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<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 1ÍNDICE DE MATÉRIASEDITORIALAndré Lanfrey, fms........................................................................................... 3ESTUDOSI. A região de Saint-Chamondno fim do antigo regime e sob a revoluçãoAndré Lanfrey, fms ................................................................................... 5II. A vida material dos Irmãos em LavallaAndré Lanfrey, fms................................................................................. 55III. De Lavalla a L’Hermitage:crise inicial e lenta mudança materialAndré Lanfrey, fms............................................................................... 109IV. La Valla e os Irmãos Maristasde 1825 aos nossos diasLouis Vibert, fms.................................................................................... 135COMPLEMENTOdos Cadernos Maristas n° 29O retrato de Champagnat,de Ravery, em N. Sra. de l’HermitageJean Roche, fms.......................................................................................... 169


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 2<strong>FMS</strong> CADERNOS MARISTASN° <strong>31</strong> ANO XXIII 2013Responsável pela redação:Comissão do PatrimônioDiretor técnico:Alberto I. Ricica S., fmsColaboradoresneste número:André Lanfrey, fmsLouis Vibert, fmsJean Roche, fmsTradutores:Moisés Puente, fmsTony Aragón, fmsGabriela ScanavinoEdward Clisby, fmsMario Colussi, fmsRalph Arnell, fmsCharles Filiatrault, fmsAfonso Levis, fmsSalvador Durante, fmsMiro Reckziegel, fmsAloisio Kuhn, fms


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 3EDITORIALAndré LanfreyfmsA comissão do patrimônio, encarregadade redigir os Cadernos Maristas,chegou ao término de seu mandato,e a equipe nomeada ainda não iniciousuas atividades; por isso, pareceu-nosútil organizar um Caderno Marista, diríamosde transição, para não interrompera publicação bastante regularde um número por ano.Os leitores constatarão que este cadernoé essencialmente consagrado aLavalla. Trata-se de tema um tanto temerosoporque todo Marista, durantesua formação, aprendeu muita coisasobre o berço do Instituto; numerososescritos foram publicados sobre a temática,e mesmo numerosos Irmãos eleigos maristas visitaram o lugar.Para evitar a repetição de coisas jáconhecidas, dois caminhos parecempossíveis: fazer um balanço dos trabalhospublicados ou tentar umaabordagem diferente. Escolhemos asegunda opção, trabalhando, eventualmente,sobre a periferia da históriamarista. Evocaremos, pois, LaValla e sua região, antes da chegadade Champagnat; depois, a vida da comunidadeem seus aspectos maismateriais; finalmente, a problemáticatransferência de La Valla a L´Hermitage.O Ir. Louis Vibert, da comunidadeatual de Lavalla, traçará as ligaçõesentre essas origens e a atualidade.Nos diversos artigos, vamos explorar,de modo bastante sistemático,os documentos financeiros e os váriosregistros de vestições e profissões,deixados pelo Padre Champagnat, etornados bem acessíveis pela publicação,em 2011, de “Origine des FrèresMaristes” pelo Ir. Paul Sester.Um artigo do Ir. Jean Roche, sobreas imagens ou quadros do PadreChampagnat, vai situar-nos na continuidadedos Cadernos Maristas nº 29.3


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<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 5ESTUDOSI.AS DESORDENSDA REVOLUÇÃO EDO IMPÉRIOAndré Lanfreyfms1. A REGIÃO DE SAINT-CHAMOND NO FIMDO ANTIGO REGIMEE SOB A REVOLUÇÃOOrdenado sacerdote em fins de julhode 1816, Marcelino Champagnatfoi nomeado para a vila de Lavalla,nas encostas do maciço do Pilat, dominandoo vale do Gier e a cidade deSaint-Chamond, próxima de St. Etienne.Chegado em agosto, ele entra nahistória de um território que experimentougrandes transtornos: aquelesda Revolução (1789-1799) já são relativamenteantigos, mas sua marcafoi profunda. A invasão estrangeira de1814 e 1815 deixou traços mais recentese de outra natureza.1.1. St. Chamonde seu território 1De 1768 à Revolução, Jean-JacquesGallet de Montdragon é o senhordo marquesado de Saint Chamond(a cidade + Izieux, St Julien, StMartin) e do senhorio do Thoil-Lavallaque sobe até o Bessat, assimcomo de Doizieu, outro vale sobre aencosta dos Montes do Pilat. Emboraa Revolução tenha suprimido essasantigas divisões feudais, as pessoasde Saint Chamond consideram as comunasde Lavalla e de Doizieu comoseu domínio, no qual têm o direito deextrair sua subsistência. Em suma, opovo, novo soberano, se consideravaherdeiro das antigas prerrogativassenhoriais.1.2. Muita indústria,uma agriculturabastante pobreNo início da Revolução, o aglomeradode St. Chamond compreende9.125 habitantes, Doizieu 1.625 eLavalla 1.675. Suas atividades econômicassão numerosas: primeiramentea fabricação de pregos, sendoque os irmãos Neyrand, futuros1 A fonte essencial é a obra de Lucien Parizot, La Révolution à l’œil nu. L’exemple du Lyonnais vécuà Saint Chamond et en Jarez, Editions Val Jaris, Saint Chamond, 1987. Embora trazendo às vezes julgamentosrápidos, a obra apresenta uma descrição pormenorizada dessa pequena região.5


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 6<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASbenfeitores de Champagnat, são osprincipais produtores. O carvão aflorandoem vários lugares, sua exploração,ainda que anárquica, fornecevários milhares de toneladas por ano.O comércio de fitas é muito difundidona cidade e na zona rural. Enfim,uma dezena de fábricas trabalham ofio de seda.A economia rural é menos favorecida:o solo é ingrato, sujeito a secas.Os terrenos de Lavalla e Doizieusão muito íngremes. Colhe-se poucotrigo, mas bastante centeio para oabastecimento da população e paraa venda. A forragem é abundante nabacia superior do Gier, e grandes florestasde coníferas são uma riquezapotencial, especialmente em Lavallaonde a floresta é da municipalidade.Mas, sistematicamente saqueada,em última análise, pouco rende. A fabricaçãode pregos, os tecidos, os artigosde madeira, constituem umcomplemento para os camponesesde Lavalla e de Doizieu.1.3. Cenário religiosoÀs vésperas da Revolução, St.Chamond é uma pequena metrópolereligiosa, provida de três paróquias:– St Ennemond, onde Julien Dervieux,futuro benfeitor de Champagnat,é vigário.– Notre Dame, governada pelo párocoAntoine Flachat (1725-1803),3 vigários e uma sociedade de 4padres habituais. 2– Saint Pierre, com o pároco AntoineChaland (1732-1804), três vigáriose uma sociedade de 7 padreshabituais.Quanto aos religiosos e religiosas:• Capuchinhos: 6 religiosos e 9 freis.• Ursulinas: 34 religiosas.• Mínimos: 4 religiosos e a colegiadaSaint Jean-Baptiste.A Santa Casa de Misericórdia, gerenciadapor um conselho de 10membros, tem seu serviço garantidopor 8 a 10 “irmãs de São José 3 ”. ACaridade, fundada em 1764 pelo párocoFlachat, recolhe pobres, idosose crianças de 8 a 15 anos. As meninasaí desenrolam a seda, e os meninosfazem pregos, sob a direção deuma dezena de «irmãs de São José».“Pequenas escolas para pobres”parecem vegetar, mas as Ursulinas,os Padres habituais das paróquias eas “Irmãs de São José” formam umquadro educativo e caritativo importante,num tempo em que o catecismo,e, portanto, a leitura, estão portoda a parte, mas de maneira difusaou em estruturas que não têm onome de escolas.Enfim, existem as confrarias. A dosfabricantes de fitas e passamaneirose a dos galões; a dos moleiros é con-2 Os padres habituais são originários da paróquia. Nela desempenham tarefas cultuais, caritativas oudocentes, sob a autoridade do pároco.3 Elas não são membros de uma congregação, mas pertencem ao hospital. São mulheres piedosas.6 I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 7mars 2013fraria de profissões de bem poucaexigência religiosa. Por outro lado, ospenitentes do gonfalão da paróquiaSaint Pierre e os penitentes do SantíssimoSacramento de Notre Damesão confrarias de devoções maisexigentes. Ambas têm uma capelaparticular, que servirá para as assembleiase clubes sob a Revolução.Todo esse cenário, ao mesmotempo religioso, social e cultural,será fortemente abalado pela Revolução,mas seu renascimento pareceter sido rápido.1.4. PanoramasocioeconômicoNos planos econômico e social, opagamento do imposto direto, a talha,é um bom indicador. Antes da Revolução,em Saint Chamond, sobre os1.251 lares que comporta a comuna,43 são privilegiados e, portanto, nãopagam o imposto direto; 5<strong>31</strong> lares estãosujeitos aos impostos, e 627, muitopobres, estão isentos de imposto.Em Doizieu, comuna limítrofe de Lavalla,4 em 1772, 5% dos lares eramconsiderados ricos, 20% eram remediadose 50% tidos como muitopobres, isentos de imposto. A proporçãodeve ser bastante parecidaem Lavalla.A Revolução pouco mudará essaestratificação social revelada pelafiscalização. É claro que em SaintChamond há uma classe média altae uma média, e um proletariado urbanomassivo no qual a Revoluçãoextrairá seus extremistas. No campo,a vida parece menos precária para ospobres, e os ricos são raros. Esseserá um elemento importante daguerra cidade-campo sob a Revolução:Saint Chamond será dominadapelo Jacobinismo, e o campo ao redor,sobretudo Lavalla, será resistente.1.5. Uma cronologialocal da revoluçãoÉ inútil preocupar-se com umacronologia completa da Revolução,porque se suas repercussões foramprofundas em quase toda a França,apenas alguns acontecimentos tiveramimportância.A partir de 1788, são preparadosos Estados Gerais e redigidos os cadernosde queixas 5 em vista da reformado reino. O ano de 1789 foi particularmenterico em acontecimentos:revolução política em Versalhes emjunho, os Estados Gerais se transformamem Assembleia NacionalConstituinte, e a tomada da bastilhaem Paris, em 14 de julho.Esse último acontecimento suscitana maior parte da França um“Grande Medo”: bandidos viriam para4 Parizot Lucien, La Révolution à l’œil nu. L’exemple du Lyonnais vécu à Saint Chamond et enJjarez,Val Jaris, St Chamond, 1987, p. 22.5 Clero, nobreza e terceiro-estado alistam, separadamente, as reformas que desejam.André Lanfrey, fms 7


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 8<strong>31</strong>Mas os Lioneses não podem semanter, e os exércitos revolucionáriosse concentram sobre Lião. A Constituinteenviou ao Loire, como representanteem missão exercendo poderesditatoriais, um celerado denome Javogues que aterroriza o defmsCadernos MARISTASmassacrar as populações. Os sinostocam, voluntários se reúnem para sedefender, muitos se escondem... Finalmentese dão conta que isso eraapenas um rumor. Em 8 de julho, St.Chamond é um dos epicentros desseGrande Medo, e Lavalla não se escapadisso. A partir desse momento,instala-se uma semianarquia que asautoridades novas não conseguirãoreprimir, a despeito da constituiçãoem cada comuna de uma milícia popular:a Guarda Nacional. No Pilat, afloresta comunal de Lavalla e as florestasdos Chartreux, que eram bensnacionais, são sistematicamente saqueadas.Tendo sido muito deficitária a colheitade 1789, na primavera de 1790falta pão em St. Chamond, e a escassezse instala até 1791. A fome ouo medo de ter que suportá-la serãoelementos fundamentais e permanentesda revolução, as camadas popularesestando prontas para se levantarem favor de quem prometepão ou aponta os responsáveis pelapenúria.A Constituição Civil do Clero, estabelecidaem 12 de julho de 1790, criainquietação, pois foi feita sem o acordocom Roma. A maioria dos padresde Saint Chamond aceita o juramentoconstitucional com ou sem restrições.Mas quando o papa condena aConstituição Civil em 10 de março de1791, muitos deles se retratam. Cleroe população se dividem: uns pelaIgreja constitucional, outros pela Igrejarefratária.A guerra declarada em abril de1792 impôs recrutamento de soldados,mas ninguém quer partir. O problemados conscritos refratários aoserviço militar começa a surgir em1793. Só cessará com o Império em1814. Lavalla se distingue particularmentepela recusa dessa obrigaçãoe se torna um refúgio de desertores.As grandes florestas, o relevo acidentadoe a cumplicidade dos habitantesimpedem toda repressão eficaz.O rei Luís XVI é guilhotinado em 21de janeiro de 1793, mas foi a partir demaio/junho de 1793 que a Revoluçãovira em tragédia. Em Paris, os extremistasjacobinos conseguem, em 2de junho, aniquilar o partido moderado:os Girondinos ou federalistas.Mas em Lião, desde 29 de maio, osJacobinos de Chalier são vencidospelos moderados e, aos poucos,Lião desliza para a revolta aberta contraParis. Querendo assegurar o apoioda área circundante e adquirir armasno arsenal especializado de SaintEtienne, os Lioneses enviam tropasque tomam Saint Chamond e instalamuma municipalidade de seu partido,enquanto os Jacobinos, que até entãoocupavam a cidade, se retiramnas florestas do Pilat.8I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 9mars 2013partamento e impõe uma mobilizaçãode homens de 18 a 35 anos para iremao cerco de Lião. Os guardas nacionaisde Saint Chamond e das comunasao redor se estabelecerão emSaint Genis-Laval, bastante satisfeitos,ao que parece, com a esperançade saquear Lião, que se rende nocomeço de outubro. Imediatamente,começam fuzilamentos e massacres.Haverá 1.684 execuções entre 27de novembro de 1793 e 3 de maio de1794.Em Saint Chamond, os extremistasretomaram o poder, e o clube dosjacobinos foi reconstituído. A justiçarevolucionária do Loire instalou seutribunal e a guilhotina em Montbrison,capital administrativa do departamento.Mas essa política sanguináriae as requisições lhe alienam as populações.Por outro lado, a lei do máximo,que define os preços e vai desetembro de 93 a dezembro de 94,não incentiva o comércio, visto que osagricultores são pagos em apólices,papel-moeda muito depreciado. Eles,então, se abstêm de vender ou sededicam ao mercado negro.À repressão se juntam a descristianização,lançada por Fouché eCollot de Herbois, os carrascos deLião, a partir de novembro de 1793.Os padres, mesmo os constitucionais,são intimados a entregar seusdocumentos de sacerdócio, as igrejassão despojadas de seus ornamentose de seus sinos, os padresrefratários, até então bastante tranquilos,devem se esconder e celebraro culto em diversos lugares. Para asautoridades de Saint Chamond, éem Lavalla que a descristianizaçãoenfrenta a maior oposição. A animosidadecontra Saint Chamond está nomáximo, mas a população vive sempretemendo as expedições dos fanáticosda cidade.A queda e a execução de Robespierre,em julho de 1794 (9 Termidor),não põem fim ao terror: o cura de Lavalla,Jean Gaumont, é preso emagosto no Pilat. É condenado à morteem 2 de setembro de 1794 e executado.Contudo, a queda de Robespierrequebrou o nervo da Revolução.Agora os revolucionários somentepensam em manter o poder com aajuda de um exército que lhes forneçarecursos saqueando a Europa.Dentro da França, reina a anarquiacom golpes de Estado, seja contra osJacobinos, seja contra os monarquistasque levantam a cabeça. Em1795-96 grassa mesmo, especialmenteem Lião e em St. Etienne, umterror branco que massacra antigosjacobinos, incluindo Ducros, primo deJoão Batista Champagnat, pai deMarcelino. O golpe de Estado deFrutidor, em setembro de 1797, restabeleceo terror contra o clero e osmonarquistas, mas sem resultadosno setor de Saint Chamond. Na verdade,uma grande parte do territóriofrancês escapa da autoridade de umpoder completamente desacreditado.O golpe de Estado de 18 Brumário deBonaparte (final de 1799) intervémAndré Lanfrey, fms9


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 10<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASnuma França cansada de tantas desordens.O Consulado (1800-1804), depois oImpério (1804-1814), devolvem a segurançae a autoridade do Estado,mas o recrutamento para o serviço militare o despotismo parecem sempremais insuportáveis. As invasões de1814 e 1815 ocasionam novamentetoda a sorte de requisições e distúrbiose uma longa ocupação da França.2.LAVALLASOB A REVOLUÇÃOE O IMPÉRIOAs Memóriasde Jean-Louis BargeJean-Galley, historiador da regiãode St. Stéphane no final do século XIX,copiou, em março de 1897, dois cadernosde memórias de Jean-LouisBarge, conforme informou o sobrinhodo antigo escrivão de Lavalla, Sr. Thibaud6 , que nos dão um resumo aomesmo tempo pitoresco e pormenorizadoda história da aldeia de Lavalla.2.1. Um autorpouco banalNascido em 24 de agosto de 1762em Lavalla, J. L. Barge é filho de PierreBarge, alfaiate, e de AntoinetteChampalier, de uma família de tecelõesde Lavalla 7 . Por ocasião do seucasamento, em 4 de junho de 1787,ele mesmo é tecelão. Desposa AnnePréher, filha do falecido escrivão deLavalla. As quatro testemunhas docasamento são alfaiates, passamaneirosou tecelões. Apenas um nãosabe assinar. Jean-Claude Barge nãoé, pois, um camponês, mas alguémligado ao mundo do artesanato e docomércio têxtil, residente na vila deLavalla. Seu casamento com a filha deum notário mostra que goza de certainstrução e de uma situação honrosa.Quando morre aos 90 anos, em8 de janeiro de 1853, é, entretanto,declarado agricultor, e já não mora navila, mas no lugarejo da Surchette(hoje Serchette), onde possui algumbem. Seu atestado de óbito nos esclarecea respeito da maneira comoo manuscrito pôde chegar até nós,porque um dos declarantes é LouisThibaud, notário de Lavalla, entãocom 53 anos de idade, que conservouo manuscrito que será reveladomais tarde por seu sobrinho. Divididoem 57 capítulos, cobre os anos de1789-1815, revelando-nos uma grandequantidade de acontecimentos locaissobre essa época conturbada.Barge, aliás, tem consciência deter atravessado um período excepcionalporque intitula sua memória:«Notas dos principais acontecimentosocorridos em Lavalla após 1789até este dia 1º de janeiro de 1819 8 ».Em 1816, Barge, que tem 54 anos,6 A cópia se conserva na biblioteca de St. Etienne. O original parece que desapareceu.7 O recenseamento de 1815 assinala quatro Champalier tecelões, certamente da mesma família.8 Talvez seja a data do fim da redação do manuscrito. Visto que o relato não vai além do ano de 1814,é de se perguntar se uma parte não foi perdida.10I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 11mars 2013deve abandonar todo cargo oficial e sededica a preparar uma relação de fatosque viveu, sem deixar de mostrar,um pouco ingenuamente, que ele é oherói principal. Seu relato tem, portanto,o inconveniente de apenasapresentar assuntos em que ele esteveenvolvido e deter-se, mais oumenos, na época em que MarcelinoChampagnat, de quem Barge nuncafala, chega a Lavalla. Por outro lado,esse relato nos mostra, sob uma luzcrua, a realidade religiosa, social, econômicae política do território em queo jovem Champagnat vai exercer seuapostolado. Podemos ter a certeza deque Barge e Champagnat se conheceram,mas é pouco provável que setenham relacionado seguidamente.Sabemos, pelo próprio Barge, queantes da Revolução ele foi soldado.Como salienta Galley, possui certa instrução,pois sabe escrever, cita LaFontaine e compara Robespierre aCromwell e Maomé. Ele narra, aliás,com clareza. Sem dúvida se beneficioudas lições de um pequeno colégioou de uma escola presbiteral quepreparava jovens para o sacerdócio.Sua passagem pelo exército, provavelmentelá por 1780, possibilitou-lheencontrar ideias novas. Além disso,muito consciente de sua superioridadeintelectual, não se priva, ao longode seu relato, de se mostrar importante,destacando sua habilidade paralivrar a comuna de situações difíceis esublinhar a estupidez, a covardia, a hipocrisiadaqueles que o cercam.Sua situação econômica, entretanto,permanece modesta. O recenseamentode 1815 indica que éagricultor, morando na vila, casado,sem filho. Algumas reflexões de suasmemórias, porém, deixam entreverque não se relaciona bem com suamulher. Não é um notável e nuncaserá prefeito. O município utiliza suashabilidades de leitura-escrita, especialmentecomo secretário-tabelião,emprego que lhe dá certamente algunsrecursos adicionais, mas mantendo-seem papéis secundários.Em suma, Barge é um desclassificado:superior à maioria dos outroshabitantes por seu conhecimento,não goza da situação material correspondenteàs suas capacidades.Para ele, a Revolução, à qual aderiucom entusiasmo no começo, é ocasiãode fazer valer seus talentos.Mas o desenvolvimento dos acontecimentoso fará voltar rapidamentepara uma atitude mais moderada. Umparalelo entre ele e João Batista, paide Marcelino Champagnat, tambémpode ser sugerido. Ambos estão nacategoria de semicultos, acolhendofavoravelmente a Revolução e achando-sedecepcionados por ela depoisde tê-la servido. Seu engajamentona política também pôde contribuirpara seu fracasso no planoeconômico.2.2. A revoluçãono povoadoA vida em Lavalla de 1789 a 1800será ritmada pelos grandes acontecimentospolíticos, mas Barge sóevoca a história geral na medida emque ela incide sobre Lavalla.André Lanfrey, fms11


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 12<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASEle não diz quase nada dos EstadosGerais e da tomada da Bastilha(maio – 14 de julho de 1789). Por outrolado, ele relata o Grande Medoque atingiu Lavalla na tarde de 28 dejulho: os sinos dão o sinal de alarme;os mais corajosos se organizam emtropa armada, outros se escondemou ocultam seus bens; as mulheresse reúnem em grupo para orar. Ocaso termina em tragicomédia: atropa armada desce a Saint Chamondonde é aclamada e tranquilizada.Bebe-se e discute-se (cap. 1). Masagora “cada cidade e povoado seprotegem montando guarda alternadamentee fazendo patrulha” (cap. I).A Revolução instaura intensa vidapolítica no povoado: o primeiro administradordo município que Bargeleia, os numerosos decretos da AssembleiaNacional, no final da missadominical. Em 28 de fevereiro de1790 realizam-se na igreja as primeiraseleições municipais: isso ocasionaum tumulto, pois os habitantes daparte baixa do município, voltadospara Saint Chamond, têm seu candidato,e aqueles da parte alta, cujocentro é Saint Etienne, têm o seu. Finalmentea parte alta do municípioganha: o prefeito Pierre Tardy é doBessat. Com ele são eleitos cincoconselheiros municipais. Barge é nomeadosecretário.O colapso da velha ordem liberapoderosas tendências anárquicas:como já dissemos, a esplêndida florestade Lavalla é devastada por exploradoressem direitos, que não hesitamem cometer atos violentos,quando se quer reprimi-los. Quantosaos bens de valor e os bens eclesiásticos,são vendidos. Mas em Lavallasão preservados os prados daparóquia e da fábrica, talvez por respeitopara com a Igreja, mas especialmenteporque são consideradoscomo bens municipais.2.2. A divisão religiosaBarge dedica uma grande parte àConstituição Civil do Clero. O párocoGaumond e o vigário Robin se recusama prestar o juramento e a reconhecera legitimidade do arcebispoconstitucional de Lião, Lamourette. Éa ocasião de uma violenta discussãoentre o pároco e Barge que, do partidoda Revolução, parece bastanteisolado (cap. VII). Em agosto de 1791,Jean-Marie Berne, seminarista, partepara ser ordenado no exteriorpelo arcebispo de Lião, exilado, Domde Marbeuf. Em 2 de outubro de 1791celebra publicamente a missa em Lavalla,o que é tido como provocaçãoe inquieta a municipalidade . Mas aautoridade do pároco parece semprepreponderante, e Barge o acusa dequerer demiti-lo de seu posto.2.4. Barge decepcionadopela revoluçãoEm abril de 1792, começa a guerraentre a Europa e a França revolucionáriae surge o problema dos9 J. B. Galley, Saint Etienne pendant la Révolution, t. 2, St Etienne, 1906, p. 690. Sobre uma lista de28 padres refratários: “Berne, dito Balaire, de la Valla, vigário de Graix”.12I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 13mars 2013contingentes de soldados a fornecer(cap. XIII). As derrotas radicalizam aRevolução, o rei é preso. A AssembleiaLegislativa redige uma segundaConstituição à qual Barge deve prestarjuramento em 11 de outubro de1792 (cap. XV).Todos esses fatos e especialmenteo juramento o deixaram doente:“De grande torcedor que era daprimeira Constituição, tornei-me, derepente, o inimigo secreto da segunda.Essa Igualdade me lançou emlabirintos inextricáveis”. Muitos Francesessentiram então a mesma desafeiçãopara com um regime que sótrouxe, em nome da Liberdade e daIgualdade, distúrbios internos e aguerra externa.Em dezembro de 1792, uma novamunicipalidade é eleita, e Jean Rivat,filho, é encarregado do estado civil.De fato, ele deixa que o pároco Gaumondcontinue a registrar batismos,casamentos e enterros. Já preparadopara a clandestinidade ou dispostoa não se submeter à autoridade civil,mesmo quanto à forma, este não registraas atas nos registros do EstadoCivil, mas em folhas separadas.Em todo o caso, o pároco Gaumondque, segundo Barge, “acreditavasempre na volta do antigo regime”,exerce abertamente as funçõeseclesiásticas, com o consentimento damunicipalidade e da grande maioriados habitantes, quando na diocese oclero constitucional ocupa a maior partedos curatos. Barge no-lo descreveucomo “orgulhoso e demasiadamentehabituado às bajulações e adulaçõesda gente de Lavalla (cap. XVII)”. Naverdade, Barge nada compreendedas razões profundas da oposição deGaumond à Revolução e nele se percebeuma ponta de inveja para comum homem influente.Mas quem é esse Jean Rivat, filho,encarregado do Estado Civil? ProvavelmenteJean-Baptiste Rivat, lavradorde Maisonnettes, o pai de GabrielRivat, futuro Irmão Francisco, primeirosucessor de Champagnat 10 .2.5. Barge reconciliadocom GaumondBarge nos descreve a maneiracomo o pároco e ele, inimigos desde1789, se reconciliam, porque “a ondarevolucionária aumentava dia a dia” eque “nenhum outro de Lavalla poderiaservi-lo”. Barge talvez se vanglorie,mas depois de 1789, ele passa porfervoroso partidário da Revolução e,por ocasião do Terror, foi sem dúvidanomeado agente nacional do município,encarregado de denunciaros suspeitos 11 .A reconciliação é secreta: “Nóspublicamente fingimos ser como no10 É certo que há muitos Rivat na paróquia, mas nenhum parece mais qualificado que ele e, portanto,digno de figurar no conselho municipal.11 Ver, no capítulo XVIII, onde está dito que havia uma ordem do representante Javogues para prendero pároco.André Lanfrey, fms13


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 14<strong>31</strong>Parece que, a partir desse momento,o pároco Gaumond tenha levadouma vida clandestina até a suacaptura, mas inicialmente sem seafastar demais 13 . Depois não se falamais dele. Parece que o sacerdoterefratário Bertholon 14 garante o cultoclandestino (cap. XIX), ao passo queo cura constitucional de Izieux,Jamet, encontra dificuldade paraabrir a igreja. No dizer de Barge, “osassuntos públicos vão de mal a pior”.A prefeitura deve fornecer vinte homenspara o exército 15 , mas ninguémquer partir. Claramente, Lavalla é refmsCadernos MARISTASpassado; de tal modo se acreditavanisso, que se dirigiam a mim quandose tratava de pesquisas contra ele”.Ao mesmo tempo, Barge levantauma ponta do véu sobre a rede quesustém o pároco e negocia a reconciliação:o “Padre Gaspard (Gonin)”,vigário de Gaumond, as senhoras Paras,de St. Etienne, que parecem teruma casa em Lavalla, J - M Tissot,amigo do pároco 12 .Essa reconciliação chega a tempo:provavelmente na primavera de 1793,no início do Terror. Certo padre Guérin,acusado de ser um açambarcadorde grãos, foi massacrado pelapopulaça em Saint Chamond. “Osquentes” (Jacobinos) da cidade queremsubir a Lavalla para se apoderardo pároco e do vigário, acusados domesmo crime de açambarcamento e“fazer alvoroço entre os assim chamadosfanáticos e aristocratas”.2.6. Saint Chamondcontra LavallaA populaça de St. Chamond acreditanuma conspiração dos lavradorespara fazê-la passar fome, sob aresponsabilidade dos padres refratários.O frenesi chega ao auge na primavera,momento em que as provisõesdo inverno foram consumidas,e as novas culturas ainda não amadureceram.No início de setembro de 1793(cap. XVIII), uma mulher de Lavalla,tendo dito inocentemente que o párocoe o seu vigário moravam semprena sede paroquial, doze homensimediatamente montam a cavalo, às4 horas da tarde. Prevenidos, in extremis,por uma senhora, os dois sacerdotesconseguem salvar-se. Osrevolucionários se contentam em saquearo feno e as aves domésticas daresidência paroquial. Poucos diasdepois, durante a noite, sobe umbando, mas sem sucesso.12 O censo de 1815 indica no povoado de Lavalla um Claude Louis Tissot, tecelão. É provavelmenteo mesmo, tanto mais que não há outro Tissot na paróquia, e que Barge afirma que ele enterra seus bensmais preciosos, sinal de que ele pertence realmente a Lavalla. Barge aproveita dessas negociações parase queixar de ter sido, em 1789, despojado de um banco que possuía na igreja. É possível que essa supressãotenha sido a consequência do engajamento de Barge na Revolução: represálias, enfim.13 Ver capítulo XX: ele vem de noite mudar de roupa na casa de sua antiga empregada.14 Ele é pároco de Longes, no momento em que Barge escreve.15 É a retirada de 300.000 homens, ordenada em março de 1793, ou a retirada em massa um poucomais tarde.14I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 15mars 2013fratária ao serviço militar e à Igrejaconstitucional.2.7. Uma tentativamonarquistaA contrarrevolução monarquistanão é inativa em Lavalla (cap. XXIV).Barge narra que pouco antes docerco de Lião, portanto no verão de1793, “um fidalgo 16 ” vai à casa de Tissot,onde reside frequentemente oPe. Charvet “ex-mínimo de Annonay”,certamente padre refratário que tambémgarantia o culto clandestino. Eletem o projeto de sublevar todo o Sulda França e acaba por persuadirCharvet, o “padre Gaspard”, vigáriode Lavalla, Tissot, e até o próprio Barge,de se unirem ao projeto de sublevação.Uma tropa, dirigida por dois dos filhosde Tissot, é constituída. Com aajuda de uma coluna vinda de Chevrières17 e de outras do Sul, ela devetomar Saint Chamond. Foi um fiascototal. Não houve nenhum reforço, etodo o mundo foi para casa. Felizmente,a tropa, durante sua andançanoturna, não foi percebida pelaspatrulhas adversárias. Mas rumorestranspiram 18 .2.8. O cerco de LiãoDe maio a outubro de 1789, Lavallasofre as consequências da revolta deLião contra a Convenção montanhesa.O município deve fornecer aveiapara o exército do cerco. Mas também“fizeram marchar em massa agente do campo e das cidades sob oincentivo da pilhagem”. “Lavalla foi donúmero 19 ”. Há divisão na tropa 20 .Como diz Barge: “Era o espírito dotempo. Tudo estava pervertido” (cap.XXIII). Na verdade, parece que muitoscamponeses de Lavalla ansiavampor se enriquecer à custa dos Lioneses,a pretexto de uma causa patriótica.A guerra cidade-campo sedesenrola em grande escala dessavez. Assiste-se também a um acertode contas entre duas famílias, entrevila e aldeia e talvez também entrea parte superior e inferior do município.A volta do cerco mostra realmenteque muitos aldeões que dele participaramestão transtornados. O festimdado à custa do município descambouem bebedeira, insultos ebrigas. E até mesmo “de manhã elesdiziam que queriam destruir os aristocratase os fanáticos (Tardy, do16 É um agente do contrarrevolucionário monarquista bem conhecido: Bésignan. (cap. XXIV).17 Município dos Montes do Lyonnais, abertamente monarquistas e praticando a resistência armada.18 Pode ser que Barge se tenha enganado de ano: um grande projeto de levantamento monarquistana região se desenvolve em 1795. Ver Louis Trénard, La Révolution française’ dans la région Rhône-Alpes, Perrin, 1992, p. 587…19 É a mobilização das Guardas Nacionais estabelecidas em cada município depois de 1789.20 J. M. Tissot, o amigo do pároco Gaumond, primeiramente comandante do destacamento do município,teve de fugir, e Jean-Baptiste Galley toma seu lugar. Acusado de roubar o cavalo de Tissot, foi detido.A família Galley se mobilizou então para que fosse solto, exercendo pressão sobre a esposa Tissot,que deverá anular essa detenção, permitindo a liberação do acusado e, provavelmente, do culpado.André Lanfrey, fms15


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 16<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASCoing e de Soulages; os Rivat, de Luzernod,do Pinay e de Maisonnettes;Tissot, etc. eram os primeiros na listados proscritos – cap. XXII) e saquearsuas casas.” Não só a guerrasocial entre cidades e campanhas semostra na aldeia, mas também tomauma feição política. Em todo o caso,Barge nos dá os nomes dos principaisnotáveis do partido da resistênciaà Revolução, incluindo os Rivat.Ele nota que esse momento deexaltação se acalmará depressa 21 ,mas acrescenta logo: “Depois docerco, o terrorismo estava no seuauge. Só se viam detenções, tiroteios,e a guilhotina funcionava permanentemente,tanto em Lião quanto emFeurs 22 ”.2.9. A descristianizaçãoA descristianização atinge Lavallaem 18 de dezembro de 1793. O revolucionárioMonatte sobe de SaintChamond para se apoderar dos ornamentosda Igreja. Os Jacobinosapenas encontram alguns, a maioriafoi escondida. Destroem as estátuasde santos a golpes de espada, rasgamos livros, espalham as hóstias dotabernáculo “na presença de umgrande número de pessoas todas indignadas,mas que não ousavam dizeruma palavra, tamanho era o terror”(cap. XXVII). Barge nos dá o inventáriodos objetos litúrgicos escondidos,especificando que apenassabem deles o prefeito (Jean Matricon),Jean Rivat, Jean Thibaud,deputados municipais, e os dois filhosTissot que parecem contrarrevolucionáriosdecididos. O fato de queuma minoria do conselho municipalsomente seja favorável mostra quedaqui em diante, em Lavalla, uma partedos notáveis não está segura.Ele cita também o nome das famíliasque recolhem esses objetos.Assim, Jean Rivat e seu vizinho Biselevam consigo estátuas de santos doaltar. Ele esclarece que “os confradesdo rosário desguarneceram sua capelae a grade de ferro” que davaacesso a ela. Foi, sem dúvida, nessemomento que o quadro da confrariado rosário – doado mais tarde aChampagnat pela senhora Rivat, eatualmente na casa dos Irmãos dacomunidade de Lavalla – foi transportadopara a casa dos Rivat emMaisonnettes.Enquanto em Saint Chamond sevê Lavalla como um bloco contrarrevolucionárioinabalável, Barge nosmostra que, pelo contrário, os resistentesdecididos são apenas umapequena minoria. Por um tempo, aIgreja só será aberta em todas as21 Não haverá mais clube nem sociedade popular revolucionária em Lavalla.22 De fato, em Montbrison, um jovem natural de Châlons-sur-Saône, tendo se escondido, depois docerco, na casa da senhorita Ferréol, foi denunciado por um habitante de Lavalla. Preso, foi fuzilado emLião. Sua hospedeira foi presa; parte de sua mobília foi saqueada e o restante posto em liquidação judicial.A família Tissot, comprometida no caso da tentativa monarquista, teve a casa embargada, e o paiTissot teve de se esconder.16 I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 17mars 2013décadas, de acordo com o novo calendáriorevolucionário, para servircomo templo da razão (cap. XXXI)onde oficiam desajeitadamente enviadosdo clube de St. Chamond.Para alimentar o rito com assistentes,os membros do Comité de fiscalizaçãode St. Chamondpercorrem os campos para autuarquem trabalha nos dias da década eimpedir o culto católico no domingo(cap. XXX). Na verdade, esse serealiza na capela de Etrat, um poucofora da aldeia. Barge nunca mencionamissas clandestinas em lugaresprivados.2.10. Salvar os sinosResta o assunto dos sinos quedevem ser entregues à repúblicapara a fundição de canhões. Bargesublinha a dificuldade de salvá-los,porque “havia entre nós falsos irmãos,e o terror era tão grande quecada um temia por sua cabeça”.Quando ele propõe de pô-los emsegurança, seus dois interlocutoreslhe respondem: “você só arrisca suacabeça, e nós nossos bens comnossas cabeças” 23 .O município, portanto, não dá ouvidosàs injunções das autoridadesde Armeville (St Etienne). Por fim,provavelmente na primavera de1794, chegam três homens de Izieuxpara derrubar os sinos. Copiosamenteembriagados e alegres pelasdanças e a música, aceitam de seretirar diante da promessa da gentede Lavalla de ela mesma baixar ossinos. Efetivamente ela os baixou,mas não serão transportados paraSt. Etienne.2.11. A guerradas subsistênciasBarge menciona longamente amais grave acusação contra Lavalla,formulada pelos clubes de SaintChamond: “nós escondemos nossosgêneros em vez de abastecer omercado de Saint Chamond”.Em seu XXX capítulo, ele nosdescreve o que se passa no últimodomingo de dezembro de 1793,quando o clube dos Jacobinos da cidadeesfomeada reuniu tropas parasubir a Lavalla e assaltar os habitantes.Vindo a Saint Chamond paraprevenir essa ameaça, ele salientaque sua prefeitura não é a única ater que reabastecer a cidade e que,pormenor importante: “a parte superiorda comuna de Lavalla semprelevou seus alimentos à Comuna deArmas” (St. Etienne). Promete, portanto,aos chefes Jacobinos deabastecê-los e avisar o conselhomunicipal: o prefeito Matricon trazmuita manteiga, Rivat e Galley têmqueijo muito bom... Os três notáveisdescem com ele para reabasteceros chefes republicanos, que, dianteda promessa de serem providosquinzenalmente, intervêm no clubepara que seja retirada a pressão23 Essa reflexão nos mostra ademais que Barge, ao contrário de seus interlocutores, não é rico.André Lanfrey, fms 17


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 18<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAScontra Lavalla. A cidade de Saint-Chamond parece não ter sido melhorabastecida.2.12. Uma segundaconversão de BargeNesse mesmo domingo, 28 dedezembro de 1793, acontece algo degrave em Lavalla: cinco gendarmesde Rive de Gier surpreendem os fiéisreunidos para as vésperas na capelade Etrat, um pouco fora do povoado(cap. XXXI) 24 «como se oexercício do culto fosse livre». Invademo local a cavalo e aterrorizam osassistentes, depois continuam seucaminho. Barge, que volta de SaintChamond, encontra uma populaçãodesesperada, que diz: «Está feito:adeus à nossa religião».Esse acontecimento causa nelecerto retorno à religião:“A aparente indiferença que eu tinha mostradopor ela era o efeito dos abusos da religiãoe não a própria religião. Finalmente, eu tinha umasecreta esperança de retornar a ela e eu animavaa todos quantos apoiavam meus propósitos”.É realmente a época em que a Revoluçãoacaba de perder, aos olhosda massa dos Franceses, a legitimidadeque teve nos seus primeirosanos. E era a Igreja refratária que pareciaser o dique de resistência ao fanatismorevolucionário.2.13. A Execução dopároco de LavallaEm agosto de 1794, o párocoGaumond é aprisionado na região deSaint Genest Malifaux. Será executadoem 2 de setembro. Barge parecese justificar de não o ter socorrido:“Foi preso por dois enraivecidos republicanosque o conduziram a Saint Genest-Malifaux.Teria sido muito fácil livrá-lo, pondo-nos no caminho,no dia seguinte, em número suficiente e um poucodisfarçados, favorecidos pelos bosques.Mas éramos muito monitorados, principalmentepelo mesmo B..., 25 que lhe devia cinquenta escudospelo fornecimento de trigo, etc., o qual estavabem satisfeito que perecesse para ficar quite”.O projeto de uma libertação pelaforça é bem plausível: muitas vezes,padres escoltados para a prisão foramlibertados por bandos de aldeões. Noentanto, esta é a única vez que Bargeparece mostrar, com franqueza, umapossível resistência armada encaradapelo povo de Lavalla. Além disso, elenos revela uma das fontes da influênciade Gaumond sobre a comuna, aomesmo tempo que põe em plena luza causa, por vezes ignóbil, das detençõesde padres refratários: o dinheiro.2.14. Os refratáriosao recrutamentoBarge resume toda essa épocaem termos lacônicos:24 É para essa capela que, mais tarde, Champagnat irá, muitas vezes, em peregrinação com seusIrmãos.25 Passagem pouco clara. Parece que o termo “B…” seja uma abreviatura de “bougre” (sujeito, cara),qualificativo injurioso. Talvez Barge queira dizer que um dos dois republicanos seja de Lavalla.18 I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 19mars 2013“Era uma confusão tirânica. A gente do campo sósabia adivinhar e estava continuamente alarmada,tanto do lado do Comitê (fiscalização)e seus capangas, como do lado das tropasque vinham muitas vezes para forçar os requisitadosa partir para as fronteiras”.Sobre esse último ponto, ele citaa data de 20 de janeiro de 1795,quando a cavalaria e a infantaria daGuarda Nacional assaltam a comuna,maltratando o povo e roubando, semachar nem padre nem conscrito refratário.Esse gênero de operação serepetia de tempos em tempos em1796-97.No fim de 1798, o método muda:soldados da cavalaria moram, de denovembro a 9 de dezembro, na casade oito habitantes que certamentetêm um filho rebelde ao serviço militar.Como a operação não teve resultado,quinze dias depois há nova ocupaçãocom roubo e extorsão de fundos.Temendo uma revolta popular, as tropasse retiram depois de seis dias.No fim de outubro de 1799, isto é,poucos dias depois do golpe de Estadode Bonaparte, a 18 de Brumário,militares, gendarmes e guardas nacionais,ao todo 150 homens, se alojamna casa dos pais dos requisitadosou dos que são suspeitos de ocultálos.Barge constata: “As pessoas sedenunciavam umas às outras e prolongavama guarnição”, mas pareceque no conjunto a solidariedade aldeãse manteve.Em 4 de maio de 1800 (14 Floralano VIII), o dia da “voga” (festa patronal),às seis horas da tarde, gendarmese voluntários de Saint Chamondtentam surpreender a juventudeque dança. Dessa vez matamum homem, e os insubmissos perseguidosse defendem a pedradas.Temendo uma revolta, a tropa recuarapidamente para St. Chamond. Segue-sedepois um longo e custosoprocesso entre a gendarmaria, quenão quer reconhece sua perversidade,e a comuna.A 30 de julho de 1800, treze gendarmessobem ainda a Lavalla paraobrigar os alistandos retardatários apartir. São alojados na casa dos paisdos insubmissos. O drama vividopouco antes e os efeitos da mudançado regime político parecemse fazer sentir: a tropa, menos numerosae melhor controlada, nãoparece muito inclinada à pilhagem.Esses vexames repetidos têm umacausa que Barge sublinha (cap. XLI):“Lavalla era difamada pela camarilhade Saint Chamond por causa de suas opiniõesreligiosas e da resistência da juventudeque só partia forçada pela violênciae desertava em seguida,o que fez com que o general Reye o departamento tomassem a resoluçãode deixar nossa pobre comuna à disposição,sobrecarregando-a de tropas”.Assim, à guerra tradicional entreSaint Chamond e Lavalla se sobrepõeo problema militar. O exércitoemprega o velho método usado sobLouis XIV contra os Protestantes:impor à população a ocupação militaraté que ela se submeta.André Lanfrey, fms 19


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 20<strong>31</strong> fms Cadernos MARISTAS2.15. Paz religiosae paz civilA concordata de 1801, que restabeleceo culto católico em toda aFrança, teve por efeito a reaberturada igreja, em 15 de novembro de1801 (cap. XLI). O padre Berne, certamenteo Jean-Claude Berne deLavalla (cap. VII) que se fez ordenarno estrangeiro em 1791, foi recebidona paróquia 26 .Após a longa época de anarquiaterrorista, inaugurada pela revolta eo cerco de Lião em 1793 e concluídapela reabertura da Igreja, Lavallapode respirar. Menos violento, opoder é também mais eficaz: os saqueadoresde florestas são presos(cap. XLVI e XLVII) e, em abril de1803, numerosos conscritos refratáriossão recolhidos no final de umamissa de enterro.A comuna parece aceitar semmuitas dificuldades o pulso firme doImperador, e a resistência ao alistamentose enfraquece.As disputas da vida política da aldeiatomam conta. Barge denunciaas intrigas contra ele do padre Rivoryque quer excluí-lo do conselho municipal(cap. XLIX). Mas dedica poucoscapítulos à vida de Lavalla, entre1803 e 1814, certamente porque oregime napoleônico lhe convém. Exsoldado,teve que apreciar a glóriamilitar do regime; espírito forte, elevê que o reinado do clero não retornoutotalmente. É a época em quefoi vice-prefeito. Mas o fim do Impériovai causar muitos problemas.2.16. A invasão de 1814e a volta da realezaA primeira coluna aliada passaem St. Chamond, em 24 de marçode 1814 e, nos diz Barge: “Nessaépoca as requisições de todas asespécies de alimentos e de forragenseram permanentes” (cap. LIII).Em 29 de março, cento e quatrodragões austríacos passam em Lavalla.Alguns moradores, retomandoum velho reflexo, ocultam seusbens, outros oferecem bebida paraa tropa.Nessa época, Barge é severocom o clero e particularmente comRebos 27 , que será, de 1816 a 1824, opároco de Marcelino Champagnat.Ele o considera familiar demais comos oficiais austríacos de passagem,acrescentando: “É naturalmente frívoloe vaidoso. Aliás, ele estava convencidode que o clero aumentariasua autoridade pela entrada dessessoberanos legítimos 28 ”… Um poucomais além (cap. LIV), acrescenta:“Sendo ávido de bens e honras, não26 É curioso que se instala como cura de fato, quando Barge não fala dele entre 1791 e 1801. Podesesupor que houve uma ação clandestina na região próxima.27 Seu nome é ortografado de diversas maneiras: Rebaud, Rebot.28 Os Burbões.20 I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 21mars 2013lhe faltava ocasião de obtê-los”.Mais além ainda (cap. LVI), denunciaas manobras de Rebos que, “se prevalecendocontinuamente de suaautoridade”, quer controlar as funçõesdo acólito (sacristão) e dos sineiros,quando a municipalidadeacha que essas funções cabem aela. Barge o censura ainda por quererimpedir que as pessoas dancem(cap. LVI).Embora bem arrependido desuas simpatias revolucionárias,Barge guarda para com o clero suavelha desconfiança do tempo do párocoGaumond. É um cristão anticlericalque não aceita que o clero semeta em política. Essa sensibilidadeserá massiva numa grande parte daopinião ao longo da Restauração.Estamos aqui perante uma das principaismudanças da Revolução: olaicato cristão não quer se deixarlevar como antes.Dois dias após a primeira passagemdas tropas, as coisas pioram:sete fuzileiros austríacos enviadosde Tarentaise vêm exigir alimentos.Apenas falando o alemão, se fazemcompreender violentamente: até opároco Rebos, seu vigário, as irmãs,são maltratados. Barge deve acompanharcarretas de suprimentos aTarentaise, além do Bessat, sobre oplanalto do Pilat, onde, alimentadopelo Padre Montchovet, que aloja ocapitão austríaco, ele se queixa dosmaus-tratos infligidos pelas tropas.Mas o oficial, que fala um francêsperfeito, lhe responde que tendosido ele próprio soldado, certamentecometeu algumas travessuras, queBarge não nega. Acima de tudo, ooficial acrescenta: “Jamais nossastropas farão para vocês o que assuas nos fizeram”. Em 7 de abril,cinco hussardos austríacos vêm aLavalla requisitar feno.Essa primeira ocupação termina,em resumo, com afrontas moderadas.Barge evoca apenas o retornode Napoleão em 1815, que dessavez ocasionará uma longa ocupaçãoda França e provavelmente novasrequisições. Mas a narrativa é interrompidabruscamente 29 , porqueBarge deixa de exercer funções públicas.A atitude do pároco não pareceestranha para essa retirada,mas Barge é sobretudo vítima da atmosferade vingança monarquista,indo, às vezes, até o terror brancoque domina depois da segundaqueda de Napoleão. Presumivelmente,foi pouco depois que começoua escrever suas memórias.2.17. Um documentopreciosoEm resumo, as memórias deBarge constituem um bom documentosobre a vida local sob a Revolução.Se este tende a se atribuirmuitas vezes o papel importante,parece ser um homem inteligente,capaz de ultrapassar as perspecti-29 É possível que uma parte dessas memórias se tenha perdido.André Lanfrey, fms 21


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 22<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASvas locais para formular juízos deordem geral claros e profundos. Emdefinitivo, ele nos lembra que as populaçõesrurais são bem menos ignorantesdo que os notáveisurbanos pensam.A qualidade maior de sua narrativaé o realismo. Por meio dele percebemosuma sociedade complexaem que os interesses, as lutas declãs, os problemas de poder, sãoconstantes. Por ele aprendemosque a comuna está socialmente,economicamente, e talvez politicamente,dividida em duas partes, aalta voltada para Saint Etienne, e abaixa para St. Chamond.Por outra parte, se Lavalla é religiosamentefiel, esse apego à religiãodeve ter nuanças e combinarcom outros fatores, especialmente arecusa do alistamento militar, a lutacontra o poder urbano e a centralizaçãoadministrativa. Vimos tambémque os problemas de abastecimentodesempenham um papel essencialna guerra entre St. Chamond e Lavalla.Uma multidão de outros dadosmereceria ser levada em conta. Paraos que se interessam pelas origensdos Irmãos Maristas, o nome do clãChirat aparece frequentementeentre os defensores da religião. Anomeação de Marcellin Champagnatpara tal paróquia também tem significado:para dominar um territóriotão acidentado e vasto e governaruma população severamente provada,é preciso um vigário vigorosoe bem conhecedor do mundo ruraldas montanhas do Pilat. Em certamedida, é um posto de confiança.Enfim, com seu relato detalhado,Barge nos dá um apanhado do quepode ter sido a vida rural em muitascampanhas e particularmente emMarlhes sob a Revolução. Durantesua infância, Marcellin Champagnatteve de sentir fortemente os perigosque seu pai enfrentou e os problemasde um partidário da Revoluçãoque se vê obrigado a gerir, dia pordia, uma situação anárquica que lhetrará muitos desgostos e nenhumbenefício.No fundo, quatro períodospodem ser discernidos na história deLavalla:– 1789-1793: Momento em quese estabelece a revolução, eLavalla escolhe seu campo soba influência do pároco Gaumond,sendo Barge, ardentepartidário da Revolução, umafigura de extremista poucoapreciado.– 1793: num tempo de hesitação,o cerco de Lião parece arrastarum número de habitantesno campo revolucionário, enquantooutros aderem a umaresistência político-religiosamais profunda. A entrada dopároco Gaumond na clandestinidadeparece ter constrangidoas autoridades municipaisa tomar iniciativas. Finalmentea comuna mantém uma resistênciasurda. A contrarrevolu-22I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 23mars 2013ção monarquista parecia nãoter ali encontrado base sólida.– De 1794 a 1800, a paróquiateve de manter uma verdadeiraguerra contra St. Chamonde o governo terrorista.Barge nos informa muito malsobre o culto católico dessaépoca, provavelmente porque,suspeito de complacência paracom a Revolução, apenas marginalmente participa da organizaçãodo culto clandestino.Além disso, a questão religiosapouco a pouco se desvanece,enquanto o problema dosconscritos refratários e doabastecimento continua a sercrucial. Em todo o caso é aépoca em que as autoridadesmunicipais fazem sua políticade aprendizagem e aparecemsempre mais como os guardiõesda religião, como seusservidores.– De 1801 a 1815, o período écalmo, fora a breve invasão de1814. Pode-se, contudo, suporque no fim do Império os conscritosdesertores ou insubmissosforam numerosos nas florestasde Lavalla. O silêncio deBarge a esse respeito levantauma questão. Da mesmaforma, ignoramos tudo das requisiçõesda segunda invasãode 1815 e da longa ocupaçãodo território pelos aliados. Emtodo o caso, Barge denunciaclaramente um clero local quequer fechar o parêntese revolucionário,tentando restabelecerum poder político-religioso.3.A Igreja refratáriae o restabelecimentodo culto emSt Chamond e Lavalla(1789-1812)Graças às memórias de J. L. Bargee a diversas fontes anexas, pudemosseguir, a grandes traços, ahistória religiosa de Lavalla de 1789 a1794. Mas ele diz poucas coisas depoisda época crucial, 1794-1801,tempo de perseguição e de vidaclandestina, e não é mais fluente narestauração do culto em 1801-1816.A certidão de batismo de J. L. Bargenos dá o nome do vigário de Lavalla:Proton. A certidão de casamentoem 1787 é assinada pelo vigárioChapuis. Por suas memórias, sabemos:que o cura Gaumont e seu vigárioRobin recusaram, na hora, o juramentode aliança à Igreja constitucional;que Jean-Marie Berne, seminaristade Lavalla, parte para se fazerordenar no exterior por Dom de Marbeuf,arcebispo legítimo, em 1791.Aparentemente nenhum padre constitucionalpôde se instalar na paróquiae, até setembro de 1793, o cura e seuvigário “o padre Gaspard” moram naparóquia e exercem publicamente oculto, ao passo que Charvet, “ex-mínimod’Annonay”, frequenta a paróquia.Barge vai ainda citar o padre Rivorye o cura Rebod. São, portanto,sete padres que são evocados entre1789 e 1815. Mas Barge parece não ternenhuma ideia do funcionamento globalda Igreja refratária durante esseperíodo. Para saber mais sobre isso épreciso apelar para outra fonte.André Lanfrey, fms23


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 24<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS3.1. As missõesde LinsolasA diocese de Lião, sob a direçãodo vigário-geral Linsolas, 30 inventouum funcionamento eclesiásticomuito original e muito eficaz no qual,sem dúvida nenhuma, Lavalla participou<strong>31</strong> .Linsolas nos deixou memóriasque relatam a história da resistênciacatólica na diocese de Lião 32 . Até1792, o problema maior é o cismaconstitucional: no fim desse ano,apenas cerca de trinta paróquias(uma das quais Lavalla), sobre as850 da diocese, escapam, quase inteiramente,do cisma, o que significaque alhures, privados de seus pastorestradicionais, os católicos fiéissão coagidos a uma vida religiosamais ou menos clandestina. As perseguiçõesdo ano de 1793 agravama situação religiosa, mas a tornamtambém mais clara: é preciso, resolutamente,entrar em resistência organizada.Na primavera de 1794, o sistemaparoquial é abandonado, e a dioceseé dividida em missões, isto é,no início, em territórios de 40 a 60paróquias dirigidas por um padrechefe de missão, ajudado por umadjunto e dirigindo um número de 6a 8 missionários, cada um encarregadode 6 a 8 paróquias.São ajudados por leigos: os catequistasprecursores precedem omissionário nas paróquias ainda nãoabordadas para sondar o espírito,depois encontrar lugares de asiloque possibilitem visitas regulares e anomeação de uma estrutura eclesialpermanente. Cada paróquia tem um“chefe leigo” que preside a assembleiados fiéis, na ausência de padres,lhe comunica as instruções dadiocese 33 e se corresponde diretamentecom o missionário. Ele é secundadopor um “catequista estável”que visita os doentes e os pobres,encoraja os cristãos perseguidos,cuida para que as crianças sejam catequizadas,informa os fiéis da passagemdo missionário, esclarece o“chefe leigo” a respeito do estado daparóquia. Os catequistas ambulantesacompanham o missionário nas paróquiasvizinhas para garantir-lhe asegurança.No começo de 1795, há somente12 missões. Lá por 1800, são em númerode 25, porque muitos padresconstitucionais se retrataram e muitosexilados reentraram e podem serempregados como missionários. Porvolta de 1800, as missões de Linsolasagrupam 677 padres, dos quais30 Relacionado, por correspondência secreta, com Dom de Marbeuf, refugiado na Alemanha.<strong>31</strong> A obra-chave sobre a questão é: Charles Ledré, Le culte caché sous la Révolution. Les missionsde l’abbé Linsolas, Bonne Presse, Paris, 1947, 430 p.32 L’Eglise clandestine de Lyon pendant la Révolution, t. 1 (1789-1794), t. 2 (1794-1799), Editions lyonnaisesd’art et d’histoire, coleção do bicentenário da Revolução francesa em Lião, Lyon, 1987.33 Linsolas, t. 2 p. 21-2824 I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 25mars 201<strong>31</strong>86 atendem a Lião e seus arredores.Em Loire, haverá nove missões,dentre as quais as de St. Etienne (<strong>31</strong>missionários), de St. Chamond (14),e Rive-de-Gier (16) 34 .3.2. A missãodeSaint ChamondTemos poucas informações sobrea missão de Saint Chamond 35 . Seuchefe, M. Gabriel, é assim descritoem 1802, no momento em que o sistemadas missões está em via deabandono:“O ex-pároco de St. Symphorien d’Ozon, atendendoa St. Chamond, com cerca de 60 anos de idade,chefe da missão de Saint Chamond, trabalhou muitodurante a revolução; talentos, zelo e piedade” 36 .Certo Josserand, de 55 anos deidade, de sensibilidade jansenista,atende a St. Chamond, assim comoMichel Novet, de 36 anos de idade,que M. Courbon acha medíocre.Em 1804, 37 a diocese lança umasondagem para os vigários que devemdeclinar seu curriculum vitae. Ocantão (arciprestado) de St. Chamondé assim constituído:Lugar Vigário Data denomeaçãoCurriculumantes da RFDurantea RFSt. Chamond,paróquiaSt. PierreSt. Chamond,paróquiaNotre DameDervieuxJulien, nascidoem 29/1/1754.Nenhumapensãodo EstadoGabrielMarie-Gabriel,nascido em7/11/1735.Nenhumapensãodo EstadoEm 20/2/1803.Ocupaa funçãoem 28/9/1803Em 20/2/1803.Ocupaa funçãono domingoseguinteCura de Exilado;St. Ennemond missionário(St. Chamond) em Lião,desde 1781 depoisSt. ChamondDurante25 anos,cura de St.Symphoriend’OzonChefe dosmissionáriosemSt. ChamondSt. Julien,bairro deSt. ChamondBrun Blaise,nascido em14 ou 15/11/1756.Em 20/2/1803.Ocupaa funçãono domingoseguinteCura dePusignanMissionárioemSt. Chamonddurante7 anos.34 C. Ledré, op. cit. p. 96.35 Arquivos do arcebispado de Lião, cartão 1 II 9.36 Ibid. Quadro geral dos padres da diocese de Lião de 1º vindimário 1802, redigido pelo vigário-geralCourbon.37 Arcebispado de Lião, cartão 2 II 92.André Lanfrey, fms 25


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 26<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASFarnay(St. Eucher)Nolhac Jean,nascidoem 1/12/1741.Em 20/2/1803.Instalado em14 de março.EmN.D. do Puy6 anosem St. Julienen-Jarez.Tem umapensãodo EstadoIzieux(St. André)Farge Pierre-François,nascido em26/6/1763.Em 20/2/1803.Instaladono domingoseguinteMissionárioemPouilly-les-FeursNenhumapensãodo EstadoLavalla(St. Andéol)Abrial Pierre,nascidoem 25/6/1750.Nenhumapensãodo EstadoEm 8/2/1803.Instaladono domingoseguinteVigárioemTarentaise.Missionárioem Lavalladuranteum ano.Saint Justem DoizieuxLimosin Jean, Instalado emnascido 11 de marçoem 8/12/1763Em 20/2/1803.Missionárioem JonzieuSt. Martinà CoalieuGranjonMarcellin,nascidoem 25/7/1745.Em 5/9/1803.Instaladoem seguidaCurade PérigneuxPensão de133 F.por semestreEste quadro nos informa que oculto é regularmente restabelecidoem fevereiro de 1803 e, portanto,que o sistema missionário acaba,mesmo se a pensão prevista pelaconcordata de 1801 ainda não foi depositadapara a maioria dos vigários,que vivem então de esmolas e deseus próprios recursos. Contudo, acontinuidade com a Revolução é evidente,pois quase todos os vigáriossão nomeados no lugar de sua atividademissionária ou na proximidade.Em compensação, a ruptura com oantigo regime está consumada: amaioria dos padres que exerceram26 I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 27mars 2013antes da Revolução não reencontrasua antiga paróquia. Todos os nascidosentre 1735 e 1763 sua idade sereparte entre 69 e 41 anos. Suamédia de idade sendo de 53 anos, éum clero idoso, sobretudo para aépoca. É por isso que as autoridadesdiocesanas estão muito preocupadasem constituir um novo corposacerdotal, do qual Champagnat, recrutadonesse mesmo ano de 1804,vai fazer parte.Sobre a qualidade desse pessoal,o Quadro do clero de 1802 38 dá detalhesinteressantes: O Sr. JulienDervieu, futuro adversário depoisamigo do P. Champagnat, é consideradocomo um “bom sujeito sobtodos os pontos, de saúde fraca influenciandoseu caráter 39 político”.Pierre Farge é “muito bom sujeitosob todos os aspectos, boa saúde”.Em compensação sobre o Sr. M.Nolhac, vigário de Farnay: “intruso 40em St. Julien de Jarret […] perseguidorarrebatado, frequenta os botequins”.Marcelin Granjon é também“jurador cismático”. Quanto a JeanLimosin, ele é simplesmente indicadocomo “da diocese de Puy”.3.3. O restabelecimentodo culto em LavallaQuanto à assistência clandestinade Lavalla a partir de 1793, podemospensar que Gaumont continuou aassegurá-la até sua detenção em1794, e que Abrial, antigo vigário deTarentaise, paróquia vizinha de Lavalla,sucedeu a ele. Aliás, Bargeevoca (cap. XLVIII), a presença deAbrial, infelizmente sem data precisa,mas antes de 1800, recordandoum assunto aldeão: tendo morrido oprefeito Tissot, Jean Joseph Tardy 41aceita o posto depois de algumashesitações sob a influência do vigárioRivory “que havia abdicado dosacerdócio no tempo do terrorismo,e reavido pela influência do Sr. Abrial,então vigário da paróquia de Lavalla,junto ao Sr. Courbon, grande vigárioda catedral de Lião. Ele (Rivory) testemunhoutanto reconhecimento poresse benefício, tanto adulou seuprotetor, que ele (Abrial) lhe pediuque fosse seu vigário”.Entretanto, Barge nos diz (cap.XLV) que a igreja de Lavalla foi reabertaa 15 de novembro de 1801 porocasião da paz. Não assinala a presençade Abrial como celebrante,mas a do padre Berne, que “foi hospedadona paróquia”. O fato é confirmadopelo Quadro geral dos padresde Lião 42 que descreve assim Berne:“Natural de Lavalla, ordenado no começoda revolução, com cerca de 37anos de idade, vigário de Lavala, suficientestalentos, zelo e piedade”. Noambiente pós-revolucionário, e antes38 Arcebispado de Lião, registro 2 II 83*.39 O Pe. Champagnat fará duramente a experiência disso.40 Padre constitucional.41 Uma das obrigações do prefeito é fazer os jovens partirem para o serviço militar, o que não é fácil!42 Arcebispado de Lião, caixa de papelão 2 II 83.André Lanfrey, fms 27


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 28<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASque as autoridades eclesiásticas tenhamrestabelecido a ordem, seráque o filho da região, por um tempo,foi mais patriota que missionário?Em todo o caso, o mesmo Quadrogeral de 1802 é bastante elogiosopara com Abrial e o reconhece tambémcomo vigário de Lavalla:“Ex-vigário de Tarentaise, de uns 45 anosde idade, com talentos suficientes, bastante zeloe piedade, vigário de Lavalla, trabalhandodurante toda a revolução”.Para compreender essa aparenteanomalia, é preciso sem dúvida considerarque Berne e Abrial partilharama paróquia, talvez desde 1794, tendoeste último se encarregado da partealta (Le Bessat, les Palais…), voltadapara Tarentaise, e Berne assegurandoa pastoral da parte baixa, voltadapara St. Chamond. Naturalmente, asautoridades eclesiásticas dificilmentepodem deixar Berne na sua paróquiade origem, e Abrial, também significativamentemais velho, recebe oposto de vigário que sua ação lhemereceu. Respondendo a um inquéritodiocesano de 1º de agosto de1804 43 , Jean-Marie Berne, nascidoem 5 de novembro de 1758, declarater sido nomeado para a sucursal dePlanfoy, no cantão de St. GenestMalifaux em 7 de fevereiro de 1803 (18pluvioso ano 11) e precisa: “Eu atendiaà paróquia de Lavalla cantão deSaint Chamond”.Sobre Rivory, de quem Barge falamuito mal, o Quadro geral dos padresconfirma parcialmente suas afirmações:“Natural de St. Martin de Coailleux,com 50 anos de idade, ex-vigáriode Doizieu, reintegrado, talentoscomuns, bastante bom juízo, boaconduta”. O termo “reintegrado” significa,portanto, que Rivory prestou ojuramento constitucional e fez umaretratação, seguida de um tempode provação antes de 1802. ComoCourbon não assinala que ele é abdicador,Rivory certamente não renunciouem tempo nenhum ao sacerdócio,como afirma Barge. Eleprovavelmente foi vigário da igrejaconstitucional em Doizieu, paróquiabem próxima, antes de regularizarsua situação e de trabalhar como auxiliarde Abrial. Em todo o caso, em1802 Courbon não lhe atribui aindanenhum posto oficial. Deve ter sidonomeado vigário de Abrial no ano de1803.Barge acrescenta que logo instalado,o vigário procura suplantar seucura e apoia o prefeito Tardy que “nãoamava o Sr. Abrial por razão longa demaispara expor”. Por suas manobras,Rivory teria obtido o secretariadoda prefeitura e o afastamentode Barge.Em 29 de março de 1806, o Pe.Pierre Abrial, que ainda não recebeunenhum pagamento do governo, é43 Arcebispado de Lião, caixa de papelão 2 II 9228I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 29mars 2013nomeado para La Chapelle, nosMonts do Pilat, cantão de Pélussin,paróquia onde o governo paga o vigário.No mesmo dia, o Pe. Benoît Rivory,seu vigário, nascido em 19 de janeirode 1747, que recebe do governouma pensão de 266 F., é nomeadopara a paróquia de Rochetaillée,no cantão de St. Etienne 44 .Em 17 de abril de 1806, o Pe. Bussot(Joseph-Marie) até então vigáriode St. Etienne, nascido em 3 de julhode 1764, que recebe do governo apensão de 266 F., sucede a Abrial naparóquia de Lavalla, posto sempre“não pago pelo governo” 45 . Ele temcertamente um vigário do qual não conhecemoso nome, mas trata-se provavelmentedo Pe. Rebod 46 . Bargenada diz sobre ele, mas em 1802 oQuadro do clero de Courbon traçaeste retrato: “Bussot 47 , ex-lazarista, deuns 38 anos de idade, jurador, cismático,intruso, retratado em 97, reconciliadoem 1801, vigário em Sury, secomportando bem, temendo o santoministério”. É, portanto, um velho religioso,que foi padre constitucional, vigárioem Sury, tendo retratado seu juramentoem 1797, mas parecendo hesitarpor muito tempo em reconhecersua culpabilidade, como exige Linsolas48 . Enfim absolvido, realizou umtempo de provação como vigário deSt. Etienne, provavelmente a partir de1803, antes de ser nomeado para Lavalla,em 1806. A situação não lhedeve ter sido fácil numa paróquiaconstantemente hostil à Igreja constitucionale ao território pouco adaptadopara alguém que “teme o ministério”.Como ninguém fala dele, pareceter sido um personagem apagado.Quando renunciou em <strong>31</strong> de janeiro de1812, está com apenas 48 anos, e oPe. Rebod, de 34 anos, torna-se vigárioem 5 de fevereiro de 1812 49 .CONCLUSÃOEste estudo rápido sugere quenos anos de 1798-99 o culto clandestinofunciona quase por toda aparte no cantão de St. Chamond, masde maneira bastante informal, apesardos esforços de Linsolas para coordenara ação. A grande restauraçãoda ordem se desenvolve em 1803, oPe. Courbon, vigário-geral, muitasvezes ratificando as situações anteriores.A partida de Abrial e de Rivoryem 1806 marca para Lavalla o fimda época das missões.Evidentemente, muitas questõescontinuam na incerteza. Assim, vimos44 Arcebispado de Lião, registro das nomeações I 19.45 Ibidem.46 Os registros não mencionam os nomes dos vigários. Sobre o vicariato eventual do Pe. Rebod, vero artigo seguinte.47 Nenhum prenome assinalado.48 Contrariamente a muitos, Linsolas é muito intransigente para com os antigos padres constitucionaisque devem fazer um ato explícito de arrependimento.49 Arcebispado de Lião, registro I 19.André Lanfrey, fms29


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 30<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASque o sistema das missões repousavalargamente sobre os leigos.Mas quem foi o “chefe leigo” de Lavalla?E o catequista estável? Pareceque é necessário olhar do lado dosnotáveis da paróquia, particularmenteativos na oposição ao jacobinismo,como os Tardy das aldeias do Coinge de Soulages, os Rivat de Luzernod,de Pinay e de Maisonnettes, os Tissot...considerados, após o cerco deLião, como aristocratas.Em todo o caso, de 1794 a 1803aproximadamente, funcionou na diocesede Lião uma Igreja revolucionáriaà sua maneira, não repousandosobre paróquias governadas por curas,mas sobre a colaboração de umclero missionário itinerante e de leigosmilitantes garantindo a administraçãolocal do culto. A Igreja hierárquica emnada é questionada no plano teórico,mas torna-se praticamente difícil umsimples retorno à velha ordem de coisas,porque os leigos, que fizeram vivera Igreja em tempos de perseguição,só conhecem bem o funcionamentoque ela tinha antes da Revoluçãoque, ademais, os obrigou a fazersua educação política. Mais claramenteque antes, eles distinguirãoas competências religiosas e profanas,e o pároco Gaumont, que pareceter sido o homem influente da paróquiaaté 1793, pode ser consideradoo último pároco do Antigo Regime.Considerando a possibilidade deIrmãos catequistas em Lavalla,Champagnat encontra-se na continuidadedo que foi vivido na diocesesob a Revolução. Parece que elemesmo se pensou como o missionáriode um território que não podee nem deve evangelizar sem o apoioativo de leigos militantes. A questãode uma filiação entre a pastoral deLinsolas e a de Champagnat mereceser levantada, tanto mais que, durantesua infância, frequentou certamentemissionários itinerantes e viuleigos garantindo o funcionamento localda Igreja.4.O PADRE REBOD,PÁROCO DE LAVALLA(1812-1825)Jean-Baptiste Rebod (ou Rebot,Rebau…) 50 é nomeado vigário de Lavallaem 5 de fevereiro de 1812. Os arquivosdiocesanos 51 o declaram nascidoem St. Just-Malmont, no Haute-Loire em 10 de dezembro de 1778 52 .50 Os arquivos do arcebispado o denominam «Rebod». A Vida parece não dar seu nome. O Ir. Avito nomeia “Rebot”.51 Registro I 19. Informações tomadas em OM4, p. 42852 Um dos descendentes da família Rebod o situa como filho de Jean Rebod, nascido em 1746, habitantede Marlhes, e de Marie Louison, tecelã, natural de S. Just-Malmont. Ele seria o segundo de seusoito filhos, nascido em Marlhes em 5 de fevereiro de 1776. Quando de seu recenseamento na comunade Marlhes em 1790, o cura Allirot encontra essa família Rebaud na vila de Joubert. O pai é classificadoentre os proprietários, o que sugere certa ascensão social, pois quando de seu casamento em 1774 édeclarado jornaleiro. Mas Jean-Baptiste, que teria 14 anos, não mora com a família e poderia ser colocadocomo empregado. Essa hipótese nos parece insuficientemente embasada e esse J.B. Rebeau seriaum homônimo de nosso páraco.30I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina <strong>31</strong>mars 2013Rebod é, portanto, natural damesma região que Champagnat,sendo que as aldeias de Marlhes eSt. Just estão a alguns km uma daoutra, e ambas da diocese do Puy,antes da Revolução. Mas a criaçãodos departamentos para a Revoluçãoestabeleceu St. Just-Malmontem Haute-Loire e Marlhes em Loire.Na concordata de 1801, Marlhes éreatada à diocese de Lião, ao passoque St. Just Malmont faz parte dadiocese de St. Flour-Le Puy 53 .Rebod não fez seus estudoseclesiásticos na diocese de Lião enão pôde ser ordenado antes de 25anos de idade, porque durante a Revoluçãoos seminários são interrompidose só recomeçam a funcionar lápor 1800 54 . Será preciso, portanto,situar a data de sua ordenação sacerdotalpor volta de 1803-1806.Teria então entre 25 e 28 anos,idade bastante comum nos seminaristasdepois da Revolução. Nãoconsta nos registros do arcebispadode Lião antes de 1812. Portanto, terásido formado e depois ordenado nadiocese de St. Flour-Le Puy, depoisincardinado na diocese de Lião 55 .Uma passagem do relatórioBourdin parece dar um esclarecimentoimportante sobre o início dasua presença em Lavalla porque,em 1817, quando da sua rixa comChampagnat para a compra de umacasa, o documento relata: «ele nãoquer (comprar a casa) com medode não ficar 10 anos como cura». Defato, faz apenas cinco anos queRebod é pároco e seria mal compreendidose recusasse essa compra,alegando uma saída eventualcinco anos depois. É preciso, semdúvida, interpretar essa palavracomo afirmando a sua presença naparóquia durante uma década, primeirocomo vigário, depois comopároco, o que nos remeteria aosanos de 1806-1807 56 .O fato de aceder, aos 34 anos, auma paróquia bastante importantemostra que é considerado comohomem de certo valor e que não émalvisto pela população. O Quadroda população da comuna de Lavalla57 mostra que em 1815 ele morana aldeia com sua mãe , sua irmã eum criado. Seu vigário chama-seArtaud.52 A diocese do Puy só será restabelecida em 1823.53 Cursos regulares de Teologia recomeçam em Lião na festa de Todos os Santos de 1801, e o semináriomaior em janeiro de 1803 já conta com 60 a 80 teólogos num seminário provisório (Vie de M. Duplay,t. 1 p. 170) e em 1805, o antigo seminário Santo Irineu reabre suas portas.54 Essa transferência daria certa credibilidade à tese de um Rebod natural de Marlhes e reclamadopela diocese de Lião, como aconteceu em seguida a Courveille.55 OM2, doc. 754, § 2.56 Só conhecemos uma fotocópia, proveniente, sem dúvida, dos arquivos da comuna de Lavalla.57 Mas a genealogia feita por um descendente indica que ela morreu em 1812. É um argumento muitoforte contra a hipótese de um Rebod nascido em Marlhes, em 1776.André Lanfrey, fms<strong>31</strong>


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 32<strong>31</strong> fms Cadernos MARISTAS4.1. Barge severopara com RebodJá indicamos que Barge, nas suasmemórias, acha que o cura é vaidoso,autoritário, “ávido de bens e dehonras”. No cap. LVI de suas memórias,deplora que “se prevalecendosem cessar de sua autoridade”, queiracontrolar as funções do clérigo (sacristão)e dos que tocam o sino. Bargeo censura ainda por querer impediras pessoas de dançar (cap. LVI).O que é que se deve guardar detal julgamento que pode aparecercomo muito partidário e, em resumo,banal numa época em que o cleroquer reconstituir o quadro paroquiale retomar o controle da fábrica (administraçãodos bens), que era maisou menos confundida com o conselhomunicipal?4.2. De Barge aoIr. Jean-BaptisteNos capítulos 4 e 5 da Vida deChampagnat, o Ir. Jean-Baptiste Furetnos apresenta em 1856 uma situaçãobastante convencional da paróquiade Lavalla no momento emque Champagnat aí chega em 1816.Assim (p. 34): “O povo de Lavalla erabom e gente de fé; porém muito simplese sem instrução”. Muitas pessoasnão se confessam havia muitotempo. Outras se contentavam coma confissão pascal (cap. 5, p. 44). Osprincipais vícios e abusos da comuna,contra os quais Champagnat vailutar, são: a embriaguez, as danças,as reuniões noturnas 59 , os juramentos60 , a blasfêmia e a leitura dosmaus livros.É um julgamento que se poderiaestender a quase todas as paróquiasde França e até da Europa. Agente se pergunta, aliás, como osmaus livros podem ser um flagelonuma população declarada, um poucoantes, de ignorante 61 . Mas é verdadeque os vendedores ambulantesvão de granja em granja para venderfio, agulhas, pequenos objetos de pequenocusto e também livros julgadosa priori perigosos porque não controladospelas autoridades eclesiásticas62 . Na realidade, Lavalla é umaboa paróquia onde o culto católiconunca foi interrompido. São as pessoasignorantes? São, sem dúvida,pouco alfabetizadas, mas nem maisnem menos que alhures e certamentenão incultas. A Revolução ashabituou a se ajeitarem por si mesmas,inclusive em matéria religiosa.Como, após a morte do pároco Gaumontem 1794, viram desfilar muitos59 Os serões durante o inverno, que permitem especialmente os contatos entre os jovens e as moçase frequentemente oportunam danças.60 O termo «jurement/juramento» é tomado aqui no sentido de palavrão.61 De fato, vendedores ambulantes vendem livros de todas as proveniências numa população que dominaa leitura mais do que as elites acreditam.62 Ver Vida do P. Champagnat, cap. 5, p. 50, que relata sua luta contra os maus livros e a criação,por ele, de uma biblioteca de bons livros.32I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 33Mas deve-se dar tanta importânciaa um defeito que a população, levadatambém ela à bebida, ao menosem dias de festa, olha com certaindulgência? Pode ser também quea saída do professor em 1819 e a sobriedadede Champagnat tenhamimpedido ao pároco de ir longe demais.Além disso, em 1825, o Pe. Rebodse tornou capelão das Ursulinasde St. Chamond: uma posição quesupõe um homem de bons costumese também capaz de pregar. Naverdade, o cerne do problema é oseguinte: O Pe. Rebod é um párocozeloso de sua autoridade e quer governarsua paróquia como nos vemars2013párocos e vigários, sua atitude paracom o clero evoluiu.Sobre Rebod, o Ir. Jean-Baptistejunta-se parcialmente a Barge: o pároco“ainda que bom padre […] nãoera amado” devido a um defeito delíngua, que tornava seus sermões penosos63 . A razão dada parece muitosuperficial 64 . A gente pode se perguntarsobre a natureza desse defeito,que poderia ser menos umapronúncia difícil do que uma tendênciaa dizer em público coisas desagradáveisou humilhantes. Aliás, o capítulo11 da Vida, p. 111, relata dois traçosvisando a Champagnat e apoiandoessa hipótese:“Num domingo, enquanto o Padre Champagnat,depois das completas, fazia uma pequenaexortação aos fiéis, o pároco entra de supetãona igreja pela porta principal e daí entoa o hinoO Crux, ave... com o qual se costumava encerrareste exercício. Surpresos e escandalizados,os fiéis se voltam, acompanham-no com o olhar,ouvem-lhe o canto com indignação, numademonstração inequívoca de sua desaprovação.O Pe. Champagnat, sem deixar transparecernenhuma emoção ou contrariedade, aguardouque o pároco terminasse o canto e prosseguiua instrução”.“De outra feita, durante uma catequesepreparatória à confirmação, no momento emque dizia ser o bispo o ministro deste sacramento,o pároco entra na igreja e, voltando-se paraos fiéis, grita: ‘Os sacerdotes também,meus irmãos, podem administrar a crisma,com a devida autorização’. Com muita frequência,o Pe. Rebod tomava tais atitudes,e o Pe. Champagnat sempre respondia poruma paciência inalterável”.Ele menciona outro defeito do párocoque Barge não assinala: sua inclinaçãopara a bebida que teria sidouma causa de escândalo para a paróquia.O Pe. Etienne Bedoin, párocode Lavalla de 1824 a 1864, protestoucontra essa passagem, mas sem adesmentir: “Valia bem a pena divulgarum fato cujo conhecimento não seestendia além do pequeno círculo deLavalla”. A reputação infeliz do párocosobre esse ponto pode vir-lhe,aliás, do apoio que ele deu ao professorbêbado.63 Cap. 4, p. 34.64 Na sua crítica da Vida de Champagnat, o pároco Bedoin, sucessor de Rebod, criticará esse julgamento.Ver «Documentos Maristas», n. 1, Roma, 1982, que dá uma cópia dessas críticas...André Lanfrey, fms33


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 34<strong>31</strong>fms <strong>Cahiers</strong> MARISTESlhos tempos. É disso, aliás, queBarge o acusa.4.3. As rixas de Rebodcom ChampagnatCom seu vigário, ele tem a mesmaatitude autoritária, mas o pontocapital de sua divergência é, sem dúvida,mais fundamental. Rebod encarasua paróquia como um territórioa administrar, ao passo que Champagnatconcebe a tarefa dos padrescomo missionária: mais respeitosadas autoridades civis; levada a procurara adesão dos corações e a participaçãodos leigos. Aliás, é para issoque ele funda Irmãos.Todas essas causas, portanto,provocam um conflito de ricochete doqual o capítulo 11 da Vida (p.111 e 112)dá uma visão de conjunto.“O pároco de Lavalla, um dos primeiros a criticaro bom Padre e a desaprovar-lhe a obra, mantendoo Pe. Bochard a par de tudo o que se fazia entreos Irmãos, redobrou as invectivas contra ele […].O pároco desacreditava o Pe. Champagnat atéjunto aos Irmãos. Mais ainda, procurava desligá-losda congregação; a um dos melhores dispôs-sea receber como seu empregado; a outros,propôs boas colocações no mundo ou a admissãoem outras comunidades. Por ocasiãoda transferência do Ir. Luís para Bourg-Argental,em 1823, fez de tudo para retê-lo e impedi-lode obedecer: ‘Sou eu o pároco, você é naturalde minha paróquia, não quero que vá embora.Deixe o Pe. Champagnat falar. Ele não sabeo que faz’”.O relatório Bourdin 65 , escrito lápor 1830 e fundamentado largamentesobre o testemunho deChampagnat, dá em estilo muito telegráficoo detalhe das peripécias daluta entre cura e vigário do qual podemosreconstruir as etapas. Desde1817, Champagnat tenta persuadir opároco de comprar a casa Bonnerpara torná-la escola e fundamentode sua obra. Como o pároco recusa,Champagnat a compra, mas o curasuscita uma discórdia entre o pai e ofilho Bonner e obriga Champagnat apassar um novo contrato mais onerosoem 1818. Finalmente, o cura dádinheiro para essa aquisição.Os Irmãos, tendo começado areceber meninos com a autorizaçãodo pároco, a obra faz concorrênciaao ébrio mestre da escola, que ocura sustenta, mas que deverá partirem 1819. Provavelmente no fim de1818, um partido, sem dúvida sustentadopelo pároco, acusa Champagnatao vigário-geral Bochard defazer reuniões ilícitas de jovens(trata-se, sem dúvida, de Irmãos) ede ter desviado uma coleta. MasChampagnat parece justificar-secom bastante facilidade e morandocom os Irmãos no final de 1819, eleafirma sua autonomia e aquela desua obra para com o pároco, certamentecom a aprovação tácita deBochard. Para atenuar o efeito docaso e poupar o amor-próprio deRebod, mudou-se durante a noite.Uma pequena guerra entre o cura e65 OM2, doc. 754.34I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 35mars 2013seu vigário, começada em 1817, termina,portanto, no final de 1819 coma derrota do pároco. Pode-se perguntarse, na paróquia, a autoridademoral não passou, desde essa épo -ca, do cura para o vigário.Não terá Rebod desempenhadoum papel no novo ataque bem maisgrave, provavelmente em 1820, daparte do diretor do colégio de St.Chamond e do Pe. Dervieux, párocode St. Pierre de St. Chamond e presidentedo comitê cantonal da InstruçãoPública? Pode-se supor quesua reserva e seu mau humor permaneceramvivos, mas daqui emdiante o problema se situa num nívelsuperior.4.4. Certa conivênciaentreos dois homensEntretanto, essa guerrilha nãoestá isenta de armistícios. Aliás, Rebodparece um caráter bastantefraco, pronto a se opor violentamenteàs iniciativas de seu vigário,mas disposto a deixar fazer porpouco que estas se mostrem judiciosas.E, em resumo, de 1816 a1824, cura e vigário, a despeito deconflitos agudos, viveram em relativobom entendimento. O Ir. Jean-Baptiste 66 atribui todo o mérito ao P.Champagnat, mas é preciso convirque um vigário cheio de iniciativas ecuja obra atraía a atenção não eraum auxiliar garantido. Parece, entretanto,que o cura nunca pediu asubstituição de seu vigário. Aliás,será que todos os paroquianos estavamsatisfeitos com um vigáriopronto a reprimir a bebedeira e ir denoite impedir os bailes nas vilas,como nos relembra longamente o Ir.Jean-Baptiste 67 ? É bem possível queRebod tenha sido forçado a arbitrarentre paroquianos e vigário.Sobre as relações entre os doishomens, dispomos de um documentode primeira importância como relatório do inspetor Guillard, queao visitar Lavalla em 20 de abril de1822, depois de descobrir, ao passarem Bourg Argental e St. Sauveur, 68que os professores são “os supostosIrmãos […] formados pelo vigáriode Lavalla, que eles chamam de superior-geral”69 . Quando chega a Lavalla,ele constata:“O Sr. pároco (mau poeta 70 ) estámuito descontente com seu vigário quenão tem, para dizer a verdade, latinistas 71 ,mas uns 12 a 15 jovens camponesesque ele forma no método dos Irmãospara distribuí-los nas paróquias”.66 Vida, cap. 4, p. 36-37.67 Vida, cap. 5, p. 48-51.68 23-24 de abril.69 OM1, doc. 7570 Um homem que se pretende poeta (fazendo rimas), mas sem talento.71 Portanto, não tem colégio como o acusa o diretor de St. Chamond.André Lanfrey, fms35


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 36<strong>31</strong> fms Cadernos MARISTASRebod, portanto, não sustenta aacusação feita em Saint Chamondcontra Champagnat. Mas o inspetor,tendo visto os Irmãos de St. Sauveure Bourg Argental, não se deixa convencer,e o pároco deve reconhecerque seu vigário “leva seu zelo longedemais, querendo estabelecer-sesuperior de uma congregação nãoautorizada legalmente, e ao se fazerdar a legítima 72 desses jovens quepoderiam ser vítimas, se a congregaçãonão se sustentasse”. Eleainda tem o cuidado de antes esclarecer“que está de acordo com seuvigário sob todas as relações”, menosa da congregação. Champagnat,interrogado, só pode reconhecerque projeta uma congregação.Guillard visita depois “o local da congregação”que acha pobre e sujo,mas não vê nenhum Irmão. Curiosamente,não se trata da escola comunal.A visita parece que se desenrolouconforme este cenário: de Bourg Argentalou de St. Sauveur, avisou-seLavalla da inspeção e foram afastadosos jovens Irmãos e os jovensem formação. Por isso, contrariamenteàs duas paróquias precedentes,Guillard não viu nenhum Irmão 73 ,e o cura não confessa na hora queseu vigário constitui uma congregação,mas uma espécie de escolanormal de professores rurais. Comoessa mentira piedosa não pode resistirpor muito tempo, Champagnatdeve também admitir seu projeto.Guillard compreendeu: inútil continuare procurar os Irmãos que elesabe que estão presentes na comuna.Nesse caso, portanto, Pe. Rebodtentou preservar a obra de Champagnate sem a prévia visita de Guillarda Bourg Argental e St. Sauveur,talvez teria conseguido. Quanto aoseu ponto de vista sobre a congregaçãoem formação, ele é, em resumo,moderado e não desprovidode pertinência. Ele também resumea opinião de um grande número deeclesiásticos da região. Finalmente,Rebod não censura Champagnat deagir sem a permissão das autoridadesdiocesanas.Outros fatos relatados apresentamum Rebod muito tratável. O relatórioBourdin observou que, nocaso da compra da casa Bonner em1817-18, o pároco acabou por pagaralguma coisa 74 . É possível que namorte do cantor em 1816, tenha contratadoJ. M. Granjon para sucedêlo75 . A Vida (cap. IX, p. 341) cita umcaso interessante:72 A herança da qual o herdeiro não pode ser privado.73 Os oito postulantes de Haute-Loire chegaram no fim de março.74 OM2, doc. 754 § 3: «Em seguida, ele ajudou, deu dinheiro».75 Relatório Bourdin: « [8] (Parágrafo à parte) Cantor morre jovem… Preciso de um homem como vocême descreveu». Pode-se supor tal conversa no final de 1816. O cargo de cantor teria permitido certa rendaa J.M. Granjon que Champagnat persuade então a se estabelecer na aldeia.36I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 37mars 2013“Um dia, o pároco de Lavalla, passando pelorefeitório durante o jantar, não viu senão um pratode salada, cuja quantidade estava longe decorresponder ao número de oito pessoas em cadamesa : ‘Pobres rapazes’, exclamou levantando osombros, ‘eu poderia levar seu jantar todinho naminha mão!’ 77 .”Além de o texto indicar que o númerode convivas é pelo menos dedezesseis, ele apresenta uma curabastante familiar com os Irmãos e nãodesprovido de compaixão. O processodiocesano de beatificação 78 dáo testemunho de Joseph Violet que,pensionista, narra um fato que ocorreuem 1822, durante o aumento dacasa de Lavalla: “Um dia, ele (Champagnat)foi provocado por seu párocoa levantar uma grossa pedra como pedreiro que ele (sic) ajudava econseguiu pô-la no lugar”. Enfim, orelatório Bourdin evoca o embaraçode Rebeau que recebeu uma carta deBochard reagindo a acusações contraChampagnat, das quais talvezseja o inspirador e que não sabecomo lha remeter: “Nessa época, acarta do Sr. Bochard dirigida ao Pe.Rebost que não ousava manifestá-la,consultava como fazê-lo” 79 . Ao todo,Rebaud nos aparece como um homemcorajoso, inteligente, mas umpouco instável de caráter, que nãosoube ganhar a aceitação de sua paróquiae se acha um pouco ultrapassadopor um vigário empreendedor.4.5. O mais grave:a desunião Seyve-Champagnat (1824)No momento em que se preparaa construção de l’Hermitage, na primaverade 1824 (Vida, p. 114), o Pe.Seyve vai ter indiretamente um papelimportante nas origens maristas, porquecircula na paróquia uma petiçãosolicitando a sua substituição. A Vidaafirma que um clérigo a encabeça, eo Pe. Bedoin, nomeado pároco deLavalla, depois desse caso, em 24 demaio de 1824 80 , criticará essa interpretação81 . Vale a pena colocar emparalelo o texto da Vida com o de suarefutação.Vida, p. 114«De volta a Lavalla, o Pe. Champagnatencontrou a paróquia em polvorosa.Um Padre, que o vigário enfermochamara para ajudá-lo na prepa-Pe. Bedoin«Foi o Pe. Champagnat em seu próprionome, e não o Senhor pároco,que, tendo ido pessoalmente ao lugare à residência desse clérigo, lhe su-76 Mesa.77 Há, portanto, certa familiaridade entre a comunidade e o cura. Sua compaixão pode ser interpretadacomo uma crítica do superior.78 Transcrito pelo Ir. Carazo, Roma 1991 p. 85.79 OM1, doc. 104.80 OM1, doc. 104.81 Série «Documentos Maristas» n. 1, Roma, 1982, p. 16.André Lanfrey, fms37


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 38<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASBurdigne, em 5 de maio de 1824 85 .Champagnat, que contou com o Pe.Seyve para substituí-lo nas funçõesvicariais para preparar e realizar aconstrução de l’Hermitage, perdeseu substituto e pede ao arcebispoque nomeie em seu lugar do Pe.Courveille 86 . O Conselho de Dom dePins, em 12 de maio de 1824, autorizaeste a vir ajudá-lo “em sua instituiçãodos Irmãos das Escolas” 87 .Portanto, não é vigário substituto,mas auxiliar da obra de Champagnat,que, sem dúvida, confiava as mesraçãoda Páscoa, aproveitara-se daausência do pastor para indispor osparoquianos contra ele. Por sua instigação,circulara um abaixo-assinadopedindo a mudança do párocoe sua substituição pelo referido padre.Embora tivesse mil razões dequeixar-se do pároco, o Pe. Champagnatnão hesitou em tomar-lhe adefesa e apoiá-lo. Condenou clara eabertamente o que se passara. Chamouos líderes da paróquia que haviamsubscrito a petição, expressoulhesseu descontentamento e convidou-osa desistir de tal propósito. Repreendeutambém o padre, centrode todas as intrigas, e declarou-lhenão querer nenhuma relação comele, o que muito o irritou.plicou com insistência de vir a Lavallapara a Páscoa, o que de fato obteve,mas com muita dificuldade. Écompletamente falso que, por instigaçãodesse Senhor, uma petição tenhasido dirigida pelos paroquianospara obter a mudança do Sr. pároco.O próprio Pe. Champagnat não eraestranho a essa comoção de paróquiae tinha intenções muito acentuadassobre esse eclesiástico, quepartilhava então sua maneira de ver.Esse padre, cuja cabeça encanecidapelos anos é cercada de respeito ede veneração, pode dar provas da últimaevidência de uma tão injusta calúnia82 ».O eclesiástico em questão é o padreJean-Baptiste Seyve (1789-1866),aspirante marista. Pároco de Arthunem 1821, retira-se em 20 de outubrode 1823 “e foi então, sem dúvida, queveio a Lavalla para ajudar o Pe.Champagnat” 83 . Aliás, o relatórioBourdin também o menciona: “O Pe.Sève assiste a obra” 84 . A tentativa dedesestabilização do pároco e a intervençãode Champagnat se deramna primavera, portanto, antes daconstrução de l’Hermitage, já que oPe. Seyve foi nomeado pároco de82 A edição de 1989 da Vida não indica em nota essa interpretação do Pe. Bédoin, todavia muito importante.83 OM4 p. 354. É o sinal de que, mesmo antes da vinda de Dom de Pins, a diocese ampara a obrade Champagnat, que começa, desde 1823, a procurar um lugar para estabelecer sua obra.84 OM2, doc. 754 § 29.85 OM1, doc. 98.86 Cartas de Champagnat, nº 30, §, agosto-setembro de 1833.87 OM1, doc. 101.38I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 39mars 2013mas atribuições para o Pe. Seyve.Courveille se retira de Epercieux em30 de junho de 1824 (OM1, doc. 111),no momento em que começa a construçãode l’Hermitage.A retirada do Pe. Seyve e a intervençãode Champagnat não foramsuficientes para acalmar a campanhacontra Rebod. Em 24 de maio de1824, o registro das deliberações doArcebispado (OM1 doc. 103) observa:«As queixas contra o Pe. Rebod, párocode Lavalla, se renovam constantemente».Então ele decide: “1º OPe. Bedoin, vigário de St. Marie de St.Etienne, é nomeado pároco de Lavalla;2º O Pe. Rebod será notificadodessa medida nos termos mais obsequiosos,será até avisado de quepoderá sem dificuldade prolongarsua estada em Lavalla”.O arcebispado cede, portanto, auma campanha de difamação; mas aoincentivar o Pe. Rebod a ficar na paróquia,ele procura dar a impressão deque sua substituição tem outra causa.Finalmente, a instalação do Pe. Rebod,como capelão das Ursulinas de SaintChamond, aparece como uma soluçãohonrosa e contradiz a interpretaçãoda Vida de Champagnat, que pretendeque “a conduta do Sr. pároco deLavalla lhe havia atraído críticas”. Naverdade, a petição atinge um homemjá doente que morre em 27 dejaneiro de 1825, com 46 anos.Cumpre ter em grande consideraçãoa versão do Pe. Bedoin, maisconfiável que a Vida e que conheceude perto a situação. Ela tem o méritode mostrar que o projeto de construçãode l’Hermitage e as numerosasdiligências que afastam Champagnatdesestabilizam a paróquia,como se a autoridade do vigário fossefiadora daquela do pároco. O Pe.Seyve encontra-se, portanto, numasituação inextricável entre um párocona defensiva, um vigário titularocupado alhures e um partido deoposição comprometido que talvezatribua ao Pe. Rebod o afastamentode Champagnat.De qualquer maneira, esse assuntotem consequências importantespara a nascente Sociedade deMaria: O Pe. Seyve é excluído do projetoe indisposto com Champagnat.Na emergência, este deve instalar ali,ele mesmo, o homem que irá comprometersua obra. Mas não é inútilobservar que Courveille, apesar desua pretensão de ser o homem eleitopara dirigir a sociedade, é uma segundaescolha e, portanto, Champagnatnutriu bastante cedo algumasreservas a respeito dele.CONCLUSÃONo final deste estudo, o Pe. Rebodnos aparece um pouco diferente doque informa a tradição marista. Seusdefeitos maiores parecem ter sido:um gênio um pouco temperamental,pronto a palavras ofensivas; e um autoritarismoque denota falta de segurança.Suas disputas com Champagnatparecem mais irritantes querealmente sérias e bastante característicasdas relações entre párocosAndré Lanfrey, fms39


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 40fms Cadernos MARISTASe vigários. Aliás, certamente não erafácil governar Champagnat. O verdadeiroproblema de Rebod é quenão conseguiu se fazer estimar porsua paróquia e que, finalmente, essacarência teve implicações importantessobre a mutação da obra deChampagnat, provocando, indiretamente,a substituição do Pe. Seyvepelo Pe. Courveille.Bulletin de l’institut (1913)40I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 41mars 20135.PANORAMASOCIOECONÔMICODE LAVALLA,POR VOLTA DE 1815Podemos conhecer de maneiramuito precisa a demografia, a vidasocial e econômica de Lavalla quandonela chegou Champagnat, graçasa um “Quadro da população da comunade Lavalla em 1815”. 11 páginasde formato 24 x 36 abrangem setecolunas mostrando, da esquerdapara a direita, para cada casa: nomedo vilarejo, sobrenomes e nomesdos indivíduos, profissão, número defilhos e número de filhas, número defuncionários e, finalmente, o total depessoas em cada casa. Assim, sabemosque, no vilarejo de Maisonnettes,Jean-Baptiste Rivat é lavrador,tem 4 meninos e 3 meninas; o queperfaz uma família de nove pessoascom sua esposa. Infelizmente, o documentonão é bastante completo, eo povoado de Palais, localizado noextremo sul da comuna, onde, em1816, Champagnat encontrou o jovemMontagne, ficou esquecido.5.1. O pesodas requisiçõesde 1814-1815Esta tabela foi utilizada, além disso,para estabelecer a quantidade derequisições exercidas sobre os habitantespelos exércitos estrangeiros.Jean-Louis Barge nos dá também umapanhado no capítulo LIII de suas memórias:“Nessa época as requisiçõesde todas as espécies de alimentose forragens eram permanentes”.Como o governo prevê indenizações,“o prefeito, diz Barge,mandou fazer uma relação das despesasque fez para as tropas citadas».O retorno de Napoleão impôsa renovação das autoridades municipais,e Barge torna-se assistente donovo prefeito Tissot que...“andava de povoado em povoadopara recolher os recibos do coletor relativosà quota-parte a ser paga a cada habitante...Fui encarregado de fazer um levantamentoem ordem alfabética e por colunaem forma de catálogos para apresentarao Sr. Prefeito, com uma petiçãoassinada por quase todos os habitantesque sabiam escrever».Mas as requisições de 1814 sãopoucas, porque os aliados se retiraramrapidamente. Em compensação,depois de Waterloo, a Françaserá ocupada por tropas estrangeirasque viverão no país até o fim de 1818.Vale a pena recordar, que, quandoChampagnat chega a Lavalla, a Françaainda sofre uma ocupação militare, portanto, requisições.O documento mencionado aquiparece, portanto, corresponder a duasdatas: um quadro da população estabelecidaem 1815 e, sobreposto ao primeiro,um quadro de requisições feitasnos anos de 1815-1818 para os seguintesprodutos: feno, centeio, cevada,aveia, trufas (batatas). Praticamente,é preciso considerar que omesmo agregado familiar é visto pordois ângulos diferentes. É por isso que,no exemplo abaixo, nós representamoscada habitante por duas linhas.André Lanfrey, fms41


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 42<strong>31</strong> fms Cadernos MARISTASLugar Nome Profissão Filhos Filhas Empregados TotalSede J.L. Basson Burguês 0 0 2 3e suaesposaFeno: 12 J.L. Basson Burguês Cevada: 2 Aveia: 15 Trufas: 30e suaCenteio: 40 esposaSede J.L. Barge Agricultor 0 0 0 2Feno: 1 J.L. Barge Agricultor Cevada: 0 Aveia: 1 Trufas: 5Centeio: 3Maisonnettes J.B. Rivat Agricultor 4 filhos 3 filhas 9e esposaFeno: 3 J.B. Rivat Agricultor Cevada: 1 Aveia: 5 Trufas: 18e esposaCenteio: 18Nós temos, com isso, uma ideiado peso das requisições de acordocom a riqueza: O Sr. Basson, únicoburguês de Lavalla, paga o máximo;Jean-Baptiste Rivat, pai de Gabriel,futuro Irmão Francisco, é um camponêsremediado, e Barge, um camponêsde nível medíocre. As unidadesque acompanham a quantia dessesprodutos requisitados não são exatas,mas é quase certo que, para cereaise batatas, trata-se de 27,30 litros.Para o feno, pode ser que setrate de carroças de volume indefinido.Assim, o Sr. Basson teria fornecido1.100 litros de centeio; Barge, 82litros; e J. B. Rivat quase 500. Alémdisso, esses produtos requisitadosnos dão uma boa ideia das produçõesagrícolas de Lavalla: muito feno,centeio e batatas, bem pouca cevadae um pouco mais de aveia.5.2. Pagamentodas requisiçõese riquezaCumpre constatar que muitas casasnão pagam os cinco produtos requeridos,mas apenas alguns. As ra-42I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 43mars 2013zões dessas desigualdades podem serdevidas ao lugar mais ou menos favorávelpara tal ou qual cultura, mas tambémà riqueza dos habitantes, sendoque os lavradores em geral pagavam4 ou 5 dos produtos requeridos, e osdiaristas de 3 a 1. Sistematizando osdados do documento, podemos entãoter uma visão aproximada das desigualdadesda riqueza das aldeias.Lugares citados 5 e 4/5 3/5 2 e 1/5 0/5 Númerode laresA vila 25 % 6,8 % 50 % 17,2 % 58La Loge, Surdel, Le Coing, Lolagnier 66 33 0 0 9Laval 50 16 32 0 12Le Mont 33 50 16 0 6Maisonnettes 54 36 9 0 11Chomiol 60 0 40 0 5Le Bessat 0 88 11 0 27Chabourelon, Le Toil, Les Gallots 0 100 0 0 7Le Bréat, L’Ollagnery, La Fourchina 0 90 10 0 10Larmusière, La Moneteyre, Chez Colomb 33 50 16 0 6Les Chazaud, Les Pervenches,Le Rossin, Le Citré, Vasseras 61 30 7 0 13Luzernaud 52 29 17 0 17Le Sardier 37 66 0 0 3Le Bos 0 61 38 0 13Les Roberts 0 50 50 0 6La Cognelière, Bourchanin, La Comba 0 57 42 0 7La Fara 0 39 60 0 28La Rive 50 0 50 0 6Les Mures 85 0 14 0 7Saleyre 75 12 12 0 8Revicola, La Grenary, La Logne, Lacours 44 22 33 0 9Sezinieu, Le Planil, La Fojasse 70 30 0 0 10Le Crozet 33 44 16 5 18Bertois, les Saignes 43 36 20 0 30Pioré 42 14 28 14 7Gurney, Le Ney, Chomienne, La Most 0 100 0 0 8Ceres? 16 25 25 33 12Les Cotes, Le Pinay, La Combe 75 25 0 0 12Les Surchettes, La Cote 60 40 0 0 10Le Fleurieu 0 100 0 0 7Fonfoi 70 11 11 5 17Pont Ch., Rossillol, Soulages 76 15 7 0 13La Chirat, Pialussin 90 9 0 0 11Média 39.3 % 39.2 % 18.8 % 2.2 % 100 %André Lanfrey, fms 43


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 44<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASÉ normal que a vila não forneçagrande variedade de produtos, poisuma parte da população se dedica àsatividades artesanais e dispõe depoucos recursos. No entanto, issoparece ser um lugar de gritante contrasteentre ricos e pobres. Aliás, aprimeira ação dos Irmãos consistiráem acolher e alimentar as criançaspobres do povoado. Pelas aldeias,constatamos que os que entregammaciçamente 4 ou 5 itens dos produtosrequeridos estão na parte inferiorda comuna, onde as condiçõesclimáticas permitem culturas diversificadase mais remuneradoras. Pareceser o caso de Pialussin. Pelocontrário, La Fara, no vale superior doGier, parece o lugar típico de umaagricultura pobre compensada pelaexploração da floresta.5.3. HIERARQUIA SOCIALEm geral, a hierarquia social é claramenteindicada nas primeiras linhasdo documento que começa pelos notáveis:o pároco Rebod, morandocom ele sua mãe, sua irmã e um empregado;seu vigário, o padre Artaud;o senhor Jean-Louis Basson; o senhorLagnet, ex-notário e o prefeitoJean-Claude Ronchard. Afora essesnotáveis que parecem ter direito aotítulo de «senhor», o resto da populaçãose divide em camponeses e artesãos.Para os camponeses, o documentodistingue “lavradores”, “diaristas”,“agricultores” e “granjeiros”.O primeiro e o segundo termos sãoclássicos, como em toda a França oagricultor é aquele que tem pelo menosum pedaço de terra para lavrar.Em princípio, é um camponês remediado.O diarista, pelo contrário, éaquele que ganha seu pão dia a dia:é um camponês pobre. Os estatutosde «agricultor» e de «granjeiro», maissuaves, podem ser consideradoscomo intermediários entre o lavradore o diarista. Em qualquer caso, a hierarquiados camponeses, quantitativamente,parece estabelecer-se assim:Agricultores: 176 aproximadamente– Granjeiros: 40– Cultivadores: 11– Diaristas: 148Quanto aos artesãos, estão presentes,sobretudo na vila e no vilarejode La Fara. Sua condição econômicaparece muito diversa. Além disso,a maioria deve dispor do ordenadode algumas terras.– Pedreiros: 3– Sapateiros: 3– Tecelões: 6– Carroceiros: 2– Guarda-florestal: 1– Serradores: 2– Ferreiros: 2– Marceneiros: 2– Passamaneiros(As 10 irmãs da congregação)– Tecelões: 2– Alfaiate: 1– Moleiro ou moleira : 3– Mde ( ?) : 1A essas categorias convém acrescentar134 empregados, 16 lares cujochefe é uma viúva mais ou menos44 I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 45mars 2013afortunada, e 6 casas que parecemparticularmente pobres, pois não fornecemnenhuma requisição, nemmesmo em batatas.Tal parece ser o povoado de Lavalla:– 5 notáveis– 176 camponeses,relativamente remediados– Um grupo mais ou menosequivalente de camponesesmedíocres ou pobres– Uma pequena quarentena deartesãos– Uma plebe de 134empregados– Uma trintena de pobres e deviúvas.Todos repartidos em 434 “lares”,66 aldeolas e localidades, nas encostasdo Pilat entre 460 e 1.160m dealtitude.5.4. Demografiade LavallaAs aldeias, muito numerosas, sãode inegável importância. O quadro seguintedá uma ideia bastante precisadas principais aldeias e da sede:Aldeia População Nº de «lares» Nº habit. por larLa Valla (vila) 228 60 3.8Laval 85 12 7Maisonnettes 55 11 5Le Bessat 127 27 4.7Luzernod 88 17 5.1Le Bos 63 13 4.8La Fara 134 28 4.7Saleyre 48 8 6Le Crozet 76 18 4.8Les Saignes 119 30 3.9Cérès (?) 47 12 3.9Fonfoi 80 ? 17 4,3 ?Total 1100 253 4,3Assim, cerca da metade da populaçãoreside em unidades demográficascompreendendo pelomenos 8 casas e cerca de 50 pessoas.A população da vila parece ultrapassarligeiramente 10% dapopulação comunal. O aspectomais difícil da pastoral de Champagnatnão será, portanto, de atuarna vila e nas aldeias importantes,mas de alcançar os vilarejos maisafastados.André Lanfrey, fms 45


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 46<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS5.5. As «irmãsda congregação»Já vimos que o cura Rebod nãohabita sozinho, mas que seu presbitérioestá ocupado por cinco pessoas:ele próprio, sua mãe, sua irmã,um empregado e um vigário. Issopoderia ajudar a explicar por queMarcelino Champagnat, logo quechegou, se empenha em compraruma casa que lhe permita certa independênciaapostólica.Soubemos também que na vila há10 “irmãs da congregação” exercendoa tarefa de passamaneiras.Aparentemente pobres, pagam apenasuma requisição muito modestaem batatas. J. B. Galley 88 informaque em 1806 elas figuram, já em númerode 10, num quadro departamentaldas “Irmãs dedicadas à visitados pobres em domicílio e... à instruçãoda juventude”. Galley as classificaentre 244 “irmãs de São José”do departamento, este título não significandopertença a uma congregação,mas equivalendo, mais ou menos,a “beatas”.Em outra obra 89 , Galley cita umdocumento de 12 junho de 1795 quedescreve muito bem seu estatuto queremonta ao Antigo Regime:“As moças, geralmente pouco ricas,eram costureiras, fiteiras, varejistas, etc.;elas instruíam em toda a parte as meninas,sendo pagas conforme combina com seus pais;elas não faziam nenhum voto público queas privasse dos direitos civis; eram associadas,na entrada, por uma escritura passada perante onotário que constatava o dote que traziam... “.São, portanto, associações de direitoprivado, que foram muito ativasna resistência à revolução e, porisso, muitas vezes denunciadas pelasautoridades revolucionárias, quetendem a exagerar sua influência.Galley, que não gosta muito delas,também destacou seu papel, ao ladodas mulheres, dizendo:“Vemos essas irmãs das campanhastecendo fita sobre um pequeno tear, comoas pessoas pobres; procurando ensinar(às meninas e crianças pequenas)a ler as orações da diocesee as primeiras páginas do catecismo».Após a Revolução, várias dessascomunidades, por vezes parcialmenteconstituídas de Freiras idosas, se filiamàs congregações renascentes.Esse parece ser o caso das irmãs deLavalla, porque o Irmão analista informaque essa comunidade, fundadaem 1533, se juntou à Congregaçãodas Irmãs de São José de Lião em1803. Mas elas continuam a tomar ohábito e a fazer profissão em Lavalla.“O Padre Champagnat, sendo Vigário,presidiu muitas dessas cerimônias:via-se aí a sua assinatura” 90 .88 A eleição de Saint Etienne no final do Antigo Regime, St Etienne, 1903, p. 567.89 Saint Etienne et son district pendant la Révolution, St Etienne, 1907, t. 3 p. 85.90 Annales de Lavalla-en-Gier, fascículo transcrito pelo Ir. Louis Vibert, Lavalla, 2009, p. 38.46 I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 47mars 2013Ao fundar um grupo de Irmãos aomesmo tempo trabalhadores manuaise educadores, Champagnatcria uma obra semelhante para homense meninos.5.6. Les Palais,Champagnat eo jovem MontagneFoi nos Palais, aldeia situada noextremo-sul de Lavalla, na fronteiracom a paróquia de Tarentaise, queMarcelino Champagnat foi chamadopara atender o jovem Montagne 91 .Infelizmente, a quarta página do censode 1815, depois de anotar os habitantesdo Bessat, indica “Le Palais”,mas não dá nenhum nome, deixandoum espaço em branco de doiscentímetros necessários para descreverquatro lares dentre os quais,certamente, o de Montagne. Compreende-seque o recenseador nãotenha achado útil fazer um desviopara uma população tão reduzida ecuja fortuna julga provavelmente àalma dos habitantes do Bessat.Palais seriam, pois, um desses típicoslugares-fronteiras que dependemde duas autoridades distintas e,portanto, bastante abandonados,porque sem estatuto muito claro edistante demais do seu centro espiritualoficial. Em suma, a ignorânciareligiosa do jovem Montagne, que talveznão se deva exagerar 92 , seria aconsequência dessa situação marginal.A certidão de óbito do municípiodá alguns detalhes sobre o jovem eseu ambiente.“No ano de 1816 e em 29 de outubro, às 6h da manhã, na presença de Jean-Baptiste Berne, prefeitoe oficial de estado civil do município de Lavalla, cantão de Saint Chamond, departamento do Loire,compareceram François Montagne, carpinteiro de Palais, município de Lavalla, de cinquenta e setee Jean-Baptiste Montagne, diarista do dito lugar, de cinquenta e dois anos de idade,que nos declararam que Jean-Baptiste Montagne, filho de François Montagne e de Clémence Portafaleceu [ontem às 7h da tarde 93 ], em seu domicílio, em Palais, aos 17 anos de idade.De acordo com esta declaração e a apresentação do cadáver, redigimos o presente atestadocujos declarantes não puderam (sic) assinar por não saber fazê-lo, como se requeria.Berne, prefeito”. 9491 O relatório Bourdin fala de um menino ao pé do Pilat. Não é exatamente o caso do jovem Montagne,que habitava no planalto.92 É um agonizante que realmente não gozava mais da plenitude de suas faculdades.93 A parte entre colchetes, tendo sido esquecida, foi acrescentada no fim com a menção: “a nota aprovada”.94 Arquivos comunais de Lavalla.André Lanfrey, fms 47


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 48<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASO Pai e o tio paterno do jovemMontagne aparecem, portanto, comosem instrução e de condição econômicamuito medíocre.Atestado de óbito do jovem Montagne5.7. Os falecimentosdos jovensna mesma épocaO jovem Montagne não foi, certamente,o único jovem assistido, emseus últimos momentos, por Champagnat:o registro do estado civil, comefeito, dá estes óbitos durante seuprimeiro ano em Lavalla.48 I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 49mars 2013Data Nome Idade Lugar16 setembro 1816 J.B. Frécon 24 Les Fleurieux29 outubro 1816 J.B. Montagne 17 Les Palais17 janeiro 1817 J.C. Tardy 11 Les Palais24 maio 1817 G. Farat 20 La Petite Gerbe<strong>31</strong> maio 1817 F. Matricon 7 Laval7 julho 1817 F. Verney 24 Le Bessat26 setembro 1817 J.J. Chavanne 17 Les Mures5.8. O Bessat pobre,mas homogêneoMesmo se o encontro com J. B.Montagne teve um papel decisivo, éclaro que Champagnat se achoubem depressa diante de casos semelhantesque só puderam confortá-lona sua decisão. É por issoque, justificando junto ao Pe. Bourdinsua pressa em fundar os Irmãos,dirá simplesmente: “menino doenteao pé do Pilat” 95 , pensando emMontagne, mas realmente em muitosoutros meninos e jovens assistidospor seus cuidados. Eis por quena Vida o Ir. Jean-Baptiste fala aindade um menino de doze anos, semprecisar o lugar 96 .O Bessat, próximo de Palais, parecepobre, à primeira vista: ninguémali paga a retribuição em feno ou cevada.Por outro lado, quase todo omundo é capaz de atender às outrasrequisições, inclusive as viúvas. É, portanto,um povoado de condição econômicapobre, mas homogêneo,onde predominam os diaristas. Colocadoacima de 1.000 m de altitude,também vive em condições muitomais duras que o resto da paróquia esua produção agrícola é afetada.Quatro ou cinco trabalhadores saemdo lote, e dois pobres, incluindo umaviúva, só podem pagar um pouco.O BESSAT Estatuto Feno Centeio Cevada Aveia TrufasCl. Matrat + femme. guarda-florestal 7 4 8Jn. Tamet + f. Diarista 4 4 8Viúva Merlioux ? 3 2 6Maurice Vernay + f. (+ mãe) j. 6 4 695 OM2, doc. 754, § 6. Os Palais não estão ao pé do Pilat, mas no planalto.94 Vida, cap. 6 p. 56.André Lanfrey, fms 49


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 50<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASJn. Pichon + f. j. 4 4 6Math. Bertail + f. j. 6 6 8Jn. Bongrand + f. j. 4 4 6Ant. Gourdon + f. Lavrador 12 10 15Et. Furet + f. Lavrador 12 10 15J.B. Mathoulin + f. j. 2 2 6J.B. Drevet + m. j. 2 2 6Viúva. Colla ? 2 2 6J.B. Morel + f. j. 2 2 6Jn. Beraud j. 2 2 6J.B. Beraud + f. j. 2 2 6P. Dufour + f. j. 6Ant. Varnay + f. j. 4 4 5Ant. Sud + f. j. 2 2 6J.B. Macabeaud + f. j. 2 2 6Jn. Varnay + f. j. 3 2 9Viúva Tardy, dita Pentouery ? 9C. Pichon + f. Granjeiro 25 9Cl. Tardy dito Pentouery + f. ? (lavr?) 10 10 20Joseph Degraix ? (lavr?) 25 10 20Viúva Bredoux ? 4 4 8Viúva Casson, dito Lange ? 4 4 8Joseph Noir ? (j.?) 8 6 8Sabemos que lá por 1819, o Ir. Lourenço(Jean-Claude Audras) começaa exercer sua função de catequistaprofessornesse vilarejo e que depois(1820-22) ele substitui seu mano (Ir.Louis) em Marlhes, para voltar em1822-23 a Tarentaise, perto do Bessat,na escola latina do pároco Préher 97 ,de onde vai, aos domingos, catequizara gente do Bessat 98 .Essa atividade do Ir. Lourençonesses três lugares nos lembra quea sociedade do Bessat está menos97 Cartas de M. J. B. Champagnat, t. 2 repertórios, Roma 1987, p. 516.98 Vida, edição do bicentenário, p.76.50 I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 51mars 2013voltada para La Valla e Saint Chamonddo que para a meseta onde estãoTarentaise, Bourg-Argental e Marlhes,como também para a cidade deSaint Etienne à qual se chega por Tarentaisee Rochetaillée.Como o Bessat está sobre a viaoeste-leste de St. Etienne no vale doRódano, não é um lugar marginal –evidenciado pela população – mas umlugar de passagem para a economia,semelhante à de Marlhes: desativadapela altitude, mas não apresentando,como La Valla, íngremes encostasnem exposição pouco favorávelao sol. J. B. Galley indica que aíacontecem duas feiras por ano. A especificidadedo Bessat é tal que o povoadoserá constituído em comunaseparada de La Valla, a lógica administrativaunindo a lógica geográfica.A ligação com La Valla permanece,no entanto, com a encruzilhada daCroix de Chaubouret que conecta aparte superior de Lavalla com a autoestradaSaint Etienne-vale do Ródano.Para os Irmãos Maristas, essecruzamento não é sem importância,uma vez que, rapidamente, as escolasmaristas vão se espalhar primeirono Sul de Lavalla, o Bessat constituindouma espécie de balcão peloqual a congregação chega a ummeio que seu fundador conhece beme onde ele sabe que as necessidadessão grandes. Para os Irmãos, e particularmentepara o Ir. Lourenço,esse território representa um país demissão: embora corredor econômicorelativamente importante, está religiosamenteà margem da paróquia 99 .Finalmente, não se deve esquecerque foi perto do Bessat que o Pe.Champagnat e o Ir. Stanislas, perdidosna neve, são acolhidos pela famíliaDonnet.5.9. Os primeiros irmãose o recenseamentoJá falamos da família de Jean-Baptiste Rivat do lugarejo Maisonnettes.Em Pioré 100 , encontramos afamília de Jean-Marie Odrac (Audras),diarista, composta de 8 pessoas,que deu ao Instituto dois deseus primeiros Irmãos: Luis e Lourenço.101 Se ela não paga feno, elaoferece 12 unidades de centeio, umade cevada, 3 de aveia e quinze de batatas.Embora o nível econômico dafamília seja medíocre, a instruçãonão é negligenciada, já que o futuroIr. Luis lê o Pensez-y bien 102 , manualde devoção popular, que o incita aentrar nos FEC (Irmãos das EscolasCristãs).A família de Antoine Couturier,filho de Damien Couturier e MargueriteBois, entrada na comunidade em99 J. L. Barge assinala um caso de infanticídio no Bessat.100 Ortografia variável: Péorey hoje?101 O enumerador não menciona um menino e uma menina, mas termina com o pai ea mãe para 8pessoas.102 Biographies de quelques frères, 1868, p. 1.André Lanfrey, fms 51


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 52<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS1º de janeiro de 1818, reside na aldeiade Coingt, perto Maisonnettes, aoeste da comuna. O pai é o agricultor.A família tem três filhos e umafilha. É tributada em 12 unidades decenteio, uma unidade de cevada, 5de aveia e 15 de batatas, como a famíliaAudras.Barthélemy Badard, filho deJean-Marie Badard e Jeanne MarieTeillard (Cartas t. 2 p. 71) nasceu naaldeia de La Fara, no vale superiordo Gier. Seu pai é diarista. A famíliatem 5 meninos. Ela paga para todaa requisição 7 unidades de batatas.É uma família pobre em terras, que,sem dúvida, exerce atividades complementaresde artesanato.O Irmão Jean-Marie Granjon, primeirodiscípulo de Champagnat, sabemosque conheceu Champagnatem outubro de 1816, quando o procuroupara atender um doente de LaRive, povoado situado bem na parteinferior da comuna, na borda doGier, como seu nome sugere. Ocenso indica aí seis famílias. A viúvade Pitiot, que paga apenas 10 unidadesde batatas, explora ali um moinhocom a ajuda de um empregado.Ela tem um menino e uma menina.Jean-Marie Galley e sua esposatambém são moleiros. Eles têm umfilho, 4 meninas e um empregado.Foi provavelmente numa dessasduas casas que Jean-Marie Granjontrabalhou.O recenseamento ajuda, portanto,a perceber que os primeirosdiscípulos de Champagnat representambastante bem, do filho do lavradorao empregado, a hierarquiasocial de Lavalla.5.10. O senhor Basson,Burguês e amigode ChampagnatVimos que, sendo o único burguêsde Lavalla, o Sr. Basson é omais tributado pelas requisições.Viúvo ou solteiro e, em qualquercaso, sem filhos, é um dos poucoshabitantes da comuna a ter dois empregadosa seu serviço. O relatórioBourdin, escrito por volta de 1829(OM275§ 13), afirma: “O Sr. Basson,homem excelente, aconselhava eajudava o Padre Champagnat”. NaVida do Fundador 103 , o Ir. João Batistarelata que, em maio de 1824, oPe. Cholleton, vindo a l’Hermitagepara lançar a primeira pedra, foi almoçarna casa do senhor Basson,“que era um homem rico e grandeamigo dos Irmãos”.Essa amizade de um notável foi,portanto, preciosa para Champagnat.No entanto, como os livros de contanão indicam nenhuma transação financeiraentre os dois homens,pode-se supor que Champagnat recebeudele dons ou empréstimos quenão julgou útil lançar nos registros,sem contar que ele pôde ter sido be-103 Ed. do bicentenário, cap. 12, p. 120.52 I. As desordens da revolução e do império


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 53mars 2013neficiado por sua influência em Lavallae talvez nas suas relações com aburguesia de Saint Chamond.CONCLUSÃOLa Valla é, portanto, é uma comunadividida socialmente, economicamentee talvez culturalmenteem quatro conjuntos, correspondendo,mais ou menos, a quatro andaresdo seu habitat: a vila, a população divididaentre ricos e pobres, semclasse intermediária consistente; asaldeias da parte inferior da comuna edo oeste voltadas para Saint Chamond,bastante abastadas; a partesuperior da comuna, na orla da floresta,muito mais pobre; finalmente,a borda do planalto, de riqueza medíocre,mas bastante homogênea eem relação com St. Etienne, o vale doRódano ou o planalto.O Instituto nascente dos IrmãosMaristas colonizará prioritariamenteesse espaço de montanha antes deatravessar o vale do Gier para se instalar,em 1823, em Saint Symphorienle Château, sobre esse outro planaltoque são os Monts do Lyonnais. Finalmente,a instalação em l’Hermitagesignificará a vontade de se abriraos espaços de planícies e valespara as populações mais numerosase de acesso mais fácil, sem para tantorenegar a fase precedente.André Lanfrey, fms 53


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 54Para Saint ChamondLA VALLA EM 1815Aldeolas ricasSituação contrastadaAldeolas pobres


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 55ESTUDOSII.A VIDA MATERIALDOS IRMÃOSEM LAVALLAAndré Lanfreyfms1. O TEMPO DE LAVALLA(1816-25)A Vida do Pe. Champagnat, segundoo Ir. João Batista, continuasendo um documento insubstituívelpara o conhecimento dos primeirosanos do Instituto, porque vem fundamentadasobre os testemunhosdos atores e testemunhas dessa história.Infelizmente, sua cronologia éapenas aproximativa.Ensaio de cronologia55


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 56<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASSobretudo, a Vida reflete largamentea tradição oral dos Irmãos Maristase oferece interpretações muitasvezes parciais, ou com parcialidade,sobre as pessoas e os acontecimentos.Por exemplo, ela depreciao personagem Bochard que pareceter mais protegido do que combatidoChampagnat e se mostra umpouco demais elogiosa para comMons. De Pins. De quando em quando,ela coleciona os testemunhos relatandoo mesmo fato e dando a impressãode que se trata de acontecimentossucessivos. Outras vezes,ela embaralha dois acontecimentosdistintos. É o caso dos ataques contraa obra de Champagnat: um provenienteda paróquia de Lavalla, muitoprovavelmente em 1819, do qualChampagnat parece ter triunfado facilmente;o outro, vindo de SaintChamond, muito mais sério.Além disso, a Vida projeta sobreos anos da fundação a organizaçãoque o Instituto vai conhecer depois de1840, sabendo-se que, durante osanos de Lavalla, os Irmãos de Mariaainda não são uma Congregação,mas uma associação de leigos semestatuto definido. Nessa época, aspalavras «irmão» e «noviciado» aindanão têm o sentido preciso que vão terum pouco mais tarde, e ainda não hávotos. Aliás, numerosos párocos,como o Pe. Allirot, pároco de Marlhes,consideram Lavalla como uma escolanormal de professores, e os irmãosde suas paróquias como professoresde escola, sob sua exclusiva autoridade.E há alguns irmãos que pensam,mais ou menos, como eles.Será necessária toda a convicção deChampagnat e de seus irmãos maisfiéis, bem como o apoio das autoridadeseclesiásticas diocesanas, parafazer entender que sua obra é maisambiciosa do que uma simples escolade formação à pedagogia dos Irmãosdas Escolas Cristãs.O fundamento que permite superarrudes provações à obra dos Irmãosde Maria é, evidentemente, oFormulário marista de 1816 do qual aVida de Champagnat fala muitopouco, porque, na tradição dos Irmãos,o fato fundador é 2 de janeirode 1817. E, além disso, é lentamente,durante os anos de Lavalla, queChampagnat adquire, à luz dosacontecimentos, a certeza de quesua obra é querida por Deus. A fidelidadedos irmãos em 1820, o apoiode Bochard, por ambíguo que seja, ea chegada dos postulantes deHaute-Loire, em 1822, são etapasimportantes na aquisição dessa convicção.A cronologia que segue, baseadanuma leitura crítica da Vida do PadreChampagnat e iluminada pelos documentoshistóricos das “OriginesMaristes” e de outras fontes como osAnais do Instituto do Irmão Avit, nãopretende evidentemente conseguiruma exatidão absoluta, mas desejadar uma visão de conjunto daquiloque ainda não é uma congregação,mas uma associação de leigos apostólicos,partilhando os planos de umsacerdote inspirado. Pareceu-nossensato propor três eixos principaispara esse período.56 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 57mars 2013Champagnat:o sacerdote, o Fundador1. O PROJETO (1816)22 de julho de 1816: Padre Champagnaté ordenado padre12 de agosto: Champagnat é nomeadopara Lavalla. Assumesuas funções alguns dias maistarde.Champagnat, os irmãos e aSociedade de Maria1816: Redação do Formulário.Champagnat deseja um ramo deIrmãos na Sociedade de Maria.23 de julho: Consagração dosprimeiros Maristas, em Fourvière.Catecismo e escola2. OS ENCONTROS DE FUNDAÇÃO (outubro-novembro de 1816)28 de outubro: Champagnat assisteo jovem Montagne.26 de outubro de 1816: 1º encontrocom J. M. Granjon2 de novembro: encontro comJ. B. Audras - Champagnat3. UMA OBRA PAROQUIAL CATEQUÉTICA E CARITATIVA (1816-1818)Fim de 1816: Aluguel de umacasa do Sr. BonnerChampagnat e Courveille comprama casa Bonner, em 1° deoutubro 1817. O pároco vai empenhar-seem anular esse ato.Abril de 1818: A casa é definitivamentecomprada.2 janeiro-fim de março 1817: noviciadodos dois primeiros discípulostermina com a tomada dehábito.Dezembro 1817- janeiro 1818:J. C. Audras e A. Couturier entramem Lavalla.Maio de 1818: B. Badard e G. Rivatentram em Lavalla.15 de agosto de 1818: Tomadade hábito de J. C. Audras e A.Couturier.É um grupo fervoroso com objetivocatequético, no espírito daSociedade de Maria.Provavelmente, depois da festade Todos os Santos 1817, os irmãoscomeçam a dar catequesenos bairros, aos domingos, e o Ir.Jean-Marie reúne crianças pobrespara alimentá-las e educá-las.4. OPÇÃO PELA ESCOLA E A MODERNIDADE PEDAGÓGICA (1818-1819)Em torno à Festa de Todos osSantos, 1818, Champagnat instalano povoado de Sardier umjovem professor, Maisonneuve,que aplica o método simultâneo.Na mesma ocasião, fundação daescola de Marlhes.André Lanfrey, fms 57


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 58<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS1818-1819. Polêmica entre Champagnate o pároco que mantémseu professor.Pe. Champagnat ensina latim aalguns pensionistas.Durante o ano escolar 1818-1819,na vila, a obra dos irmãos fazconcorrência à escola pública doprofessor Montmartin.No dia 8 de setembro, vestiçãode Barthélemy Badard e de GabrielRivat (5º e 6º irmão respectivamente)Verão de 1819: O professor davila, Montmartin se retira.Maisonneuve o substitui, a partirda festa de Todos os Santos. Oensino do catecismo, nos povoados,continua.5. CHAMPAGNAT SUPERIOR DE UMA COMUNIDADE (1819)1819: Ataque local contra Champagnat:reunião ilícita de jovens edesvio de esmolas. (OM2, doc.754)Champagnat se justifica junto aoPadre Bochard que mantém oficiosamentesua obra.No fim de 1819, o Pe. Champagnatvem morar com os seis irmãosque formam comunidadedirigida por J. M. Granjon. Tomadade hábito de Etienne Roumésy(Ir. Jean-François) em dataindeterminada.Todos os Santos, 1819? O Ir. Lourenço,no Bessat.Todos os Santos 1819? Irmãosvão ensinar, diariamente, duranteo inverno, nos povoados de Luzernaude Chomiol (Vida).6. O APOIO DAS AUTORIDADES DIOCESANAS E DOS IRMÃOS FACE AOS ATAQUES (1820)1820: o Diretor do colégio deSt. Chamond e o Pe. Dervieuxacusam Champagnat de manterum colégio clandestino. Ameaçade dissolução da obra e transferênciade Champagnat.Os Vigários Gerais Bochard eCourbon não seguem a opiniãodo Padre Dervieux.Champagnat para de ensinar latim.O apoio dos irmãos e das autoridadeseclesiásticas ajuda a persuadiro Pe. Champagnat de quesua obra é da vontade de Deus.(Mémoire Bourdin)Todos os Santos 1820: Fundaçãoda escola de St. Sauveur. A criseparece superada.7. UMA CRISE DE CRESCIMENTO (1820-21)1821-22: o Vigário Geral Bocharddeseja integrar os Irmãos de Mariana obra diocesana dos Irmãosda Cruz de Jesus.O recrutamento em Lavalla pareceesgotado e as vocações origináriasde outros lugares sãomuito raras: Antoine Gratallon (Ir.Bernard) entra no Noviciado, em30 de novembro 1821 1 e ClaudeFayol, em 12 de fevereiro de 1822.A escola de Bourg-Argental abreem janeiro de 1822.J. M. Granjon é afastado de Lavalla.1 A cronologia indica novembro de 1820, mas o registro dos votos temporários indica 30 de novembrode 1821 (OFM/ 3 p. 172).58 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 59mars 20138. RUMO A UMA CONGREGAÇÃO ENSINANTE DIOCESANA (1822-1823)28 de março 1822: Um ex-irmãodas Escolas Cristãs traz oito jovens.Depois de reunião com osirmãos, Champagnat decide recebê-los.O inspetor Guillard visita a casaem abril de 1822 e constata queChampagnat instrui uma quinzenade jovens camponeses. O párocorecrimina Champagnat por constituiruma congregação.A obra de Champagnat está sujeitaa Bochard. Mas os opositoresaos Vigários gerais manobrampela eleição de umsubstituto para o cardeal Fesch.Maio de 1822: Fracasso de umatentativa de fusão entre os irmãosdo Pe. Rouchon, estabelecidosem Valbenoîte.Verão de 1822: Aumento da casade Lavalla.Com dois irmãos, o Pe. Champagnatpercorre os arredores deLavalla para encontrar um novolocal para a obra (Vida).Fim de 1823 - início de 1824: Pe.Seyve, aspirante marista, vemajudar o Pe. Champagnat.Primavera de 1822: O Ir. J. M.Granjon passa um período natrapa d’Aiguebelle.Verão de 1822: Fechamento daescola de Marlhes.1823: Fundação das escolas deVanosc, Saint Symphorien-le-Château e Boulieu.Fechamento de Tarentaise, ondetrabalhava do Ir. Lourenço.9. AFIRMAÇÃO DE UMA VOCAÇÃO DIOCESANA (1824-25)22 de dezembro de 1823: Mons.de Pins é anunciado como administradorapostólico de Lyon.Em 18 de fevereiro 1824, tomaposse da diocese de Lyon. Protestoe exílio do Pe. Bochard.3 de março de 1824 - Dom dePins recebe o Pe. ChampagnatA obra dos Irmãos de Maria livreda influência de Bochard.Maio de 1824, Pe. Seyve, que teriafeito oposição ao pároco deLavalla, se indispõe com o Pe.Champagnat que pede ao arcebispadopara nomear o Pe. Courveillecomo padre auxiliar.13 de abril: o arcebispado autorizaChampagnat a comprar propriedadesno lugar chamado LesGaux.13 de maio: o Pe. Champagnat eCourveille compram as propriedadesde Les Gaux.Junho de 1824: Courveille se instalaem Lavalla.19 de julho: Publicação do prospectoda congregação dos PequenosIrmãos de Maria.André Lanfrey, fms 59


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 60<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASOs Pequenos Irmãos de Mariasão considerados pelo arcebispadocomo a congregação diocesanade Irmãos.Novembro: Champagnat entregasua função de coadjutor na paróquia.Maio-outubro: Construção dacasa de l’Hermitage com a ajudados irmãos.Outubro: O Pe. Champagnat dáaos irmãos um « Pequeno Escrito» sobre o espírito do Instituto(Vida).Inverno de 1824-25: Arranjo eacomodação da casa de l’Hermitage.Maio de 1825: A comunidade deLavalla se instala em l’Hermitage:20 Irmãos e 10 postulantes. 22 Irmãosnas escolas.Todos os Santos 1824: as fundaçõesde Chavanay e Charlieu 2Lavalla continua apenas comoescola onde dois irmãos ensinamdurante o inverno.O berço do Instituto depois de 1822. Quadro2 Esta, sob ordem da diocese, é para fazer frente à influência de Bochard.60 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 61mars 2013Bulletin de l’institut (1913)2.IRMÃOS EPENSIONISTASEM LAVALLAE EM L’HERMITAGE(1817-1827)As Cartas de Champagnat e asOrigens Maristas constituem paranós uma base de documentaçãofundamental. ‘Origine des FrèresMaristes’, conjunto de todos os documentosconcernentes ao Pe.Champagnat e às primeiras décadasdo Instituto, publicado em 2011, completaesse importante ‘corpus’, tornandoacessíveis os numerosos registrose livros de contas, já conhecidos,mas ainda pouco explorados.Este artigo será, pois, em boa parte,baseado nesses documentos quemereceriam um estudo sistemático.2.1. Vista de conjuntosobre os registros1. Primeiro registro de matrículados postulantes(OFM/1, doc. 105, p. 297-<strong>31</strong>0)Começou em 28 de março de1822, com a chegada dos postulantesde Haute-Loire, termina em 26de novembro de 1824. Ele traz, pois,André Lanfrey, fms 61


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 62<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASos nomes dos postulantes, a datade chegada, os valores que eles depositam,eventualmente suas saídase os livros, papéis e canetas que solicitamao encarregado da casa, emvista de seus estudos. É, pois, decerto modo, uma crônica de Lavallapor quase três anos.2. Registro das inscrições(OFM/2, doc. 142-153, p. 3-247)(1822-1848)Este segundo Registro reescreveparcialmente o primeiro e, sobretudo,o prolonga, anotando as entradas esomas depositadas pelos noviços eos pensionistas. Mantido até 1838 peloPe. Champagnat, o Registro indica, namaioria das vezes, o nome do postulante,sua paróquia de origem, suaidade, o nome de seus pais e mães,suas intenções (noviço ou pensionista),as quantias que deposita parasua formação. Encontramos aí o funcionamentocomplexo que acreditávamosperceber antes de 1822: noviciado,pensionato, orfanato, escola.Contentar-nos-emos em estudar,aqui, os anos de 1822-1827.3. Registro das vestições(OFM/3, doc. 497-568 p. 4)(1824-1858)Começado de fato em 1822, nãoassinala as vestições daqueles quetinham saído antes dessa data. É,assim, relativamente pouco útil paraum estudo dos anos de 1822 a 27.4. Registro dos votos temporários(OFM/3, doc. 569-574, p. 171-242)(1826-1841).É muito útil para um estudo dosanos anteriores a 1826, porque osnovos professos indicam em sua declaraçãoas datas de entrada nacasa e as de sua vestição.5. Registro dos votos perpétuos(OFM/3, doc. 575-598, p. 244-300)(1826-1858)Como o Registro precedente,permite de retornar, parcialmente, àsorigens do Instituto.6. Registro mortuário(OFM/3, doc. 599-603, p. 301-361)(1825-1875)É um complemento dos outrosregistros porque assinala a mortedos irmãos, a partir de 1825.2.2. De 1817 a 1822:dez irmãos?O Instituto conservou a lembrançade dez irmãos que entraramna obra, durante os cinco primeirosanos de sua existência. Os seis primeiros(1817-1818) nasceram em Lavalla,onde moram. Os últimos (1818-1822), vindos de outros lugares e, àsvezes, de bastante longe, mostramque a obra, de início apenas paroquial,começa a estender-se modestamente.62 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 63mars 2013Nome Nascimento Lugar Noviciado HábitoJ.M. Granjon 1794 Doizieu 2/1/1817 Fim de março 1817(Ir. João Maria)J.B. Audras 1802 Lavalla 2/1/1817 Fim de março 1817(Ir. Louis)J.C. Audras 1793 Lavalla 24/12/1817 15/8/1819?(Ir. Lourenço)Antoine Couturier 1800 Lavalla 1/1/1818 15/8/1818(Ir. Antônio)B. Badard 1804 Lavalla 2/5/1818 8/9/1819(Ir. Bartolomeu)Gabriel Rivat 1808 Lavalla 6/5/1818 8/9/1819(Ir. Francisco)Etienne Roumésy ? ? 1819 1820(Ir. João Francisco)Antoine Gratallon ? Izieux 1820 11/11/1822(Ir. Bernardo)Claude Fayolle 1800 Saint Médard- 2/2/1822 25/10/1822(Ir. Estanislau) 3 .en-ForezJ.P. Martinol 1798 Burdigne 1821 1823(Ir. João Pedro) 42.3. Tomada de hábitoe promessaSegundo o Ir. João Batista, desdeas origens, os irmãos fazem umapromessa de se consagrar, porcinco anos, à educação das crianças.5 Mas essa não coincide, necessariamente,com a tomada dehábito. Assim, a Vida relata (p. 158)que o Ir. Luís, que recebeu o hábitoem março de 1817, assustado comas obrigações dessa promessa, recusaa assiná-la em 1818, enquantoo Ir. João Maria dá o passo e se inquietapor essa reticência.Nos primeiros anos de Lavalla, aadesão à obra dos Irmãos de Mariapodia, pois, comportar duas etapasdistintas. Isso é muito verossímil porquea narrativa da Vida sugere que os3 Ele foi orientado a ir a Lavalla por seu pároco.4 Biographies de quelques frères, Lyon, 1868, p. 41-49. Recrutado pelos Irmãos de Saint Sauveur enRue, morre em 1825.5 Ver os textos da promessa na Vida, cap. 15, p. 157 e em OM1, doc. 168.André Lanfrey, fms 63


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 64<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASirmãos do início eram relativamentenumerosos, 6 considerando-se quea tomada de hábito dava direito ao títulode “irmão” sem que, para isso,aquele que o revestia se comprometessepor um ato formal. Esse poderiaser o caso do professor ClaudeMaisonneuve, vivendo com os irmãos,provavelmente em 1819-1820,e que Champagnat afasta devido à“sua conduta irregular e demasiadomundana” (Vida, cap. 7, p. 75). Teriaele revestido o hábito da sociedadesem ter feito promessa, e outros teriamfeito o mesmo? A história do Institutoteria então, no período anteriora 1822, conservado apenas o nomedos irmãos que, além de receberemo hábito religioso, também se comprometeramformalmente com a sociedadee nela perseveraram porum período significativo.2.4. Entrada na casae entradano noviciadoA entrada na casa dos irmãos nãosignifica, necessariamente, entradano noviciado. Esse parece ser ocaso de Gabriel Rivat (Ir. Francisco)que faz sua primeira comunhão aosdez anos, no dia 19 de abril de 1818,e entra na casa em 6 de maio de1818. Entretanto, como a Vida (p. 68)precisa que Champagnat começa adar-lhe lições de latim, o que não oprepara a ser irmão, G. Rivat deveter sido, durante algum tempo, umsimples pensionista. Aliás, ele nãorecebe o hábito a não ser no dia 8 desetembro de 1819, ou seja, dezesseismeses mais tarde.Terá ele feito uma promessa,nesse momento? Essa perguntacabe porque tal ato é dirigido, emprincípio, a pessoas com mais autoridade.Ainda que de direito privado, apromessa tem consequências práticascomo a colocação em comumdos bens e a ausência de remuneraçãopelo trabalho feito. Esse problemaconcerne, aliás, à metade dosprimeiros irmãos que são menores,no momento da vestição. Se esta nãoé acompanhada por uma promessa,é preciso supor um acordo com ospais e mesmo um acerto financeirocom eles.Nome Ano de Tomada Idade no momento danascimento de hábito tomada de hábitoJ.M. Granjon 1794 Fim de março 23(Ir. João Maria) 1817J.B. Audras 1802 Fim de março 15(Ir. Luis) 1817J.C. Audras 1793 15/8/1819 24(Ir. Lourenço)6 Ele os envia dois a dois para os povoados (Vida, cap. 7, p. 82): “Um irmão formado e um noviço”(Vida, p.109). Trata-se de um jovem irmão de 13 ou 14 anos do qual a tradição não conservou o nome.64 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 65mars 2013Nome Ano de Tomada Idade no momento danascimento de hábito tomada de hábitoAntoine Couturier 1800 15/8/1818 18(Ir. Antônio)B. Badard 1804 8/9/1819 15(Ir. Bartolemeu)Gabriel Rivat 1808 8/9/1819 11(Ir. Francisco)Etienne Roumésy ? 1820 Provavelmente(Ir. João Francisco)maiorAntoine Gratallon 1803 11/11/1822 19(Ir. Bernard)Claude Fayolle 1800 25/10/1822 22(Ir. Estanislau) 7J.P. Martinol 1798 1823 25(Ir. João Pedro) 82.5. A questãoda «herança»A natureza desses acordos eacertos é sugerida pelo Padre Rebodque, em 1822, recrimina aChampagnat o fato de constituir umacongregação, requerendo a herançados irmãos; e no prospeto de 1824está previsto ainda que o noviçotraga consigo a herança, a ser devolvidase ele deixar a sociedade,descontadas as despesas que tiverocasionado. Parece, pois, que aomenos alguns dos dez primeiros irmãostenham feito esse tipo de contrato,comprometendo-se a partilharseu patrimônio com os coirmãos,caso dele já dispusessem ou mesmose ainda esperassem recebê-lo.2.6. Três estatutosna comunidadeA comunidade de Lavalla funcionaria,pois, segundo três estatutos:ao entrar na casa, o jovem veste ohábito civil e paga uma pensão, emvista da instrução: é um postulante.Se estiver contente em sua condiçãoe der sinais de vocação, a tomadade hábito fará dele um irmão, facilmentereconhecível, mas, a menosque tenha feito sua promessa porocasião da vestição, ele será apenasum noviço e deve ainda pagar porsua formação. Jean-Claude Audras(Ir. Lourenço) está talvez nessa situação:ele declara ter entrado nonoviciado em 24 de dezembro de1817, mas ter recebido o hábito so-7 Ibid, p. 58-73. Ele foi enviado a Lavalla por seu pároco.8 Biographies de quelques frères, Lyon, 1868, p. 41-49. Recrutado pelos Irmãos de Saint Sauveur enRue; morreu em 1825.André Lanfrey, fms 65


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 66<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASmente no dia 15 de agosto de 1819, ouseja, dezoito meses mais tarde, o queé um tempo de provação bastantelongo. Como é maior de idade e vai,em seguida, evangelizar sozinho noBessat, pode-se pensar que sua tomadade hábito tenha sido acompanhadade uma promessa.O caso de Jean-Pierre Martinol (Ir.João Pedro), natural de Burdigne,perto de Saint Sauveur-en-Rue, éainda específico. O Ir. Avit (Anais dasCasas §17) diz que entrou em 1818, aopasso que sua biografia 9 demonstraque não pôde vir a Lavalla, antes de1821. No entanto, essa mesma biografiaexplica a divergência, precisandoque Martinol começa a viverna comunidade de St. Sauveur antesde ser enviado ao noviciado. Teria entãoentrado com os irmãos em 1818, eno noviciado em 1821. Nomeado diretorda escola de Boulieu, no dia de Todosos Santos de 1823, tomou o hábitoem 1822 ou 1823. Como é diretor,terá certamente feito a promessa antesde assumir a função.2.7. Hábito azulou hábito pretoEm 1822, o inspetor Guillard descreveuassim o hábito dos irmãos emBourg-Argental: “O traje deles consistenuma sobrecasaca preta comum grande manto» (OMI, doc. 75 § 3).Passando por St. Sauveur, ondeatuam «dois irmãos de Lavalla”, ele vêo “sr. Badard” sem mencionar seuhábito, o que significa que tambémera preto. Quando chega a Lavalla,não encontra ali nenhum irmão. EmFeurs, onde há dois irmãos de Courveille,ele constata: “Eles usam umavestimenta semelhante, quanto àforma, àqueles de St. Sauveur e deBourg-Argental; mas a sobrecasaca,aqui, é azul celeste, abotoada comouma batina, com uma gola (rabat)preta bem grande”. Dessa observaçãodeduziu-se que teria sido Courveillea impor o hábito azul em l´Hermitage.Pode-se, em todo caso,afirmar que a sobrecasaca dos irmãosde Champagnat é abotoadanormalmente e não se assemelha,como a de Courveille, a uma batina:trata-se de um hábito civil (leigo).Então, hábito preto ou hábito azul,em Lavalla, no ano de 1822? Sejacomo for, o Ir. Avit escreve (1822 § 35)que 7 irmãos «tomaram o traje azul,em 1823» e quatro outros (§ 76, p. 81),em 1824-26. Para ele, é apenas em1827 que dez irmãos revestiram “ohábito religioso”» (§ 70, p. 74).Mais adiante, ele traz um testemunhoafirmando que foi depois da visitado Bispo de Pins (primavera de1824) que Champagnat teria mudadoa forma e o hábito dos irmãos «paratorná-lo mais religioso» 10 . Mas nessaépoca, Champagnat tem outros motivosde preocupação e é também achegada do Pe. Courveille, consideradocomo o portador do hábito azul.A data de 1827, como passagem do9 Biographie de quelques frères, 1868, p. 41).10 Annales de l’Institut, 1828 § 74.66 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 67mars 2013azul para o preto, é mais verossímil. Efoi sem dúvida nesse ano que: “O azulfoi substituído pelo preto, a calça porcalções ou bermudas, a sobrecasacapela batina que ia até o tornozelo eera abotoada até embaixo.” 11A batina costurada parece surgirem 1829 sem suscitar muita controvérsia,contrariamente às meias depano e ao método de leitura. Aindadurante bom tempo, os noviços nãorecebem o rabat a não ser no fim donoviciado. O cordão se recebe naemissão dos votos temporários(1826) e a cruz no dia da profissão(1828 § 74). O hábito azul desaparecelentamente porque o Ir. JoãoJosé (Jean-Baptiste Chillet) que iniciarao noviciado em 4 de julho de1826, e recebera o hábito azul em 11de outubro do mesmo ano e fizeraseus votos perpétuos em 2 de fevereirode 1830 12 , deixa o “hábito azulde Lavalla” por último, em 1838. Maso Ir. Avit menciona esse fato para sublinharo devotamento desse Irmãoencarregado da rouparia e que vestetodo o mundo antes dele mesmo.2.8. Uma hipótesesobre o hábitoExiste, pois, uma contradiçãoaparente entre o testemunho irrefutáveldo inspetor Guillard que fala dehábito preto, em Bourg-Argental eSaint Sauveur, e de hábito azul, emFeurs, enquanto a tradição dos irmãos,registrada pela Vida, 13 e o Ir.Avit evocam o hábito azul, antes dachegada de Courveille a Lavalla.Pode-se supor que os irmãos tenhamusado, por algum tempo, osdois hábitos, sendo o azul aqueledos noviços e o preto distinguindo osirmãos que tinham feito sua promessaou (e) estando ocupados nasescolas. Esse traje azul, parecidocom o uniforme dos colegiais, poderiater feito acreditar que Champagnatconstituía, em Lavalla, umcolégio concorrente àquele de SaintChamond. E a denominação “irmãosazuis” surgiria do fato de a populaçãover muito mais irmãos em azuldo que em preto. Além disso, o azulse distingue mais do traje leigo, geralmenteescuro ou preto.Ainda, quando o Pe. Champagnatdá aos irmãos, em 1827, uma batinapreta abotoada, aproximando-se dohábito eclesiástico, ninguém pensaem revoltar-se como se essa cor nãoconstituísse problema. Escolhendoum hábito preto para todos, Champagnatvai generalizando progressivamenteuma cor de hábito, até entãoreservada a certa elite. Ao mesmotempo, a introdução dos votos, apartir de 1826, relativiza, progressivamente,a importância da promessa,enquanto o cordão para os professostemporários e a cruz para os11 Ibid.12 OFM/3, p. 257.13 Vida, cap. 6, p. 70. Ver a nota que sintetiza o artigo de Pierre Zind no «Bulletin de l’Institut», t. XXI,p. 536.André Lanfrey, fms 67


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 68<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASprofessos perpétuos criam novasdistinções visíveis.2.9. O Ir. Silvestree o hábitoO caso do Ir. Silvestre, no entanto,nos leva a ir mais longe nessa questão.Nos Anais do Instituto, o Ir. Avit registraque, entrado em l’Hermitage, emmarço de 18<strong>31</strong>, esse Irmão recebeu abatina em 15 de agosto de 18<strong>31</strong>, naidade de 12 anos e meio. E ele acrescenta:“Uma criança, mano do Ir. Gregório,fez sua primeira comunhão e recebeuo hábito no mesmo dia, 14 naidade de 9 anos, no mesmo ano receberao nome de Ir. Basile”. Como,contrariamente ao Ir. Silvestre, esse Ir.Basile não consta no registro dasvestições e é verdadeiramente demasiadojovem, o hábito que ele recebeunão é, provavelmente, a batina,mas o hábito azul. Impressiona, alémdisso, que esse menino tenha já onome de irmão, como se revestir umuniforme significasse a primeira providênciade entrada na Congregação. OIr. Silvestre, tudo indica, vestiu um hábitosemelhante, durante os poucosmeses de seu noviciado.Tendo recebido a batina, o travessoIr. Silvestre, convocado para cortaros cabelos de seu companheiro, lhefaz uma tonsura e, a falta tendo sidodescoberta no exercício da culpa, umirmão mais antigo preconiza que sejaprivado, por certo tempo, de sua batina,o que veio a ser a ordem do PadreChampagnat. 15 O Ir. Avit não precisaque tipo de hábito o Ir. Silvestreentão usava, mas poderia ser o hábitoazul. A lição é clara: aquele que secomporta como criança retoma o hábitodas crianças. E é por isso que “oIr. Silvestre não estava orgulhoso”.Mas a história não termina ali: o Ir.Silvestre conta como ele conseguiu recuperarsua batina 16 . O Padre Cattet,Vigário geral, visitando l’Hermitage e“vendo que havia, na sala, vários jovensirmãos, começou a interrogá-lossobre o catecismo”. O Pe. Champagnatsugere então ao Ir. Silvestre de declarara ele sua culpa, diante de todoo mundo, e Cattet o autoriza a retomaro hábito religioso. Mas o essencial nãoestá ali: Pe. Cattet reconheceu facilmenteos jovens irmãos reunidos,certamente por causa de seu porte, desua aparência, mas também por seuhábito. Somos tentados a dizer que setratava do hábito azul, visto que o Pe.Champagnat aproveitou a ocasiãopara obrigar o Ir. Silvestre a um ato queprovasse que ele era digno de usar novamenteo hábito religioso.Este testemunho do Ir. Silvestre é,pois, de interpretação delicada porquefaz entender que o uso de um hábitoespecial para os noviços, que poderiaser o hábito azul, se perpetua há bastantetempo. Assim, em torno de 1832,14 Aquele de sua primeira comunhão.15 Em Frère Sylvestre raconte Marcellin Champagnat, p. 239, o autor precisa que o Pe. Champagnato considera um pouco jovem. Ele mesmo conta esse episódio (p. 246).16 Frère Sylvestre raconte… p. 24668 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 69mars 2013quando o Ir. Silvestre deve tirar sua batina,não encontra, certamente, suasvestes laicais porque ele não foi mandadopara casa, mas apenas rebaixadopara noviço. Esse uso de um hábitoespecífico, eventualmente azul, ameio caminho entre a veste laical e abatina, explicaria também que “durantebastante tempo ainda os noviçosnão usavam o rabat, antes da saída donoviciado”. 17 O uso da vestimenta azule a necessidade de uniformização, noentanto, devem ter conduzido à generalizaçãoda batina preta que pareceestar concluída em 1838. Entretanto,o caso do Ir. Silvestre não é único;e, segundo parece, uma vez generalizadaa batina, “o rabat não era permitidoaos noviços a não ser quandosoubessem bem suas orações. Elelhes era tirado frequentemente, comopunição, bem como a batina”. 182.10. OS PENSIONISTASDE 1819 a 1822Esta questão do hábito nos levou umpouco longe e é conveniente retornar aotempo de Lavalla quando, além dospostulantes, dos noviços e dos Irmãoscomprometidos por uma promessa,há a categoria dos pensionistas, evocadosnum documento tardio, masprecioso: a carta de Joseph Violet, habitantede Doizieu, em 19 de novembrode 1888, contido no processo diocesanode beatificação. 19 Nascido em 24 deabril de 1807, ele afirma ter entrado emLavalla, no fim de 1819, provavelmentena Festa de Todos os Santos, e ter permanecidopor dois anos; sua estada, noentanto, parece ter durado um ano amais, porque afirma ter sido testemunhada ampliação de Lavalla, o que aconteceuno verão de 1822.“... Eu nasci em Malval. Minha mãe, já viúva, colocou-me como pensionista, em Lavalla, em fins de 1819. Alifiquei por dois anos inteiros, sob a direção dos Irmãos Etienne (Roumesy) e Francisco (Gabriel Rivat); oprimeiro era diretor e o segundo era meu professor, porque eu estava muito atrasado. Éramos, nessa época,dois internos e dormíamos com os Irmãos. Meu companheiro de pensão tinha o sobrenome de Tissot, dePlagny 20 , e estudava latim sob a direção do Pe. Champagnat. Este último o dirigia com energia, por causa dagrande negligência que tinha em seus deveres.Vi uma grande parte dos aumentos de Lavalla. O Pe. Champagnat atuava em todos os trabalhos deconstrução, alvenaria, madeiramento, etc. e saía-se muito bem. Um dia, foi desafiado por seu pároco a levantaruma grande pedra com o pedreiro que o ajudava e conseguiu colocá-la no devido lugar.Enquanto eu estava na casa, chegou um grupo de 10 jovens. Por causa do regime escasso que tínhamos, elesdesapareceram no dia seguinte; permaneceram dois, dos quais um era manco.Nosso regime alimentar constava de uma sopa, bastante abundante, e uma pequena porção de guisado17 Annales, 1828, § 74.18 Annales de l’Institut, 1840, § 704.19 Enquête diocésaine. Témoignages sur Marcellin Champagnat, apresentado pelo Ir. A.C. Carazo,Roma, 1991, 17ª sessão, p. 85.20 Arredores de Lavalla.André Lanfrey, fms 69


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 70<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAScom pão mal cozido; como bebida, tínhamos água. Às 4h da manhã, o Padre Champagnat gritavade seu quarto: “Benedicamus Domino” e respondíamos: “Deo gratias”. Em seguida, nos dirigíamoso mais rapidamente possível para a oração. Entre 6 e 7 horas, participávamos da missa que ele celebravacom grande devoção. [...]Ele era muito querido em Lavalla e, todos os domingos, víamos pessoas que vinham para trazer frutas eoutras mercadorias. Todos os dias ele visitava a escola e observava nosso trabalho. Dava-nos o catecismoe colocava grande emulação, dando com frequência recompensas àqueles que se distinguiam”. 21A riqueza desse documento éconsiderável porque oferece detalhessobre a vida da comunidade que, dificilmente,se encontram em outro lugar.Assim, o gênero de vida dos pensionistasnão parece muito diferentedaquele dos Irmãos e a gente podese perguntar, com algumas ressalvas,se eles não eram confundidos com osnoviços, dado que os Irmãos Roumésye Francisco assumiam a tarefade instruir uns e outros. Entretanto, J.Violet parece seguir também a escolada cidade. Seu relatório dá a impressãode um estatuto misto: vidacom os Irmãos à mesa e no dormitório;estudos de base com os meninosda cidade, mas aulas com o Pe.Champagnat e os dois Irmãos já citados22 que parecem capazes dedar-lhes um estudo mais avançado.2.11. Os pensionistasde 1823 a 1827O segundo registro das inscrições23 (OFM/2, p. 5) dá uma visão interessantedos pensionistas acolhidosem Lavalla e depois em l’Hermitage,sem que, nem sempre, se possa bemdistingui-los dos noviços. Aliás, a palavra“pensão” é utilizada indiferentementepara designar o montante a pagarpor uns ou por outros. Mas, a partirde abril 1825, o registro distingue seo candidato que chega é noviço oupensionista, sinal de que os dois estatutoscomeçam a diferenciar-se. É,aliás, o momento em que a comunidadese instala em l’Hermitage.Assim, em 30 de maio de 1923,chega o sobrinho do Ir. Estanislau, cujosobrenome não é citado, mas que sedenomina, talvez, Fayol. Ele depositou100 Fr., em duas prestações. Não sabemosse o faz como pensionista oucomo noviço. No dia 25 de novembrode 1826, chega Joseph Hyacinthe, deSaint Paul. Seu pai promete 500 fr. Nodia 8 de fevereiro de 1828, ele completaum depósito de 404 fr. Como este jovemnão se torna irmão, ele provavelmenteveio como um pensionista.21 Nota final do pároco: Certifico a perfeita honradez do pai Violet, meu paroquiano, e um bom paroquianodigno de fé e de bom espírito. Doizieu, 3 de dezembro de 1888. / LACHAL, Cura.22 Mas este parte em Todos os Santos 1820, para St. Sauveur-en-Rue.23 OFM/2, p. 570 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 71mars 2013Os casos mais evidentes são numerosos:vamos reparti-los por ano.– Em 17 de novembro de 1823, BenoîtClaude Roche entrou na casana qualidade de pensionista e, nodia 8 de agosto de 1825, foramdepositados 260 fr. para sua pensão,ou seja, 130 fr. por ano, istoé, um pouco mais do que 10 fr.por mês.– Em 10 de janeiro de 1824, o Pe.Champagnat anota: “Jean-JacquesCouturier acolhido na casapara aprender o ofício de carpinteiroou de fabricante de panos.Ele deve pagar-me, durante seismeses, a alimentação no valor de12 fr. por mês”. Todavia, há o cuidadopor sua instrução, poisCouturier compra uma Bíblia (deRoyaumont), livro de leitura escolar.Em 7 de fevereiro, Jean-BaptisteBrunon, de 15 anos de idade,paga 12 fr. por mês. Em 20 demaio de 1827, seu pai paga 27 fr.e deve ainda 113 francos. AndréDespinace, que entrou no dia 21de abril de 1824, certamente jáera conhecido de Champagnatque acerta com seu pai uma pensãode 10 fr. por mês.– Em 1º de março de 1825, AntoineNolin é acolhido «provisoriamente» como pensionista. Nascidoem Lyon, tem perto de 12anos, parece ser um órfão peloqual pagam as senhoras Contes,de Lyon, “incluindo lavanderia,consertos, livro, papel”. A pensãoanual se eleva a 240 fr. (OM/1, p.306). No dia 10 de março de1826, as senhoras Contes aindapagam a pensão dele, bem comoa do “pequeno Ayoux”, outropensionista.– Em 1º de agosto de 1826, Ausier(ou Osier), de St. Jean Bonnefons,entra como pensionista e paga 24fr. por mês. Entre outubro e junhode 1827, l’Hermitage receberáainda 143 fr., talvez pagamentoparcial do ano escolar de 1826-27. Em outubro de 1827 e janeirode 1828, o pai Osier paga ainda96,30 francos. Em 2 de novembrode 1826, Jean Antoine Vère, naturalde Rochetaillée, entra comopensionista: ele dá 15 fr. como primeiropagamento, sem dúvida,para um mês. Em 26 de fevereirode 1826, André Chalayer, de St.Etienne, com 11 anos, entra comopensionista. Seu tio deposita váriosvalores. Em 3 de agosto de1829, a pensão de Chalayer terácustado 1078 francos.– Em 23 de setembro de 1827,Bonjour, de St. Chamond, é recebidocomo pensionista: ele paga25 fr. por mês.Acontece que jovens recebidoscomo pensionistas, optam, finalmente,pelo noviciado. No dia 20 defevereiro de 1824, Jean Fara, com 12anos de idade, pensionista, devepagar 12 fr. por mês, e sua mãe depositauma soma de 100 fr. Ele dá aimpressão de querer formar-se paraAndré Lanfrey, fms 71


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 72<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASo ensino, pois, adquiriu o livro “Conduitedes frères”. 24Em 20 de agosto de 1825, com 13anos, ele é recebido na casa como noviço:“ele paga 10 fr. por mês”, mas “faz14 meses que ele está na casa”. Poressa estada ele pagou 100 fr. e deve ainda44. Sua pensão se eleva, pois, a poucomais de 10 fr. por mês. No dia 16 dejaneiro de 1825, o pai de Jacques Poinard,13 anos de idade, dá 200 fr. por anopara sua pensão. Mas o registro mencionaque no dia 18 de novembro de1826, ele entra na qualidade de noviço.Seu pai contribui com 177 francos.Uma vez ao menos, o contrato prevêo caso em que alguém entra comonoviço e não persevera. É o caso deChristophe Courbon, da vila de Chirat,perto de Lavalla: em março de 1825,o Pe. Champagnat anota que o paideu 72 F. “pela pensão total do ano de1825” e deve dar mais 200 fr. dentro deum ano, enquanto sua tia, residindoem Sardière, promete fornecer, cadaano, um par de meias e uma camisa.O pai se compromete a pagar 15 fr. pormês, como pensão para seu filho “seele quiser se retirar da casa ou se, porrazões muito graves, seja obrigado avoltar à sua família”. Courbon entroucomo noviço, mas não tomará o hábitoe sua permanência será de fato ade um pensionista.No dia 17 de setembro de 1825, apensão de Jean Chalagner foi paga:350 fr. e Marianne Chalagner, suamãe ou sua tia, acrescenta 100 fr. pelabatina. Quanto ao enxoval, foi-lhe fornecidototalmente e ‘até algo mais’.Tornar-se-á o Ir. José. Nas atas de suavestição, ele declara ter entrado em 25de abril de 1825, e a vestição ocorreuno dia 25 de outubro de 1825.O registro dá, pois, a impressão deque, até a instalação em l’Hermitage,não há fronteira clara entre noviço epensionista, sem dúvida porque a distinçãoentre escola normal de professoresleigos e comunidade de Irmãosé mesmo pouco determinada. Váriostestemunhos e, especialmente o deJoseph Violet, deram a mesma impressãopara os anos anteriores a1823. Depois de 1827, não se recebemmais pensionistas em l’Hermitage euma carta do Padre Champagnat aDom Devie 25 explica essa decisão:“Nós tínhamos decidido, no início, de receber eml’Hermitage alguns rapazes externos e algunspensionistas. Mas, vimo-nos forçados a renunciar aisso, porque eles causavam a perda de um bomnúmero de noviços e ocasionavam a todos umprejuízo evidente.”Tal decisão não faz senão confirmara nova lógica da obra dos Irmãos deMaria, abandonando uma forma associativaleiga muito maleável, para entrarnum funcionamento conventualmais definido e mais rígido. A adoçãodos votos temporários (1826), dosvotos perpétuos (1828), da batina24 O manual que contém o método simultâneo, denominado ‘La Conduite des écoles chrétiennes’. (Notado Tr. - Editado pela primeira vez em 1720, pode ser entendido como “Metodologia das escolas cristãs”).25 Cartas, n° 305 p. 550, no dia 3 de dezembro de 1839.72 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 73mars 2013preta (1827) são outras tantas manifestaçõesdessa mesma evolução.Enquanto esperava, durante quasedez anos, em Lavalla e depois eml’Hermitage, a comunidade recebeunúmero considerável de pensionistas,pagando entre 10 e 25 fr. de pensãomensal.2.12. OS ESCOLARESDE L’HERMITAGEAs contas que registram as receitas,iniciadas pelo Pe. Courveille, em1826, 26 dão uma ideia do funcionamentodo externato ao qual o PadreChampagnat aludiu acima:Data Receita Soma17/1/26 Recebido para o pequeno Coquet 25 fr.17/1/26 Recebido do pai Crapanne um mês para seu pequeno 4 fr.20/1/26 Recebido dos dois pequenos Gallay para sua escola, um mês 3 fr.27/1/26 Recebido de Chomiennes para sua escola, dois meses 1.20 fr.1/2/26 Recebido do pequeno Gerin para um mês de escola 2 fr.1/2/26 Recebido do pequeno Tribly para um mês de sua escola 1 fr.4/2/26 Recebido do pequeno Frécon du Creux para um mês de escola 1 fr.20/2/26 Recebido do pqueno Crapanne para um mês de sua escola 4 fr.23/2/26 Recebido do pequeno Tardie para dois meses de escola 3 fr.24/2/26 Recebido do pequeno Pervanchon para dois (meses) de escola 2 fr.Há, em seguida, algumas mençõesde receitas escolares, mas sem exatidãode nomes. A partir de agosto de1826, essa receita não aparece mais,pelas razões lembradas por Champagnat.Isso nos faz saber, em todocaso, que a retribuição escolar mensalera de 4 francos.2.12. Os “desocupados”antes de 1822Joseph Violet põe em evidênciaoutra função da casa: a acolhida deandarilhos que procuravam hospitalidadee mesmo uma sorte para se fixaremem algum lugar onde pudessemganhar a vida e a mesa semmuitas dificuldades. Ele nos mostra,pois, que a pobreza das refeições e,sem dúvida, o trabalho exigido afastaos desocupados. Quanto aos doisque permanecem, por qual motivo ficam?Certamente, não como pensionistas.Como postulantes? Provavelmente,também não, ao menos,num primeiro momento. Haveria entãouma categoria, certamente muitoinstável, de meninos e jovens queeram acolhidos por caridade e que26 OFM/2 p. 332…André Lanfrey, fms 73


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 74<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASnão viviam com os Irmãos, nem erammisturados com as crianças da escola,mas trabalhavam e recebiam osrudimentos da instrução religiosa. Aobra de Lavalla, aliás, parece ter começadoassim. 27Alguns desses meninos são, depois,aceitos no noviciado, comoJean-Baptiste Berne, o qual, nos recordaa Vida 28 , foi acolhido em dezembrode 1820, e se revela rebeldee foge várias vezes, antes de criar juízo.Tendo pedido para entrar no noviciado,recebe o hábito em 18 de outubrode 1825 e emite votos temporáriosno dia 24 de setembro de1829. Ele morre em 2 de outubro de1830. 29 Por se tratar de um caso excepcional,ele foi mantido, segundo oIr. João Batista: a maioria desses meninose jovens tiveram que sair oueram devolvidos, após um breve períodode residência.A esses jovens andarilhos é precisoacrescentar, sem dúvida, osadolescentes enviados por benfeitores.Em 4 de janeiro de 1823, tratasede Jean Praire para o qual umacerta senhora Colomb paga 45 fr. portrês meses. No dia 9 de novembro de1823, a mesma senhora paga 70 fr.por seis meses de pensão. Devia serum menino sem instrução porque elecompra três cartilhas de alfabetização.Essa senhora Colomb pareceocupar-se também do pequenoJean-Louis Rivat, de Saint Pal, de 18anos, para o qual ela paga 20 fr. depensão, em 27 de dezembro de1824. 30Em 8 de abril de 1825, o Registro <strong>31</strong>anuncia a entrada de Augustin Barrey,natural de Lons-le Saulnier, cidade deJura, com 15 anos de idade e órfão,por orientação do pároco de Tartaras.Nenhum valor pecuniário é assinalado.No dia 5 de setembro de 1824, entrouAugustin Bellin (ou Balant) com13 anos de idade: “É preciso mantêlo”,diz o Registro. 32 O 1º registro deinscrição 33 especifica que tomou várioslivros pelo valor de 4.50 fr.: umaInstrução, uma gramática, um livro deofício, um manual de civilidade, umexercício de piedade, um ‘Hora deLyon’ e um catecismo. Os livros queele recebe indicam, claramente, queele participa plenamente da vida donoviciado.Em 28 de 1826, Jean Cholleton, naturalde Clermont, com 14 anos de idade,abandonado por seus pais, masprotegido por seu tio, Vigário geral, entrana casa. Ele se tornará o Ir. Jeane o Pe. Bourdin escreverá sua vida.27 Vida, cap. XXI, p. 522-525.28 Cap. XXI, p. 523-525.29 OFM/3, p.180: Registro dos votos temporários e Registro mortuário, p. 305.30 OFM/1, p. 307<strong>31</strong> OFM/2, p. 732 OFM/2, p. 833 OFM/1, p. 30374 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 75mars 2013Em 23 de novembro de 1825, entrouBatardier de Lyon, «alimentado ànossa mesa»; «ele pagou cem francospor suas pequenas despesas».Assim, a passagem de um ex-Irmãodas Escolas Cristãs, que solicitaentrada, em fevereiro de 1822, não éfato excepcional. Quanto à narrativa deViolet, sobre a chegada de dez jovensque apenas passam, ela é estranhamentesimilar à chegada dos postulantesde Haute-Loire, em 28 de marçode 1822. Talvez Violet traga essefato, confundindo-o parcialmente como de outros grupos de passagem, ounarra um fato semelhante. Em todocaso, põe em evidência uma atividadecaritativa importante da comunidadede Lavalla que parece, ao mesmotempo, um meio de recrutamentomuito pouco eficaz, mas revelador deum espírito muito utópico: propor aosmais pobres uma vida nova estável, útile cristã. Ou seja, passar de uma situaçãodesorganizada, quase selvagem,à civilização.2.13. Um modelo complexoSe nós juntamos as informaçõesrecolhidas em torno de Lavalla, antesde 1822, é preciso, sem dúvida, superaruma imagem construída tardiamentepelo Ir. João Batista, na qualexagera uma grande continuidadecom as origens. É preciso, ao contrário,sublinhar que a entrada na casa ea entrada no noviciado são coisas diferentes,pois, já existe o estatuto dopostulante, do noviço, do pensionista,ou do menor pobre e acolhido por caridade.A casa abriga, pois, jovens emtrajes civis (postulantes, andarilhos,pensionistas), noviços em hábito azule, talvez, outros que, tendo feito a promessa,usariam o hábito preto.No fim de contas, quantas pessoastomaram o hábito azul, em Lavalla,antes de 1822? Sem dúvida, mais doque a dezena de Irmãos consideradospela tradição. Pode-se, talvez, arriscaro número de uma trintena.Essas diferenças de estatuto sãobem atenuadas em favor da fraternidade,do zelo apostólico e do espíritode sacrifício um tanto exaltados 34 ,mas essas virtudes eminentes não excluema hierarquia de direitos e deveresligados aos diversos graus decompromisso. Até 1822, a obra deChampagnat está, pois, numa fasedominada pela mística e a utopia,mesmo assim seu grau de institucionalizaçãojá não é negligenciável. Nãodispondo mais de numerosos noviços,Champagnat constata, em tornode 1821, que seu recrutamento nãopode basear-se sobre os jovens deLavalla, nem sobre a passagem demeninos ou de jovens pobres que eleespera poder fixar em sua casa. Eleprecisa fundamentar melhor sua obra.2.14. A mutação de 1822:recrutamentomassivo e registrosEle receberá então a chegada inesperadade 8 jovens de Haute-Loire34 Ver Vida, cap. X, p. 110, o testemunho de um Irmão sobre o ambiente comunitário dessa época.André Lanfrey, fms 75


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 76<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAScomo sinal do céu, mas também comoocasião para colocar ordem em suaobra. Abrindo, então, um registro dasinscrições, passa da gestão mais ou menosfamiliar para a administração umpouco mais rigorosa, que irá melhorandosem cessar e que, como dissemosna introdução, nos deixa fontes aindapouco exploradas, mas para as quais apublicação de “Origine des Frères Maristes”facilita muito a consulta.2.15. As entradasde 1822 a 1827A grande novidade do ano de 1822é o início de um recrutamento maciçoe, combinando o conjunto dos registros,podemos conhecer com bastanteprecisão o número de pessoasque viveram em Lavalla, a partir de1822 e durante os primeiros anos del´Hermitage.Em menos de 6 anos (março de1822 – dezembro de 1827), o Institutoteria recebido 102 noviços, ou seja,uma média de 17 por ano. Desse total,61 teriam chegado à vestição.Mas é provável que um número de Irmãosbem menor tenha chegado apronunciar a promessa. Quanto ao númerode pensionistas, ele está longede ser desprezível.Ano Entradas no Pensionistas Total Alcançaramnoviciadoa vestição1822 23 0 23 121823 3 4 7 21824 16 7 23 101825 16 3 19 81826 21 4 25 141827 23 4 27 15Total 102 22 124 61Evidentemente, muitos noviçosou postulantes abandonam rapidamente.Por exemplo, dentre os oitopostulantes de Haute-Loire que entraramem 22 de março de 1822,Pierre Aubert sai em junho, AntoineVassal e Barthélemy Vérot, ambosde Sainte Sigolène, que entraram em1º de maio de 1822, partem juntosem 8 de junho do mesmo ano. Porisso, o efetivo permanente do noviciadonão deve ultrapassar muitouma dezena de pessoas. 35 No total,o número dos ocupantes da casa,fundador e incluídos os Irmãos, deveaproximar-se de vinte, o que já émuito, e requer ampliação no verãode 1822.35 É, aliás, o que constata o inspetor Guillard, em 26 de abril de 1822, quando da visita a Lavalla, cujopároco tem “12 a 15 jovens camponeses que ele forma segundo o método dos irmãos para distribuí-losnas paróquias” (OM1, doc. 75, § 9).76 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 77mars 2013O recrutamento do ano de 1823marca uma transição; Champagnatdá a impressão de ser prejudicadopela falta de espaço, e por isso o pequenonúmero de noviços acolhidos.A necessidade de encontrar recursosfavorece a aceitação de quatropensionistas que, em princípio, pagamcada um 240 fr. por ano. Entretanto,numa carta de 1º de dezembrode 1823, ao Ir. João Maria Granjon,Champagnat especifica: “Apresentam-semuitos noviços, mas quasetodos pobres e muito jovens” e atétrês homens que já passaram de trintaanos. Por isso, Champagnat percorreos arredores de Lavalla comdois Irmãos para encontrar um lugarnovo, a fim de alojar os numerososcandidatos que se apresentam eque ele não pode receber, mesmodepois das ampliações.O ano 1824 é o da construção del’Hermitage. Dos 14 noviços recebidosnesse ano, 6 entraram entre janeiroe maio. Os outros 8 entrarão entresetembro e dezembro. Pode-se supor,com razão, que os Irmãos dasescolas (uma quinzena disponíveis?),aqueles de Lavalla e seus noviçosconstituíram um grupo em torno de25 a 30 pessoas. Pela primeira vez,o Ir. Avit, utilizando certamente o Registrodas tomadas de hábito, assinala(§ 76) que nesse ano revestemo hábito azul Jacques Furet (Ir. Cyprien),Civier (Ir. Régis), Fara (Ir. Placide)e Peronnet (Ir. Bernardin).Na primavera de 1825, a comunidadede Lavalla se instala na casa del’Hermitage. Segundo o Ir. Avit (Avit §3, p. 54), ela compreende então 20Irmãos e 10 postulantes. Os pensionistasnão são mencionados (3 entraramentre janeiro e abril), mas elescertamente não ficaram em Lavalla;e é preciso, sem dúvida, avaliar onúmero de habitantes permanentesda casa em torno de quarenta pessoas,sacerdotes incluídos. Nas escolashá, então, vinte e dois Irmãos.Em 1827, uma carta de Champagnatfala de mais de 80 pessoas duranteas férias. 362.16. Ritmo mensalde entradasPoder-se-ia pensar, a priori, que oritmo das entradas obedece àqueledo ano escolar de então, isto é, umcontingente bem elevado de entradasem outubro-novembro. Entretanto,o quadro abaixo não bate senãoparcialmente com essahipótese, e é estranho constatar queos meses da primavera são outroperíodo favorável à entrada no noviciado,porque eles marcam, com aaproximação da Páscoa, o fim doano escolar nas zonas rurais e a partidados meninos e jovens para opastoreio dos animais, seja nas própriascasas, seja como pessoal contratado.Além disso, a chegada daprimavera favorece as migrações – eàs vezes a vadiagem – dos jovens.36 OM1, doc. 173 - carta a um vigário geral, em maio 1827, § 10.André Lanfrey, fms 77


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 78<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASNão é, pois, fortuito que os postulantesde Haute-Loire apareçam em Lavalla,em fins de março, e que Champagnatproponha a alguns deles,para prová-los, de contratá-los comopastores. 37 Em suma, o recrutamentoem Lavalla parece acompanharos ritmos agrários que regulam,ao mesmo tempo, a esco la ri dadepopular.J F M A M J J A S O N D1822 8 1 2 3 2 4 11823 1 1 4 21824 3 3 2 1 2 3 4 1 <strong>31</strong>825 3 1 4 4 1 2 1 4 11826 1 3 1 1 1 6 2 3 11827 1 3 6 2 2 3 4 3 1Total 8 7 14 12 9 2 1 10 19 14 14 6CONCLUSÃOEntre 1817 e 1822, a casa de Lavallase torna um pequeno centro dedifusão da instrução, dotado de umnúcleo permanente de uma dezenade membros e de uma periferia variável,mas referente a um grupobastante grande de pessoas. É umainstituição polivalente que proporcionanão apenas o ensino elementar(escola), mas um ensino primáriosuperior para futuros professores emesmo uma iniciação ao latim paraalguns. Em torno de 1820, é umaobra que falar por si, no seu entorno,e nos anos 1822-1827 ela se impõecomo centro de formação, cuja influênciase estende pelos departamentosde Haute-Loire, Ardèche eLoire. Em 1824, reconhecida peladiocese de Lyon como congregaçãodiocesana 38 , ela já é obra supradiocesana.Transferida para Hermitage,a obra se transforma pouco apouco, renunciando a uma complexidadede funcionamento que deviaser difícil de administrar, mas permitindo-lheviver em simbiose com oambiente.37 Vida, cap. IX, p. 102.38 A palavra “congregação” ainda não tem sentido canônico preciso. Significa ainda “associação religiosa”.Aliás, os membros da congregação não fazem votos.78 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 79mars 2013ANEXOGeografiado recrutamentoUm esquema traçado a partir daorigem dos noviços, em 1817 a 1827,permite definir certo número degrandes características: é concernenteà zona central que compreendeLavalla e as aglomeraçõesao redor que, sozinhas, dão 21 noviços.Essa região se estende naturalmentepara o Sul até Annonay, epara o Leste até o Ródano. Trata-seda área natural do recrutamento, facilitadopelas trocas culturais e comerciais.Quarenta e seis noviçosprovêm dessa região.Sabemos que a zona Oeste, situadano Haute-Loire origina vocaçõesapenas a partir de 1822 semque nenhuma escola tenha sido instaladaali. O número é absolutamentenotável: 21. Mas é preciso sublinharque corresponde a menos dametade das vocações da regiãodescrita precedentemente.Enfim, ao Norte de Lavalla e St.Etienne aparecem zonas mais modestas:os montes do Lyonnais; aplanície de Feurs e a orla do Forez, aregião de Charlieu. A relação entreessas regiões e a fundação das escolasmanifesta-se em dois casossobre três. Entretanto, não é indiferenteobservar que o Haute-Loire e aregião de Feurs, que fornecem umnúmero significativo de vocações,são lugares onde viveu o Pe. Courveille.Enfim, algumas vocações têmorigens mais longínquas: trata-se,muitas vezes, de jovens migrantesou desocupados.André Lanfrey, fms 79


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 80<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS80 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 81mars 20133.APANHADO DAVIDA ECONÔMICAEM LAVALLAE EM L’HERMITAGENos «Annales de l’Institut» 39 , o Ir.Avit se interessou pelas condiçõesmateriais em que o Instituto nasceue cresceu. Ele mesmo consultou osarquivos existentes sobre essa questão.Ele lembra que em 1817, o Pe.Champagnat só contava com seu pagamentode coadjutor, não tinha segurode vida pelo governo, mas apenaspelo município, cujo montanteexato não se conhece. Também nãose sabe qual era o aluguel da casaBonner, onde instalou seus dois discípulosem dois de janeiro de 1817.Como mobília havia alguns móveisdoados e duas camas feitas com tábuaspor Champagnat. A roupa decama e os utensílios de cozinha sãoraros ou ausentes.3.1. Poucas fontes nosanos de 1817 a 1822Sabemos que em 1º de outubro de1817, Courveille e Champagnat comprama casa mediante 1.000 fr. Mas,em 26 de abril de 1818, pagam novaprestação de 1600 fr. Para viver, osprimeiros Irmãos fabricam pregos eplantam a terra. Sabemos pelo ‘memorialBourdin’ que, quando começama ocupar-se com crianças, elessolicitam doações ‘in natura’ e que oPe. Rebod parece ter contribuído nopagamento da casa. O Ir. Avit assinala40 que uma viúva, chamada Oriol,oferece 200 fr. a Champagnat. Alémdisso, certo número de meninos daescola paga uma retribuição e acasa abriga alguns pensionistas. Oserviço religioso (missas, enterros,batismos...) deve fornecer ao PadreChampagnat um complemento nãodesprezível.Quanto ao hábito, dado a partir de1817 e certamente pago por quem oveste, o Ir. Avit afirma (1826 §52) que,até em 1826, ele é confeccionado poralfaiates e sapateiros de Lavalla.Outras questões podem ser levantadas.Assim, por exemplo, quandoo professor Maisonneuve vemdar aula aos Irmãos e viver em comunidadecom eles, provavelmenteem 1819, que retribuição pagava a comuna,e essa soma ia, inteira ou emparte, para a caixa dos Irmãos? Comoa Vida assinala que Maisonneuve foidispensado por causa de “sua condutairregular e demasiado mundana,”41 pode-se pensar que uma dascausas de seu desligamento tenhasido de ordem financeira. Por outra,vemos os Irmãos exercerem funçõesde auxiliar paroquial como cantor, epoderia ser que os administradoreslhes dessem compensações.Em todo caso, a comunidade dasorigens é realmente pobre e, aindaem 1822, o inspetor Guillard cons-39 Ano 1817, § 13-16.40 Annales des maisons - Lavalla41 Vida, cap. 7, p. 75.André Lanfrey, fms 81


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 82<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAStata essa pobreza. 42 Entretanto,quando por volta de Todos os Santos,em 1819, o Padre Champagnatvem morar com os Irmãos, essa pobrezaé compatível com a dignidadesacerdotal.De fato, trata-se de uma existênciade dia após dia, com receitas pecuniáriasaleatórias e com provisõesque dependem bastante das terrascultivadas pelos Irmãos. É a épocado provisório e, em certa medida, dasobrevivência, esperando que a Providênciae a experiência indicassemo caminho a seguir. No entanto, osregistros mantidos a partir de 1822permitem-nos acompanhar mais deperto a vida econômica, e mesmonos fazem adivinhar a situação anterior.A mudança para L´Hermitage vaipermitir o aperfeiçoamento dessa organizaçãoeconômica.3.2. A fabricaçãode pregosA fabricação de pregos foi a primeirafonte de recursos dos Irmãosem Lavalla, porque a fundação feitanão permitia o trabalho nos campos,durante o inverno, e essa era umpouco, em todas as granjas, umaatividade hibernal. Mesmo assim, osregistros contábeis não trazem sinaldisso, senão tardiamente. A primeiramenção é feita em 24 de janeiro de1826: “recebido pelo fabrico de pregos:30 fr.” e no dia 6/2/1826, omesmo registro informa: “Dado ao Ir.Jean-Pierre para o ferro compradodo Sr. Neyrand, em St. Chamond:140 fr.” 43 Como Neyrand é comerciantede pregos, pode-se supor queao menos uma parte da soma é relativaàs famosas hastes de ferrochamadas de “varas” e que eramcortadas e marteladas para obter ascabeças e as pontas dos pregos. Ésem dúvida a atividade do Ir. JoãoMaria Granjon que, segundo o “memorialBourdin”, 44 se retirara em1826 para uma cabana acima del’Hermitage, onde ele forjava. Outramenção das contas não deixa nenhumadúvida: em 25/12/1828 –“Dado ao Sr. Estienne, em pagamentodo ferro para o fabrico depregos: 10,50fr.” (OFM/1, p. 423).Duas coisas estão, pois, claras:até 1826, os Irmãos Maristas fabricampregos e estes são comercializados.Depois, o mesmo trabalhocontinua, mas não temos certezaquanto à sua comercialização: podeser que a fabricação de pregos sedestine apenas às necessidades dacasa. Aliás, a compra de 1828,pouco elevada, sugere essa hipótese.Além disso, o registro das despesasnão menciona compra de pregosantes de 1835. Neste ano, emabril e julho, o registro acusa duascompras junto ao Sr. Brosse, comerciantede pregos em St. Julien, poruma soma, aliás, pouco importante:18,6 francos. (OFM/1, p. 456).42 OM1, doc. 75.43 Registro das despesas, OFM/1, p. 333 e 409.44 OM2/ doc. 75482 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 83mars 2013A partir de 1837, as compras depregos se multiplicam: no dia 10 dejaneiro de 1837, compra da viúvaRossilliot: 10.000 pregos e 3.000pontas por 70 francos. No dia 29 desetembro de 1837: “Dado à Fara, deLavalla, fabricante de pregos: 46”.Em dezembro, nova compra nomesmo fornecedor por 42 francos.Essas despesas estão, emgrande parte, ligadas à sapataria del’Hermitage da qual o Ir. Avit evoca ofuncionamento:“Desde 1817, o Pe. Champagnat tinha-seservido dos sapateiros de Lavalla paraos calçados dos Irmãos.45 Desde há algunsanos46 (ele evoca o ano de 1833),os citados Diosson e Roux desempenhavamessa função na casa.Este recebeu o hábito em 1834 com o nomede Ir. Pacômio; o bom Padre nomeou-ochefe da sapataria. Ele não era hábil,e os calçados dos Irmãos não eram bonitos.Usava-se, às vezes, um couro mal curtidono qual se podia contar todos os pelos”.A hipótese de um abandono dafabricação de pregos, em torno de1835, parece, pois, bastante pertinente,ainda mais que os Irmãos Maristascomeçam a experimentarcerta folga financeira.3.3. A indústria têxtilem Lavalla e depoisem l’HermitageClaude Fayol, futuro Ir. Estanislau,entrou no noviciado no dia 12 de fevereirode 1822, com 22 anos. Comoera tecelão, “instalou-se um tear nacozinha com a qual ele fabricou tecidodurante algum tempo, para ganharuns trocados”. 47 Parece que oIr. Estanislau não continuou, pessoalmente,essa atividade em l’Hermitage.Entretanto, a casa se tornouum centro de produção têxtil respeitávelque fornecerá o tecido necessáriopara uma alfaiataria instaladadesde 1826, que o Ir. Hipólito - “quesabia coser um pouco” - dirigiu durante43 anos (Avit, 1826 § 52).Desde 1827, foi montada uma oficinade fitas onde trabalham os Irmãose os postulantes cansados ounão capazes de outro trabalho. Numacarta de 1829, o Padre Champagnatprecisa que a oficina é dirigida pelo Sr.Séon. 48 No mesmo ano de 1827, oPe. Champagnat, o Ir. Pierre e algunsoutros fecham o pátio que dá para osul e elevam uma construção quecompreende padaria, “vacaria” (estábulo)e vários depósitos. Poucodepois, organiza-se ali uma oficina45 Nas Atas do processo diocesano de beatificação, a senhorita Françoise Baché, de La Valla, declaraem 1886: «Meus pais faziam seus calçados e aqueles dos primeiros Irmãos»; informação fornecidapelo Ir. Henri Réocreux.46 Em torno de 1830; ver Avit, 1833, § 112.47 Annales de l’Institut, 1822, § 34.48 OM1, doc. 185. O término da fabricação de fitas aconteceu antes de 1838.André Lanfrey, fms 83


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 84<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASpara cardar ou escovar a lã (Avit, 1827§ 60), à qual será acrescentada umatecedeira de panos dirigida pelo Ir.Jean-Joseph (Chillet Jean-Baptiste) 49 .O Ir. Avit reconhece que esse Irmãonão tinha aptidão para o ensino, “masera hábil em tecer panos e tecidos”.Aliás, o livro das despesas contém numerosascompras de lã e o Registrodas receitas anota numerosas vendasde tecido pelo Ir. Jean-Joseph. O Ir.Avit (1840 § 703) diz que “o tecido destinadoàs batinas, aos mantos emeias, sendo fabricado em l’Hermitage,era bastante grosseiro, masdurava muito tempo”. A opção pelasmeias de pano para os Irmãos, em1828-29, seria pois motivada essencialmentepor motivos econômicos,uma vez que a casa era capaz, desdeentão, de confeccionar ela mesmaas meias para os Irmãos.Enfim, em 1827, “uma senhora solteira,chamada Gabrielle, veio morar aolado da casa para cuidar da roupa”. Ascontas trazem algum traço de algumasde suas despesas e mencionam também,com frequência, as jornadasdas lavadeiras, certamente senhorasque habitavam nas proximidades eeram pagas com 1,30 fr. por dia, o queera um pagamento bastante bom,pois um trabalhador de então não recebiamais do que 1 franco. O registrodas despesas traz pela primeira vez,em 27 de fevereiro de 1827: “Dadopara lavar a roupa ou para cinzas 50 :12 (fr) . É preciso esperar 8 de fevereirode 1832 para encontrar: “Dado àsmulheres que lavaram a roupa: 7,80 fr”e no dia 10: “Dado para a lixívia: 28,50(fr.)”. A menção à lixívia retorna emabril, junho, setembro, outubro e novembrodo mesmo ano. Tem-se a impressãode que, até 1832, não se apelaa lavadeiras senão de quando emvez; mas em seguida, a casa tendo ficadomais povoada e menos pobre, alavação é confiada a mulheres.3.4. Livraria de Lavallae L’HermitageO registro das inscrições mencionanão apenas o preço da pensãopaga pelos noviços ou pelos pensionistas,mas também o material escolarque eles compram na casa, o quefaz de Lavalla um pequeno centro dedifusão do livro e do material escolar,com certeza muito antes de 1822. Frequentemente,ao mesmo livro são atribuídospreços diferentes, provavelmentesegundo o uso que o livro revelava.Pode-se observar que a tintanão é comprada e isso, provavelmente,porque é fabricada em casa,a partir da noz de uma parasita do carvalho(gale) 51 . A casa não vende ardósias,acessório que o ensino mútuo,no entanto, difunde generosamente,mas maços 52 de papel. Enfim, não seencontram livro de iniciação ao latim,49 Nascido em St Denis sur Coise, entrou em 4 de julho de 1826, tomou o hábito em 10 de novembrodo mesmo ano e fez a profissão perpétua em 8 de setembro de 1828.50 Utiliza-se pouco sabão, mas ferve-se a roupa com cinza.51 Gale (fr.): Planta parasita do carvalho, tendo forma de bola de bilhar. Esmagada, ela produz tintade cor marrom.52 Fascículo de 25 folhas de papel.84 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 85mars 2013nem manuais de história ou de geografia,normais no ensino de um colégio.O programa dos estudos de Lavallaestá, pois, reduzido às matériasfundamentais.As cartilhas para a alfabetizaçãosão bastante raras, sem dúvida, porquea maioria dos que vêm (noviçose pensionistas) devem já conhecer asletras. O livro de leitura elementar é o“principe”, (princípio, iniciação à leitura).Depois, os leitores se habituamà leitura continuada na “Bíblia deRoyaumont”: uma história sagrada.Poderíamos, então, distinguir três níveisde leitura para os noviços e pensionistas:um pequeno grupo quetem necessidade de alfabetização; amaioria deve ser iniciada à leituracorrente, depois à gramática e à escrita,daí o porquê da compra de penasde escrever e de maços de papel.Quanto à aritmética, ela se reduzà aprendizagem das quatro operações.As regras de civilidade sãoaprendidas no livro de J. B. de la Salle:“As regras da conveniência e da civilidadecristã”. Assim como a “Bíbliade Royaumont”, ela serve para aperfeiçoara leitura. 53O último elemento fundamentaldo ensino é o catecismo. Mas, o livroda diocese não é o mais comum: osnoviços parecem dispor de uma obramais desenvolvida, cujo autor não émencionado. Tal escolha não seria deestranhar porque a vocação catequéticados Irmãos é muito sublinhada.O catecismo de Calot, caro, pareceser uma exceção.Lavalla é, pois, uma escola primáriaque oferece um nível de formaçãobastante desenvolvido. E, sobretudo,a presença da “Conduite des frères”(Regra, metodologia dos Irmãos) dasescolas cristãs, entre os livros importantes,evidencia que ela forma futurosprofessores no método simultâneo.É o que se vai chamar de escolanormal. Os numerosos livros depiedade lembram que se trata de umnoviciado, mas é bem verdade que,naquela época, a literatura piedosa éum componente normal da aprendizagemdos professores.Livros Sous 54 Francos e centavosCartilha 0.25Aritmética 5. 0.25Bíblia (de Royaumont) 1, 25Bíblia (de Royaumont) 27 1,35cBíblia (de Royaumont) 1,25cBíblia (de Royaumont) 1,40cBíblia (de Royaumont) in 12 28 1,4053 Ela é impressa com caracteres de civilidade, parecidos com a escrita gótica, de manuscrito.54 Tostões. Ainda se contabilizava em «sous» tostões e francos. Um franco valia 20 sous.André Lanfrey, fms 85


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 86<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASCântico 9 0.45Catecismo 0.40Catecismo 11 0.55Catecismo 11 0.55Catecismo de Calot in 12 2.65Catecismo da diocese 5 0.25Catecismo 0.25Via sacra 18 0.90Cronologia (bíblica?) 17 0.85Civilidade 0.25Civilidade 0.20Civilidade 4 0.20Conduite des frères – Metodologia dos Irmãos 32 1.60Exercício de piedade 5 0.25Gramática 0.50Gramática francesa 16 0.80Gramática in 12 16 0.80Horas de Lyon 27 1.35Heures de Lyon avec Chemin de croix in 18 36 1.80Horas de Lyon 1,50Instrução (dos jovens?) 1,50Instruction des jeunes gens 55 17 0.85Livre d’off[ice] (de la Sainte vierge?) 0.50Livro de Ofício 0.50Ofício da SS. Virgem in 24 13 0.65Livro de ouro (ou L’humilité en pratiquepor Dom Sans de Ste Catherine) 14 0.70Maço de papel 8 0.40Plumes (Penas): pacote de vinte e quatro 8 0.40Principe (de lecture) – Iniciação à... 5 0.25(Nota do tr. - Um livro in 4, in 8, in 12, dá ideia do tamanho, derivando da folha grande dobrada 4, 8 ou 12 vezes).Para conseguir essas obras, Lavallamantém relação com o livreiroeditorGuyot, de Lyon, que, certamente,concede descontos. OsIrmãos das escolas, aliás, se servemde livros e de material escolar, emLavalla, para vender com pequenarenda: em 1824, o Ir. J. M. Granjon,55 ‘Instructions chrétiennes pour les jeunes gens’, publicação devocional. Tenho uma edição impressaem Lyon, pela Lambert-Gentot, em 1826.86 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:55 Pagina 87mars 2013diretor de Bourg-Argental, lança 133fr. como “dinheiro de livros”. 56Evidentemente, essa livraria continuaráem l’Hermitage. Em 1829, oPe. Champagnat declara que é o Pe.Bourdin quem está encarregadodessa livraria. 57 Em 1838, será o Ir.Luís (Avit, 1838, § 387).3.5. Os pensionistas e osnoviçosNão voltaremos muito sobre a receitaproveniente das pensões quecorrespondem mais ou menos a duzentosfrancos por ano, como a dosnoviços. Mas, cada entrada parececorresponder a um contrato particularque o estatuto dos pensionistasrevela bastante bem: alguns pagam10 fr.; outros, 15, 20 ou mesmo 25francos por mês, mas com serviçosdiferentes, às vezes bem explicitados.É preciso sublinhar, em todocaso, que se trata de somas muitoimportantes: um operário qualificadoganha então 2 fr. por dia de trabalho,ou seja, mais ou menos 600 fr. porano. Nessas condições, não é deestranhar que as pensões ou opreço do noviciado sejam pagos,pouco a pouco, ou aceitem arranjos.De fato, l’Hermitage é rico de créditos,mas o dinheiro entra muito devagare os problemas de tesourariasão quase permanentes.3.6. Impressionantesatrasosnos pagamentosAlguns documentos referentes aopagamento das despesas de noviciadoparecem merecedores deatenção especial devido às pessoasimplicadas e devido à importânciadas somas em jogo. O registro deinscrições num “Demonstrativoaproximativo daquilo que nos é devido”(OFM/1, doc. 109, p. 328), datadoem 6 de novembro de 1825, revelaque alguns Irmãos, queentraram há muito tempo, figuramentre os devedores, em particularGabriel Rivat. Outra surpresa: o documentomenciona “os dois Chomat”,isto é, os dois professores deSorbiers, Louis Chomat e ArsèneFayol que serão os Irs. Cassiano eArsênio, e que parecem estar já associados,secretamente, à obra deChampagzznat. Aliás, a biografia 58deles traz, aqui abaixo, certo esclarecimento.56 OFM/1, doc. 105, p. 303.57 Ibid.58 Biographie de quelques frères, edição de 1868, p.195-198, indica contatos entre eles e Champagnat,em torno dessa época. Eles, aliás, não farão o noviciado, mas entrados em 19 de setembro de 1832,revestem o hábito religioso no dia 7 de outubro e retornam à sua escola. Parece que os habitantes deSorbiers consideraram essa afiliação como uma traição e o Pe. Champagnat deverá fechar a escola. Estamosum pouco depois da Revolução de 1830, num ambiente anticlerical, mas pode ser que LouisChomat, até então praticante do método mútuo, tenha adotado o método simultâneo, o que – num ambientede nova guerra escolar – podia parecer provocação.André Lanfrey, fms 87


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 88<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASEstado civil (acrescentado por nós)Soma devida« Poinard Claude Poinard - Ir. Etienne.Entrou em 11/11/23 59 60Mano do Ir. Jean-Pierre Ir. Benoît (Deville).Entrada e vestição em 1828 60 400Furet de St Pal Ir. Cyprien. Entrou em 3/9/22 400Ir. Pierre Souchon Jean. Entrou em 20/10/24 400Ir. Hilarion Girard. Entrou em 28/3/22 180Ir. Marie-Lin ? 50Ir. Ambroise Pinsonnel Jean. Entrou em 7/9/24 300Ir. Dominique Exquis Benoît. Entrou em 14/10/24 200Ir. Joseph Bret Entrado em 5/8/1825 400Jean-Claude Jalon Ir. Clément. Entrou em 27/6/25 400Ir. Louis et Laurent Os dois Irmãos Audras entraram em 1817 1000Os dois ChomatTrata-se dos Irs. Cassiano e Arsênio(Louis Chomat e Césaire Fayol) que entrarãoem 19 de setembro de 1832. 2000Auguste Ayou Pensionista 220Nolin Pensionista 220Jean Fara Pensionista, depois Irmão 120Gabriel Rivat Ir. François. Entrou em 6 de maio 1818. 400F. Jean-Pierre » Jean Deville. Entrou em 14/5/25 200Não compreendemos bem queos Irmãos Louis, Laurent e Françoisainda devam, em 1825, somas importantes,como se ainda não tivessempago seu noviciado.No doc. 140 (OFM/1, p. 557), figuraoutro inventário intitulado,desta vez: «Irmãos que não terminaramo pagamento de seu noviciado».Não vem datado, pareceorganizado em torno de 1830. Umaprimeira lista de 13 nomes concerneainda a dois Irmãos que entraramantes de 1822, entre os quais o Ir.Francisco. 61Soma recebida Entrada em Nome civil«1° Ir. François Recebido 100 6/5/1818 Gabriel Rivat2° Ir. Barthélemy 100 1/5/1819 Barthélemy Badard3° Ir. Joseph 28/3/1822 Georges Poncet4° Ir. Jean-Bap(tiste). 28/3/1822 J. B. Furet59 Esta coluna foi acrescentada por nós para permitir situar a pessoa.60 Como «os 2 Chomat», Benoît Deville parece ligado à obra sem ainda ser Irmão.61 Mas a menção da soma parece significar o fim do pagamento. Isso poderia valer também paraBarthélemy Badard que não está, aliás, assinalado como devedor na lista de 1825.88 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 89mars 20135° Ir. Théodoret 20/1/27 Thomas Fayasson6° Ir. Hilarion 28/3/1822 Joseph Girard7° Ir. Jean-Marie 2/12/1826 Claude Bonnet8° Ir. Abel 25/9/1825 Jean Etienne Dumas9° Ir. Damien <strong>31</strong>/10/1824 J. M. Mercier10° Ir. Xavier 11/4/1825 Gabriel Prat11° Ir. Hyppolite 20/9/1826 Jean Remillieu12° Ir. Enselme 5/2/1827 Etienne Poujard13° Ir. Mathieu 19/11/1827 Philibert Derisson14° Régis (sic) 28/3/22 François Civier15° J. Chrysostome 25/2/1829 Doche Louis16° Ir. Benoît» 19/5/1828 Jean DevilleÉ preciso, pois, considerar que opagamento do noviciado se estendesobre um período bem longo, e quetambém certo número de pessoassão agregadas à obra sem serem,oficialmente, Irmãos, seja porque seformaram em Lavalla, seja porqueestão oficiosamente ligadas à obrade Champagnat. Essas contas parecem,pois, bem estranhas. Talvez algumasdessas somas estejam ligadasà herança dos Irmãos que deladevem uma parte à casa. Em todocaso, se o pagamento dos custosdo noviciado é efetuado, com frequência,ao longo de um considerávelperíodo, ninguém parece deledispensado.ConclusãoA economia da obra dos Irmãosem Lavalla repousa, pois, nos primeirosanos sobre um tripé: de umaparte, a exploração dos recursosagrícolas da propriedade; de outraparte, atividades artesanais destinadas,no início, a conseguir recursosfinanceiros e, em seguida, a reduziras despesas; enfim, a função de noviciado–pensionato–escolanormalque asseguram lentamente receitaspecuniárias. A complementaridadeentre esses recursos é manifesta: aprodução agrícola garante mais oumenos a vida cotidiana; as rendasartesanais permitem alimentar umatesouraria mínima; as quantias fornecidaspela formação garantem recursosmais importantes, mas alongo prazo.Por outra, o exame dos recursosfinanceiros dá uma imagem maiscomplexa da obra de Lavalla do queo relato clássico das origens: a fraternidadenão impede que cada umpague o que deve e ela parece ter,durante a época de Lavalla, fronteirasmais imprecisas e mais amplas doque o grupo restrito do qual nos chegaraminformações pela tradição.André Lanfrey, fms 89


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 90<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS4.A GESTÃODAS ESCOLASDE 1818 A 18274.1. Da escola paroquialà escola comunalEntre o estabelecimento da escolade Marlhes em 1818 e o prospectode 1824, que propõe ao públicoos serviços dos PequenosIrmãos de Maria, passam-se seisanos que permitiram ao Pe. Champagnatacertar as condições financeirase materiais para a fundação eo funcionamento das escolas.4.2. O Prospecto de 1824Os Pequenos Irmãos de Maria publicamentão, sob a autoridade dadiocese, em julho de 1824, um prospectopossivelmente redigido por Pe.Cholleton, Vigário geral, que se inspiranum projeto certamente mais próximodo pensamento de Champagnat 62 .Constata-se sempre que as diferençasentre eles aparecem flagrantes.Projeto (junho 1824?) Prospecto (julho 1824)Pagamento: 400 fr. por dois Irmãos;600 fr. por 3 Irmãos.Pagamento: 800 fr. por dois Irmãos;1200 fr. por três Irmãos.Um pequeno mobiliário no valor de1.500 fr. para três Irmãos; 1000 fr. paradois; 800 fr. quando os Irmãos permanecemapenas no inverno.Uma casa conveniente provida domobiliário necessário.400 fr. para alojamento e mobiliárioconveniente para dois Irmãos, atuandoapenas no inverno.Uma construção adaptada ao ensino.As comunas podem receber dos paiscom boa situação financeira uma retribuiçãoescolar.Um jardimUm lugar de recreação para as crianças.Convite à oração e à liberalidade dosparoquianos e à bondade dos párocos.62 Ir. Pedro Herreros, La regla del Fundador, sus Fuentes y evolución, Roma, 1984, p. 20-24.90 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 91mars 2013Parece que o projeto, fiel ao desejode responder às necessidadesdas pequenas comunas (municípios),reduz tanto quanto possível as exigênciasfinanceiras e imobiliárias.Além disso, confirma a tradição daescola durante o inverno: de Todos osSantos até a Páscoa. Com o prospecto,opta-se por uma obra bastantediferente que não pode interessarsenão aos municípios mais importantes,mas, por muitos aspectos,parece ser mais realista. Em particular,o prospecto prevê uma retribuiçãoescolar, recolhida pela comuna enão pelos Irmãos, o que lhes evitabastante incômodo.Como o projeto não fala das retribuiçõesescolares, entretanto já praticadasem várias escolas, é precisoconsiderar que, dirigido aos conselhosmunicipais, ele estabelece a soma aser depositada pela comuna e desconsiderao dinheiro recebido diretamentepelos Irmãos por meio das retribuiçõesescolares. O projeto supõetambém as contribuições financeirasde alguns notáveis, seja como salário,seja diretamente como subvençãoanual. É, aliás, o cenário das fundaçõesde Bourg-Argental, St. Sauveur e St.Symphorien-le-Château. O prospecto,sim, faz um apelo discreto à liberalidadedos habitantes (artigo 12).Em síntese, o projeto somenteprevê o dinheiro público gasto para oestabelecimento das escolas, aopasso que o prospecto é mais global.4.3. As hesitaçõesdos anos 1817-1822Este texto normativo é, em todocaso, fruto da experiência adquiridaentre 1818 e 1824, à custa de muitosdissabores. Temos um bom exemplodesse tempo, observando a situaçãofinanceira das escolas fundadasantes de 1824.O estatuto da escola de Lavallanem parece ter sido aprovado. Depoisda transferência para l’Hermitage,a escola se torna um anexo daCasa-mãe, com dois Irmãos dandoaula apenas durante o inverno e descendo,nas quintas-feiras, para asprovisões como fazia o Ir. Lourenço,em 1819 no Bessat. 63 Em Tarentaise, oIr. Lourenço, em 1822, está numa situaçãoainda mais precária: “Elemesmo preparava sua insignificantealimentação, dormia no dormitório doslatinistas (da escola presbiteral do Pe.Préher) e dava aula num celeiro”.Marlhes, fundada em 1818, não pareceestar em situação financeira melhor.A escola é considerada como umanexo da casa paroquial e recebendorecursos desta. Por isso, as condiçõesmateriais são inadequadas. Era precisoreceber os pensionistas em localinsuficiente: “ganhava-se espaço fazendodormir juntos 2 ou mesmo 3meninos, em camas um pouco maislargas” como era ainda costume emmuitas famílias e “os irmãos tinhamapenas um pequeno espaço para si.” 6463 Ir. Avit, Annales des maisons, Província de l’Hermitage, Lavalla64 Ibid. Marlhes.André Lanfrey, fms 91


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 92<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASDiante da má vontade do pároco emremediar tal situação, o Pe. Champagnatretira os Irmãos em 1822. Vanosc,fundada neste mesmo ano de 1822,não está melhor instalada: muito malalojados, os Irmãos foram retirados nasférias de 1826 ou na Páscoa de 1827.St. Sauveur, fundada em 1820, éconsequência de um fato diferente,porque fundada pelo Sr. Colomb deGaste, prefeito. Ele teria dado 400 fr.de gratificação pela instalação e mobíliano mesmo valor. Como saláriopara os dois Irmãos, a comuna teriaoferecido 350 fr. e o Sr. Colomb, 200.Uma renda de 100 fr., fruto da locaçãode um prado, outra renda de 50fr. provenientes de M. de St. Trivier,bem como as retribuições escolaresdos alunos ‘escritores’ (os maisadiantados que aprendem a escrever):100 francos. O total daria teoricamente800 francos. Entretanto, asretribuições entram mal, a populaçãosendo reticente em pagar parase instruir e o número dos alunos‘escritores’ era pequeno.Em Bourg-Argental, temos um quadrosemelhante: Sr. De Pléné, prefeito,e o visconde de St. Trivier garantem afundação. Fornecem a mobília e pareceque a gratificação pela fundaçãotenha sido obtida por uma subscriçãode benfeitores. Quanto ao salário dostrês Irmãos, ele consta de duas partes:600 fr. de receita garantida, não sesabe por quem, e os 600 outros obtidospelas retribuições escolares. Nodia 7 de fevereiro de 1824, o Registrodas inscrições (OFM/1, doc. 105, p.303) indica que o Ir. João Maria Granjonpagou 600 fr. pelo ano de 1822 e,para o ano de 1823, 300 fr. como saláriodos Irmãos. Há também 133 fr. dedinheiro dos livros, provavelmente oresultado proveniente do material escolardos alunos, mas apenas 59 fr. deretribuição escolar. Enfim, o Ir. JoãoMaria reembolsa 60 fr. emprestadosda Casa-mãe. Como as retribuiçõesnão garantem dinheiro antecipado, em1824, o Sr. de Pléné se comprometeráa fornecer 1000 francos. Quanto a M.de Saint Trivier, ele concede um capitalde 10.000 fr. que garante uma rendaanual de 500 francos. Mas o Ir. Avitanota que, até 1832, o pagamento dos3 Irmãos é apenas de 980 fr. em vezdos 1.200 prometidos.Boulieu foi fundada em 1823 peloPe. Dumas, o prefeito Mignot e a famíliade Vogüe. O Ir. Avit pensa que omobiliário tenha sido “fornecido in natura”,isto é, constituído de móveisoferecidos e duvida que a gratificaçãode instalação tenha sido depositada.Quanto ao pagamento dos doisIrmãos, era de 800 fr., sendo a metadefornecida pela comuna e o restopela família Vogüe. As crianças nãopagavam retribuição escolar.Em St. Symphorien-sur-Coise (St.Symphorien-le-Château), é o prefeito,Sr. Clérimbert, que toma a iniciativa deescrever a Champagnat, no dia 15 desetembro de 1823, anunciando que acomuna está pronta a dar 400 fr., alojamentoe a mobília para dois Irmãos,o restante sendo completado pelasretribuições escolares. O senhor cura,M. Roch, escreve também. Essa fundaçãoparece ter sido bastante apres-92 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 93mars 2013sada, talvez por concorrer com umaescola mútua. Aberta em Todos osSantos de 1823, ela recebe três Irmãosa partir de 1825. A retribuição deve tersido demasiado modesta, pois o marquêsde Nobletz, em 1828, dá à escolauma renda de 650 francos.A fundação de Chavanay, em Todosos Santos de 1824, depois dasprovidências do Padre Gauché, nãocorresponde ainda à aplicação doprospecto, mas está bem próxima doprojeto. O Ir. Avit menciona, paraessa escola de dois Irmãos, um ‘prêmio’de instalação de 400 fr.; o mobiliáriovalendo 500 fr. e um salário de400 fr. por Irmão. O local está empéssimo estado. 654.4. Três modelosde fundaçãoLavalla, Marlhes, Tarentaise e Vanoscsão paroquiais e dependem,pois, unicamente do pároco que trataos Irmãos como subclérigos. Aparentemente,não parece haver nenhumcompromisso financeiro e essas casassão pobres, de modo que Champagnatas fecha rapidamente, salvo Lavallaque vai viver pobremente, depois de1825. Uma escola que depende exclusivamenteda paróquia não é, pois,viável para os Irmãos de Maria.Bourg-Argental e St. Sauveur sãoescolas comunais, devido à iniciativadas autoridades civis e dos notáveis.Foram estabelecidos compromissosfinanceiros bastante precisos, aparentementesem intervenção dos párocos.O sistema funciona de algumamaneira.Boulieu e St. Symphorien-le-Château são modelos intermediáriosque vão tornar-se os mais frequentes.Baseiam-se no acordo dospárocos, das autoridades comunaise dos notáveis. Como no modelo precedente,as condições financeirassão fixadas. E com Chavanay, aindaque o fundador seja o pároco, temsea impressão de chegar perto dascondições do projeto do prospecto.4.5. Resumo de uma mudançaimportanteEstes fatos ilustram o começo dalaicização da escola porque as autoridadescivis - mesmo que, e sobretudo,bons católicos - consideramque a instrução é da competência deles.Em suma, St. Sauveur é a primeiraescola marista de tipo moderno:modernidade que torna os Irmãosmenos dependentes da paróquia, oferece-lhescondições materiais decentese retribui-os com bastante acerto.Resta o problema da retribuição escolarporque os pais, apegados à velhatradição da Igreja, que considera aeducação como uma obra de misericórdiae não um mercenarismo, nãose conformam com a contribuição. Opagamento desta é, pois, difícil; e o Ir.Avit observa que o Ir. Luís, sucessor do65 As informações sobre as escolas acima vêm dos ‘Annales des maisons’.André Lanfrey, fms 93


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 94<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASIr. João Maria, em Bourg-Argental, tendo-semostrado mais severo na cobrançadas retribuições, viu “vários alunosdeixarem a escola”.Durante esses anos de 1818-1823,o Pe. Champagnat pôde, então, experimentardiferentes situações e fazer-seuma ideia das condições necessáriaspara a existência de umaescola de dois ou três Irmãos. Elepôde constatar o fracasso das fundaçõesexclusivamente paroquiais eavaliar de maneira mais precisa o mínimoexigível. Por isso, conforme oprospecto de 1824, as condiçõespara fundar decorrem desses anosde hesitações marcadas por fracassosou de fundações mal feitas.4.6. As dificuldadesdas escolasPor isso, mesmo quando há acordosfinanceiros, o dinheiro custa a entrar.No Registro de inscrições, um levantamentoaproximado do que é devido,organizado em 6 de novembrode 1825 (OFM doc. 109, p. 328), dáuma ideia dos pagamentos atrasadospara o ano de 1824:Boulieu: 500Bourg-Argental: 1700Saint Sauveur: 400Vanosc: 300Chavanay: 500Ampuis: 800Saint Symphorien: 700Charlieu: 800Observa-se que Bourg-Argentalparece ter um atraso de pelo menosdois anos. São, pois, 5.700 fr. dosquais Champagnat não pode dispor,justamente antes de Courveille e elefazerem um empréstimo de 12.000 fr.em dezembro de 1825.O caso de Charlieu: um prospectopouco aplicadoEste estabelecimento não foi desejadopor Champagnat, mas impostopela diocese, querendo eliminara influência de Grizard, discípulodo Vigário geral Bochard, contrário àvinda de Dom de Pins. Além disso, éuma cidade na qual há um colégio emque trabalham professores do métodomútuo. Pe. Courveille, enviadopara negociar com a municipalidade,tenta instalar ali um noviciado de Irmãose mesmo uma casa missionária.66 Ele procura, entretanto, baseara negociação sobre o prospectodo Instituto, recentemente impresso;pede à municipalidade 600 fr.de remuneração anual – o resto,sem dúvida, devendo ser fornecidopelas retribuições escolares – bemcomo 1.000 fr. para a compra da mobíliae as despesas da instalação. Nofim, a comuna aceita suas condições.O Ir. Avit 67 , que certamente nãoconheceu a carta do prefeito deCharlieu, dando os detalhes da negociação,apresenta informaçõesum pouco diferentes: uma gratificaçãode 400 fr.; um salário de 425 fr.66 Ver OM1/doc. 120, p. 343.67 Annales des maisons - Charlieu.94 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 95mars 2013por Irmão, ou seja, 1275 fr. anuais emobília de 1500 francos. A cidade nãoteria assegurado mais do que 500 fr.de salário anual, sendo o resto fornecidopelas retribuições dos alunos.“Mas, era preciso consegui-los naponta da espada”. Podemos, a partirdessas diversas fontes, organizar umquadro interessante, indo da teoria àprática:Projeto Prospecto Condições Avitde prospecto (3 Irmãos) de (Annales(3 Irmãos) Pe. Courveille des(OM1/120) maisons)Pagamento 600 fr. 1200 fr. 1200 fr. 1275 fr.teórico (3 Irmãos)Pagamento Não Não 600 fr. 500 fr.da comuna explicitado explicitadoRetribuições Não Recebidos Teoricamente Percepçãoexplicitados pela comuna 600 fr. difícilpara os IrmãosMobília e 1500 fr. Não 1000 fr. 1500 fr.despesas explicitadosde instalaçãoEssa fundação, mesmo executadasegundo o prospecto de julho de1824, está então bem longe de aplicálo.De fato, com ou sem prospecto, oproblema de fundo permanece a recusadas municipalidades de aplicarsomas importantes no ensino populare a reticência das famílias em gastarum valor, mesmo modesto, pela educaçãode seus filhos. Estamos aindanum antigo regime educativo ao qualChampagnat e os Irmãos precisamse acomodar. Será preciso esperar alei Guizot (1833), para que um pagamentomínimo de 200 fr. seja impostopelo Estado às comunas. Quanto aoPadre Champagnat, ele vai procurarsistematicamente as escolas gratuitasou aquelas em que as retribuiçõesescolares são cobradas pela comuna.Mas em 1824, ainda não estamosnessa situação. O prospecto antecipa,pois, o futuro.4.8. Os depósitosdas escolasna caixa comum(1825-1832)O livro de contas 68 nos permiteacompanhar, ano após ano, a vida financeiradas escolas, mesmo se asindicações fornecidas são, frequentemente,de difícil interpretação. Conhecero salário é particularmentedelicado porque os pagamentos são68 OFM/1, p. 544.André Lanfrey, fms 95


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 96<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASmuito irregulares e mais frequentementeatrasados. O meio menos falaciosopara conhecer a renda dosIrmãos é somar as despesas e ascontribuições à caixa comum. Aamostra das 10 escolas mais antigasapresenta os seguintes resultados:Escola Ano Despesa Contribuiçõesdos Irmãosanuais paraa caixa comumChavanay 1825-<strong>31</strong> 305-511 fr./ano 90 - 141Bourg-Argental 1825-32 364-665 450-937St Sauveur 1825-32 300-561 48-100Boulieu 1825-<strong>31</strong> 306-330 73-153St Symphorien 1825-32 342-389 34-250Charlieu 1825-32 350-666 107-766Ampuis 1826-32 514-700 30-141Mornant 1826-32 400-455 300-654St Paul-en-Jarez 1827-32 457-747 132-221Neuville 1826-32 420-700 100-<strong>31</strong>7Média 375-572 136-368As médias permitem sugerir que,em ano fraco, a renda média de umaescola é de 375+136 ou 511 fr.; numano positivo: 572+368 ou 940 francos.Considerando rendimentosanexos (venda de livros 69 ), os itensde renda e o dinheiro conservadoem caixa, pode-se avaliar a receitamédia entre 600 e 1000 fr. por ano.Como as comunas e os benfeitoresparecem pagar quando querem,quando podem ou depois de insistentespedidos, é impossível estabelecerum orçamento provisório, ecerta desordem das contas deChampagnat se explica parcialmentepor uma economia muito submetidaà negligência dos devedores em pagaro que devem, e dentro de prazosrazoáveis. O nível de vida muito modestodos Irmãos provém menos dadebilidade de seus rendimentos doque da obrigação de viver sem dinheiro,quando os devedores nãopagam.Por último, é preciso levar em contamomentos de perturbação políticaque podem gerar crises financeiras.Assim o Pe. Champagnat faz o levantamentodas dívidas nos anos1830-<strong>31</strong>, em 7 comunas. O total se elevaa 1611 fr., e (as dívidas) vão de 450fr. (Bourg-Argental) a 61 fr. (Feurs) 70 .Tal endividamento decorre muito provavelmenteda revolução de 1830.69 Em 1826, 40 Fr. em Charlieu e 79 em Ampuis. (OFM/1, p. 548-549)70 OFM/1, doc. 138, p. 554.96 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 97mars 20134.9. A mobília dos Irmãosnas escolas...e em LavallaA Vida do Pe. Champagnat nosoferece alguns detalhes da vida materialde algumas escolas, quandotrata da pobreza. 71 Sabemos a partirdaí que os Irmãos, mesmo doentes,dormem sobre enxergas de palha enão sobre colchões, usando lençóisde pano grosseiro, não tomamvinho, comem pão de centeio, remendamsuas próprias roupas... Oprojeto do prospecto, menos detalhadodo que o prospecto mesmo,sobre vários pontos, apresenta, entretanto,uma lista do mobiliário.Como as escolas são cópias parecidasda comunidade de Lavalla, elasdão boa ideia do mobiliário dos Irmãosem 1824 e, certamente, bemantes. Cremos que não é inútil reproduziraqui essa lista que pareceprevista para uma comunidade dedois Irmãos:« A mobília exigida para os Irmãos:1/ Um crucifixo, uma pia de água benta em chumbo, uma imagem da SS. Virgem, de S. Josée do Anjo da guarda;2/ Dois genuflexórios;3/ Três camas 72 assim compostas: 1º três armações de cama; 2º três colchões ou enxergas,guarnecidos com palha de milho, cada um com 80 libras 73 ; 3° três travesseiros como mesmo material; 4° seis cobertores de lã;5/ Uma dúzia de lençóis em tecido comum;6/ Duas dúzias de toalhas boas e comuns;7/ Uma dúzia de toalhas de mesa;8/ Uma dúzia de esfregões;9/ Uma dúzia de aventais de cozinha de pano azul;10/ Um relógio despertador;11/ Dois armários; um com duas portas;12/ Duas pequenas mesas com gaveta, uma para a cozinha e outra para comer;13/ Quatro pratos fundos; quatro bacias para a porção; outras duas, um pouco maiores,para servir o guisado, uma sopeira; tudo em estanho;14/ Meia dúzia de garfos, igual número de colheres e facas de mesa; uma cesta para conter seis copos;uma bacia para salada;15/ Um bufete ou mesa para a cozinha;16/ Cofre ou recipiente para conter farinha;71 Vida, cap. IX, p. 370-384.72 Uma cama é prevista, sem dúvida, para a visita do superior ou de algum hóspede.73 A libra pesa 0, 422 kg. Então, o peso de cada enxerga seria de 34 kg mais ou menos.André Lanfrey, fms 97


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 98<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS17/ Dois regadores, duas galhetas, duas azeiteiras; tudo em ferro branco;18/ Uma dúzia de cadeiras;19/ Uma lanterna;20/ Uma frigideira para fritar;21/ Um conjunto de cozinha que nos é impossível detalhar.»Essa lista é mais indicativa do queefetiva; mas dá uma boa ideia do gênerode vida dos Irmãos, dispondo deum oratório com pia de água benta,imagens e genuflexório, e mesas paraestudar, certamente no mesmo lugar.Para a iluminação está prevista umasó lanterna ou lampião, mas os Irmãosdispõem certamente de candeeirosindividuais. O relógio lhes permitede se levantarem na hora e deseguirem o regulamento. A ausênciade forno e de fogão significa que a comidaé preparada numa panela suspensana chaminé da cozinha, aliás,única fonte de calor na casa. A primeiramenção à compra de um fogãoaparece nas contas de Lavalla, emmarço de 1824, por 60 Fr. 74Em matéria de cama e seusacessórios, os Irmãos não têm colchão,mas simples enxergas. Aroupa branca é abundante porque alavação é feita mais raramente. Abaixela - copos colocados à parte -não é nem de terracota, muito frágil,nem de barro esmaltado, um tantoluxuoso, mas de estanho. O recipientepara a farinha significa que opão de centeio é uma base da alimentaçãoe que os próprios Irmãos,aparentemente, o amassam e cosem.A presença de uma frigideirasugere o consumo de batata inglesafrita e os pratos indicam a consumaçãohabitual de sopa e de guisado(“fricot”), prato que pode comportardiversos ingredientes, legumes, certamentebatatas e, ao menos detempo em tempo, toucinho. Não énecessário um porão para conservaras batatas, tina de madeira para carnessalgadas e tonel de vinho, masapenas um guarda-louças na cozinha.O conjunto de cozinha, apenasevocado, deve comportar ao menosuma panela para preparar o guisadoe a sopa, algumas caçarolas e umavariedade de conchas e escumadeiras...A presença de baldes lembra anecessidade de buscar água nafonte da vila ou em alguma nascente.Os regadores servem para lavar ochão e podem indicar que os Irmãosmantêm jardim, embora a presençade ferramentas não esteja prevista.A presença de uma dúzia de cadeirasparece um pouco elevada,mesmo que sejam necessárias duas74 OFM/1, doc. 106, p. <strong>31</strong>8. (Nota do Tradutor: O fogão de ferro fundido começa a surgir, na França,no início do séc. XIX e era caro. As casas eram aquecidas por lareira, ligada a uma chaminé. Na lareirase suspendia uma panela mediante um tripé de ferro ou então numa abertura da própria chaminé, comona churrasqueira de hoje).98 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 99mars 2013ou três na cozinha, ao menos duasjunto às mesas de trabalho e, semdúvida, duas junto às camas. Tem-sea impressão de que os Irmãos devemreceber a visita de diversaspessoas: prefeito, pároco... e organizarpequenas reuniões.No total, essa lista de 1824 mostraque o gênero de vida dos Irmãosestá muito próximo daquele dosagricultores de condição média, atividadeintelectual colocada à parte.A dignidade da vocação deles lhesproíbe, aliás, um gênero de vidamuito baixo. Em 1838 75 , o Institutodará nova lista de utensílios parauma escola de três Irmãos, bemmais detalhada: para a cozinha e abaixela, ela prevê 42 itens; 15 para olaboratório dos Irmãos e a jardinageme 17 para a roupa de cama,mesa e banho. É quase quatro vezesmais do que em 1824. A comparaçãodessas duas listas, melhor quemuitos documentos, mostra o caminhopercorrido em 14 anos, mas esteé outro assunto.CONCLUSÃOEm pouco mais de dez anos, aobra de Champagnat conheceu,pois, diversos tipos de contratoscom as autoridades locais fundadorasde escolas, o prospecto de 1824constituindo uma norma interpretadaem cada situação mais do que realmenteaplicada. Para Champagnat, amelhor fórmula parece ser a escolaque surge da colaboração entre notáveiscapazes de fornecer umarenda regular, autoridades comunaisdispostas a pagar uma soma significativae a fornecer um local decente,e pároco que assume a responsabilidademoral da fundação. O ideal é,pois, a escola gratuita porque as retribuiçõesescolares rendem poucoe, quando são recebidas pelos Irmãos,tornam-se motivo de conflitos.Como tal modelo não é viávelem pequenas paróquias, Champagnatorienta sua obra para comunasde média importância ou para vilas.Por isso, a escola de dois Irmãos,funcionando apenas durante o inverno,pretendida em 1824, não vaidurar muito.Quanto à vida material dos Irmãos,ela é, teoricamente, parecidaàquela dos camponeses de condiçãomédia; mas as condições materiaissão bastante diferentes de umaescola para outra e a lentidão ouos pagamentos atrasados, tantoquanto o espírito de mortificação,convidam-nos a viver parcamente.É, pois, a preço de muitos sacrifíciosque Champagnat impõe às comunasum sistema educativo moderno,do qual todos querem sebeneficiar, mas cujo preço bem poucosaceitam pagar.75 Circulares, t. 1, p. 242André Lanfrey, fms 99


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 100<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS5. OS POSTULANTESDO HAUTE-LOIRE5.1. Desocupadose recrutamentoA respeito dos postulantes do Haute-Loireque chegaram em março de1822, o Irmão Gabriel Michel escreveuum artigo muito importante, no Boletimdo Instituto (T. XVIII, 1969). Se retomamosesse assunto, é sob outro ânguloum pouco diferente, focado sobre doisaspetos: as condições materiais e financeirasdo evento, e a pesquisa sobreo famoso ex-Irmão das EscolasCristãs que trouxe esse grupo com ele.Devido à falta de documentação até1822, não sabemos exatamente quaiseram as condições financeiras na entradados noviços. Aliás, durante os primeirosanos, os Irmãos constituemuma comunidade autônoma, vivendodo próprio trabalho, dos rendimentos deChampagnat, de doações e tambémde aposentadorias. Entretanto, a tomadade hábito deixa supor que certaquantia de dinheiro era depositadanessa circunstância, porque ela marcavaa entrada numa comunidade, e opreço da batina não era desprezível. Poroutra, o prospecto de 1824 é muito clarosobre o custo do noviciado: 400 fr.para os dois anos de noviciado, e o enxovalincluindo a batina de entrada nacongregação, uma dúzia de camisas,seis toalhas, quatro pares de meias,uma dúzia de lenços, dois pares de sapatos.Nem é preciso dizer que essasexigências são bastante teóricas e expressammais um ideal do que umarealidade. Entretanto, os anos de 1822a 1824 serviram, de certa maneira,como tempo de experiência durante oqual Pe. Champagnat pôde estabelecerum parâmetro que permitisse a comunidadeviver.5.2. Um provável roteiroNa Vida (cap. IX), o relato da chegadados oito postulantes com seuguia, no dia 28 de março de 1822, estárepleto de ensinamentos, mas tambémde contradições sobre o modo comoo recrutador improvisado procedeu.Munido com uma carta de apresentaçãodo Pe. Champagnat, ele parecenão se servir dela, mas de embasar suatentativa sobre dois argumentos: suaqualidade de FSC e o status de sua família.Nem todos os oito postulantespretendem entrar nos FSC, como o autorda Vida o reconhece: “vários já estavamdecididos a entrar na vida religiosa”.Até mesmo acordos por escritosão repassados “para determinar apensão e as épocas de pagamento”.Porém, o número de verdadeiros candidatosao noviciado de Lyon não devepassar de dois ou três jovens, e o recrutadorprometeu uma meia-dúziade sujeitos ao Pe. Champagnat. Ele reforçao grupo com outros jovens queprocuram colocar-se como pastores oupequenos serventes, durante a primaverae o verão, ou atraídos pelo gostode ver lugares novos, de descobrir a cidadegrande. É bem provável quecom as famílias desses jovens não tenhahavido acordo algum.A surpresa de Champagnat, nachegada deles, não é de ver um grupode jovens pedir hospitalidade, mas100 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 101mars 2013de ouvi-los pedir para entrar no noviciado.E questionando-os, logo se deuconta da superficialidade do intento.Percebeu também que “a maioria dessesjovens pouco traziam para a própriapensão”. Então, ele se recusa a recebê-loscomo noviços, mas não podedeixar de lhes conceder acolhida até odia seguinte. Como outros grupos queos antecederam, eles passaram a noiteno celeiro.Na manhã seguinte, Champagnatautoriza-os a ficar durante alguns diasse eles o desejassem, a fim de comprovarsuas motivações, e consultar osIrmãos e amigos. Ele lhes entrega umterço, exorta-os à devoção a Maria e osocupa durante certo tempo a lidar coma terra. Entretanto, é pouco provávelque ele lhes tenha imposto o “capítulodas culpas” ou penitências públicascomo é dito na Vida que parece misturarvárias épocas. Em compensação,a Vida cita o depoimento merecedorde credibilidade de um deles: elesdeitam sobre palha, comem pão preto“que se esfarelava todo”, legumese bebem água. Devido à retomada dostrabalhos agrícolas na primavera, elessão submetidos a um trabalho penoso“cujo único salário eram algumas repreensõesou alguns castigos”.Quanto tempo terá durado essaprovação? Certamente algumas semanas.O recrutador teria sido mandadoembora após uns 15 dias, ou seja,por volta de meados de abril “por atentadocontra os bons costumes”, diz oIrmão João Batista, que talvez carregaas tintas sobre um personagem poucoinclinado a seguir tal regime e que, levandoem conta sua iniciação à profissãode professor, pode encontrar facilmenteum lugar. O fato é que sua saídanão acarreta a de seus companheiros,e, portanto, ele não tem muitainfluência sobre eles.Por outro lado, a Vida recorda que“desde que ficou decidido que os postulantesseriam admitidos, Pe. Champagnatmandou um dos principais Irmãosvisitar suas famílias para colher informaçõessobre as respectivas possese cobrar a pensão de noviciado”... etambém para recrutar “quatro novossujeitos”. Uma operação desse tipo sópode ter acontecido depois da Páscoa(dia 7 de abril).Champagnat tem em vista empregaros mais jovens, e talvez aqueles quenão pagaram pensão, como pastores,até a festa de Todos os Santos. Esta soluçãoteria permitido evitar bocas paraalimentar, resolvido os problemas dealojamento enquanto se esperava o aumentoda casa, possibilitado aos jovenso ganho de algum dinheiro para pagara pensão, e de melhor conhecer suasintenções. Finalmente, sendo a festa deTodos os Santos o começo do ano letivo,o tempo de noviciado poderia tercoincidido com o começo das aulas.Champagnat não adota essa soluçãopor questões práticas e, sobretudo, espirituais:ele empregará a força de trabalhodesses jovens para aumentar acasa, começando com isso a formaçãodeles e, sobretudo, é Nossa Senhora doPuy quem enviou esses jovens. Em1835, numa carta a Dom de Pins, ele retomaráessa ideia que talvez tenha brotadonaquele momento:André Lanfrey, fms 101


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 102<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS“Não ouso recusar aqueles que se apresentam,considero-os mandados por Maria em pessoa”. 76No caderno de admissões em 1822,Champagnat manifesta simbolicamenteque sua obra toma uma nova dimensão.É preciso, portanto, estabelecermais claramente as condições de ingressoe determinar uma pensão que,por ser mais teórica do que real, sirvade base de negociação. Mas a decisãolevanta uma questão: Champagnat,aceitando os postulantes que vêm delonge e que ele não conhece, não estariaabandonando a primeira forma desua obra para dar-lhe uma organizaçãomista: ao mesmo tempo noviciado ecurso normal? Aliás, é a impressão quetem o inspetor Guillard quando constataque o vigário de Lavalla, em abril de1822, não instrui seminaristas “massim 12 a 15 jovens camponeses que eleforma, pelo método dos Irmãos, paradistribuí-los pelas paróquias”. 775.3. Cursos normais eescolas normais dos FSCA história dos FSC de Rigault 78 recordaque o decreto de 1816 previa quealgumas escolas importantes ofereceriamlições aos mais dotados e aos alunoscandidatos à arte de ensinar, e queseria concedido um diploma (brevet) de2°grau aos professores que utilizassemo método simultâneo. Rigault acrescentaque “as experiências se limitarama insuficientes tentativas”, mas podeseperguntar se esse tipo de curso normalnão teve mais importância do queele afirma, mesmo se a prática tenhapermanecido muito informal.Disso, temos um indício interessantepor meio do inspetor Guillard quevisita Bourg-Argental em 23 de abril de1822. Ele encontra ali o Sr. Brole-Labeaume,mestre 79 superado pelos Irmãosde Champagnat. Para reintegrálo,o inspetor decide que ele irá:“aprender o método dos Irmãos emCondrieux ou em Annonay, enviará ocertificado constando que ele o aprendeubem, e o praticará com os livrosque ele adquirirá do Sr. Rusand” 80 .Regault ainda menciona que o administradorde Rhône, Lezay-Marnésia,numa carta do dia 14 de novembro de1821, convida o Irmão Gerbaud, superiorgeral, a abrir as aulas do noviciadode Lyon a alunos-mestres destinadosa lecionar em áreas rurais. E, em 1º dedezembro, o Irmão Gerbaud dá seuconsentimento ao pedido. Ao mesmotempo, combina com o inspetor daacademia, e dezesseis candidatos sãodesignados e seguem os cursos duranteo segundo trimestre de 1822. Satisfeitasdo resultado, as autoridades revalidama autorização para 1823.Esses fatos nos convidam, pois, asituar os postulantes e Champagnat76 Cartas, n° 56, p. 134.77 Origines Maristes, t. 1, doc. 75, § 9.78 T. IV, p. 468-469.79 Ele tem já certa idade, visto que ele foi professor em Condrieux, antes da chegada dos FSC.80 Origines Maristes, t. 1, doc. 75, § 2.102 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 103mars 2013num ambiente um pouco diferentedaquele que evocávamos mais atrás:os centros de formação para professoresmultiplicaram-se sob a orientaçãodos FSC, cujo método é secundadopela universidade. A obra deChampagnat pode figurar-se comoum desses centros dos Irmãos daDoutrina Cristã, termo genérico abrangendodiversos institutos em formação.Bem conscientes dessa situação, o ex-Irmão das Escolas Cristãs e Champagnataproveitam, portanto, do prestígiodos FSC: um, para proporcionarseuma posição; o outro, para recrutarirmãos. Os jovens recrutados podemconstatar que, mesmo não se tratandodo noviciado de Lyon, eles recebembem a formação que almejavam,tendo em vista ou não de se tornaremIrmãos. Aceitando essa situação,Champagnat resolve seu problemade recrutamento, bem conscientede que os jovens recrutados têm motivaçõesmenos esclarecidas que seusprimeiros discípulos.5.4.Entre curso normale noviciado: finanças eperseverançaO primeiro registro de inscrições(OFM/1 doc. 105, p. 237) nos dá umaideia do processo de entrada. Não seconsegue a admissão antes que seefetue o repasse de contratos financeirosàs famílias dos postulantes. É atarefa do Irmão enviado a Haute-Loire.Mas os resultados de suas diligênciasparecem particularmente desiguais:as exigências de Champagnat, talvezum pouco imprecisas, descobrindo aspossibilidades limitadas das famílias.Assim, Claude Aubert, de Saint Pal,é mencionado, em 28 de março de1822, com a dívida de 100 fr. e tendopago 40. Em 27 de outubro, ele depositamais 60 francos. Certamente,ele concluiu seu noviciado, pois recebeuo nome de Irmão André, mas suatomada de hábito se dá somente em18 de outubro de 1827.Pierre Aubert, de Boisset, chegouem 28 de março de 1822 e é mencionadono Registro apenas em abril. Eledeve 300 fr., mas nada pagou. Ele saiuem junho de 1822.Civier François, de Boisset, é inscritono dia 28 de março de 22. Ele deve400 fr. e nesse mesmo dia paga apenas12 francos. Entre os dias 28 demarço e 10 de maio, ele pegou um parde tamancos, um fascículo de papel eduas penas, no valor de 0,80 fr. É acomprovação de que ele já está umpouco alfabetizado, visto que se propõea exercitar-se na escrita, que porsua vez é aprendida depois da leitura.No dia 10 de maio, o Pe. Champagnatanota que ele lhe entregou 10 fr., enviadospor seu pai, mas que, nessemesmo dia, ele saiu. Entretanto suasaída é temporária, e sua ausência pareceser exatamente devida a uma viagemà família para resolver essa questãofinanceira. De tal modo que, estáregistrado, em 28 de junho, um pagamentode 180 francos. E no registrodas tomadas de hábito, redigido em1829, François Civier assinala que elechegou à casa de Lavalla, no dia 27 demarço de 1822, e que tomou a batinaem 25 de março de 1824, com onome de Irmão Régis. Ele tinha, então,André Lanfrey, fms 103


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 104<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS23 anos. Posteriormente, ele sai do Institutoem data desconhecida. Terá elepago o restante da pensão?Mathieu Cossange, originário deBas-en-Basset, entrou também no dia28 de março de 1822. Em 6 de agostode 1823, seu irmão deposita 104,8 fr.e, em 25 de abril de 1824, está anotadocomo devendo 200 fr, mesmo tendodepositado 50 fr. provavelmente naqueledia. Com o nome de Irmão Augustin,ele deve ter tomado o hábito em1823, e o depósito de seu irmão deveter acontecido nessa época. Em 1829,ele é um dos dois revoltados que, naquestão das meias de pano, recusa asubmeter-se.Jean-Baptiste Furet, o futuro IrmãoJoão Batista, nos é bem conhecido. Oregistro assinala, em 28 de março de1822, que ele deve 100 fr. e paga 30francos.Está anotado que, Girard Joseph, deSolinhac, em 28 de abril de 1822, deve200 fr. e nada aporta. Em data indeterminada,o registro aponta que eledeve 150 fr. – o que supõe um primeirodepósito de 50 fr. – e que ele depositou100 francos. No registro dos votosperpétuos, está indicado que ele ingressouna casa, no dia 28 de abril de1822, ou seja, um mês depois dos outros,e que ele tomou o hábito religiosocom o nome de Irmão Hilarion em25 de outubro de 1822, e emite seusvotos perpétuos em outubro de 1828.A questão da data de sua entrada emLavalla é interessante, pois pareceque ele chegou no dia 28 de março,porém o Registro das profissões, bemcomo o das inscrições, assentam adata de entrada no noviciado um mêsmais tarde. Parece, então, que o ingressona casa e a admissão no noviciadosão duas coisas diferentes, e quesua admissão foi efetivada depois deacertos com a família.Ponset Georges, de Tiranges, estáregistrado em 28 de março de 1822,como devendo 120 fr. e nada depositado.Um primeiro depósito de 72 fr.acontece em 30 de outubro de 1823, eum segundo de 100 fr., em 13 de outubrode 1834. Desse modo, a quantiadepositada supera o total inicial prefixado.O registro dos votos perpétuosrelata que ele entrou no dia 27 de marçode 1822, e somente em 25 de outubrode 1825 tomou o hábito com onome de Irmão Joseph, mas emite osvotos perpétuos em 8 de outubro de1826. Um tempo tão longo de residênciana casa (3 anos e meio) sem queo postulante tome o hábito levanta aquestão do significado que a palavra “irmão”tinha então. Já vimos o mesmocaso com Claude Aubert. Com efeito,ambos dão a impressão de que, depoisde sua formação, eles tenham podidoexercer a função de professores semserem oficialmente “irmãos”.Vertore (Vertoie, Vertove, segundoos registros) Jean-Pierre, de Tirange,relata-se como devedor de 100 fr., nodia 28 de março. Tendo saído do noviciadoem primeiro de junho, pareceque nada depositou.Jean Dantogne, de Boisset, está indicado,em 28 de março de 1822,como devendo 100 francos. Como104 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 105mars 2013nada mais consta sobre ele, sua estadadeve ter sido muito curta.Jean Fleury, de Tiranges, deve 50 fr.em 28 de março, mas nada paga.Como o anterior, ele veio e se foi.Jean Antoine Monnier, de Boisset,está relatado no dia 23 de abril de 1822devendo 200 fr., sem indicar depósito.Mas em 4 de maio de 1823, André Monier(provavelmente seu pai) constacomo devendo 96 fr. e deposita 60. Nãoparece ser do primeiro grupo de postulantes,mas de um segundo que chegoucom o Irmão enviado por Champagnatpara acertar a admissão dos primeiros.Mesmo tendo ficado mais deum ano na casa, não chega a tomar abatina, e é possível que o depósito dodia 4 de maio seja um acerto das contaspor ocasião de sua saída.Da mesma forma, há um tal MichelMarconnet, de Boisset, registrado em23 de abril com o número “12 p.m.”, dedifícil interpretação (12 fr. para lembrete?)que, em 30 de setembro, entrega30 francos. No dia 2 de julho de1823, certo André Marconnet (seu paiou um parente) deposita 50 fr. “para legítimodireito”, isto é, provavelmentepara os gastos de estada na casa, oque significa que nessa data ele provavelmentejá se havia retirado.Há também um Jean Aubert, anotadono dia 15 de setembro de 1822,oriundo de Saint Pal en Chalancon, quese tornará o Irmão Jean-Louis, quetraz 24 fr., mas, a seguir, deposita combastante regularidade quantidade dedinheiro, até a data de 8 de outubro de1824. Tornou-se o Irmão Jean-Louis, eé um dos dois revoltados na questãodas meias de pano, em 1829. No totalele deposita 304 francos.O caso de Jacques Furet, irmão deJoão Batista, se parece ao de Jean Aubert.Vindo do mesmo lugar e entrandono mesmo dia, provavelmente eleseguiu o caminho com o outro. Elepaga 30 fr. sem que um total devidoseja anotado. Certamente desejoso dese instruir, ele compra na casa uma“Conduite des frères” – Metodologiados Irmãos – (32 sous = 1,6 F) e um fascículode papel (40 cêntimos). No registrodos votos perpétuos que ele emiteem 20 de outubro de 1826, ele declarater entrado no noviciado em 23 desetembro de 1823, e de ter tomado ohábito com o nome de Irmão Cyprien,no dia 22 de outubro de 1824. O IrmãoAvit o declara saído, em seguida.Finalmente, o registro se refere aum Bonnefoix Jean-Claude, de St. GenestMalifaux, sem data nem total devidoou depositado, e que parece setornou o Régis. Seu caso parece estranho.Globalmente, a chegada dos postulantesda Haute-Loire se nos apresentaum pouco mais complexa doque no-la relata o Irmão João Batistana Vida. Parece que, para a maioriadesses 8 jovens, a perspectiva de entrarno noviciado dos FSC era bastantevaga. Entre eles, os três em condiçõesde fornecer uma quantia significativa,desde o dia 28 de março: Claude Aubert(40), François Civier (12), J. B. Furet(30) são talvez aqueles que tinhamAndré Lanfrey, fms 105


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 106<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASa intenção de entrar com os FSC. Noque concerne às questões econômicasda entrada deles, elas passampor diversas tratativas e por pagamentosparcelados, registrados emapanhado bastante confuso.5.5. A questão do nomedo recrutadorO Irmão Gabriel Michel, em tempospassados, emitiu a teoria de que o famosorecrutador dos jovens postulantesera Benoît Grizard que, efetivamente,entrou duas vezes com o FSCe com eles permaneceu por 6 anos nototal. Mas, oriundo de Belleroche, aonorte do departamento da Loire, parecenão ser correto. Por outra, hátrês Aubert entre os jovens provindosde Haute-Loire em 1822, dois deSt. Pal-en-Chalancon e um (Pierre Aubert)de Boisset que sai em junho de1822. Os dois vilarejos estando próximos,podemos nos perguntar se o recrutadornão é, ele próprio, um Aubertque teria recrutado irmãos,primos ou sobrinhos. No registro deentrada dos FSC de Caluire consta,aliás, sob o número de matrícula 445,um tal Paul Aubert, natural de Boisset,que entrou no dia 27 de janeiro de1820, com a idade de 19 anos.Outras hipóteses são possíveis apartir da lista de entradas desde 1805a 1830, no próprio Instituto que os Irmãosdas Escolas Cristãs estabeleceram.81 Nela constatamos que o númerode noviços provindo deHaute-Loire é bem pouco representativo.O resultado é o seguinte: de St.Pal-en-Chalancon, um noviço em1809; de Boisset, um noviço em 1816,e um em 1820. Por fim, de Tirange, umnoviço em 1819. Somente o povoadode Bas-en-Basset é fecundo paraeles; e no momento em que os postulantesde Haute-Loire chegam al’Hermitage, sai um noviço em 1811;dois em 1820; quatro em 1821, e dezem 1822. O ex-Irmão das EscolasCristãs parece, portanto, ter caçadoem terras ainda pouco desbravadas.O confronto da lista dos FSC comaquela dos postulantes de Haute-Loirefornece convergências de nomes defamília que não deixam de ter interesse,mesmo se não nos dão certezas:Postulantes da Origem FSC Origem e data deH.L. em 1822 tomada de hábitoAubert Claude St Pal-en Aubert Paul Boisset (1820)(Ir. André) Chalancon (Ir. Abel, 19 anos)Aubert Pierre BoissetAubert Jean St Pal-en-Ch.(Ir. Jean-Louis)Civier François Bas-en Basset Civier Pierre Bas-en Basset(Ir. Régis) (Ir. Natal, 16 anos) (1821)Poncet Georges Tirange Poncet Louis(Ir. Pérégrin, 21 anos) Tirange (1819)81 Arquivo dos lassalistas, Lyon.106 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 107mars 2013Supondo que o ex-FSC tenha escolhidoaspirantes em sua própria família,teríamos três candidatos possíveispara a função de recrutador. Poroutra, Louis Ponce, que leva entre osFSC o título de Ir. Pérégrin, chama anossa atenção, pois o Irmão Avit,que nos fornece a lista das tomadasde hábito em outubro de 1823 82 ,menciona entre eles um Irmão Pérégrinque não está citado em nenhumaoutra parte.Outro personagem surge para desaparecerlogo em seguida: um talBonnefoix Jean-Claude, de St. Genest-Malifaux83 cuja entrada se situadepois de 28 de março de 1822, massem qualquer precisão. Ora, as listasdos FSC mencionam um certo Jean-Paul Bonnefoy, originário de Apinac,onde, Pe. Beynieu, tio de Pe. Courveille,é pároco, no Loire, mas bemperto de Saint Pal, Tiranges e Bosset,o qual entrou no noviciado em 1816,aos 18 anos. Pode-se bem supor queesses dois Bonnefoy sejam o mesmosujeito 84 , visto que sua permanênciacom os FSC teria durado seis anoscomo a Vida o atesta 85 .Em resumo, o problema da identidadedo recrutador dos postulantesda Haute-Loire permanece, mesmoque as hipóteses acima possam aportaralguns elementos com vistas a algumafutura pesquisa.5.6. O padre Courveillee o recrutadordos postulantesÉ surpreendente constatar queos vilarejos onde atua o ex-FSC estãopróximos de Usson-en-Forez,lugar de nascimento do padre Courveille,e de Apinac, onde este fez umaparte de seus estudos eclesiásticosjunto de seu tio sacerdote. Por outra,em 1822, Courveille fundou irmãos emFeurs 86 e se encontra exercendo oministério em Epercieux. Pode-sesupor que o ex-Irmão, buscando umlugar e conhecendo o Pe. Courveille,tenha podido ser enviado por este, ouse tenha autorizado, por causa dessarelação, o que explicaria porque oPe. Champagnat o escuta e até mesmolhe concede uma carta de apresentação.Esse forte elo com Apinacestá ainda ilustrado pela proposiçãode um morador dessa localidade,em 1824, de dar três propriedadesaos Irmãos de Maria: uma no valor de800 fr., e duas outras de 8.000 fr.cada uma 87 .82 Anais do Instituto, 1822, § 35.83 OFM 1 doc. 105/2.84 Seu nome constava no registro apenas para memória; dali a imprecisão concernente a seus nomese origem, na espera de um regulamento para sua estada.85 Cap.6, p. 98.86 OM1, doc. 75.87 OM1, doc. 110. O arcebispado é do parecer de aceitar e transmite a proposta ao Pe. Champagnat.Porém, nada se concretiza.André Lanfrey, fms 107


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 108<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS5.7. A ampliaçãode Lavalla em 1822Sabemos que, durante o verão de1822, Champagnat e os Irmãos ampliarama casa de Lavalla, e o Registrode inscrições 88 nos dá um eco das despesasfeitas então. Em 22 de outubrode 1823, Champagnat pagou 12 fr. pelaspedras de cantaria, e no dia 1° de dezembro,ele entrega 45 fr. a Poson “pelascarroçadas de telhas e outros”. Em5 de dezembro, ele deposita 100 fr. paraMatricon, prefeito e marceneiro. No dia10 de dezembro, ele paga em duas vezes52 fr.; por «guarnições de ferro» 89e em 27 de dezembro, ele entrega ainda138 fr. a um marceneiro que é, semdúvida, o sr. Matricon. Em 8 de janeirode 1824, ele deposita 65 fr. por «telhas».Sem dúvida alguma, esses pagamentosno final de 1823 nos dão umaideia dos prazos habitualmente praticadosentre compra e pagamento:mais ou menos 18 meses. É certo quenem todas as despesas estão incluídasnessas contas, seja por esquecimento,seja por imprecisões nos itens.Por exemplo, a Vida diz que as pedrasnão eram assentadas com cal, mascom terra gordurosa. Mas em junhode 1822, o registro das entradas se refereacidentalmente a “cal” (chaut),sem mais detalhes 90 . Por outra, seriasurpreendente que a casa tenha sidoconstruída sem esse produto. Dequalquer forma, como Champagnatnão menciona nenhum pagamento apedreiros, pode-se acreditar na Vidaque afirma que a construção foi realizadapor Champagnat e os Irmãos.Em contrapartida, o marceneiro Matriconinterveio bastante na realizaçãodo madeiramento da casa.O conjunto das despesas reunidasalcança certamente a soma de 412francos. Se pensamos que nada estáindicado quanto à compra da madeirade vigamento e de soalho, e poucascoisas para as telhas, é preciso, semdúvida, quadruplicar o total pago porChampagnat para essa ampliação dacasa. Em balancete financeiro de 7de agosto de 1826 91 , Champagnatavaliará em 4000 fr. «o que tenho emLavalla». E como ele comprou a casapor 1600 fr. em 1818...CONCLUSÃODurante o ano de 1822, a área de influênciada obra de Lavalla se estende,portanto, bruscamente mediante umestranho recrutador apoiado, semdúvida, por uma rede relacional daqual ignoramos quase tudo. Essa irrupçãode um grupo expressivo nãoestá livre de ambiguidades nem dedissabores, mas Champagnat interpretao evento como sinal de que suaobra é querida por Maria. E a ampliaçãode Lavalla anuncia a construçãode l’Hermitage.88 Documento 106 (OFM/1, p. <strong>31</strong>6-<strong>31</strong>7)89 Peças metálicas que serviam para reforçar uma obra em madeira. Provavelmente para as janelas.90 OFM, t. 1, doc. 105, p. 300.91 OFM/1, doc. 136, p. 541.108 II. A vida material dos irmãos em Lavalla


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 109ESTUDOSIII.DE LAVALLAA L’HERMITAGE:CRISE INICIAL ELENTA MUDANÇAMATERIALAndré Lanfreyfms1. O PRIMEIRO ANOEM L´HERMITAGE(1825-1826)1.1. Problemas financeirose crise de identidadeA mudança de Lavalla para l’Hermitagenão é apenas troca de lugar,mas completa mutação de um ramodos Irmãos, que Champagnat pareceter considerado até então como umesboço da Sociedade de Maria. Financiando,conjuntamente, a construçãode l’Hermitage, Courveille eChampagnat pretendem constituir aSociedade de Maria dentro do espíritodo Formulário de 1816, com noviciadopara Irmãos e casa missionáriapara os sacerdotes, tendo Courveillepor diretor espiritual e Champagnatpor administrador. Mas o Pe. Terraillon,o terceiro sacerdote, concebe aSociedade segundo o modelo iniciadopor J. C. Colin na diocese deBelley. 1 Já o arcebispado de Liãoquer uma congregação diocesanade Irmãos educadores, dirigida peloPe. Champagnat, coadjuvado pordois padres auxiliares. Por fim, os Irmãosnão consideram a consagraçãode Fourvière como origem da Sociedade,em 1816, e sim a fundaçãode 1817, em Lavalla.Com a casa construída e a comunidadetransladada para l’Hermitage,todas essas divergências rapidamentesurgem à tona e provocamuma série de conflitos concernentesà natureza da Sociedade de Maria,misturados com uma situação financeiramuito difícil. Os documentos deque dispomos possibilitam desvendarparcialmente as peripécias dessaonda de conflitos que culminaramcom a consagração de Champagnatcomo fundador e superior daquiloque é mais do que um ramo da Sociedadede Maria, mas também umprimeiro fracasso na constituição doramo dos padres em l’Hermitage.1 Cf. OM 1, doc. 115? Carta do Pe. Terraillon a J. C. Colin, em <strong>31</strong> de outubro de 1824.109


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 110<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS1.2. O aspecto financeirodo problemaAté 1824, a obra de Champagnatteve uma existência essencialmentelocal, e suas necessidades financeirassão relativamente pequenas. Vai serbem diferente com a construção del’Hermitage que vai movimentar considerávelvolume de capital. Como aconfiança de Marcelino Champagnatna providência não está desvinculadada realidade, ele empreende essaobra dispondo de credores.Por isso, em 13 de maio de 1824,Champagnat e Courveille compram, nolocal chamado Les Gaux, de cinco proprietários,um terreno com madeira, arbustos,rochedo e um pequeno prado,pelo preço oficial de 6.600 Francos,mas na realidade bem mais. O IrmãoAvit fala de uns 10.000 a 12.000 Francos.Ele sinaliza (§ 78) que não se sabequanto custou a casa “nem o total dasdoações recebidas, com exceção dos8.000 francos doados pelo bispo Domde Pins”, e acrescenta: “O Irmão JoãoBatista achava que ela havia custadomais de 6.000 Francos”.Uma carta de J. C. Colin, em 27 denovembro de 1824, evoca essa doaçãode Dom de Pins 2 , mas pode-se duvidarde sua existência. Com efeito, em 13 deabril de 1824 seu conselho, tomandoconhecimento do projeto de aquisiçãodo terreno de l’Hermitage por Champagnat,decide: “Nesta questão, deixálo-emospor conta”. (OM1/ doc. 98).Por outra, um fulano de Apinac se dispôsa doar aos Irmãos de Maria umapropriedade no valor de 800 F., e doisoutros domínios de 8.000 F. cada um.Em 28 de julho, o conselho diocesanoé do parecer de aceitar e de consultarPe. Champagnat. O negócio não teráprosseguimento (OM1/ doc. 110) 3 , maspodem ter originado nas mentes os rumoresrelatados por J. C. Colin.Com quem o Pe. Champagnat encontrouo dinheiro necessário para aconstrução de l’Hermitage? Primeiramente,com o Pe. Courveille, de quemparece ter obtido em torno de uns5.000 F., visto que, em 5 de outubrode 1826 (OM1/doc.166), Champagnatdeposita esse montante para ressarci-lo.Para o restante, ele se beneficioude doações e de empréstimoslocais, de que as contas nos dãouma ideia, e em particular o registro deinscrições (OFM, doc.109) num “relatórioda situação financeira”, em 22 defevereiro de 1826, que organiza umalista das dívidas da casa, na época daconvalescência de Champagnat. Infelizmente,esse documento é de difícilinterpretação, pois, sobre umamesma linha, ele relaciona dois personagense dois totais diferentes, enão distingue claramente os que emprestamdos que fornecem.2 OM1, doc. 121: “Ele já havia feito vários adiantamentos e deu oito mil francos para uma casa; e issodá o que falar em Lião”.3 O doador teria tido em vista uma colônia agrícola, o que não correspondia com a meta de Champagnat.Apinac estando situada perto do lugar de recrutamento de Haute-Loire e sendo a terra natal dePe. Courveille, percebe-se que a obra de Lavalla se identifica apenas vagamente com sua base; sua imagemé menos de ensino do que social e agrícola: em síntese, uma espécie de convento trapista.110 III. De Lavalla a l’Hermitage: crise inicial e lenta mudança material


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 111mars 2013Sr. Maréchal, em LiãoSr. Bonard de Rive de Gie 4Sr. pároco de St. Pierre 5Monteiller de St. ChamonSr. Faivre de LyonEmpregado de M. RoyerSr. Finas, escrivão em St. Ch.Sr. pároco de IzieuxSr. LagierOdras de LavallasCrapanne de LavallasSr. Journoux, vigar. St. Ch.Sr. Tardy de St. EtienneSr. Grangier St. Eti.Funileiro St.Blachon de St.O ferradorem St. Etienne outra despesasapateiro de St. Ch.sapateiro de Lavallaspároco d’Empuysa viúva BridouCourbonJournoux 6Seleiro (arreios)faturamédicodiretor 7hospitallãMinardGiller f. fabresGuyot 8Achard (?)ChevaliercaseiroMaria12.0003.5002.300357201.0002003.0001.1001602004002602001502001.00070012.00070040030012.0003.0003.8003.0001.0001.0001.6004.00060090080040020040030018010028020012.0001.0001.0001.0003.550Pensamos poder interpretar esses dados da seguinte maneira 9 :Credores e Dinheiro Dívidas por Reembolsado Resto aemprestadores pedido emprestado trabalhos pagare serviçosSr. Maréchal à Lyon 12000 12000Sr. Bonard, de Rive-de-Gier 3500 500 3000Sr. pároco de St. Pierreet M. Journoux 3800 1500 2300Montellier de St Chamond 3000Um seleiro (selas) 35Sr. Faivre de Lyon(pagamento de uma fatura) 1000 280 7204 É difícil interpretar o significado dos nomes riscados. Pode-se supor que tenham sido riscados, umavez a conta quitada.5 Dervieux.6 Vigário em St. Chamond.7 Pode ser o diretor do colégio de St. Chamond.8 Livreiro.9 Quando consta um só nome na lista, o total maior indicará a dívida máxima, e o outro, a dívida remanescenteapós o pagamento parcial. Quando constam dois nomes, a partilha é mais aleatória.André Lanfrey, fms 111


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 112<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASO empregado do Sr. Royer 1000 1000Sr. Finas, escrivão 1600 1400 200Sr. vigário de Izieux 4000 1000 3000Sr. Lagier 1100 500 600Odras (Audras) de Lavalla 900Médico 160Crapanne de Lavalla 800Diretor (do colégio?) 200Journoux, vigário de St. Ch. 400O hospital (de St. Chamond?) 400Tardy de St Etienne200 (laine)Grangier de St Etienne 400 140 260Um funileiro de St. Chamond 300 100 200Blachon de St. Chamond 150Minard 180Um ferrador 200Giller et Fabre, St Etienne 100Sapateiro de St. Chamond 280Guyot (livreiro em Lyon) 1000Sapateiro de Lavalla 200Achard 700Vigário de Empuis (Ampuis) 12000 12000Viuva Bridou 1000Chevalier 700Courbon 1000Um caseiro 400Maria 1000 700 300? 3550 3550Total 50450 6803 6120 39130Sendo aceita nossa interpretaçãoda distribuição das quantias expostasacima, o total de empréstimos e dívidasalcança aproximadamente ummontante de 57.000 F, dos quais umpouco mais de 10% teriam sido reembolsados.Mas essas dívidas não têmtodas a mesma urgência. Assim, osdois empréstimos de 12.000 F são delongo prazo. Portanto, seria preciso levarem conta que as dívidas e os empréstimosque mais preocupam, no finalde fevereiro de 1826, alcançam asoma de 39.130-24.000 = 15.130 F.Os registros de contas e, em particular,o de gastos (OFM, doc. 120) permitemsituar de modo melhor boa partedos emprestadores e credores, e deacompanhar a situação dos pagamentosulteriores que correspondem,em parte, aos dados acima expostos.112 III. De Lavalla a l’Hermitage: crise inicial e lenta mudança material


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 113mars 2013CredorSr. Maréchal em Lyon(procurador da Srta. deDivonne)Outro?12.000 12.000Registro de despesas(pagamentos)12/7/26: Entregues ao Sr. Maréchalde Lyon 240 F.1/27: Ao Sr. Maréchal de Lyon 240 F.22/11/27: 120 F. ao Sr. Maréchal2/6/28: Entregues ao Maréchalpara o Sr. Séon 1000 F.22/2/33: Pagamento de 6480 F.Sr. Bonard de Rivede Gier3500 30001/4/2: Ao Sr. Bonard de Rive-de-Gier 3000 F.Sr. Vigário de St. Pierre(Dervieux)Journoux(vigário)2300 3800Ver Vida Ch., p. 133, nota 18.Pe. Dervieux teria depositado 6000 Fpara indenizar os credores.Monteillerde St. ChamondSr. Faivre de LyonEmpregado doSr. RoyerSr. Finas,escrivão em St. Ch.Sr. pároco d’IzieuxSr. LagierOdras de LavallaCrapanne de LavallasPe. Journoux, vigárioSt. Ch.seleiro 35 3000fatura 720 10001000 1000200 16003000 40001100 600médico 160 900diretor 200 800hospital 400 4003/5/26: Ao Montellier, comerciantede ferro: 34009/1/28: Entregues a David, seleiroem St. Chamond 40 F.10/5/26: Entregue a Lion : 1500 F.20/5/28: Entregues ao empregadodo Sr. Royer 1015 F.20/2/26: Entregues ao Pe. Champagnatpara o notário Finaz 116 F.3/5/26: Entregues ao Sr. Finas: 1000 F.22/11/27: Entregues ao Sr. párocode Izieux 45 F.5/6/28: Entregues 1000 F.Set. 28: 1000 F.5/5/26: Ao Sr. Lagier, comerciante:1000 F22/6/26: Ao Sr. Lagier: 1000 F;Maio 27: 600 F a Lagier caçula;400 F. a Lagier primogênito18/2/28: Entregues ao Sr. Lagier 1014 F.22/11/27: Entregues a Odrasprimogênito 1000 F.9/1/28: Entregues ao Sr. Bernard,médico em St. Chamond 40 F.17/9/26: Entregues a Crapanne deLa Rivoire, por trigo 55 F.17/1/27: A Crapanne de La Rivoire, 327 F.(OFM 110), 15 março de 1827:«recebidos do Pe. Journou,vigário, 1050».André Lanfrey, fms 113


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 114<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASSr. Tardy de St. EtienneSr. Grangier St. Eti.Funileiro St.lã 200260 400200 3001/4/27: Ao Sr. Tardy decos 300 F.23/6/26: Sr. Grangier: 100 F.29/4/27: Ao Sr. Grangierde St Etienne 200 F + 210 F.19/12/27: Entregues a Bertolin,funileiro em St Chamond 213 F.Blachon de St.82O ferradorMinard 150 18020014/3/26: Entregues a Sr. Blachondde St Chamond 123 F.13/3/26 Pagos a Marcouserralheiro em St. Chamond 100 F.5/5/26: 350 F.1/27: Pagos a Marcou,ferrador em St. Chamond 232 FEm St. Etienneoutra despesaGiller f.Fabres10026/7/2 : Entregues para pagaros irmãosFabres: 20;e para o Sr. Gillet: 85 F.Sapateiro de St. Ch.Guyot 1000 2808/9/26: pagos ao sapateiro 200 F.3/12/26: pagos ao sapateiroVincent de St. Chamond 104 F.Pagos ao sapateiro Dionde St. Chamond 19120/10/27: Pagos ao Sr. Guyot 280 F.Spateiro de LavallasAchard(?)700 200A Jean Bacher, sapateiroem Lavalla: 200 F.Vigário de EmpuysA viúva BridouCourbon12000 12000Chevalier 700 1000Doméstico 400 1000Maria 300 1000É uma renda constituída(OFM 3, doc. 657) reembolsávelsem prazo delimitado.24/3/27: Pagos a Courbon para suairmã viúva Bridou 50 F. pelos jurosdos 1000 F. com vencimentono corrente fevereiro.18/12/26: Pagos a Courbon Lyonnelde St. Etienne 700 F.1/4/27: 50+4008/11/28: Pagos a Courbondu Bachat 10153550114 III. De Lavalla a l’Hermitage: crise inicial e lenta mudança material


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 115mars 2013Entre os credores, constam váriossacerdotes: não só o Sr. Dervieux,mas o pároco de Izieux e o vigárioJournoux. Há também negociantes,habitantes de Lavalla e mesmo empregadosentre os emprestadores.Em síntese, Champagnat se beneficiouda ajuda de sua rede social eeconômica para conseguir os recursosnecessários para seu empreendimento,como todo mundo fazia então,dentro do universo econômicocarente de rede bancária desenvolvida.De qualquer modo, o custo dacasa parece ultrapassar os 20.000 F.1.3. Champagnate PatouillardO Ir Avit e outros justificam a escolhade Gaux pela quietude do lugar;mas, na realidade, no mesmo ano,logo depois da aquisição de Champagnat-Courveille,em 3 de julho de1824, Mateus Patouillard comprou,de Antonio Thiollère-Laroche, o terrenoe as construções do outro lado doGier, onde instala oficinas (Avit, 1839§ 468). Como lugar solitário, há outrosmelhores. O Instituto conseguirá compraressa propriedade só em 1839, por39.000 F, justamente para ter tranquilidade.Qual teria sido o preço de compra,em 1824, para Patouillard? E Champagnat-Courveilletambém teriam tentadocomprar? Talvez não dispunhamdo montante necessário para concorrercom Patouillard, e a compra deum estabelecimento industrial nãocorresponderia ao projeto deles. É porfalta de algo melhor que eles se instalamdefronte, beneficiando-se, contudo,das vantagens da água doGier. 10 O nome “hermitage” dado aolugar não corresponde bem à realidadee revela certa contradição entreo ideal de distanciamento do mundoe o desejo de constituir um polo missionáriojunto das populações. Essacontradição entre a utopia e necessidadeserá um elemento da crise deidentidade então vivida.1.4. A construçãode l’HermitageO trabalho urgente foi o corte do rochedopara ali construir a asa orientalda casa. O Ir. Avit indica claramente osempreiteiros: Roussier, mestre deobras de Lavalla, Benoît Matricon,marceneiro de Lavalla, e Robert, gesseirode St. Chamond. Ele faz notar quea cal sendo muito cara, a argamassaera feita de rochas em decomposiçãomoídas. Mas as contas de l’Hermitageindicam compras de cal, produtoaliás, não muito dispendioso.Os livros de contas permitem seguirmais ou menos as outras comprasfeitas por Champagnat nessaocasião, e as quantias depositadas aseus prestadores de serviços. Infelizmente,a principal fonte, o livro de despesas,começa apenas em 1826, e dásomente uma visão parcial que épreciso completar com fragmentoscolhidos em outros documentos anterioresa 1826.10 Mas sem o direito de estabelecer um canal.André Lanfrey, fms 115


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 116<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASData Fornecedor Produtos e serviços PreçosEm OFM/1, doc. 105,p. 302…21/10/1824 J.M. Payre madeira 60017/2/1825 J.M. Payre madeira 30020/10/1824 15 caixotes de cal 1522/10/1824 300 telhas 30023/10/1824 300 telhas 300?/2/1824 Tibau Travessas(madeira de vigamento) ?18/10/24 Carroça de tábuas ?Em OFM/1, doc. 106,p. <strong>31</strong>6…29/5/1825 Jacques (Couturier?) 900 tijolos; 600 telhas1825 Rembeau 1800 telhas; 2000 tijolos ?Em OFM/1, doc. 108,p. 320?/3/1825 Matricon Benoît marceneiro 30Robert gesseiro 6027/4/1825 Gerin 2 carroças de caibros 4430/4/1825 Gerin 2 carroças de tábuas 6430/5/1825 Gerin somatória paga 1045Julho-out. 1825 Matricon du Bessat 39 carroças de tábuas 1100Fevereiro-out. 1825 Benoît Matricon 172Abril-maio 1825 Benoît Matricon 60Julho-agos. 1825 Etienne Roussier Pedreiro (82 dias) 395Nov. 1825-set.26 Chapas de vidro 97Julho 25-Fevereiro’’ 27 B. Matricon 435 dias 1136<strong>31</strong>/7/1825 Jean Marcou Ferragem 600Total 6918Sem contar os tijolos, as telhas ecerto número de carroçadas de madeiracujo preço não é indicado,chega-se a um montante próximode 7.000 F, e claramente as quantiasdepositadas para o gesseiro Roberte ao pedreiro Etienne Roussier sãosubvalorizadas.1.5. Registrode despesasO registro das despesas, de certaforma, complementa as informaçõesacima, dando uma visão dos pagamentosque parecem estar relacionadoscom a construção da casa.116 III. De Lavalla a l’Hermitage: crise inicial e lenta mudança material


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 117mars 2013É o ano dos grandes pagamentosdevido aos rumores de falênciaque levaram os principais credoresa se precipitarem. O montanteaproximado de 10.000 F, somadoaos 7.000 F dos anos 1824-1825,dariam uma boa ideia do custo dacasa.23/1/1826 Cal <strong>31</strong>44/2/1826 Matricon marceneiro 206/2/1826 Neyrand Ferro 1409/2/1826 Matricon marceneiro 3323/2/1826 Matricon marceneiro 6023/2/1826 telheiro (tijolos) 10714/3/1826 Neyrand Vidro 19517/2/1826 Monjou minor pedreiro 10028/3/1826 Monjou minor 508/4/1826 Monjou minor 5022/4/1826 Antoine Robert gesseiro 100?/5/1826 Antoine Robert 6003/5/1826 Finaz notário 10003/5/1826 Montelier comerciante de ferro 34005/5/1826 Lagier comerciante 100010/5/1826 Lion (Lyon?) um fornecedor de Lião? 150014/5/1826 Matricon 10014/5/1826 Monjou minor 2010/6/1826 Roussier 28522/6/1826 Lagier 100026/6/1826 Matricon Benoît marceneiro 608/7/1826 Roussier 50Total 10184Em síntese, o exame dos livrosde contas nos indica um custo mínimoda casa de uns 17.000 F.1.6. Término da obrapelos IrmãosA comunidade deixa Lavalla emmaio de 1825. Recordemos que ela secompõe de 20 Irmãos e 10 postulantes,enquanto 22 Irmãos estão nas comunidadesapostólicas. O Ir. Avit não falada presença de pensionistas com eles,mas certamente deve ter havido. Nessadata, a capela, dominando a casa nolado sudeste, ainda não está acabadavisto que uma capela provisória funcionano primeiro andar da ala leste durantetrês meses. A bênção da capeladefinitiva, pelo Pe. Dervieux, em 13 deagosto de 1825, marca o fim dos trabalhospesados da casa até 1836. Apresença do Pe. Dervieux é prova deque, na época, esse sacerdote, tão influenteem St. Chamond, era amigo doPe. Champagnat já de certo tempo.André Lanfrey, fms 117


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 118<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASNessa época, os arredores da casanão estão arrumados. O Ir. Avit situaem 1824 (§ 52) a construção do murode pedras sem argamassa, de algumascentenas de metros, para canalizaro Gier, bem como a erradicaçãodas árvores, do matagal e pedras, seguidasdo nivelamento do terreno adequadopara constituir um espaço cultivável.Porém, esses trabalhos demoradose árduos adentraram pelosanos de 1825 a 1829.É verdade que em 13 de dezembrode 1825, quando Champagnat e Courveillepedem emprestada a quantia de12.000 F à Srta. Justine de Divonne, emLião (OM1/doc. 142), hipotecando todosos seus bens, em particular l’Hermitage,essa propriedade é descrita assim:“grandes edificações, pátios, jardins, pomar,galinheiro, prados, terreno cultivável,arvoredo e um canal de água”(OM1/doc. 142). Mas o pagamentotendo sido efetuado só em 13 de dezembrode 1829, os Padres Courveillee Champagnat descrevem a situaçãona qual deveria estar a casa nessa data.Esses trabalhos serão uma dascausas de divergências entre o Pe.Courveille e o Pe. Champagnat: aquele,repreendendo a este por não formarbem os noviços, que foram massivamenteempregados nessa arrumação,durante vários anos. Com efeito,o Ir Avit (1830, § 134) afirma: “Apesardo rigoroso inverno de 1830, o PadreChampagnat, Philippe, seu sobrinho, evários Irmãos arrancaram as árvores,removeram as pedras e criaram ogrande patamar bem como o caminhoque a ele conduz, sobre a vertenteoeste do lado oriental”. Se foi dado inícioao trabalho de arrumação das encostas,é sinal de que a parte planaestá concluída.1.7. Um conflito delegitimidade em 1825Os problemas financeiros e materiaisserão apenas secundários, desdeque houve a eleição de Champagnatcomo superior no outono de 1825, provavelmenteem outubro. O relato dessefeito importante, citado na Vida(Cap. 13, p. 129-130) mostra que essaescolha desconcerta não só a Courveille,mas também ao próprio Champagnat;e desencadeia uma crise entreos Irmãos antigos e Courveille, enquantoque Champagnat se sente incômodoentre os dois fogos.Já evocamos na introdução o nó doproblema: o Pe. Courveille, considerando-seo fundador escolhido por Maria,quer constituir a Sociedade deMaria a partir do Formulário de 1816, redigidosob sua inspiração. Para ele, oPe. Champagnat é somente um precursorque, como João Batista em relaçãoa Jesus, é destinado a exercerfunções secundárias e a confiar-lhe osdiscípulos, o que parece ter anuênciade Champagnat.Não é propriamente uma crise deautoridade como é relatado na Vida,mas um debate sobre as origens dasociedade de l’Hermitage: em 1816 emSt. Irénée e Fourvière, ou em 1817 emLavalla? Pode-se entender facilmenteo mal-estar de Champagnat, único queparticipou dos dois eventos fundado-118 III. De Lavalla a l’Hermitage: crise inicial e lenta mudança material


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 119mars 2013res, exigido entre seus confrades eseus discípulos. Entretanto, a oposiçãodos Irmãos ao Padre Courveille não pareceafetar basicamente as relaçõesChampagnat-Courveille, visto que em13 de dezembro de 1825 eles conseguemum substancioso empréstimo de12.000 F com a Srta. de Divonne, certamentecom a garantia moral do arcebispado(OM1, doc. 142). E em fevereiro,eles atuarão ainda em conjuntopara uma compra.1.8. A doençade Champagnat ea ameaça de falênciaAs fontes maristas (Vida, Avit, Silvestre)descrevem as dificuldadesoriundas da doença de Champagnatque tem início em 26 de dezembro de1825, e não parece impedir o Pe.Courveille de levar a sério sua funçãode administrador, visto que, em 1º dejaneiro de 1826, ele abre um registro dereceitas e um registro de despesas. Adoença de Champagnat se agrava subitamente,uma vez que em 3 de janeiro,Courveille envia aos Irmãos, queestão nas escolas, uma circular solicitandoorações para ele (OM1, doc.147), sem no entanto, reconhecê-locomo superior, pois o denomina seu“filho bem-amado” e o “venerável padrediretor”. No dia 6 de janeiro, Champagnatdita seu testamento; ele estátão debilitado que nem pode assinar.Courveille aceita ser seu procuradorgeral, ao passo que o Pe. Terraillon recusousê-lo.As fontes maristas 11 coincidem, então,em declarar que a iminência demorte de Champagnat aflora entre opúblico, e que os credores chegam emmassa, com ameaças de fazer venderos bens móveis e a casa. Diante dassolicitações do Ir. Estanislau, o Pe. Dervieux,pároco de Saint Pierre, teriaentrado para pagar 6.000 F de dívidas.Se seguimos essa cronologia, teriaacontecido em janeiro-fevereiro umacrise financeira; mas o registro dedespesas dá bem outro argumento:Mês/ano Despesa total DetalhesJaneiro 2905 F. Dos quais «ao Pe. Champagnat em sua doença: 200»de 1826 e «para o Sr. Rigolos, médico em St Etienne: 35 »Fevereiro 1744 F Dos quais «dados ao Pe. Champagnat para pagar o médico oua Sra. Lagier, ou para o Sr. Finaz: 600»; «dados aoPe. Champagnat para Badard de Lavalla: 12 F»;«dados ao Pe. Champagnat para o Sr. Finat: 116»Março 965Abril 200 12Maio 9204 Dos quais «Sr. Finas, notário em St. Chamond: 1000»;«Sr. Montelier, negociante de ferro: 3400»; Sr. Lagier, comerciante:1000; Lion (pessoa residente em Lyon?): 1500»; «AntoineRobert, gesseiro: 600».11 Vida, Avit, Silvestre.12 Esse total diminuto poderia também indicar um acompanhamento pouco cuidadoso da contabilidade.André Lanfrey, fms 119


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 120<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASDe acordo com o registro, adoença do Pe. Champagnat teria ocasionadoum excedente de gastos demil francos, e parece melhor, a partirdo mês de fevereiro. A grande crise financeiraestá no mês de maio. Podemosaté delimitar seu momento culminante:entre os dias 3 e 10 de maio,a casa deve pagar 7.568 francos.Por conseguinte, não é o receioda morte de Champagnat que desencadeoua crise financeira, masoutro evento ou um conjunto de outrosacontecimentos, e, para inteirar-sedisso, é preciso retomar acontinuação do argumento expostopelas fontes maristas.1.9. A continuaçãodo conflitoCourveille-IrmãosAs fontes maristas portadoras datradição dos Irmãos evocam o desânimodeles diante da perspectiva dofalecimento de Champagnat e a severidadede Courveille que ameaça,pune e manda embora. A irritaçãoparece chegar ao extremo quandoCourveille declara publicamente queele está com a intenção de retirar-se.O Ir. Estanislau, líder da oposição,encoraja os Irmãos, faz advertênciasao Pe. Courveille, informa o Pe.Champagnat sobre a situação, epede ajuda ao Pe. Dervieux para pagaras dívidas. Por fim, o Pe. Champagnatse apresenta aos Irmãos reunidospara confirmar sua presençade superior, antes de passar suaconvalescência com o Pe. Dervieux.Courveille suscita, então, uma inspeçãodiocesana severa que confirmasuas afirmações concernentesà formação insuficiente dos Irmãos.Mas ele, devido a uma falta, deveretirar-se para Aiguebelle. Os acontecimentosdescritos teriam acontecidoentre 25 de dezembro de 1825e fim de maio, data da retirada deCourveille.O incômodo desse quadro é queo Ir. Jean-Baptiste, na Vida, empilhoudiversos testemunhos e criouuma cronologia, em parte artificial,difícil de conciliar com aquela do registrodas despesas e mesmo dotestemunho de Champagnat.1.10. Uma carta doPadre Champagnatcom um tombem diferenteEm 1833, quando se trata de afiliarsua obra à do Pe. Querbes,Champagnat evoca “o triste escândalodo Pe. Courveille” e “a deserçãodo Pe. Terraillon” em 1826 13 , sendonão menos severo com o Pe. Terraillondo que para com o Pe. Courveille:13 OM 1, doc. 286. Na realidade, trata-se de um rascunho de carta.120 III. De Lavalla a l’Hermitage: crise inicial e lenta mudança material


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 121mars 2013“Durante uma doença grave e prolongada, estando eu afogado em dívidas, quero constituir o Pe. Terraillonmeu herdeiro universal. O Pe. Terraillon recusa minha herança, dizendo que eu nada tenho, ao mesmotempo que não para de bisbilhotar com o Padre Courveille, junto aos Irmãos: ‘Em breve, os credores virãoexpulsar vocês daqui. Quanto a nós, é só aceitar uma paróquia e abandoná-los’.Por fim, Deus em sua infinita misericórdia, – ai! que digo? – talvez em sua justiça 14 , me devolve por fim asaúde. Tranquilizo meus filhos; digo-lhes que nada temam, que eu compartilharei de todos os seusdissabores, partilhando até o último pedaço de pão.Foi nesta contingência que constatei que nem um nem outro tinha sentimentos de pai para com meusjovens. Por outro lado, não tenho nenhuma queixa contra o pároco de Notre-Dame 15 , cujo proceder emnossa casa foi sempre exemplar.Com o afastamento do Padre C(ourveille) e a partida do Padre Terraillon, fiquei sozinho; porém, Maria nãonos abandona. Aos poucos, vamos pagando as dívidas, outros coirmãos vêm tomar o lugar dos primeiros.Estou sozinho para pagar as custas da manutenção deles. Maria nos ajuda; isso nos basta”.Champagnat verifica, portanto,que tem dois adversários e não estálonge de designar a Terraillon comoo principal. Com efeito, ele insinuaque a tramoia empreendida visa asuscitar a saída dos Irmãos. Ele nãoevoca a ação dos credores, masCourveille e Terraillon, que se servemdessa ameaça para desligar da sociedadeos Irmãos antigos. Contudo,ele não nega a ameaça de falêncianesse período, visto que é questãodo último pedaço de pão.O quadro que ele descreve se desenvolve,portanto, em quatro tempos:1. Sua doença provocando a desconfiançado Pe. Terraillon paracom ele.2. Terraillon e Courveille visando aprovocar a saída dos Irmãosque a eles se opõem.3. A recuperação da saúde e suaação para tranquilizar os Irmãos.4. Sua solicitude como sacerdotee a volta a uma situação financeiramais favorável.1.11. Um problemacronológicoSabemos que o arcebispado nomeouo Pe. Terraillon para l’Hermitageno dia 25 de agosto de 1826 16 , eele certamente está presente no momentoem que os Irmãos elegemChampagnat. Chegado há pouco14 Parece sugerir que a falta de Courveille é um castigo do céu.15 É a função exercida por Terraillon em 1833.16 Dom de Pins proibiu-lhe de ir com os irmãos Colin.André Lanfrey, fms 121


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 122<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAStempo, compreende-se que ele tenhaficado recuado. Em compensação,no início de janeiro, quando ele recusaser procurador de Champagnat,ele externa claramente sua desconfiançaface ao projeto Champagnat-Courveille.Em 14 de fevereiro de 1826, Champagnate Courveille compram do Sr.Bertholon dois terrenos por 1.000 F queeles pagam à vista 17 . Champagnat,nesse dia, vai até o Dr. Finaz, escrivão,o que significa que não está maisacamado. O pagamento da quantiamostra: que Courveille-Champagnattêm crédito; que o entendimento entreeles prossegue, e que não se tratade abandonar a obra. O que aconteceentre o dia 14 de fevereiro e o finalde maio, momento em que o Pe.Courveille deixa a casa, antes de enviar,da trapa de Aiguebelle, uma cartadatada de 4 de junho? Quanto aoPe. Terraillon, ele deixará l’Hermitagepor volta da festa de Todos os Santos(1º de novembro) de 1826.É relativamente fácil situar o entreveroentre Courveille-Terraillon euma parte dos Irmãos liderados peloIr. Estanislau, entre 6 de janeiro e ocomeço de fevereiro. Um testemunhoda Vida indica que ele durou três semanas,e que os estabelecimentosnem foram informados (Vida, cap. 13,p.136). É, pois, uma crise grave, porémbreve. Entretanto, ela fixa nos Irmãosa ideia de que a casa corre orisco de falência.De acordo com a Vida, o Pe.Champagnat teria então ido encontraro Pe. Dervieux, e l’Hermitage teria passadopor uma vistoria diocesana, depoisque uma carta do Pe. Courveilledenunciara a incapacidade do Pe.Champagnat. Nos arquivos do arcebispadonão há traços dessa cartanem dessa inspeção. Em compensação,o conselho do arcebispado formaliza,no dia 5 de julho de 1826 18 , que:“O Pe. Cattet deseja encarregar-se deum retiro para os professores do primário 19em l’Hermitage de St. Chamond”.É possível que esse projeto tenhasuscitado a visita do Sr. Cattet e tenhasido visto pelos Irmãos, particularmenteos mais desconfiados, comouma inspeção. Em todo o caso, nodia 2 de agosto de 1826, o conselhodo arcebispado constata que 20 “Oestado deplorável dos bens temporaisdos Irmãos de l’Hermitage dáuma explicação detalhada de sua situaçãomuito carente”. Mas essasdatas estão em contradição com ainspeção relatada na Vida que a situaantes da saída do Pe. Courveille, istoé, em abril ou maio.As fontes maristas clássicas preconizam,portanto, uma cronologiacurta, encerrada com a saída do Pe.17 OFM, doc. 654.18 OM1, doc. 155.19 Portanto, não somente os Irmãos. Estamos numa época em que o clero domina a universidade.20 OM1, doc. 158122 III. De Lavalla a l’Hermitage: crise inicial e lenta mudança material


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 123mars 2013Courveille. Mas a crise financeira emmaio e os documentos provindos doarcebispado sugerem uma cronologiamais longa: sem dúvida, um encontrode Champagnat com Dervieuxmais tarde, em julho-agosto, eo governo da casa por Terraillon durantesua ausência, o que teria suscitadonova crise, sancionada por suasaída, na festa de Todos os Santos.1.12. Balanço dos anos1825 - 1826Estamos inclinados a optar pelacronologia longa pelo fato de Champagnatser bem claro num ponto: Terraillonrepresentou um papel muitoimportante na crise que só findou nafesta de Todos os Santos. Por outra,a tradição dos Irmãos apagou a açãodo Pe. Terraillon por uma simples razão:no momento da redação daVida de Champagnat, ele ainda vivee é padre marista. Ele falecerá em1869 21 . Sua notícia biográfica acenapara uma personalidade independente,mesmo dominadora, ciosados próprios interesses, que mereceriaum estudo aprofundado. Emtodo o caso, o Pe. Courveille não merececarregar sozinho uma damnatiomemoriae da parte dos Irmãos.Nessa questão, os Irmãos antigosexercem um papel decisivo porqueparece que os padres recém-chegadosquiseram recomeçar a obra: deum lado, procurando afastar os Irmãosantigos, fiéis a Champagnat e à tradiçãode Lavalla; e de outro lado, tentandoformar os noviços de acordocom a própria visão. A tradição dos Irmãosressalta a resistência decididado Ir Estanislau, mas ela revela tambémuma dissensão profunda emsuas fileiras, marcada pela saída do Ir.João Maria Granjon e Ir. Etienne Roumésye pela tentação do Ir. Luís de seorientar para o sacerdócio 22 . O próprioPe. Terraillon parece ter ficado bastanteatingido: o Ir. Avit escreve queantes de sua saída de l’Hermitage:“Após uma doença, ele caiu em profundaletargia” a tal ponto que foi consideradomorto 23 . Em sua carta, de Aiguebelle,o Pe. Courveille saberá bemdefinir a principal causa dessas doençase saídas inesperadas: “a diferençade pareceres sobre o objetivo, aforma, as intenções e o espírito da verdadeiraSociedade de Maria.” 24Em síntese, a eleição de Champagnatse desenvolve em dois momentos:em outubro de 1825, os Irmãoso escolhem como superior,pegando de surpresa não somente aCourveille, mas a ele mesmo. Suadoença é causada em parte pelo dilemaem que se encontra, mas bastantecedo, certamente antes de 14de fevereiro, ele se firma novamentecomo superior, com grande alegriados Irmãos antigos. Entretanto, umafase bastante perturbada parece su-21 OM4, p. 355-356, notícia biográfica.22 Vida, cap. 14, p. 141-144.23 Anais do Instituto, ano 1826, § 57.24 OM1, DOC; 152? § 13.André Lanfrey, fms 123


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 124<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASceder-se favorecida pelo estado de debilidadede Champagnat. Tem-se, então,a impressão de dois conflitos enredados:de um lado, entre os Irmãosantigos, e do outro, entre os três sacerdotes.Por outra, é Terraillon o protagonistado afastamento definitivo deCourveille. Na festa de Todos os Santos,em 1826, Champagnat encontrasesozinho como sacerdote, por assimdizer eleito superior uma segunda vezpor seus discípulos que pareceram, porum tempo, mais decididos que ele.No que concerne às despesas financeiras,bem reais, parecem tersido bastante instrumentalizadas porCourveille e Terraillon. Os pagamentosmassivos de maio de 1826 não provêmdo risco de morte de Champagnat,mas bem provavelmente dos ecos dasdivergências entre os chefes da obra.Aliás, numa carta endereçada a um vigárioimportante, em 1827 25 , Champagnatrelembra: “O malfadado casodo Pe. Courveille e a saída do Pe. Terraillonme colocam em situação equivocada,em relação aos comentáriosdo público que normalmente fala semconhecimento de causa”. Na mesmaépoca, escrevendo ao Pe. Barou, Vigáriogeral, ele é ainda mais explícito:“Como você sabe, estou sozinho, e isso dá o quepensar às pessoas, mesmo as que apoiam a obra eque a ajudam; o povo, que quase sempre fala semconhecimento de causa, me responsabiliza peloafastamento do Pe. Courveille e do Pe. Terraillon 26 ”.Se em 1827 Champagnat vê, sobretudo,os problemas que lheadvêm nesse ano terrível, em 1833,ele vai tirar consequências espirituais:“Maria não nos abandona. Aos poucos,vamos pagando as dívidas; outros coirmãosvêm tomar o lugar dos primeiros.Estou sozinho para pagar as custas da manutençãodeles. Maria nos ajuda; isso nos basta”.Entretanto, desde 1828, mesmotendo já alcançado a estatura de umfundador aos olhos dos Irmãos, ele,em momento algum, pretende darlhesindependência sobre o projetoprimigênio:“A Sociedade dos Irmãos não podeser considerada como a obra de Maria,mas somente como um ramo posteriora essa mesma sociedade.” 27Mesmo que os Irmãos tenhamimposto a legitimidade da fundaçãode Lavalla, Champagnat não a vêcomo apagando o formulário e aconsagração de 1816. O problemade 1825-1826, portanto, permanece:Como combinar praticamente a especificidadeda obra dos Irmãoscom o projeto primigênio? A Sociedadede Maria só sairá desse dilemabem depois da morte de Champagnat,por uma separação amigávelentre o ramo dos padres e o dos Irmãos.25 OM1, doc. 173, § 6.26 OM1, doc; 173, § 16.27 Carta ao Pe. Cattet, Vigário geral, OM1, doc. 185.124 III. De Lavalla a l’Hermitage: crise inicial e lenta mudança material


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 125mars 20132.DA AUSTERIDADE A UMRELATIVO CONFORTO2.1. A alimentação dosIrmãos em 1822-1840A partir da Vida, sabemos que avida em Lavalla era bem austera, e oIr Avit (1822, § 34) relata que a alimentaçãohabitual consistia em “caldosralos e com azeite, pão de centeio,queijo, algum laticínio, legumes,às vezes um pouco de toucinho, eágua”. Ele reconhece que, em 1832 (§198) “a alimentação dos Irmãos começavaa melhorar... servia-se umpouco de carne no almoço...; com umpouco de vinho tingia-se de vermelhoa boa água do Gier [...]. Os outrospratos eram de batatinhas, de cenouras,cozidas na sopa e depois retiradascom uma escumadeira e colocadasnas travessas com um pouco desal”. Na mesma época, nas escolas,“um hectolitro de vinho foi suficientepara “embebedar” 3 Irmãos duranteum ano inteiro”.À luz dos registros de contas, defácil consulta nas Origines des FrèresMaristes, temos os meios para verificare precisar essas afirmações. Pelofato de, nesse artigo, utilizarmos váriasunidades de pesos e medidas, lembramosque naquela época, a Françavive de acordo com as antigas medidas,ainda muito utilizadas, e o sistemamétrico que apenas começa ase impor. Assim, a unidade de capacidadepara os grãos e as batatinhas éo bichet equivalente a 27 a 30 litros.Para os pesos, utiliza-se a libra valendo421,90 gramas, e o quintal (diferentedo quintal métrico) valendo 100libras, ou seja, 42,199 kg. Quanto aodinheiro, a unidade oficial é o franco,mas as pessoas empregam frequentementeo sou (vintém), um franco valendo20 vinténs.Para se ter uma ideia dos salários,é preciso saber que um bom operário(pedreiro, marceneiro...) ganha aproximadamente2 F por dia laboral, e,portanto, uns 600 F por ano. Mas éverdade que a maioria das pessoascultivavam um terreno do qual retiravamgrande parte da própria alimentação.Depois do século XVIII, a Françanão mais conhece a fome, mas temposde penúria e de pão caro.2.2. “Bled” (cereais)e centeioO pão é então um dos alimentosbásicos. É feito a partir do “bled”,palavra que na época designa oscereais em geral, e particularmente ocenteio, que dá o pão de rala (cinzento),alimento comum em muitasregiões da França. O que na Françaé hoje chamado “blé” (trigo) era entãochamado de “froment” (frumento,trigo), com o qual se produziao pão branco, na época, raro ecaro, mas que no século XIX, aospoucos se tornará o pão comum.O centeio ou o trigo devem sermoídos num dos tantos moinhos, aolongo do vale do Gier, principalmentena parte baixa, no lugarejo de LaRive, na confluência do Gier com oBan. A primeira menção de pagamentoa um moleiro aparece nasAndré Lanfrey, fms 125


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 126<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAScontas de outubro de 1823: “mais 70,pagos ao moleiro” 28 . Vários documentosmostram que, em Lavalla, ospróprios Irmãos amassam e assam oseu pão. Para isso, eles deviam teruma amassadeira. Mas não sabemosse possuíam um forno. Em todo ocaso, não era uma tarefa pequena oter que fazer o pão, porém não haviaoutra escolha: o povoado de Lavallaparece não ter tido padeiro.Para se obter o centeio, não hánecessidade de ir muito longe, poisLavalla produz esse cereal em quantidade.Quase sempre, a unidadeutilizada é o “bichet”. Um documento29 indica, em fevereiro-marçode 1824, várias compras de “bled”de alguns habitantes de Lavalla:Chovet, Rivat, Brunon... pelo valorde uns 200 F. O registro de inscrições30 indica no dia 1º de maio de1824: “Recebidas 10 ‘cartes’ de trigoa 3 F cada uma = 30 <strong>31</strong> ”. O livro dasdespesas, 32 que começa em 1826,contém muitas referências a compras.Só em 1826:7/1/1826 Trigo 950 F2/3/26 Trigo comprado de Géraudet Antoine de Lavalla 10214/3/26 Trigo e feno 703/5/26 Trigo comprado de Poëton (Poyeton) de Lavalla 15514/9/26 Trigo comprado de Tardy de Soulages 15717/9/26 Trigo comprado de Crapanne de la Rivoire 5518/11/26 Trigo (200 bichets) 80030/12/26 Trigo comprado do negociante de trigo 300Total2589 FÉ o grande gasto anual da comunidadeefetuado, sobretudo, em novembro-janeiro,no momento emque a malhação do trigo, que tomabastante tempo, já aconteceu e osagricultores vendem sua colheita. Ospreços devem ser então mais baixos:4 F por “bichet”, em novembrode 1826.As compras são feitas junto a diversoshabitantes dos vários lugarejosde Lavalla, e o registro indica umcerto Gallet, do lugarejo de Péalussin,como fornecedor habitual. Entretanto,situada agora mais perto de St. Chamonde mais numerosa, a comunidadecomeça a fazer suas provisões decomerciantes de trigo capazes de ofe-28 Erro de interpretação em OFM/1, doc. 106, p. <strong>31</strong>7, que entende “menuisier” (marceneiro). De fato,a grafia “munier” reproduz a pronúncia, em patoá, de “meunier” (moleiro).29 OFM/1, doc. 106, p. <strong>31</strong>7.30 OFM/1, doc. 105, p. 301.<strong>31</strong> A “carte” parece ser equivalente ao “bichet”.32 OFM/1, doc. 120.126 III. De Lavalla a l’Hermitage: crise inicial e lenta mudança material


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 127mars 2013recer o produto com mais regularidadee, pode ser, com melhores preços.Em todo caso, a partir de 1827 a mudançaparece efetivada:8/3/27 Gallet, 53 « bichets » de cereais e um porco. 2001/4/27 Comerciante de cereais 534Março 1827 Comerciante de cereais 500Maio 1827 Comerciante de cereais 54022/6/1827 Comerciante de cereais 300Agosto 1827 Comerciante de cereais 18012/9/27 Gallet de Pialoussin, de Lavalla 40020/10/1827 Royer d’Izieux, cereais ?Evidentemente, é preciso mandarmoer esses grãos e o custo da moagemaparece frequentemente nas contas.Por exemplo, em 5 de maio de 1827,são pagos 26 F ao moleiro de Izieux, eem 3 de dezembro, 90F por 500 “bichets”a um moleiro não identificado.Uma compra de farinha em St. Chamond(115 F) aparece somente no dia 13de outubro de 1832. Parece que, a partirdesse momento, as compras de trigose tornam mais raras, e que a farinhatenha sido fornecida por CourbonLyonnet, atacadista de Saint Etienne.As compras de “bled” comprovam,portanto, uma evolução nasprovisões: a partir de 1827, há umdesligamento parcial com o lugar deorigem, e uma conexão com as grandesredes de distribuição.2.3. O trigoO Ir Avit 33 e a Vida relatam a arremetidarecebida pelo Ir Diretor de Ampuisque, por ocasião da visita do Pe.Champagnat em 1823, guardavagrande provisão de pão branco, provavelmentedoado pelos habitantes dolugar, porque está tão duro que é precisorompê-lo com o martelo. O Ir Diretorse justifica afirmando que essepão é mais nutritivo que o pão de centeio,e que se come menos. Mas oFundador retruca que a maioria dos vigárioscomem pão de centeio e que oconsumo de trigo não condiz com oespírito de pobreza.Essa atitude rigorosa parece seapagar bastante depressa, pois em 2de junho de 1825, no momento emque a comunidade de Lavalla malacaba de se instalar em l’Hermitage,são comprados, do Gerin, de Bachat,40 quintais de trigo por 11F cada um,portanto por 440 F 34 . Em 3 de fevereirode 1829 (Registro das despesas),compra-se trigo de Gallet, de Péalussin,e sobretudo em 11 de setembro de1830, l’Hermitage compra, de Cho-33 Anais das Casas, Chavanay.34 OFM/1, doc. 108, p. 321.André Lanfrey, fms 127


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 128<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASvet, do lugarejo dos Chozeaux, 12“bichets” e meio de trigo tremês 35por 90F; o que indica um preço de7,2 F por “bichet”, mais ou menos odobro do preço do centeio. As contaspouco indicam depois a comprade trigo, talvez porque os comerciantesde farinha, entre outros,Courbon Lyonnet, atacadista, fornecemtanto a farinha de trigo quanto ade centeio.Seja como for, percebe-se que osprincípios de Champagnat em 1823parecem ser aplicados com tolerância.Pode ser também que a compra,em junho de 1825, tenha suajustificativa nas fadigas provocadaspelos trabalhos de arrumação del’Hermitage: uma recompensa e, aomesmo tempo, um meio de sustentaras forças.2.4. As “truffes”(batatinhas)Nos dias de hoje, em francês apalavra “truffe” indica um cogumeloque cresce na terra e espalha perfumepelos prados. Não sendo cultivável,é produto muito caro. Notempo do Pe. Champagnat, essetermo patoá indicava as batatinhascultivadas na região de Lavalla, apartir da metade do século XVIII. Osregistros de contas utilizam, aliás, osdois termos “truffes” e “pommes deterre” (batatinhas), mas não empregamo termo “patates” (batatas), tãofamiliar, hoje. Com o “bled” (cereal),no começo do século XIX, elas sãoa base da alimentação.Paradoxalmente, os registros decontas pouco mencionam as “truffes”porque é um produto barato equase não comercializado, tendocada propriedade rural sua própriaprodução. Podemos ter certeza deque os próprios Irmãos, em Lavallae a seguir em l’Hermitage, cultivamboa parte das batatinhas necessáriasao consumo próprio, e o restantepoderia vir de doações ou decompras esporádicas.Encontramos a primeira mençãode uma compra de “truffes” (batatinhas)em novembro de 1826, de umtal Chappard, por apenas 25.50 F.Cita-se outra compra, em 1832, deum homem de Sardière por 23.50 F.Em 1830, Chovet, de Chazaux, entregatrinta “bichets” e, em 1832, Audrasde Lavalla vende 50. Nesseano, as batatinhas devem estarcaras visto que Chovet as vendeainda por 25F, a 2.25 por “bichet”.Durante os anos 1837 a 1840, a casacompra entre 40 e 45 “bichets” porum preço de 1F por “bichet”. Um talPerche parece ser o fornecedor preferencialda casa. L’Hermitage pareceter guardado forte ligação comLavalla no que concerne à provisãode batatinhas, ao passo que, comovimos, foi diferente para a questãodo trigo.35 Trigo de primavera que amadurece em três meses.128 III. De Lavalla a l’Hermitage: crise inicial e lenta mudança material


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 129mars 20132.5. As comprasdo vinhoNo dia 24 de abril de 1822, o inspetorGuillard, visitando a escola de SaintSauver-en-Rue, declara: “Esses Irmãosvivem na maior frugalidade e nunca bebemvinho 36 ”. O caderno de inscrições37 , que parece dar as mais antigasinformações financeiras sobre o Instituto,menciona, em 21 de janeiro de1824: “Entregues a Prénat por umtransporte de vinho: 8F”. Evidentemente,não é o preço do vinho, mas deseu transporte. O registro dos gastos,que começa em 1826, menciona, emsetembro, o pagamento de taxas sobreo vinho e o preço de seu transporte:15F. E em outubro, David, negociantede vinho, recebe um pagamentode 80F. Só em 1830 vamos encontrarcompras de vinho, de um fulano Lagarde:150F, em fevereiro, e 45F em julho.Constatamos ainda duas comprasem 1832, de certo homem de Millerypor 60F, e em dezembro 4 pipas (barris)de vinho compradas de David por250F. Só a partir de 1837, são anotadascompras regulares: no valor de 352 F,nesse ano; 488 F, em 1838; 2.089F, em1839 38 , (principalmente o vinho, enviadode St. Paul-Trois-Châteaux). Por fim,1450 F, em 1840.As compras de vinho começaram,portanto, antes do referido em nossasfontes habituais, mas como ascontas não mencionam compras de1827 a 1829, em 18<strong>31</strong> e de 1834 a1836, há algo nebuloso; essas interrupçõespodem originar-se em deficitáriaanotação na contabilidade,bem como de períodos economicamentemais frágeis, durante os quaisse voltou à tradição. Por exemplo, aabstenção no ano de 18<strong>31</strong> explicarse-iapelas consequências da revoluçãode 1830. Em suma, parecepertinente a escolha do ano 1832,como ano do início de consumo regulare bastante significativo.2.6. Consumoda carne de porcoCada propriedade rural de Lavallacria, ao menos, um porco, abatido geralmenteem dezembro-janeiro parase obter toucinho e carne, conservadoscuidadosamente na salgadeira,bem como salsichas, salames e presuntoscolocados para secar nos sótãosou nas chaminés. Curiosamente,nenhum documento, de nosso conhecimento,menciona que, em Lavalla ouem l’Hermitage, a comunidade tenhacriado porcos. Se o fato é facilmentecompreensível para Lavalla, parecemenos evidente para l’Hermitage.Entretanto, pode-se pensar queos Irmãos recebiam, como donativo,carne de porco. Além disso, deveter-se estabelecido desde os inícios36 OM1, doc. 75.37 Documento 106 (OFM/1, p. <strong>31</strong>7)38 Carta do Pe. Champagnat ao Ir. Francisco, em 7 de março de 1838 : “Você sabe que o Sr. Vienodeve supor, eu penso, que nós adquiramos uma centena de barris do vinho dele. É preciso que o Ir. Estanislause entenda com o pessoal da ferrovia que os transportará a Perache (estação de Lyon)”. Documentoassinalado pelo Ir. Henri Réocreux.André Lanfrey, fms 129


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 130<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASo costume de comprar porcos vivos,dos camponeses de Lavalla. O registrode inscrições 39 , em janeiro de1824, menciona a compra de umporco por 122 F. O livro das despesas,iniciado em 1826, está cheiodessas compras. Assim, em janeirode 1826, a casa compra dois porcospor 221F, de Audras de Lavalla, e onoviço Bret, no mesmo mês, compraoutro por 72 F 40 .Em janeiro de 1827, são compradosquatro porcos; um, do Sr. Fara, e outro,de Tibeau, ambos do lugarejo Fleurieux.O total sobe a 530 F. Como em1828, o preço do quintal 41 (100 libras)de porco é de 33F., isso significa acompra de 16 quintais, ou seja, 675 kgde porco vivo, em seguida abatido epreparado pelos Irmãos ou por umapessoa prática no assunto. O suficientepara prover-se de toucinho, presunto,salame... para uma boa parte do ano.E as compras habituais de porco continuama cada ano. Mas, é verdadeque, nessa época, a carne de porconão é considerada nobre, e a comprade carne bovina é sinal de fartura.2.7. A carne de açougueO registro de inscrições 42 indica acompra de uma vaca no dia 7 de janeirode 1824, por 72F, e o doc. 106(OFM/1 p.<strong>31</strong>7), em 18 de janeiro de1824, a compra de outra por 45F. Masé pouco provável que esses dois animaistenham sido para o abate. Semdúvida, é preciso pensar que a comunidadese servia delas para ter o leitee, certamente, para a manteiga equeijo. Por outra, os livros de contas citamcom frequência compras de fenopara alimentar gado. Em todo o caso,em janeiro de 1826, o registro dos gastosassinala ainda a compra de duasvacas pelo módico preço de 27F e28F 43 . Pelo fato de em dois anos acomunidade ter providenciado quatrovacas, pode-se pensar que algumaspossam ter servido para o consumode carne. Mas parece que a carne bovinaaté 1830 era um prato raro.Em todo o caso, é a partir de 1830que a casa paga ao açougueiro Dervieuxd’Izieux quantias consideráveis,sem ficarmos sabendo se se trata decarne de porco ou de gado. O registroassinala em novembro de 18<strong>31</strong> opagamento de 175F por “500 librasde carne”. Apenas uma compra é assinaladaem 1832: 185.50F. Em 1833,há três pagamentos, provavelmenteem Dervieux: 86 F por 2<strong>31</strong> libras(0.37F cada libra); 164F por 438 libras,a 7,65 vinténs (sous) (0,375F) a libra,e ainda 184F que devem correspondera 500 libras de carne. Portanto,mais ou menos num ano, a casa teriaconsumido aproximadamente 1.200libras de carne, ou seja, um poucomais de 500 kg.39 Doc. 109 (OFM/1 p. <strong>31</strong>7).40 Parece ser um modo de pagar a pensão.41 Não se trata do quintal métrico (100 kg), mas do quintal tradicional que vale 42,2 kg.42 OFM/1, doc. 105, p. 309.43 Poderiam ser talvez vitelas.130 III. De Lavalla a l’Hermitage: crise inicial e lenta mudança material


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 1<strong>31</strong>mars 2013As contas comprovam bastantebem aquilo que nossas fontes afirmam:em 18<strong>31</strong>, as compras de carnebovina se tornam expressivas e, a partirde 1833, elas são consideráveis.2.8. Outros alimentosÉ evidente que os registros decontas não anotaram todas as comprasde produtos alimentares, sejapor esquecimento, seja porque, gradativamente,se recorre a atacadistas,e a casa paga o total das faturascujo detalhamento nem sempre nelasconsta.Em todo o caso, nos registros,antes de 1837, não se trata de comprade frutas, exceto duas comprasde cerejas em 1832. Pelo contrário,de 1837 a 1840, as compras de cerejase de uva se tornam muito frequentes,na época da respectiva colheita:junho-julho para as cerejas, esetembro para as uvas. Os preços,então, são baixos: em junho de 1840,140 libras (59 Kg) de cerejas custam7F. Em setembro, dois quintais (85kg) de uva custam 10F. Para os ovos,é um pouco como para as frutas:uma compra modesta aparece em1826; as compras maiores e regularescomeçam no final de 1837. Ospreços variam entre 0,40F e 0,80F adúzia. Quanto aos laticínios, a manteigaconsta com bastante regularidadenas contas desde 1826 e comvalores importantes, mas o queijo sóvai aparecer em 1837.O sal é citado apenas quatro vezesnas contas, mas com quantiasimportantes, e isto a partir de 1826.Duas compras significativas, em janeiro,parecem ligadas ao abate e àsalgadura de porcos. Da mesmaforma que o sal, as compras doazeite são raramente anotadas. Entretanto,em 1827, consta a comprade 100 kg de azeite de oliva por 180F. E só uma vez, em 1839, há comprade peixes.2.9. A alimentaçãodos doentesA introdução de novos alimentosestá ligada ao cuidado dos doentese a uma organização melhor da enfermaria.Dessa forma, a partir de1837, multiplicam-se as compras derapé, de pão, de café, de chocolate,de frutas, de ameixas passas, demel, de açúcar, de queijo suíço, deágua mineral. O cuidado pela curados enfermos e para preservar asaúde, provavelmente introduziu noInstituto o uso de alimentos proscritoshá bom tempo. Por outra, o crescimentoda comunidade, a baixa dospreços e o enriquecimento geral dasociedade tornam esses alimentosacessíveis nos ambientes modestos.CONCLUSÃOEm 18<strong>31</strong>, o prefeito de Saint Martin-en-Coailleux44 declara que a manutençãode l’Hermitage está asse-44 OM1/ doc. 2<strong>31</strong>, resposta do prefeito a um pedido de esclarecimentos do reitor da academia de Grenoble.André Lanfrey, fms 1<strong>31</strong>


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 132<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASgurada “com a receita das pensõesdos noviços, pelos frutos da áreacultivada por eles mesmos, proporcionando-lhes,em grande parte,aquilo de que precisam para a vidafrugal que levam, quase sem carne;e, por fim, pelo trabalho de algunsdos Irmãos que dedicam algumashoras do dia para a fabricação detecidos e de panos”.É preciso não atribuir um carátermuito absoluto a essa descrição queparece corresponder mais à situaçãode Lavalla e de l’Hermitage, antesde 1830 45 . E mesmo as fontes deabastecimento já se diversificaramna direção de Izieux, St. Chamond,St. Etienne, e mesmo além. No momentoem que o prefeito escreve, aalimentação está um pouco melhorporque o Instituto tem mais meios financeiros.A partir de 1837, a comunidadeestá apta a fornecer uma comida“sadia, abundante, limpa econvenientemente preparada, mascomum e habitual 46 ”. Até mesmo,ela pode oferecer aos doentes umaalimentação cara, se consideramosfavorecer a recuperação da saúde.Depois de 1830, a produção agrícolada casa, provavelmente forneceapenas um complemento importante.45 Nenhuma referência é feita em relação aos recursos provindos das escolas. A resposta do prefeitopode ter sido escrita de acordo com o Pe. Champagnat.46 Regras de Governo, 1ª parte, cap. X, artigo 1, 1854.132 III. De Lavalla a l’Hermitage: crise inicial e lenta mudança material


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 133mars 2013ANEXOMemórias do Ir. Henri Réocreux e de sua mãe sobre a preparação doporco (2012)“Na zona rural, ao redor de St. Chamond, e em minha família, cada ano, matava-se um porco.Isso era feito no inverno, pois era necessário que fosse uma época de frio e seca. Meu irmão, moradorna Bretanha, tentou até renunciar à secagem na sua região de adoção, por demais úmida.Era preciso reservar a data na agenda do “matador”; assim eram chamados os personagens habilitadosem orientar a “matança” do porco. Dessa forma, eles faziam um giro de algumas semanas a dois meses,de acordo com a procura, frequentemente na casa de clientes habituais, onde eles chegavam como material apropriado. Geralmente empregavam-se dois dias para a matança de um porco.No primeiro dia, realizava-se a matança propriamente dita. O animal firmemente amarrado num cabeçalhode carroça ou suspenso pelas patas traseiras, o matador cortava a carótida e recolhia o sanguepara a confecção da morcela ou morcilha. Uma vez morto o porco, o pelo era queimado com fogo de palha;em seguida, a pele era raspada para eliminar os pelos do toucinho. O matador procedia, então,ao corte em pedaços, e a família tratava cada parte conforme a destinação das partes do porco.A carne, estendida, devia ficar num local frio e seco, durante toda a noite para favorecer a boa conservação.A morcela, com o sangue e os ingredientes acrescentados, primeiramente cebola e alho,era cozida no mesmo dia.As partes que não se conservavam eram objeto de partilha com os vizinhos, família e amigos.Quando criança, eu levava a “fricaude” (fricassê) aos vizinhos. Quando eles matavam o próprio porco,era a vez de eles nos enviarem a sua. A “fricaude” se compunha de morcela, de toucinho e do diafragma.Conforme o grau de proximidade com a família, ela era acrescida de outras partes mais nobres.Nós a comíamos preparada como guisado. Ainda me lembro de um antigo Irmão confidenciando queeles recebiam tanta “fricaude” que se viam obrigados a enterrá-la na horta, para não magoar as pessoas,recusando aceitá-la. É certo que eles eram apenas dois nessa escolinha do interior.No segundo dia, elaborava-se a carne, em particular para fazer as salsichas e os salames.Ela era picada com a gordura, depois era condimentada e triturada. Enquanto isso, os intestinos esvaziadoseram lavados no córrego, primeiramente a parte externa; em seguida, depois de virá-los ao avesso,a parte interior. Assim, estavam prontos para serem atados pelas pontas e em condição para o preparodas salsichas e dos salames. O intestino grosso, enchido com a carne de salsicha, tornava-se grandee era chamado de “Jesus”; constituía um pedaço preferido. A parte do intestino que o precede,mais regular e retilínea, com um diâmetro maior do que os outros salames, chamava-se “Rosinha”(Rosette). Era também uma peça nobre, muitas vezes colocada em leilão, nas festas populares.Uma vez concluídos esses trabalhos, o matador podia receber o soldo de seu trabalho, despedir-seda família e seguir para outra.Terrinas e patês esterilizados incluíam algumas carnes de miúdos como o fígado.André Lanfrey, fms 133


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 134<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASA gordura derretida e resfriada, a banha, era muito utilizada para cozinhar. Havia dois modos de conservara carne durante o ano todo: a salmoura que consistia em mergulhar a carne num preparado muito salgado;a camada de toucinho e o presunto eram cobertos de sal grosso. O segundo modo era a secagem.Durante algumas semanas, o teto da cozinha sustentava hastes de madeira com salsichas, salames,presuntos. O fogo na lareira, além de secar, dava também um gosto agradável pela defumação.Em continuidade das ações de conservação, quando a pele estava suficientemente seca, empregavam-sedois métodos, de acordo com a tradição familiar: ou era suspenso num sótão ao ar frio e seco,ou era mergulhado num recipiente com cinzas de folhas secas (caídas de árvores não resinosas).Naquela época, a criação do porco entrava na economia de tipo familiar. Era o meio de valorizar,durante o ano, os diversos lixos da família, as batatinhas estragadas ou pequenas.Para seu alimento, cultivavam-se também algumas verduras como a couve, rábanos ou nabos.A alimentação era frequentemente cozinhada em caldeiras e transformada em beberagem.O porco para engorda vinha da criação da família ou de compra na vizinhança, a fim de que, durante o ano,pudesse ser engordado para abate”.134 III. De Lavalla a l’Hermitage: crise inicial e lenta mudança material


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 135ESTUDOSIV.LAVALLA EOS IRMÃOSMARISTAS DE 1825AOS NOSSOS DIASLouis Vibertfms1.LA VALLA-EN-GIERHOJE1.1. Ruralidade eurbanização domeio ruralLa Valla-en-Gier é bem conhecidapelos Maristas: todos sabemos que éo lugar da fundação dos Irmãos, em 2de janeiro de 1817. Os escritos dosmaristas falam abundantemente destaaldeia onde viveu, de 1816 a 1824, umsanto, que lhe deu uma reputação internacional.Mas onde está essa aldeiaem nossos dias?Depois da época do Pe. Champagnat,sua geografia física foi um poucotransformada pela construção deLa Valla-en-Gier hoje135


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 136<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAStrês barragens, mas sua geografiahumana mudou muito. Atualmente,em 2011, o município tem mais de1.000 habitantes (2.583 em 18<strong>31</strong>) e elese estende sobre 3.478 ha, em zonade montanhas médias do maciço doPilat. Em 18<strong>31</strong>, Bessat separou-se deLa Valla para tornar-se um municípioindependente. Os municípios de St-Chamond, de St-Etienne, do Bessat,de Colombier, de Graix e de Doizieuxo circundam. La Valla faz tambémparte dos 43 municípios da comunidadede municípios de “St-EtienneMétropole”.As altitudes extremas do municípiosão: 440m na barragem de Soulagese 1.390m em Crêt de la Perdrix.A vila está assentada no flanco damontanha ao sudoeste de St. Chamond,entre os vales do Ban e doGier. A altitude indicada pelo marcode nivelamento situado ao pé daigreja, à esquerda da entrada principal,é de 651m.Os vales estreitos e profundosdo Gier e do Ban drenam as águasdessas torrentes para duas barragensque abastecem a cidade de St.Chamond: a barragem Rive, sobre oBan, foi inaugurada em 1869, e aquelado Soulages, um pouco abaixo sobreo Gier, foi terminada em 1970.Uma terceira barragem construída noPiney, inaugurada em 1954, para recolheras águas do vale superior doGier, foi esvaziada por medida de segurança1 . Mas seu muro permaneceintacto, sempre muito visível.Umas sessenta aldeias 2 espalhadasnas encostas do Gier e do Ban sedividem no território. Sua distância emrelação ao “burgo” varia de 300m a10 km. Cinquenta e cinco delas sãohabitadas 3 , bem vivas, e conservamseu estilo ou se renovam nessa belaregião do Pilat. Umas se estendemsobre encostas suaves onde pastamvacas, carneiros e cabras; outras,ocultas em bosques ou escondidasatrás de cortinas de árvores, parecemestar no fim do mundo... Algumasabrigam residências principais ousecundárias; outras têm atividadesagrícolas, industriais (ligadas à madeira),ou ainda turísticas (casas decampo, quartos para hóspedes), derestauração, de artesanato… 40%dos habitantes do município residemnas aldeias e 60% no “burgo”.É nessa paisagem muito acidentada,no topo do município, que o Saltodo Gier se impõe ao visitante: éuma cascata impressionante, acessívelapós uma subida entre entulhosde pedras, muito característicos nomunicípio, chamados «chirats».La Valla está incluída no ParqueNatural Regional do Pilat que reagrupa47 municípios do Loire e do Ródano,sobre um território de 7001 Ela foi construída sobre o modelo da barragem de Malpasset, perto de Fréjus, que cedeu no dia 2de dezembro de 1959, cinco anos após sua construção (423 mortos e desaparecidos).2 Por aldeia se deve compreender também que pode haver apenas uma casa em algumas delas.3 Em 1697, o pároco de La Valla cita 43 aldeias, inclusive La Valla.136 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 137mars 2013km 2 , com uma densidade de79,4 hab/km 2 . Coberto de florestas,de trilhas balizadas e de pistas, ele épercorrido por numerosos turistas,caminhantes, ciclistas, praticantesdo VTT 4 , esquiadores e curiososatraídos por seu quadro natural, seusmonumentos celtas, suas vias megalíticas,ou por suas possibilidadesesportivas de verão e de inverno. OParque é atravessado por 3 trilhas delongo percurso 5 , às quais se somam9 itinerários para pedestres, de uns30 quilômetros a 104 km para a maislonga, permitindo descobrir o maciçodo Pilat sob diferentes aspectos. A trilhaNº 10, de 32 km, leva o nome deMarcelino Champagnat. O seu pontode partida é N. D. de l’Hermitage(400m) e a chegada é Marlhes(1.000m). Enfim, numerosas trilhas dealguns quilômetros para pedestrespermitem percorrer distâncias maismodestas, partindo das principais aldeiasdo parque. Três dentre elas partemda vila de La Valla.Ainda que estreitos e sinuosos, oscaminhos permitem uma circulaçãoconfortável. A vila de La Valla, sede domunicípio, da igreja, da escola, de algumascasas comerciais, é o polo habitualda maioria dos “vallauds 6 ”. Asvias de comunicação que se dirigempara o norte encontram a autoestradaLyon-St.Etienne-Clermont-Ferrand.Para o sul, chega-se ao vale do Ródanopelo Bessat. Saint-Chamond(35.608h em 2009), está a um quartode hora de carro, como também oBessat (439h em 2009). Da estaçãodo trem de St. Chamond, estamos a40min de trem de Lião e a 10min deSt. Etienne. Atualmente, La Valla,portanto, não é nenhum espaço isolado.1.2. A populaçãode La VallaJá em 1697, o padre da paróquiade La Valla contou a população dasua paróquia e encontrou 865 habitantes7 . Usando diferentes documentos(incluindo os do Insee 8 paraa situação atual) que identificam a populaçãodesde 1793, podemos construiro quadro abaixo.1793 18<strong>31</strong> 1901 1975 1990 2008 20112146 h 2.583 h 1.800 h 581 h 745 h 912 h + de1.000 h4 Ciclismo para qualquer terreno.5 Trilha que permite aos caminhantes percorrer grandes distâncias em território nacional oumesmo europeu.6 Vallauds, Vallaudes: habitantes de La Valla en Gier.7 Ele anota: “outrora o número de habitantes era mais de um terço maior, quase a metade”. E acrescenta:“a causa da diminuição veio dos preços elevados, da escassez de grãos, da diminuição do trabalhoe das doenças populares”.8 Instituto Nacional de Estatísticas Sociais e Econômicas.Louis Vibert, fms 137


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 138<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASA população de La Valla passoude 2.583 habitantes em 18<strong>31</strong> para 581em 1975, conhecendo, portanto, umagigantesca erosão de 2.002 habitantesem 144 anos. Ela é o exemplo típicode um êxodo rural que entãoatingiu toda a França e até boa parteda Europa em numerosos espaços.Depois de 1975, um lento aumento dapopulação se efetua: a década 1999-2008 indica 129 nascimentos para 44óbitos. Pode-se calcular, no momentopresente, em 460 o número de laresno município.A classificação por idade, para 912habitantes, nos dá, em 2008, o quadroabaixo:0 -14 anos 15 - 59 anos 60 - 74 anos 75 - 89 anos + de 90 anos194 556 105 54 3Com 750 habitantes com menosde 60 anos, é uma população excepcionalmentejovem, pelo menos naEuropa. A cidade vizinha de Saint-Chamond conheceu uma evolução inversa:no seu apogeu em 1982, suapopulação se elevou a 40.267 habitantes,mas, em 2009, só tinha35.608, isto é, uma perda de mais de4.600 habitantes em 27 anos.Essa dupla reviravolta de tendênciatem causas gerais: os centros urbanosse despovoam em proveito deum grande cinturão urbano onde ospreços dos terrenos são menos elevadose o gênero de vida mais agradável.Mas Saint Chamond sofreu, amais, a crise das indústrias metalúrgicastradicionais: Creusot-Loire (siderurgia)se desmantelou em 1984, eGiat-Industrie (armamento) fechouem 2006. La Valla, em zona periurbana,se beneficiou, portanto, de umaprofunda mudança do meio urbano eda economia, ao passo que SaintChamond foi duramente atingida.La Valla conheceu, portanto, umanova vitalidade, mas o aumento donúmero de seus habitantes tem limites:as dificuldades geográficas estãoaí, como também as do ParqueNatural Regional do Pilat 9 . Por outrolado, os “vallauds” desejam conservara identidade de sua aldeia.1.3. Loteamentose imóveisOs políticos locais e as prefeiturastomaram consciência de que a vilacorria o risco de morrer se medidasnão fossem tomadas para atrair novosresidentes e jovens casais. Elesentão apostaram no poder de atraçãoda região no Parque do Pilat, dada asua qualidade de vida ao abrigo dosgrandes eixos de comunicação e datranquilidade que ela oferece.9 Cujos regulamentos limitam a taxa de urbanização.138 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 139mars 2013O município lançou-se, então, nacriação de loteamentos e na reabilitaçãode imóveis com toda a infraestruturanecessária, de acordo com oplano de urbanização atual. Em 1986,foi criado o loteamento dos Fougèrescom 27 residências e, em 2006, o dasTerraças de Leytrat, com 19 residênciasdas quais 17 já estão prontas.Antigos prédios foram reabilitadosem moradias: é o caso da antiga escolapública (5 moradias); da Andéolaise(antiga casa paroquial), 5 moradias,e do antigo presbitério queoferecem quinze apartamentos comarrendamento, dos quais quatro sãomoradias de solidariedade. Edifíciosparticulares também propõem aluguel:o da Renascença e da antigaescola das Irmãs de São José oferecemdoravante 9 alojamentos.Mesmo se esta lista não é exaustiva,ela permite compreender que é graçasa uma política de acolhida que apopulação ultrapassa os mil habitantesno presente momento.1.4. População ativaem 2008 por tipode atividade 10O problema das zonas rurais periurbanasé que elas são formadas de“cidades-dormitório”, oferecendopoucas atividades locais. La Valla estánesse caso. Apenas 17,4% dos lugaresde trabalho dos ativos estão situadosna comunidade de residência;82,6% estão fora do município de residência,dos quais 73,9% no Loire 11 .Por serem restritas, as atividadeseconômicas locais, não são, entretanto,desprezíveis. No município encontram-se:– Duas explorações agrícolas emtempo pleno (um criador de vacase outro de cabras) e umas vinte dedupla atividade, acumulando doisempregos, sendo um relacionadoà agricultura e outro à criação deanimais.– Uma atividade industrial familiar: afabricação da silvicultura (madeiralascada para aquecimento das casasno inverno).– Ofícios relacionados à construção.– Um ateliê de cerâmica.– Restaurantes ou prestação de serviçosalimentares para eventos,em La Valla, Planil, Jasserie, La Rivee Barbenche.– Nestes dois últimos anos vimos onascimento de uma pousada na aldeiaSerchette e de quartos parahóspedes em Moulin du Bost.Na cidade encontramos os serviçoshabituais: a prefeitura, a igreja, aescola N. S.ª das Vitórias 12 , a única dacidade com mais de 100 alunos; umaagência dos Correios, o Café dosCorreios com restaurante, uma padaria,um armazém, um salão de be-10 INSEE (Instituto Nacional de Estatística e Economia), fichas atualizadas em junho de 2011.11 7,3% num outro departamento da região de residência, e 1,4% numa outra região da França Metropolitana.De fato, La Valla está próxima dos departamentos Ardèche e Haute-Loire, e parte de seushabitantes é atraída pela cidade de Lião.12 Sediada numa parte do prédio dos Irmãos Maristas. Não há escola pública leiga em La Valla.Louis Vibert, fms 139


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 140<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASleza. O centro de Rocheclaine, sob atutela das Irmãs da Santa Infância 13 , éum Instituto Terapêutico, Educativo ePedagógico (ITEP). O conjunto dessasatividades garante uma centenade empregos.Entre os 617 habitantes da faixaetária de 15 a 64 anos completos, LaValla conta:• 70,3 % de ativos com emprego• 2,4 % de desempregados• 12,5 % de aposentados• 7,3 % de estudantes• 7,5 % de outros inativos1.5. Projeto municipalEm 2010, o orçamento do municípioatingiu os 622 000 euros em despesasde funcionamento e 412 000em investimento. Seus recursos provêm:de uma extensa floresta cultivadae natural: 1.800 ha dos quais 300ha de floresta municipal; dos impostose taxas; da taxa profissional e daverba anual do Estado. Num futuropróximo, o município prevê melhoriasna rede viária; conclusão do 5.º trechoda rede de saneamento das águas; areabilitação das redes molhadas, istoé: a separação das águas pluviais daságuas sujas; a reabilitação da rede deágua potável; a canalização de águapara certas aldeias a fim de torná-lasmais atrativas. Quanto às redes secas,está prevista a conclusão da tubulaçãosubterrânea das linhas elétricase telefônicas. Enfim, prevê-setambém a reparação dos vitrais daigreja, a modernização da instalaçãoelétrica e a perícia do seu telhado.Assim é La Valla, no início do ano2012. O acordo e a cooperação entreprefeitura e associações assegurarama renovação do município e a fixaçãosobre seu solo de uma novapopulação.1.6. A paróquia deSaint-Ennemonden-GierAssim como o equilíbrio entre cidade-campofoi transtornado nos últimosdecênios, a organização paroquialfoi reestruturada. La Valla faz,portanto, parte da grande paróquiade St. Ennemond-en-Gier, centradasobre Saint-Chamond e reagrupandonove campanários para uma populaçãode pouco mais de 36.000 habitantes.A equipe de animação pastoralcompreende três sacerdotesliberados, dos quais um colombiano eum libanês, e dois diáconos. Três outrossacerdotes auxiliam em certasocasiões essa equipe. “Os campanários”criaram equipes para preparar aliturgia dominical e assegurar um revezamentocom o centro da paróquia.Quatro campanários têm umamissa dominical cada semana, sábadoà tarde ou no domingo, e oscinco outros, entre os quais La Valla,uma vez cada quinzena. Como namaioria das paróquias na Françaatualmente, numerosas outras res-13 Fundadas em La Valla pelo pároco Bedoin, no século XIX.140 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 141mars 2013ponsabilidades são delegadas aos«leigos»: grupos de formação bíblica,pastoral da saúde, funerais, preparaçãoaos Sacramentos, catequese,catecumenato de adultos, capelaniasescolares...Quatro comunidades religiosasresidem na paróquia: os Irmãos Maristascom três comunidades (NossaSenhora de l’Hermitage, Fonsala, LaValla); as Irmãs de Getsêmani 14 ; asPequenas Irmãs da Santa Infância eas Franciscanas Missionárias de Maria.Em La Valla, a frequência às missasdominicais é assegurada pela fidelidadedos «anciãos» e, nas exéquias,por uma forte solidariedademunicipal.O que é feito da herança de MarcelinoChampagnat nesse “novomundo”? Eu tento dar uma respostano artigo “La Valla e os Irmãos Maristasde 1825 aos nossos dias”.2.A HISTÓRIA DOSIRMÃOS MARISTASEM LA VALLA DE 1825AOS NOSSOS DIAS2.1. Emergência do lugarde memória evicissitudes da obraeducativaO Pe. Champagnat deixa Lavallaem 1824 para construir a casa NossaSenhora de l’Hermitage. Em maio de1825, a comunidade de Lavalla (20 Irmãose 10 postulantes) se instala eml’Hermitage. Doravante, Lavalla é somenteuma escola. Mas veremosque, pouco a pouco, ela vai se tornarbem mais que isso.Para redigir este artigo eu meapoiei, até 1902, nos Anais dos Irmãosde então, intitulados: “Anaisde Lavalla en Gier”. É um documentopouco conhecido. Eles têm a formade um manuscrito, de 22,5cm decomprimento por 17,5cm de largura,contendo 204 páginas manuscritas.Uma cópia de computador foi digitalizadapor mim em 2009, para tornálosacessíveis a maior número depessoas, apesar de serem de uso interno.Eles foram iniciados nos últimosdecênios do século XIX, lá por1885, e cobrem um período que vaida Fundação do Instituto, em 2 de janeirode 1817, até 5 de julho de 1902.Falam abundantemente dos Irmãose de suas obras; este último termo éentendido ao mesmo tempo no seusentido material e apostólico. Elestêm uma ligação muito forte com anotícia sobre Lavalla nos Anais dascasas redigidos pelo Ir. Avit, em 13de maio de 1885.Os Anais guardaram o nome dosdois primeiros diretores: Irs. JoãoMaria Granjon em 1818 e Jean-BaptisteAudras (Ir. Luís) nomeado em1824 15 . E eles acrescentam:14 Fundadas em Valfleury, lugar de peregrinação perto de Saint-Chamond.15 Esta última data não é segura; outro documento o cita em Charlieu nessa época. A Vida, p. 88,afirma que ele substitui o Ir. João Maria, em 1822, como mestre de noviços.Louis Vibert, fms 141


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 142<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS“A partir desta época até 1º de novembro de 1847,nada se sabe do que se passou nessa escola. Sabesesomente que havia apenas dois Irmãos e que aescola só funcionava da festa de Todos os Santos atéa Páscoa. Eles trabalhavam em outros lugaresdurante o verão”16.Os Anais nomeiam os cinco IrmãosDiretores e os cinco Irmãos “emsegundo lugar» que estavam em Lavalladurante esse período que durou23 anos. Os dois Irmãos desciam todasas quintas-feiras a l’Hermitage,onde passavam o dia e faziam suamodesta provisão para a semana 17 ”.Quantos alunos havia nessa época?Uma estatística de 1833 indica que aescola de La Valla «está com 90 alunosmuito dóceis e que a casa é demasiadopequena» 18 , para uma populaçãode 2.583 habitantes em 18<strong>31</strong>.Nos Anais do Instituto, o Ir. Avitlembra que, em 1º de maio de 1827, oFundador vende o anexo construídoem 1822 para o Pe. Bedoin, párocode La Valla, e no dia 5 de fevereiro de1829 o Sr. Couturier compra a casaBonner, mediante a soma de 1.000Francos 19 . Por isso, a partir de 1827,os Irmãos lecionam numa escola paroquial.Tal solução dispensa a Prefeiturade ter uma escola, indenizandotalvez o pároco proprietário dos lugares.Quanto aos Irmãos, eles lecionamnuma parte do berço primitivo doInstituto, muito mal conservado.2.2. Pobreza da casaParece que nunca houve contratobem preciso entre a Prefeitura e oInstituto a respeito dessa escola queparece ter sido considerada comouma obra de caridade largamente acargo do Instituto. É por isso que osAnais insistem seguidamente sobre avida austera dos Irmãos:“A mobília era pobre, o ordenadodos Irmãos mínimo e precário e seualojamento de tal forma deterioradoque os Irmãos Victor e Pétrone, galhardamenteresignados, colocaramdiversos pequenos cataventos diantedas rachaduras dos muros; esses novosbrinquedos, quase sempre emmovimento, os alegravam e os excitavamà paciência 20 ”.2.3. Desavenças coma municipalidadeEm setembro 1848, o Instituto nomeouo Irmão Athanase titular da escola.Como ele não tivesse seu diploma,o Irmão Assistente utilizaaquele do Ir. Avit, então visitador, semmesmo o prevenir 21 e ele será oficial-16 Annales, p. 49-50.17 Imitando o Ir. Laurent como professor-catequista no Bessat, em 1819-20.18 Doc. Bardyn na monografia de La Valla-en-Gier.19 Annales de l’Institut, t. 1, 1829, § 93.20 Anais, p. 50.21 Ver Anais das casas: O diploma era então considerado como uma formalidade administrativa; onome do titular importava pouco. O Ir. Avit parece não se ter importado muito pelo fato de não ter sidoinformado.142 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 143mars 2013mente Diretor, sem o saber, até1856 22 . A partir de 1849, a Escola permaneceaberta durante o verão, masna bela estação há apenas uma turmapor dia, das 10 horas até às 15 horas.A escola está então “sob a mão”dos Superiores e particularmente doIr. Francisco, natural de Maisonnettes,Superior-Geral. Consciente desua deterioração, ele intervém junto àmunicipalidade, em outubro de 1853,para pedir ao prefeito, Sr. Mayéry, 23reformas nos locais, e ampliação dasdependências. Como a prefeitura demorasseem atender a esse pedido 24 ,o Ir. Francisco retém os Irmãos eml’Hermitage em 1853 e 1855 e 1857 25 ,para obter a satisfação e o pagamentodos salários. A prefeitura pareceter projetado a aquisição doprado Poyeton, para nele instalar uma“construção nova”, 26 como indica aresposta do prefeito ao Irmão Francisco,citada pelo Ir. Avit nos Anaisdas casas. De fato, ele se contentarácom algumas reformas.Quanto ao Ir. Athanase, ele desempenhacerto papel na história geraldo Instituto porque, no Capítulo de1852, ele permitiu-se intrigas prontamentereprimidas pelos superiores 27 .Substituído em 1856 pelo Ir. Vincent,ele deixou o Instituto «e entrou numconvento de religiosos italianos, emProvence».2.4. O Irmão Vincent ea recompra doberço do InstitutoOs Anais descrevem, portanto, osgrandes feitos de um diretor, um tantofora da norma, cuja ação nos lembraquanto os Irmãos estão ainda fixadosno meio local e tomam iniciativas surpreendentesaos nossos olhos. Vale apena citar longamente os Anais sobreisso:“De 1856 a 1866, a casa teve na sua direção oIrmão Vincent, que não pode ser proposto, paramuitos, como o modelo dos diretores, mas que nãodeixou de ter, nos Anais do Estabelecimento,um papel considerável. Ativo, empreendedor, falanteinesgotável, otimista a ponto de não duvidar de nada,tornou-se muito popular na região e nos arredorespor suas maneiras delicadas e sua habilidade,verdadeira ou pretendida, como dentista, médicoprático e até cirurgião... Pelo menos, podemosrender-lhe o testemunho de que teve vivamentea peito a prosperidade do estabelecimento e quenele não trabalhou sem um certo sucesso 28 .”22 “Durante oito anos, ele foi citado como diretor dessa escola sem o saber e sem nela pôr os pés.Ele não a visitava porque estava sob a mão dos Superiores”.23 Pai do Irmão Marista de mesmo nome.24 O prefeito justifica a demora em atender às exigências dos Superiores: “a falta de fundos tem sidoa única causa de nosso atraso”.25 Trata-se então de atrasos que a prefeitura tardava em pagar. Os Irmãos permaneceram em l’Hermitagenas férias de 1857. Anais, p. 58-59.26 Anais, p. 58.27 Sua carta é citada nos Anais das casas. Ver também Atas do Capítulo. Sobretudo, nos Anais doInstituto (T. 1 1852, § 52-64), o Ir. Avit dá sua própria versão sobre esse assunto.28 Boletim do Instituto dos Irmãos Maristas, janeiro de 1913.Louis Vibert, fms 143


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 144<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS“Seu primeiro cuidado foi reintegrar na posse doInstituto o pequeno imóvel que lhe serviu de berçoe que o Padre Champagnat havia vendido aoSr. Couturier, então nas mãos da família Cheney edas senhoritas Tissot 29 . Graças às suas boasrelações com algumas pessoas caritativas eabastadas da região, o Ir. Vincent conseguiu logoreunir a soma necessária e, com a autorizaçãodo Governo, a compra foi feita em dezembro de1858, em nome da Associação Religiosa de ensino,dita dos Pequenos Irmãos de Maria, reconhecidasete anos antes, como estabelecimentode utilidade pública”.“Com a ajuda do pecúlio que a sua habilidade eseus talentos lhe conseguiram, pensou em duplicaros edifícios para acrescentar um pensionato à suaescola 30 ”. Adquiriu, em nome pessoal, no dia 16de junho de 1859, não o prado Poyeton, masum prado indiviso, o que lhe valeu contestações eum processo interminável com um dos proprietáriosdo prado que não consentiu na venda.Finalmente, eles se entenderam e ambos venderamo prado em litígio ao Superior Ir. Luís Maria,em 16 de março de 1865” <strong>31</strong> .Os Anais das casas do Ir. Avit esclarecema continuação das façanhasdo Ir. Vincent em Lavalla “que nãoagradava nem um pouco ao Pe. Bedoin,pároco, e a seu irmão, vigário”porque muito negligente sobre váriospontos, conforme os relatórios do visitadorque constata em 1862: “a Regrasofre muito (assim como) meditação,culpa, silêncio, levantar, etc. […]As contas estão mal […] encontreimeninos em duas turmas que ignoramos principais mistérios”. Já em1860, o pároco e seu vigário obtiverama transferência do Ir. Vincent,mas um pedido da prefeitura obrigouos Superiores a renomeá-lo e seu retornofoi um triunfo cujas despesasforam pagas pelo pároco e seu vigário.Uma nova tentativa fracassa aindaem 1864, após intervenção do municípioe da prefeitura.Nós temos aí um belo exemplo deconcorrência entre Irmão Diretor epároco, bastante frequente antes de1870, e da qual os Anais das casas doIr. Avit nos dão numerosos exemplos.Ele mesmo, nos Anais do Instituto, segaba “da chuva e do bom tempo” emBougé-Chambalud em 1843-46 32 enos conta suas brigas com os párocosem outros lugares. Em Lavalla, oprestígio do Ir. Vincent repousa, portanto,sobre muitas ambiguidades: apopulação admira um homem empreendedore capaz de socorrer emassuntos de medicina; o conselhomunicipal não se incomoda de vê-lo afazer concorrência à autoridade dopároco e aprecia certamente que aescola não lhe custe quase nada.Como não é possível retirar o IrmãoVincent de Lavalla, ele deixa a direçãoem 1866, mas permanececomo “segundo” do Ir. Célien, novodiretor. Mas “ele estava seguida-29 Ver a cópia da Ata nos Anais das Casas: Província de l’Hermitage, La Valla.30 Anais, p. 63.<strong>31</strong> “Esse assunto forneceria matéria suficiente para um verdadeiro romance”. Anais, p. 65.32 Anais do Instituto, t. 1, p. XXI.144 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 145mars 2013mente fora da casa” 33 e é ainda devidoà sua habilidade que o Institutotoma posse, em 8 de julho de 1871, dacasa 34 que o Pe. Champagnat tinhacedido ao pároco Bedoin. Após essaaquisição, o Ir. Vincent é chamado aSaint Genis Laval, onde morreu a 21de abril de 1884.O berço do Instituto e o pensionato do Ir. Vicent unidos pela Capela (1861-65)2.5. Um pensionatopouco viávelO pensionato 35 construído em 1861contém três salas, e dois andares superioresservem de dormitórios. O Ir.Visitador, por ocasião de sua passagempor Lavalla, em 5 de dezembrode 1861, nota que as turmas têm umacentena de alunos, que a construçãofaz uma «bela figura», mas a mobíliaestá em mau estado e é urgente aliviara pobreza dos Irmãos. O relato de1862 diz que o Ir. Vincent tem apenasum auxiliar e que o número de alunosé apenas de 80 no inverno e 35 no33 Anais das casas: La Valla, relatório do visitador em 1867.34 Essa casa parece então desocupada e em mau estado porque a escritura de venda (Anais dascasas: La Valla) indica um preço oficial de 500 F e um preço real de 800.35 Trata-se antes de um abrigo semanal: os alunos entram segunda-feira com suas provisões e saemsábado.Louis Vibert, fms 145


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 146<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASverão. E acrescenta: “L’Hermitagesustenta os Irmãos 36 . Eles só bebemágua” e recomenda de acrescentarpelo menos um quarto de vinho. Astabelas abaixo permitem seguir a evoluçãodo estabelecimento, funcionandona construção do Ir. Vincent,quanto aos números de alunos equanto aos Irmãos que os acompanham.371833 1861 1862 38 1865 1866 1867 3990 100 80 35 84 idem 1142 Irmãos 2 Irmãos 2 Irmãos 2 Irmãos 3 Irmãos 2 ou 3 Irmãos1868 1869 1879 1882 1880-1885 4098 Ext. 7 Int. 99 Ext. 16 Int. 81 Ext. 36 Int. 23 C 110 Ext. 30 Int. 80 Ext. 45 Int. 20 C105 115 140 140 1352 Irmãos 2 Irmãos 8 Irmãos 6 Irmãos ?Aberto em 1865, para receber nomáximo 62 pensionistas, o pensionatonão tem mais que uma dúzia 41em 1874. De 1866 a 1878, quatro diretoresse sucedem e tentam encontrarnovos pensionistas, sem chegar aisso plenamente. Constata-se, entretanto,que depois do Ir. Vincent, o estabelecimentoconheceu acentuadoaumento de externos.Em 1872, a escola se torna municipale a prefeitura paga 400 francos dealuguel pelos alunos da localidade,“mas os pensionistas não enchiammais a casa” 42 . Em resumo, a escolavai vivendo, e a fundação do pensionatoé um fracasso. Apesar de lugarde fundação de uma Congregaçãoensinante, Lavalla parece a reboquena corrente de escolarização massivaque se impõe então na França, depoisde várias décadas.O Irmão Vincent e a prefeitura deLa Valla são apenas em parte responsáveisdesta situação porque,após a descida da comunidade paral’Hermitage, a escola, consideradacomo um anexo da casa-mãe, pa-36 Quer dizer que a escola não é autossuficiente, e os Irmãos vivem pobremente.37 Ex = externos; In = internos; C: pensionistas semanais.38 80 é o número de alunos no inverno, e 35 no verão.39 Sem precisão do número de externos e internos.40 Estes números são uma média. Passaram por La Valla uma dezena de Irmãos durante este período.Anais, p. 96.41 Dois dos quais de Lião e os outros de Izieux, de Saint-Chamond e de Saint-Etienne.42 Anais, p. 76.146 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 147mars 2013rece ter sido um tanto marginalizada:poucos recursos próprios (daí o ativismodo Ir. Vincent), fraca frequênciaescolar e educadores pouco competentes.O pároco Bedoin e seu irmãoparecem ter tentado remediar, semsucesso, essa situação. Só mais tardeé que ocorre uma mudança qualitativa.2.6. O Irmão GentienEle chega a La Valla na primeiraquinzena de junho de 1874, e com eleé uma nova geração de Irmãos quese impõe: menos popular, mas maisprofissional e mais religiosa. Ele mandouimprimir um prospecto tendocomo cabeçalho: “Pensionato doBerço do Instituto dos Pequenos Irmãosde Maria 43 ”; estabelece umpreço fixo da pensão 44 e impõe umvestuário uniforme 45 . Todas essasmedidas dão “certo relevo ao pensionato”e, em quatro anos (1874-1878), o Ir. Gentien melhora consideravelmenteo seu estado material:construção de muros, de um tanque,transformação de salas de aula, rebocodo prédio do Ir. Vincent, reconstruçãodo prédio construído por M.Champagnat que queimou em 1872,criação do jardim. Parece ser o primeiroa se preocupar com a memóriado Fundador, restaurando seuquarto deteriorado e nele colocandouma vitrine para os objetos que lhepertenceram.O berço do Instituto e o pensionato do Ir. Vicent unidos pela Capela (vers 1886)43 É, sem dúvida, esse prospecto que oficializa a expressão «berço do Instituto».44 Até então havia tantos preços diferentes quantos os alunos.45 “Boné com galões de prata e monograma de ouro.”Louis Vibert, fms 147


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 148<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASOs recursos que lhe permitem todasessas realizações parecem, noentanto, bem fracos. Eles se compõem:“1 – de um ordenado de 1.000francos pagos pelo coletor 46 ; 2 – deum aluguel de 400 francos pagos pelaprefeitura; 3 – do produto obtido dospensionistas. Porém, Irmãos e alunoscontribuem significativamente para atarefa durante os recreios e passeios47 ”. E os anais precisam:“Todas as despesas, enormes paraum pequeno pensionato, foram pagascom as economias da casa e pode-se dizersem medo que a saúde do pessoal da casanada sofreu; um só fato é disso prova evidente:Em quatro anos (de 1874 a 1878),não foi necessário chamar o médicode Saint-Chamond nenhuma vez,nem para os Mestres, nem para os pensionistas”.(Anais, p. 93).Apesar de todos esses esforços,no fim de quatro anos os resultadossão medíocres: uns trinta pensionistas“sem contar os da prefeitura que ospais alimentavam 48 e que, aliás, só vinhamdurante a baixa estação”. Masa conjuntura política vai ainda complicara situação.2.7. A políticade laicizaçãoDepois de 1870, manifesta-se emtoda a França uma corrente republicana,anticlerical e laica, que nãopoupa Lavalla. A prefeitura que tinha,até então, aproveitado da escola dosIrmãos sem precisar construir umaescola municipal, não poderá maisusufruir dessa situação favorável. Segundoos anais:“Certos candidatos da listamais ou menos anticlerical já procuravamresponsabilizar o pensionato,que abriga também a escola municipal,pelos fracassos repetidos nas eleições municipais,e assinalavam aos seus amigos a transformaçãodele em escola laica como único trampolimque teria chance de fazê-los ganhar” 49 .Em 1879, o Inspetor fez pressãosobre a prefeitura para que a comunidadetivesse uma escola distinta dopensionato. Finalmente, em 1883, oexternato é instalado na prefeitura 50 eo Irmão Arpin é nomeado titular. Eledeve ensinar sozinho umas 60 crianças,porque o inspetor recusou a presençade um adjunto 51 .46 La Valla sendo escola municipal, os Irmãos são professores públicos.47 Anais, p. 86.48 Os meninos eram chamados de “pensionistas semanais”. Cf. Nota 35.49 Boletim do Instituto, janeiro de 1913.50 A prefeitura.51 O cronista interpreta assim as pirraças do inspetor: “Na sua última visita, sob o pretexto de queos resultados eram demasiado fracos, esse mesmo inspetor faz dar uma repreensão oficial e imerecidaa esse Irmão devotado cuja tarefa era altamente penosa. Essa punição foi infligida sob a inspiração domestre Thibaud que, furioso por ter sido excluído das eleições, queria chegar a laicizar a escola”.148 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 149mars 20132.8. Do pensionatoao juvenatoQuanto ao pensionato, reconhecidocomo escola livre, ele será dirigidopelo Irmão Sisoès, que chegouem 1878 e não consegue relançaruma obra colocada muito longe dasredes de comunicação e das áreasurbanas. Em compensação, um lugarretirado pode ser favorável para umjuvenato numa época em que o Institutomultiplica esse gênero de obraspara manter um alto nível de recrutamento.Na sessão de 9 de abril de1889, o Conselho Geral dos IrmãosMaristas acha que o juvenato de SaintGenis-Laval é numeroso demais epreconiza a formação de um juvenatoseparado para a nova província del’Hermitage. Voltará muitas vezes sobreessa questão e, em 2 de julho de1891, sonha ainda com “um juvenato aser estabelecido na Província del’Hermitage”. Com efeito, desde abrilde 1889, uma quinzena de juvenistasvai de St. Genis-Laval para La Valla,coabita com os pensionistas em condiçõessobre as quais não se tem informações.Seu número se eleva rapidamentea uma trintena. Decidiu-seentão suprimir o pensionato, emagosto de 1892.Mas este fechamento não se efetuousem conflito porque os alunosdas aldeias – os pensionistas semanais– que se alojavam junto aos Irmãosnão tinham mais lugar de acolhida.O clero da paróquia, o prefeito esua câmara, protestam e um abaixoassinadode muitos pais de família reclamacontra esse fechamento.“Os Superiores persistiram em sua decisão;mas para não melindrar demais a populaçãode Lavalla e ser-lhe útil, eles mandaram construirum prolongamento do prédio 52 para nele colocarduas turmas e um dormitório acima paraos alunos de aldeias distantes. O arquiteto foio Irmão Théodore e o empreiteiro o Sr. Rivory. Tudoestava pronto para o início das aulas em 1892” 53 .A prefeitura, portanto, saiu-se bem:os Irmãos lhe constroem uma escola econtinuarão a fornecer-lhe professores.Nessa época, com a laicização doensino público, essa escola será ‘livre”.Administrativamente, o juvenato ésempre um pensionato podendo receberaté 62 pensionistas. Mas, comodurante o ano de 1892-1893 o númerode juvenistas subiu a 85, foi necessáriopensar na construção de um novoprédio, depois daquele do Ir. Vincent.O Ir. Sisoës vai ser o segundo grandeconstrutor de Lavalla: em 1892-93, eledirige a construção da escola, do juvenatoe a ampliação da capela 54 .“O Sr. Collet foi o Arquiteto (do juvenato) eo Sr. Rivory o empreiteiro. Durante essa importanteconstrução, via-se todos os dias o Irmão Sisoès,de cabeça careca e descoberta, no meio do canteirode obras, trabalhando numa ou noutra coisa e52 É nesse prédio que reside hoje a comunidade dos Irmãos.53 Anais de La Valla, p. 98-99.54 Uma primeira construção foi feita em 1886.Louis Vibert, fms 149


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 150<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASBulletin de l’institut (1913)vigiando para que o plano da obra fosse executadoconvenientemente” 55 .Essa construção prolonga aquelado Ir. Vincent para constituir o Juvenato.Segundo o cronista, juvenato eantigo pensionato podiam receber160 a 180 meninos 56 . De fato, o númerode juvenistas não parece ter ultrapassadoa cifra de 160.Quadro do número de juvenistas segundo os Anais 571889 1891 1892 1900 1901 190215 30 85 154 164 1592.9. Os capelãesOs Anais nos dão o nome dos quatroprimeiros capelães. O cronistapôde escrever a propósito de um deles:“O Sr. Capelão é muito dedicado,sempre pronto quando os Irmãos oujuvenistas reclamam o socorro de seuministério. Sabe concordar”. 58 Eles seinstalam primeiro em um ou dois quar-55 Anais, p. 105.56 Com efeito, o juvenato e o antigo pensionato foram autorizados pelo Conselho Departamental deInstrução Pública para 144 pensionistas e 8 acompanhantes adultos.57 Esses nomes diferem um pouco daqueles publicados pelo autor do artigo do Boletim do Instituto,de janeiro de 1913.58 Anais, p. 139.150 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 151mars 2013tos colocados à sua disposição pelosIrmãos. Depois, a pedido de um deles,aluga-se uma casa para acomodá-los.«Enfim, comprou-se, em24 de julho de 1898, a casa ‘Chapard’,adquirida por Farabet Jean-Baptiste(Irmão Sisoès). A casa foi destruída eno seu lugar foi construída a casa doscapelães. 59 Foi utilizada a partir de junhode 1899».2.10. O recrutamentoParece ter repousado largamentesobre o entendimento entre o Ir. Sisoèse os párocos das terras fecundasem vocações, convidados a encaminharpara ele meninos e adolescentesaptos a serem Irmãos:“Em 1897, no mês de março, o Irmão Sisoèsviajou para Haute Loire para o recrutamentodo Juvenato. Sua viagem durou três semanas;durante esse tempo, ele visitou 38 municípios.Não trouxe nenhum juvenista, porém contentou-seem visitar o Sr. cura de cada paróquia.Sua viagem de nenhum modo foi infrutífera 60 ”.Um quadro um pouco mais tardioque insiste sobre a importância dasescolas na política de recrutamentomostra que, se uma porcentagemnotável de juvenistas vem de juntodos Irmãos Maristas, mais de 70%nunca os frequentaram anteriormente.O recrutamento parece, portanto,realizar-se prioritariamentepelo acordo entre famílias, párocos erecrutador.Anos Escolas Irmãos Irmãos Escolas Outrase número dos Irmãos das Escolas do de escolasde Juvenistas. Maristas Cristãs Sagr. Coração 61 Religiosas ou Instit. 621900 (154 Juv.) 46 36 ? 7 651901 (164 Juv.) 55 27 8 21 5<strong>31</strong>902 (159 Juv.) 36 27 17 13 66Total 477 137 90 25 41 184% 28,72% 18,86% 5,24% 8,59% 38,57%Quanto aos lugares de origem: em1900-1902, 55,43% vêm do Haute-Loire; 22,87%, do Loire; 10,91 de Ardèche,quer dizer, dos territórios ocupadospela Província de l’Hermitage.Os Irmãos recebem novos juvenistastodo o ano, assim como os devolvemàs suas famílias, por uma ou outra razão.Certa seleção é feita, como apareceno documento seguinte. 6359 Anais, p. 106-107.60 Anais, p. 116-117.61 Essa estatística não faz diferença entre os Irmãos das Escolas Cristãs e do Sagrado Coração.62 Quais são essas outras escolas? Nenhum detalhe. E o que quer dizer «Instit.»? A palavra é imprecisa.63 Anais, p.135.Louis Vibert, fms 151


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 152<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASJuvenistas presentes em junho de 1899: 150em junho de 1900: 154Juvenistas devolvidos às suas famílias, de junho de 1899 a junho de 1900: <strong>31</strong>Reenviados à família por causa de doença: 1Retirados por seus pais: 1Total: 332.11. Falecimentodo Ir. SisoèsAté 1898, o Ir. Sisoès dirige o juvenatocom um grande devotamento. Ocronista reserva duas páginas cheiasà sua doença, sua morte e seus funeraisque parecem se inspirar no relatoda morte de Marcelino Champagnat.Chamado a fazer seu SegundoNoviciado, “essa vida sedentária foifatal para sua saúde” 64 . Acometido deuma inchação de peito 65 , recebeu osúltimos Sacramentos 66 em 3 de outubrode 1898. Às 8h30min (da tarde),reuniu sua comunidade, fez sua despedidae suas últimas recomendações.“Nem ele pôde reter suas lágrimas.Ele amava muito seus Irmãos! Eleera tanto amado 67 ”. E pediu aos Irmãospara transmitirem seu adeus aosjuvenistas. “Num outro momento eleexprimiu sua satisfação em deixar osjuvenistas nas mãos do Ir. Marie-Abraham. ‘É você, disse ele ao abraçá-lo,que é o Diretor do Juvenato, eeu estou bem contente’ 68 ”. Ele morreuno dia seguinte, pela manhã, às4h10min, “hora em que dava o sinalpara a comunidade levantar-se, durante20 anos 69 ”.“Seu corpo foi exposto no quarto do Venerável, e umgrande número de pessoas de Lavalla veio rezar aopé de seu esquife. A missa de funerais teve lugar naparóquia de Lavalla, quinta-feira, 6 de outubro.Após a missa, seu corpo foi levado a l’Hermitageonde desejava ser sepultado”.“A comunidade de l’Hermitage e todo o Juvenato deLavalla precediam o carro fúnebre […] depoisvinham o clero da paróquia, o Sr. Capelão e doisantigos capelães (Pe. Magat e Pe. Basset) e por fimum grande número de pessoas de Lavalla earredores […] Entrando no cemitério del’Hermitage, vê-se, à esquerda, uma modesta cruzque indica onde repousa seu corpo 70 ”.Ele bem mereceu tal homenagem.E a prosperidade da obra vai fortecom o novo Irmão Diretor: o juvenatotem 6 turmas, e o pessoal é numeroso:64 Anais, p. 120.65 Anais, p. 121. «inchação de peito»: congestão pulmonar, pneumonia.66 “Últimos Sacramentos”, hoje são chamados de “Unção dos enfermos”.67 Anais, p. 121.68 Ir. Marie-Abraham será diretor do juvenato de outubro de 1898 até setembro de 1901, depois Mestrede Noviços em l’Hermitage. Anais, p. 126 e 192.69 Anais, p. 124.70 Anais, p. 125. Essa cruz não existe mais, mas seu nome figura sobre a lista dos defuntos afixadano cemitério de l’Hermitage.152 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 153mars 2013Anos 1898-1899 1899-1900 Setembro 1901Pessoal de Direção 71 3 3 3Professores 7 7 7Vigilantes 2 2 2Externato 72 3 3 2Pessoal de serviço 6 6 4Total de pessoal 21 Irmãos 21 Irmãos 18 Irmãos2.12. Casa de formaçãoe lugarde peregrinaçãoDeixemos um pouco a cronologiapara ater-nos à realidade quase cotidianade uma comunidade que já temaspectos bem conventuais e que, alémdisso, começa a tomar aparência deum lugar de peregrinação.As contribuições dos juvenistassão apenas modestas, o juvenato épobre:“Visa-se a uma grande economia; evitam-seos vazamentos. Procura-se obter dos juvenistaso máximo possível como pensão;vigiam-se as compras, os fornecedores,as provisões; cuida-se para que nada se deteriore,nem se estrague. A roupa dos Irmãos, sobretudo,é de grande precariedade. Há muito tempo,as finanças não permitem fazer comprasdeste gênero. No entanto, não se pode irmais longe: precisaríamos de um auxíliode quinhentos ou seiscentos francos 73 ”.Ainda, ‘Para alimentar os juvenistas, vesti-lose lhes fornecer o material didático, o Irmão Diretorrecebe da Casa Mãe 25 francos por mêse por cabeça 74 ”.Há também os benfeitores ou benfeitorasda obra dos juvenatos. Em 23de abril de 1902, o cronista escreveu:“Missa cantada em l’Hermitageem honra das Damas Patronas do Juvenato”.Em 20 de julho de 1901:“Todo o 1º campo 75 foi a l’Hermitagepara ser apresentado à ReverendíssimaMãe Candide, Superiora da Obradas crianças tuberculosas de Ormesson.O cumprimento tocou-a singularmente,sobretudo a parte em que selhe prometeu vocações religiosas paraa sua obra. Ela adotou 20 juvenistasencarregando-se de sustentá-los 76 ”.71 Por pessoal de direção deve-se entender os Irmãos Diretor, sub-diretor, Ecônomo. O pessoal deserviço é constituído pelos Irmãos cozinheiro, auxiliar de cozinheiro, alfaiate, sapateiro. Alguns Irmãosacumulavam às vezes duas funções: professor e organista, professor e sacristão, por exemplo.72 O externato deve ser considerado à parte; os Irmãos que lhe são atribuídos não intervêm no juvenato.Mas eles fazem parte da comunidade dos Irmãos.73 Anais, p. 139-140.74 Anais, p. 104.75 Em La Valla, os juvenistas estavam divididos em dois grupos chamados «campos». Cada campotinha à frente um Irmão Vigilante.76 Anais, p. 187.Louis Vibert, fms 153


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 154<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASOs Irmãos vivendo quase em autossuficiência,quatro profissões manuaissão representadas na comunidade:cozinheiro, alfaiate, sapateiro ejardineiros.“O primeiro jardim foi feito em 1895 e os cincooutros, com os muros de sustentação, foram feitosem 1898” 77 . O galinheiro foi construído em 1895.Uma construção no fundo do quintal ao oeste,destinada a ser um chiqueiro e uma estrebariade vacas, mesmo que tenha sido terminada, nuncafoi usada para isso 78 . Retira-se da terra tudoo que é possível para alimentação e faz-se economiaem tudo. Em julho-agosto é a colheita das airelas(mirtilo, arando), e no outono a colheitadas castanhas. Nas plantas da propriedade,criadas em 1900, figuram pomares de cerejeirase castanheiras 79 . Por ocasião das festas,o cardápio é modestamente melhorado, comose pode ver naquele de 25 de dezembro de 1899:“No réveillon: sopa, salsichão, arroz, duassobremesas, vinho branco. De manhã: chocolate.No almoço: três pratos, duas sobremesas”.2.13. A piedadeEla ocupa um grande lugar no regulamento.As festas mariais são dehonra. ‘Tudo a Jesus por Maria’ é a divisado juvenato escolhida pelos Irmãosem 1897 80 . Os exercícios depiedade são múltiplos: a oração, amissa cotidiana 81 , os sacramentos, 82o terço, o ofício, a adoração ou a visitaao Santíssimo Sacramento, as novenas,as vias-sacras, retiros, mês deMaria, de São José, do Sagrado Coração,adoração perpétua… marcamos dias e os meses, segundo o calendárioreligioso do dia e os costumeirosestabelecidos.2.14. Os estudosOs estudos profanos têm seu lugarassegurado. Tem-se a impressão queo juvenato segue mais ou menos oprograma de uma escola primária superior.Os exames trimestrais que podemdurar três a quatro dias têm certasolenidade e são presididos pelo IrmãoProvincial 83 ou o Irmão Vice-Provincial,acompanhado às vezes pelo IrmãoVisitador. Para os exames orais,Irmãos de Izieux, de Valbenoîte, del’Hermitage, vêm em reforço 84 . Tambémse passa por exames de agricultura,organizados pelos sindicatosagrícolas do sudeste 85 . Mas não setrata do certificado de estudos, nemdo brevê, exames oficiais.77 Anais, p. 112.78 Anais, p. 112.79 Atualmente, sobram apenas 4 castanheiras ainda produtivas e algumas cerejeiras selvagens, perdidasno meio de especiarias e de sicômoros. Ao longo do caminho de Luzernod, alinhavam-se álamos,que já desapareceram.80 Anais, p. 117.81 “Os juvenistas recebem, em média, três vezes por semana, a Santa Comunhão. Não se segue aordem de banco para ir à Sagrada Mesa.” Anais, p. 138.82 Primeira Comunhão, Confirmação, Confissão.83 Isso ainda não é um estatuto canônico. Trata-se antes do diretor da casa provincial.84 8 de agosto de 1900. Anais, p. 164.85 Sindicatos católicos organizam a formação agrícola.154 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 155mars 20132.15. As fériasNão há férias em família. A datade 16 de agosto marca a aberturaoficial das férias dos juvenistas quese traduzem por um horário diárioum pouco mais leve. Eis, abaixo, atítulo de exemplo, o horário de 16de agosto de 1900, repetido em1901:16 agosto Abertura das férias 864h1/2 Levantar dos Irmãos 1h Terço (segundas, quartas,sextas), depois passeio5h1/4 Levantar dos juvenistas 1h40 Terço (terça, quinta, sábado),depois aula5h35 Oração. Meditação 3h Saída ½ hora6h Santa Missa. Estudo 3h1/2 Aula7h10 Café. Recreio 4h5 Visita ao SSmo. Sacramento(terça, quinta, sábado)8h1/2 Leitura 4h1/4 Merenda. Recreio8h3/4 Aula 5h1/4 Vésperas e Completas.Leitura, estudo9h3/4 Saída de meia hora 6h40 Oração. Jantar. Recreio.Dormir10h1/4 Aula11hAula de canto11h1/2 Visita ao SS mo. Sacramento.Almoço. RecreioEssas «férias» permitem tambémaos Irmãos de fazer seu retiro anual.Os cursos recomeçam no início deoutubro 87 .2.16. DescansoExistem cortes nesse quadromuito rigoroso: ordinariamente nomês de julho uma jornada de descansono Pilat, de onde os juvenistastrazem uma dúzia de sacos dearnica que em seguida são enviadosa St-Genis-Laval 88 .Um Superior de passagem porLavalla concede, de vez em quando,um dia de descanso 89 .86 A hora é a hora solar.87 De 1889 a 1891, os juvenistas passam suas férias em Saint-Genest-Malifaux e, em 1892, emSaint-Genis Terrenoire, para deixar lugar, em La Valla, aos Irmãos que fazem seus “Grandes Exercícios”recentemente instituídos.88 Aconteceu que as coisas terminaram menos bem. Certa vez, um deles trouxe um buquê de acônito(planta venenosa) e o ofereceu ao vice-diretor que empalideceu de medo. “Ele se apressou emsaber quais haviam provado dele. Correram à farmácia. Todos ficaram mais ou menos indispostos; masninguém morreu. Fez-se uma novena em ação de graças”. Anais, p. 113.89 13 novembro de 1901, feriado em Tarentaise. Anais, p. 192.Louis Vibert, fms 155


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 156<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASOs Anais citam também os passeiosde uma tarde, jogos para osmomentos de recreação, sessõesrecreativas: teatro, elocuções (monólogos),cantos, “sessões de projeçãoe de fonografia 90 ”.Em junho de 1900, “os juvenistas estrearamos jogos de croquets 91 ”.2.17. PeregrinaçõesTalvez seja por volta de 1890 que,no espírito dos Irmãos, Lavalla se tornamais concretamente o “berço” doInstituto. Eles vêm se recomendar àoração do Fundador no quarto que eleocupou de 1818 a 1824. Os Anais assinalamalgumas passagens:Março 1891 Sete Irmãos que partem para a China.Outubro 1899 Outros para a China e Turquia.21 nov. 1899 Um Irmão da Argélia vem agradecer ao Venerável a cura que obtevepor sua intercessão.Dezembro 1899 Oito Irmãos para o Canadá e América do Sul.9-25 fevereiro O Diretor de Izieux e o Diretor de Copenhague, que fazem seu Segundo1900 Noviciado em Sainte-Marie, vêm a Lavalla para se restabelecer.8 maio 1900 O Irmão Diretor de Die faz uma peregrinação a Lavalla.25 junho 1900 Dois antigos juvenistas para o Canadá, acompanhados por doisCanadenses que retornam 92 .17 agosto 1900 Irmãos de Bourbonnais vêm para os Grandes Exercícios em CôteSt-André.18 agosto 1900 Irmãos do Norte vão aos Grandes Exercícios em Bourg-de-Péage.Agosto 1900 Dois jovens Irmãos para o Canadá.5 março 1901 Dois jovens Irmãos, antigos juvenistas, que se dispõem a ir para a China.25 junho 1901 Três Irmãos para o México e um para o Canadá.2.18. Relações frequentesentre Lavallae l’HermitageOs Cronistas assinalam 25 visitasde Irmãos de l’Hermitage. Noviços,juvenistas ou escolásticos sobem aLavalla, uma tarde ou mais raramenteum dia inteiro 93 . Eles vêm com umobjetivo preciso: visitar o Presépio notempo de Natal, ou para «ver o mêsde Maria» em 29 de maio de 1900, ou90 Anais, p. 148. O fonógrafo de Édison data de dezembro de 1877. O juvenato se ajusta bem aoseu tempo.91 Anais, p. 161. (Um tipo de bocha que se jogava sobre a grama e que deu origem ao bilhar – notado tradutor)92 “Os juvenistas são incentivados a partir para as missões, ao ver essa partida, a fim de conquistaras almas para Jesus Cristo e de se preservar do serviço militar”. Anais, p. 160.93 Dia 23 de julho de 1899, os noviços permanecem o dia todo em Lavalla e aí almoçam.156 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 157mars 2013simplesmente para passear e reverseus antigos mestres e companheiros.Cada ano, pela festa de SãoFrancisco, os escolásticos almoçamaí; ou ainda, como no dia 5 de outubrode 1901, eles terminam aí suas férias efestejam os 47 formandos que receberamo Diploma Elementar e o DiplomaSuperior. Quando, em 17 deabril de 1902, 26 novos Irmãos e os juvenistasque recentemente descerama l’Hermitage repassam por Lavalla, ocronista não pode deixar de acrescentar:“Merendar: salame, chocolate,biscoitos”.Quanto aos juvenistas de Lavalla,os Anais registram sua presença eml’Hermitage em certas ocasiões: paraa reunião das senhoras Patronas;para as tomadas de hábito; para umaperegrinação a l’Hermitage junto aotúmulo do Venerável, a fim de colocaras resoluções do retiro sob a sua proteção,como em 7 de outubro de1899. São também convidados pelosIrmãos de Izieux, onde passam umatarde de festa: “Sessão de fonografia(vitrola). Merendar com os Irmãos:mesas, toalhas, salame etc. etc. vinhobranco; nada faltava para gravar nalembrança de todos esse dia de feriadoe de festa 94 ; terça de Páscoa,em abril de 1899 95 .”Em 21 de setembro de 1901, 41 juvenistasde l’Hermitage vêm se reuniraos de Lavalla: “O caro Irmão Assistentee o caro Irmão Visitador estãopresentes na recepção”. Isso pareceuma mudança importante nas disposiçõesformativas da Província.2.19. O CantoExiste no Juvenato outra atividade,o canto, essencialmente baseado naliturgia, então o canto gregoriano. Umorganista, o Ir. Joseph-Conrad, em1899, é nomeado na lista de envio dosIrmãos. Como o cronista escreve em1900: “O juvenato possui hoje seteharmônios 96 ”, deve haver aí cursospráticos para os que desejam aprendera tocar esse instrumento. Os juvenistasvão cantar fora. Já, em 1896,nos dias 2, 3 e 4 de novembro, elesgarantem os cantos na paróquia deLavalla e em l’Hermitage, no momentodo Tríduo em honra do VenerávelPadre Champagnat 97 . No dia 7dezembro de 1896, são ainda os juvenistasde Lavalla que vão à Igreja deValbenoîte, com os Noviços e os Escolásticosde l’Hermitage, para o segundodia do Tríduo. Eles cantam amissa das Senhoras Patronas quandoelas se reúnem anualmente no fim deabril ou início de maio, em Saint-94 Anais, p. 129.95 Senhoras patronas: Anais, p. 113; tomada de hábito, p. 149-195; Izieux, p. 129.96 Anais, p. 116.97 «Essas festas foram esplêndidas… Durantes esses três dias, o quarto do Venerável não se esvaziavanunca… A afluência foi tão grande que durante esses três dias a igreja se tornava pequena, sejapara os exercícios da manhã, seja para os da tarde: todos queriam assistir a essas imponentes cerimônias.»Anais, p. 113-114.Louis Vibert, fms 157


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 158<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASEtienne ou em l’Hermitage. Os Anaisrelatam cinco desses encontros.Aquele de 1º de maio de 1900 indicaque havia então 80 cantores no Juvenato.Eles cantam também na paróquia,por ocasião de certas festas 98 . Inversamente,o clero da paróquia e outrosconvidados vêm realçar, com suapresença, a festa patronal do juvenato,em 21 de novembro, Apresentaçãode Maria no Templo. Para asgrandes festas, há um costume intitulado“Grande Solenidade”, queserve de referência para a liturgia dodia, como a festa do Sagrado Coração,no dia 22 de junho de 1900. Encontramostambém a expressão“Missa com música”, que devia darainda maior amplitude à cerimônia 99 .2.20. Trabalhos manuaise abastecimentode águaVimos que os trabalhos manuaisfazem parte da tradição. O alicerce éfeito evidentemente pelas empresasou por pedreiros, mas os Irmãos e osjuvenistas se fazem de serventes paraajudar os pedreiros. O abastecimentode água exigiu trabalhos particularmenteimportantes.Onde estava a fonte ou o poço emque os primeiros Irmãos se abasteciam?Nós o ignoramos. Os Anais sómencionam a água depois de 1879. OIrmão Sisoès fez então construir umreservatório de 9m 3 “na parte superiordo prado a fim de levar a águapara as diversas partes da casa pormeio de canos de chumbo 100 ”. Nomomento da ampliação da casa em1893, foi construído outro, de 12m 3 ,naproximidade do primeiro com o qualele se comunica. Em 1895, ano deseca, “durante dois meses foram obrigadosa buscar água com um tonel,além da barragem; tirava-se a águado riacho como se podia, e quando otonel estava cheio era o conduzidopor caminhos horríveis’. Com 600francos que lhe concedeu o Irmão Superior,o Irmão Sisoès fez construir,em 1896, um terceiro reservatório de140m 3 . Apesar de os Irmãos e Juvenistasterem trabalhado no aterramento,a despesa subiu para 1.800francos, o que obrigou o Ir. Sisoès apedir uma suplementação à CaixaGeral, que ainda foi insuficiente: “eleteve que se desdobrar para pagar oresto 101 ”.2.21. Um pré-noviciadoO Juvenato tem então um papelprimordial na expansão do Instituto.Os superiores maiores estão, portanto,de olho nessa obra ao mesmotempo custosa e indispensável. Os98 Na festa do Rosário, 7 de outubro de 1900; nas vésperas do Corpo de Deus, 17 junho de 1900; nasmissas das Missões, 16 de setembro de 1900.99 Missa cantada e 5 acólitos (coroinhas), para a festa de Pentecostes (3 de junho de 1900).100 “Mal informado, o Reverendo Irmão Superior o repreendeu vivamente. Tendo ouvido suas explicações,aprovou a despesa”. Anais, p. 107.101 Anais, p. 108.158 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 159mars 2013Anais relatam em 9 de novembro de1899: “Visita do Reverendo Irmão Superior-Gerala Lavalla. Ele vinhaacompanhado pelo caro Irmão Assistentee pelo caro Irmão Procuradorprovincial. Chegaram às 11 horase partiram à 1h30min. Visitaram assalas de aula, e, após o almoço, apropriedade para ver os trabalhosque haviam sido executados 102 ”. Emoutra ocasião, o cronista é mais lacônicopara evocar uma visita, comoem 13 de setembro de 1900: “o IrmãoAssistente fez uma curta aparição”.Mas, na maior parte do tempo,suas visitas dão lugar a uma festa.“Foram recebidos os caros IrmãosAssistentes Procope e Stratonique.Recepção às 10h45min. Canto de recepção.Cumprimento e canto profano.Festa no refeitório 103 ”. O quadroabaixo mostra que o Juvenatopreenche então perfeitamente suafinalidade.2.22.Entradas no Noviciado1899 1899 1899 1899 1900 1901 1901 1902 TOTAL17 abril 4 agosto 2 dez. 23 abril 2 outubro 20 abril 25 set. 10 abril24 25 12 25 40 29 57 <strong>31</strong> 243Essa passagem ao Noviciado éimpregnada de solenidade. Ela é feitanum ambiente festivo que começapela “proclamação dos eleitos 104 ”…missa, almoço festivo. Ordinariamente,antes de partir, os futuros noviçosse dirigem ao quarto do Venerávele, indo para l’Hermitage,passam por Nossa Senhora da Piedade105 .2.23. O final (provisório) doJuvenato, em 1903Em 1º de julho de 1901, a lei Waldeck-Rousseauinstitui, na França, umregime legal para todas as associações,exceto para as associações religiosasque devem ser autorizadas.Como o governo recusou todas asautorizações, no dia 3 de abril de1903 106 , o prefeito de Lião notificouao Caro Irmão Teofânio que, em datade 1º de abril, o Ministro do Interior rejeitouo pedido de autorização para oInstituto, feito à Câmara dos Deputados.(C XIII, 488 - X, 303-307 - cf. 1ºde julho e 19 de setembro de 1901). Ocomissário de polícia, em nome doGoverno, veio comunicar a ordem deevacuar a casa de Lavalla antes do finalde julho, [41-42]. Os últimos juve-102 Anais, p. 143-144.103 6 de fevereiro de 1900 – Anais, p. 147.104 Anais, p. 153, a 23 de abril de 1900.105 “Partida, passando por Nossa Senhora da Piedade, em recordação do Venerável”. Anais, p. 153.106 Ver Cronologia marista, p. 111 e 115.Louis Vibert, fms 159


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 160<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASBulletin de l’institut (1913)nistas partem a <strong>31</strong> de julho de 1903,para San Mauro, perto de Turim 107 .Apesar da espoliação dos locais,em 1903, o externato continua numprédio comprado pelo Sr. Ginot, pertoda igreja paroquial, que se torna escolaparoquial. Depois das expulsões,os prédios dos Irmãos, em Lavalla,são leiloados em outubro de 1906. OPe. Aubrun, cura da paróquia de Lavalla,os adquire para fazer deles umlugar de vilegiatura denominado “l’HôtelSt- Andéol”.2.24.Reaberturado Juvenato 108Está ligada aos acontecimentosda Grande Guerra: o governo francêsparou provisoriamente de perseguiras congregações e, em107 La Valla guarda um «testemunho» material dessa expulsão. É um medalhão oval, em madeirapreta, de 19cm de comprimento por 16cm de largura. Na parte oval interna, cercada de uma fina bordametálica dourada de 12cm de comprimento por 9cm de largura, mais ou menos, é uma tira retangularbranca bem conservada, de 12cm. Ela traz a inscrição: “Lacre colocado sobre a porta da capela do Juvenatode La Valla pelo comissário de polícia de Saint-Chamond, em julho de 1903”.108 Nós possuímos ainda três outros cadernos de Anais que cobrem o período de 1920 a 1969; o segundode 1920 a 1934; o terceiro de 1935 a 1961; o quarto de 1962 a 1969. Para distingui-los do primeiroque cobria o período desde a Fundação do Instituto até 1903, eu empregarei o N.° de ordem desses cadernos:2 Anais ou 3 Anais… nas anotações ao pé das páginas. As referências empregadas neste artigosão as datas indicadas que permitem se referir aos acontecimentos que trazem.160 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 161mars 2013Bulletin de l’institut (1913)outubro de 1917, a derrota italiana deCaporetto contrariou o envio de juvenistaspara uma Itália há umtempo ameaçada de invasão e derevolução. Os Anais de l’Hermitageindicam, pois, a presença de um juvenatoem 1917-1918 109 , dirigido portrês Irmãos secularizados, residentescontratados em Nossa Senhorade l’Hermitage: Sr. Martin, Sr. Merlee Sr. Thomas 110 , que procuram umlugar para “recomeçar a obra interrompidahá 14 anos 111 ”. Esse juvenatoprovisório parece ter duradotrês anos.No outono de 1919, os Irmãos souberamque a mobília do Hôtel St-Andéolestava à venda. Após negociações, porvezes árduas, em 6 de março de 1920,o Pe. Aubrun, antigo pároco de Lavalla,vende o Hôtel St-Andéol ao Sr. DeBoissieu, representante da AssociaçãoImobiliária do Gier, encarregado dos interessesdos Irmãos Maristas. Como ohotel havia feito muitas modificaçõesnos prédios e arredores, era preciso renová-lo.A partir de 30 de março de1920, toda uma turma sobe de l’Hermitagea Lavalla para empreender osprimeiros trabalhos de limpeza.109 Retiro dos juvenistas de 18-21 de julho de 1918. Anais de l’Hermitage de 1918.110 Devido à secularização, os Irmãos se nomeiam pelo seu nome civil.111 2 Anais, p. 3.Louis Vibert, fms 161


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 162<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASApós 15 meses de trabalho, numvai e vem incessante entre l’Hermitagee Lavalla, o Juvenato poderá reabrirsuas portas. Na ocasião da visita aLavalla do Irmão Stratonique, Superior-Geral,e do Irmão Provincial, em 13de outubro de 1920, decidiu-se dar aopensionato o nome de Nossa Senhoradas Vitórias, cuja estátua 112 , trazidaem 12 de fevereiro de 1921, é inauguradana terça, em 30 março, na presençada “comunidade, da elite dosjuvenistas e alguns estudantes” 113 .Mas é apenas no dia 4 de agostode 1921 que 46 juvenistas de l’Hermitagesobem a Lavalla e reocupamas dependências, após 18 anos deausência 114 . Os Irs. Thomas, Diretor,e Martin, responsáveis do grupo,“vão apresentar os cumprimentosda nova comunidade” ao clero e às Irmãsda Santa Infância; e em 7 deagosto de 1921 115 , o Sr. Pároco, de sobrepelize estola, benze a casa e, depois,todos os quartos». O cronistaacrescenta: “parece que era bem necessário116 ”.2.25.2.º cadernode Anais. O Juvenatode 1921 a 1934Esse caderno não apresenta,como fazia o primeiro, estatísticas clarase precisas. No entanto, ao percorrê-lo,encontramos estas quantidadesde juvenistas:1921 1921 1927 1929 1930 1932 1933 19346 agosto 5 novembr. 6 agosto 2 outubro 19 fever. 27 agosto 7 novembr. 27 dezemb.46 50 29 40 56 44 55 70O cronista conclui esse último númerode 70 com esta exclamação:“Foi alcançado, portanto, o famosonúmero! A gente vai, por isso,como foi anunciado, alegrar-se comuma pequena festa”. De fato, essa cifranão será jamais ultrapassada porque,numa França de campanhassangradas pela guerra e atingidaspela diminuição da natalidade, o recrutamentotornou-se mais difícil.Entretanto, é sempre do «recrutador»que depende o número de juvenistas.Ele visita os párocos, vai às famíliascristãs, nas escolas dosIrmãos 117 , e se faz o intermediáriocom a Instituição. Uma homenagem é112 Acima do altar-mor da capela de La Valla, existe uma estátua de Nossa Senhora das Vitórias; masserá aquela que o Sr. Grasset entregou em 12 de fevereiro de 1921?113 2 Anais, 30 março de 1920. “Eles cantam uma vibrante Salve Regina entoada pelo Ir. Imbert”.114 2 Anais, p. 11, em 4 agosto de 1921.115 13h, em nossa notação atual.116 2 Anais, p. 11, em 7 agosto de 1921. Ele deixa transparecer que os clientes do hotel nem sempretinham um comportamento exemplar.117 Entre os juvenistas, mais da metade provém das escolas dos Irmãos.162 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 163mars 2013feita, no 4.º caderno dos Anais, em 21de setembro de 1964, ao Irmão Recrutadorde então, o Ir. Colombat,“que incansavelmente, durante maisde trinta anos, se ocupou da procurade vocações e que cede seu lugarao auxiliar, o Ir. Claudius Goutagny,para se retirar a Valbenoîte 118 ”.2.26. O 3.º cadernode Anais. O Juvenatode 1935 a 1961Se o número de juvenistas agora éreduzido, sua idade parece ser maiselevada que antes de 1903 e seu engajamentomais exigente. O livro dasvisitas 119 de 1935 declara: “Convémadmitir ao Juvenato apenas os meninosque têm um real desejo de entrarno Instituto”. É por isso que a admissãodos juvenistas é acompanhadadeste pedido:“Nós, abaixo-assinados, declaramos que hoje,20 de setembro de 1936, fomos, a nosso pedido,admitidos por nossos Superiores como Juvenistasdo Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria, e que,a este título, nós nos consagramos solenementeà Santíssima Virgem Maria, na capela deNossa Senhora de l’Hermitage, em presençado caro Irmão François de Borgia, Assistente-Geral”.Seguem os nomes dos 32 abaixoassinadosem 20 de setembro de1936. O verso do documento apresentao mesmo pedido em 16 de setembrode 1938, seguido de 27 assinaturas. Onível de estudo parece realmenteacentuado: em 29 janeiro de 1935, oIr. Assistente anuncia a criação de umjuvenato superior em l’Hermitage, o juvenatoSão José, onde serão admitidosos juvenistas providos de “seu certificadosuperior 120 ” e que não atingirama idade de 15 anos e meio, necessáriapara passar ao postulado.Número de juvenistas no período de 1935 a 196117 set. 35 7 set. 1936 1º out. 1942 3 out. 1943 9 set. 1944 29 set. 194541 33 51 43 30 351º out 1946 Set. 1948 4 set. 1951 121 Set. 1952 15 set. 1953 16 set. 195430 50 65 53 37 1224 set. 1955 123 25 set. 1956 2 out. 1957 26 set. 1958 21 set. 1959 15 set. 196055 65 124 53 58 55Em setembro de 1961, eles eram 63.118 4 Anais, em 21 de setembro de 1964.119 Esse livro contém as observações dos Superiores sobre a vida das Comunidades.120 O juvenato parece funcionar como uma escola primária superior.121 3 Anais, em 4 de setembro de 1951: “entradas além das previsões’. Nenhum número citado.122 3 Anais, em 16 de setembro de 1954: “o recrutamento deu pouco resultado”.123 3 Anais, em 4 de setembro de 1955: “Este ano, devido ao pequeno número de juvenistas, a 5ªsérie será em La Valla”. Nenhum número é citado.124 3 Anais, em 2 de outubro de 1957: “65, dos quais 13 externos”.Louis Vibert, fms 163


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 164<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS2.27. O Juvenato se tornainterprovincialOs Anais nada relatam sobre osanos 1938-42, mas, por causa dofraco recrutamento e das dificuldadesda guerra, o juvenato começa ase tornar interprovincial. Entre 1939 e1941, há juvenistas que vêm de Mazères125 e, em setembro de 1945, algunsde Aubenas. Outros serão enviadosde Lacabane e de Varennes.Um Juvenato Superior é aberto emSaint-Paul-Trois-Châteaux, em setembrode 1947, sob a direção do IrmãoPaul Candide, juntando os juvenistasde Aubenas, Saint-Paul-Trois-Châteaux, do Sudoeste e deLavalla. Mas a experiência não durará.4.º caderno de Anais. Os juvenistas de 1962 a 196817/09 20/09 21/09 22/09 19/09 18/09 22/09/1962 1963 1964 1965 1966 1967 1968Juvenistas 63 63 53 39 56 52 23Turmas 3 3 3 ? 3 3 2Irmãos 7 9 8 6 7 8 4Externato 2 2 FechadoAs estatísticas mostram umagrande estabilidade de efetivos emLavalla até 1967 e uma súbita quedaem 1968. As causas são conhecidas:as transformações da sociedade, quevão acabar em maio de 1968, o ConcílioVaticano II... A 21 de junho de1969, é o fechamento oficial do Juvenatode Nossa Senhora de l’Hermitage.Os 14 alunos restantes continuarãoseus estudos em Ste-Mariede Saint-Chamond 126 e residirão no‘Alojamento de l’Hermitage’ 127 . A obradas vocações continua sob outraforma que se revelará rapidamentepouco satisfatória. Em resumo, o juvenatode 1921 a 1969 foi, sobretudo,a continuação de uma obra cujogrande momento de sucesso foramos anos 1876-1903. Os efetivos estáveisdo juvenato até 1967 escondem,de fato, uma erosão progressiva daeficácia vocacional dos juvenatos, sobretudoapós 1945.2.28. A reestruturação doensino na França…e em LavallaOs vinte anos do pós-guerra foramos de um “babyboom” depois de umcrescimento econômico muito forte.125 Juvenato situado a 3 km de Pau (Pyrénées-Atlantiques).126 Colégio dos Padres Maristas.127 É a época da criação, em todas as Províncias da França, de lares vocacionais, cuja vida será, emgeral, muito breve.164 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 165mars 2013Desse fato, o sistema escolar estáem plena reestruturação: é o momentoem que, quase por toda aparte, criam-se escolas de meninos emeninas; surgem os colégios.Como já descrevemos, o externatorecebendo os meninos da paróquiacontinuou num edifício compradopelo Sr. Ginot, perto da igreja paroquial.O Sr. Mathevet, um leigo, o haviadirigido até seu falecimento, em 6de maio de 1930. Após um curto ínterimde vários diretores, o Sr. Fournel,leigo, sucedeu-lhe de 1932 a 1957. OsIrmãos Raymond, depois Démartin,revezam-se até 1965, data da criaçãoda escola mista das Irmãs de SãoJosé, na rua de Luzernod 128 .Tendo o juvenato fechado suasportas em 1969, a escola primáriamista se estabelece em seus locais, eo Ir. Marcel Arnaud, nomeado diretor,abre um pensionato. Em setembro de1969, a escola conta 76 alunos dentreos quais 27 pensionistas 129 . O pensionatotornando-se misto, o númerode alunos, repartidos em 6 turmas,subirá para 160, em 1978 130 . Mas suasituação em zona demasiado distanteprejudica seu recrutamento, e o seunúmero cai para 88 alunos em 1997,sendo 38 internos 1<strong>31</strong> . Não tendo maisque 24 pensionistas – 18 meninos e 6meninas – no ano de 2000, o pensionatofecha suas portas.A direção do externato é, em seguida,assegurada pelos leigos, sobtutela marista, de 2001 a 2009. Em2003-2004, o prédio construído peloIr. Sisoés é totalmente renovado, sobreseus 3 níveis. Em 2009, é o EnsinoCatólico de Loire que assegura a tutelado estabelecimento. Atualmente,é uma escola primária, a única da vila,apenas para externos e com meiapensão. Em 2011-2012, ela tem 134alunos, incluído um pequeno setorpara crianças de menos de dois anos.O corpo de professores conta comcinco educadoras, duas delas commeio turno, de ajudantes maternais ede pessoas que disponibilizam suascompetências para pedidos pontuais.A população jovem que se estabeleceuem Lavalla nos últimos anos favoreceuum aumento de efetivos.2.29. A Comunidadedos IrmãosEla ocupa a casa do externato,construída em 1892 e renovada em1997-98. É composta de quatro Irmãoscuja missão é acolher os visitantes:em torno de 5.000 pessoas,por ano, realizam a peregrinação doslugares maristas.128 Pessoas, hoje de Lavalla, passaram por essa escola.129 4 Anais, 8 de setembro de 1969.130 Documento Bardyn: “La Valla en Gier, Monografia de uma vila”.1<strong>31</strong> Anais da comunidade dos Irmãos, em 1997.Louis Vibert, fms 165


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 166<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTAS2.30. Nossa Senhorada PiedadeEssa pequena capela, com capacidadepara 80 pessoas, que pertenceao município, é cara aos IrmãosMaristas. Renovada em 2003-2004,sob a iniciativa da Associação dos 3V (Vallauds, Valorisons Lavalla!), elafoi inaugurada em 5 de junho de2004. As passagens dos grupos quevêm visitar os lugares maristas lhedão certa vitalidade. Cada ano, o coralmunicipal de Lavalla se apresenta.A prefeitura expressou, no dia de suarenovação, o desejo de que este lugarpossa receber manifestações artísticas:concertos, exposições 132 …2.<strong>31</strong>. A casa doIrmão Francisco emMaisonnettesAcrescentamos que, em Lavalla,o Ir. Francisco é objeto da piedadepopular. Sua casa familiar é mantidapelo Instituto. Cada ano, na quartafeirasanta, tem lugar, na parte datarde, a celebração Eucarística do dia,na cozinha da casa. A sala acolheu,nessa quarta-feira santa, 4 de abril de2012, 80 pessoas.2.32. O futurodos prédiosUma terça parte dos espaços estádesocupada. O prédio do Ir. Vincentestá vazio ou serve de depósito; acasa histórica contém o quarto do Pe.Champagnat, muito visitado, e trêspeças servem à administração da“Présence Mariste”, a revista dos IrmãosMaristas da França. O restanteestá em ritmo de espera. A capela ésilenciosa. A comissão dos lugaresmaristas examina diversos projetosde renovação. Pensa-se também eminstalar aí a antiga biblioteca de l’Hermitage,como também os arquivosdas Províncias da França.Concluir este percurso, depois daFundação do Instituto até nossos dias,é lembrar o enorme investimento material,financeiro e humano que foi necessáriopara edificar e manter emfuncionamento os cinco prédios queconstituem o conjunto da propriedade.Mesmo se hoje esses locais parecemum espaço um tanto grandepara conter o berço do Instituto, elesnos lembram que numerosas vocaçõesmissionárias aí eclodiram, tocadaspela Boa-Nova a ser levada a outrospovos. Ainda muitos Irmãos,saídos desse Juvenato, poderiam recontarseu percurso por esse lugar edizer tudo quanto receberam. Podesedizer o mesmo dos Leigos que láchegaram na sua infância e que voltamem peregrinação a Lavalla, nãosem emoção, ao recordar o bom ambienteque lá reinava. Mas, o mais importanteé toda a força simbólicadesse lugar, chamado desde o séculoXIX o berço do Instituto. Ele não tem,certamente, o prestígio de l’Hermitage,«grande relicário do Pe. Champagnat»,mas é sua fonte.132 A estátua de Nossa Senhora da Piedade, datada do XVI século, outrora no santuário, estáatualmente guardada num lugar seguro.166 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 167mars 2013ANEXOCARTA DO IRMÃO GENTIEN, DE IZIEUX (LOIRE)Testemunhos sobre Marcelino Champagnat.(Investigação diocesana transcrita pelo Ir. Carazo, Roma, 1991, t. 2, p. 20)Meu Reverendo Irmão Superior:Eis algumas das minhas lembranças e impressões concernentes ao Pe. Champagnat durante minha estadaem Lavalla.Primeiramente sua piedade. Ele deixou traços dela até sobre as paredes de seu quarto, este modestoquarto que tem apenas 6m de comprimento, 4m de largura e 2,50m de altura. Oh! Se as paredes falassem!diz-se algumas vezes. – Pois bem! As paredes e até o assoalho deste quarto sempre me disseram:O Padre Champagnat estava cheio do espírito de piedade e do espírito de pobreza. Permitam-me reproduziras frases religiosas que ele tinha escrito em letras grandes sobre as paredes de seu quarto,e que eu pedi ao Irmão Cécilien para retocá-las (porque elas tinham desaparecido em parte).– Bendita seja a puríssima e imaculada Conceição da Bem-aventurada Maria, Mãe de Deus.– A Deus somente toda a glória.– Louvado seja o Santíssimo Sacramento do altar.– Do vosso fogo celeste, abrasai todo o meu coração.– Jesus, todo meu amor, Jesus, toda minha felicidade. (Nota)Seu quarto e, sobretudo, o parquê (sim, é bem um parquê, uma espécie de mosaico) nos falam deseu amor pela pobreza. Esse mosaico composto de tábuas largas, mal rejuntadas, de alguns tijolos e,num outro canto, de diversas pedras grandes e chatas da região e polidas ou talhadas, sobretudopelos pregos do calçado, tudo isso poderia ter sido facilmente substituído por um bom assoalhoe a baixo custo. Ao bom Padre não faltava o bom gosto e o amor ao belo e à ordem; a prova dissoé o cuidado que ele pôs na construção da enfermaria de l’Hermitage e, sobretudo, na Capela,mas ele amava ainda mais a pobreza. Esse quarto, tão pobre, era para ele, e é por isso que eleo quis, que ele o amava nesse estado.Quando eu tive a autorização de reparar a parte queimada do antigo prédio construído peloPe. Champagnat e seus Irmãos, os pedreiros notaram a solidez dessas paredes sem cal e eles demoliramapenas a terça parte, e o Sr. Pont, mestre de obra, disse-me que poderíamos construir sem medosobre essas velhas paredes. Isso me prova que se o Padre Champagnat era cioso pela economia,no entanto fazia bem feito aquilo que fazia.Antes dessa reforma, um bom ancião de Lavalla, passando por lá no domingo para ir aos ofícios,depunha sempre sua bengala na casa queimada, manifestando a quem o quisesse escutar o desgostode ver abandonada uma casa construída por aquele de quem havia conservado uma recordaçãotão religiosa.Louis Vibert, fms 167


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 168<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASObjetos que pertenceram ao bom Padre... veneração dos Irmãos vindos do Norte e do Sul:O pequeno pensionato de Lavalla possui o chapéu do Pe. Champagnat, seu cinto e alguns outros objetosque ele usou. Tudo isso se encontra num armário, disseram-me, feito pelo próprio Padre. Quando os Irmãosdo Norte e do Sul vêm a l’Hermitage, todos, como vós sabeis, querem ver o berço do Instituto e sobema Lavalla. Eu me dei conta que, por piedosos furtos, o chapéu do Padre se arredondava, diminuía,seu cinto se encurtava, e por pouco que isso durasse, tudo em breve desapareceria. Então fiz colocartodos esses objetos numa vitrina com chave e posta no quarto do Padre. Eu me recordo ter causadoum grande prazer ao nosso querido Ir. John, que partia para visitar os nossos Irmãos da Oceania,dando-lhe um pedacinho do cinto do Pe. Champagnat. Essa solicitude dos Irmãos sempre me edificou emostrou-me claramente a profunda convicção desses bons coirmãos de que o Pe. Champagnat eraum santo do Paraíso.Encontrei um dia um coirmão da casa com um machado na mão para fazer em pedaços uma velha mesacom gavetas que, realmente, só servia para o fogo. Informado, eu soube que se tratava da primeira mesados Irmãos, feita pelo Padre Champagnat. Mandei colocá-la no quarto dele, e é raro se,por ocasião das visitas, os Irmãos do Sul e do Norte, não façam alguma incisão para levar um pedacinhocomo relíquia 133 .Eu sou, meu reverendo Irmão Superior, vosso humilde e obediente servo,Irmão Gentien.Izieux, 24 de março de 1886.133 Parece-me ter sido uma mesa utilizada pelas crianças pensionistas semanais que permaneciamna casa durante o inverno: daí ter gavetas para suas provisões, e ter pés curtos, não permitindoque um adulto se sentasse à mesa. Os pensionistas semanais foram admitidos lá por 1822. É possívelque a mesa seja daquela época.168 IV. La Valla e os irmãos maristas de 1825 aos nossos dias


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 169COMPLEMENTOO RETRATODE CHAMPAGNAT,DE RAVERY, EMN.SRA. DE L’HERMITAGEJean RochefmsO número 29 de Cadernos Maristas,focado quase exclusivamente sobreos retratos de Marcelino Champagnat,é bem interessante. Com muitacompetência, o Ir. André Lanfrey nosfala dos retratos realizados por Ravery.Por ele me ter envolvido nessaquestão, e atendendo, aliás, a umasugestão dele, devo dar algumas explicações.A origem dostrês retratos pintadospor RaveryAquele que se conserva emRoma (R) é o retrato que Ravery, em20 de fevereiro de 1841, entregou aoIr. Francisco que o encomendara aopintor no dia 6 de junho de 1840. Éconsiderado como o retrato oficial.Comparação de três retratosOutro retrato está em St-Genis (SG),feito para o Ir. Benoît. Conhecemossua história por meio de uma circulardo Ir. Luís Maria, de <strong>31</strong> de maio de1870. O Ir Benoît, com grande reconhecimentoa Marcelino Champa -gnat por sua vocação, pediu a Raveryuma cópia do retrato já feito.169


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 170<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASE aquelede l’Hermitage? (H)Irmão João Borne, ecônomo dacasa de N.D. de l’Hermitage, egrande artífice dos trabalhos realizadospor ocasião da Beatificação,mostrou-me esse retrato. Ele esclareceuque o quadro vinha do atelierde Ravery. Quando esse atelier foi fechado,o quadro foi entregue à casa,seja pelo próprio Ravery – ele morreuem 1868 – seja por seus herdeiros.Esse quadro ficava num sótão, noquarto andar, ao lado do Gier. Foimostrado a Gérard Crépin, autor dohistorial e dos afrescos da sala dacomunidade. Imediatamente ele entendeua importância histórica de taldocumento e o revalorizou, colocando-ono quarto-oratório de MarcelinoChampagnat.Esses três retratos representamMarcelino Champagnat, porém com diferentesdetalhes. Observemos alguns:Cabeça do retrato de RomaA cabeça arredondada é realçada por leveauréola. Admiremos a finura da cabeleira. Aspálpebras são rígidas sobre os olhos apagados.A orelha está sumariamente desenhada. Sobrea fronte, nenhuma cicatriz.Observemos as dobras angulosas do rabat,de ambos os lados, na altura do pescoço.A cabeça do retrato de Saint-GenisA cabeça conserva seu aspecto cadavérico.Mas ela é realçada pelas cores mais claras quea envolvem. Ela é também mais expressiva, comsua tez mais colorida, sua fronte mais larga, osolhos mais abertos, a orelha melhor desenhada.A fronte é mais realista com suas cicatrizes,uma das quais sobre o olho esquerdo.O rabat possui apenas uma dobra do ladoesquerdo.170 O retrato de Champagnat, de Ravery, em N.Sra. de l’Hermitage


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 171mars 2013A cabeça do retratode ND de l’HermitageA aura que envolve a cabeça mal se percebeno original. Não dá para ver em uma foto ou compouca iluminação. A cabeça é mais alongada. Ocontorno dos olhos está bastante indefinido; o direito,quase apagado. A orelha, apenas esboçada.Percebem-se as cicatrizes nas arcadas dassobrancelhas. As mexas de cabelos não têm oacabamento de R ou de SG.Como no quadro anterior, o rabat não está dobrandosenão do lado esquerdo.Examinemos a cruz que Marcelino tem na mão:A cruz do retrato de RomaApenas uma observação: o corpo do Cristo ébem pequeno sobre uma cruz comprida.A cruz do retrato de Saint-GenisA cruz é uma cópia daquela que era entregueaos Irmãos por ocasião da profissão perpétua.Ela conservou o cordão. Mas onde se prende?Notemos, no alto da cruz, a plaquinha de inscriçãoque não aparece nas duas outras cruzes.O corpo do Cristo está bem dimensionado. CertamenteRavery pintou a partir de uma cruz quepossuía.Jean Roche, fms 171


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 172<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASA cruz do retratode ND de l’HermitageO contorno da cruz é menos definido. O corpodo Cristo é desproporcionalmente comprido.Vejamos agora os ornamentos sacerdotais.Detalhe do retrato de RomaPodemos admirar a renda da sobrepeliz eaquela da estola. Elas mostram toda a habilidadedo pintor.Notemos a distância entre o final da renda e ogalão transversal: uma unidade e meia do bordado.Detalhe do retrato de Saint-GenisA renda da sobrepeliz é menos regular, eaquela da estola está sumariamente desenhada.Notemos ainda a distância entre o final de rendae o galão transversal: um pouco mais de duasunidades.Detalhe do retratode ND de l’HermitageNeste, a pintura é menos nítida. É preciso fazercerto esforço para perceber a renda que cobrea estola. Notemos, ali também, a distânciaentre o final de renda e o galão transversal: umpouco mais de duas unidades.172 O retrato de Champagnat, de Ravery, em N.Sra. de l’Hermitage


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 173mars 2013A mão mereceuma atenção especialA mão de H está bem desenhada,um pouco fechada. Ela é idêntica àde SG, à direita. Ela é retomada emR, porém mais aberta. O punho estárodeado de renda.A cruz e a mão parecem nãocombinar muito bem. Elas não estãono mesmo eixo, e, aparentemente,nem na mesma perspectiva.Pode-se concluir que essa mão éuma criação de Ravery.Algumas conclusões1. Os três retratos, com pequenasdiferenças, têm muitos traços comuns:isso justifica a atribuição deH a Ravery.2. Esse último é anterior aos dois outros.Com efeito, ele é mais tosco,mais imperfeito em seu acabamento.Pretender o contrário seriaafirmar que Ravery o teria pintadodurante uma fase de decadênciade seu talento. Não é ocaso aqui; pois não pintou ele,com maestria, o retrato do Ir Franciscoem 1860, assinado por ele,quando os outros não o foram?Além do mais, a cabeça no retratode l’Hermitage não se destacade seu contorno. É uma falta inadmissívelpara um retrato. Portanto,não se pode pretender que tenhasido o Ir Francisco que o encomendou.3. Não se pode deixar de admitir queRavery dele se serviu como esboçopara pintar o retrato de R e,alguns anos mais tarde, o deSaint-Genis.Como Ravery procedeuDas observações precedentes,pode-se compreender a atuação deRavery.Chamado a l’Hermitage para pintaro retrato de Marcelino Champagnatque tinha falecido naquela ma-Jean Roche, fms 173


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 174<strong>31</strong>fms Cadernos MARISTASnhã, Ravery não chegou com umatela de 50X60 cm, montada sobreum cavalete. O espaço do quarto, asvisitas constantes não o possibilitavam.Ele dever ter tido um breve momentopara se concentrar e desenharsobre papel alguns traços dorosto de Marcelino.O trabalho de Ravery é difícil. O retratonão é sua especialidade. Alémdo mais, é preciso tornar vivente orosto morto de Champagnat, rapidamentecontemplado. Nessas condições,era necessário um esboço.Ele vai se empenhar em pintar acabeça tão fielmente quanto possível.No que concerne às vestimentas,o pintor deve ter pedido emprestadas,numa paróquia, a estola e a sobrepelizornadas de finas rendas. Têlas-iaele pedido em l’Hermitage?Pode-se duvidar, visto serem peçasde muito valor.Uma vez concluído o esboço, opintor dá início ao retrato. Ele endireitaa cabeça, suprime as cicatrizese cuida da cabeleira. Depois, com osparamentos que pediu emprestado,ele veste Marcelino. Ser-lhe-á necessáriomuito tempo para pintar minuciosamenteas rendas.Mais de oito meses depois, em28 de fevereiro de 1841, o retrato éentregue ao Ir. Francisco.O Ir. André Lanfrey fala da decepçãodos Irmãos quando viram o retrato(CM 29, p. 12). Para os que conheceramMarcelino, esse rosto estáainda muito marcado pelo sofrimentoe a morte. Esses paramentos muitofinos não convêm a Marcelino, humildee trabalhador, ainda que nosrecordem sua condição de sacerdote.Ravery fez pelo melhor, e nós lhesomos devedores por nos ter dadoum retrato de Marcelino – o único antesde sua sepultura – do qual maisde um pintor se serviu posteriormente.CONCLUSÃOPenso que aquilo que acabamosde ver justifica a realidade de um esboçopintado por Ravery previamenteao retrato oficial. Esboço quelhe serviu para realizar o retrato encomendadopelo Ir. Francisco. Ele oteria conservado em seu atelier paraeventuais necessidades. A ocasiãoaparece com o pedido do Ir. Benoît.Longe das exigências de um retratooficial, seu retrato será mais simples,menos acadêmico, com uma cabeçamais natural. Então se compreendeporque o Ir. Luis Maria oacha “mais parecido”.Conhece-se a sequência do “esboço”:doado a l’Hermitage por ocasiãodo fechamento do atelier de Ravery.Não parece que tenha recebidouma acolhida mais solícita do que ado retrato oficial. Não encontramosmenção alguma na lista das relíquias(lembranças) conservadas nos doisquartos da casa de ND de l’Hermitage(Notre-Dame de l’Hermitage,durante seu primeiro século 1825 –1925, p. 101-106). Este documentodeve ter ficado no sótão. A chegadade Gérard Crépin lhe deu nova vida.174 O retrato de Champagnat, de Ravery, em N.Sra. de l’Hermitage


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 175mars 2013PS Esta história do retrato de Marcelino Champagnat nos recorda outra maisrecente. Longeon é o autor de duas estátuas de Marcelino Champagnat,aquela que está sobre a capela do Rosey, em Marlhes, e outra localizadana entrada da casa de Lavalla.Para fazer uma, o escultor elaborou primeiramente um modelo em gesso,tamanho natural. Esses modelos ficaram no seu atelier, em Saint-Etienne, até o ano de 2011. Então, ele propôs aos Irmãos de adquiri-los,uma vez que seriam destinados ao descarte.Depois de recuperação e cobertura de uma camada de resina, o modelode Lavalla foi colocado na igreja de Pélussin, que, desse modo, ficoucom uma estátua de Marcelino.O modelo que serviu para a estátua de Rosey, depois de 56 anos, chegouà casa de Saint-Paul-Trois-Châteaux, aguardando, após a devidarestauração, receber os visitantes na sala de entrada.Jean Roche, fms 175


<strong>FMS</strong> <strong>PORT</strong> <strong>Cahiers</strong> <strong>31</strong>:<strong>Layout</strong> 1 20/03/13 11:56 Pagina 176Finito di stampare in Marzo 2013presso la CSC Grafica - Guidonia (ROMA)www.cscgrafica.it


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