>de</strong> aprendizado individuais com base na referência,nos interesses do educando e nos conteúdos necessários ao exercício dacidadania e do trabalho;- Fornecer subsídios para que os educandos torn<strong>em</strong>-se ativos, criativoscríticos e <strong>de</strong>mocráticos;Em síntese, o atendimento a escolarização <strong>de</strong> Jovens, Adultos e Idosos, nãorefere-se exclusivamente a uma característica etária, mas a articulação <strong>de</strong>stamodalida<strong>de</strong> com a diversida<strong>de</strong> sócio-cultural <strong>de</strong> seu público, composta <strong>de</strong>ntre outros,por populações do campo, <strong>em</strong> privação <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>, com necessida<strong>de</strong>s educativasespeciais, indígenas que <strong>de</strong>mandam uma proposta pedagógica-curricular que consi<strong>de</strong>reo t<strong>em</strong>po/espaço e a cultura <strong>de</strong>sses grupos.CARACTERIZAÇÃO DO CURSOEste estabelecimento <strong>de</strong> ensino t<strong>em</strong> como uma das finalida<strong>de</strong>s, a oferta <strong>de</strong>escolarização <strong>de</strong> jovens, adultos e idosos que buscam dar continuida<strong>de</strong> a seus estudosno Ensino Fundamental ou Médio, assegurando-lhes oportunida<strong>de</strong>s apropriadas,consi<strong>de</strong>radas suas características, interesses, condições <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> trabalho,mediante ações coletivas e/ou individuais.Portanto, este estabelecimento Escolar oferta <strong>Educação</strong> <strong>de</strong> Jovens e Adultos –Presencial que cont<strong>em</strong>pla o total <strong>de</strong> carga horária estabelecida na legislação vigentenos níveis do Ensino Fundamental e Médio, com avaliação no processo. Os cursos sãocaracterizados por estudos presenciais <strong>de</strong>senvolvidos <strong>de</strong> modo a viabilizar processospedagógicos, tias como:1. pesquisa e probl<strong>em</strong>atização na produção do conhecimento;2. <strong>de</strong>senvolvimento da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ouvir, refletir e argumentar;3. registros, utilizando recursos variados (esqu<strong>em</strong>as, anotações,4. fotografias.ilustrações, textos individuais e coletivos), permitindo asist<strong>em</strong>atização e socialização dos conhecimentos;5. vivências culturais diversificadas que express<strong>em</strong> a cultura dos educandos,b<strong>em</strong> como a reflexão sobre outras formas <strong>de</strong> expressão cultural.


118Para que o processo seja executado a contento, serão estabelecidos plano <strong>de</strong>estudos e ativida<strong>de</strong>s. O Estabelecimento <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong>verá disponibilizar o Guia <strong>de</strong>Estudos aos educandos, a fim <strong>de</strong> que este tenha acesso a todas as informaçõessobre a organização da modalida<strong>de</strong>.Organização ColetivaSerá programada pela escola e oferecida aos educandos por meio <strong>de</strong> umcronograma que estipula o período, dias e horário das aulas, com previsão <strong>de</strong> início etérmino <strong>de</strong> cada disciplina, oportunizando ao educando a integralização do currículo. Amediação pedagógica ocorrerá priorizando o encaminhamento dos conteúdos <strong>de</strong> formacoletiva, na relação professor-educandos e consi<strong>de</strong>rando os saberes adquiridos nahistória <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> cada educando.A organização coletiva <strong>de</strong>stina-se preferencialmente, àqueles que têmpossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> freqüentar com regularida<strong>de</strong> as aulas, a partir <strong>de</strong> um cronograma préestabelecido.Organização IndividualA organização individual <strong>de</strong>stina-se àqueles educandos trabalhadores que nãotêm possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> freqüentar com regularida<strong>de</strong> as aulas, <strong>de</strong>vido às condições <strong>de</strong>horários alternados <strong>de</strong> trabalho e para os que foram matriculados medianteclassificação, aproveitamento <strong>de</strong> estudos ou que foram reclassificados ou <strong>de</strong>sistentesquando não há, no momento <strong>em</strong> que sua matrícula é reativada, turma organizadacoletivamente para sua inserção. Será programada pela escola e oferecida aoseducandos por meio <strong>de</strong> um cronograma que estipula dias e horários das aulas,cont<strong>em</strong>plando o ritmo do próprio educando, nas suas condições <strong>de</strong> vinculação àescolarização e nos saberes já apropriados.


119FORMAS DE ATENDIMENTOseguintes ofertas:A educação neste Estabelecimento Escolar é <strong>de</strong> forma presencial, com asa) Organização coletiva para o Ensino Fundamental – Fase I, nas áreas doconhecimento.b) Organização coletiva e individual para o Ensino Fundamental – Fase II eEnsino Médio, <strong>em</strong> todas as disciplinas, sendo priorizadas vagas paraorganização coletiva.No Ensino Fundamental – Fase I e II e Ensino Médio consi<strong>de</strong>rar-se-á a oferta<strong>de</strong> 100% da carga horária estabelecida.ÁREA DE ATUAÇÃOAs ações <strong>de</strong>senvolvidas pelo Estabelecimento Escolar Estadual que oferta a<strong>Educação</strong> <strong>de</strong> Jovens e Adultos limitam-se a jurisdição do Estado do Paraná, do NúcleoRegional <strong>de</strong> <strong>Educação</strong>, po<strong>de</strong>ndo estabelecer ações pedagógicas <strong>de</strong>scentralizadas(APEDs), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que autorizadas pela mantenedora.

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