Inserção internacional, arranjos financeiros e crescimento da ...
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Contudo, esse quadro foi rapi<strong>da</strong>mente revertido em função <strong>da</strong> reciclagem dos petrodólares e dosdéficits interno e externo norte-americanos que deram novo impulso aos euromercados, aumentandosua dimensão e provocando excesso de liquidez <strong>internacional</strong> (Gremaud et alli, 2002:522-523). Destemodo, um novo ciclo de <strong>crescimento</strong> econômico no Brasil foi viabilizado entre 1976 e 1980, sob aégide do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND).A participação do crédito externo na composição <strong>da</strong>s fontes de financiamento do <strong>crescimento</strong>,inclusive <strong>da</strong>s empresas estatais, carro-chefe do ciclo de investimento <strong>da</strong>quele período, elevou-se. Após1975 o governo voltou a adotar uma política de preços para as estatais que visava conceder subsídiosàs empresas priva<strong>da</strong>s e conter a inflação. As estatais foram força<strong>da</strong>s a tomar recursos emprestados noexterior a juros flutuantes através <strong>da</strong> adoção de restrições ao seu acesso ao crédito doméstico(Coutinho e Belluzzo, 1982:160).Quanto ao fundo interno de financiamento do <strong>crescimento</strong>, as políticas salarial, cambial,comercial, fiscal e creditícia favoreciam a elevação dos mark ups no setor privado que se apoiava,ain<strong>da</strong>, no financiamento externo, abun<strong>da</strong>nte até o final dos anos 1970.As políticas de arrocho salarial e de minidesvalorizações cambiais periódicas foram manti<strong>da</strong>s.Adotou-se forte controle discricionário <strong>da</strong>s importações através de barreiras não tarifárias em setoresmenos essenciais (Suzigan e Villela, 1997:39). Adotou-se, também, política de estímulo àsexportações, especialmente manufaturados, basea<strong>da</strong> no sistema de incentivos fiscais e creditícios doperíodo 1967-73. 32Portanto, o elevado nível dos investimentos públicos, que estimulava a deman<strong>da</strong> agrega<strong>da</strong>,concomitantemente à política de preços <strong>da</strong>s estatais, aos financiamentos subsidiados do BNDE, àpolítica salarial e às políticas de câmbio e de comércio exterior, favoreciam a ampliação de mark upspelas empresas priva<strong>da</strong>s. 33A partir de 1976 o governo praticou uma política de aumento do diferencial entre taxas dejuros internas e externas visando estimular o endivi<strong>da</strong>mento externo e, ao mesmo tempo, conterpressões inflacionárias decorrentes <strong>da</strong> ampliação <strong>da</strong> base monetária (Tavares e Belluzzo, 1983:137).Esta “ciran<strong>da</strong> financeira” vinculava, então, a dívi<strong>da</strong> pública interna à dívi<strong>da</strong> externa, cuja estatizaçãocresceu a passos largos a partir de 1979. 34No bojo deste processo estava a fragilização financeira do Estado. A elevação <strong>da</strong>s taxas dejuros reais deveria engendrar o aumento <strong>da</strong> fragili<strong>da</strong>de financeira de credores e devedores na ausênciade mecanismos de funding. To<strong>da</strong>via, o aumento <strong>da</strong> fragili<strong>da</strong>de financeira do setor privado foi mitigadopela adoção de mecanismos que resultavam na absorção dessa fragili<strong>da</strong>de pelo setor púbico,sustentando o <strong>crescimento</strong> econômico na segun<strong>da</strong> metade dos anos 1970. 3532 Ver detalhes em Suzigan e Villela (1997:39).33 “Os empréstimos concedidos pelo BNDE a partir de 1974 (...) continham cláusulas contratuais que determinavam, ao fim eao cabo, a doação patrimonial de parcela substantiva dos recursos envolvidos nas operações. Do total de recursosemprestados pelo Banco no período 1974-79, estima-se que cerca de 75% tenham sido apropriados pelas empresasmutuárias priva<strong>da</strong>s através de diferentes mecanismos de subsídios” Cruz (1994:71).34 Sobre a “ciran<strong>da</strong> financeira”, ver Tavares e Belluzzo (1983), Coutinho e Belluzzo (1983) e Oliveira (1990).35 Estes mecanismos eram: i) ciran<strong>da</strong> financeira; ii) estatização <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> externa; iii) oferta de financiamento subsidiado delongo prazo a partir dos fundos públicos; iv) política de preços <strong>da</strong>s estatais; v) nível elevado <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> agrega<strong>da</strong>garantido pela expansão do crédito e pelo elevado nível dos investimentos públicos; vi) aumento sistemático dos preçosnum contexto de arrocho do salário real, favorecendo amplas margens de autofinanciamento do setor privado.19