13.07.2015 Views

ANLISE DA TRANSMISSO DE PREOS NA ... - SOBER

ANLISE DA TRANSMISSO DE PREOS NA ... - SOBER

ANLISE DA TRANSMISSO DE PREOS NA ... - SOBER

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

XLIII CONGRESSO <strong>DA</strong> <strong>SOBER</strong>ANÁLISE <strong>DA</strong> TRANSMISSÃO <strong>DE</strong> PREÇOS <strong>NA</strong> COMERCIALIZAÇÃO <strong>DE</strong> FEIJÃONO ESTADO DO PARANÁ, NO PERÍODO <strong>DE</strong> 1995 A 2003.Autores:Paula Tissiany CarneiroEconomista formada pela UFV, mestre em Teoria Econômica pela Universidade Estadual deMaringá, Professora Auxiliar do Departamento de Economia do Centro UniversitárioFranciscano/UNIFRA.e-mail: paula.t@pop.com.brCPF: 054.505.926-71José Luiz ParréProfessor Adjunto do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá,Professor do Programa de Mestrado em Economia/UEM.e-mail: jlparre@uem.brCPF: 062.680.948-75Endereço para correspondência:Universidade Estadual de Maringá – Depto de EconomiaAv. Colombo, 5790.Maringá - PRCEP: 87020-900.Fone: (44)261-4305Grupo de Pesquisa: Comercialização, mercados e preços agrícolas.Forma de apresentação: apresentação em sessão com debatedor1


ANÁLISE <strong>DA</strong> TRANSMISSÃO <strong>DE</strong> PREÇOS <strong>NA</strong> COMERCIALIZAÇÃO <strong>DE</strong> FEIJÃONO ESTADO DO PARANÁ, NO PERÍODO <strong>DE</strong> 1995 A 2003.RESUMO:Paula Tissiany CarneiroJosé Luiz ParréO presente trabalho teve por meta analisar as transmissões de preços entre produtor, atacado evarejo da cadeia produtiva do feijão no estado do Paraná, no período de 1995/2003. Para isso,verificou-se como a variável preço foi transmitida entre os segmentos, estimando-se asmargens e o sentido de causalidade entre os três setores de mercado, que, juntamente com amelhoria do produto final, servem como indicadores de ineficiência ou não na distribuição ecomercialização do produto. De modo geral, o varejo causou variações nos preços ao produtore atacado - causalidade confirmada pela aplicação do modelo VAR - mas que não representouuma tendência explosiva desta variável. As participações médias no preço ao consumidorfinal foram de 49,6%, 24,0% e 26,4%, respectivamente, para o segmento produtor, atacado evarejo. O estudo revela uma tendência de estabilidade no preço ao atacado, acompanhada depequenos decréscimos, juntamente com o ganho de importância dos supermercados nadistribuição de feijão ao varejo, garantindo a qualidade do produto final.Palavras-chave: Transmissão de Preços, Feijão, Paraná.1


ANÁLISE <strong>DA</strong> TRANSMISSÃO <strong>DE</strong> PREÇOS <strong>NA</strong> COMERCIALIZAÇÃO <strong>DE</strong> FEIJÃONO ESTADO DO PARANÁ, NO PERÍODO <strong>DE</strong> 1995 A 2003.1. INTRODUÇÃOEmbasado em conceitos e modelos de “comercialização”, esse trabalho tem comoobjetivo analisar as inter-relações entre os níveis de mercado do feijão no Paraná quanto àformação e liderança de preços. O período a ser estudado compreende a segunda metade dadécada de 90, tendo como referência o Plano Real (1995/2003). Para isto, serão estimadas asrelações entre preços recebidos pelo produtor, atacado e varejo desse estado.Para alcançar os objetivos almejados por esse estudo, é de suma importânciajustificar a escolha do tema, as relações entre os agentes da cadeia produtiva e a participaçãoda cultura no estado.A escolha pelo feijão deve-se à sua importância econômica e social no Brasil, vistoque é um dos alimentos básicos da população e o principal componente na dieta alimentar dosmenos favorecidos. Além disto, o país é um grande produtor mundial desta leguminosa.Segundo EMBRAPA (2004), o consumo atual de feijão no Brasil é de cerca de 16,8kg/hab/ano, existindo preferências de cor, tipo de grão e qualidade em algumas regiões doPaís. Ultimamente a exigência do consumidor e as mudanças de hábito alimentar têmmostrado uma tendência para o aumento do consumo de feijão de qualidade e procedênciagarantidas. Graças à sua ampla adaptação, o cultivo pode acontecer durante todo o ano, emquase todos os estados da federação, possibilitando constante oferta do produto no mercado.Também é utilizado como alternativa econômica de exploração agrícola em pequenaspropriedades, tornando-se uma renda e ocupação da mão-de-obra menos qualificada.Quanto à sua oferta, esta leguminosa – assim como os produtos agrícolas deabastecimento interno – sofre com a falta de incentivo do governo e à substituição porlavouras de exportação. Para Rodrigues et al. (2004), o crédito agrícola era centralizado emgrandes produtores, o que proporcionou um hiato entre a renda dos produtores familiares ecomerciais. Assim, mesmo com o aumento da produtividade e a maior utilização detecnologia, este produto teve um crescimento insatisfatório em comparação às culturasdestinadas ao mercado externo.No entanto, apesar desta deficiência, o Paraná ainda ocupa posição de destaque nocenário nacional e regional tendo a quarta cultura em área plantada no estado e cultivadaprincipalmente em pequenos e médios estabelecimentos 1 . Isto porque é uma das poucasalternativas para a absorção de mão-de-obra familiar e contratada, sendo responsável por umaparcela significativa da renda deste grupo. Já no Brasil, o Paraná é destaque como primeiroprodutor, respondendo com mais de 15% da produção total do país. Contudo, apesar destesaspectos, existem poucos estudos sobre a economia de feijão, tanto no estado quanto noBrasil. Isto limita uma análise mais detalhada sobre este produto.1 Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE (2004).2


201816141210864201919181512 121113 14 119876 55BA MG SP PR SC RS GO NE90/94 95/02Figura 1 - Participação Nacional dos Principais Estados Produtores de Feijão (90/94 – 95/02)Fonte: IBGE/PAM – Produção Agrícola Municipal (1990/2002)Já a comercialização do feijão no mercado interno é muito instável, em razão da suarápida perda de qualidade e à grande influência que exercem os "intermediários" na formaçãodo preço final do produto. Nesse cenário, o produtor ressente-se com a falta de informaçõessobre a demanda do produto, facilitando as negociações em favor do setor de beneficiamento.Neste caso, a movimentação dos consumidores primando por um produto de melhorqualidade cumpre um papel crucial na definição da liderança de preços. Paralelo a isto, o setorsupermercadista investiu em tecnologias que dão um amplo acesso às informações deconsumo e marcas específicas. O uso de caixas eletrônicos e de cartões de fidelidade forneceao varejista uma série de dados importantes sobre o consumidor, que pode ou não sercompartilhada com o fornecedor. Portanto, este conhecimento proporcionado pelas novastecnologias aumenta o poder de mercado do varejo.Quanto ao produtor paranaense, este ampliou sua produção graças ao uso de melhortecnologia, tanto no plantio (equipamentos mais modernos e, portanto, mais eficientes;sementes mais selecionadas), como no processo de armazenagem. Estes fatores levaram aoaumento da produtividade e à redução de custos de produção e armazenagem do produto nosegmento produtor, com reflexos para o setor atacadista e, em especial ao varejista.Por fim, considerando a posição do Paraná como produtor nacional e como quemabastece o mercado interno do estado, e a identificação das demais características, busca-sealcançar neste trabalho o conhecimento de como se processa e como se dão as margens decomercialização nos diversos níveis de mercado (produtor, atacado e varejo). Para isto,consideram-se as variáveis relevantes nesse processo e a hipótese de liderança-preço nacadeia produtiva do feijão pelo setor varejista, onde a transmissão ocorre via ajustes parciaisdo varejo ao produtor.2. METODOLOGIAOs dados utilizados para a realização das análises das margens de comercialização eda transmissão de preços foram as séries mensais, relativas ao período de janeiro de 1995 até3


dezembro de 2003, a saber: (1) os preços 2 de feijão nos diferentes níveis de mercado(produtor, atacado e varejo) do estado do Paraná, obtidos junto a Secretaria da Agricultura edo Abastecimento do Paraná (SEAB/<strong>DE</strong>RAL, 2004); (2) o salário mínimo real como proxy docusto de comercialização (série em reais (R$), elaborada pelo IPEA, deflacionando-se osalário mínimo nominal pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) do IBGE), (3)a taxa de juros 3 (over/selic) como proxy dos custos de armazenamento, do Banco Central doBrasil. Todos os testes realizados no trabalho utilizaram o pacote econométrico RegressionAnalysis of Times Series- RATS versão 3.2.Isto posto, descrevem-se o cálculo das margens de comercialização e os métodoseconométrico e econômico que possibilitaram alcançar os objetivos propostos.2.1 Margem de ComercializaçãoUma definição precisa de comercialização compreende “o conjunto de atividadesrealizadas por instituições que se acham empenhadas na transferência de bens e serviçosdesde o ponto de produção inicial até que eles atinjam o consumidor final”. (PIZA e WELSH,1968, p1)Conforme se depreende da definição apresentada, a comercialização envolve umasérie de atividades através das quais bens e serviços são transferidos dos produtores aosconsumidores. Neste processo, para qualquer mercadoria, têm-se diferentes níveis demercado. Assim, no caso de produtos agropecuários - mais especificamente o feijão –compreende-se o mercado produtor, atacadista e varejista.Dessa forma, tem-se o mercado do produtor em que os produtores oferecem suaprodução aos intermediários. Ainda, há o mercado atacadista, que é o elo central da cadeia decomercialização onde as transações são mais volumosas e em número reduzido de agentes.Nesse nível, ocorrem, fundamentalmente, transações entre intermediários atacadistas evarejistas, sendo pequena a participação de produtores e consumidores. Já o mercado varejistaé o que comercializa o produto em menores lotes diretamente para os consumidores. Aqui estárepresentado o último elo da cadeia de intermediários envolvidos na comercialização,fornecendo ao consumidor um produto no momento, local e especificação desejados peloconsumidor.Daí conclui-se que, na economia complexa em que se vive, é cada vez menos comumo contato direto entre a demanda dos consumidores e a oferta dos produtores. Como já semostrou, os consumidores e produtores estão separados por muitos intermediários(transportadores, processadores e armazenadores) que se encarregam da condução daprodução agrícola da região produtora até os consumidores finais. Dessa intermediaçãoresulta uma despesa que é cobrada ao consumidor pela realização das atividades decomercialização. Esta é a margem de comercialização.Segundo Aguiar (1994), “a determinação da margem pode ser feita de formaseparada para cada categoria de intermediário, na forma absoluta ou relativa. A margem totalabsoluta mostra a quantidade de moeda auferida, por unidade vendida, pelo conjunto dos2 A série preços foi deflacionada pelo IGP-M (Índice Geral de Preços de Mercado) para janeiro de 2004,calculados e divulgados pela Fundação Getúlio Vargas. Neste caso, a série utilizada corresponde ao feijão daclasse cores; isto porque os trabalhos desenvolvidos nesta área utilizaram este tipo de feijão que, certamente, é omais consumido no país.3 A outra possibilidade seria adotar o óleo diesel. A escolha da taxa de juros (% a.m), referência para os custosde oportunidade do capital, se dá pela importância atribuída a esta variável a partir do Plano Real comoreguladora das decisões econômicas.4


agentes que intermediam a comercialização do produto desde o nível de produtor agrícola atéo nível de consumidor final. As margens absolutas do varejo e atacado mostram a rendaauferida, também por unidade vendida, pelos varejistas e pelos atacadistas, respectivamente.As margens relativas representam as parcelas de preços de venda cabíveis a cada categoria deintermediário” (AGUIAR, 1994, p.5).Logo, a Margem Total (MT) procura medir as despesas do consumidor devido atodo o processo de comercialização. Tem-se,MT = P V− P P(01)que corresponde à margem total absoluta. A margem total relativa é expressa comoproporção (porcentagem) do preço no varejo, ou seja:⎛ Pv− Pp⎞MT ´ =⎜ ⎟ ×100(02)⎝ Pv⎠Especificando estas margens para os diferentes níveis de mercado, tem-se:As margens absoluta e relativa 4 do varejo, respectivamente,Mv= P − P(03)va´⎛ Pv− Pa⎞M =⎜⎟v× 100(04)⎝ Pv⎠Têm-se, também, as margens absoluta e relativa do atacadista, que são,respectivamente,Ma= P − P(05)ap´⎛ Pa− Pp⎞M =⎜⎟a× 100(06)⎝ Pv⎠2.2 Estudo EconométricoUma vez feita a abordagem teórica, o procedimento seguinte é desenvolver umaevidência empírica da relação de preços entre os diferentes níveis de mercado. Para tanto,procura-se identificar o sentido de causalidade, ou seja, verificar em que setor inicia-se aalteração de preços diante da ocorrência de algum fato. Numa segunda etapa, apresenta-seuma revisão dos modelos econômicos mais relevantes sobre transmissão de preços, no intuitode subsidiar o resultado do trabalho empírico que será desenvolvido primeiramente.- Modelo Auto-Regressivo Vetorial (VAR)O VAR nada mais é do que um sistema de equações estimado com exatamente omesmo conjunto de variáveis explicativas para todos os componentes da equação. De acordocom Sims (1972), se há uma verdadeira simultaneidade entre um conjunto de variáveis, todaselas devem ser tratadas em pé de igualdade não havendo distinção a priori entre as variáveisendógenas e exógenas. Esta abordagem baseia-se na estimação de modelos na forma reduzida,4 A margem relativa ao varejo mostra a participação do setor varejista no preço final do produto. De formaanáloga, a margem relativa ao atacado representa a participação deste setor no preço final do produto.5


onde todas as variáveis são endógenas e sujeitas ao menor número de restrições possíveis. Écom este espírito que Sims desenvolveu o modelo VAR.tAssim, este modelo pode ser representado por:xtpt− 1+ + ∏pxt−p+ vt= ∑ ∏ixt−i+i=1= ∏0+ ∏1x L vt(07)onde x é um vetor de ( × 1) das variáveis do modelo, ∏ é um vetor ( n ×1) de interceptos,∏in0são matrizes ( n × n ) de coeficientes que relacionam os valores defasados e correntes dasvariáveis e v é um vetor ( k × 1) de distúrbios com as seguintes características:tE ( ) = 0 para todo t ev t*⎧∏s = tE(vtvs) = ⎨⎩0s ≠ t*no qual ∏ é uma matriz de variância–covariância onde pressupõe-se positiva definida.Segundo Bacchi e Hoffmann. (1995), os termos v tsão serialmente não correlacionados ouadota-se a suposição de que eles não têm causa comum, tratando-os como mutuamente nãocorrelacionados.É interessante observar que o modelo VAR é a forma reduzida de um modeloestrutural dado por:Bxt= T0+ T1xt−1+ L + Tpxt−p+ εE( ε ) = 0ett*⎧∏εs = tE(εtεs) = ⎨⎩0s ≠ tDe forma que a relação entre a forma reduzida e a estrutural é:∏∏∏VT10= B − T011= B − T1MP= B −1T P= B−1εtQuanto à sua estimação, esta pode ser feita por Mínimos Quadrados Ordinários(MQO), quando considerado que as variáveis da equação inicial são predeterminadas e que,segundo Hill (1999), os distúrbios de cada equação satisfazem as propriedades clássicas(homocedasticidade e ausência de autocorrelação).Já a escolha do número de defasagens é arbitrária. Por um lado, “é de fundamentalimportância, assegurar a ausência de correlação serial nos termos de erros, sendo que istopode ser feito através da inclusão de um número de defasagens no modelo VAR que sejasuficiente longa para eliminar a autocorrelação dos resíduos”. (Margarido et al, 2002, p.4). Noentanto, quanto maior a ordem de defasagens, maior o número de parâmetros a seremestimados, conseqüentemente, menos graus de liberdade para a estimação. Em conformidadecom a abordagem do geral para o específico, o número de defasagens p pode ser escolhido6


pelo critério de AIC e SBC ou, como utilizado nesta pesquisa, o critério de defasagemdistribuída 5 .Segundo Bacchi e Hoffmann. (1995), este modelo requer o uso de sériesestacionárias ou séries que se tornam estacionárias após a diferenciação. Para testar aestacionariedade das séries, utilizou-se os testes de Dickey-Fuller atentando-se a possíveltransformação das variáveis não estacionárias 6 .Uma forma bastante usual de aplicação dos modelos VAR é a análise deinterrelações entre as variáveis. Neste caso, existem duas formas específicas de utilizá-la,definidas como o teste de causalidade e a análise impulso reposta. Para este trabalho, ointeresse restringe-se ao estudo das interrelações no que concerne o efeito causalidade,considerando a relação de precedência temporal entre as variáveis. Apoiado num dosconceitos mais utilizados, Bahia (2000), afirma que o teste de causalidade de Granger assumeque “o futuro não pode causar o passado nem o presente”. Todavia, “Uma variável z causaoutra variável y se as defasagens de z ajudam a prever o comportamento de y – isto é, se ainclusão das defasagens de z na equação de y aumentam a capacidade de prever y”. Portanto, ahipótese básica é que a informação relevante para a predição das variáveis está contidaexclusivamente nas suas séries de tempo. Esse conceito está intimamente ligado a precedênciatemporal.Como descrito por Margarido et al. (2002), tendo como exemplo um modelo AutoregressivoVetorial (VAR) contendo somente duas variáveis, no caso y e z, a suarepresentação em termos matemáticos assume o seguinte aspecto:zyttkk0+ ∑αizt− i+ ∑βiyt−i+ εIti= 1 i=1= α (08)kk0+ ∑βiyt− i+ ∑αizt−i+ εIti= 1 i=1= β (09)Que, de acordo com o autor, podem apresentar estes possíveis resultados:a) Causalidade unidirecional de y para z se ∑ βi≠ 0e ∑ αi= 0 ,ou seja, y causaz se os forem em conjunto estatisticamente diferentes de zero.´β ib) Inversamente, causalidade unidirecional de z para y se∑α i≠ 0 e ∑ β i= 0 ,ou seja, z causa y se os β forem em conjunto estatisticamente diferentes de zero.ic) Causalidade bidirecional (feedbak) se os coeficientes forem em conjuntoestatisticamente diferentes de zero.d) Independência ou ausência de causalidade se os coeficientes forem emconjunto estatisticamente iguais a zero.5 Uma das características do modelo VAR é que o número de defasagens para cada variável deve ser igual paratodas as variáveis do modelo.6 No entanto, segundo Gujarati (2000), os críticos da modelagem VAR questionam os resultados obtidos dedados transformados, pois estimar um modelo em diferenças significa ignorar possíveis relações de longo prazoentre as variáveis; a não ser que não haja interesse em testar hipóteses, o que possibilita estimar a regressão dasvariáveis em nível.7


Para verificar se os parâmetros analisados são ou não iguais a zero aplica-se o teste Fpara restrições conjuntas de que todos os parâmetros são estatisticamente iguais a zero ou quenão existe a relação de causalidade.Assim, analisa-se se z causa y (no sentido de Granger) através do teste da hipótese deque os coeficientes de todas as defasagens de z na equação de y são conjuntamente iguais azero. A hipótese nula de não causalidade seria:H0= αi= βi= 0 , que é o teste-F usual de restrições lineares 7 .2.3 Modelos EconômicosO principal modelo teórico que relaciona os preços em diferentes níveis de mercado éo de Gardner (1975). Sua importância pode ser mensurada observando-se que a maioria dosmodelos teóricos de transmissão de preços entre níveis de mercado desenvolvidos após 1975parte do arcabouço teórico construído por Gardner e a este acrescenta algumasparticularidades ou exclui alguns pressupostos. Neste item são expostos os modelosconsiderados relevantes para a compreensão do processo de transmissão de preços: osmodelos de Gardner (1975), Heien (1980), Barros (1990) e Aguiar (1994). A análise mostraráque estes modelos podem ser considerados complementares na explicação dos fatosobservados no mundo real.O modelo de Gardner é de natureza estático-comparativa, partindo do pressuposto deque os mercados dos produtos e de serviços de comercialização se encontram sob regime deconcorrência perfeita. Neste modelo, mostra-se o comportamento de um mercado onde amatéria-prima agrícola (produto agrícola in natura) é combinada com insumos decomercialização para a produção do produto final no local de venda ao varejo. Pressupõeequilíbrio instantâneo nos três mercados (do produto final, da matéria-prima agrícola e doagregado de insumos de comercialização) e considera apenas os níveis de produtor e varejo 8 .O sistema de equações é composto pelas funções de produção, de demanda e oferta deinsumos. As análises destas equações são feitas observando as relações entre os preços doproduto final e da matéria-prima.Para Gardner, na interpretação de Aguiar (1993), as variações de preços podem seiniciar na demanda primária (varejo), na oferta agrícola ou na oferta dos insumos decomercialização, ou seja, o modelo admite que o sentido de causalidade na transmissão depreços é variável, dependendo da origem do choque. Considerando-se condições normais(demanda decrescente e oferta de insumos não decrescentes), o modelo mostra que umaumento de demanda eleva mais o preço recebido pelo produtor do que o preço no varejo,desde que a oferta agrícola seja mais inelástica do que a oferta dos insumos decomercialização (hipótese bastante plausível, já que os chamados insumos de comercializaçãonão são tão específicos quanto a matéria-prima agrícola). Sendo esta hipótese válida, umaredução da oferta agrícola eleva mais os preços agrícolas do que os preços no varejo; e umaumento da oferta de insumos de comercialização (por exemplo: redução de impostos)provoca redução mais intensa no preço do varejo do que no preço da matéria-prima agrícola.7 Neste caso, não é possível trabalhar com séries não estacionárias o que é recomendável utilizar as séries emdiferença.8 Barros (1987) desenvolve uma exposição gráfica do modelo de Gardner.8


No caso de choques em sentido contrário, ou seja, aumento da oferta agrícola, reduçãoda oferta dos insumos de comercialização e diminuição da demanda primária, os preçosagrícolas tenderiam a diminuir relativamente mais que os preços no varejo.Outro modelo que tem em muito influenciado as análises de comercialização agrícolaé o de Heien (1980). A diferença do modelo anterior está na dinâmica do ajustamento demercado. Isto porque, para Heien, no curto prazo, a pressuposição de equilíbrio instantâneodos mercados não se verifica e desenvolve então um modelo dinâmico, mais adequado paraestas análises e que permite investigar o que ocorre entre duas situações de equilíbrio.Heien, apud Aguiar (1993), admite a ocorrência de desequilíbrio em nível de varejo,onde os preços se alterariam apenas em função dos custos, e os ajustes de quantidade seriamfeitos através de variações no volume de estoques. Nos demais níveis de mercado, os ajustesseriam feitos instantaneamente através de relações de excesso de demanda. Caso ocorresse umaumento na demanda primária, por exemplo, o preço permaneceria inicialmente constante,mas o volume de estoque do varejista diminuiria. Num segundo-momento, os varejistasaumentariam a quantidade comprada da matéria-prima agrícola, em resposta ao aumento dedemanda verificado. Os produtores agrícolas (já que o modelo trata da dinâmica apenas entreos níveis de produtor e varejo), em face de um excesso de demanda, teriam seu preço elevado,o que pressionaria o custo dos varejistas. Estes últimos elevariam o preço ao consumidor paramanter uma margem sobre o custo (mark-up), o que levaria a uma redução na demanda novarejo. Este processo continua até que o equilíbrio se restabeleça.Seguindo essa dinâmica, Heien considera que o seu modelo pode originar soluçõesestáveis. Já o sentido de causalidade predominante vai do preço recebido pelo produtoragrícola para o preço no varejo, mesmo diante de choques de demanda.Um terceiro modelo, a partir do modelo de Heien, foi desenvolvido por Barros (1990)e, mesmo possuindo uma estrutura básica semelhante ao trabalho anterior, vai além aoanalisar os três níveis de mercado e destacar o relevante papel do atacado. Assim, Heien iniciaseu modelo considerando os três níveis de mercado, mas acaba por analisar a dinâmica deajustamento através da relação direta entre produtor e varejo, enquanto Barros analisa asrelações dinâmicas envolvendo os três níveis de mercado.Dessa forma, no atacado, os preços se ajustam instantaneamente de acordo com oexcesso de demanda ou, especificamente, que este segmento de mercado lidera estasvariações. Isso porque a maior especialização no comércio de um pequeno grupo de produtosfacilita o acesso a informações, bem como o baixo custo de mudança de preços e um elevadonúmero de transações. Já os níveis de produtor e varejo ajustar-se-iam com defasagens emrelação a este segmento, visto que o primeiro trabalha com pequena parcela do mercado, e osegundo não é especializado. Assim, seus preços convergem ao equilíbrio mediante ajustesparciais, em que os varejistas adotariam uma política de markup sobre os custos para definirum “preço-meta”. 9 Parré (1995) justifica que esta tendência existe pela incerteza de que amudança de preços observada ao atacado tem caráter permanente, o que leva os agentes aajustarem seus preços, paulatinamente, em direção ao equilíbrio.Prevalecendo o modelo de Barros, tanto choques de oferta agrícola como choques dedemanda levariam a alterações iniciais no preço do atacado, nível que mais rapidamente seinformaria sobre o choque e que teria condições de alterar os termos de troca. Num segundomomento, os demais níveis de mercado acompanhariam a tendência iniciada no atacado. Emoutras palavras, o sentido de causalidade seria do atacado para os demais níveis.9 Como apontado por Aguiar e Barros (1995), o preço meta ao varejo corresponde ao preço de equilíbrio (para afunção de produção Leontief) apresentado por Heien.9


Também, apresenta-se neste item o modelo dinâmico proposto por Aguiar (1994) eque é utilizado neste trabalho 10 . Optou-se por este modelo porque a sua possibilidade desentido de causalidade entre os preços fornece instrumentos para a melhor compreensão domercado de feijão estudado. Dessa forma, é importante ressaltar alguns aspectos deste produtoem estudo e que o enquadraram no cenário deste modelo.O mercado de feijão paranaense possui três safras anuais dispersas geograficamente,podendo ofertar o produto durante todo o ano, sendo significativa a produção de pequenaescala. Neste caso, a informação, não uniformemente distribuída ao longo dos canais decomercialização, leva à fixação de preços pela aplicação de markup sobre os custos diretos.Nesse caso, a variação de preços iniciada num setor é transmitida ao outro via ajustes parciaisaté atingir o “preço meta”.No caso do feijão, a maior exigência por parte dos consumidores quanto à qualidadedo produto e aos ganhos de importância dos supermercados no seu fornecimento, dá ao varejoa possibilidade de incrementos nas margens de comercialização quando estes dão garantia daprocedência e qualidade do feijão consumido. Essa expansão do setor supermercadista deu aeste nível um papel decisivo na intermediação do produto final do produtor até o consumidor.Além disso, estreitou a relação com a ponta consumidora, possibilitando um conhecimentomais detalhado de sua demanda.Quanto aos produtores, o uso maior de tecnologias possibilitou não só uma ampliaçãona produção com ganhos de produtividade, como também uma diminuição do custo dearmazenagem. Como este produto não possui mercado internacional dinâmico, com produtosde qualidade comparável ao doméstico, os intermediários de feijão, tenderiam a acompanhar odesenvolvimento do mercado em nível de produção, o que leva a inferir que o mercado defeijão comporta-se como o modelo com causalidade Varejo→Produtor, no qual o primeironível teria um papel de liderança na constituição do preço.Neste caso, admite-se que o preço varia inicialmente no varejo, mediante equação deexcesso de demanda, e que essa variação seja em competição perfeita. Também admite-se queo varejo opera com uma função de produção de proporções fixas (tipo Leontief):V = min ( P / b ),( Z b )}. Assim, as equações do modelo são:{1/2Mercado VarejistaA demanda é uma relação linear do preço ao varejo:dVt= θ0+ θ1vt1θ


ss PtVt = (11)b 1O ajustamento do preço ao varejo dá-se por excesso de demanda:vttd s( V −V)− v − 1= ρρ >0 (12)ttMercado ao nível de produtorA oferta ao nível de produtor é uma relação linear do preço defasado ao produtore do preço (exógeno) corrente de um agregado de insumos agrícolas ( )c tp t−1sP = γ + γ p−+ γ c γ > e γ 0(13)t0 1 t 1 2 t102


afete, inicialmente, a oferta agrícola, este preço só se altera após a mudança no preço aovarejo.Substituindo a equação (18), que já é a equação reduzida do preço ao varejo, na (17),chega-se à equação reduzida do preço ao produtor:p( θ0b1− γ0) α+2( 1−ρθ ) b ( 1−ρθ )( 1−ρθ )tt( 1−α )1t= vt−1+ ⎢ −p2 ⎥ t−1b11 1 1b1( 1−ρθ1)αργ2−b21αρ1cαb−b12z⎡⎣αργ⎤⎦(19)Margem de comercializaçãoA margem é dada por Mt= vt− b1pt. Dessa forma, substituindo as equações (18) e(19) nesta última, obtém-se a equação reduzida da margem de comercialização:M+( 1−α)( θ0b1− γ0)b ( 1−ρθ )( α −1)ργ2ct+ αb2ztb ( 1−ρθ )v[ ]3( α −1) b1ργ1+ b1( 1−ρθ1)2b ( 1−ρθ )t= +t−1pt−11 11−ρθ1111ρ11−α+(20)Ou seja,NNNNρ( b θ − γ )1 0 00= N1;b1123Ou:1−α= ;1−ρθ= −N= −N111113121b( 1 )b ργ + b − ρθργb121Mt= N0 + N1vt− 1+ N2pt−1+ N3ct+ αb2zt(20´)Assim, o sinal esperado para o impacto do custo de comercialização sobre a margemde comercialização é que seja positivo. No entanto, o sinal do coeficiente do preço do insumoagrícola é inverso, ou seja, o seu aumento repercute positivamente sobre a margem decomercialização. Os sinais dos coeficientes defasados não podem ser antecipados; podem serpositivos ou negativos, dependendo dos sinais dos parâmetros que os compõem.12


3. ANÁLISE DOS RESULTADOS3.1 Margem de ComercializaçãoAlgumas ponderações se fazem necessárias antes de analisar o assunto margens decomercialização. Como citado por Ferreira (2001), as séries de preços não refletem os preçosde um mesmo lote de produto, podendo apresentar diferentes origens e períodos. Além disso,não foram consideradas perdas no beneficiamento, de forma que os valores de margens estãosuperdimensionados. No entanto, esses problemas não comprometem a validade dosresultados. Assim, as margens serão analisadas sob médias anuais e do período em questão(1995/2003) para que se possa acompanhar detalhadamente o seu comportamento.Observam-se, na Tabela 1, as participações percentuais dos níveis de mercado(produtor, atacado e o próprio varejo) na constituição do preço final. A tendência natural é ade se relacionar a participação do nível produtor, comumente chamada de parcela do produtor,no preço ao varejo como conseqüência da variação do preço recebido pelo produtor 11 .Tabela 1 - Médias anuais das margens de comercialização, no período de 1995 a 2003Margem 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003A Abs* 0,465 0,581 0,476 0,831 0,549 0,384 0,533 0,534 0,600TC Rel 0,250 0,248 0,245 0,252 0,231 0,210 0,235 0,224 0,245VAbs* 0,433 0,436 0,531 0,778 0,766 0,626 0,628 0,604 0,626AR Rel 0,233 0,186 0,274 0,237 0,323 0,343 0,276 0,254 0,256T Abs* 0,898 1,017 1,006 1,609 1,315 1,010 1,161 1,138 1,226OTRel 0,483 0,434 0,519 0,489 0,554 0,553 0,511 0,478 0,501Fonte: Resultados do trabalho*Referência (Reais/Kg). Valores reais corrigidos para janeiro de 2004.Obs.: ATAC = atacado, VAR = varejo, TOT = total, Abs = absoluta, Rel. = relativa.Entretanto, basta uma análise mais detida dos dados, para se concluir que essatendência pode até se confirmar, mas não é regra. Em 1998, quando o preço médio pago aoprodutor do Paraná atingiu seu ápice (R$ 1,682/kg), a participação do nível produtor naformação do preço ao varejo (0,511 ou 51,1%) não foi a maior, ocupando a quarta posição.Em 2000, quando o produto, ao nível do produtor, atingiu seu patamar mínimo (R$ 0,817/kg),a sua participação foi de 44,72%, e que não foi a menor, registrando uma diferença de apenas6,4% em relação ao preço máximo.Após 1998, quando o preço ao produtor, numa tendência de queda, atingiu um preçomédio de R$ 0,817/kg, a participação desse nível no preço ao varejo manteve-se entre 44,5%e 44,7% nos anos de 1999 e 2000. Ou seja, mesmo com o preço em baixa, em razão de ofertamaior e da queda de 6,8% em relação ao ano anterior, este segmento não perdeu participação.Uma possível explicação para essa alta participação do segmento produtor no preço ao varejoestá no fato de as oscilações de preço serem de curtíssimo prazo e de buscarem maioresinformações do mercado, de modo a manter a tendência na participação.11 Parcela do Produtor (Pp) = 1- MT´.13


Assim, tem-se que a correlação da participação do nível produtor com a variação dospreços, com conseqüente variação da produção (oferta), só se confirma na hipótese dedesabastecimento geral, ou em redução na disponibilidade total do produto.Uma análise da Tabela 1, em termos de tendência geral do mercado, revela umaestabilidade maior na margem relativa ao atacado com decréscimos pouco significativos, umacréscimo da margem de comercialização do varejo e produtor (embora com muitasoscilações no período), ocorrendo, no geral, uma troca da participação no preço final aoconsumidor, entre produtor e varejo. Em 2003, a distribuição da participação no preço aoconsumidor final foi de 49,9% para o produtor, 24,5% para o atacado e 25,6% para o varejo.O aumento médio nas margens de comercialização do produtor e varejo no período1995 a 2003 está ligado, principalmente, à tendência de estabilidade no preço ao atacado,acompanhada de pequenos decréscimos, juntamente com o ganho de importância dossupermercados na distribuição de feijão ao varejo, garantindo a qualidade do produto final.Essa tendência pode ser confirmada pelo valor médio das participações relativas destessetores. (Tabela 2)Tabela 2 - Margens de Comercialização Absoluta e Relativa (valores corrigidos para janeirode 2004), do Varejo, Atacado e Total.AtacadoVarejoTotalFonte: Resultados do trabalho* Referência: Reais/KgMargensMédia do PeríodoJan 95/dez 03Absoluta* 0,550Relativa 24%Absoluta* 0,603Relativa 26,4%Absoluta* 1,153Relativa 50,4%Definindo a margem total relativa como a proporção das despesas que osconsumidores pagam em função da intermediação, temos que, deste valor (50,4%), 26,4%refere-se ao varejo e 24,0% ao atacado, ou seja, este é o valor equivalente das participaçõesdesses setores no preço final do produto.Quanto aos varejistas, representados pelos supermercados, esses ganham importânciana distribuição do feijão que é oferecido com garantias de qualidade e origem ao consumidor.Essa melhoria do produto final acresceu em sua margem de comercialização em comparaçãoao atacado, o que endossa as análises feitas por Aguiar et al. (1993) e Ferreira (2001) durantea década de 80 e 90.Nesse intuito, estes autores focalizaram a questão das margens de comercializaçãoelevadas ou crescentes do mercado e da melhoria do produto final como indicadores deineficiência. Desta forma, tanto Aguiar et al. (1993), analisando os preços de feijão no períodode 1982 a 1992, quanto Ferreira (2001), durante a década de 90, concluíram que em nenhumnível de mercado ocorreu tendência explosiva desta variável. Nos dois trabalhos, a liderançapreçofoi garantida pelo mercado atacadista, estando mais associada ao fluxo rápido deinformações neste nível de mercado do que ao uso de seu poder de mercado, visto que amargem destes agentes mantivera-se estável num patamar inferior à margem dos varejistas.Verificaram também que os preços do atacado, apesar da estrutura altamente concentrada,14


caminham extremamente próximos aos preços recebidos pelos produtores, permanecendo,porém, mais afastados dos preços do varejo. Ademais, estes autores constataram a rápidatransmissão entre o atacado e os demais níveis, o que sugere um funcionamento adequado domercado.3.2 Estudo Econométrico e EconômicoA etapa seguinte foi a utilização do teste de causalidade, com a finalidade de analisaras relações entre as variáveis e comprovar ou não a tendência descrita por esses autores.Assim, as variáveis foram analisadas aos pares, procurando-se verificar qual adireção de causalidade. Para isso, utilizou-se o critério de defasagem distribuída 12 ,considerando que as variáveis foram utilizadas em primeira diferença; isso porque, nos testesDickey-Fuller, constatou-se a presença de uma raiz unitária para todas as séries. Segundo oteste de causalidade, não foi possível constatar que o atacado seja o líder no mercado defeijão. Para esse mercado, a variável independente foi o varejo (var), o que contraria ostrabalhos realizados com produtos agrícolas que indicaram o setor atacadista como líder naformação de preços. Desse modo, por razões expostas anteriormente, o setor formador depreços para a cadeia produtiva de feijão do Paraná (1995/2003) é o varejo, conforme Tabelaabaixo.Tabela 3 - Aplicação do modelo VAR para o teste de causalidade.VARIÁVEISTESTERESULTADOS<strong>DE</strong>PEN<strong>DE</strong>NTE IN<strong>DE</strong>PEN<strong>DE</strong>NTE F SIGNIFICÂNCIAREC ATAC 0.6191 0.4332556 IN<strong>DE</strong>TERMI<strong>NA</strong>DOATAC REC 1.3438 0.2491589 IN<strong>DE</strong>TERMI<strong>NA</strong>DOATAC VAR 3.7937 0.0543084 VAR→ATACVAR ATAC 1.8458 0.1773879 IN<strong>DE</strong>TERMI<strong>NA</strong>DOREC VAR 9.6240 0.0024966 VAR→RECVAR REC 0.0064 0.9364252 IN<strong>DE</strong>TERMI<strong>NA</strong>DOFonte: Resultados do trabalhoObs.: REC = preço ao produtor, ATAC = preço no atacado, VAR = preço no varejoOs testes de causalidade foram feitos com nível de significância de 10%, cujosresultados indicam o sentido predominante de causalidade do varejo sob os demais níveis demercado. Segundo trabalhos empíricos realizados por Barros (1990), Aguiar (1994 e 1995),Alves & Aguiar (1996), Ferreira (2001) o resultado esperado seria o de que a variávelindependente fosse o atacado, ou seja, seria de se esperar que o atacado fosse o líder demercado. Isso porque, segundo Barros (1990), os preços no mercado atacadista se ajustaminstantaneamente e com baixo custo, além das vendas serem centralizadas, de curto prazo, epossuírem maior especialização com acesso facilitado às informações. Quanto às alteraçõesde preços entre os produtores e o varejo, estas acontecem com uma certa defasagem, issoporque os primeiros estão pulverizados e trabalham com pequena quantidade do produto,enquanto o segundo não é especializado.12 Assim, sejam duas variáveis: x t e y t. Um VAR com estas duas variáveis assume o seguinte formato:y t = a + β 1 y t-1 + ... + φ 1 x t-1 + ... + e tx t = a’ + β’ 1 y t-1 + ... + φ’ 1 x t-1 + ... + e t;e a única imposição feita é que o número de defasagens seja igual para todas as variáveis do modelo.15


No entanto, os resultados encontrados endossam outros trabalhos que mostram aimportância crescente do setor varejista, em especial, o setor supermercadista, sobre o restanteda cadeia produtiva. Assim, têm-se autores como Santos (2000), Wilder (2003) e Sesso Filho(2003) que salientam a globalização como fonte que alimenta a concorrência e que leva ossupermercados de grande porte a expandirem suas ações, gerando marcas famosas, como asde grandes redes, que estão na maioria dos países desenvolvidos e emergentes.Essas mudanças repercutiram e repercutem nos pequenos e médios estabelecimentosque, buscando manter-se no mercado, em sua maioria juntaram-se em associações, realizandonegociações e propaganda conjunta para se tornarem mais competitivos. Assim, as fusões eassociações, combinadas à adoção de tecnologias, ao conhecimento da demanda e à exigênciados consumidores, facilitaram a adoção de estratégias e a liderança de preços deste setorfrente aos demais atores do processo produtivo.Em seguida, apresenta-se, neste item, um modelo que propõe subsidiar maisclaramente a análise empírica que foi conduzida. Para isso, optou-se utilizar, neste trabalho, omodelo de causalidade Varejo→Produtor, a fim de observar a transmissão de preços nomercado paranaense de feijão. A opção por este modelo decorre da semelhança entre ascircunstâncias em que se baseia e o mercado em estudo.Segundo esse modelo (Tabela 4), as variáveis que tiveram maior significância na suadeterminação foram os preços ao produtor (rec) e ao varejo (var) defasados em um período.Entretanto, variáveis importantes como custo de armazenagem (taxa de juros) e o custocomercialização (salários), mesmo apresentando sinal negativo compatível com o modelo,foram não-significativos, reproduzindo o mesmo ajustamento visto em Aguiar (1994). Já opreço do varejo do período anterior, mostrou um comportamento contrário, ou seja,significativo na determinação do preço recebido, mas com o sinal do seu coeficiente nãocompatível as especificidades do modelo. Nesse caso, o principal determinante na formaçãodo preço recebido foi o próprio preço do produtor. 13 Ademais, o coeficiente de determinaçãodo modelo foi relativamente alto (71,92%).A forma estimada para representar a margem de comercialização mostrou que ocoeficiente de varejo defasado foi positivo e é o único valor significativo a 5%, ou seja, essecoeficiente demonstra uma relação direta entre o preço no varejo e a margem decomercialização no período seguinte. Os dados são demonstrados na Tabela a seguir.13 Isso pode ser justificado pelas oscilações de preço serem de curtíssimo prazo e pelo comportamento doprodutor de buscar maiores informações do mercado, de modo a manter a tendência na participação. Ou seja,cada vez mais o produtor paranaense perde a condição de tomador de preços e otimiza as informaçõesdisponíveis, refletindo positivamente não só no planejamento de sua produção bem como em toda a cadeiaprodutiva.16


Tabela 4 - Estimações do modelo dinâmico e da margem de comercialização total de feijão noEstado do Paraná, no período de 1995 – 2003.Variáveis Modelo Dinâmico Margem de ComercializaçãoConstanteRect−1Vart−1SalJur0,3629(1,47931)1,1473(9,6594)-0,2007(-2,8818)-0,000289(-0,1204)-0.024716557(-0.84643)Fonte: Resultados do trabalho.Obs: entre parênteses, após os coeficientes, estão os valores do teste t.Nível de significância: 5%-0.059639703(-0.27854)0.007723616(0.07451)0.462616746(7.61065)0.001909739(0.90951)-0.014875015(-0.58371)CONCLUSÕESA análise mostrou que o mercado do feijão tem-se comportado dentro de certospadrões de eficiência. Os preços não têm apresentado tendência explosiva, havendo, inclusive,uma melhoria do produto final. Isso justifica a liderança-preço do setor varejista, aquirepresentados pelos supermercados, que ganham importância na distribuição do feijão que éoferecido com garantia de qualidade e origem ao consumidor. Essa melhoria do produto finalacresceu em sua margem de comercialização em comparação ao atacado, o que endossa asanálises feitas por Aguiar et al. (1993) e Ferreira (2001) durante a década de 80 e 90.Da margem de comercialização, analisadas sob médias anuais e do período(1995/2003), deduziu-se uma maior participação do varejo e produtor, ocorrendo, no geral,uma troca da participação destes setores no preço ao consumidor. Já o atacado apresentouuma tendência constante da margem acompanhada de alguns decréscimos.Quanto às inter-relações entre os atores da cadeia produtiva do feijão, estas forammedidas pelos testes econométrico e econômico. Com a utilização do teste de causalidade,verificou-se que a variável independente foi o varejo (var), ou seja, o teste indicou o setorvarejista como líder na transmissão de preços. Nesse caso, os resultados confirmam outrostrabalhos que mostram a importância crescente do setor varejista, em especial, o setorsupermercadista, sobre o restante da cadeia produtiva.Quanto ao modelo econômico de causalidade Produtor →Varejo, ficou evidenciado,que as variáveis, preços ao produtor (rec) e ao varejo (var) defasados em um período possuemmaior significância, ressaltando que este último coeficiente demonstrou uma relação diretaentre o preço no varejo e a margem de comercialização no período seguinte.Com isso, fica confirmado o papel do varejo na liderança do preço e margem decomercialização da cadeia produtiva do feijão no estado do Paraná para o período em questão.Entretanto, não se apontou que a liderança por parte do varejo representou perda de bem-17


estar, pois não foi registrada a imposição de relações desvantajosas para os demais níveis demercado e/ou para os consumidores finais. A reestruturação vivida por este setor reflete omomento de estabilidade econômica ocorrido no país e o novo perfil do consumidor.REFERÊNCIASAGUIAR, D. R. D. A Questão da Transmissão de Preços Agrícolas. Revista de Economia eSociologia Rural. Brasília: <strong>SOBER</strong>, n.4, Out/Dez. 1993. CD-ROM.AGUIAR, D. R. D. Custo, risco e margem de comercialização de arroz e de feijão noestado de São Paulo: análise dinâmica e teste de modelos alternativos. Piracicaba, 1994.185p. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"/USP).AGUIAR, D. R. D.; BARROS, G. S. A. C.; BURNQUIST, H. L.; FERREIRA, L.R. Análiseda eficiência e competitividade no sistema de comercialização de feijão, In: CongressoBrasileiro de Economia e Sociologia Rural, 31, Ilhéus-BA, 1993. Anais, Brasília-DF,<strong>SOBER</strong>, vol. I, p.372-384, 1993AGUIAR, D. R. D.;. BARROS, G. S. A. C. Modelos alternativos de margem decomercialização aplicados aos mercados de feijão e de arroz. Revista de Economia eSociologia Rural. Brasília-DF: v.33, n.3, p.85-120, 1995.BACCHI, M.R.P.;HOFFMANN, R. Previsão de Preços de Bovino e Frango com modelos deséries temporais. Revista de Economia e Sociologia Rural, v.33, n. 4, p.9-28, out/dez 1995BAHIA, L.D. Grau de monopólio e teste de Granger: causalidade entre custos e preçosna indústria brasileira (1978-1998). Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada –IPEA, 2000. (Textos para Discussão, n.170)BARROS, G. S. A. C. Economia da Comercialização Agrícola. Piracicaba, FEALQ, 1987.______.Transmissão de Preços pela Central de Abastecimento de São Paulo, Brasil. RevistaBrasileira Econômica. Rio de Janeiro, v.44, n.1, p.5-20, jan./mar. 1990.BRASIL. Banco Central do Brasil. Boletim/Mercado Financeiro.BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Produção Agrícola Municipal:culturas temporárias e permanentes. Rio de Janeiro: FIBGE, 1990/2002.BRASIL. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Dados Macroeconômicos eRegionais/IPEA<strong>DA</strong>TA.DICKEY, D.; FULLER, W. Likelihood statistics for autoregressive time series with unit root.Econometrica. v. 49, n. 4, 1981.FERREIRA, C. M. Comercialização de feijão no Brasil 1990/99. Piracicaba, 2001. 145p.Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade deSão Paulo.GARDNER, B. L. The farm-retail price spread in a competitive food industry. AmericanJournal of Agricultural Economics, 57: 399-409, 1975.18


HEIEN- D. M. Markup pricing in at dynamic model of food industry. American Journal ofAgricultural Economics, 62: 10-18. 1980.HILL, R. C; GRIFFITHS, W.E.; JUDGE, G. G. Econometria. São Paulo; Saraiva, 1999.MARGARIDO, M. A., FAGUN<strong>DE</strong>S, L., VICENTE, J. R. Análise de Causalidade de Preçosno Mercado de Sardinha Pós-Plano Real In: XL Congresso Brasileiro de Economia eSociologia Rural, 2002, Passo Fundo (RS).PARANÁ. Secretaria da Agricultura e do Abastecimento. Departamento de Economia Rural.Acompanhamento da situação Agropecuária do Paraná,1995/2003PARRÉ, J. L. Influência dos custos de comercialização e dos subprodutos sobre amargem de comercialização da carne bovina. Piracicaba, 1995. Dissertação (Mestrado) –Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São PauloPIZA, C.T.; R.W. WELSH, 1968. Introdução à Análise da Comercialização. SérieApostila. n.º 10. Departamento de Economia - ESALQ/USP, Piracicaba-SP.RODRIGUES, R. V; CASTRO, E. R; TEIXEIRA, E. C. Avaliação de uma Política deEstabilização de Renda para Produtores de Mandioca, Leite e Feijão. In: XLII CongressoBrasileiro de Economia e Sociologia Rural, 2004, Cuiabá (MT)SANTOS, E. V. dos. Análise das relações de Preços entre estabelecimentos Comerciais doSetor Supermercadista de Porto Alegre – Rs. Porto alegre, 2000. 120p. Dissertação(Mestrado) - Curso de Pós-Graduação em Economia Rural, Universidade Federal Do RioGrande Do Sul.SESSO FILHO, U. A. O setor supermercadista nos anos 1990. Piracicaba, 2003. 185p.Tese (doutorado) – Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de SãoPaulo.SIMS, C. A. Money, and causality. The American Economic Review, 62(4):540-552, 1972.WIL<strong>DE</strong>R, A. Mudanças no setor supermercadista e a formação de associações depequenos supermercados. Piracicaba, 2003. 189p. Dissertação (Mestrado) - Escola Superiorde Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo.19

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!