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fontes para a investigação das identidades e religiosidades ... - Uem

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Revista Brasileira de História <strong>das</strong> Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos________________________________________________________________________________________________documentais. Elas garantem a historicidade do tema e da abordagem, e inserindo-os em umdeterminado campo histórico que, pautado pelos contatos multidisciplinares, operacionalizaos estudos sobre a religiosidade, com um objeto definido: as formas de expressão <strong>das</strong><strong>identidades</strong> judaicas longe da vida comunal organizada.1- cultura materiala- sepulturas de israelitasNa cidade de Rolândia há dois cemitérios municipais, um localizado no sítio urbanoe outro na zona rural, este denominado São Rafael 15 . Em ambos os cemitérios é fácillocalizar túmulos de israelitas, muitos deles com símbolos religiosos estampados na lápide.Consideramos sepulturas de israelitas aqueles túmulos que trazem, além do sobrenomejudaico, um ou mais símbolos da religiosidade judaica: a estrela de Davi, inscrições emhebraico e/ou a presença de monólitos.Tais características permitiram que fossem classifica<strong>das</strong> como sepulturaevidentemente de israelita, por trazer as manifestações da religiosidade na lápide, assepulturas de Michael Levy (CMR), Herta Sara Moser (CSR), Ruth S. R. Clement (CSR) eHelmut Bruch (CSR) [figuras 1, 2, 3 e 4]. A sepultura deste último, além da estrela deDavid sobre o nome, na base da lápide encontra-se o sinal maçônico do compasso,denotando também sua filiação a este clube de serviços e ajuda mútua, conseqüência <strong>das</strong>redes de interação estabeleci<strong>das</strong> pelos emigrantes.15 O Cemitério Municipal de Rolândia, localizado nas proximidades do centro da cidade será aquireferenciado como CMR e o Cemitério Municipal São Rafael, no Bairro Rural São Rafael como CSR.26


Revista Brasileira de História <strong>das</strong> Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos________________________________________________________________________________________________Figuras 1 e 2 © ETN/CDPH-UEL 16Figuras 3 e 4 © ETN/CDPH-UELEntretanto, a variação sepulcral mais comum e que pode ser associado aosrefugiados de origem judaica é o que denominamos sepultura provavelmente de israelita.Tais túmulos não trazem elementos da religiosidade judaica estampada em suas lápides, noentanto os sobrenomes indicam claramente a ancestralidade, além de serem em sua maioriasimples caixas de terra, com a presença de pedras ou rochedos, ou no caso do cemitério SãoRafael, caixas de terra com hera helix, sombrea<strong>das</strong> por um arvoredo. Dentro destaclassificação, dispomos os túmulos de Alfred e Eva Stern (CMR), Hulda Bielschowsky(CMR), de Max Hermann Maier e Mathilde Maier (CSR) e de Sara Dannemann (CSR)[figuras 5, 6, 7 e 8].A presença desta variação sepulcral pode ser explicada pelo relativismo da vidajudaico-alemã ainda na Europa, mas também pelas dificuldades ou mesmo a não-disposição16 Fundo Projeto Etnicidade e morte, Centro de Documentação e Pesquisa História da Universidade Estadualde Londrina.27


Revista Brasileira de História <strong>das</strong> Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos________________________________________________________________________________________________de fazer um retorno à vida judaica, ainda que fosse <strong>para</strong> aquela de caráter cosmopolita eassimilado.Figuras 5 e 6 © ETN/CDPH-UELFiguras 7 e 8 © ETN/CDPH-UELA terceira variação sepulcral é a denominada sepultura conjecturalmente deisraelita, que devido à incompletude dos dados exteriores da sepultura, não nos permiteafirmar que o morto e, sobretudo sua família, tivessem mantido contatos efetivos com areligião judaica, o que nos autoriza apenas fazermos uma suposição acerca da sua relaçãocom o judaísmo.Esta variação contém ou não sinais identitários que podem ser arrolados comojudaicos, particularmente sobrenomes, no entanto apresentam traços claros de conversão aocatolicismo ou ao luteranismo. Nesta tipologia estão a sepultura da família Traumann(CMR), de Leonore Lisenberg (CMR) e de Heinz P. Molnar (CMR) [figuras 9, 10 e 11].28


Revista Brasileira de História <strong>das</strong> Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos________________________________________________________________________________________________b- Material bibliográficoUma vez estabelecidos em Rolândia, os refugiados tiveram de criar laços entre si, ese a princípio foi em função da derrubada da mata, logo depois passou a assumir diferentescontornos, conforme a Gleba e a Stadtplaz se desenvolviam. Mas um dos instrumentos deinteração utilizado desde o início da ocupação da região e que ainda hoje se manifestacomo uma prática localizável é o empréstimo e conseqüente circulação de livros entre osrefugiados.Milhares de volumes e títulos foram trazidos <strong>para</strong> Rolândia, caso somemos asbibliotecas <strong>das</strong> famílias Traumann, Isay, Ranke, Marckwald, Maier, além de outrasmenores. Uma amostragem deste material bibliográfico foi recolhido junto à comunidaderolandiense e passou a ser considerado cultura material.Neste sentido, o material bibliográfico recolhido no campo de pesquisa serve comobaliza na configuração e reconfiguração <strong>das</strong> fronteiras 17 no norte do Paraná, maisprecisamente em Rolândia. Tais movimentos de fronteira tornam-se mais visíveis secruzarmos o que liam com a circulação do objeto livro em diferentes fazen<strong>das</strong> eresidências. A referência a este costume, se não está restrita aos refugiados de origemjudaica, encontra neles um eco muito forte e presente, que consiste na valoração <strong>das</strong> obrascaracterísticas da Kultur como sinal de elevação pessoal, considerada mais importante doque a formação acadêmica que lhes havia sido tolhida ou impedida pela Alemanha.Os livros ainda circulam entres os refugiados que continuam vivos ou entre algunsde seus filhos, mas as gerações posteriores perderam a língua alemã (ou delas fazem usoapenas funcional), o que fez com que a própria Biblioteca Municipal de Rolândia senegasse a ter em seu acervo mais obras nesta língua, justificando que as que lá estão já nãocirculam mais.O projeto recolheu aproximadamente 500 volumes de livros em sua grande maioriade literatura alemã de autores considerados clássicos ou fundantes: Goethe, Heine, Schiller,17 Cf. BARTH, Fredrik. Grupos étnicos e suas fronteiras in POUTIGNAT, Ph e STREIFF-FENART, Teoriasda Etnicidade. SP: Ed. UNESP, 1998.30


Revista Brasileira de História <strong>das</strong> Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos________________________________________________________________________________________________Novalis, Rilke, mas também estão presentes livros de filosofia, de política, de história e deliteratura de outras expressões. Muitos em bom estado de conservação, mas um grandenúmero dessas obras estava contaminado por agentes biológicos. A esses foi dado otratamento adequado, desde a fumigação com <strong>para</strong>diclobenzeno a 99% seguido dequarentena fechada, ao final da qual foi feita a remoção física dos resíduos; algunspequenos reparos foram feitos <strong>para</strong> garantir a conservação e manutenção de determinadosvolumes 18 [figuras 12 e 13].Após o tratamento, foram descritos e classificados, o que permitiu fazer inferênciasdo que liam, como liam e qual a significação ou impacto dessas leituras no delineamento<strong>das</strong> <strong>identidades</strong> judaicas no exílio e distante da vida comunal organizada. Dito de outramaneira, esse material bibliográfico nos forneceu as pistas <strong>para</strong> rastrearmos os vestígios dauma etnicidade que se auto-referencia como judaica, e mais precisamente, os aspectos <strong>das</strong>variações que estas <strong>identidades</strong> assumem na constituição <strong>das</strong> fronteiras étnicas, commarcadores precisos e visíveis.18 Cf. PALETTA, Fátima A.C. e YAMASHITA, Marina M. Manual de higienização de livros e documentosencadernados. SP: Hucitec, 2004.31


Revista Brasileira de História <strong>das</strong> Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos________________________________________________________________________________________________Figura 12. Livro de Rilke com perfurações broca epresença e mofo. ©ETN/CDPH-UELFigura 13. Lotes de livros <strong>para</strong> higienização e remoçãode resíduos. ©ETN/CDPH-UEL2- Relatos e <strong>fontes</strong> oraisa- relatos autobiográficosA experiência de refúgio em Rolândia foi transformada em relato de vida pordiferentes emigrantes, particularmente entre aqueles que foram vítimas de perseguiçõesraciais. Elas têm um papel determinante no processo de constituição <strong>das</strong> <strong>identidades</strong>daqueles que se autonomeiam judeus, pois indicam a sua variação tipológica e de filiaçãoao judaísmo, assim como também trazem apropriações da determinação identitária impostapelo nazismo..Para a <strong>investigação</strong> <strong>das</strong> relações entre etnicidade e morte esse tipo de fonte éfundamental, porque além de trazer em si auto-identificações, ao mesmo tempo indica,determina e estabelece chancelas identitárias àqueles que cercam os autores dos relatos.Isso se deve à característica do relato biográfico, que ao tornar-se discurso narrado pelosujeito autor e protagonista, instaura sempre um campo de renegociação e reinvençãoidentitária 19 .19 CARVALHO, Isabel Cristina Moura. Biografia, identidade e narrativa: elementos <strong>para</strong> uma análisehermenêutica. Horiz. antropol. , Porto Alegre, v. 9, n. 19, p. 284, 2003.32


Revista Brasileira de História <strong>das</strong> Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos________________________________________________________________________________________________Muitos desses relatos são inéditos e foram recolhidos de autores ou parentes ouamigos de autores, tais como Memórias de Rudolf Stern seguido de A história de minhavida, de Rudolf Stern e Susanne Behrend, História de Suzanne e H. Helmut Behrend, deSusanne Behrend e Memoiren, de Ricardo Loeb-Caldenhof.O primeiro consiste no relato memorialístico dos irmãos Stern, ele Rudolf e elaSusanne, que se casou com Helmut Behrend em 1947. Tratamos esta fonte como duas<strong>fontes</strong> distintas, a parte 1 sendo a complementação feita pela irmã Susanne e a parte 2 anarrativa de Rudolf. Sobre esta, outra interferência ocorreu, já que Heinz Maas afirma emuma nota, ser ele o responsável pela tradução <strong>das</strong> memórias de seu amigo <strong>para</strong> o português,na qual teve a liberdade de omitir detalhes e intercalar outros sobre minha família, tãointerligados com a história dos Sterns 20 .Como Rudolf Stern morreu antes de terminar o registro de suas impressões, a irmãincumbiu-se da missão de terminá-las, pois a seu ver tratava-se da mesma memória, já queteriam passado pelas mesmas experiências. Diz ela: Infelizmente a morte tirou a caneta damão do eu querido irmão, e só por isso resolvi tentar a continuar estas memórias, quetambém são minhas 21 , e prossegue afirmando que tomou tal decisão <strong>para</strong> deixar aos seusposteriores, as narrativas <strong>das</strong> dificuldades de ser peregrino entre dois mundos 22 .A outra narrativa não publicada, História de Suzanne e H. Helmut Behrend é umopúsculo muito semelhante à continuação <strong>das</strong> memórias de Rudolf Stern. Narra aexperiência da família Stern, da segregação na Alemanha à fuga e estabelecimento emRolândia, mas depois ocupa-se dos eventos que envolvem a família Behrend, desde suaconstituição em 1947 até as atividades desenvolvi<strong>das</strong> pelo casal na APAE – Associação dePais e Amigos dos Excepcionais nas déca<strong>das</strong> de 1980-90. Encerra a narrativa falando damorte do marido em 2005 e <strong>das</strong> suas recentes cirurgias <strong>para</strong> extração de câncer de mama ecatarata 23 .20 Cf. STERN, Rudolf e BEHREND, Susanne. Memórias de Rudolf Stern antecedida pela A história de minhavida, Parte 2: Memórias de Rudolf Stern, p. 16. Rolândia: edição particular, s/d.21 IDEM, Parte 1: A história de minha vida, p. 1. Rolândia: edição particular, s/d.22 IBIDEM.23 Cf. BEHREND, Susanne. História de Suzanne e H. Helmut Behrend, p. 23. Rolândia, Edição particular[2005].33


Revista Brasileira de História <strong>das</strong> Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos________________________________________________________________________________________________Memoiren 24 é uma longa e detalhada narrativa do estabelecimento de Ricardo Loeb-Caldenhof e de sua esposa Sylvia O. Loeb-Caldenhof na selva da Gleba Roland. Trazmuitas referências do cotidiano da colônia e descreve de maneira minuciosa odesenvolvimento da cidade e de seus habitantes, imbricado por histórias pessoais. Começoua ser escrita em 1987 e foi terminada em abril de 1991, ano em que o autor completou 82anos.Filho de uma proeminente família judia estabelecida na região de Hamm emigrou<strong>para</strong> Rolândia em 1938, e dedicou-se às atividades agrícolas em sua Fazenda Belmonte, jáque havia cursado agronomia na Universidade de Bonn 25 . Teve um papel aglutinador entreos refugiados pelas constantes visitas que fazia aos campos de cultivo e às residências, masse sentia menosprezado entre os mais intelectualizados, por achar que estes consideravam aagricultura um trabalho braçal de homens rústicos e não dedicados à leitura e aorefinamento 26 .Em sua narrativa, descreve a vida burguesa anterior à ascensão do Partido Nacional-Socialista e a importância de sua família no contexto político-militar alemão durante o IIReich e a República de Weimar. Analisa a deteriorização da situação econômico-social efamiliar da ascensão de Hitler até 1938, quando finalmente resolveu fugir <strong>para</strong> Rolândia,onde já estavam pessoas do círculo de relações de sua família. Rememora acontecimentos,pessoas e discussões, e expõe os motivos que fizeram permanecer no Brasil. A última partede suas Memoiren é destinada aos acontecimentos que envolveram a Fazenda Belmonte,desde aumento, manutenção ou queda de produtividade até as viagens pelo Brasil <strong>para</strong>conhecer novos cultivares ou novas técnicas de cultivo.Além dessas narrativas, também utilizamos como <strong>fontes</strong> os relatos memorialísticoseditados no Brasil e na Alemanha, como Um advogado de Frankfurt torna-se cafeicultor24 LOEB-CALDENHOF, Ricardo, Memoiren von Dr. Ricardo Loeb Caldenhoff. Rolândia: Edição particular,1997.25Cf. BREUNIG, Bernd, Die deutsche Rolandwanderung (1932-1938), p. 103. München, NymphenburgerVlg, 1983.26 LOEB-CALDENHOF, Ricardo, op. cit., p. 56.34


Revista Brasileira de História <strong>das</strong> Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos________________________________________________________________________________________________na selva brasileira de Max Hermann Maier 27 e Os jardins de Minha vida 28 de MathildeMaier. Na obra de Max Hermann Maier estão presentes análises da conjuntura queculminou com as restrições impostas pelo nazismo, e como era jurista, o seuinconformismo com o regime de exceção e com a cassação de sua cidadania. Aponta asdificuldades iniciais do estabelecimento, assim como a superação dos obstáculos.Reconhece-se a si e à sua família como judeus, e antes de chegar à sua nova terra, vindo doporto de Santos, parou em São Paulo <strong>para</strong> tratamento de sua esposa, momento em que sefiliou à Congregação Israelita Paulista – CIP.Já a narrativa de sua esposa tem outro caráter. Busca associar flores e jardins aosdesterros que passou. Embora afirme que não pretendia falar dos sofrimentos provocadospela ascensão do regime nazista, este silêncio, ou melhor, esta tentativa de silenciar-se foiquebrada pela elaboração de seus diferentes jardins, seja na Alemanha, Inglaterra ou Brasil.Alle Garte meines Leben recebeu traduções <strong>para</strong> o português e <strong>para</strong> o inglês, e oferece ossubsídios <strong>para</strong> tratar da questão <strong>das</strong> <strong>identidades</strong> judaicas no exílio, assim como aspossibilidades inumeráveis de configurações de atitudes ante o judaísmo e ante ao mundoextra-judaico.b- entrevistas metódicasAs estratégias de História oral adota<strong>das</strong> pelo projeto Etnicidade e morte tiveramcunho secundário, porque foram privilegia<strong>das</strong> as análises da cultura material. Desta formaelas tiveram um caráter focalizado: dirimir dúvi<strong>das</strong> e colocar novas questões <strong>para</strong> sereminventaria<strong>das</strong>.Assim, no estabelecimento <strong>das</strong> <strong>fontes</strong> orais, a questão da auto-identificação foiinsistentemente colocada e re-colocada pelos entrevistadores. Traçou-se um perfil prévio doentrevistado, e daí partiu-se <strong>para</strong> o registro. To<strong>das</strong> as entrevistas focaliza<strong>das</strong> foram feitas27 Tradução feita por sua esposa e pelo professor Elmar Joënck, do original alemão Ein FrankfurterRechtsanwalt wird Kafeepflanzer im Urwald Brasiliens – Bericht eindes Emigranten. Frankfurt am Main:Josef Knecht Verlag, 1975.28 Alle Garte meines Lebens, Frankfurt Am Main: Josef Knecht Verlag, 1978, traduzido pela autora e porRoswitha Kempf, publicado em 1981 pela editora paulista Massao Ono35


Revista Brasileira de História <strong>das</strong> Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos________________________________________________________________________________________________nas propriedades dos entrevistados, o que lhes permitiu sentirem-se a vontade <strong>para</strong> narrarfatos que muitas vezes foram por eles omiti<strong>das</strong> em outras oportunidades.Também o sentir-se protegido em sua terra ou casa, possibilitou que fossemutilizados elementos do ambiente (sala, fotografias, mobiliário, objetos de decoração) naproblematização <strong>das</strong> informações obti<strong>das</strong> na leitura dos relatos autobiográficos, facilitandodesta forma as recordações, <strong>para</strong> que a informação procurada aflorasse como uma espéciede riverun 29 .Nessas entrevistas inéditas, assim como naquelas estabeleci<strong>das</strong> por GudrunFischer 30 e que também foram utiliza<strong>das</strong> pelo projeto, pode-se perceber que é muito comumentre os refugiados sobreviventes, assim como nos descendentes dos refugiados uma idéiaculturalista de judaísmo, na qual se identificam e se reconhecem 31Reconhecem que foi devido à essa herança que tiveram de fugir da Alemanha erefugiar-se no Brasil, em uma região até então desconhecida, mas uma vez nela, mesmoaqueles que tinham algum laço mais efetivo com a religião e religiosidade judaicas, não odeixou de herança.No entanto é importante apontar que tanto na 3ª e agora na 4ª. geração, alguns netose bisnetos dos refugiados de origem judaica têm feito o movimento de retorno ao judaísmo,o que ainda não se configurou em uma tendência, tratando-se mais de casos isolados eesporádicos, assim como as conversões ao islamismo, budismo e hinduismo 32 , localiza<strong>das</strong>entre os descendentes dos refugiados alemães de origem judaica.Considerações finaisO estudo acerca <strong>das</strong> <strong>identidades</strong> e <strong>religiosidades</strong> judaicas distantes <strong>das</strong> organizaçõescomunais ainda está <strong>para</strong> ser feito. Como vivenciar os variados aspectos da religião e dareligiosidade judaicas, em um local onde inexistem sinagoga, sociedade mortuária e29 Riverun é o rio corrente de James Joyce em seu Finnigan’s Wake. Cf. CAMPOS, Haroldo e CAMPOS,Augusto, Panaroma do Finegans’ Wake. SP: Perspectiva30 FISCHER, Gudrun.31 Cf. Entrevista de Michael Traumann (ETN). Também entrevista de Brigitte Wendel a Gudrun Fischer, p.56 e de Anônima <strong>para</strong> Gudrun Fischer, p. 6232 Cf. Entrevista de Klaus e Ruth Kaphan (ETN). Também a entrevista de Ruth Kaphan a Gudrun Fischer, pp.116-117.36


Revista Brasileira de História <strong>das</strong> Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos________________________________________________________________________________________________instituições da kashrut 33 ? Como recuperar e analisar os sinais visíveis e invisíveis da dosprocessos de identificação através desta religiosidade possível? Como problematizar asquestões coloca<strong>das</strong> pela equação identidade/religiosidade/etnicidade, a fim de identificar eressaltar as configurações de um judaísmo possível fora da via institucional?Estas perguntam se colocam na medida em que se afirma a existência de atitudesvaria<strong>das</strong> em relação ao judaísmo em um grupamento de alemães que tiveram de fugir daAlemanha por questões étnico-raciais, e que se fixaram em uma área do estado do Paraná,através de uma empresa colonizadora inglesa, nos anos 30 do século XX.Para que aquelas perguntas tenham um encaminhamento que viabilize, tantorespostas, mesmo que provisórias, quanto novas indagações sobre o fenômeno, é necessárioque se estabeleça um corpus documental variado capaz de fundamentá-lo. Daí o imperativode se debruçar sobre as <strong>fontes</strong> que sustentam uma <strong>investigação</strong> no âmbito aqui pretendido,como forma de justificar sua inserção no campo histórico que se ocupa com os fenômenosque envolvem a relação do homem como sagrado.Desta maneira, <strong>para</strong> que se reconheça o tema como um objeto da história <strong>das</strong>religiões e <strong>das</strong> <strong>religiosidades</strong> é necessário refletir sobre sua documentação e sobre seusmétodos de abordagem, e fundar-se com um escopo multidisciplinar, que implique sempreem verificações e reavaliações de suas premissas e de seus resultados.ReferênciasFontesBEHREND, Susanne, Entrevista ao Projeto Etnicidade e Morte. ETN/CDPH-UEL/EM01BEHREND, Susanne.particular [2005].História de Suzanne e H. Helmut Behrend. Rolândia, EdiçãoFISCHER, Gudrun, Abrigo no Brasil. SP: Brasiliense, 2005KAPHAN, Klaus e KAPHAN, Ruth. Entrevista ao Projeto Etnicidade e Morte.ETN/CDPH-UEL/EM0333 Kashrut é o termo hebraico <strong>para</strong> as regras dietéticas estabeleci<strong>das</strong> no Levítico (Vaikra) e que preconizamuma série de tabus alimentares.37


Revista Brasileira de História <strong>das</strong> Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos________________________________________________________________________________________________KOCH-WESER, Geert, Entrevista a Wolfang Dietzius, Munique: Instituto Hans Staden,1986LOEB-CALDENHOF, Ricardo, Memoiren. Rolândia: Ed. Particular, 1997.MAIER, Mathilde. Os jardins de minha vida. SP: Massao Ono, 1981.MAIER, Max Hermann, Um advogado de Frankfurt se torna cafeicultor na selvabrasileira. p. 23. Rolândia: Ed. Particular, 1977.STERN, Rudolf e BEHREND, Susanne. Memórias de Rudolf Stern antecedida pela Ahistória de minha vida, Parte 2: Memórias de Rudolf Stern. Rolândia: edição particular, s/d.TRAUMANN, Michael. Entrevista ao Projeto Etnicidade e Morte. ETN/CDPH-UEL/EM02ObrasADORNO, Th. W. Qué es allemán in Consignas. Buenos Aires: Amorrortu , s/d.BREUNIG, Bernd, Die deutsche Rolandwanderung (1932-1938), p. 103. München,Nymphenburger Vlg, 1983.CAMPOS, Haroldo e CAMPOS, Augusto, Panaroma do Finegans’ Wake. SP: Perspectiva,1962.CARNEIRO, Maria Luiza Tucci, Brasil, um refúgio nos trópicos, pp. 135-138. SP:Instituto Goethe/Estação Liberdade, 1996.CARVALHO, Isabel Cristina Moura. Biografia, identidade e narrativa: elementos <strong>para</strong> umaanálise hermenêutica. Horiz. antropol. , Porto Alegre, v. 9, n. 19, 2003.FALBEL, Nachman, Jewish agricultural settlement in Brazil. Jewish History, vol 21, ## 3-4, September, 2007GRINBERG, Keila (org.) Os judeus no Brasil. RJ: Civilização Brasileira, 2005.HIRCHBERG, Alice Irene.Paulista. SP: CIP, 1976.Desafio e resposta: a história da Congregação IsraelitaIPAC, INVENTÁRIO E PROTEÇÃO DO ACERVO CULTURAL DE LONDRINA.Heimtal: o passado e o presente no Vale dos Alemães. Londrina: GRAFMAN, 1993.38


Revista Brasileira de História <strong>das</strong> Religiões. ANPUH, Ano II, n. 4, Mai. 2009 - ISSN 1983-2850http://www.dhi.uem.br/gtreligiao - Artigos________________________________________________________________________________________________LESSER, J. O Brasil e a questão judaica. Petrópolis: Imago, 1995.MILGRAM, Avraham, Os judeus do Vaticano. Petrópolis: Imago, 1994.PALETTA, Fátima A.C. e YAMASHITA, Marina M. Manual de higienização de livros edocumentos encadernados. SP: Hucitec, 2004.POUTIGNAT, Ph e STREIFF-FENART, Teorias da Etnicidade. SP: Ed. UNESP, 1998.SCHWENGBER, Cláudia P. Aspectos históricos de Rolândia. Rolândia: WA Ricieri,2003.39

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